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O
tema
é,
deveras,
complexo,
pois
depende
da
interpretação
pessoal
de
cada
um
de
nós
e
possui
suas
raízes
nos
primórdios
da
civilização,
quando
o
ser
humano,
segundo
o
conhecimento
de
que
dispomos,
passou
a
deter
a
condição
de
ser
pensante,
diferenciando-‐se
dos
demais
seres
vivos.
Segundo
os
estudiosos
do
assunto,
cujas
áreas
envolvidas
estão
situadas
na
arqueologia,
teologia,
filosofia,
história,
etc...,
dos
quais
pode-‐se
citar
como
expoente
o
filósofo,
poeta,
romancista
e
historiador
das
religiões,
o
romeno
Mircea
Eliade,
autor
de
obras
como
“História
das
Crenças
e
das
Ideias
Religiosas”,
“O
Sagrado
e
o
Profano”,
“Mitos,
Sonhos
e
Mistérios”,
“O
mito
do
eterno
retorno”
e
“Ferreiros
e
Alquimistas”,
o
ser
humano
está
em
permanente
busca
das
razões
da
sua
existência,
confrontado
permanentemente
com
os
demais
elementos
do
universo
conhecido
e,
à
falta
de
respostas
satisfatórias
às
suas
dúvidas
existenciais,
acredita
em
um
ser
superior,
divino,
invisível,
poderoso,
inquestionável,
onipotente
e
onisciente,
entre
outros
atributos,
portanto
sagrado,
como
forma
de
aliviar
a
angústia
a
que
se
encontra
submetido.
A
crença
se
origina
do
mito,
que
vem
do
grego
antigo
mythos,
cujo
significado
é,
simplesmente,
palavra,
narrativa
ou
discurso,
constituindo-‐se
para
eles,
então,
a
antítese
do
logos,
por
meio
do
qual
os
filósofos
procuram
chegar
à
verdade,
enquanto
poetas,
historiadores
e
artistas
de
toda
a
espécie
procuram
chegar
à
verdade
por
meio
do
mythos.
Em
que
pese
a
expressão
ter
passado
por
uma
metamorfose
etimológica,
sendo
utilizada,
por
vezes,
para
definir
uma
mentira
ou
crença
estúpida,
mito,
na
realidade,
é
verdade,
e
tem
servido,
ao
longo
de
milhares
de
anos,
para
as
pessoas
contar
as
histórias
sagradas,
não
apenas
para
a
auto
compreensão,
mas
para
compreender
melhor
o
mundo
e
o
significado
por
trás
da
existência.
Diferente
de
fábulas
ou
lendas,
que
lidam
com
aspectos
da
moralidade
em
uma
determinada
sociedade
ou
cultura,
mitos
são
histórias
que
dizem
respeito
ao
nosso
relacionamento
interior
com
o
divino
ou
com
o
desconhecido,
sendo
reflexos
de
nossos
desejos,
necessidades
e
medos,
particulares
e
coletivos,
lembrando-‐nos
quem
somos
e
também
de
quão
pouco
nós,
seres
humanos,
mudamos
desde
as
mais
remotas
eras.
Os
mitos
foram
relatados
muito
antes
da
escrita
e
formam
a
base
da
maioria
das
religiões,
filosofias,
literaturas
e
arte
do
mundo,
revelando
a
magnificência
da
expressão
da
imaginação
humana,
criando
uma
linguagem
universal
por
meio
da
narrativa.
Os
mitos
nos
contam
a
sua
verdade
por
meio
de
símbolos
através
das
histórias
sagradas,
descrevendo
nossa
percepção
do
mundo
e
oferecendo
uma
chave
para
perguntas
como
“quem
sou
eu?”,
“como
me
encaixo
na
minha
cultura
ou
sociedade?”,
“como
devo
viver
minha
vida?”,
sendo
a
expressão
atemporal
da
imaginação,
tanto
individual
quanto
coletiva,
e
da
necessidade
de
compreender
quem
somos
no
universo.
