O documento resume 4 artigos sobre hormônios e comportamento humano, especificamente sobre o cortisol e seu relacionamento com comportamentos de adolescentes, depressão pós-parto, hipotireoidismo e depressão, e oxitocina.
Descrição original:
Título original
Resumos dos artigos Relações entre o hormônio cortisol e comportamentos de adolescentes
O documento resume 4 artigos sobre hormônios e comportamento humano, especificamente sobre o cortisol e seu relacionamento com comportamentos de adolescentes, depressão pós-parto, hipotireoidismo e depressão, e oxitocina.
O documento resume 4 artigos sobre hormônios e comportamento humano, especificamente sobre o cortisol e seu relacionamento com comportamentos de adolescentes, depressão pós-parto, hipotireoidismo e depressão, e oxitocina.
Resumos dos artigos Relações entre o hormônio cortisol e comportamentos de
adolescentes: Uma revisão sistemática, Depressão pós-parto: fatores de risco e
repercussões no desenvolvimento infantil, Hipotireoidismo e sua associação com transtornos depressivos: uma revisão de literatura e Oxitocina e comportamento humano
Aluna: Luiza Cunha Machado
Curso: Psicologia Disciplina: Fisiologia para a Psicologia Número de matrícula: 12011PSI003
Referências:
Silva, A. M. B. da, Silva, M. L. B. da, & Enumo, S. R. F. (2017). Relações entre o
hormônio cortisol e comportamentos de adolescentes: Uma revisão sistemática. Psicologia Revista, 26(2), 337–362. https://doi.org/10.23925/2594- 3871.2017v26i2p.337-362 Schmidt, E. B., Piccoloto, N. M., & Müller, M. C. (2005). Depressão pós-parto: fatores de risco e repercussões no desenvolvimento infantil. Psico-USF, 10(1), 61-68. https://doi.org/10.1590/S1413-82712005000100008 Ricardo Neto, A., Figueiredo, B. Q. de., & Oliveira, R. C. (2021). Hipotireoidismo e sua associação com transtornos depressivos: uma revisão de lietratura. Research, Society and Development, 10(11), e12101119380. https://doi.org/10.33448/rsd-v10i11.19380 Ferreira de Campos, Diana Catarina, & Garcia do Nascimento Graveto, João Manuel (2010). Oxitocina e comportamento humano. Revista de Enfermagem Referência, III(1), 125-130. Disponível em: https://www.redalyc.org/articulo.oa?id=388239960011 O artigo intitulado Relações entre o hormônio cortisol e comportamentos de adolescentes: Uma revisão sistemática consiste na análise de 19 artigos em língua inglesa cujas temáticas se encontram no domínio da investigação sobre o cortisol e sua relação com o desenvolvimento na fase da adolescência, distúrbios emocionais, comportamentos externalizantes disjuntivos como o abuso de substâncias, e disfunções psicossociais resultantes da exposição à violência como o estresse pós-traumático por abuso sexual. O cortisol é um hormônio glicocorticoide cuja secreção no organismo pode ser ligada à ativação do eixo hipotalâmico-pituitário-adrenal, ou eixo HPA, cujo funcionamento está associado às respostas autonômicas de estresse. Nesse sentido, o cortisol recebe a caracterização de “hormônio do estresse” e constitui uma importante medida fisiológica, na medida em que a variação da sua secreção no organismo pode ser vista como um indicador da modulação do grau de responsividade daquele a um determinado estressor. Em condições fisiológicas, os níveis de cortisol variam em torno de padrões basais, e depois se estabilizam novamente da seguinte maneira: diante de situações que induzem respostas de defesa, ou seja, de luta ou fuga, a ativação do eixo HPA resulta em um aumento da secreção de cortisol, mas, após algum tempo, a quantidade desse hormônio retornará a um nível adequado. Entretanto, podem haver situações prolongadas de estresse ou situações de exposição a fatores estressores extremos que acarretam no funcionamento disfuncional dos mecanismos fisiológicos citados. Mais especificamente, a ocorrência de tais conjunturas em determinados períodos críticos do desenvolvimento humano, como a transição da infância para a adolescência ou desta para a fase adulta, pode ser determinante para contribuir para a explicação de psicopatologias, como a ansiedade e a depressão, e de doenças físicas, como doenças cardiovasculares e câncer. Daí adviria a importância de modelos teóricos desenvolvimentais da fisiologia do estresse. Seria relevante, então, entender de quais formas a atividade do eixo HPA e os níveis de cortisol podem estar relacionados ao desenvolvimento normal ou atípico em adolescentes, uma vez que se entende essa fase da vida como especialmente propícia à exposição a estressores biopsicossociais. Assim, o modo como os mecanismos que gerenciam o estresse são afetados ou não na adolescência auxilia na compreensão do grau de vulnerabilidade e resiliência dos indivíduos aos contextos estressores ao longo da vida. Em primeiro lugar, o ciclo ou ritmo circadiano possui influência sobre a concentração plasmática do hormônio cortisol no organismo, de tal forma que, havendo uma sincronização temporal com a alternância dia/noite, esse ciclo garante um pico de atividade durante o dia e uma queda da atividade à noite. Normalmente, a concentração plasmática do cortisol varia, então, ao longo do dia, sendo que ela é significativamente maior no período diurno do que noturno. Para investigar alterações nos níveis de cortisol advindas de outros fatores, é necessário levar em consideração essa variação própria do ritmo biológico do organismo, e para isso as medições, salivares ou sanguíneas, podem ser feitas repetidas vezes, em diferentes momentos do dia. Um outro instrumento que pode ser utilizado para realizar esse controle do ciclo circadiano em uma pesquisa sobre o cortisol é a Área Abaixo da Curva (AUCg). Este oferece uma medida mais precisa de um valor único de cortisol do indivíduo para um determinado dia, levando em consideração as variações desse hormônio resultantes do ciclo circadiano. Dos 19 artigos selecionados para análise, apenas 5 deles fizeram uso da Área Abaixo da Curva (AUCg) para controlar o ciclo circadiano, enquanto outros realizaram medidas repetidas do cortisol, em horários diversos, para este fim. Em alguns estudos, não houve controle do ciclo circadiano. Foram identificados pelas autoras cinco temas gerais sobre os quais tratam os artigos. São eles: cortisol e comportamentos externalizantes, cortisol e desenvolvimento na adolescência, cortisol e problemas emocionais e comportamentais, cortisol e comportamentos de risco à saúde, e cortisol e impactos da violência (estresse pós- traumático por abuso sexual, suicídio e automutilação). Em se tratando da relação entre o cortisol e o desenvolvimento na adolescência, o estudo de Netherton et al. (2004) buscou investigar possíveis relações entre as concentrações de cortisol e dehydroepiandrosterone (DHEA) no organismo e o gênero e estágio maturacional de desenvolvimento de crianças e adolescentes, entre oito e 16 anos. O que se descobriu foi que as concentrações de ambos esses hormônios são significativamente maiores em pré-púberes, além de que, nesse momento do desenvolvimento que é a