Você está na página 1de 16

AVALIAÇÃO DA VITALIDADE FETAL

Carlos Alberto Castro Rubiano


Luciana Pinto Moraes
Jaqueline Santos Ribeiro

INTRODUÇÃO
A avaliação da vitalidade fetal permite identificar fetos de risco para eventos
adversos ou para o óbito e, assim, atuar preventivamente para evitar o insucesso
da gestação.1

Os testes de vitalidade fetal são baseados na premissa de que o feto responde à


hipoxemia com alterações biofísicas sequenciais de adaptação e, posteriormente,
de descompensação,1,2 permitindo estimar o momento ideal para o parto.3

Todos os métodos apresentam vantagens, desvantagens e previsões diferentes.1


Desse modo, a literatura tem demonstrado que a utilização de uma única técnica
não avalia suficientemente as condições da vitalidade fetal, sendo necessária a
associação de várias metodologias de investigação.1

As situações de maior risco para o comprometimento da oxigenação fetal e que, por


conseguinte, indicam uma monitorização fetal anteparto com maior frequência,4
estão dispostas na Tabela 1.

Tabela 1 – Indicações para a Monitorização Fetal Anteparto

INDICAÇÕES PARA MONITORIZAÇÃO FETAL ANTEPARTO


Intercorrências Intercorrências Intercorrências
Clínicas Obstétricas Fetais
Síndromes hipertensivas Mau passado obstétrico Crescimento intrauterino
Endocrinopatias Rotura prematura de restrito
Cardiopatias membranas Oligo ou Polidrâmnio
Pneumopatias Gemelaridade Infecções fetais
Colagenoses Aloimunização Rh Malformações fetais
Hemopatias Placenta prévia
Trombofilias Pós-termo

Fonte: Adaptado de ACOG, 2014; Signore, 2019.

Manual de Condutas Obstétricas do HMIB 59


TÉCNICAS DE MONITORAMENTO ANTEPARTO
Observamos que apesar dos testes de vitalidade fetal possuírem baixos índices
de falsos negativos, isto é, mortes fetais que ocorrem uma semana após um teste
normal, o índice de falso positivo é elevado, portanto, um teste alterado deve ser
avaliado com cautela.4

Tabela 2 - Técnicas de Monitoramento Fetal Anteparto

TÉCNICA COMPONENTE RESULTADO


- Inatividade fetal:
- > 34 sem. < 6 movimentos fetais
Mobilograma
- 5 - 6 movimentos em 1h por hora em 2 horas
consecutivas
Aceleração: - Reativo: ≥ 2 acelerações
- ≥ 32 sem.: 15 bpm acima em 20min (ou por 40min)
Cardiotocografia na da linha de base por ≥ 15s - Não reativo: < 2
ausência de contrações acelerações em 40
- < 32 sem: 10 bpm acima
da linha de base por ≥ 10s minutos

- Negativo: ausência de
desacelerações tardias
- Positivo: desacelerações
tardias em ≥ 50% das
contrações, mesmo se
houver < 3 contrações em
10 minutos
- Suspeito: desaceleração
tardia intermitente ou
Cardiotocografia - Pelo menos 3 contrações
desacelerações variáveis
na presença de de ≥ 40s em 10 minutos
significativas
contrações
- Equivocado devido
à taquissistolia:
desaceleração associada
a contrações a cada 2
minutos ou que duram
> 90s.
- Insatisfatório: < 3
contrações em 10
minutos ou erro técnico
no registro da CTG

60
Avaliação por 30 minutos (5
parâmetros):
- Padrão reativo na CTG na
ausência de contrações
- ≥ 1 movimento
Cada parâmetro recebe
respiratório fetal que dura
de 0 ou 2 pontos
≥ 30s

Perfil Biofísico Fetal - ≥ 3 movimentos fetais - Normal: ≥ 8


discretos
- Suspeito: 6
- ≥ 1 movimento fetal
com extensão acentuada - Anormal: ≤ 4
com retorno à flexão OU
abertura e fechamento de
uma mão
- Medida vertical do Maior
Bolsão > 2 cm
- CTG na ausência de - Normal: CTG reativa e
contrações Maior Bolsão > 2 cm
Perfil Biofísico Fetal
Modificado - Medida vertical do Maior - Anormal: CTG não
Bolsão > 2 cm reativa e/ou Maior Bolsão
≤ 2 cm

- IP > p95: ANORMAL –


prejuízo da transferência
de nutrientes e gases
Dopplerfluxometria da entre a placenta e o feto
artéria umbilical - Protocolo de Barcelona
- Diástole zero ou
reversa: maior
morbimortalidade fetal

Abreviaturas: sem (semanas); bpm (batimentos por minuto); CTG (cardiotocografia).


