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Revista

do Professor de Educação Infantil

Prêmio Professores
do Brasil
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Entrevista Em debate Relato ��


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Miguel Arroyo Avaliação Proinfantil


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expediente
Presidente da República
Luis Inácio Lula da Silva

Ministro da Educação
Fernando Haddad

Secretário Executivo
Jose Henrique Paim Fernandes

Secretário de Educação Básica


Francisco das Chagas Fernandes

Diretora de Políticas de Educação Infantil e Ensino


Fundamental
Jeanete Beauchamp

Coordenadora Geral de Educação Infantil


Karina Rizek Lopes

Consultora Editorial
Vitória Líbia Barreto de Faria

Jornalista Responsável
Adriana Maricato - MTB 024546/SP

Editor
Alex Criado

Reportagem
Adriana Maricato de Souza, Adriano Guerra e Edit Silva

Direção de Arte
Projects Brasil Multimídia

Projeto Gráfico
Projects Brasil Multimídia

Criação e Diagramação
Projects Brasil Multimídia

Fotografias
André Dusek e João Castilho

Revisão
Projects Brasil Multimídia

Foto da Capa:
Jardim de Infância 21 de abril, Brasília-DF

Endereço para correspondência:


Ministério da Educação - Coordenação Geral de Educação
Infantil – DPE/SEB
Esplanada dos Ministérios, Bloco L - Edifício Sede, 6o andar
Sala 623
70047-900 Brasília – DF. Tel: (61) 21048645
E-mail: coedi-sef@mec.gov.br

Tiragem desta edição: 200 mil exemplares


Publicação financiada pelo Projeto Unesco 914 BRA 1095
Novembro de 2006.

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sumário

3 18

2
sumário
Carta ao Professor

3 Entrevista

8 Caleidoscópio

18 Matéria de Capa

26 Professor Faz Literatura

27 Artigo

30 Relato

33 Reportagem

35 Resenhas

37 Notas

39 Diálogo

41 Arte
carta ao professor

Cara professora e caro professor,


O Ministério da Educação (MEC) apresenta uma nova edição da Revista Criança. Com
isso, esperamos consolidar a idéia de que um país democrático passa necessariamente
pela educação. Uma educação com qualidade social e que começa logo na primeira
infância. Daí, a importância de valorizar o papel daqueles que cuidam e educam
nossas crianças pequenas. Trabalhamos para que a Revista Criança continue sendo
um real instrumento de formação continuada. Por isso, reunimos cuidadosamente
artigos, reportagens e informações que consideramos valiosos para professores e
professoras.
A Matéria de Capa, por exemplo, é sobre o Prêmio Professores do Brasil 2005, que
representa a unificação dos dois prêmios concedidos anteriormente: um para o ensino
fundamental e outro para a Educação Infantil. A matéria mostra os vencedores, mas
principalmente, trata dos projetos premiados, na expectativa de que eles possam ser
replicados pelo país afora.
O entrevistado desta edição é Miguel Arroyo, especialista em educação e infância
e professor da Universidade Federal de Minas Gerais. Ele fala da mudança drástica
que a imagem da infância sofreu nos últimos anos e também de como deveria ser a
formação daqueles que lidam com a Educação Infantil.
Na seção Caleidoscópio, o processo avaliativo na Educação Infantil é abordado sob
três pontos de vista. Esta edição da Revista Criança traz também uma complementação
da reportagem sobre leitura, publicada no número anterior. Nela, abordamos a
necessidade de o professor e professora tornarem-se leitores. Na seção Professor
Faz Literatura, apresentamos dois poemas sobre a leitura. Este é o espaço para
você, professor e professora, mostrar a sua produção literária.
A partir desta edição, a antiga seção Artigo foi divida em duas: Artigo e Relato. O
primeiro continua sendo uma reflexão teórica. Neste número, trata do currículo na
Educação Infantil. O segundo consolida o caráter de “relato de experiência significativa”.
Aqui, tratamos do programa de formação de professores e professoras da Educação
Infantil, o PROINFANTIL.
Trazemos ainda duas resenhas, uma das Memórias Inventadas de Manuel de Barros,
e outra do CD Pé com Pé, do projeto Palavra Cantada. Na seção Arte, apresentamos
quadros do pintor holandês Albert Eckhout, que viveu no Recife no século XVII. E na
seção Diálogo, continuamos respondendo as dúvidas e sugestões de vocês, nossos
leitores e leitoras.
Enfim, esperamos que, com esta nova edição, a Revista Criança se torne cada vez
mais a revista do professor e da professora de Educação Infantil desse imenso país,
que pode e deve ser de todos.
Boa leitura!

2 revista criança
entrevista

Imagens quebradas
Adriano Guerra | Belo Horizonte/MG

“As imagens da infância eram vidro e se quebraram”. O especialista em educação e infância


Miguel Arroyo busca compreender a realidade que está por trás da idéia de que os alunos já
não são os mesmos. Repensar os educandos é, para ele, encontrar a própria identidade do
educador.
Arroyo é Professor emérito da Faculdade de Educação da UFMG e PhD (Doctor of Philosophy)
em Políticas de Educação pela Universidade de Stanford, na Califórnia/EUA. Espanhol de
nascimento e cidadão brasileiro por opção, há muito tempo ele se dispôs a enfrentar um dos
maiores desafios para o País: construir políticas de educação abrangentes, que levem em
conta as desigualdades em que vivemos.

Existe um choque entre a preparados para isso, assim É hora de preparar os profes-
realidade da escola e o que como um pediatra tem que sores para lidar com essa in-
as crianças vêem fora dos estar preparado para corpos fância real.
seus muros? desnutridos, baleados, vítimas O que significa “culturas
de violência sexual. infantis”?
Estamos inseridos num
mundo onde as imagens ro- Eu tenho medo de haver ain- O ser humano não nasce
mânticas da infância já se da uma visão romantizada da pronto, ele é construído num
destruíram. Outro dia me fa- infância. As imagens românti- processo longo que acom-
laram sobre um pai que esta- cas da infância se quebraram. panha a vida toda. A partir
va muito preocupado porque Foto: João Castilho

apareceu um cadáver na por-


ta da creche e as crianças o
viram. Esse é um choque tão
brutal para crianças entre 3
e 4 anos, que o profissional
de educação deve estar bem
preparado para trabalhar com
isso. Hoje há choques brutais
que a infância padece, cho-
ques próprios de adultos. O
professor tem que ser forma-
do para trabalhar os valores, a
ética, as identidades.

Uma criança negra que vive,


por exemplo, num meio cheio
de preconceito racial: se os
educadores souberem apenas
ensinar a ler, a cantar, não dá.
Não temos mais aquela in-
fância florida, de rodinha, de
cantar. Hoje a infância é mui-
to sofrida e temos que estar

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entrevista

de determinantes biológicos Antes das diversidades re- Não, não dá. Entre outros
e das concepções culturais gionais, nós temos a dos su- aspectos, são muito diferen-
vão criando-se as diversas jeitos humanos. Passamos tes as vivências de uma crian-
temporalidades e cada tempo por tempos diversos da vida, ça de classe média em rela-
tem suas especificidades. A então temos que respeitar ção a uma criança que mora
infância é uma delas, como é a infância em suas especifi- na favela. Se vamos falar dos
a adolescência, a juventude, a cidades. Temos que ter um processos de humanização,
vida adulta e como é a velhice. currículo para a formação da de construir-se como huma-
São tempos em que o ser hu- adolescência, dentro dessa nos, eles são muito diferentes.
mano está em um dado mo- especificidade do que é ser Hoje, temos crianças que não
mento da construção da sua adolescente. Os Parâmetros passam sequer por processos
mente, das suas faculdades Curriculares Nacionais (PCNs) de humanização.
superiores, assim como de prevêem isso, de certa forma.
A infância popular hoje está
seus valores e de sua ética.
vivendo um dos seus momen-
Estas temporalidades variam “As imagens
tos mais dramáticos. No mo-
de acordo com cada povo e românticas da infância mento em que você encontra
cultura. Num ambiente rural, a
se quebraram. É crianças na rua, em risco social,
infância, provavelmente, será
hora de preparar os ameaçadas pela droga, amea-
mais curta.
çadas pela violência, crianças
professores para lidar
As condições sociais e de 9 e 10 anos exploradas se-
culturais determinam a pró-
com a infância real.” xualmente, então precisamos
pria duração da infância e ter um projeto específico de
As diversidades de classe
desses outros tempos? educação para elas.
são muito mais fortes: se até
Sim, determinam a duração, agora falamos em infância, Diante disso, eu não posso
as maneiras de viver esses quando vemos as diversidades ter o mesmo processo de Edu-
tempos e o imaginário que se de classe, vamos ter que falar cação Infantil, nem o mesmo
tem sobre eles. Desde o livro em “infâncias”. Porque uma currículo de Educação Infantil.
clássico de Philippe Aries na coisa é ser criança em uma Temos que tomar consciência
década de 19601, chamou-se favela, com o pai desemprega- de que as políticas universa-
a atenção para o fato de que a do, com uma mãe que tem que listas não dão conta das vi-
infância não é sempre a mes- sair de casa cedo para poder vências tão desiguais da
ma, ela passa por temporali- trazer comida para a casa, ser infância.
dades diferentes e, historica- uma criança de seis anos que
Como trabalhar
mente, ela se constrói como cuida do irmãozinho de dois.
as diversidades?
um tempo diferenciado. Uma Essas infâncias são muito di-
coisa é a infância nos tempos versas das infâncias de classe Estávamos falando da di-
mais primitivos e outra a in- média, das infâncias da elite. versidade das infâncias por
fância na Idade Medieval. Nesse sentido, temos que ter classes. A mesma coisa é por
um projeto de Educação Infan- gêneros: é muito diferente um
Como as diretrizes nacio-
til para cada infância. menino, que cedo o pai diz
nais podem atender à di-
“vai pra rua e tem que trazer
versidade cultural e ser, ao Dá para atender às deman- comida e alguns trocados e
mesmo tempo, orientação das da infância popular da você, menina, fica cuidando
segura para a formulação de mesma forma que se atende de seus irmãozinhos”. Uma
propostas pedagógicas? crianças da classe média? criança, uma pré-adolescen-

1
História social da criança e da família. LTC Editora.

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entrevista

te, normalmente, já tem que irmãzinha e a irmãzinha chega de uma criança em cada tem-
sair para trabalhar fora, para aqui duas horas depois”. Na po. Depois, teríamos que saber
cuidar dos filhos dos outros, hora de sair, a mesma coisa. coisas específicas para traba-
para trazer um dinheiro para Você pode ser rígido com a lhar os valores da infância.
a casa. E o menino sai e en- classe média, porque eu pego
No entanto, os cursos hoje
tra nas drogas. São condições um carro, vou lá e busco meu nos preparam muito para co-
diferentes para cada gênero, filho, mas na escolinha da fa- nhecer os conteúdos, para
assim como, é um problema vela não, porque a própria mãe transmitir as matérias. A esco-
muito sério, por raça. Tem que
não sabe que horas chega o
haver políticas específicas.
ônibus. Por isso, as propostas
“Se hoje as camadas
O senhor defende as po- educativas para as infâncias
líticas afirmativas também populares têm que ser muito
populares e sua
dentro da infância? mais sensíveis. infância vivem
realidades tão
Sim, quanto mais há reali- Que tipo de formação o
dades negativas, mais temos professor da Educação In- negativas, elas
que ter políticas afirmativas. fantil precisa ter para incor- têm que ter ações
Se hoje as camadas popula- porar este modelo? afirmativas.”
res e sua infância vivem reali-
dades tão negativas, elas têm Temos que acabar com a la trabalha muito as habilida-
que ter ações afirmativas. Ou- formação generalista. Tem des – de leitura, de escrita –
tro dia, estava em uma escoli- que ser básica para todo edu- mas muito pouco os valores.
nha ao lado de uma favela, e cador e depois para as especi-
a diretora me colocou algumas ficidades dos tempos da vida. Ainda hoje se pensa que
questões que são muito dife- O educador de infância teria a infância é um período de
rentes daquelas de um jardim preparação para alguma coi-
que conhecer muito a história
de infância. Ela disse: “eu não sa que ainda está por vir...
social da infância, a psicologia
posso insistir que as crianças da infância, isso é de uma ri- Aí entramos na questão de
queza! Deveríamos conhecer como entender a infância. O
a diversidade de formas da in- que torna a infância um tem-
fância, sobretudo em um país po específico? Ela é um tem-
como o nosso, de tantas de- po de não fala, um tempo de
não ter o domínio da razão,
sigualdades. Os futuros
do verbo, da lógica do pen-
profissionais devem
samento racional. A infân-
conhecer como
cia se define pelo negativo,
vivem as crian- essa sempre foi a tendência.
ças, como se so- A infância era uma espécie
cializam, que valores de fase mais próxima entre o
aprendem, que cuidados pre- bicho e o ser humano: tempo
cisam, que proteção têm. dos instintos, do choro, do
não controle, dos caprichos.
Depois, tem que entender
muito mais sobre o desenvol- Ela é vista como um tempo
cheguem na hora certa, por- vimento humano. Teríamos que não tem identidade, que
que há dias em que a mãe sai que estudar como se processa não se define por si mesmo, se
muito cedo, deixa por conta da o desenvolvimento no cérebro define em relação à vida adul-

