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DIREITO DA CONCORRÊNCIA

Ano letivo: 2018/2019 Época Normal Data: 5/4/2019

Exame Final
Cursos: CP, PE, CPGMBE, CPMBAE, MM, PGMBAM Duração: 2 h 00 m
A integridade académica é um valor fundamental da FEUC. O Regulamento Disciplinar do Estudante da UC proíbe e sanciona as
várias formas de fraude académica. Durante a realização das provas escritas é exigido que:
• Não sejam usados materiais de consulta, máquinas calculadoras gráficas ou quaisquer outros equipamentos eletrónicos, exceto se
tal for explicitamente permitido pelo responsável da unidade curricular em causa;
• Não sejam transmitidas as questões da prova a outras pessoas;
• Sejam mantidos desligados quaisquer equipamentos de comunicação;
• Sejam utilizadas exclusivamente folhas de exame fornecidas pelos vigilantes da prova.
A comprovada fraude académica determina a anulação da prova, a impossibilidade de o/a Estudante concluir a unidade curricular com
aproveitamento, a comunicação à Diretora da FEUC e, eventualmente, a comunicação ao Reitor, para aplicação de sanções
disciplinares.

GRUPO I.
Distinga (responda apenas a duas das perguntas):
a) Cartel de acordo entre empresas restritivo da concorrência; (2 v.)
Noção de cartel (0,75 v); noção de acordo entre empresas restritivo da concorrência (0,75 v.); distinção (0,50 v.);
b) Abuso de exclusão de abuso de exploração; (2 v.)
Abuso de exclusão (caraterização) (0,75 v.); abuso de exploração (0,75 v.); distinção (0,50 v.)
c) Isenção individual de clemência; (2 v.)
Isenção individual (caraterização), (0,75 v.); clemência (0,75 v.); distinção (0,50 v.);
d) Coima de nulidade, quanto à entidade competente para a aplicação. (2 v.)
Coima (cateterização e entidade competente) (0,75 v.); nulidade (caraterização e entidade competente); distinção
quanto à entidade competente (0,50 v.)

GRUPO II.
Considere a seguinte factualidade:
a) A “Probom, indústria de conservas, S.A. (daqui em diante, Probom), com sede em Portugal, produz cogumelos e
outros bens de conserva que comercializa no território português através de distribuidores já instalados no
mercado e, além disso, vende diretamente ao público em lojas vocacionadas para o segmento “gourmet”.
b) No início de 2015, a Probom celebrou com vários supermercados portugueses um acordo mediante o qual a
primeira fornecia aos segundos lotes de cogumelos enlatados e os segundos obrigam-se: a) durante 10 anos a
não adquirir cogumelos enlatados a qualquer outro fornecedor; b) a vender os cogumelos pelo preço fixado pelo
fornecedor.
c) Em janeiro de 2018, a Probom, descontente com o incumprimento dos distribuidores, decide mudar de estratégia
empresarial assumindo o controlo de distribuição dos seus produtos. Para dar cumprimento a esta estratégia, a
Probom constitui a sociedade “Probom, Distribuição, S.A” (daqui em diante, Probom, Distribuição) de que a
primeira é a única sócia, detendo 100% do capital social.
d) Ainda em janeiro de 2018, a Probom e a Probom, Distribuição celebram um acordo mediante o qual fixam os
preços de venda dos cogumelos enlatados e concordam em que a última não distribuirá conservas de outros
fornecedores.
e) No início de janeiro de 2019, em ordem a preparar a proposta a apresentar a um concurso público de
fornecimento de conservas para entidades públicas, a Probom e outras cinco empresas concorrentes trocaram
informações de caráter não público e individualizadas sobre os preços e demais condições incluídas nas
propostas que cada uma iria apresentar a concurso. Esta troca de informações mostrou-se essencial a que cada
uma das empresas desenhasse a sua estratégia empresarial de forma mais esclarecida e informada.