Fonte: Adaptado de Signore, 2019; Ministério da Saúde, 2006; ACOG, 2014.

A. MOBILOGRAMA

É uma forma subjetiva de avaliar a movimentação fetal a partir da percepção


materna.1 Apesar de o Ministério da Saúde recomendar, para as gestações de
baixo risco, o registro diário de seis movimentos fetais em uma hora de observação
a partir da 34ª semana,5 não existem evidências claras do limite abaixo do qual

Manual de Condutas Obstétricas do HMIB 61


ocorra maior risco de comprometimento fetal.1,6 Ademais, não há comprovação de
que a avaliação quantitativa da movimentação fetal seja mais efetiva do que a
avaliação qualitativa materna para identificar fetos com maior risco de eventos
adversos.6

Observamos que a diminuição da movimentação fetal pode ser devido a sono


fetal (ciclos de sono fetal duram até 40 minutos); medicamentos que atravessam
a placenta; tabagismo materno.7 Além disso, a diminuição da percepção materna
de movimento fetal pode ocorrer devido à alteração na quantidade de líquido
amniótico; posição materna; posição fetal (coluna fetal posicionada anteriormente);
placenta anterior.7

B. CARDIOTOCOGRAFIA ANTEPARTO

A cardiotocografia é utilizada para avaliar a atividade cardíaca fetal e suas


variações em função das contrações uterinas ou da movimentação fetal.4 Suas
indicações são amplas, porém não são isentas de adversidades. Estudos indicam
que o uso rotineiro em pacientes de baixo risco aumentam as taxas de intervenções
médicas, como a cesariana.8

Os PARÂMETROS avaliados são:1,9,10,11,12

• LINHA DE BASE: é a frequência cardíaca fetal (FCF) média aproximada


durante o exame. Pode-se ter uma variação de até 5 bpm. Para determiná-
la, é necessário obter uma FCF basal por pelo menos 2 minutos em um
registro de 10 minutos.

• Normal: 110 bpm - 160 bpm.

• Bradicardia fetal: linha de base < 110 bpm.

• Bradicardia grave < 100 bpm.

• Taquicardia fetal: linha de base > 160 bpm.

62
Tabela 3 - Causas de Alterações no Batimento Cardíaco Fetal

TAQUICARDIA FETAL BRADICARDIA FETAL

Febre materna Hipotermia materna


Analgesia peridural Hipotireoidismo
Infecção intra ou extrauterina Hipoglicemia
Beta-agonistas (fenoterol, salbutamol) Uso de betabloqueadores
Bloqueadores parassimpáticos Gestações com > 42 semanas
(atropina, escopolamina) Arritmias fetais: bloqueio atrioventricular
Arritmias fetais (taquicardia
supraventricular, fibrilação atrial)
Hipertireoidismo
Estímulo fetal
Atividade motora intensa sem
associação com patologias

Fonte: Adaptado de Intrapartum fetal heart rate monitoring: Nomenclature, interpretation,


and general management principles. ACOG, 2009.

• VARIABILIDADE: é a amplitude de variação da FCF durante o exame.


Normal: entre 6 bpm - 25 bpm.

• Ausência de variabilidade: não é possível detectar variação na FCF.

• Variabilidade mínima: ≤ 5 bpm.

• Variabilidade moderada: entre 6 e 25 bpm.

• Variabilidade aumentada: > 25 bpm.

• ACELERAÇÕES TRANSITÓRIAS: trata-se da elevação transitória da FCF


além da variabilidade normal esperada. Considera-se aceleração transitória
da FCF um aumento de pelo menos 15 bpm por um período maior que 15
segundos e menor que 2 minutos. Se a idade gestacional for < 32 semanas,
considera-se aceleração transitória quando há aumento súbito na FCF
maior que 10 bpm por pelo menos 10s.

• Reativo: ≥ 2 acelerações em 20min (ou por 40min).

• Não reativo: < 2 acelerações em 40 minutos.

Manual de Condutas Obstétricas do HMIB 63


• DESACELERAÇÕES: trata-se da diminuição progressiva da FCF com
duração de pelo menos 15s com queda de pelo menos 15 bpm.