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entrevista

ta, tida como o tempo nobre Como o senhor situa o res, sua ética, sua mente, sua
da vida humana. A vida adul- brincar na Educação Infantil auto-estima, sua capacidade
ta é o tempo do raciocínio, da e no ensino fundamental? motora, sua corporalidade. A
fala, das grandes decisões, da infância é um grande tempo
Antigamente, nos referíamos
para se desenvolver tudo isso.
“ O ideal seria entender à Educação Infantil a até, no
Mas, como? Seria o modelo
máximo, 6 anos. Para a escola,
que a infância penetra a infância é muito curta. Uma
escolar? Eu acho que não. O
modelo escolar está muito fo-
no ensino fundamental. das coisas que temos que
cado em apenas algumas ha-
Ela vai até os 9 anos, fazer hoje é alongar o tempo
bilidades.
de infância. O ideal seria en-
no mínimo.”
tender que a infância penetra Qual a mudança que preci-
gestão do mundo, da gestão na educação fundamental. Ela sa ocorrer?
da cidade e, nesse sentido, vai até os 9 anos, no mínimo.
Na família, por exemplo, para Precisamos pensar o que
todos os tempos anteriores à
nós, 8 anos é criança, 9 anos é ser criança, o que signifi-
vida adulta são considerados
é criança. ca essa fase, esse tempo da
tempos preparatórios.
vida, e nos perguntarmos:
Mas eu não considero que a O que isso traria em termos como desenvolver sua mente,
de mudança para a escola? que ainda é de criança, seus
infância seja uma preparação
para a cidadania. A infância é valores, seu relacionamento,
Isso muda radicalmente a
sua sociabilidade, seu corpo?
um tempo de cidadania. Não escola. Se você tivesse uma
Vamos desenvolver isso atra-
se preparam crianças e ado- política de educação em que
vés do brinquedo, da habilida-
lescentes para um dia serem a infância fosse de 0 a 9 anos,
de de mexer, trabalhar o sen-
sujeitos de direitos, eles já são nós não estragaríamos essa
sorial, a dimensão corpórea, a
sujeitos de direitos, esta é uma fase com os pré-escolares e dimensão de sua identidade
mudança recente. escolares de 1a à 4a série. Se como menino, como menina.
partíssemos dos tempos da
Essa concepção já está vida, de suas especificidades, Isso tem sido feito de for-
incorporada à legislação poderíamos dividir esse longo ma intuitiva...
brasileira, às diretrizes das tempo da infância em três ou-
políticas de educação? É intuitivo, mas há proje-
tros períodos: de 0 a 3 anos,
tos de Educação Infantil que
um período da primeira infân- fazem isso de uma maneira
Está incorporada no Estatuto
cia; de 3 a 6, um período da muito consciente, existem
da Criança e do Adolescen-
segunda infância; de 6 a 9, a professores que se preparam
te (ECA) por exemplo. O ECA
terceira infância. para isso. A minha definição é
tem 15 anos e não diz apenas
preparemos a infância para um O que isso mudaria no que tenhamos uma proposta
dia ter seus direitos, ele diz currículo? de educação para a infância
que respeite seu tempo e tra-
que os direitos da infância e
Mudaria a concepção da balhe a totalidade de desen-
do adolescente devem ser vivi-
educação. Primeiro, teríamos volvimento nesse tempo, até
dos agora. O ECA nos diz que que entender que educar é os 9 anos, invadindo o ensino
a criança tem direito a comer, permitir que o indivíduo se de- fundamental. Eu diria que, no
a brincar, à moradia, à educa- senvolva como ser humano. Brasil, a educação na primei-
ção. O maior direito que uma Desenvolva todas suas poten- ra e na segunda infância ainda
criança tem é ser criança. cialidades, identidades, valo- têm uma concepção totalizan-

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entrevista

te. O currículo seria um proje- um projeto que dê conta dis- a 1a série. E a pré-adolescên-
to, uma proposta de educação so, preparar profissionais, ter cia, que era 9, 10 e 11 anos,
que abrangesse essa totalida- projetos arquitetônicos ade- ainda estava bem próxima da
de. Não de uma maneira intui- quados e, depois, esse projeto infância. Na realidade, nós ti-
tiva, “espontaneísta”, que é o ir invadindo, contaminando, ramos os de 11 anos, que an-
que geralmente se faz. de baixo para cima, o antigo tes estavam na educação de
“pré”, até contaminar a 1a à 4a 5a a 8a série e passamos para
Como ver a ânsia de alfa- série, ao menos, que é o que baixo. Em vez de invadir de
betização nesse tempo da chamamos de ciclo da infân- cima para baixo, é o contrário:
infância? cia no ensino fundamental. é respeitar a infância como
Claro que temos que alfabe- infância e a pré-adolescên-
Como o senhor vê essa cia como pré-adolescência. E
tizar, mas fazendo da própria discussão sobre a inclusão
alfabetização um processo em nunca fazendo com que a pré-
da criança de seis anos no adolescência fosse invadida
que possamos desenvolver a ensino fundamental?
plenitude da capacidade da pela adolescência e nem inva-
criança. O que não podemos Já incluímos a criança de 6 disse a infância, que no Brasil
é dizer que primeiro deve-se anos no primeiro ciclo quando é de 0 a 6 anos. Agora, se for
aprender a ler para, depois, implantamos a Escola Plural colocar os de 6 anos no en-
aprender o resto. Claro que (Projeto Político-Pedagógico da sino fundamental, com todas
é diferente a abordagem de Rede Municipal de Ensino de as características de séries,
6 a 9 anos, como é diferente Belo Horizonte), em 1994. O ci- de ensinar a ler e a escrever,
de 3 a 6, ou de 0 a 3. Mas, a clo da infância no ensino fun- de matar a infância, eles vão
partir dessas especificidades, damental era até os 8 anos; 9, sofrer. Isto pode ser um de-
é preciso ter um projeto de 10 e 11, o ciclo de pré-adoles- sastre. Se for para escolarizar
Educação Infantil mais amplo, cência; e 12, 13 e 14 o ciclo da a infância, eu sou contra. Se
que englobe todo o tempo da adolescência. Mas veja, o que for para respeitar a infância,
infância. nós fizemos foi acabar com as sou a favor.
séries. Então, você não estava
Isso representa também incluindo a criança de 6 anos
uma mudança radical na es- na 1a série. Nós a inserimos no
cola. ciclo da infância.
Seria uma mudança radical O senhor estava aumen-
no modelo de escola. Sobre- tando a infância?
tudo, teríamos que começar
por fortalecer a educação nos Sim, estávamos fazendo
primeiros anos da infância, ter com que a infância invadisse

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CALEIDOSCÓPIO

A avaliação na Educação Infantil é uma das questões mais


difíceis para os professores. Por esta razão tem sido tema
de muitas reflexões dos especialistas nos últimos anos.
Novos conceitos foram construídos, novas práticas foram
desenvolvidas. Mas continua sendo fundamental aprofundar
esse debate, pois avaliar implica avaliar-se, rever conceitos,
fazer escolhas e tomar decisões: o que avaliar? para quê
avaliar? como avaliar? com que instrumentos avaliar?

Neste caleidoscópio, reunimos três especialistas no


assunto. Claudia de Oliveira Fernandes, professora da PUC
do Rio de Janeiro e da UNIRIO, trata dos conceitos envolvidos
na prática avaliativa. A também professora da PUC-RJ e
diretora pedagógica da Casa Monte Alegre, Adrianne Ogêda
Guedes, aponta aspectos que podem facilitar a construção
de instrumentos avaliativos eficazes. E Rosana Aragão relata
a experiência de construção do Portfólio como instrumento
de avaliação, detalhando os caminhos trilhados e os avanços
conseguidos.
caleidoscópio

Avaliação sempre envolve uma


concepção de mundo
Claudia de Oliveira Fernandes*

“...Mal Alecrim segurou a maria-mole, percebeu como era incrivelmente macia. E cheirosa.
Levou-a para seu cantinho na biblioteca, sentou-se em cima dela, pulou, e aprovou.
– Agora, tenho um ótimo travesseiro.
Na manhã seguinte, acordou com a cabeça cheia de açúcar e coco ralado.
– Que maravilha! – deslumbrou-se. – Vai me dar pensamentos doces. – Deu uma lambida na
ponta dos cabelos. – Hummm! E é uma delícia também. Nunca tive um travesseiro tão bom.”
Rosa Amanda Strausz
Alecrim, Ed. Objetiva, 2003

Um certo olhar missada, responsável, bem Esse “certo modo” de ver o


como perpetuar e criar conhe- mundo ainda está muito im-
A personagem Alecrim en- cimentos e culturas, como si- pregnado pela lógica da clas-
tende que terá sonhos doces tuar a avaliação escolar nessa sificação e da seleção, no que
ao dormir com um travesseiro perspectiva? tange à avaliação.
de maria-mole. E você, gosta
de maria-mole? Você teria um Fala-se muito acerca de Um exemplo: as notas co-
travesseiro em que, ao acordar uma avaliação que não pode locam os avaliados em uma
pela manhã, seu cabelo esti- ser excludente, classificatória, situação classificatória, certo?
vesse cheio de açúcar e coco que selecione, segregando as A partir desta classificação,
ralado? Depende do ponto de crianças e separando aque- podemos separar os melhores
vista, não? Alguns odiariam a las que prometem uma vida dos piores classificados. Em
idéia, outros, como Alecrim, escolar de sucesso das que termos de educação escolar,
achariam o máximo! Com a estariam fadadas ao fracasso, os melhores seguirão em fren-
avaliação acontece a mesma que infelizmente, não só es- te, os piores voltarão para o
coisa: depende do ponto de taria reservado à vida escolar início da fila, refazendo todo o
vista! do aluno, mas também a toda caminho percorrido ao longo
sua experiência de vida futura. de um ciclo de estudos.
A concepção que o profes- Uma marca que o tempo nem
sor possui sobre a função da sempre consegue desfazer. Podemos encontrar escolas
avaliação depende de sua privadas de Educação Infantil
história de vida, de suas lem- No entanto, até que ponto, que, para terem maior “legiti-
branças escolares, de suas ex- nós professores, refletimos midade” e gozarem de maior
pectativas em relação às suas sobre nossas ações cotidia- “credibilidade” junto aos pais
crianças, de sua perspectiva nas na escola, nossas prá- e à sociedade, adotam um
teórica, da maneira como se ticas em sala de aula, sobre sistema de avaliação nesse
percebe na profissão. a linguagem que utilizamos, segmento, no qual as crianças
aquilo que pré-julgamos? recebem uma nota e realizam
Ora, se a Educação Infantil Nossas práticas estão imbuí- provas! Isso é muito estranho,
tem por função primeira so- das de ações que fazem parte ou pelo menos incoerente, se
cializar, inserir nossas crian- de nossa cultura, de nossas pensarmos que queremos que
ças no mundo que as cerca crenças, e que expressam um nossas crianças possam gos-
de maneira criativa, compro- “certo modo” de ver o mundo. tar de descobrir o mundo má-

* Doutora em educação pela PUC-Rio. Professora Adjunta da Universidade Federal do Estado do Rio de
Janeiro/UNIRIO. Realiza pesquisa na área de avaliação escolar, políticas educacionais em avaliação e orga-
nização da escolaridade em ciclos. Participou da elaboração da proposta de avaliação do PROINFANTIL.
revista criança 9
caleidoscópio

gico do conhecimento e que acerca da função social da es- o olhar observador, a promo-
aprendam que vão à escola cola seja colocada novamente, ção das crianças e de suas
para ter prazer, para aprender entre nós educadores, a fim de aprendizagens, a valorização
sem que para isso precisem reafirmarmos os valores para das experiências culturais das
receber um prêmio. os quais ela foi criada. A partir crianças, o desenvolvimen-
daí, então, podemos começar to da autonomia, a inclusão,
Para se discutir mudanças
a discutir todos os elementos o diálogo, a preservação da
no que tange à avaliação, an-
do currículo/proposta peda- auto-estima favorável ao cres-
tes de se propor métodos e
gógica, inclusive a avaliação. cimento, o comprometimento
alterações práticas, é preciso
da escola e do professor com
pensar no papel social que Os princípios
o social, o caráter formativo da
tem a escola, a pré-escola e
Ora, se pensar sobre avalia- avaliação, a auto-avaliação, a
a creche, bem como a pro-
ção implica repensar o papel participação, a construção da
fissão de professor. Ninguém
social da escola e da profis- responsabilidade com o cole-
dirá que a função da escola é
são de ser professor, estamos tivo.
selecionar, classificar, excluir.
falando, portanto, de alguns
Ninguém ousaria, entenden- Uma mudança na escola,
princípios que devem nortear
do a educação escolar como em direção a práticas mais
a avaliação. Eles não devem
um bem universal, dizer que democráticas de avaliação e,
ser diferentes daqueles que
a escola deveria ficar apenas portanto, não classificatórias
orientam as práticas e as nos-
com os melhores. Parece que ou segregadoras, não passa
sas crenças acerca do papel
temos claro qual é nosso pa- inicialmente, por mudanças
da escola e da instituição de
pel e a função social da insti- de métodos ou didáticas mais
Educação Infantil na vida das
tuição a qual nos vinculamos contemporâneos. Uma mu-
crianças, de suas famílias e da
profissionalmente. No entan- dança profunda implica em
sociedade.
to, concordando com Sacristán uma reflexão acerca dos prin-
(2001) é necessário desvelar o Gostaria de destacar alguns cípios que regem nossa ação
óbvio para resignificar o papel princípios que, a meu ver, de- pedagógica e que nos darão
da escola e do ensino públi- veriam ser norteadores de a base para a construção de
co como um bem universal. É uma avaliação na instituição nosso projeto pedagógico e
fundamental que a discussão de Educação Infantil. São eles: para os processos de avalia-
ção que estiverem aí inseri-
dos. A clareza e a retidão de
princípios poderão nortear
uma prática coerente e própria
de uma escola ou instituição
democrática, compromissada
com o crescimento e a valo-
rização das crianças, profes-
sores, educadores e funcioná-
rios.

