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A Sala dos Passos Perdidos

O nome dado a esta sala, num primeiro momento, pode parecer estranho; à primeira vista, sem
um significado. Mas ao se refletir um pouco, o nome sugere ser um local onde se caminha sem
chegar a lugar algum.

Se formos buscar no passado significados para este nome, encontramos algumas referências
interessantes.

Existe uma expressão francesa, “salles des pas perdus”, cuja tradução seria justamente salas
dos passos perdidos, para designar espaços que não são de nossa origem, talvez nem de
nosso destino, e sim, espaços que servem apenas como transições. Segundo os franceses,
quando você se depara com uma “salle des pas perdus”, deve-se aproveitar o momento para
se adentrar e aproveitar para uma reflexão sobre uma caminhada mais solidária, mais
tolerante, com mais perdão e afeto.

Uma outra referência para este nome é encontrada na Inglaterra. Os fundadores do


Parlamento Inglês, em 1926, escolheram este mesmo nome para a sala de espera, onde as
pessoas aguardam as entrevistas com os parlamentares. O nome Passos Perdidos se encaixa
perfeitamente à denominação desse espaço, uma vez que nele as pessoas não têm destino
exato, circulam sem rumo definido, dão passos a esmo, que não levam a lugar algum.

No templo maçônico, o que é realmente a Sala dos Passos Perdidos?

É a ante-sala do templo, ou seja, uma sala que existe antes do templo, devendo ser o mais
confortável possível, servindo para a recepção dos visitantes e permanência dos obreiros, onde
ficam os Irmãos e Visitantes antes do início das sessões. Ali pode-se conversar livremente e
realizar atividades de recreação dos Maçons.

É o local onde todos chegam, se cumprimentam, são reatadas as conversas interrompidas, são
falados sobre os acontecimentos da semana, brinca-se, trata-se de negócios, o Tesoureiro faz
as cobranças, é assinado o Livro de Presenças, ou seja, uma reunião tipicamente social.

É o ambiente no qual os maçons transitam independentemente de qualquer ritualística,


preparando-se para a entrada ao Templo, dirigindo-se livremente em qualquer direção, como
se fosse uma sala de espera, onde os passos não são utilizados para ir a lugar algum, ou seja,
são considerados como passos perdidos, pelo que é denominada como Sala dos Passos
Perdidos.

Porém, apesar de se tratar de um ambiente “social”, não-ritualístico, a Sala dos Passos


Perdidos apresenta características próprias que a difere das salas de esperas comuns de
locais públicos. Nela se encontram avisos, quadros alegóricos, retratos de personalidades,
sejam maçônicos, históricos, filosóficos além de móveis e ornamentos austeros, a fim de se
criar um ambiente acolhedor e adequado para a condução a um bem-estar, uma organização
interior para se adentrar ao Átrio do Templo, que, por sua vez trata-se da preparação de
entrada ao Templo.

Se levarmos para o lado esotérico e místico, A Sala dos Passos Perdidos representaria o
consciente, onde se encontram os problemas do mundo profano, “de fora”. O Átrio do Templo,
por sua vez, e para que não seja confundido como a sala dos passos perdidos, representaria o
subconsciente, ou seja, onde são encontrados somente os problemas “de dentro” e onde seria
feita a preparação para o “hiper-consciente”, ou espírito, representado pelo Templo.
Simbolicamente, pode-se dizer que fora do Templo, fora da disciplina maçônica, os passos são
perdidos, sejam eles dados por profanos e seus desconhecimentos, sejam eles dados pelos
maçons, que por não estarem dentro do ritual maçônico, andam a esmo, sem rumo. É o lugar
onde suas ações e esforços tornam-se dispersos e em vãos. Como se todo o passo realizado
antes do ingresso à Maçonaria, ou que não combina com suas Leis, deve ser considerado,
simbolicamente, como perdido.

Em contraponto, ao deixar a sala dos passos perdidos e se adentrar ao templo, e se voltar para
a doutrina maçônica, todas as ações são organizadas. Unidos com os demais irmãos, pode-se
dar um destino, um caminho exato para as ações e os esforços dos maçons em prol do
desenvolvimento moral, espiritual e do bem estar da Humanidade. É nesta hora, dentro do
templo, onde tudo se organiza, que os passos não são mais perdidos, não são mais dados a
esmo, e então a sala dos passos perdidos passa a ser deixada no passado.

Rodrigo Lavieri Mendes


AøMø

Bibliografia:

Dicionário Ilustrado de Maçonaria


Santos, Sebastião Dodel dos
Biblioteca Maçônica, 1984

Rito Escocês Antigo e Aceito – 1º Grau - Aprendiz-Maçom


Grande Oriente do Brasil
São Paulo – Brasil, 2009

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