• Precoce: é quando o nadir da desaceleração coincide com o pico da


contração; apresentam usualmente intervalo de pelo menos 30s entre
a frequência da linha basal e o nadir da desaceleração; costumam ser
superficiais e mantêm a variabilidade. Não indicam hipóxia/acidose fetal.
Estão relacionadas à compressão do polo cefálico.

Figura 1. Desaceleração precoce

Fonte: Imagem elaborada pelo autor.

• Espiculares / Em “V”: desaceleração mais comum do trabalho de parto


com queda abrupta da FCF e intervalo entre o início e o nadir menor
que 30s. Não são relacionadas às contrações, mantêm boa variabilidade,
recuperação rápida da linha de base. Raramente estão associadas à hipóxia/
acidose fetal importante.

Figura 2. Desacelerações espiculares.

Fonte: Imagem elaborada pelo autor.

64
• Tardias / Em “U” ou com redução da variabilidade: apresentam intervalo
de pelo menos 30s entre FCF basal e o seu nadir; ocorrem cerca de 20s
após o início da contração, têm um nadir depois do pico da contração e
retornam à FCF basal após a contração ter acabado. Indicam resposta de
quimiorreceptores à hipoxemia fetal. Importante: em um traçado com baixa
variabilidade e ausência de desacelerações, uma queda de 10 bpm - 15 bpm
também pode ser considerada uma desaceleração tardia.

Figura 3. Desaceleração tardia

Fonte: Imagem elaborada pelo autor.

• Prolongadas: desacelerações com duração maior que 3 minutos. Quando


o traçado tem pouca variabilidade, FCF ≤ 80 bpm e a desaceleração dura
mais que 5min, deve-se intervir imediatamente, pois indica hipóxia grave.

Figura 4. Desaceleração prolongada

Fonte: Imagem elaborada pelo autor.

Manual de Condutas Obstétricas do HMIB 65


• Padrão Sinusoidal: oscilações regulares em formato de sino, suaves,
com variabilidade entre 5 bpm-15 bpm, em frequência de 2-5 por minuto
e duração de 30 minutos. Está relacionada à anemia fetal, síndrome de
transfusão feto-fetal, hemorragia materno-fetal, ruptura de vasa prévia,
infecções, hipóxia fetal aguda, malformações cardíacas.

Figura 5. Desaceleração padrão sinusoidal

Fonte: Imagem elaborada pelo autor.

• CONTRAÇÕES: deve-se registrar o tônus uterino por meio da parede


abdominal a partir de um tocodinamômetro. Pode ter interferência quando
está mal posicionado, com tensão inadequada, ou se a paciente for obesa.
O registro do tônus uterino por meio de um tocodinamômetro externo não
disponibiliza informações confiáveis acerca da intensidade e duração das
contrações, apenas o ritmo.11

• MOVIMENTOS FETAIS: é um parâmetro subjetivo que se baseia na


percepção materna de movimentos fetais durante o exame. A mãe registra
cada movimento a partir do acionamento do botão.

A cardiotocografia anteparto não está indicada antes de 26 semanas de


gestaçãopela imaturidade fisiológica do Sistema Nervoso Autônomo (SNA) e por
inexistirem parâmetros de normalidade disponíveis para essa idade gestacional.13

66
Tabela 4 - Interpretação e Conduta na Cardiotocografia

CARDIOTOCOGRAFIA
Normal Atípica ou Anormal
(Categoria 1) indeterminada (Categoria 3)
Parâmetros
(Categoria 2)

100 bpm - 110 Bradicardia < 100


bpm bpm
> 160 bpm por < Taquicardia > 160
Linha de base 110 bpm-160 bpm 30 min
bpm por 30 min
Elevação da linha
de base Linha de base
irregular
≤5 bpm por ≥ 80
6 bpm a 25 bpm > 5 bpm por min
Variabilidade
≤5 bpm por < 40 40min a 80min >= 25 bpm por > 10
min min
Padrão sinusoidal
Nenhuma ou Desacelerações Desacelerações
Desacelerações ocasional / variável, variáveis por 30s variáveis, > 60s
< 30s a 60s Desacelerações
tardias

Acelerações ≥ 2 acelerações ≥15 ≤ 2 acelerações > ≤ 2 acelerações >15


(IG > 32 bpm por 15s em < 15s por 15 s em bpm por 15s em >
semanas) 40 min 40min-80 min 80min