Uma avaliação formativa

A Educação Infantil tem


uma prática de avaliação for-
mativa. O que significa isto?
Muitos autores já conceitu-

10 revista criança
caleidoscópio

aram esse tipo de avaliação. diz respeito à construção da 2. Avaliar é necessário e


Podemos entender que a ava- autonomia por parte da crian- condição para a mudança de
liação formativa é aquela em ça, na medida em que lhe é prática e continuidade do co-
que o professor está atento solicitado um papel ativo em nhecimento.
para os processos e apren- seu processo de aprender. Ins-
dizagens de suas crianças. taurar uma cultura avaliativa, 3. Avaliar faz parte do pro-
O professor não avalia com no sentido de uma avaliação cesso de ensino e de apren-
o propósito de dar uma nota. entendida como parte ineren- dizagem: não ensinamos sem
A avaliação acontece, pois se te do processo e não desvin- avaliar, não aprendemos sem
entende que ela é essencial culada para uma atribuição avaliar. Dessa forma, rompe-
para dar prosseguimento aos de nota, não é tarefa muito se com a falsa dicotomia en-
percursos de aprendizagem. fácil. Contudo, sabemos que tre ensino e avaliação, como
Continuamente, ela faz par- na Educação Infantil os pro- se esta fosse apenas o final
te do cotidiano das tarefas fessores, de um modo geral, de um processo.
propostas, das observações realizam uma avaliação muito
atentas do professor, das prá- próxima da formativa, dado Assim como Alecrim, pode-
ticas de sala de aula. Por fim, que exercem uma avaliação mos e devemos romper com
podemos dizer que avaliação mais contínua dos processos o que está instituído. Dormir
formativa é aquela que orienta das crianças, desvinculada em travesseiro de maria-mole
as crianças para a realização da necessidade de pontuá-la pode ser muito gostoso. Rom-
de seus trabalhos e de suas com indicadores numéricos per com amarras, com o que
aprendizagens, ajudando-as ou de outra ordem, para fins já está pré-estabelecido, com
a localizar suas dificuldades e de aprovação. As práticas práticas antigas que só são
suas potencialidades, redire- avaliativas na Educação In- coerentes com uma escola de
cionando-as em seus percur- fantil, de modo geral, primam décadas passadas, com uma
sos. Perrenoud (1999, p.143) pela lógica da inclusão das perspectiva seletiva e, por-
define a avaliação formativa crianças com vistas à sua tanto, com uma concepção
como uma avaliação que aju- permanência e continuidade de avaliação classificatória,
da a criança a aprender e o nas creches, pré-escolas e faz parte do compromisso do
professor a ensinar. escolas de Educação Infantil. educador desse início de sé-
Dessa forma, podemos con- culo. Falar em avaliação im-
Considerando que a cons-
cluir reafirmando que: plica, antes de se pensar em
trução da autonomia é um
dos princípios que orientam a como avaliar, refletir acerca
Educação Infantil, apontamos 1. É fundamental transformar do porquê e para que avaliar.
que um aspecto fundamental a prática avaliativa em prática Será que sabemos para que
de uma avaliação formativa de aprendizagem. avaliamos?

Referências Bibliográficas

PERRENOUD, P. Avaliação: da excelência à regulação das aprendizagens, entre duas lógicas.


Porto Alegre: Artmed Editora 1999.
SACRISTÁN, G. A Educação Obrigatória - seu sentido educativo e social. Porto Alegre: Artmed
Editora 2001.

revista criança 11
caleidoscópio

Elaboração e organização de instrumentos de


acompanhamento e avaliação da aprendizagem
e desenvolvimento das crianças
Adrianne Ogêda Guedes*

Para abrir nosso diálogo, Acompanhar o desenvol- história deve ser considerada,
vale discutir o sentido de ava- vimento da criança ajuda o as conquistas valorizadas, as
liar na educação. A avaliação professor a rever e aprimorar descobertas apreciadas. Para
estará presente o tempo todo seu trabalho. Neste sentido Hoffmann, a avaliação é uma
em nossa prática educativa, avaliar a criança nos leva tam- forma de conhecer/investigar
inclusive nos momentos de bém a avaliar nossa própria o movimento das crianças e,
inserção de novas crianças e ação pedagógica e também a a partir desta investigação,
instituição na qual estamos in- pensar formas de intervenção
ao longo de nossos planeja-
seridos. Afinal, avaliar é o mo- que possam favorecer o
mentos. A cada decisão que
vimento de pensar tudo que desenvolvimento e a ampliação
tomamos, a cada escolha que
envolve nossa prática e bus- dos conhecimentos da criança.
fazemos - desde uma ativida-
car caminhos de torná-la cada Avaliar é comprometer-se com
de que planejamos, até a for- vez mais coerente e mais con-
ma com que lidamos com as a criança, seu sucesso e suas
textualizada. conquistas.
crianças - estamos avaliando.
A avaliação é, portanto, um A professora Jussara
Por isso, é fundamental es-
ato que sugere movimento, Hoffmann – muito conhecida
tudarmos mais sobre o desen-
reflexão e transformação. por suas pesquisas sobre o
volvimento infantil. Muitas ve-
tema da avaliação educacional
zes as crianças com as quais
É importante ressaltar que a – afirma que: “A avaliação
trabalhamos nos surpreendem
avaliação não é um instrumen- deve ser entendida como
com respostas inusitadas que
to para medir o quanto a crian- uma prática investigativa e
nos mostram o quanto elas
ça aprendeu nem tampouco é não sentenciva, mediadora e
pensam sobre o mundo à sua
uma forma de julgar, reprovar não constatativa. Não são os
julgamentos que justificam volta, bem como as ligações
ou aprovar uma criança. A ava-
a avaliação, as afirmações entre os diversos conheci-
liação, que de fato contribui mentos que vão construindo
para o crescimento da criança inquestionáveis sobre o que a
criança é ou não é capaz de na relação com os elementos
e para o trabalho do professor, da cultura, com seus parceiros
fazer.” (2000: 15). Portanto,
precisa ser mediadora e aco- e com o ambiente. A escuta
não devemos avaliar as
lhedora. É ela que possibilitará do ponto de vista da criança
crianças para classificá-las,
o acompanhamento da crian- é, portanto, fundamental! Ela
julgando o que sabem ou não
ça em todos os momentos sabem fazer, padronizando nos revela muito, por um lado,
vividos na Educação Infantil, comportamentos, constatando sobre quem é aquela criança,
contribuindo com seu avanço apenas as suas “capacidades”, quais são as suas vivências e
na ampliação do conhecimen- quantificando seus saberes experiências e, por outro, so-
to de si e do mundo. e apontando seus erros. Sua bre a lógica infantil.

Diretora pedagógica da Casa Monte Alegre Educação Infantil (RJ), professora do curso de Especialização
*

“Educação Infantil: Perspectivas de Trabalho em Creches e Pré-escolas” da PUC-RJ e doutoranda em Edu-


cação da Universidade Federal Fluminense. Participou da elaboração de textos para o PROINFANTIL.

12 revista criança
caleidoscópio

As falas de nossas crianças excelentes instrumentos para outro momento, buscar fontes
nos fornecem preciosas pistas que eles conheçam mais so- de consulta para alimentar o
sobre suas hipóteses, suas bre seu filho e sobre o trabalho trabalho. O professor não pre-
idéias próprias e, partindo do que estamos desenvolvendo, cisa ter todas as respostas!
Ele é na verdade um pesqui-
que elas pensam, podemos mas isso não quer dizer que
sador que vai buscando dia-
desafiar o avanço de seus co- escrevemos para mostrar “o a-dia ampliar também seus
nhecimentos com atividades quanto fizemos” nem para in- recursos e conhecimentos,
interessantes e instigantes. Tal dicar “o que a criança sabe ou junto com suas crianças. O
qual “detetives”, precisamos não sabe”. professor é alguém que ques-
olhar, escutar, observar com tiona, que organiza o grupo
atenção o que nossas crian- Registrar por escrito nossas em torno das necessidades
ças demonstram, o que lhes experiências e as observa- e curiosidades que surgem.
chama a atenção. Isto nos for- ções sobre as crianças permi- Mais experiente, vai sugerindo
te que possamos refletir sobre caminhos, desdobramentos,
nece elementos não só para
nossa prática, revendo nos- desenvolvimentos a partir das
compreender mais sobre cada
sos atos, organizando idéias idéias e sugestões infantis.
uma delas, mas também para
que possamos planejar nosso e experiências, mapeando as Enfim, avaliar é abrir uma ja-
trabalho. Se soubermos os dúvidas, relacionando o que nela para compreender mais
interesses, curiosidades, dú- vivemos com as teorias. Cecília profundamente nossas crian-
Warschauer, professora e edu- ças e a nós mesmos. Assim
vidas, dificuldades de nossas
cadora, acredita que o registro é teremos recursos para apri-
crianças, podemos pensar em
uma forma de retratar a histó- morar a educação e fazê-la
propostas que vão ao encon- mais e mais uma experiência
tro delas. ria vivida, de deixar marcas. É
rica e significativa para crian-
um instrumento que favorece ças e professores.
Um aspecto significativo da a reflexão (1993: 61) e o apri-
prática avaliativa é o registro moramento do professor.
(escrito, fotográfico, ou outro).
Registrar o vivido pela criança A reflexão é o repensar a
Referências Bibliográficas:
permite que acompanhemos ação pedagógica num tempo
ESTEBAN, Maria Teresa (org.).
suas conquistas e avanços. posterior a ela. Neste momen-
Avaliação: uma prática em bus-
É importante termos em vista to, o professor se distancia ca de novos sentidos. Rio de Ja-
do imediatamente vivido, po- neiro: Editora DP& A, 2000.
que não podemos nos base-
ar apenas na nossa memória, dendo, com essa distância, HOFFMANN, Jussara. Avaliação
na pré-escola: um olhar reflexi-
porque ela é muitas vezes fa- olhar para seus atos de uma
vo sobre a criança. Porto Alegre:
lha. Se não registramos nos- outra forma. É por meio deste Editora Mediação, 2000.
sas experiências corremos o repensar que vamos revendo FREIRE, Madalena. A Paixão de
risco de esquecer detalhes os caminhos trilhados, plane- conhecer o mundo. Rio de Janei-
jando os próximos passos e ro: Paz e Terra, 1983.
preciosos do vivido!
articulando os objetivos mais OSTETTO. Luciana Esmeralda.
A escrita, registro mais co- gerais da Educação Infantil e a Deixando Marcas... A prática do
mumente utilizado na escola, registro no cotidiano da educa-
realidade concreta de nossas ção infantil. Florianópolis: Editora
é um excelente recurso para Cidade Futura, 2001.
crianças.
ampliar à reflexão. Não de-
WARSCHAUER, Cecília. A roda
vemos escrever para “prestar Se surgem curiosidades so- e o registro, uma parceria entre
contas” aos pais ou à institui- bre algum assunto por parte professor, alunos e conhecimen-
to. Rio de Janeiro: Editora Paz e
ção. É claro que, para os pais, das crianças, se registramos Terra, 1993.
os relatórios das crianças são suas perguntas, podemos, em

revista criança 13
caleidoscópio

O Portfólio como novo instrumento de


avaliação
Rosana Aragão*

Organizar estratégias de avaliação na Educação Infantil não é uma tarefa simples.


Neste artigo, relatamos a experiência de construção do Portfólio. Ele tem demonstrado ser
um eficiente instrumento de avaliação. Além disso, tem gerado transformações efetivas nos
rumos da nossa prática pedagógica.

O CONTEXTO goria das crianças–problema, ço da escola um campo fértil


passando a rotulá-las e excluí- para a realização de mudan-
A nossa cultura escolar, ao
las desde muito cedo. ças criativas.
longo deste século, construiu
fortes representações a res- É muito comum, por exem- E é neste contexto educacio-
peito da avaliação - padroni- plo, que se espere que todas nal contraditório que estamos
zação, medição, comparação, as crianças estejam andando aqui na escola construindo um
seleção, mérito - que habitam com 1 ano, que estejam dese- projeto pedagógico para crian-
ainda hoje o imaginário da so- nhando a figura humana aos ças de 0 a 6 anos. Um dos
ciedade em geral. Estas idéias 4 anos, ou que todos adorem nossos maiores desafios tem
influenciam as práticas esco- brincadeiras movimentadas. sido a organização de estraté-
lares e são entraves difíceis de Se isso não acontece, rapida- gias de avaliação.
serem vencidos. mente pensamos que estas
No nosso entendimento,
crianças estão fora da nor-
Na Educação Infantil, ainda a avaliação deve ao mesmo
malidade. A solução encon-
hoje, pais, professores, gesto- tempo servir para acompa-
trada é encaminhá-las para o
res e escolas de ensino funda- nhar a trajetória da criança
atendimento de especialistas
mental esperam que todas as (apontando suas conquistas,
como psicólogos, fonoaudió-
crianças tenham alcançado a possibilidades e dificuldades);
logos, entre outros. Avaliamos
base alfabética por volta dos 6
nossas crianças, quase sem-
anos. Embora divergente das
pre, levando em con-
normas da política nacional,
esta e outras exigências da sideração aquilo que
comunidade escolar acabam elas não dão conta de
por pressionar a manutenção fazer, segundo nos-
de uma prática avaliativa pa- sa expectativa.
dronizadora e excludente. Raramente mu-
Temos em mente padrões damos o olhar para
universais de desenvolvimen- compreender a história
to, aprendizado e comporta- de cada uma delas,
mento infantil. Na verdade é suas possibilida-
desta forma que construímos des, o tanto que
o nosso olhar sobre nossos já cresceram e
alunos e alunas. Isto nos leva o que ainda podem
a uma inevitável classificação crescer. Tem-se, por ou-
das crianças. Criamos a cate- tro lado, no próprio espa-
Rosana Aragão é pós-graduada em Educação Infantil pelo Centro de Estudos e Pesquisas em Educação de Minas Gerais
*

e Coordenadora Pedagógica do Centro Educacional Balão Mágico, em Lagoa Santa (MG).

