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2016 / 2019
Vice-Presidente
Paulo César Giraldo
Secretária
Ana Katherine da Silveira Gonçalves
Membros
Cláudia Márcia de Azevedo Jacyntho
Geraldo Duarte
Iara Moreno Linhares
Maria Luiza Bezerra Menezes
Mario Cezar Pires
Mauro Romero Leal Passos
Newton Sérgio de Carvalho
Plínio Trabasso
Regis Kreitchmann
Rosane Ribeiro Figueiredo Alves
Rose Luce Gomes do Amaral
Victor Hugo de Melo
Vulvovaginites na gestação
Descritores
Vulvovaginite; Gravidez; Microbiota vaginal; Corrimento vaginal; Candidíase vaginal; Vaginose bacteriana
Como citar?
Giraldo PC, Amaral RL, Gonçalves AK, Eleutério Júnior J. Vulvovaginites na gestação. São Paulo: Federação
Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO); 2018. (Protocolo FEBRASGO -
Obstetrícia, no. 95/ Comissão Nacional Especializada em Doenças Infecto-Contagiosas.
Introdução
As modificações do organismo feminino durante a gravidez devem-
se a uma série de fatores hormonais e mecânicos e podem ser sistê-
micos ou apenas localmente na região genital.
Modificações genitais
Em decorrência do aumento da vascularização do útero, vagina e
vulva e da vasodilatação venosa, observam-se mudanças na colo-
ração da região genital, edema e amolecimento vulvovaginal que
propiciam maior transudação para interior da luz vaginal. Essas
modificações favorecem a manutenção da umidade vulvar e facili-
1
Faculdade de Ciências Médicas, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, Brasil.
2
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, RN, Brasil.
3
Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, CE, Brasil.
*Este protocolo foi validado pelos membros da Comissão Nacional Especializada em Doenças Infecto-
Contagiosas e referendado pela Diretoria Executiva como Documento Oficial da FEBRASGO. Protocolo
FEBRASGO de Obstetrícia nº 95, acesse: https://www.febrasgo.org.br/protocolos
Modificações imunológicas
A área genital feminina reveste-se de características próprias em
relação à resposta imune, uma vez que, se tivesse os mesmos me-
canismos da cavidade bucal ou intestinal, não haveria a concepção.
Portanto, o canal cervicovaginal apresenta uma tolerância muito
maior às proteínas estranhas e depende muito mais do equilíbrio
do ecossistema para manter a homeostase do meio.(1-3) Na gravi-
dez, há uma imunomodulação significativa que pode favorecer a
aceitação do concepto, mas pode, também, predispor o organismo
materno às infecções virais e fúngicas.(3) Parece haver quatro hipó-
teses para a não rejeição do feto:(3)
1. O feto imunologicamente neutro.
2. O útero imunologicamente privilegiado.
3. A placenta como barreira separando a mãe e o feto.
4. O estado de imunossupressão fisiológica da gestante.
Apesar dessas possibilidades, sabe-se que ocorre um fenôme-
no muito mais complexo, por isso, essas quatro possibilidades não,
obrigatoriamente, satisfazem as perguntas em relação à fecunda-
ção, ao desenvolvimento do feto nem ao completo entendimento
da instalação de comorbidades. (3)
Avaliar:
• Cor
• Quantidade Estudo da microbiota vaginal
• Textura • pH vaginal
• Odor • Bacterioscopia (corada)
• Inflamação • Cultura específica (eventual)
• Prurido
• Fissuras
Microscopia
Candidíase e gestação
A candidíase é uma causa frequente de vulvovaginite, acredita-se
que 75% das mulheres irão experimentar pelo menos um episó-
dio durante a vida. A taxa de prevalência pode variar entre 2,2% a
30%(10) e, na gestação, pode-se observar mais de 40% das mulheres
colonizadas por cândida.(27,34,35) Parven registrou 38% de mulheres
com candidíase, sendo 27% sintomáticas e 11% assintomáticas,
não existindo diferença na prevalência quando avaliado o trimes-
tre gestacional.(36)
Fora da gravidez, Gamarra et al. (37) registraram que as espé-
cies de fungo mais comumente isoladas foram: C. albicans (85,2%)
seguida por C. glabrata (5%), Saccharomyces cerevisiae (3,3%) e C.
dubliniensis (2,5%).
A gestação propicia a candidíase em virtude das alterações
hormonais, da maior umidade local e das alterações imunológicas
imputadas pelo estado gravídico.(36,38)
Tricomoníase e gestação
O Trichomonas vaginalis é um protozoário de transmissão sexual
com tropismo para o trato urogenital. Estima-se a ocorrência de
120 milhões de casos em mulheres por ano. Na gestação é a ter-
ceira causa mais frequente de vulvovaginite, com prevalência de
4% em gestantes assintomáticas no curso do segundo trimestre de
gestação.(28)
A colonização vaginal por tricomonas pode apresentar-se sem
sintomas, mas, frequentemente, manifesta-se por vaginite sinto-
mática intensa, com a presença de corrimento amarelo-esverdeado,
irritação vulvar e uretral e dispareunia profunda. O diagnóstico é
realizado facilmente pela identificação do parasita móvel e flagelado
na lâmina a fresco. O teste das aminas pode ser positivo, e o pH al-
cança valores maiores que 4,5. Técnicas mais sensíveis como cultura,
imunofluorescência ou imunoensaio não se mostram mais efetivas
em função do custo e tempo dispendidos para sua realização.(2)
A droga de escolha para o tratamento da tricomoníase é o me-
tronidazol, que deve ser administrado preferencialmente por via
oral. Não foi demostrada diferença na efetividade terapêutica do
metronidazol quanto ao esquema em dose única ou por sete dias.
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