Acelerações > 2 acelerações ≥ ≤ 2 acelerações ≤ 2 acelerações ≥10


(IG < 32 10 bpm por 10s em ≥10 cpm por 10s bpm por 10s em >
semanas) < 40 min em 40min-80 min 80min
URGÊNCIA:
Nova avaliação Nova avaliação Avaliação
Conduta necessária após completa com US
segundo quadro
clínico correção de e PBF. Alguns casos
causas reversíveis evoluirão para
interrupção da
gestação

Abreviaturas: US (ultrassonografia); PBF (perfil biofísico fetal); bpm (batimentos por minuto);
IG (Idade Gestacional).
Fonte: Adaptada de Macones et al., 2008; Tratado de Obstetrícia da Febrasgo, 2019.

Manual de Condutas Obstétricas do HMIB 67


C. PERFIL BIOFÍSICO FETAL

É um método de avaliação ultrassonográfico do bem-estar fetal em tempo real,


no qual são observados cinco parâmetros:4 cardiotocografia na ausência de
contrações; movimentos respiratórios fetais; movimentos fetais; tônus fetal; maior
bolsão de líquido amniótico (MB) > 2 cm.4 A medida do maior bolsão vertical é a
estimativa do volume de líquido amniótico por meio de medida vertical, livre de
partes fetais ou cordão umbilical.4

Fundamenta-se na hipótese de que as variações biofísicas fetais refletem a


integridade funcional do sistema nervoso central e, como tal, espelham o estado
de oxigenação.4

Tabela 5. Parâmetros do Perfil Biofísico Fetal

PERFIL BIOFÍSICO FETAL

CARDIOTOCOGRAFIA Presença de acelerações transitórias 2


MOVIMENTOS RESPIRATÓ- 1 ou mais movimentos com 30s de duração 2
RIOS
MOVIMENTOS CORPÓREOS 3 ou mais movimentos corpóreos discretos 2
OU 1 amplo
TÔNUS FETAL Extensão de extremidades ou da coluna 2
LÍQUIDO AMNIÓTICO Maior bolsão com diâmetro vertical >= 2cm 2
TOTAL 10

Fonte: Tratado de Obstetrícia Febrasgo, 2019.

Tabela 6. Interpretação do Perfil Biofísico Fetal

INTERPRETAÇÃO DO PBF
10 ou 8 com MB normal ( ≥ 2 cm ) NORMAL - Baixo risco de asfixia aguda
(1/1000 em uma semana). Conduta:
conservadora.

8 com MB ANORMAL ( < 2 cm ) NORMAL - Baixo risco de asfixia aguda


(89/1000 em uma semana). Conduta:
resolução de acordo com a IG e a
maturidade.

68
6 com MB NORMAL ( ≥ 2 cm ) SUSPEITO - Possível asfixia fetal aguda.
Repetir teste com 6h. Interrupção da
gestação se <6.

6 com MB ANORMAL ( < 2 cm ) SUSPEITO - Risco de asfixia fetal


aguda (89/1000 dentro de uma
semana). Conduta: interrupção da
gestação quando o feto for maduro.
Se não, avaliar doppler (conduta
individualizada).

4/2/0 PROVÁVEL ASFIXIA FETAL (risco de


asfixia fetal de 91 a 600/1000 dentro de
uma semana). Conduta: interrupção da
gestação na viabilidade fetal.

Fonte: Tratado de Obstetrícia Febrasgo, 2019.

D. DOPPLERFLUXOMETRIA

É um método que efetua a mensuração das velocidades de fluxo em vasos da


circulação materna e fetal (artérias uterinas, artéria umbilical, artéria cerebral
média, ducto venoso e veia umbilical) promovendo informações a respeito do fluxo
uteroplacentário e da resposta circulatória fetal a eventos fisiológicos e patológicos,
propiciando, assim, uma análise das alterações hemodinâmicas que caracterizam
a condição fetal.15

Observamos que a administração de corticoide pode causar uma melhora


transitória nos parâmetros do Doppler da artéria umbilical. Essa melhora inicia
com aproximadamente 8h da primeira dose e pode durar até 10 dias.16,17

Tabela 7. Fatores que alteram a análise do Doppler

FATORES QUE ALTERAM A ANÁLISE DO DOPPLER


Há mudanças dos índices fluxométricos
Idade Gestacional com o avanço da gestação

As alterações nos índices não são


Frequência cardíaca fetal significativas com a FCF entre 110 bpm
e 160 bpm

Manual de Condutas Obstétricas do HMIB 69


Índices da artéria umbilical são menores
nas proximidades da inserção do cordão
Local onde se obtém a amostra na placenta, quando comparados ao
cordão próximo à inserção abdominal

Movimentos respiratórios fetais


Movimentos corpóreos fetais
Corticoterapia

Fonte: Nomura, Miyadahira, Zugaib, 2009.