14 revista criança
caleidoscópio

orientar os pais quanto a pos- como instrumento de acom- de ensino-aprendizagem e


síveis caminhos a serem tri- panhamento das crianças, não favoreciam a aproxima-
lhados na educação de seus nem como material de refle- ção entre a escola e os pais.
filhos e, sobretudo, auxiliar a xão e transformação da práti- Faltavam também dados da
professora a refletir sobre sua ca pedagógica. Preocupadas história da criança, sistemati-
prática. com o seu formato e, em não zados num único instrumento,
rotular as crianças, as profes- para que pudéssemos acom-
No entanto, para que estas
soras acabavam fazendo rela- panhá-la, individualmente.
metas se tornem realidade,
tos genéricos, homogêneos e
tem sido necessário um tra- No ano de 2001, o trabalho
subjetivos.
balho de construção coletiva, com uma criança portadora
que ultrapassa os muros das de necessidades educacio-
“Criamos a categoria
salas de aula e envolve a to- nais especiais estimulou-nos
dos, escola e família. Sabemos de crianças-problema,
a busca de um novo meio de
que esta construção é intermi- passando a rotulá- acompanhamento e avalia-
nável. Estamos constantemen- las e excluí-las desde ção. Precisávamos recuperar
te nos avaliando, aprendendo a história escolar da criança
e mudando aquilo que precisa muito cedo.”
para compreendermos o cres-
ser mudado. cimento dela. A construção
Nos cinco anos anteriores à
A construção do Portfólio é implantação dos portflólios, re- do Portfólio desta criança foi
fruto da nossa busca por uma solvemos que os relatórios fi- uma experiência estimulado-
forma de acompanhamento cariam na escola, no dossiê da ra. Juntamos numa pasta toda
mais eficiente. Este é o 4o ano criança. Além do relatório em a história: fotografias, entre-
que o utilizamos. si, o dossiê conteria amostras vistas com as antigas profes-
de trabalhos e atividades das soras, laudos médicos, pauta
Breve história de reunião com os pais, psi-
crianças. A medida priorizava
Antes do Portfólio, vários o documento como instrumen- cóloga, fonoaudiólogo, rela-
tipos de instrumentos de ava- to de trabalho da escola. tórios, desenhos e bilhetes da
liação foram usados. Nos pri- mãe. O resultado foi impres-
meiros anos de funcionamento No lugar dos relatórios indivi- sionante. Com aquele regis-
da escola, utilizávamos fichas duais, passamos a enviar para tro pudemos demonstrar que,
avaliativas contendo aspectos casa um relatório geral das ao longo dos três anos em
do desenvolvimento infantil. atividades desenvolvidas no que esteve na escola, aque-
Eram objetivas, porém ex- semestre e nos colocávamos la criança havia conseguido
tremamente padronizadoras. à disposição para conversar crescer, e muito. Além disso,
Não revelavam o processo vi- com os pais que nos procuras- ficou claro que tinha muitas
vido por cada criança. sem. No final do ano, fazíamos possibilidades para continuar
uma reunião e compartilháva- desenvolvendo-se. Ficamos
Substituímos as fichas por mos com cada um deles a lei- mais seguras para argumen-
relatórios individuais, com a tura que vínhamos fazendo do tar a favor de sua inclusão em
descrição do desenvolvimen- processo de desenvolvimento uma escola regular do ensino
to das crianças de forma mais educacional da criança. fundamental. Tínhamos em
reflexiva. Semestralmente, es-
nossas mãos registros e dados
tes eram enviados para casa. Aos poucos, estes procedi-
Embora mais positivos que concretos para nos apoiar.
mentos tornaram-se insatis-
as fichas, foram insuficientes, fatórios, pois não permitiam No ano seguinte, a discus-
pois não funcionavam nem a compreensão do processo são era exatamente o proces-

revista criança 15
caleidoscópio

so de avaliação das crianças. e foto com o nome de todas trimento do processo de


Inspiradas no Portfólio que as crianças da turma, relató- aprendizagem de cada crian-
tínhamos construído, busca- rio dos trabalhos realizados a ça. Além disso, alguns pais
mos novos materiais, textos e cada bimestre, amostras dos esperavam que os objetivos
experiências de outras esco- trabalhos das crianças com do trabalho com as crianças
las. Tínhamos em mãos o de- comentários das professo- fossem definidos a cada pe-
safio de desenvolver um proje- ras (desenhos, escritas etc),
ríodo para servirem de pa-
to original, mas sabíamos que fotografias e relatos escritos
râmetro avaliativo. Assim,
muitos seriam os obstáculos. sobre o desenvolvimento só-
Assim, vivenciando sentimen- cio-afetivo das crianças. Cada depois de muito refletir e dia-
tos diversos de medo, des- professora teria a liberdade de logar, o grupo reestruturou o
confiança, mas também de acrescentar ou retirar docu- Portfólio internamente.
entusiasmo, iniciamos a cons- mentos, quando assim achas-
No segundo ano, o nos-
trução deste projeto. se necessário. O Portfólio,
so projeto tornou-se mais
embora pertencesse às crian-
O Portfólio ças e aos pais, por não pos- claro e conciso. Estávamos
suir cópia poderia ser levado nos apropriando do Portfólio
A utilização de Portfólio vem
à casa, porém logo devolvido como real instrumento de tra-
do campo da arte. Artistas
plásticos, designers, arquite- à escola. balho. Assim, incluímos entre
tos costumam montar pastas os objetivos do projeto que
na qual exibem uma seleção “Com aquele registro, o Portfólio contribuisse “para
de produtos que marcam sua pudemos demonstrar a reflexão, aprofundamento
trajetória profissional. O pri- e enriquecimento da prática
que, ao longo de três
meiro passo da construção do pedagógica de cada profes-
Portfólio na escola foi definir anos, aquela criança sor”. Além disso, pensamos
os objetivos e as estratégias. havia conseguido que seria importante incluir os
Neste momento participaram parâmetros a serem utilizados
professoras, coordenadora e
crescer, e muito.”
para o acompanhamento das
diretora da escola. Ao longo do ano nos dedi- crianças. A inclusão dos pais
Os objetivos definidos foram camos para que a experiência e das crianças no processo
acompanhar o processo de fosse bem sucedida. Não foi avaliativo deveria também ser
aprendizagem e desenvolvi- fácil, pois era um projeto novo incrementada neste ano.
mento de cada criança, além e desconhecido. Entretanto,
de aproximar a escola dos ousamos, tomamos fôlego Para alcançarmos estes ob-
pais, levando-os a participar e seguimos adiante. De um jetivos teríamos que modificar
das etapas do processo ava- modo geral, o processo foi a estrutura do Portfólio. Assim,
liativo. rico, favoreceu o crescimen-
incluímos metas bimestrais de
to das professoras, atendeu
trabalho, construídas em con-
Quanto às estratégias, o gru- às expectativas dos pais, e,
po decidiu que os Portfólios sobretudo constituiu-se num junto pela professora e coor-
seriam construídos ao longo instrumento de acompanha- denadora e discutidas com os
do ano, com fechamentos mento e avaliação mais com- pais a cada novo período de
bimestrais, quando seriam pleto e eficaz que os anterio- trabalho. Estas metas seriam
compartilhados com os pais, res. A escola toda sentiu-se amplas, abrangendo as diver-
em reuniões. Organizaríamos gratificada com a experiência. sas áreas do conhecimento e
os Portfólios em pastas com do desenvolvimento infantil.
folhas plásticas e dele, ini- Depois de um ano de ex-
cialmente fariam parte os se- periência, constatamos que A cada bimestre o Portfólio
guintes documentos: ficha de havíamos dado prioridade mostrava quais projetos e ati-
identificação da criança, lista ao trabalho em sala, em de- vidades foram desenvolvidas

16 revista criança
caleidoscópio

dentro de cada meta e, prin- senvolvimento da linguagem “O Portfólio deveria


cipalmente, como cada crian- oral. Estas áreas selecionadas
contribuir para o
ça se desenvolveu. Como é exigiram da professora um em-
praticamente impossível que penho maior de observação enriquecimento da
cada professora acompanhe e registro. Ela foi intercalando prática pedagógica de
as crianças profundamente em ao longo do ano as áreas que
cada professor.
todas as áreas, foi decidido que receberiam maior atenção, o
ela escolheria algumas metas que poderia variar também de práticas menos homogenei-
por bimestre, para acompa- criança para criança. zadoras. Novos desafios vêm
nhá-las mais de perto. Para sendo postos à medida em que
cada área selecionada, a pro- Para realizar a avaliação des- aprofundamos o conhecimento
fessora faria um relatório minu- ta forma, foi preciso reorgani- do universo infantil.
cioso contendo observações zar alguns aspectos da nossa
prática escolar. O planejamento Finalizando, gostaria de en-
do bimestre sobre a criança.
do trabalho diário, os projetos fatizar que construir Portfólios
Nas demais áreas, ela faria um
e atividades significativas e a é muito mais do que organi-
acompanhamento superficial.
avaliação deveriam considerar zar uma pasta com amostras
Uma professora do maternal, o eixo central do trabalho de de trabalhos das crianças.
por exemplo, decidiu que no 1o cada bimestre. Ao final do 2o Se todos da comunidade es-
bimestre daria mais atenção às ano, tínhamos chegado a uma colar estiverem conscientes
metas de adaptação e organi- boa estruturação do Portfólio. da sua importância, terão em
zação do espaço e tempo; ao mãos um valioso instrumento
desenvolvimento da linguagem A partir de então passamos de avaliação do processo de
oral e ao desenvolvimento da a refletir sobre o conteúdo da crescimento das crianças, das
autonomia em relação a cuida- avaliação. Ainda temos ne- professoras, e da escola como
dos de higiene e alimentação. cessidade de buscar conheci- um todo.
No 2o bimestre, ela decidiu con- mentos para aprimorar o olhar
tinuar acompanhando a ques- sobre cada criança, sobre seus
tão da autonomia das crianças, aprendizados, suas dificulda-
incluiu o desenvolvimento do des. Não nos contentamos
desenho, deixando para o 3o mais em escrever um relatório
bimestre voltar a relatar o de- que não dê continuidade ao
anterior, que não tenha história.
Assim, os Portfólios anteriores Referências Bibliográficas:
são continuamente utilizados
por todas nós da escola e vêm PERRENOUD, P. Avaliação. Da
se transformando, aos poucos, excelência à regulação das apren-
dizagens: entre duas lógicas. Porto
em instrumentos de trabalho
Alegre: Artmed Editora, 1999.
imprescindíveis à nossa prática
e reflexão. HERNÁNDEZ, F. A avaliação na
educação artística In Cultura visu-
Além disso, os Portfó- al, mudança educativa e projeto de
lios têm nos ajudado trabalho. Porto Alegre: Artmed Edi-
mais do que nunca tora, 2000.
a tomar consciên-
SHORES, E. e CATHY, G. Manual
cia da individualida- de Portfólio - Um guia passo a pas-
de de cada criança. so para o professor. Porto Alegre:
Como conseqüên- Artmed Editora, 2001.
cia, temos pensado em

revista criança 17
matéria de capa

Prêmio Profess
Edit Silva | Brasília-DF

MEC reconhece iniciativas


de professoras de todo o
Brasil
A criatividade foi o caminho tal (veja experiências do ensino
encontrado por professoras de fundamental na página 25).
Educação Infantil e do ensino
Cada professor premiado re-
fundamental em todo o país
cebeu um cheque no valor de
para estimular o aprendizado e
R$ 5.000,00, um troféu e um
o desenvolvimento de crianças
diploma. No dia anterior à ce-
de 0 a 11 anos. As idéias e so-
rimônia de entrega do prêmio,
luções simples, dignas de prê-
as professoras selecionadas
mios e aplausos, são reconhe-
participaram do 1o Seminário
cidas pelo Prêmio Professores
Professores do Brasil, realiza-
do Brasil 2005, em parceria
do em Brasília, para comparti-
com o Ministério da Educação,
lhar suas experiências.
Conselho Nacional dos Secre-
tários Estaduais de Educação “Mostrar o que foi feito com
(Consed), União Nacional dos poucos recursos serve de
Dirigentes Municipais de Edu- exemplo. Essa experiência
cação (Undime) e as Funda- demonstra que é possível me-
ções Orsa e Bunge. lhorar e qualificar com muito
pouco”, afirmou o Ministro da
O Prêmio Professores do Educação Fernando Haddad
Brasil unificou os Prêmio Incen- durante a cerimônia de entre- ordenação Destaque, respon-
tivo à educação fundamental ga dos prêmios. Para ele, a sável pelo apoio, divulgação
promovido com a Fundação divulgação dos trabalhos pre- e coordenação do Prêmio no
Bunge, e o Prêmio Qualidade miados dá destaque às boas Estado que teve como vence-
na Educação Infantil, com a práticas educativas. dores: Eva Antonia Cardos Iz-
Fundação Orsa. Dessa forma, a quierdo, da Secretaria Estadual
iniciativa de identificar experiên- As experiências premiadas de Educação do Acre, e José
cias pedagógicas de qualidade foram desenvolvidas em es- Claudionor Gomes Cordeiro,
nas duas etapas da educação colas públicas. A observação da Undime do estado do Acre.
básica permite maior integra- e pesquisa de professoras e “Os trabalhos não se resu-
ção entre elas. Em 2005, 1.330 crianças sobre o cotidiano da mem à instituição, mas ultra-
projetos foram inscritos, sendo comunidade levaram ao de- passam os muros da escola,
vinte premiados, dez na cate- senvolvimento de experiên- proporcionando a socialização
goria Educação Infantil e dez cias pedagógicas relevantes. dessas experiências”, desta-
na categoria ensino fundamen- Foi premiada também a Co- cou o secretário de Educação

18 revista criança
matéria de capa

ores do Brasil
Foto: André Duzek
suas experiências por meio de
uma publicação.

“Mostrar o que foi


feito com poucos
recursos serve de
exemplo.”
Professoras de cidades do
interior e de capitais foram à
Brasília orgulhosas de seus
feitos, estimuladas e impul-
sionadas por muitas crianças
que ainda não falam, porque
têm meses de vida, mas que
já frequentam um espaço
educativo. Durante a realiza-
ção do seminário, professoras
emocionadas relataram suas
experiências, que serviram de
estímulo para aguçar a inte-
ligência e a curiosidade das
crianças, algo primordial nes-
sa faixa etária.