A
mitologia,
portanto,
pela
personificação
das
forças
naturais
como
deuses
ou
deusas,
era
uma
forma
de
explicar
as
coisas
como
o
sol,
a
lua,
as
estrelas,
a
terra,
o
trovão,
a
chuva,
o
fogo
e
o
vento,
fornecendo
respostas
a
questões
como
o
começo
do
mundo
ou
do
universo,
ou
mesmo
por
que
somos
mortais.
Essas
histórias
sagradas
foram
transmitidas
em
forma
de
narrativa
oral,
de
geração
em
geração,
evoluindo
e
se
desenvolvendo
ao
longo
do
tempo,
até
se
tornar
a
base
de
muitas
religiões.
Na
tentativa
de
encontrar
um
propósito
racional
para
os
mitos,
uma
teoria
defende
que
os
criadores
de
mitos
eram
cientistas
primitivos
que
desejavam
explicar
como
o
mundo
passou
a
existir,
usando-‐os
para
explicar
os
rituais
e
cerimônias
relativos
aos
ciclos
da
natureza,
estabelecendo
lei
e
ordem
por
meio
das
tradições
orais
da
mitologia.
Outra
hipótese
é
a
de
que
os
mitos
eram
criados
para
que
os
seres
humanos
pudesse
tentar
ascender
ao
nível
dos
próprios
deuses!
Criação,
morte
e
renascimento
são
temas
ainda
hoje
importantes,
assim
como
a
justaposição
entre
o
mundo
inferior
e
superior,
e
os
mitos
a
respeito
satisfazem
nossa
necessidade
de
uma
noção
sobre
de
onde
viemos
e
para
onde
vamos
e
encontram-‐se
registrados
nas
mais
diversas
culturas,
sendo
comum
o
registro
da
existência
de
um
deus
criador.
Carl
Jung,
com
sua
teoria
do
inconsciente
coletivo,
acreditava
que
a
mitologia
reflete
as
memórias
e
imagens
compartilhadas
por
toda
a
humanidade,
revelando
temas
comuns,
como
a
maneira
com
que
o
universo
teve
início,
explicações
das
forças
da
natureza,
a
origem
das
pessoas,
regras
sociais
e
crenças,
bem
como
o
crescimento
psicológico
pessoal
e
coletivo.
O
mito,
portanto,
como
fonte
criadora
da
religião,
pode
nos
dar
o
caminho
para
a
compreensão
da
crença
do
homem
em
um
ser
superior.
E,
nesse
sentido,
a
religião
passa
a
ser
um
componente
fundamental
em
nossa
realidade,
uma
vez
que
sua
existência
está,
justamente,
calcada
no
objeto
de
nosso
estudo,
ou
seja,
a
crença
religiosa.
Convém
definir
o
que
seja
crença.
Assim,
a
crença
pode
ser
considerada
uma
sottomissione
(submissão)
voluntária
a
uma
verdade
maior,
simples,
indiscutível
como
"provado"
e,
portanto,
não
sujeito
às
decisões
da
razão.
Na
total
confiança
na
verdade
da
revelação
contida
nos
textos
sagrados.
A
crença
religiosa
é
um
dos
pilares
do
monoteísmo
(judaísmo,
cristianismo
e
islamismo).
Mais
exigente
no
segundo,
devido
ao
dogma
do
único
caminho
e
única
verdade
atribuídos
a
Jesus
de
Nazaré.
Já
a
doutrina
de
Maomé
admite
o
judaísmo
e
o
cristianismo
como
religiões
verdadeiras,
embora
obsoletas
em
relação
ao
Islã.
Segundo
a
teologia
cristã
e
muçulmana,
a
ausência
de
fé
nos
preceitos
da
religião
garante
ao
infiel
a
danação
eterna
após
a
morte
na
forma
de
permanência
irrevogável
de
sua
alma
no
Inferno.
Como
sinônimo
de
crença
temos
a
fé,
que
tem
a
seguinte
definição:
-‐
Fé
(do
Latim
fides,
fidelidade
e
do
Grego
pistia
)
é
a
firme
opinião
de
que
algo
é
verdade,
sem
qualquer
tipo
de
prova
ou
critério
objetivo
de
verificação,
pela
absoluta
confiança
que
depositamos
nesta
idéia
ou
fonte
de
transmissão.