O índice utilizado para avaliação da vitalidade fetal é o Índice de Pulsatilidade


(IP)15.

Considerações importantes sobre a avaliação e conduta dos resultados


dopplerfluxométricos:

• A interpretação, conduta e acompanhamento materno fetal estão


diretamente associados à idade gestacional e comorbidades maternas.15

• Uma relação cérebro-placentária (RCP) alterada tem sido associada a


alterações de crescimento fetal, um risco aumentado de admissão em UTI
Neonatal e Cesárea de urgência.21 Uma baixa RCP indica redistribuição de
fluxo sanguíneo fetal (brain sparring), portanto evidências recentes sugerem
que baixas RCPs foram relacionadas com moderada a alta acurácia preditiva
de morte perinatal e aumento da probabilidade pré-teste de desfechos
perinatais adversos, além de ser um bom preditor de parto cirúrgico devido
a estado fetal não tranquilizador.22 A RCP parece ter um valor mais acurado
em predição de desfechos adversos em fetos com alterações de crescimento
quando utilizada em conjunto com o Doppler da Artéria Umbilical, contudo
o valor numérico definido como alvo para predição de eventos adversos
e o papel real do uso da RCP no manejo de gestações complicadas com
alterações de crescimento fetal ainda requerem estudos para embasamento
científico robusto e consistente que culmine em utilização na prática clínica
e na definição de condutas.23

• Pela gravidade do comprometimento fetal, a interrupção imediata da


gestação é recomendada nos casos de diástole zero acima de 34 semanas
ou diástole reversa acima de 32 semanas. Abaixo disso, devemos avaliar
cada caso, juntamente com a neonatologia, ponderando a conduta
conservadora com vigilância diária do bem-estar fetal e a propedêutica
disponível (corticoide, sulfato de magnésio para neuroproteção etc.).15

70
• Em gestações abaixo de 30/32 semanas, com grave insuficiência
placentária e presença de alterações importantes na oxigenação fetal, é
indicada a interrupção imediata da gestação, após corticoterapia, se valores
de IP do Ducto Venoso estiverem acima do percentil 95.15

• Toda interrupção realizada no HMIB segue o protocolo de “Alterações do


Crescimento Fetal” do Centre de Medicina Fetal i Neonatal de Barcelona -
Hospital Sant Joan de Déu/Universitat de Barcelona,18 levando sempre em
consideração as individualidades dos casos clínicos.

Tabela 8. Índice de Pulsatilidade

ÍNDICE DE PULSATILIDADE (IP)


Vaso Análise Interpretação
Invasão trofoblástica (11/13 Não é considerado
semanas e 22/24 semanas): método de avaliação
ARTÉRIAS predição do risco de pré- fetal (6)
UTERINAS eclâmpsia, restrição de
crescimento fetal e óbito
perinatal

Desenvolvimento e crescimento IP > p95: ANORMAL -


fetal: a diminuição progressiva prejuízo da transferência
ARTÉRIA
UMBILICAL do fluxo diastólico nessas de nutrientes e gases
artérias representa avarias entre a placenta e o feto
na vascularização dos vilos
placentários. Diástole zero ou reversa:
maior morbimortalidade
fetal

ARTÉRIA IP < p5: ANORMAL


CEREBRAL Centralização fetal: priorização - padrão ouro do
MÉDIA da circulação de órgãos nobres doppler na predição de
resultados não favoráveis
na vitalidade fetal

Manual de Condutas Obstétricas do HMIB 71


Quanto maior o IP,
mais eventos neonatais
adversos, maior
Aumento da pressão das disfunção miocárdica
câmaras cardíacas, alterações no (aumento de troponina T
território venoso do feto → fluxo cardíaca fetal).
retrógrado na veia cava inferior
durante a contração atrial + Onda A ausente ou
DUCTO redução no fluxo sanguíneo no reversa: risco de óbito
VENOSO ducto venoso, aumento dos iminente
valores do IP e alterações na
onda A (que se refere a sístole Índice principalmente
atrial), se mostrando ausente ou usado em fetos
reversa com prematuridade
extrema e já com
comprometimento dos
outros índices

Pulsações na veia umbilical com


VEIA UMBILICAL IG > 15 semanas em CIUR ou Disfunção cardíaca
hipóxia fetal

Fonte: Nomura, Miyadahira, Zugaib, 2009.

