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Publicado em 18.10.

2019

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Nos últimos meses, com a queda da taxa básica de juros, muitos
investidores deixaram a renda fixa e migraram para a renda variável
buscando maiores retornos. Com isso, uma questão que surge diz respeito
à diversificação de ativos, principalmente no que diz respeito à exposição
ao mercado estrangeiro.

Vemos que muitos dos termos técnicos ligados ao mercado financeiro


confundem os investidores, principalmente os iniciantes. Portanto, este
Suno Drps falará sobre os BDRs, sigla de Brazilian Depositary Receipts, tema
que está intimamente ligado à exposição ao mercado estrangeiro.

Resumidamente, o BDR pode ser definido como um ativo que o investidor


brasileiro pode adquirir quando quer investir em empresas de fora do país.

Em outras palavras, além de ser uma alternativa para empresas


estrangeiras captarem recursos no mercado brasileiro, a listagem de BDRs
possibilita ao investidor comum adquirir – no Brasil – valores mobiliários
lastreados em ativos estrangeiros.

Porém, é necessário que o investidor entenda que investir em BDRs é


diferente de investir diretamente em ações estrangeiras, pois os BDRs
podem ser comparados com fundos de investimentos que tenham ações
estrangeiras em seu portfólio.

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Para esclarecer melhor, quem adquire,
por exemplo, um BDR da Apple, está
adquirindo um título representativo das
ações da companhia. Essas ações
existem, de fato, mas precisam ficar
depositadas e bloqueadas em uma
instituição que atua como custodiante.

O funcionamento desse sistema é assegurado por outra instituição


financeira, chamada de depositária, que se resposabiliza pela distribuição
dos BDRs no Brasil. Dessa forma, é necessário que a instituição depositária
compre as ações da empresa no exterior e as mantenha depositadas em
uma conta em uma instituição custodiante.

Assim, por meio de um processo de distribuição junto à CVM (Comissão de


Valores Mobiliários), a instituição depositária poderá emitir os recibos e,
em seguida, colocar os BDRs para negociação na B3.

Portanto, títulos de empresas como Apple, Bank of America, Google,


McDonald’s, Microsoft, Amazon, Coca-Cola, Nike, Johnson & Johnson,
JPMorgan, Dell, eBay, HP e outras podem ser negociados aqui no Brasil.

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Isso permite que pessoas comuns, por meio dos BDRs, vinculem-se a essas
companhias e tenham participação – mesmo que indireta – em seus
resultados.

Cabe aqui destacar que não só empresas norte-americanas podem ser


negociadas no Brasil por meio de BDR, mas também empresas de qualquer
outro país do mundo.

Geralmente, os BDRs são classificados em diferentes níveis, que variam de


acordo com as características de divulgação de informações, distribuição,
negociação e a existência ou não de patrocínio das empresas emissoras dos
valores mobiliários objeto do certificado de depósito.

A negociação dos BDRs ocorre de forma equivalente aos demais valores


mobiliários brasileiros, como ações e fundos Imobiliários. Eles podem ser
transacionados em bolsas de valores ou no mercado de balcão organizado,
inclusive por meio de home broker das corretoras, o que facilita a liquidez.

Vale ressaltar que, apesar de terem os seus valores influenciados pelas


cotações das empresas pertencentes ao BDR e também pela variação do
câmbio, esse ativo é negociado na nossa moeda local, ou seja, em reais.

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Isso facilita o trâmite para quem deseja participar dos negócios de
empresas de outros países, extinguindo a obrigação de abrir conta em
instituições estrangeiras, bem como demais questões burocráticas
necessárias para quem pretende investir diretamente em outros países.

Outro ponto importante desse ativo é que sua tributação, em termos


fiscais, é feita de maneira semelhante à realizada por quem investe
diretamente no mercado mobiliário brasileiro.

Ademais, os BDRs são divididos em duas principais categorias:

▪ Patrocinados
▪ Não patrocinados

Esse tipo de BDR tem como característica principal o fato de que a


companhia de fora do país solicita a uma instituição depositária sua
intenção de ter seus ativos negociados aqui no Brasil. Ou seja, é de
interesse da companhia ter presença no mercado brasileiro.