Questões:
1. As empresas participantes no acordo celebrado no início de 2015 sustentam que:
a. Os acordos entre produtores e distribuidores não estão abrangidos pelas normas da concorrência;
[O direito da concorrência aplica-se a todas as atividades económicas (art. 2º da LC) (1 v.)
Acordos entre produtores e distribuidores são considerados acordos verticais. Noção de acordos
verticais (v. noção constante do art. 1º do Regulamento 330/2010) (1 v.)
A proibição de acordos verticais restritivos da concorrência resulta quer do art. 9º da LC quer do art. 101º
do TFUE (quando aplicável) (1 v.)
b. Se assim não se entender, deve considerar-se que o acordo celebrado em 2015 está justificado, pois
nenhuma das empresas tem mais de 10% da quota de mercado (no mercado relevante).
[Os acordos verticais beneficiam de um Regulamento de Isenção por categoria (Regulamento 330/2010),
aplicável a diversas formas de acordos de distribuição. O Regulamento 330/2010 estabelece um teto em
termos de quota de mercado (art. 3º), desde que nem o fornecedor nem o comprador disponham de uma
quota superior a 30% do mercado relevante, o acordo é abrangido pela isenção. Nos termos do art. 10º,
2, da LC, são justificados os acordos entre empresas que, embora não afetem o comércio entre os
Estados-Membros, preencham regulamentos de isenção (art. 10º da LC). Excetuam-se os acordos que
incluam as cláusulas proibidas no art 4º do Regulamento, qualificadas como restrições graves ou
hardcore, que correspondem a restrições pelo objeto (1 v.)
.
No caso em análise, a obrigação de vender os cogumelos pelo preço fixado pelo fornecedor, constitui
uma restrição grave, nos termos do art. 4º do Regulamento, em articulação com o art. 10º, 2, da LC. O
que determina a inaplicabilidade da isenção a este acordo. A obrigação de durante 10 anos a não
adquirir cogumelos enlatados a qualquer outro fornecedor constitui uma restrição excluída, nos termos
do art. 5º do Regulamento 330/2010. (1 v.)
As restrições hardcore previstas no Regulamento 330/2010 não são abrangidas pela Comunicação de
minimis de 2014, da Comissão Europeia. (1 v.)

Analise, separadamente, cada um destes argumentos, à luz das normas aplicáveis do direito da concorrência (3
v.+3 v.).
Continua, v.s.f.f.

2. Tendo em conta os factos ocorridos em janeiro de 2018, é adequado sustentar que entre a Probom e a Probom
Distribuição existe um acordo restritivo da concorrência? Justifique a sua resposta. (3 v.)
Noção de empresa, para efeitos do direito da concorrência, nos termos do art. 3º da LC (1 v.)
A proibição de acordos restritivos da concorrência exige que neles participem duas ou mais empresas. No caso
em análise, para efeitos da concorrência, há uma única empresa, tendo em conta o disposto no art. 3º, 2, a), da
LC. (1 v.)
Os factos ocorridos em janeiro de 2018 não configuram um acordo entre empresas, para efeitos do direito da
concorrência (1 v.)
3. Será adequado concluir que a factualidade relativa aos acontecimentos ocorridos em janeiro de 2019 configura
uma decisão de associação de empresas? Na sua resposta explicite o que entende por decisão de associação de
empresas. (3 v.)
[Caraterização de decisão de associação empresas – “expressão da vontade de representantes de membros de
uma profissão para que estes últimos adotem um comportamento determinado no quadro da sua atividade
económica” Ac. Wouters. As associações de empresas e as decisões de associações de empresas não são
proibidas pelo direito da concorrência. Mas é proibido que as atuações associativas ou a estas imputáveis sejam
suscetíveis de interferir com o processo concorrencial. (1,5 v.)
No caso em análise, os factos não configuram uma decisão de associação de empresas. Os factos indiciam uma
prática colusiva entre empresas, traduzida na troca de informações sensíveis, não públicas e com relevo
estratégico. Trata-se de prática concertada horizontal (1, 5 v.)]

4. Atualmente, a Probom tem 30% da quota de mercado (no mercado relevante). Nenhuma das suas principais
rivais tem mais de 5% da quota de mercado. Nestas circunstâncias, é adequado dizer que a Probom tem uma
posição dominante? Na sua resposta explicite o que se entende por posição dominante. (4 v.)
[A posição dominante não é proibida. Posição dominante de uma empresa confere-lhe uma especial
responsabilidade de não permitir que a sua conduta obste a uma concorrência efetiva e não falseada no
mercado. (0,5 v.)
Lei portuguesa e o TFUE não definem posição dominante. Posição dominante foi definida pela jurisprudência do
TJUE – “Posição de poder económico de que goza determinada empresa e que lhe permite evitar uma
concorrência efetiva em determinado mercado ao dar-lhe o poder de ter uma conduta, em larga medida,
independente dos seus concorrentes, dos seus clientes e mesmo dos consumidores” (United Brands). A
independência relaciona-se com o grau de pressão concorrencial a que a empresa está exposta - pressões
resultantes dos fornecimentos dos concorrentes atuais e da sua posição no mercado; pressões resultantes de um
risco credível de uma futura expansão dos atuais concorrentes ou de entrada de concorrentes; pressões
resultantes da capacidade de negociação dos clientes da empresa. (1,5 v.)
As quotas de mercado têm perdido peso na aferição da posição dominante. No entanto, em casos de “quotas de
mercado inferiores a 40% é pouco provável que exista posição dominante” (Comissão Europeia). Eventual relevo
de outros critérios (1 v.)]

Material de Consulta: O exame realiza-se com consulta, desde que seja de elementos em suporte de papel. Não é
permitida a utilização de telemóveis, computadores ou outros dispositivos eletrónicos.

Publicação das notas: As notas serão publicadas no prazo regulamentar.

Votos de bom trabalho.

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