puberdade, não se identificaram diferenças significativas dessa variável quanto ao gênero. Mas, em meninos, verificou-se uma associação significativa entre o cortisol e o Índice de Massa Corporal (IMC), e em ambos os gêneros houve uma associação forte da idade com as concentrações de DHEA diurno e noturno. No estudo de Sumter et al. (2010), a investigação das relações entre os níveis de estresse desencadeados em situações de avaliação social e a idade e o desenvolvimento puberal apontou no sentido de que há um aumento das respostas fisiológicas de estresse durante a adolescência, pois houve uma associação significativa entre a idade e a maturação analisadas conjuntamente, de um lado, e o aumento do cortisol, de outro. Já o estudo de Reynolds et al. (2013), com adolescentes de em média 16,6 anos, encontrou que durante o processo de maturação pode haver uma desregulação do eixo HPA e um consequente aumento da concentração de cortisol diurno, ao despertar. Realizando uma pesquisa longitudinal com 410 adolescentes, iniciando aos 15 anos e encerrando aos 17 anos, Platje et al. (2012) concluíram que as respostas de cortisol medidas nos 30 e 60 minutos após acordar aumentaram significativamente ao longo desse período, o que sugere uma relação entre o desenvolvimento dos adolescentes e a maturação das respostas do eixo HPA. Adentrando nos estudos a respeito da relação entre o cortisol e problemas emocionais e comportamentais em adolescentes, existe uma relação entre um nível mais elevado de cortisol pela manhã e a presença de distúrbios como a ansiedade e a depressão em adolescentes, mas quando estes são analisados longitudinalmente, a tendência é uma diminuição, enquanto que a presença de manifestações disjuntivas como comportamento desafiador-opositor, violação de regras e agressividade em adolescentes está associada a alterações na resposta de cortisol diurno que vêm desde a infância. Quando se trata de comportamentos problemáticos severos, a desregulação do cortisol é ainda mais acentuada. Schiefelbein e Susman (2006) analisaram os quadros de ansiedade generalizada e ansiedade social em adolescentes enquanto distúrbios que podem estar relacionados aos níveis de estresse e às concentrações de cortisol. Encontraram que, em meninas, existe uma associação positiva entre os quadros de ansiedade e o cortisol, de modo que o aumento da resposta desse hormônio ao longo do ano serviu como preditor da ansiedade para este grupo. Portanto, concluíram que existem diferenças em termos de gênero para as respostas fisiológicas de ansiedade. Marceau et al. (2012) buscaram avaliar as possíveis relações entre a reatividade dos hormônios testosterona, DHEA e cortisol e a presença de problemas familiares e emoções negativas, em adolescentes, durante um período de um ano de avaliação. Foi descoberto que a testosterona consiste em um preditor de problemas familiares após um ano da primeira avaliação, enquanto o DHEA foi preditor de emoções negativas entre 6 e 12 meses. Já o cortisol não foi preditor de nenhum fator analisado. Por sua vez, o estudo de Stalnacke et al. (2013) se direcionou ao estudo de adolescentes que, durante o período pré-uterino, foram expostos de maneira prolongada a corticosteroides, mas não foram encontradas, nesse estudo, associações significativas entre essa exposição e déficits no funcionamento cognitivo superior, na atenção autorrelatada, na adaptabilidade ou nas funções psicológicas gerais. É sugerido que seja feita uma comparação entre esses resultados específicos e os de outras pesquisas sobre os efeitos da exposição prolongada ao estresse excessivo na fase inicial de desenvolvimento, que mostraram uma relação desta com alterações na estrutura geral do cérebro. O estudo de Harkness et al. (2011) investigou a hipótese de que a relação entre o aumento dos níveis de cortisol em situações de estresse psicológico e a presença de um histórico de maus-tratos na infância, em adolescentes depressivos, poderia ser um fator moderador da severidade do distúrbio depressivo. Para isso, foram estudados adolescentes que não tinham depressão, que tinham depressão moderada e também adolescentes com depressão severa. Diante dos resultados, foi constatado que, em adolescentes com depressão moderada, com histórico de maus-tratos, as respostas fisiológicas de cortisol eram de fato maiores em concentração e mais prolongadas. Entretanto, quando se tratou de adolescentes com depressão severa, a resposta de cortisol se apresentou diminuída. Em conclusão, se mostrou necessário levar em consideração a influência de fatores como a depressão e histórico de maus-tratos ao investigar os níveis de resposta de estresse, pois eles podem estar se constituindo em variáveis que mascaram esses níveis. No tópico sobre cortisol e problemas externalizantes, foram avaliadas as relações entre cortisol e comportamentos antissociais e agressivos. Susman et al. (2010) delinearam uma pesquisa para tentar identificar associações entre a puberdade precoce ou tardia, juntamente com as concentrações de cortisol e alfa-milase nesse estágio maturacional, e os comportamentos antissociais. Ao estudar indivíduos de diferentes idades, mas que se encontravam em um mesmo nível de maturação, verificaram uma relação significativa entre uma alta concentração de cortisol e a ocorrência de comportamentos como a quebra de regras, em adolescentes do sexo masculino que entraram na puberdade tardiamente. Por outro lado, uma relação significativa entre a baixa concentração de alfa-milase e comportamentos disruptivos foi verificada nos meninos de puberdade precoce. Ou seja, é possível dizer que o tempo de maturação em adolescentes homens constitui em um moderador das relações entre as respostas fisiológicas de cortisol e alfa-milase e a presença de comportamentos antissociais. Vries-Bouw et al. (2012) encontraram em sua pesquisa resultados que vão de encontro aos resultados encontrados por Susman et al. (2010) descritos anteriormente. Ao avaliarem as respostas de alfa-milase salivar, cortisol salivar, e a frequência cardíaca (FC) e variabilidade de frequência cardíaca (VFC) no contexto de uma entrevista, de 64 rapazes, tentaram encontrar uma relação com presença de comportamentos disruptivos. Ao compararem jovens delinquentes, sendo que alguns possuíam transtorno comportamental disruptivo e outros não, e jovens do grupo controle, perceberam a existência de uma relação inversamente proporcional entre as concentrações de alfa- milase e cortisol e os comportamentos disruptivos, ou seja, quando diminuíam as concentrações desses hormônios, aumentavam esses comportamentos. Mas, em comparação com o grupo controle, os jovens delinquentes apresentaram níveis maiores de cortisol e alfa-milase. Já em um estudo relacionado a identificar possíveis associações significativas em adolescentes de ambos os sexos entre os níveis de cortisol e testosterona e a manifestação de indicadores de comportamento antissocial, Loney et al. (2006) foram capazes de verificar apenas