Dessa forma, para emissão do BDR patrocinado, a companhia emissora dos


valores mobiliários no exterior deve contratar essa instituição depositária
no Brasil. Ela será responsável por emitir e negociar os BDRs. Assim, as
instituições depositárias podem emitir ou cancelar os BDRs patrocinados
conforme a demanda dos investidores locais no mercado primário.

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Como exemplo, caso o investidor solicite a emissão de um BDR Patrocinado
de uma companhia estrangeira, precisará transferir os valores mobiliários
que detém desta companhia no exterior para a conta da instituição
depositária também no exterior.

Dada a transferência, a instituição depositária emitirá os respectivos BDRs


no Brasil. Após emitidos, os BDRs poderão ser negociados no mercado
secundário na B3 de forma semelhante às ações.

A seguir podemos observar um esquema de como funciona esse processo:

Fonte: b3.com.br

Por outro lado, para o cancelamento do BDR, o investidor deve solicitá-lo,


por meio de sua corretora no Brasil, à instituição depositária.

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A instituição, então, desbloqueia e transfere os valores mobiliários
equivalentes, utilizados como lastro, para a conta do investidor em sua
corretora no exterior e cancela o BDR junto à B3.

A imagem demonstra como funciona o preocesso de cancelamento:

Fonte: b3.com.br

Por fim, os BDRs patrocinados ainda se subdividem em outros três grupos:


os BDRs patrocinados níveis I, II e III.

BDR nível I
Os BDRs patrocinados nível I são caracterizados pela dispensa do registro
na CVM da companhia emissora dos valores mobiliários lastro do BDR.

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Além disso, também não são exigidas outras informações da companhia
emissora além das que já está obrigada a divulgar em seu país de origem.
Até setembro de 2020, a negociação desse tipo de BDR por pessoa física
dependia de que ela fosse caracterizada com investidora qualificada, ou
seja, precisava deter pelo menos R$ 1 milhão em aplicações financeiras.

De acordo com a nova resolução da CVM, investidores não qualificados


poderão negociar BDRs Nível I, a depender do mercado em que os valores
mobiliários que servem como lastro sejam listados. A alteração na
resolução foi muito importante para o mercado de capitais brasileiro dado
que agora um investidor, com quantias moderadas de capital, poderá
investir nessa categoria de ativos.

BDR níveis II e III


Os BDRs patrocinados níveis II e III têm como característica a exigência de
registro da companhia emissora na CVM, bem como admissão à
negociação em bolsa ou em mercados de balcão organizado, o que não
acontece com o nível I.

O que difere um do outro é que o BDR patrocinado Nível III é registrado na


hipótese de distribuição pública simultânea no exterior e no Brasil.

Dessa forma, esses dois níveis são também muito interessantes para quem
pretende aderir a essa modalidade de investimento e estão disponíveis
para qualquer tipo de investidor.

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Diferentemente dos BDRs patrocinados, essa modalidade é um programa
instituído por uma instituição depositária – a responsável pela emissão de
certificado –, sem um acordo direto com a companhia emissora dos valores
mobiliários em questão. Ou seja, a iniciativa parte da própria instituição
depositária.

No Brasil, a instituição depositária que emite os BDRs não patrocinados


também se responsabiliza por divulgar ao mercado brasileiro as
informações corporativas e financeiras das companhias estrangeiras
emissoras das ações que sejam utilizadas em seus BDRs.

Essas companhias estrangeiras divulgam suas informações gerais de acordo


com as regras a que estão submetidas em seu país de origem; a instituição
depositária apenas acompanha e divulga as informações no mercado
brasileiro, para a ciência dos investidores sobre a saúde das companhias.

Dessa forma, esses BDR são emitidos sem o vínculo direto com as
companhias estrangeiras, tendo em vista que são feitos com ativos que já
circulam no mercado de seu país de origem.