2
A
fé
acompanha
absoluta
abstinência
à
dúvida
pelo
antagonismo
inerente
à
natureza
destes
fenômenos
psicológicos
e
lógica
conceitual.
Ou
seja,
é
impossível
duvidar
e
ter
fé
ao
mesmo
tempo.
A
expressão
se
relaciona
semanticamente
com
os
verbos
crer,
acreditar,
confiar
e
apostar,
embora
estes
três
últimos
não
necessariamente
exprimam
o
sentimento
de
fé,
posto
que
podem
embutir
dúvida
parcial
como
reconhecimento
de
um
possível
engano.
A
fé
se
manifesta
de
várias
maneiras
e
pode
estar
vinculada
a
questões
emocionais
(tais
como
reconforto
em
momentos
de
aflição
desprovidos
de
sinais
de
futura
melhora,
relacionando-‐se
com
esperança)
e
a
motivos
considerados
moralmente
nobres
ou
estritamente
pessoais
e
egoístas.
Pode
estar
direcionada
a
alguma
razão
específica
(que
a
justifique)
ou
mesmo
existir
sem
razão
definida.
E,
como
mencionado
anteriormente,
também
não
carece
absolutamente
de
qualquer
tipo
de
argumento
racional.
Portanto,
quando
dissemos
que
acreditamos
em
um
ser
superior,
estamos
afirmando
que
temos
fé,
em
nosso
caso,
no
G.A.D.U.,
ou
seja,
DEUS,
que
aceitamos
segundo
a
visão
judaica-‐cristã,
pura
e
simplesmente,
como
Deus
é!
Nesse
sentido,
a
Enciclopédia
Judaica
afirma
que
“a
existência
de
Deus
é
pressuposta
ao
longo
da
Bíblia
e
não
há
nenhuma
tentativa
em
nenhum
ponto
de
prová-‐la.”
No
âmbito
do
cristianismo,
a
“Suma
Teológica”,
de
São
Tomás
de
Aquino,
que
viveu
entre
1225
e
1274,
e
tido
como
um
dos
maiores
teólogos
da
cristandade,
propôs
cinco
argumentos
específicos
para
provar
a
existência
de
Deus,
chamados
por
muitos
de
“As
cinco
vias”,
quais
sejam:
1. Nada
pode
mover-‐se
sem
ter
um
motor.
E
dado
que
motores
podem
mover-‐se,
há
de
haver,
em
última
análise,
um
primeiro
motor,
o
qual
há
de
ser
Deus;
2. Visto
que
tudo
o
que
existe
tem
causa
para
existir,
então
há
de
haver
uma
causa
primeira,
que
existia,
mas
não
foi
causada.
Tudo
teve
de
ser
criado,
por
conseguinte,
e
o
criador
há
de
ter
sido
Deus.
3. Dado
que
causas
físicas
existem
e
são
necessariamente
criadas,
seu
criador,
portanto,
há
de
ser
uma
entidade
que
não
é
física
e
existia
antes
da
existência
material.
Isso
só
pode
ser
Deus.
4. Todas
as
qualidades
terrenas
diferem
por
graus,
como
em
bom
ou
mal,
honesto
ou
falso,
saudável
ou
doente
e,
visto
que
as
pessoas
tem
capacidade
de
variar
dentro
desses
parâmetros,
sucede
que
há
de
haver
um
padrão-‐base
de
perfeição
o
qual
é
imutável.
Isso
é
Deus.
5. Tudo
que
existe
foi
originalmente
ordenado.
Sucede
que
há
de
haver
um
criador
primeiro,
um
supremo
arquiteto
que
existe
e
não
foi
criado,
e
isso
é
Deus.