nos meninos uma associação significativa entre os baixos níveis de cortisol salivar de repouso e um acentuado comportamento antissocial. No que diz respeito a meninas, um estudo realizado somente com indivíduos do gênero feminino buscou comparar as amostras de hormônios gonadais e andrógenos adrenais com a incidência de transtornos de conduta. Pajer et al. (2006) conseguiram encontrar que em meninas com transtornos de conduta e comportamento agressivo, havia concentração significativamente menor de cortisol, e maior de testosterona, além de menor concentração de hormônio sexual na globulina. Both et al. (2008) tiveram como achado a constatação de que, em adolescentes do gênero feminino, menores níveis de cortisol eram um indicativo de uma pior qualidade das relações sociais. E, por fim, Nickel et al. (2005) realizam uma pesquisa interventiva em adolescentes homens para verificar a eficácia da prática de relaxamento muscular progressivo no controle da raiva. O tratamento se mostrou efetivo ao final de oito semanas, no sentido de promover o controle do estresse e comportamento agressivo. No estudo da relação entre o cortisol e comportamentos de risco para a saúde, como o uso e o abuso de substâncias químicas (álcool e tabaco), tem sido constatada uma associação entre o funcionamento do eixo HPA, no que diz respeito às oscilações na concentração do cortisol ao longo do dia, e o consumo dessas substâncias. Ao estudarem adolescentes de 10 a 12 anos e, depois, em um follow up de dois anos, quando tinham de 12 a 14 anos, Huizink et al. (2009) tentaram identificar se as concentrações de cortisol estariam relacionadas com o comportamento futuro de fumar e beber desses adolescentes e se o uso de substâncias por parte dos pais dos adolescentes estaria também relacionado. Os resultados mostraram que apenas o uso materno de substâncias químicas teve correlação significativa com um aumento do cortisol dos adolescentes às 20 horas, mas o uso de substâncias químicas pelos pais foi associado a uma maior tendência ao beber e fumar para adolescentes entre 13 e 14 anos. Além disso, foi encontrado que os altos níveis de cortisol eram preditivos moderados do comportamento de fumar no futuro, mais especificamente no início da adolescência. Rao et al. (2009) desenvolveram um estudo para tentar mapear as relações entre o estresse e o desenvolvimento do comportamento de fumar em adolescentes, e entre esses fatores e a presença e progressão do distúrbio da depressão. Eles encontraram uma relação significativa entre a maior concentração de cortisol noturno e o desenvolvimento e manutenção do comportamento de fumar, além de que, de uma maneira geral, a ocorrência de fatores estressores aumentava a chance desse comportamento ocorrer, tanto em adolescentes com depressão quanto naqueles sem esse distúrbio. Mas também foi encontrado que o comportamento de fumar foi preditivo de uma maior frequência de episódios depressivos. Nesse sentido, é possível levantar a hipótese de que a associação entre a depressão e o hábito de fumar pode ser explicada, em parte, por esse mecanismo do estresse e funcionamento do eixo HPA. Considerando agora os impactos do abuso sexual nos mecanismos da resposta fisiológica de estresse, Gustafsson, Nelson e Gustafsson (2010) estudaram adolescentes vítimas de abuso sexual em termos da correlação entre as variáveis psicológicas e o cortisol diurno, e foi encontrada, de fato, uma relação significativa entre os sintomas psiquiátricos e as concentrações de cortisol. Já a pesquisa de Young (2010) não conseguiu verificar uma associação entre o cortisol matutino, a ocorrência de trauma e a tentativa de suicídio ou ideação suicida. Kaess et al. (2012), ao investigarem a resposta neuroendócrina de adolescentes meninas que participavam de um Programa de Automutilação Não Suicida (NSSI – Nonsuicidal Self- -Injury), chegaram à conclusão de que havia uma resposta atenuada do cortisol em relação ao estresse agudo. De um modo geral, durante a fase de desenvolvimento da adolescência, diversos fatores entrarão em convergência para mediar a ocorrência das respostas biológicas para situações de estresse, como os fatores ambientais, genéticos e epigenéticos, as diferenças de gênero e idade, o padrão de funcionamento do eixo HPA e a inoculação do estresse. O que se conclui é que adolescentes são submetidos a alterações da concentração de cortisol, especialmente em termos de crescimento maturacional e puberdade, o que levanta questões a respeito de um possível efeito modulador do sexo sobre a responsividade ao estresse, ou seja, sobre a resiliência ao estresse. Por essas alterações hormonais apresentarem consequências para a saúde mental e comportamental dos adolescentes, seria necessária uma maior atenção aos exames dessa medida fisiológica por parte de clínicas psicológicas que lidam com o tratamento de adolescentes, o que poderia auxiliar inclusive no diagnóstico. Desse modo, a psicobiologia pode oferecer uma chave de compreensão para a forma como o ambiente e as interações dos indivíduos podem explicar parcialmente a origem de problemas de várias naturezas e que permanecem pouco elucidados em termos etiológicos. O artigo Depressão pós-parto: fatores de risco e repercussões no desenvolvimento infantil consiste em uma revisão bibliográfica da temática da depressão pós-parto em seus aspectos conceituais, epidemiológicos, etiológicos e de repercussões na relação mãe-filho e no desenvolvimento da criança. A depressão pós-parto (DPP) pode ser definida como um espectro de transtornos depressivos e ansiosos que surgem, geralmente, no período de quatro a oito semanas após o parto. A sintomatologia desse quadro consiste em: irritabilidade, choro frequente, sentimentos de desamparo e desesperança, falta de energia e motivação, desinteresse sexual, alterações alimentares e do sono, sensação de ser incapaz de lidar com novas situações e queixas psicossomáticas. Outros sintomas incluem a cefaléia, dores nas costas, erupções vaginais e dor abdominal, sem causa orgânica aparente. Além da depressão pós-parto, existem outros transtornos do humor que podem ser identificados na mulher durante o período perinatal, como o “baby blues” ou tristeza pós- parto, e as psicoses puerperais. O “baby blues” ocorre geralmente entre o segundo e o quinto dia após o parto e está relacionado à volatilidade emotiva transitória, com remissão espontânea. Por sua vez, as psicoses puerperais são episódios mais graves, caracterizados pela ocorrência de pensamentos delirantes em relação ao bebê e que podem ocasionar em riscos de inflição de danos a este. Estudos vêm demonstrando a importância da detecção precoce da depressão pós- parto, levando em consideração que, no último trimestre da gravidez, é possível que a depressão possa estar se apresentando de maneira mascarada, por meio de sintomas como a ansiedade e a irritabilidade autodirecionada ou direcionada a outros, o que também pode dificultar o diagnóstico durante essa fase. De acordo com a maioria