Por fim, os BDRs Não patrocinados, sempre considerados de Nível I,


formam a maioria dos BDRs disponíveis na B3. E, assim como os BDRs
patrocinados de Nível I, com a nova resolução da CVM, ficam disponíveis a
todos os tipos de investidores.

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Uma primeira vantagem de se investir em BDRs é a exposição que o
investidor consegue ao mercado internacional. É extremamente
importante que uma carteira de investimentos esteja diversificada em
geografias diferentes. Isso porque o investidor estando diversificado em
economias, consegue mitigar os efeitos em sua certeira dos riscos
intrínsecos a um país.

Outra grande vantagem desse ativo é o fato de não exigir operações de


câmbio nem contas de custódia no exterior. Também não requer
transferência de recursos para outro país para que o investidor possa ter
parte de seu patrimônio investido de maneira indireta em ações
estrangeiras. Além disso, o investidor consegue ter acesso aos papéis de
grandes empresas globais e a setores que, eventualmente, não tem
representantes brasileiros listados na B3.

É importante lembrar que ao adquirir BDRs, o investidor não está


comprando diretamente as ações da empresa estrangeira. Assim, está
comprando títulos lastreados nas ações dessas empresas.

Dessa forma, o investidor não está se tornando sócio diretamente da


empresa, o que se torna uma desvantagem do investimento em BDRs.

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Uma outra situação que podemos destacar é a disponibilidade de ativos.
Nem todos os ativos disponíveis na bolsa norte-americana estão
disponíveis como BDRs. Na verdade, existem atualmente cerca 550 BDRs
listados na B3 enquanto no mercado americano há a disponibilidade de
mais de 8 mil ativos.

Além disso, outra desvantagem que podemos ressaltar diz respeito à


liquidez. Isso porque o volume de negociações dos BDRs não é muito alto,
tornando-os ativos sem muita liquidez. Isso se torna um impecilho na
velocidade de conversão do ativo em capital no momento da venda.

Assim como a maioria dos diferentes ativos negociados no Brasil, os BDRs


são negociados pela B3.

Dessa forma, para investir em algum BDR de interesse, é necessário


procurar um agente intermediário, ou seja, uma instituição bancária ou
uma corretora de valores autorizada e regularizada perante a CVM.

Portanto, como em qualquer outro tipo de investimento, o investidor que


tem interesse em aplicar em BDRs, precisa acompanhar de perto o
mercado como um todo, com o objetivo de sempre se informar melhor e,
consequentemente, conquistar bons resultados em suas aplicações.

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Como adeptos e incentivadores de investimentos com bases
fundamentalistas e focadas para o longo prazo, enxergamos que o
investimento em BDRs é uma boa maneira de o investidor brasileiro se
expor aos mercados estrangeiros e ampliar o leque de setores em que
pode investir bem como o acesso a empresas globais.

Por outro lado, também incentivamos o investidor mais experiente a


considerar o investimento direto no mercado norte-americano, dado que
alguns benefícios adicionais podem ser adquiridos.

*Plano atrelado a renovação automática para o plano Suno Premium Mensal (R$ 62.90)
após 15 dias. Cancelamento possível em até 14 dias após a renovação.

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Disclaimer
As informações constantes deste material podem auxiliar o
investidor em suas decisões de investimento; porém o
investidor será responsável, de forma exclusiva, pela verificação
da conveniência e oportunidade da movimentação de sua
carteira de investimentos e pela tomada de decisão quanto à
efetivação de operações de compra e/ou venda de títulos e/ou
valores mobiliários.

Este material apresenta informações para diversos perfis de


investimento e o investidor deverá verificar e atentar para as
informações próprias ao seu perfil de investimento, uma vez
que as informações constantes deste material não são
adequadas para todos os investidores. Quaisquer projeções de
risco ou retorno potenciais são meramente ilustrativas e,
portanto, não são e não devem ser interpretadas pelo investidor
como previsão de eventos futuros e/ou garantia de resultados.

Além disso, não garantimos a exatidão das informações aqui


contidas e recomendamos ao investidor que não utilize este
relatório como única fonte para embasar suas decisões de
investimento. Os investimentos realizados pelo investidor para
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