Em 2005, todos os vinte


prêmios foram entregues a
Básica (SEB/MEC), Francisco da educação no país”, afirma
professoras, fato que chamou
das Chagas Fernandes. Se- Jeanete Beauchamp, diretora
a atenção da pedagoga Ana
gundo ele, o Brasil ainda tem do Departamento de Políticas
Clara Bretos Lima, da Fun-
grande dívida com o setor de Educação Infantil e Ensino
dação Orsa. Ela destaca que:
educacional, desde a forma- Fundamental da Secretaria
“em cinco anos, no máximo,
ção do professor de Educação de Educação Básica (SEB/
três professores foram premia-
Infantil até a falta de espaços MEC). “O importante é que
dos. Isso é uma perda para a
escolares adequados para os trabalhos premiados sejam
Educação Infantil, porque a fi-
crianças menores de 7 anos. socializados com outros pro-
gura masculina é fundamental
fessores. Assim, eles podem
Primeiro Seminário Professo- nessa fase da vida”.
incrementar a sua prática pe-
res do Brasil
dagógica”. Além do seminário Entre as experiências pre-
“Um prêmio, por si só, não realizado com os professores miadas, houve crianças que
produz melhoria na qualidade premiados, o MEC divulgará tiveram a oportunidade de

revista criança 19
matéria de capa

como instrumento de trabalho


desde o século XIX, mas que
estão desaparecendo em São
Luís (MA). De tanto ouvir e ver
os pequenos alunos de 6 anos
brincarem em sala de aula,
imitando gestos e cantos des-
ses ambulantes, a professora
Maria do Perpétuo Socorro
Costa Pereira, do Centro de
Educação Básica Paulo Freire,
usou essa curiosidade como o
conhecer instrumentos musi- Com a colaboração do Ir- ponto de partida. A proposta
cais, outras a história da cida- mão Cláudio, um padre que foi apresentada aos pais dos
de onde vivem, ainda as que viveu na África, a professora alunos, muitos deles pregoei-
discutiram o preconceito ra- passou a trabalhar com ima- ros, o que resultou num painel
cial, crianças que aprenderam gens, fotos de revistas, mo- sobre o desejo de conhecer
sobre a educação no trânsito delos, desenhos animados, esses profissionais. A turma
e também cultura clássica e sempre questionando a turma passou, então, a visitar ven-
popular. sobre o fato de não haver per- dedores de sorvete, pamonha,
sonagens negros. O livro “O pirulito e carvão.
Pluralidade cultural, cidadania Menino Marrom”, de Ziraldo,
e história O objeto da pesquisa come-
foi lido em grupo e todos es- çou a dar frutos. Primeiro veio
• O preconceito racial foi tudaram as obras da artista o texto “Você Sabia?”, em que
o tema do trabalho liderado plástica Tarsila do Amaral, que as crianças falavam de coisas
pela professora Juceli Hack retrata os negros. Telas como curiosas sobre esses profis-
de Oliveira, na EMEF Vereador “A Favela” e “Operário” foram sionais, e depois, a cada 15
Arnaldo Reinhardt, em Novo observadas e serviram para dias, publicavam um Jornal
Hamburgo (RS). O projeto “A que as crianças identificassem Mural. “O ponto alto do tra-
Mãe África e seus Filhos bra- as pessoas da própria cidade. balho foi quando as crianças
Houve críticas, mas a profes- venderam jornal, por preço
sileiros: resgatando a cultura
sora Juceli assegura que mui-
Afro-Brasileira” foi desenvol- irrisório, e tiveram a oportuni-
tos pais a procuraram para di-
vido com crianças de 4 a 6
zer que seus filhos mudaram
anos, numa cidade marcada
os assuntos das conversas
pela cultura de influência ale-
dentro de casa. “O debate ra-
mã. Juceli ainda se lembra
cial não é tema para um ano, é
muito bem do início: “Quando
para toda a vida”.
recebemos o primeiro menino
negro na sala, houve uma bri- • “Ê moço, ê moça bonita!
ga por causa de brinquedo e Querem aprender a pregoar?
o colega disse para ele “esse O que aprendemos com os
brinquedo é meu, negro”. En- pregoeiros vamos aqui lhes
tão, percebi ser o momento de mostrar”. Esses versos sinte-
tratar do tema e apresentei a tizam a história de vendedores
capoeira, que nasceu no Bra- ambulantes, conhecidos por
sil, com ritmos africanos”. pregoeiros, que usam a voz

20 revista criança
matéria de capa
Foto: André Duzek

dade de pregoar. Também foi sitas à Circunscrição Regional Múltiplas linguagens


lançado o livro ‘Fragmentos de Trânsito (Ciretran), auto-es-
da Arte de Pregoar’, dedica- • Em Niterói (RJ), os alunos
colas, borracharias e oficinas,
do aos pregoeiros de São Luís de 4 a 6 anos da professora
onde o grupo pôde satisfazer
que, com seus versos e rimas, Renata dos Santos Melro, da
suas curiosidades, com per-
nos encantam e nos ajudam Unidade Municipal de Educa-
guntas espontâneas. Esse co-
a manter viva a cultura ma- ção Infantil Rosalina de Araújo
nhecimento é para a vida in-
ranhense. São 50 páginas de Costa, estudaram Arte Naïf,
teira”, destaca a professora. O
história e curiosidades que termo francês que significa
grupo fez excursões aos bair-
fazem parte do acervo da bi- ingênuo. As crianças pesqui-
ros e percorreu as principais
blioteca da escola. Isso é um saram a vida e obra de Lia
ruas, observando semáforos
resgate muito grande” disse Mittarakis, Heitor dos Pra-
e constatando a imprudência zeres e Gabriel Joaquim dos
a professora, que há 22 anos dos motoristas. Foram dese-
leciona no mesmo local. Santos, artistas populares que
nhados faixas de segurança e não haviam tido a oportunida-
• A Educação no Trânsito semáforos no pátio da escola e de de estudar ou se aperfeiço-
foi o projeto desenvolvido na os pais construíram carrinhos, ar em escolas de arte. Por de-
Escola de Educação Infantil que serviram de exemplos senvolverem traços primitivos
Raimundo Quirino Nobre, em para as palestras dos policiais e ingênuos, suas pinturas são
Cruzeiro do Sul (AC). Após de trânsito. Ainda produziram muito parecidas com traços
acidente de carro envolven- cartazes e compuseram a infantis, o que facilita o conta-
do uma criança, a professora música “Motorista Educado”. to entre os dois universos. A
Maria Dione da Silva Lopes Para mostrar a importância experiência mostrou a preo-
decidiu tratar do tema com o desse trabalho à comunida- cupação das crianças com as
grupo de 4 a 6 anos. “Enfo- de, pais, alunos e professores formas, cores e a distribuição
camos o porquê de tanto aci- promoveram a passeata “Paz dos elementos no papel, além
dente. Montamos mural com no Trânsito”, na avenida prin- da recriação de telas e a cria-
fotos de revistas, fizemos vi- cipal da Cidade. ção de outros trabalhos.

revista criança 21
matéria de capa

• Em Campo Grande (MS), • O interesse por música, ses. Na ânsia de buscar mais
alunos de Mara Aparecida manifestado pelas crianças prazer para as atividades, as
Manzoli Caldeira, do Centro de do Centro de Educação Infan- professoras Lucinéia Soprani
Recreação e Educação Infan- til Bem-te-vi, de Florianópolis Camargo, Mary Tavares dos
til Parque dos Poderes, pes- (SC), resultou no trabalho Santos e Tatiane Souza da Sil-
quisaram a história da cidade “É música no ar...”. A profes- va observaram o interesse do
onde moram. Inspirada nos sora Cristiane Lopes estimu- grupo pela água. Com o obje-
versos “ama com fé e orgulho lou as crianças de 3 a 4 anos, tivo de aguçar o conhecimen-
a terra em que nasceste”, do a levarem seus CDs à escola, to, as crianças foram levadas
poema Pátria, de Olavo Bilac, de maneira a apresentar reper- a locais onde havia água,
a professora passou a anali- tórios diversos para os alunos. como o aquário da escola.
sar, em classe, o registro de “Isso fez com que valorizásse- Observaram também a chuva
nascimento de cada uma das mos as cantigas de roda, am- e manusearam recipientes que
crianças. “Filosofamos sobre pliando o acervo musical de- pudessem ser cheios e esva-
isso e priorizei temas como las, a dança, contrapondo-se ziados. “Além disso, o projeto
matemática, história, portu- à erotização da infância”, lem- proporcionou a exploração de
guês, artes e estudamos a his- bra a professora, referindo-se livros com obras de Claude
tória de Campo Grande, para às musicas mais divulgadas Monet, que tem a água como
saber como eram os meios de pela mídia. A partir daí, a tur- presença constante”, diz Luci-
transporte e o comércio da ci- ma visitou escolas de música, néia. Segundo ela, o aprendi-
dade”, relata Mara. escolas de dança, museus, lo- zado ficou visível no interesse
jas de instrumentos musicais, pelas imagens apresentadas e
Depois da pesquisa, o grupo
assistiu a ensaios de bandas no comportamento das crian-
fez passeios pela Cidade para
e orquestras, conheceu as ças que passaram a sentir pra-
observar traços do passado
biografias de compositores zer em tomar banho. O proje-
e do presente. As crianças
eruditos como Brahms e Hei- to também contribuiu para o
também conheceram a histó-
tor Villa-Lobos. Construiu ins- desenvolvimento das crian-
ria de José Antonio Pereira,
trumentos com sucata e con- ças ampliando o vocabulário
fundador da Capital, e fizeram
feccionou um criativo painel
a releitura da tela “O Boi” de
com temas como ‘boi da cara
Humberto Espíndola, que re-
preta’ e ‘fui no tororó’, além de
trata a economia da região,
fantoches para estimular
baseada na criação de gado
a brincadeira e a re-
e atividades agrícolas. Tam-
presentação.
bém entrevistaram famílias
de artistas locais, como a do • O Centro Muni-
poeta Manoel de Barros. Para cipal de Educação
a professora, essa prática ser- Infantil Zélia Vianna
viu para mostrar que “é pos- de Aguiar, em Vi-
sível trabalhar cultura e artes tória (ES), foi o es-
com as crianças, verdadeiros paço principal para
potenciais humanos. A esco- desenvolver ativida-
la não é depósito de criança des com 25 bebês,
e todos os dias fazemos dela cujas idades varia-
um local para a criança viver”. vam de 6 a 17 me-

22 revista criança
matéria de capa
Foto: André Duzek

dos pequenos. “Subestima- acostumar e já se identifica- lenar pião foi a receita mágica
mos a capacidade de nossas vam nele. Usei roda de leitura, da professora Cláudia Beatriz
crianças, mas elas foram ca- com o objetivo de envolver a Souza de Jesus, de Salvador
pazes de compreender tudo”, comunidade e os pais”, expli- (BA). “Prática leitora através
atesta orgulhosa a professora cou Patrícia. Após cinco me- do brinquedo: 1, 2, 3 “lereuei”
Lucinéia. ses de oficinas de interação, a do pião ao “bey blade”. Ela re-
professora colheu fotografias lata que o grupo de crianças,
• Em Cabedelo (PB), crian- de 5 anos, na Escola Munici-
ças de 1 a 3 anos participaram com as mães e as crianças
pal de Nova Esperança Pro-
de uma experiência inédita começaram a reconhecer fa-
fessor Arx Tourinho, na perife-
com a professora Patrícia da miliares e coleguinhas. Foram,
ria da capital, levava imitações
Silva Dutra, na Creche Santa então, orientadas a produzir a
de “bey blade”, pião moderno
Catarina. “O projeto ‘Cons- própria carteira de identida-
originário de um desenho ani-
truindo identidades’ começou de, com fotos e digitais. Ainda
mado. “A partir daí, fizemos
com a experiência de colocar na sala de atividades, fizeram uma viagem no tempo porque
um espelho em sala de aula, maquiagem e fantoches. essa criança não conhecia o
e quando as crianças se de- O corpo e a brincadeira brinquedo tradicional. Mas
ram conta de seus reflexos foi com o que ela via na televi-
uma alegria. Elas beijavam e • Ensinar matemática, lin- são, foi capaz de fazer o pró-
agarravam o espelho e com guagem e as demais áreas do prio brinquedo, com a mesma
o tempo começaram a se conhecimento por meio do mi- dinâmica, que é rodar sobre o

revista criança 23
matéria de capa

eixo”. Essa atividade possibili- começou estudando o próprio de Jesus. Como prometido, o
tou o trabalho com textos, co- terreno da escola. Não encon- visitante foi à escola em forma
nhecer números e a verdadeira trou ali a resposta. A pesquisa de livro: “O Joelho Juvenal” de
história do pião, que surgiu na prosseguiu com a observação Ziraldo, que relata o sofrimen-
Babilônia, há cinco mil anos. dos hábitos caseiros das crian- to do joelho quando o corpo
Foram realizadas oficinas e ças. Descobriu que boa parte não dá conta de se sustentar.
todos aprenderam a tradicio- delas, quando estava em casa, A novidade serviu para que a
nal cantiga “Roda Pião”. ficava sentada vendo televisão. professora trabalhasse com as
Decidiu, então, que era hora de crianças sobre o corpo em mo-
• Por que a mesma criança trabalhar a expressão corporal vimento, ajudando todos a se
cai várias vezes e no mesmo e o movimento para estimular a descobrirem. Ela mostrou ima-
dia? O grande número de pe- coordenação motora daqueles gens do corpo humano, fizeram
quenos acidentes envolvendo meninos e meninas. teatro de fantoche e aprende-
os alunos de 4 a 6 anos fez ram como abotoar a roupa e
com que a professora Maria • A primeira medida foi anun-
amarrar o próprio calçado. Para
de Jesus Gomes Almeida, da ciar que “no dia seguinte, a es-
que as crianças pudessem co-
Escola Municipal Nilza Aires cola receberia a visita de Juve-
nhecer o próprio corpo, todos
Pires, de Catalão (GO), desse nal, o que causou alvoroço entre
desenharam a mão num pa-
início ao projeto “Descobrindo- as crianças e cada uma criava
pel e riscaram as articulações.
se e movimentando-se”. Ela o próprio Juvenal”, conta Maria
Também houve momentos em
que a comunidade foi à escola

O
e os pais pularam corda e brin-
Primeiro Seminário caram com bambolê. Houve
ainda duas caminhadas. “Isso
Professores do melhorou consideravelmente o
desempenho das crianças”, re-
Brasil contou com lembra a professora.

a palestra da educadora Léa


Tiriba, professora da PUC/RIO,
especialista em questões
da infância, que elogiou as
Especialista
Léa Tiriba alertou para o risco de
professoras premiadas. “Nós, as crianças passarem muito tem-
po em espaços fechados, pois isso
professores, trabalhamos pode torná-las “adormecidas em sua
curiosidade, em sua exuberância hu-
em situações muito duras. mana”. A educadora ainda destacou a