dos estudos, a DPP atinge de 10% a 15% das mulheres. Um estudo realizado na Clínica Obstétrica da Escola Médica da Universidade de São Paulo, realizado com mulheres de menor nível de escolaridade, apresentou uma prevalência de DPP de 15,9%, o que pode ser um indicativo da influência dessa variável na ocorrência do transtorno. O desenvolvimento de escalas como a Edinburgh Postnatal Depression Scale (EPDS) para realizar o diagnóstico da DPP e também medir o risco da ocorrência do transtorno nessa fase merece destaque. Em um estudo que avaliou mulheres entre três e seis meses após o parto a partir do uso da EPDS constatou sintomatologia depressiva em 32,9% delas. Já em outro estudo com mulheres no segundo ou terceiro dia após o parto, a utilidade da EPDS também foi verificada. A diferenciação entre episódios de humor no pós-parto e o chamado “baby blues” é essencial quando se leva em consideração que essa melancolia tem incidência em até 90% das mulheres e, portanto, é considerada normal durante os primeiros dias do puerpério, além de que é um fenômeno transitório. Existe uma multiplicidade de fatores que podem ser encontrados na origem da depressão pós-parto. Esses fatores podem ser associados às circunstâncias envolvendo o bebê, como prematuridade, intercorrências neonatais e malformações congênitas; podem ser fatores socioculturais, como morte de familiares, decepções na vida pessoal ou profissional, retomada de atividade profissional e situação social de solidão; fatores biológicos da mãe, como alterações hormonais; além de fatores psicopatológicos preexistentes. Mais recentemente, são apontados a baixa-autoestima, os problemas na situação conjugal e socioeconômica e a gravidez não planejada ou não desejada como fatores etiológicos desse transtorno. Segundo Reading e Reynolds (2001), é possível classificar os fatores de risco para a DPP em três categorias, sendo elas a qualidade dos relacionamentos interpessoais da mãe, particularmente com seu parceiro, as circunstâncias da gravidez e do parto e ocorrência de eventos de vida estressantes, e, por fim, as adversidades socioeconômicas. Pensando, primeiramente, em termos de relacionamentos interpessoais, um estudo conduzido com mulheres chinesas identificou o histórico de depressão, a depressão durante a gestação, a insatisfação conjugal e conflitos com a sogra como preditores significativos da depressão pós-parto. Chandran e col. (2002) também evidenciaram a baixa renda, o nascimento de uma filha quando um filho era desejado, as dificuldades de relacionamento com sogras e pais, adversidades na vida durante a gestação e falta de amparo médico. No que tange aos fatores de risco psicossociais, o estudo de Verkerk, Pop, Van Son e Van Heck (2003) avaliou a ocorrência da depressão pós-parto em grupos de mulheres enquadradas em diferentes níveis de risco, tomando como fatores de risco significativos a história prévia de depressão da mãe e a incidência de sintomatologia depressiva durante a gestação. Os resultados consistiram em 25% das mulheres do grupo de alto risco desenvolvendo depressão no primeiro ano após o parto, contra 6% das mulheres do grupo de baixo risco desenvolvendo depressão no mesmo período. Além disso, um fator preditivo da DPP seria também a presença de um histórico do próprio transtorno em gestações anteriores daquela mulher. Outros aspectos mencionados que foram relacionados com a depressão pós-parto consistem na observação de Olshansky (2003) a respeito do maior risco de depressão em puérperas com infertilidade prévia, a qual teve interferências em seus relacionamentos, a constatação de que a insatisfação em relação à imagem corporal também tem relação significativa, e o apontamento de Buist e Janson (2001) do histórico de abuso sexual em sua relação com depressão e ansiedade. Koo, Lynch e Cooper (2003) encontraram um risco de 1,81 do desenvolvimento de DPP em mulheres que tiveram um parto de emergência em relação aquelas que tiveram um parto sem complicações clínicas. McCoy, Beal e Watson (2003) buscaram mapear a importância dos fatores endócrinos para o aparecimento de DPP, mais especificamente no que diz respeito aos hormônios progesterona, estradiol, cortisol, CRH, prolactina, TSH, T3 e T4, quando associados aos fatores psicossociais. É necessário fazer referência ao funcionamento do mecanismo biológico de resposta ao estresse, que pode sofrer alterações devido a ocorrência de eventos adversos precoces que desencadeiam em riscos de aumento dos níveis de glicocorticoides em adultos, dos níveis de respostas ao estresse e de desenvolvimento de depressão. É demonstrada uma associação entre depressão pós-parto e maiores níveis de cortisol pela manhã, sendo que este padrão do hormônio cortisol vem sendo verificado enquanto preditor de maior depressão. Em se tratando dos fatores de risco para a ocorrência de episódios psicóticos no pós-parto, podem ser mencionadas a presença de episódios de humor anteriores e de um histórico prévio de Transtorno do Humor, especialmente Transtorno do Humor Bipolar do tipo I. O risco de recorrência de episódios de humor com características psicóticas no pós-parto é de 30 a 50% naquelas mulheres que apresentaram episódios desse tipo alguma vez. Evidências também apontam para um risco aumentado psicoses puerperais entre mulheres sem um histórico de Transtornos do Humor, mas com um histórico familiar de Transtornos Bipolares. Sobre as repercussões da depressão pós-parto na relação mãe-filho e no desenvolvimento infantil, a duração do transtorno depressivo está relacionada com uma diminuição da afetividade e cuidados da mãe em relação à criança, o que pode desencadear prejuízos no desenvolvimento cognitivo e social durante o primeiro ano de vida. Os problemas no desenvolvimento incluem também transtornos de conduta, comprometimento da saúde física, ligações inseguras e episódios depressivos. Quando se leva em consideração de que forma a depressão da mãe pode influenciar a relação interpessoal com seu bebê, Tronick e Weinberg (2000) apontaram que as mães expressavam mais afeto negativo e menos envolvimento com os bebês, em comparação com mães que não apresentavam depressão. Na perspectiva dos efeitos sobre os filhos, estes apresentaram dificuldades no envolvimento e manutenção das interações sociais e déficits na regulação afetiva, além de que muitos bebês de 12 meses tiveram baixos desempenhos em testes de desenvolvimento e altos níveis de apego inseguro com as mães. As atitudes das mães com DPP em relação aos filhos podem variar desde o desinteresse, medo de ficar a sós com o bebê, até ao comportamento de intrusividade excessiva que impede o descanso adequado deste. Algumas características das crianças dessas mães são: maior ansiedade, menos responsividade em interações sociais, menor atenção, menos sorrisos, menor felicidade, menor interação corporal, maiores dificuldades alimentares e de sono. Segundo Grace, Evindar e Stewart (2003), há pequenos efeitos da DPP no desenvolvimento cognitivo de