Blaise
Pascal,
matemático,
filósofo
e
físico
francês,
que
viveu
entre
1623
e
1662,
sendo
considerado,
ainda
hoje,
um
dos
precursores
da
teoria
do
risco,
pelos
seus
estudos
matemáticos
a
respeito
das
probabilidades,
largamente
utilizadas
seja
em
jogo,
seja
no
mercado
financeiro
ou
bolsa
de
valores,
acometido
de
dúvida
existencial,
escreveu
a
respeito,
o
que
foi
publicado,
em
1670,
em
obra
póstuma
denominada
“Apologética
da
Religião
Cristã”,
também
conhecida
como
“A
escolha
de
Pascal”.
Diz
ele:
-‐
“A
razão
não
pode
determinar
para
qual
caminho
se
inclinar,
mas
uma
consideração
de
3
efeitos
relevantes
pode.
Dado
que
somos
obrigados
a
escolher,
observemos
o
que
melhor
corresponde
aos
nossos
interesses.
Temos
duas
coisas
a
perder,
a
verdade
e
o
bem;
e
duas
coisas
a
arriscar,
nossa
razão
e
nosso
arbítrio,
nosso
conhecimento
e
nossa
felicidade.
E
nossa
natureza
tem
duas
coisas
das
quais
deve
se
abster:
do
erro
e
da
miséria.
A
razão
não
entra
em
atrito
consigo
mesmo
ao
escolher
uma
alternativa
em
vez
da
outra,
dado
que
somos
obrigados
a
escolher
(...)
Se
ganharmos,
ganhamos
tudo,
e
se
perdermos,
não
perderemos
nada.
Escolhamos,
então,
sem
hesitar,
que
‘Deus
é’”.
A
tese
de
Pascal,
sem
adentrar
para
análises
de
cunho
moral,
é
simples:
ainda
que
sejam
grandes
as
chances
da
não
existência
de
Deus,
há
uma
pequena,
para
não
dizer,
minúscula,
chance
de
que
ele
exista.
Ora,
se
Deus
não
existir
e
se
optar
por
acreditar
que
exista,
não
se
perde
nada;
Por
outro
lado,
diante
da
minúscula
possibilidade
da
sua
existência,
se
a
opção
for
por
não
acreditar,
e
Deus
existir,
perde-‐se
tudo,
ao
passo
que
se
a
opção
for
por
acreditar,
ganha-‐se
tudo.
Em
suma,
segundo
Pascal,
a
maneira
mais
segura
de
se
abordar
o
assunto
é
apostar
que
Deus
existe.
Próximo
do
final
de
sua
vida
Pascal
renegou
os
estudos
científicos,
retirando-‐se
para
um
convento
e
passou
a
viver
sob
o
regime
religioso,
até
a
sua
morte.
Com
isso,
concluímos
que
a
crença
do
homem
em
um
ser
superior
é
inata
à
natureza
humana,
transcendendo
à
própria
razão,
e
decorre
da
necessidade,
insatisfeita,
da
busca
pelo
auto
conhecimento
e
da
compreensão
da
magnitude
do
universo
e
do
papel
que
desempenhamos
nesse
contexto,
que
cada
vez
mais,
comprovadamente,
nos
dá
provas
de
quão
insignificantes
somos
diante
de
tudo,
apesar
do
privilégio
que
desfrutamos
por
sermos,
por
ora,
o
único
ser
dotado
de
razão.
Assim,
acreditar
em
um
ser
superior,
independente
das
motivações
ou
do
próprio
credo,
é
a
força
motriz
que
nos
impulsiona
rumo
à
perfeição
e
a
plenitude,
o
que,
modestamente,
exercitamos
nesta
oficina,
como
forma
de
abreviar
nossas
angústias
à
medida
que
caminhamos
em
direção
a
Deus.
Fontes
consultadas:
História
das
Crenças
e
das
Ideias
Religiosas
II;
Eliade,
Mircea,
Jorge
Zahar
Editor,
2011;
A
Origem
de
Deus;
Gardner,
Laurence,
Madras
Editora,
2011.
A
Bíblia
da
Mitologia;
Bartlet,
Sarah,
Ed.
Pensamento,
2011.
Enciclopédia
Livre
Wikipédia
-‐
Internet