É o entusiasmo que nos faz necessidade de uma educação como


prática de liberdade, comprometida

continuar!”. com a apropriação e a construção de


conhecimentos. “Porque os conheci-

24 revista criança
matéria de capa

As dez premiadas do ensino fundamental


• “Camisas para ler e aprender”, de Jaqueline Maria de Souza Dias, Manaus/AM. O tema, desenvolvido com alunos da 2a série,
serviu para despertar o interesse pela leitura, quando cada um lia a mensagem da camiseta do colega.
• “Para que a vida nos dê flor e frutos”, de Evanir de Oliveira Pinheiro, Natal (RN). A professora orientou crianças entre 8 e 9 anos
no estudo sobre os bens naturais e culturais da comunidade.
“Cidadania, infância e a estética do olhar”, de Ana Lúcia Machado, Florianópolis (SC). Estudantes de 3a e 4a séries desenvolveram
o tema realizando pesquisa cultural e um filme.
• “O mundo dos brinquedos e os brinquedos do mundo”, de Regina Maria Schein dos Santos, Canoas (RS). Meninos e meninas
estudaram a história de cada brinquedo, desenvolvendo o projeto premiado.
• “Das formas às fórmulas - Arte e geometria num contexto interdisciplinar”, de Maria Rita Lorêdo, Muriaé (MG). As crianças
realizaram atividades a partir da educação artística e dos conhecimentos matemáticos, com o objetivo de melhorar a linguagem e
a comunicação.
• “Negro que te Quero SER Negro”, de Valmária Martins da Silva, cidade satélite do Gama (DF). O objetivo foi resgatar a memória,
a história e os valores culturais, artísticos e religiosos da população negra pelas crianças de 6 a 8 anos.
• “Intercâmbio Cultural: indígenas e não indígenas respeitando as diferenças, repudiando as injustiças e discriminações”, de
Cristina Pires Dias Lins, Dourados /MS. Ao observar preconceito em relação aos indígenas no grupo de alunos, a professora desen-
volveu uma proposta pedagógica envolvendo conhecimento mútuo e a valorização da diversidade cultural.
• “O doce gostinho de aprender através de embalagens”, de Paula de Fátima Cavagnari, Cambé/PR. O objetivo foi desenvolver o
interesse e o raciocínio dos alunos pela utilização de balas de vários tipos. As crianças eram estimuladas a associar palavras que
começassem com a mesma letra da marca da bala e isso serviu para a alfabetização.
• “Horticultura e meio ambiente - vivendo e aprendendo”, de Eliana Francisca do Santo Garcia, Linhares/ES. Crianças de 4a série
aprenderam como melhorar a alimentação familiar, ajudar a comunidade e combater a desnutrição, cultivando hortas em casa.
• “Desembalando o lixo do bairro Jardim Carapina”, de Luciane Rosário Sampaio Frizzera, Serra/ES. Estudantes da 4a série
estudaram a importância da reciclagem e da proteção do meio ambiente, desenvolvendo pesquisas sobre o problema do lixo para
o planeta e a coleta seletiva. O material recolhido e levado para a escola foi separado, classificado e pesado. A partir do material
recolhido são confeccionados brinquedos e trabalhos artísticos.

defende educação como liberdade


mentos são a matéria prima sem a social e ambiental em que estamos meninas imersos numa cultura, her-
qual é impossível preservar a vida na inseridos”, afirmou. ”Na prática, isso deiros de distintas etnias, culturas e
Terra, sem a qual não se pode par- significa oferecer às crianças um classes sociais. Quem cuida deve es-
ticipar do processo permanente de cotidiano em que sejam respeitadas tar receptivo, aberto, atento e sensível
não só como cidadãs de direito, mas para poder perceber o que o outro
criação e recriação da existência. To-
também como sujeitos de afeto, de precisa. Isso exige proximidade, tem-
das as crianças precisam ter acesso
sensibilidade, de conhecimento”. po, entrega”. A especialista concluiu
aos conhecimentos que a humanida- lembrando que “é através da formação
de vem produzindo, porque eles são Para Léa, “as crianças não são todas permanente dos profissionais que atu-
instrumentos, ferramentas de trans- iguais, pelo contrário, trazem consigo am junto às crianças que será possível
formação da realidade emocional, a diversidade da vida: são meninos e assegurar a qualidade da escola”.

revista criança 25
professor faz literatura

Ler é o melhor remédio


Giani Peres*

Eis aí um grande desafio:


Criar ávidos leitores!
Que leiam, leiam, horas a fio
Sobre ciência, poesia e amores.
Adquirir o hábito de ler é importante
Para investigar, pesquisar, delirar
Ler é mesmo algo fascinante,
Envolvente, pois te leva a criar.

Diria que ler é o melhor remédio


Contra a ignorância, desinformação e tédio
E qual é afinal o papel do professor?

Ser um exemplo, ser um elemento motivador


Oferecendo pílulas diárias de leitura
Que leve as idéias a constante fervura.
* Giani Peres é pedagoga formada pela Unicamp, especialista em
Educação Infantil, pós-graduada em Métodos e Teorias de Pesquisa.

Texto: Regina Célia Melo


Amigo
Ilustração: Rachel Dumont*

Numa poltrona macia,


No colo da avó,
Na cama aconchegante,
Debaixo da amiga árvore...
É avião que me leva ao
Japão, Quixadá ou Bagdá!
Se a tristeza vem,
Traz asas ligeiras, verdes de esperanças...
Se a euforia é crescente,
Tece na medida a melancolia boa pra pensar.
Se o sono não vem,
Se o medo quer brincar,
Inventa sonhos azuis
Pra eu acordar
Manhãs de sol e emoções...
Se eu quero entender, desvendar o porquê, pra quê,
Como, onde, cadê?
É você a chave que abre
As gavetas, janelas e portas!
É você: Livro Amigo!

*Regina Célia Melo e Rachel Dumont são professoras do Jardim de Infância da 114 Sul,
em Brasília. O material faz parte do Projeto “Livrinho na mão”.

26 revista criança
artigo

O contexto multifacetado do currículo na


educação infantil
Jodete Bayer Gomes Füllgraf*

O conceito de currículo não 1- A criança um sujeito so- pectiva ampla, supondo que é
corresponde a uma condição cial e histórico que se cons- possível mudar à força o real,
universal, natural, como algo titui na interação com outros com decretos, projetos, refe-
sempre igual, homogêneo e sujeitos da cultura; renciais ou parâmetros sem
de significado óbvio. Ele é so- mudar as condições” (Kramer,
2- As instituições de Edu-
cial e historicamente construí- 2001, p.129).
cação Infantil como espaço
do, tendo sido crivado por di-
de cuidado e educação das No contexto mais amplo, o
ferentes concepções teóricas
crianças de 0 a 6 anos que Ministério da Educação (MEC)
ao longo da história. Faz-se
possibilite a integração entre e o Conselho Nacional de
necessário, portanto, analisar
os diferentes aspectos do de- Educação (CNE) vêm produ-
as condições e os contextos
senvolvimento humano; zindo e publicando documen-
como o currículo para Educa-
tos que estabelecem diretrizes
ção Infantil está sendo gesta- 3- As crianças enquanto
e orientações para elaboração
do em nossa sociedade. Nessa sujeito de direitos;
do currículo da Educação In-
direção, Campos indica que:
4- Os princípios éticos, po- fantil. Neste processo, desta-
“Um dos aspectos que so- líticos e estéticos na elabora- ca-se a instituição pelo CNE,
bressaem no debate atual, ção da proposta pedagógica; em dezembro de 1998, das
com significativas repercus- Diretrizes Curriculares Nacio-
sões sobre as decisões de 5- A identidade dos profis- nais, que são mandatórias.
política educacional que são sionais, das famílias e de cada Este documento expressa a
tomadas, seja de forma des- unidade educacional; preocupação com a qualida-
centralizada nos municípios, de do trabalho a ser desen-
6- A intencionalidade das
seja na instância estadual e volvido neste nível de ensino.
ações educativas;
federal, diz respeito às diver- Na mesma direção, o Parecer
gentes concepções sobre o É possível afirmar, portanto, 04/2000 da Câmara de Edu-
modelo pedagógico que deve que a construção e gestão de cação Básica do CNE, apro-
ser adotado nas creches e propostas curriculares para a vado em 16/02/2000, define
pré-escolas, agora definidas Educação Infantil estão inseri- diretrizes operacionais para a
como constituindo a primeira das num processo social am- Educação Infantil.
etapa da educação básica” plo e multifacetado. Kramer Por outro lado, aponta-se
(Campos, 2002, p.XV). destaca que: “na realidade também a publicação e dis-
Para ampliar o debate acerca brasileira, (...) o debate em tor- tribuição do documento “Re-
do tema em questão, é impor- no do currículo tem mordido ferencial Curricular Nacional
tante levar em conta diversos as pontas do problema, mas para Educação Infantil vol.1,
aspectos que compõem uma não o miolo: ou se refere à es- 2, 3/ RCNEI”. Segundo este
prática educativa de qualida- cola; ou se vincula à dimensão documento, as creches e pré-
de. Entre outras questões, é macro, aborda modelos, de- escolas são espaços de inser-
preciso considerar: senhos e políticas numa pers- ção das crianças nas relações

Jodete Bayer Gomes Füllgraf é professora do Núcleo de Desenvolvimento Infantil


*

da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Doutoranda em Educação e


Currículo pela PUC/SP.

revista criança 27
artigo

éticas e morais que permeiam Muitos estudos que discu- “Essas práticas
a sociedade. O documento tem propostas pedagógicas
necessitam levar
ressalta, também, que o tra- e currículo desvelaram uma
balho educativo deve criar realidade infinita e ímpar, na em conta o contexto
condições para as crianças qual o processo educativo só social e cultural em
conhecerem, descobrirem e pode ser observado de uma
que as crianças e
ressignificarem experiências, forma multifacetada. Segundo
sentimentos, valores, idéias, Sacristán (1998) a realidade suas famílias estão
costumes e papéis sociais, do currículo não se mostra em inseridas.”
por meio do aprender, do fa- suas modelagens documen-
zer e das múltiplas formas de tais, ou seja, nos projetos pe-
dagógicos, mas na interação sociais não são exclusivamente
expressão.
de todos os contextos educa- um processo psicológico, mas
Este documento tem sofrido tivos que compõem essas prá- social, cultural e histórico. Acre-
diversas críticas de educado- ticas. Essa polissemia permite ditamos, portanto que os direi-
res, pesquisadores e profis- inferir a necessidade de um tos fundamentais das crianças
sionais da área . Para muitos, modelo pedagógico alicerça- devem ser a base de toda e
ele traz de forma implícita uma do em práticas cotidianas que qualquer proposta educacional
concepção de educação com- respeitem as necessidades de para as crianças pequenas.
pensatória e escolarizante, desenvolvimento da criança.
É importante destacar que
além de considerar a criança
Assim, destacamos que as estas questões estão contem-
numa perspectiva universal,
sem levar em conta particula- meninas e os meninos de- pladas no documento “Crité-
ridades regionais ou sociais, vem ser vistos na dimensão rios para um Atendimento que
por exemplo. de “sujeitos–históricos”, ou Respeite os Direitos Funda-
como indica Ostetto (2004) mentais das Crianças”, elabo-
Tendo em vista a diversida- “é preciso assimilar que não rado por Maria Malta Campos
de de “modelos de enquadra- existe criança universal: são e Fúlvia Rosemberg e publica-
mento curricular” presentes na grupos diversos de meninos e do pelo MEC/COEDI em 1995.
realidade educacional, os ter- meninas, de idades variadas, O documento traz as bases e
mos ‘propostas pedagógicas’, procedentes desta ou daquela os princípios para uma política
‘currículo’, ‘projeto político pe- região, pertencentes a este ou nacional de Educação Infantil.
dagógico’, ‘regimento escolar’, àquele grupo familiar”.
‘diretrizes pedagógicas’, ora Na verdade, esses critérios
Nesse sentido, os profissio- de atendimento, passaram a
tem o mesmo significado, ora
nais que atuam em institui- orientar e nortear o trabalho
se diferenciam. Nessa direção
ções com meninas e meninos desenvolvido em alguns con-
Kramer destaca que:
de 0 a 6 anos necessitam de- textos educativos. Assim, em
(...) currículo é palavra polis- senvolver práticas educati- muitas instituições é possível
sêmica, carregada de sentidos vas que considerem todas as identificar práticas concretas
construídos em tempos e es- dimensões e competências que buscam oferecer um es-
paços distintos. Sua evolução humanas potencializadas nas paço estimulante e seguro,
não obedece a uma ordem crianças. Ou seja, essas práti- permitindo que as crianças
cronológica, mas se deve às cas necessitam levar em con- manifestem seu potencial fí-
contradições de um momento ta o contexto social e cultural sico, afetivo, intelectual e cul-
histórico, assumindo, portan- em que as crianças e suas fa- tural, bem como a aprendiza-
to, vários significados ao mes- mílias estão inseridas. Segun- gem de sua autonomia e de
mo tempo (p.136). do Kuhlmann Jr., as relações sua socialização.

28 revista criança
artigo

Portanto, é preciso desta- expressão, direito ao movi-


car que os “Critérios para um mento em espaços amplos,
Atendimento em Creches que direito à proteção, ao afeto e
Respeite os Direitos Funda- à amizade, direito a expressar “É possível identificar
mentais das Crianças” podem seus sentimentos, direito a práticas concretas que
ser adotados como ponto de uma especial atenção durante buscam oferecer um
partida para definir “pressu- seu período de adaptação à
creche, direito a desenvolver espaço estimulante e
postos teóricos e práticos”
de um modelo pedagógico de sua identidade cultural, racial seguro.”
qualidade. Esses critérios ado- e religiosa.
tam os seguintes princípios: Em síntese, estes princípios
Direito à brincadeira, à aten- têm se constituído um “me-
ção individual, a um ambiente diador curricular” que vêm
aconchegante seguro e es- possibilitando a qualificação
timulante, direito ao contato de muitas práticas educativas
com a natureza, direito à hi- concretas na realidade bra-
giene e à saúde, direito a uma sileira, tendo os direitos dos
alimentação sadia, direito a pequenos como eixo central
desenvolver sua curiosidade, no trabalho cotidiano com as
imaginação e capacidade de crianças de 0 a 6 anos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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infantil no contexto das reformas educacionais brasileiras.
In: FORMOSINHO, J. O.; KISHIMOTO, T. Formação em
contexto: uma estratégia de integração. 2002, Thomson,
São Paulo.

FARIA, A. L.; PALHARES, M. Educação Infantil Pós-LDB;


rumos e desafios. Campinas: Autores associados, 1999.