crianças, nos quesitos linguagem e QI, particularmente em meninos. Hay e col. (2001) apontam que em crianças cujas mães apresentaram DPP por pelo menos 3 meses houve o desenvolvimento de problemas de atenção e dificuldades na aprendizagem de matemática, além de uma maior propensão a necessidades especiais de ensino aos 11 anos de idade. Meninos têm maiores prejuízos no índice de QI em comparação às meninas. Em compensação Fleming, Ruble, Flett e Shaul (1988) verificaram serem necessários estudos de seguimento mais longos nesse campo, uma vez que eles observaram que as diferenças comportamentais entre os filhos de mães com DPP e de mães sem esse transtorno, que existiam no primeiro e no terceiro meses de vida, acabaram desaparecendo aos 16 meses. O estudo de Meredith e Noller (2003) constatou que o estilo de apego das mães com depressão pós-parto em relação aos seus filhos é inseguro e que elas têm uma visão destes como sendo mais difíceis de lidar, mais lentos, exigentes e não adaptados. Além disso, essas mães mostraram maior hostilidade na relação com seus bebês, com maior rejeição, negligência e agressividade ao lidarem com eles. Em um estudo experimental com mães que sofreram de DPP e seus filhos e também com um grupo controle, a avaliação mostrou que o grupo experimental das mães era menos afetivo e mais ansioso e as crianças apresentaram desordens na alimentação e no sono, além de choro mais frequente. As díades do grupo experimental também apresentaram menor comunicação visual e vocal, menor interação e menor frequência de sorrisos. Aos 18 meses, as crianças do grupo experimental tiveram pior desempenho em tarefas e foram associadas mais frequentemente a um padrão de apego inseguro. Em relação ao tipo de apego, o risco de apego evitante é 11 vezes maior nos bebês de mães que tiveram sintomas de depressão pós-parto, mas, geralmente, os bebês do gênero feminino conseguem desenvolver mais apego seguro com suas mães em comparação com os do gênero masculino. Em outro estudo experimental, dessa vez com um grupo experimental de famílias em que a mãe havia apresentado sintomas depressivos no período de dois meses após o parto, e um grupo controle, foi encontrado que as crianças do grupo experimental tinham menos persistência em brincar com as mães e menor alegria/satisfação ao juntarem-se a elas após um tempo de afastamento, em comparação com as crianças do grupo controle. Destaca-se que foi encontrada também uma “interação compensatória” com a figura do pai nas crianças filhas de mães com sintomatologia depressiva. Ainda no que se refere à figura paterna, a depressão pós-parto é identificada como o mais forte preditor de depressão paterna no período pós-parto. O período do pós-parto é caracterizado por alterações neuroendócrinas e ajustamentos psicossociais que interferem no planejamento familiar subsequente, sendo que este também pode sofrer com as implicações a longo prazo de possíveis Transtornos do Humor pós-parto. Existem associações significativas entre a desnutrição da criança, a baixa inteligência materna e a DPP. Foi visto que esse transtorno pode acarretar problemas relacionais entre a mãe e seu bebê, além de consequências no desenvolvimento emocional, social e cognitivo da criança em seus primeiros meses de vida. Sendo assim, a identificação e prevenção da DPP se torna importante não apenas para a saúde da mãe, mas para evitar esses possíveis efeitos negativos. Para que isso ocorra, é necessário depositar uma atenção especial aos estados emocionais da mãe durante e após a gravidez, bem como verificar se ela conta com uma rede de apoio bem estruturada para ajudar a lidar com as mudanças psicológicas advindas da chegada do bebê. O diagnóstico do estado depressivo em mães é dificultado devido a presença de muitas queixas psicossomáticas, que podem ser reduzidas a aspectos da condição física da mulher. Outra parte importante do trabalho preventivo da DPP em mães consiste na detecção precoce dos fatores de risco envolvidos nessa doença. De uma maneira geral, os profissionais da saúde/educação que estejam desempenhando funções de acompanhamento de gestantes devem ser capacitados para reconhecer, diagnosticar e encaminhar famílias para o atendimento psicológico e, assim, contribuir para o desenvolvimento infantil saudável das crianças em questão. O artigo intitulado Hipotireoidismo e sua associação com transtornos depressivos: uma revisão de literatura apresenta uma revisão integrativa com objetivo de levantar estudos e hipóteses a respeito da relação entre hipotireoidismo e transtorno depressivo. Em primeiro lugar, para entender os distúrbios que podem acometer as concentrações normais de hormônios no organismo, é necessário elucidar o mecanismo de retroalimentação negativa e qual seu papel na manutenção dessas concentrações. O hormônio estimulador de tireotrofina (TRH), produzido no hipotálamo, é responsável por regular a produção do hormônio tireotrofina (TSH), que é uma glicoproteína que atua estimulando a síntese de outros hormônios pela tireoide. O que ocorre é que uma maior concentração de hormônio tireoidiano na corrente sanguínea irá inibir a liberação de TRH pelo hipotálamo e, consequentemente, a produção e secreção do TSH pela glândula também será inibida. Em contrapartida, níveis mais baixos de hormônio tireoidiano no sangue terão como efeito um aumento da liberação de TRH. É dessa maneira que a comunicação neuroendócrina trabalha para regular as oscilações das concentrações hormonais e retorná-las para quantidades apropriadas. Os hormônios tireoidianos atuam no organismo estimulando as células a consumirem oxigênio. Os distúrbios da tireoide, o hipotireoidismo e o hipertireoidismo, estão relacionados justamente aos hormônios sintetizados por essa glândula endócrina: a triidoritonina (T3) e a tiroxina (T4). No hipotireoidismo, ocorre uma diminuição da produção hormonal que leva à desaceleração do metabolismo, desencadeando sintomas como bradicardia e ganho de peso. Se a produção hormonal na tireoide for tão baixa a ponto da concentração de hormônio TSH ultrapassar 10 uIU / ml, o tratamento para hipotireoidismo passa a ser indicado. A causa mais comum do hipotireoidismo é a tireoidite autoimune, caracterizada por níveis elevados de citocinas inflamatórias, como a proteína C reativa (PCR), interleucina-6 (IL 6) e fator de necrose tumoral alfa (TNF-α). Essa condição inflamatória pode estar associada a patogênese de problemas como a disfunção endotelial, proliferação e migração de células musculares lisas e recrutamento de células inflamatórias, além de induzir a produção de interferon-gama e mediar a apoptose. A hipótese de que exista uma relação entre o hipotireoidismo e a depressão mora na constatação de que indivíduos com depressão podem ter elevadas taxas de anticorpos antitireoidianos – 20% de prevalência, contra 5% a 10% na população em geral. A associação entre um quadro de tireoidite subclínica autoimune e a depressão sugere que esta última também possa ser