MONITORAMENTO FETAL INTRAPARTO


Ausculta cardíaca fetal intermitente: em conformidade com a Febrasgo, a
frequência cardíaca fetal deve ser avaliada, pelo menos, a cada 30 minutos, antes,
durante e 30 segundos após uma contração no primeiro período, e a cada 5min/15
min no segundo período do trabalho de parto.11,19

É importante avaliar a frequência cardíaca basal, a presença de acelerações ou


desacelerações, além dos movimentos fetais. Em presença de desacelerações
<100 bpm, a posição materna no leito deve ser avaliada, devido à possibilidade da
compressão aortocava.11 IMPORTANTE: a monitorização dos batimentos cardíacos
fetais deve fazer parte da rotina de toda a equipe envolvida nos cuidados da
gestante.

72
Tabela 9. Achados anormais durante a cardiotocografia

ACHADOS ANORMAIS
Linha de base Abaixo de 110 bpm ou acima de 160 bpm
Desacelerações Presença de desacelerações repetitivas ou prolongadas
(> 3 minutos)

Contrações > 5 contrações em 10 minutos, em dois períodos sucessivos


de 10 minutos, ou em média durante um período de 30
minutos.

Fonte: Adaptado e traduzido de FIGO, 2015.

Tabela 10. Medidas para melhorar a oxigenação fetal

MANOBRAS DE REANIMAÇÃO INTRAPARTO


Manejo Efeito Benefício Potencial
Reposicionar a gestante Evita compressão Reversão de desacelerações
em decúbito lateral aorto-cava e melhora a tardias, variáveis e
esquerdo perfusão uteroplacentária prolongadas

Alivia a compressão do
cordão umbilical

Suspensão de puxos Diminui a compressão do Reversão de desacelerações


maternos polo cefálico precoces

Suspensão da ocitocina Reduz taquissistolia, Reversão de desacelerações


e administração de melhorando a oxigenação tardias, variáveis e
uterolítico fetal prolongadas

Tratamento da
taquissistolia

Administração de Aumento do aporte de Melhora da oxigenação


oxigênio para a mãe oxigênio para o feto fetal (eficácia questionável)

Manual de Condutas Obstétricas do HMIB 73


Hidratação intravenosa Correção da hipovolemia Melhora da perfusão
materna uteroplacentária

Amnioinfusão Alivia a compressão do Reversão de desacelerações


cordão variáveis e prolongadas

Fonte: Tratado de Obstetrícia da FEBRASGO, 2018.

• CARDIOTOCOGRAFIA INTRAPARTO

• Indicações:11 todas e quaisquer situações que podem condicionar ou


sugerir acidose e/ou hipóxia fetal, tais como comorbidades maternas,
crescimento intrauterino restrito, ocasiões em que pode haver
atividade uterina aumentada (indução do trabalho de parto, infecções),
líquido amniótico meconial ou quando há alterações na ausculta fetal
intermitente.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
De maneira geral, na insuficiência placentária com hipóxia fetal progressiva há
alterações biofísicas sequenciais de adaptação. Uma das primeiras alterações
que podem ser observadas é a alteração no Doppler da artéria umbilical,
seguida pelas anormalidades da frequência cardíaca fetal (FCF), detectadas
pela cardiotocografia e, por último, pelos outros parâmetros do Perfil Biofísico
Fetal (PBF)20.

Além disso, outras alterações do Doppler surgem de forma progressiva: aorta,


artéria cerebral média, ducto venoso e pulsação da veia umbilical.1,20

REFERÊNCIAS
1. Signore, C. Overview of antepartum fetal surveillance. Up To Date, 2019.

2. Martin CB Jr. Normal fetal physiology and behavior, and adaptive responses with
hypoxemia. Semin Perinatol. Aug;32(4):239-42, 2008.

3. Melo ASO, Souza ASR, Amorim MMR. Avaliação biofísica fetal FEMINA,
2011. Acesso em 4 de nov de 2020. Disponível em: http://files.bvs.br/
upload/S/0100-7254/2011/v39n6/a2693.pdf.

74

Você também pode gostar