KRAMER, S. Propostas Pedagógicas ou Curriculares de


Educação Infantil: Para Retomar o Debate. In: Kramer S.
(Coord.) Relatório de Pesquisa: Formação de Profissionais
da Educação Infantil no Estado do Rio de Janeiro. PUC/
RIO/CNPq/FAPERJ, 2001.

KUHLMANN, M. Jr. Educação infantil e currículo. In: Educa-


ção Infantil Pós-LDB: rumos e desafios. Campinas: Autores
associados, 1999.

OSTETTO, L. Mas as Crianças gostam! Ou sobre os gostos


e repertórios musicais. In: OSTETTO, L & LEITE, M. L. Arte,
Infância e Formação de Professores. São Paulo: Papirus,
2004.

SACRISTÁN, G. J. - O Currículo - uma reflexão sobre a


prática. Porto Alegre: Artmed Editora, 1998.

revista criança 29
relato

O PROINFANTIL: Ontem, hoje e amanhã


Roseana Pereira Mendes*
Vitória Líbia Barreto de Faria*

O PROINFANTIL Ontem: a a devida formação. Tal fato jus- qualidade.


concepção tifica a ação do MEC de elabo-
rar, em regime de colaboração Entretanto, em função das
A formação dos professores diferenças existentes entre
com estados e municípios, um
que atuam em creches e pré- professores do ensino funda-
Programa para formar os pro-
escolas é uma preocupação mental e daqueles que atuam
fessores de Educação Infantil
antiga daqueles que fazem a em creches e pré-escolas, era
– o PROINFANTIL. preciso reelaborar o material
Educação Infantil acontecer
em nosso país. Dessa forma, todos os que utilizado. Foi necessário, então,
definir o perfil e os domínios do
Nas últimas décadas, as lu- atuam na docência , nas redes
professor de Educação Infantil,
tas sociais aliadas aos estu- pública ou privada sem fins lu-
que se pretende formar, bem
dos científicos sobre a criança crativos, e que muitas vezes
como traçar um desenho cur-
provocaram avanços significa- são chamados de monitores, ricular do Programa. Esta dis-
tivos na legislação. A Consti- pajens, recreadores ou ba- cussão conduziu à construção
tuição Federal de 1988 insere bás são o público alvo deste dos eixos temáticos em relação
a Educação Infantil no capítulo Programa. Neste contexto, o às áreas pedagógicas: o de-
da Educação e a Lei de Diretri- Departamento de Políticas da senvolvimento infantil; ciência
zes e Bases da Educação Na- Educação Infantil e do Ensino e cultura no mundo contempo-
cional – LDB 1996, ao incluí-la Fundamental da Secretaria de râneo; o professor: ser humano
como primeira etapa da Edu- e profissional e a ética.
Educação Básica (SEB) iniciou
cação Básica, determina que
as discussões para a elabora-
o profissional que nela atua é Como a estrutura do curso
ção do PROINFANTIL. prevê a sua realização em mó-
o professor, com formação mí-
nima em nível médio, modali- Constituiu-se na Coordena- dulos, o grupo definiu a ênfase
dade Normal. Em seguida, o a ser dada em cada um deles
ção Geral de Educação Infantil
Plano Nacional de Educação
(Coedi) um grupo de trabalho
– PNE 2001 - estabeleceu pra-
que buscou conhecer as vá-
zos para que essa formação se
rias experiências em anda-
efetive.
mento no país. Assim, o grupo
A partir de então, várias ini- se aproximou da proposta de
ciativas vêm sendo tomadas formação desenvolvida pela
em diferentes regiões brasilei- Secretaria de Educação a
ras. Entretanto, são ainda pon- Distância do próprio MEC
tuais, atendendo a um número para formar os professo-
restrito de professores. res do ensino fundamental
Os dados do Censo Escolar – o PROFORMAÇÃO, que
2004 demonstram a existência já havia sido objeto de uma
de aproximadamente 40 mil avaliação externa que o refe-
professores em exercício sem rendou como um programa de

*Roseana Pereira Mendes é técnica da Coordenação Geral de Educação Infantil (COEDI/MEC).


Vitória Líbia Barreto de Faria é Consultora Editorial da Revista Criança. Ambas foram responsáveis
pela coordenação pedagógica do projeto editorial do PROINFANTIL e por sua implementação.

30 revista criança
relato

em relação aos conteúdos pe- Tornou-se necessária, então,


dagógicos: a produção de um material
específico para a forma-
• Educação, sociedade e ci-
ção pedagógica: Fun-
dadania: perspectivas histó-
damentos da Educação
ricas, sociológicas e políticas
e Organização do Traba-
da Educação Infantil;
lho Pedagógico. Quanto às
• Infância e cultura: lingua- áreas temáticas referentes
gem e desenvolvimento hu- ao Ensino Médio, Lingua-
mano; Crianças, adultos e a gens e Códigos; Identi-
gestão da Educação Infantil; dade, Sociedade e
Cultura; Matemática
• Contextos de aprendiza- e Lógica e Vida e
gem e o trabalho docente. Natureza, definimos
Ao discutir as visões que que passariam por
algumas adequa-
aos poucos foram constituin-
ções, prevendo-se,
do o nosso Programa, tornou-
na continuidade do Pro-
se fundamental repensar as
grama, a produção de um
concepções e instrumentos
novo material.
de avaliação, que, mesmo
considerando as especificida- Por esta razão, os textos de negociações estão em
des de um curso a distância, estudo foram organizados em curso, visando a ampliação
contribuíssem para a forma- volumes distintos, de forma para outros estados.
ção de um professor reflexivo. a agrupar as áreas do Ensino
A participação da equipe
Médio e as áreas Pedagógi-
Foi também neste momento da Coedi nos momentos de
cas. Além disso, foram elabo-
que percebemos a necessida- formação em diversos muni-
rados materiais de apoio, para
de de um profissional qualifi- cípios possibilitou o conta-
orientar os tutores e o estudo
cado nas Agências Formado- to com os profissionais das
dos professores cursistas.
ras implantadas nos estados, agências formadoras, com os
com experiência na Educação O PROINFANTIL hoje: a tutores e com os professores
Infantil. Este devia atuar como implementação cursistas na fase presencial.
articulador, garantindo que as Isto ampliou o nosso conhe-
Por se tratar de um curso de
ações desenvolvidas resul- cimento sobre a realidade,
formação em nível médio, a
tassem na formação de um estimulando a percepção so-
implementação do Programa
bre o alcance do Programa. O
profissional qualificado. Da se dá a partir de negociações
acompanhamento do Módulo
mesma forma, vimos também com as secretarias estaduais
I tem demonstrado seu im-
como fundamental um grande de educação, que se articu-
pacto frente a esta realidade.
investimento na seleção e for- lam com os municípios.
Os depoimentos das equipes
mação do tutor, vez que é ele
No segundo semestre de formadoras estaduais tradu-
quem acompanha o professor 2005, iniciou-se o Projeto Pi- zem avanços significativos
cursista em seu cotidiano de loto do qual participam os es- na prática dos professores
estudo e quem observa e in- tados de Goiás, Ceará, Sergi- e no contexto institucional
tervém em sua prática. pe e Rondônia. Para 2006, as onde atuam.

revista criança 31
relato

No que se refere ao universo bilidade de voltarem a estudar cepção e os instrumentos de


observado, a despeito das di- e com a perspectiva de serem aprendizagem e de avaliação
ficuldades apontadas em mui- habilitados como professores. mostram-se efetivos neste
tos municípios, percebemos processo. O fato de a leitura e
O desenvolvimento do
que tem havido um esforço no a escrita permearem todos os
PROINFANTIL tem se constitu-
sentido de colocar a Educação momentos de observação e re-
ído em uma prática transforma-
Infantil na ordem do dia. Estes flexão faz com que os profes-
dora. Traz em seu bojo a pos-
esforços ora se dão pela von- sores percebam o seu próprio
sibilidade da Educação Infantil
tade política dos gestores, ora processo formativo, avaliando
construir uma identidade pró-
por pressão da sociedade ou os conteúdos desenvolvidos e
pria à medida que produz quali-
ainda por força da Lei. se auto-avaliando.
ficação para toda a estrutura.
Contudo, mesmo conside- O PROINFANTIL amanhã:
A formação dos professores
rando os avanços realizados, os desafios
provoca, sobretudo, mudan-
constatamos que ainda há um
ças nas concepções das ins-
longo caminho a ser trilhado As conquistas e as dificul-
tituições de Educação Infantil
em relação ao atendimento dades até aqui enfrentadas,
e dos sistemas de ensino. E
aos direitos da criança, visto tanto pelas equipes estaduais
tem possibilitado também o
que inúmeras dificuldades ain- das Agências Formadoras,
aparecimento de demandas
da persistem, principalmente, pelos tutores, pelos profes-
por formação inicial para ou-
no que se refere a infra-estru- tros profissionais, tais como sores cursistas, quanto pela
tura; ao regime de atendimen- coordenadores e diretores de equipe da Coordenação Na-
to; a razão professor/criança; creches. Inclusive professores cional do PROINFANTIL, tra-
a organização interna das ins- já habilitados querem utilizar o zem novos desafios e ques-
tituições; a relação com as fa- material do PROINFANTIL, na tionamentos.
mílias; a intencionalidade edu- continuação de seus estudos .
cativa e a gestão. O mais importante diz res-
A observação do trabalho peito ao enraizamento do
Outro aspecto constatado do professor e a subseqüen- Programa como um elemen-
foi o entusiasmo manifestado te discussão sobre a prática to transformador da realida-
pelos cursistas com a possi- com o tutor têm contribuído de da Educação Infantil nos
para que o coletivo da insti- municípios. O grande desa-
tuição demande momentos fio do PROINFANTIL é tor-
de planejamento e avalia-
nar-se o indutor de grandes
ção para os demais profes-
transformações na Educação
sores.
Infantil, principalmente nas
Da mesma forma, os concepções e nas práticas
profissionais, ao verem desenvolvidas em creches e
sua prática reconhecida pré-escolas. Sempre tendo
e ao refletirem sobre ela, no horizonte a criança como
constroem sua identidade sujeito pleno de direitos.
como professores.
Neste sentido, a con-

32 revista criança
reportagem

Professora pode tornar-se leitora


com formação e prazer
Adriana Maricato | Brasília/DF

É difícil para uma professora Com sua experiência na for-


que não lê estimular a leitura mação de professores, Rosa-
dos alunos. Se a criança vem na acredita que não basta dis-
de uma família que não lê e ponibilizar acervos de livros e
encontra na escola uma pro- espaços de leitura como bi-
fessora na mesma situação, a bliotecas. “A professora deve
professora não saberá como ser envolvida em práticas de
despertar e cultivar a leitura. leitura, entrando em
O ambiente de Educação In- contato com outros
fantil promotor da leitura pre- professores leito-
cisa contar com professoras res, participando
leitoras. de grupos de es-
tudo, freqüen-
Para Magda Soares, da
tando cursos,
UFMG, um programa de for-
fazendo traba-
mação de leitores deve se
lhos, encontrando
preocupar também com o de-
espaços de leitura
senvolvimento do professor
como leitor, “porque se a pes- nas salas de aula
e nas escolas”. Segundo ela, práticas”, esclarece Rosana
soa não tem prazer no conví- Becker. Isso significa ter ativi-
vio com o material escrito, é a partir dessas vivências, os
professores podem perce- dades permanentes de leitura
muito difícil passar isso para
ber a importância da leitura em sala de aula. Lendo para
as crianças”. Por isso, Rosana
nas suas próprias vidas, ava- as crianças, o professor simul-
Becker, professora da Univer-
liar se são leitores ou não, e taneamente constitui-se como
sidade Estadual do Oeste do
construirem -se como leitores, leitor. A escrita torna-se uma
Paraná (Unioeste), defende
buscando formas de rompe- descoberta coletiva na sala de
que é preciso trabalhar na for-
rem com suas histórias de aula: “não é porque a criança
mação continuada dessa pro-
fessora, que precisa se tornar não-leitura. não teve acesso que não pode
leitora. aprender a gostar desses ma-
Para formar alunos leitores, teriais de leitura”, acrescenta
Rosana Becker coordena no o professor necessita de uma a professora do Paraná.
Paraná o desenvolvimento de concepção clara de leitura,
cursos e produtos didáticos como as crianças aprendem Os programas de formação
para a área de Linguagem e a ler e saber como constituir de leitores devem levar em
Alfabetização. Esse trabalho é o acervo para trabalhar com conta que a leitura do profes-
feito a partir da Universidade elas. “Não pode subestimar sor não é a mesma das crian-
Estadual de Ponta Grossa, que a capacidade das crianças ças. De acordo com Rosana,
faz parte da Rede Nacional de de receberem o texto. En- “é preciso conhecer o perfil
Formação Continuada de Pro- quanto elas folheiam, também do professor, saber o que ele
fessores do MEC (Rede). constroem conhecimento e lê de fato e estas informa-

revista criança 33
reportagem

ções podem ser conseguidas dentro da creche ou escola professores leitores. Isto trará
na Associação de Leitura do e garantir livros de literatura ganhos para os profissionais e
Brasil”. Os acervos para os infantil adequados às turmas para as crianças. E muito pra-
professores devem ser di- de Educação Infantil, deixan- zer também. Fazem parte da
versificados, com leitura in- do o material disponível para Rede Nacional de Formação
formativa - jornais, revistas, ser pego, folheado, trocado, Continuada: Universidade
periódicos, textos científicos acompanhado, cuidado. “Não de Brasília (UnB), Universi-
sobre educação e também li- é para o livro ficar apenas dade Estadual de Campinas
teratura. “O professor precisa como enfeite bonito na es- (Unicamp), Universidade
conhecer o universo simbó- tante da escola, a criança tem Estadual de Ponta Grossa
lico da Literatura Brasileira e que pegá-lo”. (UEPG), Universidade Fede-
Universal”, diz ela. ral de Minas Gerais (UFMG) e
Secretarias estaduais e mu-
Universidade Federal de Per-
Mas Rosana Becker adverte nicipais de educação e ins-
nambuco (UFPE). Mais infor-
que a professora não pode es- tituições de ensino superior
mações no telefone (0 xx 61
tar sozinha neste trabalho de podem procurar os centros da
2104-8672) e no site www.
leitura. Ela precisa do apoio Rede/MEC na área de Alfabe-
mec.gov.br.
da direção. A diretora deve tização e Linguagem para criar
garantir um espaço de leitura programas de formação de