causada por alterações imunológicas ou vice-versa, ou ainda que a própria depressão seja um distúrbio autoimune. Isso porque, de um lado, vem sendo observado que pacientes com depressão possuem elevados níveis de marcadores inflamatórios, como citocinas imunes inatas, proteínas de fase aguda, quimiocinas e moléculas de adesão, e, de outro, o hipotireoidismo é um estado pró-inflamatório no qual se observam taxas elevadas de ocitocinas e também múltiplos sintomas depressivos. O hipotireoidismo subclínico (HSC) é uma condição caracterizada por níveis elevados de hormônio estimulador da tireoide (TSH) e níveis normais de tiroxina livre (T4). Apesar de estudos terem sido desenvolvidos no sentido de identificar a existência ou não de uma correlação entre o HSC e a depressão, os resultados têm se mostrado inconclusivos, não havendo ainda um consenso na área. No que diz respeito à hipótese de que a autoimunidade tireoidiana está associada à depressão, dois estudos merecem destaque: o de Dayan et al. (2012) que mostrou uma associação em 583 mulheres entre os níveis de anticorpos antiperioxidase tireoidiana (TPO) acima de 100 mU /l e os escores da Escala de Depressão de Edimburgo, e o de Kirim et al. (2012) que mostrou uma associação em 201 indivíduos com positividade para anticorpos TPO e pontuações elevadas na Escala de Avaliação de Depressão de Hamilton. A investigação sobre as possíveis relações entre a regulação de hormônios tireoidianos e os transtornos neuropsíquicos tem como base o conhecimento de que a via tireoidiana-psíquica é bidirecional. Isso significa que tanto as alterações na tireoide podem afetar o funcionamento do cérebro e, assim, provocar ou exacerbar patologias psiquiátricas, quanto os transtornos a nível neurológico podem promover distúrbios tireoidianos. Nesse sentido, é possível que mesmo pequenas alterações nos níveis de hormônios tireoidianos, que permaneçam dentro das faixas normais de concentração, ainda assim possam estar relacionadas a alterações nas funções cerebrais que envolvem a depressão. Poderia se argumentar que tais associações podem ser explicadas pelos impactos dos distúrbios hormonais nos níveis de serotonina e noradrenalina no sistema nervoso central, mais especificamente, nos déficits desses neurotransmissores. Vários estudos recentes vêm intentando relacionar o hipotireoidismo subclínico (HSC) ou “hipotireoidismo leve” com consequências neuropsiquiátricas e neurocognitivas, sem conclusões precisas sobre a natureza ou força dessa relação. Alguns desses estudos conseguiram demonstrar uma conexão entre o HSC e sintomas depressivos atuais, depressão maior atual e história de depressão maior ao longo da vida. Deve-se levar em consideração que o HSC pode afetar até 17,6% da população em geral, além de que a prevalência dessa condição aumenta com a idade: ela pode afetar até 22% das mulheres acima de 60 anos, sendo um pouco menos verificada em homens. Já se sabe que os hormônios da tireoide desempenham papel fundamental no funcionamento cerebral devido à observação das consequências neurológicas da deficiência de iodo, das mutações no gene MCT8 e do hipotireoidismo congênito, bem como devido à importância dos transportadores do hormônio tireoidiano e das desiodinases de iodotironina na entrega dos hormônios para o seu local de atuação. Mas além disso, outros estudos vêm demonstrando que os hormônios da tireoide também podem estar relacionados à neurotransmissão noradrenérgica e serotonérgica. Particularmente o estudo de Bauer et al. (2002) apontou a ocorrência de níveis aumentados de serotonina no córtex cerebral de ratos após a administração de T3, e diminuição da síntese de serotonina associada ao hipotireoidismo. O mecanismo que explicaria tais observações é caracterizado pela hipótese de que existiria um ciclo de feedback negativo segundo o qual a serotonina tem um efeito inibitório sobre a secreção do hormônio liberador de tireotropina (TRH). Ou seja, baixas concentrações de serotonina no cérebro acabariam por ativar o eixo hipotálamo-hipófise-tireoide. Já com relação ao hormônio T3, a serotonina possuiria uma correlação positiva, de tal forma que esse neurotransmissor apresenta aumento no hipertireoidismo. Outro achado que sugere uma relação entre tireoidiana e a depressão é aquele que constatou que os indivíduos em uso de tiroxina apresentam um bem-estar psicológico mais pobre do que seus homólogos que não possuem doença tireoidiana, mesmo quando se consideram apenas aqueles indivíduos cuja reposição de tiroxina é bioquimicamente adequada. Kramer et al. (2009) encontraram um uso significativamente maior de antidepressivos em idosos em uso de tiroxina. Entretanto, grandes estudos comunitários não foram capazes de identificar uma associação entre o bem-estar psicológico e a função tireoidiana. Dessa maneira, questiona-se se não poderia haver uma atribuição errônea de sintomas de baixo astral aos distúrbios tireoidianos, que na verdade seriam devido a uma causa independente, mas que estão sendo atribuídos a uma doença tireoidiana descoberta acidentalmente e que passa a ser tratada com o uso da tiroxina. Ou seja, a hipótese de que os indivíduos que usam tiroxina têm um bem-estar mental mais pobre seria falsa, e a falta de melhora dos sintomas depressivos com o tratamento geraria um “ciclo de atribuição incorreta” de causas. Isso fica ainda mais passível de questionamento quando se leva em consideração a população idosa de mulheres, na qual tanto a depressão quanto o hipotireoidismo subclínico são comuns, de tal forma que há uma prevalência razoável da sobreposição entre essas duas condições. O estudo experimental de Andrade Júnior et al. (2010) buscou identificar correlação entre a presença de depressão e ansiedade e o hipotireoidismo. Comparando pacientes com essa doença da tireoide e um grupo controle, verificaram que a presença concomitante de ansiedade e depressão foi cinco vezes maior, a ocorrência de sintomas ansiosos foi cerca de três vezes maior e a prevalência de sintomas depressivos foi 75% superior entre os casos. Outro estudo experimental, o de Oliveira et al. (2001), revisou os prontuários de 117 pacientes adultos com diagnóstico de hipotireoidismo primário, que podia ser cirúrgico, espontâneo clássico ou subclínico, para pesquisar sintomas psiquiátricos utilizados no diagnóstico de transtornos depressivos pelo DSM-IV. Dentre esses pacientes, 15 tinham diagnóstico de depressão e estavam em acompanhamento psiquiátrico com ou sem antidepressivos, 34 não apresentaram sintomas psiquiátricos e 68 apresentaram sintomas sugestivos de depressão. Desses 68 mencionados, dois apresentaram 5 sintomas psiquiátricos e 28 apresentaram 3 ou 4 sintomas, sendo que essas quantidades de sintomas foram associadas com depressão maior e distimia. O estudo de Bahls et al. (2004) encontrou níveis de T4 plasmático, total e livre, de 20% a 30% acima do limite normal em pacientes deprimidos. Tal fenômeno pode ser explicado pela hipercortisolemia, que se deve a uma desregulação do funcionamento do hipocampo, de tal forma que há uma inibição do eixo hipotálamo-hipófise. Como o hipocampo tem uma influência inibitória, a perda dessa influência pelo hipotálamo favoreceria a hipercortisolemia que, por sua vez, acarreta em um aumento da produção de T4, considerando que o cortisol estimula o hipotálamo a produzir o hormônio estimulador de tireotropina (TRH) e a consequente estimulação da função tireoidiana. Transtornos de humor podem estar associados a alterações no eixo hipotálamo- hipófise-tireoide (HHT), uma vez que alterações hormonais no sistema nervoso central, além de poderem causar distúrbios neuropsiquiátricos, podem também afetar esse eixo, o que serviria para explicar a associação entre o hipotireoidismo e a depressão. Um exemplo seria a associação entre a redução do nível de somatostatina no líquido cefalorraquidiano e o aumento do nível de TSH, em indivíduos com depressão. Outro exemplo seria a possível associação entre a deficiência de serotonina, verificada em pacientes com depressão, e alterações no eixo HHT. Quando se trata da relação entre hipotireoidismo, depressão e idade, a secreção de hormônios tireoidianos é reduzida com o aumento da idade, com um nível de T3 mais baixo, e a depressão costuma ser relatada entre pessoas de 35 a 45 anos. É importante destacar que os pacientes idosos com hipotireoidismo apresentam queixas que são pouco semelhantes entre si e mais sutis, o que dificulta o diagnóstico de depressão, ainda mais considerando que os sintomas que caracterizam o hipotireoidismo são variados e múltiplos naqueles que possuem essa doença, incluindo intolerância ao frio, ganho de peso, disfunção cognitiva e distúrbios do humor. Em conclusão, os estudos e pesquisas ainda não conseguiram elucidar, de maneira sistemática, qual seria a natureza da relação entre o eixo HHT e a depressão, bem como os mecanismos subjacentes às alterações tireoidianas encontradas em indivíduos deprimidos. As principais evidências encontradas no sentido de alterações do eixo HHT nesses indivíduos são: 1) aumento de T4 total e/ou livre, muitas vezes, dentro dos limites da normalidade, sendo característico o achado de T4 e/ou T4L plasmático elevado sem alterações de T3; 2) resposta exagerada ou diminuída do TSH ao desafio com TRH; 3) níveis elevados de anticorpos antitireoidianos presentes em 15% dos casos; e 4) concentração elevada de TRH no líquido céfalo-raquidiano de deprimidos. O artigo Oxitocina e comportamento humano é uma revisão integrativa de literatura que objetivou levantar evidências científicas a respeito do papel da ocitocina nas emoções e nas relações sociais humanas. De antemão, argumenta-se que, nos mamíferos não humanos, os receptores de ocitocina estão distribuídos ao longo de várias regiões cerebrais relacionadas com o controle nervoso central do estresse e da ansiedade e, também, dos comportamentos sociais, como cuidados parentais, formação de laços, memória social e agressão a terceiros. Além disso, esse hormônio neuropeptídeo pode ser encontrado atuando significativamente no sistema límbico, incluindo a amígdala, para a redução da ansiedade e modulação da resposta neuroendócrina ao estresse em interações sociais. A ocitocina é sintetizada no núcleo paraventricular e supraóptico do hipotálamo e é secretada para a circulação pela neurohipófise. Também é secretada pelo sistema nervoso central, atuando como um neuromodulador. Nos seres humanos, a amígdala, que tem funções associadas aos comportamentos sociais, apresenta aglomerados de receptores para a ocitocina. O sistema nervoso oxitonérgico é significativamente influenciado pelos hormônios esteroides femininos, o que aponta para os diferentes efeitos da ocitocina observados entre homens e mulheres. Devido a uma complexa enervação da região paraventricular do hipotálamo, a liberação de ocitocina pode ser estimulada pela acetilcolina, noradrenalina, dopamina, serotonina, entre outros neurotransmissores. Por meio de um mecanismo de ciclo de feedback positivo, a própria ocitocina estimula sua liberação. O toque, calor, estimulação do olfato, determinados tipos de sons e luzes podem funcionar como mediadores para secreção de ocitocina, bem como mecanismos psicológicos peculiares podem atuar como catalisadores da sua liberação, como interações sociais positivas, compreendendo o toque e o suporte psicológico; um ambiente confortável e positivo; psicoterapia envolvendo a transferência de suporte, calor humano e empatia. Ao apresentar evidências científicas sobre a influência da ocitocina no comportamento humano, o artigo menciona primeiramente a respeito da temática do estresse social e ansiedade. O estudo de Turner et al. (1999) com 25 mulheres saudáveis, nulíparas, e que não estavam realizando qualquer tratamento hormonal objetivava comparar as mudanças nas concentrações de ocitocina plasmática desencadeadas a partir de três intervenções distintas, sendo elas a aplicação de massagem relaxante, a indução de uma emoção positiva e a indução de uma emoção negativa. Foram analisados os níveis de ocitocina antes de cada intervenção, durante e após. Para a massagem relaxante, 63% das mulheres registrou um aumento de significância limítrofe da ocitocina; para a indução de emoção positiva, 44% das participantes tiveram um aumento da ocitocina em resposta. Foi observada uma tendência de aquelas que tiveram um aumento nos níveis de ocitocina em resposta à emoção positiva também apresentaram um aumento em resposta à aplicação da massagem relaxante. Em contrapartida, a liberação de ocitocina pareceu ser inibida em resposta à emoção negativa, pois houve uma tendência geral de baixos níveis de ocitocina durante e após a indução da emoção negativa, em comparação com a baseline (BAS1). Em 56% das participantes, houve uma diminuição da concentração de ocitocina em resposta a emoções associadas à perda e ao abandono. As diferenças observadas entre as mulheres no que diz respeito às respostas hormonais podem ser atribuídas ao fato de que características interpessoais podem mediar os efeitos das intervenções sobre a mudança da ocitocina plasmática. Foi encontrado que as participantes nas quais foi observado um aumento dos níveis de ocitocina para a emoção positiva e massagem relaxante reportavam menos problemas interpessoais associados com a intromissão (i.e. ser inapropriado, procura de atenção e dificuldade em passar algum tempo sozinho). Além disso, nessas participantes, também foi observada uma correlação negativa com comportamentos de apego em excesso a terceiros, como ter confiança excessiva nos outros e ser permissivo nas relações. Altos níveis de ocitocina na baseline foram associados com relações interpessoais menos estressantes. Os efeitos das respostas hormonais em um determinado comportamento podem depender da história familiar, do gênero, de acontecimentos ao longo do desenvolvimento humano da pessoa, principalmente em períodos críticos como o período perinatal ou a puberdade, o que corrobora com os