Os mitos sobre leitura


Mentiras Verdades

Crianças não gostam de ler Crianças aprendem a gostar de ler

Crianças estragam livros Crianças aprendem a manipular os livros

A leitura deve ensinar conteúdo


Leitura deve divertir
pedagógico

Leitura só na biblioteca É incentivada na sala de aula

O ambiente é gostoso, permitindo que as


O ambiente deve ser silencioso
crianças se expressem
As crianças ‘lêem’ antes de serem
Só alfabetizados podem ler
alfabetizadas
Crianças compreendem textos complexos
Crianças só entendem textos fáceis
e palavras difíceis

A professora só conta histórias A professora conta e lê histórias


Vários suportes de texto – revistas,
bulas de remédio, receitas, documentos,
Livros são os únicos objetos para leitura
embalagens – podem ser usados para
leitura
Todas as crianças devem ler um único
As crianças devem ler livros diferentes
livro ao mesmo tempo

34 revista criança
resenha

Memórias Inventadas – Infância


Autor: Manoel de Barros
Ilustradora: Martha Barros
Editora: Planeta do Brasil

Karina Rizek Lopes*

Ao consultarmos o dicioná- Ao falar de sua própria in- tas da infância do autor e que
rio, encontramos como uma fância, Manoel de Barros se confunde com a infância
das acepções da palavra in- desperta nos leitores pe- de cada leitor.
fância “meninice”. E ao falar- quenos sorrisos, franzidos
mos da palavra infância, mui- nas testas, olhares curiosos Um autor que desde crian-
tas imagens, gostos, cheiros e uma vontade de ir adiante ça sabia o que queria: “frase-
e toques parecem estar vi- em cada pequena história ar” e “escovar as palavras”.
vos na nossa memória, bem lembrada ou inventada. E você, o que deseja da vida
como na de nossos pais e no tempo de ser criança?
avós... Estas histórias podem ser
lidas em conjunto ou mesmo
Nesta publicação depara- separadas, vêm muito bem
mo-nos com uma caixa, uma guardadas, como as delícias
caixa de segredos, uma cai- e memórias de uma in-
xa de brinquedos, uma caixa fância devem estar
de memórias, uma caixa de dentro de cada
pessoas e personagens, uma um de nós.
caixa de imaginação, uma
caixa de muitas coisas... Os livrinhos
são entrelaça-
Manoel de Barros é um au- dos cuidadosa-
tor que escreve sobre e para a mente com laços
infância, e, também para adul- de fita e com lindas
tos. Como na infância, o autor ilustrações feitas por
nos recebe na primeira página sua filha Martha – que
do livro dizendo: “tudo que parecem traçadas por
não invento é falso”, pois na criança – uma caixinha que
infância o que é mais verda- encanta crianças e adultos.
deiro é a imaginação que se
transforma em faz de conta, A caixa é um convite para
que se transforma em brinca- conhecermos os objetos, bi-
deira, que se transforma em *Karina Rizek Lopes é Coordenadora
chos e pessoas que foram e
Geral de Educação Infantil da Secretaria
coisa séria! são personagens protagonis- de Educação Básica do MEC.

revista criança 35
resenha

Pé com Pé
Compositor/Intérprete: Sandra Peres e Paulo Tatit
Ilustrações: Giba Gomes
Pesquisa: Paulo Dias
Gravadora: Selo Palavra Cantada

Vitória Faria*

O álbum está organizado em co infantil. Este último parece O álbum como um todo se
dois CDs que exploram o uni- pertencer à mesma linhagem constitui em uma verdadeira
verso rítmico brasileiro e suas do Álbum Canções do Bra- aula de música para crianças e
origens africanas. O primeiro, sil, de 2001. Naquele traba- adultos, vez que, além dos dois
“Pé com Pé”, apresenta can- lho foram gravadas canções CDs, traz um encarte com le-
ções cheias de humor, aven- com crianças de 26 estados tras das canções, explicações
tura e poesia. Com diferentes brasileiros, que retratavam sobre os instrumentos utiliza-
ritmos e fazendo uso de uma a diversidade das tradições dos, origem e história dos rit-
linguagem lúdico-poética, pe- musicais de cada local visi- mos escolhidos, partituras das
netra na cultura infantil, tra- músicas apresentadas, além
tado. Tudo acompanhado por
zendo à tona seus brinquedos dos maravilhosos desenhos
registros feitos em um diário
e brincadeiras, seus hábitos e ilustrativos de Giba Gomes.
de viagem que acompanhava
maneiras de ver o mundo. a coletânea. A coletânea é uma grata
O segundo CD, “Pé na Co- contribuição aos professores
Agora, tendo como base a
zinha” é um convite à dança, de creche e pré-escola no de-
pesquisa feita pelo etno-mu-
à exploração de movimentos senvolvimento de atividades
sicólogo Paulo Dias, os dois relacionadas à história da mú-
e ao conhecimento de uma
músicos trazem a cultura ne- sica brasileira, bem como de
multiplicidade de ritmos re-
gra enraizada em alguns es- apreciação, vivência e produ-
tirados de diferentes instru-
tados brasileiros com ritmos ção musical. Neste sentido,
mentos musicais. Com grande
que vão do reggae ao maraca- possibilita às crianças diver-
ênfase na percussão, as mes-
tu, passando pela umbigada e sas formas de exploração do
mas canções são reapresen-
danças originárias da capoeira conteúdo do álbum por meio
tadas em trilha sonora, tendo
e dos quilombos, bem como o de diferentes linguagens: cor-
apenas bases instrumentais.
boi matraca, o partido alto e o poral, musical, poética, lúdica,
Eis o resultado de um cuida- moçambique. Contracenan- plástica, oral e escrita, além de
doso e sério trabalho da du- do com as sonoridades afri- fornecer conhecimentos sobre
pla Sandra Peres e Paulo Tatit, canas, trazem a música pop, as nossas raízes culturais.
que, em outros momentos, já de origem norte-americana e
nos presenteou com outras inglesa e os caboclinhos da *Vitória Faria é consultora editorial da
obras voltadas para o públi- tradição indígena. Revista Criança.

36 revista criança
notas

Fundeb é quase realidade betização; os do tipo 2 terão 3,5 mil a 10 mil


verbetes; e os do tipo 3, com 19 mil a 35 mil
A Proposta de Emenda Constitucional verbetes, serão orientados pelas caracterís-
(PEC) 9/2006 que cria o Fundo de Manuten- ticas de um dicionário padrão, mas adequa-
ção e Desenvolvimento da Educação Básica dos a alunos de 3a e 4a série. Os dicionários
e de Valorização dos Profissionais da Edu- tipo 2 serão comuns aos dois acervos, cada
cação (Fundeb) está no Senado Federal. O um composto por nove obras.
Fundeb substitui o Fundo de Manutenção e
Desenvolvimento do Ensino Fundamental e Parâmetros de Infra-
de Valorização do Magistério (Fundef) e ga-
rante investimento obrigatório para a Educa-
Estrutura na Educação
ção Infantil, o ensino fundamental e o ensino Infantil
médio. A implantação do Fundeb aumenta o
número de alunos atendidos de 32 milhões O MEC imprimiu cerca de 20 mil exemplares
para 47 milhões. dos dois volumes do documento Parâmetros
Básicos de Infra-estrutura para Instituições de
Educação Infantil, a ser distribuído para as
Dicionário com ilustrações secretarias de educação de todos os muni-
para crianças em fase de cípios. A definição de critérios de qualidade
alfabetização para a construção e reforma de creches e pré-
escolas foi estabelecida como meta 2 do Pla-
A partir de 2006, os estudantes da rede no Nacional de Educação (PNE) de 2001.
pública das primeiras séries do ensino fun-
damental vão ter acesso a dicionários ade-
quados à sua faixa etária e à série em que
estão matriculados. Até então, os dicioná-
rios distribuídos pelo MEC eram o mesmo
para alunos da 1a à 8a série, que levavam
a publicação para casa. Cerca de 139 mil
escolas receberão os novos acervos, um
para cada sala de aula, inclusive dicioná-
rios ilustrados.
A politíca inclui a formação de professores
habilitados a incentivar o uso co-
letivo do acervo de dicionários
em sala de aula.
Três tipos de dicionário irão
compor os acervos: os do tipo
1 terão de mil a 3 mil verbetes,
adequado à fase inicial de alfa-

revista criança 37
notas

Baseadas nos parâmetros de qualidade criação de experiências pedagógicas de


para os ambientes, as prefeituras poderão qualidade por parte de mais escolas e pro-
criar redes de qualidade para o atendimento fessores.
das crianças: disposição de equipamentos e
Em parceria com o MEC, a União Nacio-
materiais usados na construção, iluminação e
nal dos Dirigentes Municipais de Educa-
ventilação são alguns dos aspectos a serem
ção (Undime) e a Fundação Orsa, o Prêmio
observados na construção e reforma de insti-
Qualidade na Educação Infantil, foi conce-
tuições de Educação Infantil. Simultaneamen-
dido pela primeira vez em 2000. Criativida-
te aos estímulos que o ambiente pode propor-
de, originalidade e possibilidade de repli-
cionar às crianças, também é necessário estar
cação das experiências foram os critérios
atento à segurança, facilidade de limpeza e
de seleção dos 1.269 trabalhos inscritos
manutenção.
em 2004. Em 2005, ele foi unificado com o
O conteúdo do documento foi debatido de Prêmio Incentivo à Educação Fundamen-
forma democrática com dirigentes estaduais tal, da Fundação Bunge, e criou-se o Prê-
e municipais de educação e representantes mio Professores do Brasil para essas duas
da sociedade civil em 2004. Cerca de mil etapas da educação básica.
municípios participaram dos debates para
traçar uma política nacional de Educação
Infantil durante os oito seminários regionais
realizados em 2005.

Divulgação de experiências
premiadas
Cerca de 20 mil exemplares da publicação
Prêmio Qualidade na Educação Infantil 2004
foram distribuídas às secretarias de educa-
ção de todo o país. A publicação relata as
24 experiências premiadas naquele ano, de
forma a torná-las conhecidas e estimular a

38 revista criança
diálogo

Diálogo com as cartas


recebidas

Fui professora de Educação Infantil e


atualmente sou coordenadora pedagógica
de um pólo contendo cinco escolas da zona
rural.
Sei da importância que as revistas de
educação têm no seio das escolas da zona
rural. Quando chega uma revista nova todas
querem ler para atualizar-se. Claro que com
a Revista Criança não foi diferente.
Estava precisando de algo que falasse de
contos de fada, pois estava elaborando uma
oficina de contos para os professores de
Educação Infantil, foi maravilhoso. A Revista
nas primeiras páginas trouxe o que estava
pesquisando. Adorei os artigos e quero
parabenizar a todos os seus colaboradores.
Com a leitura da Revista, os professores não
só aprimoram suas práticas, mas também
reconstroem saberes, assim enriquecendo
conhecimentos.

Natalice Feliciano dos Santos


Escola Municipal Antonio Galdino – Xique-Xique – Monte
Alegre (RN)

Natalice,

Ficamos felizes em saber que, por meio da


Revista, estamos contribuindo com a forma-
ção dos professores do seu pólo. Continue
nos escrevendo, enviando sugestões para
que a Revista Criança possa ser cada vez
mais um instrumento para a formação con-
tinuada dos professores.

revista criança 39
diálogo

É com grande emoção que escrevo por- Moro em uma comunidade no Rio de
que acabei de ler “Oh Bagdá!”, poema do Janeiro, Vila do João, local em que
professor Daniel Faria. É lindo! Gostaria de constantemente a violência aterroriza meu
parabenizá-lo e dizer que também gosto de coração. Fui educadora infantil no Bairro
poesia. Acredito que só o poema é capaz de da Maré por muitos anos.Exatamente hoje,
por luz na alma humana quando esta está na num momento de tristeza, pois não pude
escuridão, porque a poesia é a linguagem de ir a faculdade devido ao tiroteio da noite,
Deus. chegou a Revista Criança...
... Eu preciso que vocês saibam que
Adenir Vendrame materiais como este são essenciais para
Juruena (MT) nossa reflexão constante, pois relatam
experiências fascinantes e possíveis, além
dos artigos e entrevistas importantíssimas.
Adenir,
É um material maravilhoso! Estou feliz
Os poetas são os responsáveis pelo reencan- por ter a oportunidade de receber esse
tamento do mundo e, os defensores do meio presente, num dia como esse.
ambiente, os preservadores da continuidade
da vida em nosso planeta. Que bom saber que
Sara da Conceição Alves
existem pessoas como você trabalhando com
Vila do João – Bom Sucesso (RJ)
as crianças na Educação Infantil.

Sara,

Ficamos satisfeitos em saber que o


recebimento da Revista Criança trouxe
tanta alegria para você. Obrigada pelas
palavras elogiosas.

40 revista criança
arte

Albert Eckhout (1610/1665)

Mulher negra com criança Índia tapuia com criança


1641 – Óleo sobre tela 1641 – Óleo sobre tela

Albert Eckhout nasceu na Holanda em O que podemos inferir é que a figura da


1610 e veio para o Brasil com Maurício mãe era essencial nos cuidados com a
de Nassau, durante a invasão holandesa, criança e que o afeto permeia esta rela-
em 1637. Foi um dos primeiros pintores
ção. Além disto, as imagens nos mostram
estrangeiros a ver o belo na diversidade
uma proximidade muito grande das crian-
brasileira, tanto na natureza quanto em seu
povo. Voltou à Europa sete anos depois, ças, desde muito cedo, com a natureza e
vitimado pela malária, doença esta que o com o trabalho na medida em que acom-
levaria a morte em sua terra natal. As obras panham as mães em suas tarefas cotidia-
que aparecem nesta página fazem parte do nas. Esta é uma das leituras possíveis.
Museu Nacional da Dinamarca. Ambas re-
velam a sensibilidade do pintor ao captar Professor, faça também a sua leitura a
um pouco da concepção de criança pre-
partir da observação. A obra de arte nos
sente nas culturas negra e indígena no Bra-
sil do século XVII. dá esta liberdade.
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