achados do estudo de Turner et al. (1999). Um outro estudo experimental, desenvolvido por Domes et al. (2007), testou a hipótese de que o hormônio ocitocina desempenharia um papel de atenuar o lado direito da amígdala em resposta a expressões faciais, tanto as felizes como aquelas em presença de emoções negativas. O objetivo era que uma resposta reduzida da amígdala à raiva e ao medo corroborasse os efeitos de redução de estresse e ansiedade da ocitocina. De fato, ao administrarem aleatoriamente uma dose de 24UI de ocitocina ou uma solução placebo por via intranasal em participantes, 50 minutos antes de serem submetidos a uma situação de estresse, foi observado que aqueles sem suporte social e com administração do placebo tiveram uma diminuição esperada na calma e um aumento nos níveis de ansiedade durante o experimento. Em contrapartida, aqueles participantes que haviam recebido suporte social, ou a dose de ocitocina ou ambos os fatores, obtiveram um aumento na calma e uma diminuição da ansiedade durante a situação estressante. Portanto, os resultados do estudo confirmam os efeitos ansiolíticos da administração nasal de ocitocina. Tratando a respeito do papel da ocitocina nos mecanismos de cognição e aproximação social, Kosfeld et al. (2005) realizaram um estudo experimental no qual compararam os comportamentos de confiança entre um grupo de sujeitos que recebeu uma dose intranasal de 24 UI de ocitocina e outro grupo que recebeu uma dose placebo. Foi realizado com os participantes o “jogo da confiança” (trust experiment) no qual dois sujeitos contatam anonimamente com elevadas quantias de dinheiro. O investidor dá dinheiro ao segundo sujeito para que este possa aumentar os lucros, mas quer um, quer outro, pode, a qualquer momento, desonrar o contrato feito. De acordo com os resultados do experimento, a ocitocina aumentou consideravelmente a confiança dos investidores, pois 45% dos sujeitos no grupo que recebeu a dose de ocitocina mostraram nível máximo de confiança (fazendo apostas com o montante mais elevado), contra 21% dos sujeitos no grupo placebo. Entretanto, ainda com relação ao estudo de Kosfeld et al., poderia ser questionado se ocitocina não seria, então, responsável por ajudar as pessoas a ultrapassarem uma aversão ao risco, e não necessariamente atuaria aumentando os comportamentos de confiança nas interações sociais. Nesse sentido, para tentar elucidar tal questionamento, os autores realizaram um outro experimento, dessa vez o risk experiment, no qual o risco do investidor era determinado aleatoriamente e não estava relacionado com a decisão de confiar na pessoa a qual ele dava o dinheiro. Foi utilizado o mesmo delineamento com um grupo de sujeitos que recebeu a dose de ocitocina e um grupo que recebeu o placebo, mas, dessa vez, não houve diferença nos resultados. Apenas 10% dos sujeitos em que foi administrada a ocitocina optaram pelo máximo valor de transferência nesse último experimento. A comparação entre o primeiro e o segundo estudo sugere que a ocitocina não aumenta a prontidão para enfrentar riscos em geral, mas sim aumenta a vontade individual de aceitar riscos sociais nas relações interpessoais. O papel da ocitocina no aumento da confiança em interações sociais pode estar relacionado a uma diminuição da ativação dos circuitos envolvidos no processamento do medo, como a amígdala. A ocitocina também foi investigada quanto a sua correlação com a habilidade de inferir estados mentais de terceiros a partir de pistas faciais, que é conhecida como “capacidade para ler a mente”. Essa habilidade é considerada basilar para o contexto das interações sociais, e considerando que a ocitocina seja importante para a modulação dos comportamentos sociais, é possível levantar a hipótese de que esse hormônio neuropeptídeo desempenha uma função relevante na habilidade mind-reading. Foram administradas em um grupo de 30 homens uma dose de ocitocina (24 UI) ou uma dose de placebo, 45 minutos antes de serem submetidos ao teste Reading the Mind in the Eyes Test (RMET). Nesse teste, os participantes visualizam 36 imagens da região do olho de pessoas, numa tela de computador, podendo escolher entre quatro descrições do que, presumivelmente, as pessoas representadas estariam pensando ou sentindo. O grupo de sujeitos que recebeu a dose de ocitocina teve uma performance melhor no RMET, demonstrando que a habilidade para “ler a mente” sofre um aumento significativo diante da ação da ocitocina, permitindo a interpretação de pistas sociais sutis a partir da visualização da região do olho das pessoas. Considerando todas as evidências dos estudos científicos apresentados, percebe- se que a ocitocina tem papel modulador na percepção e cognição social, bem como no comportamento de sociabilidade, no sentido da formação de laços interpessoais e da aproximação entre pessoas. Isso está relacionado aos efeitos ansiolíticos da liberação desse hormônio no sistema nervoso central, além da modulação de funções cognitivas como a confiança e o reconhecimento de estados emocionais em terceiros. Os estudos apontam que os efeitos da ocitocina no sistema nervoso central envolvem a modulação da atividade da amígdala e com certas áreas corticais. As descobertas envolvendo o papel da ocitocina na cognição social têm implicações no que se sabe sobre certas patologias como o autismo e a esquizofrenia. Foi constatado que as concentrações plasmáticas de ocitocina são menores em pessoas com autismo, quando comparadas com pessoas saudáveis. Os transtornos do espectro autista e a esquizofrenia, de maneira geral, são caracterizados por uma tendência a não conseguir interpretar pistas faciais. Segundo Bratz e Hollander (2006), a administração de ocitocina em crianças com autismo limita os comportamentos repetitivos e melhora o processamento de informações sociais. Consequentemente, o tratamento de patologias como as citadas, bem como de pessoas que sofrem com distúrbios de ansiedade, pode receber contribuições a partir do conhecimento sobre os efeitos da ocitocina no sistema neuropsicológico. Um exemplo seria a aplicação de massagem relaxante, que aumenta os níveis de ocitocina no plasma, e pode, assim, promover um controle da ansiedade, aumentar a calma e a confiança interpessoal. Poderiam ser incorporadas intervenções como essa e também a indução de emoções positivas, como a imagem guiada, com o objetivo de estimular a cognição social em pacientes com autismo e esquizofrenia, bem como diminuir a ansiedade em pacientes que sofrem de patologias psiquiátricas relacionadas a esse sintoma. Por fim, é importante destacar que a ocitocina não deve ser considerada como um hormônio que atua de maneira isolada no organismo. As alterações nos níveis desse neuropeptídeo em resposta a estimulações emocionais nos levam a crer que a ocitocina está imbricada no funcionamento do sistema límbico, mas deve ser considerada também a influência de características interpessoais de cada indivíduo na regulação dessas respostas neurofisiológicas.