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Análise do processo de desbaste e acabamento por fresamento do aço AISI P20 em

grupo de ferramentarias

Por: Alex S. de A. Silva


Jefferson de Oliveira Gomes
Guilherme Oliveira de Souza

O trabalho conjunto entre as indústrias e as instituições de pesquisa para a resolução de


problemas de construção de ferramentas tem se mostrado uma boa prática para a elevação da
competitividade deste setor.

Novas tecnologias e desenvolvimentos do ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica) foram


aplicadas em um grupo de seis ferramentarias da ACIJ (Associação Empresarial de Joinville
SC), visando a otimização do processo de fabricação de cavidades.

O tema de fresamento para desbaste e para acabamento foi escolhido para otimizar o
desempenho do processo de fresamento do grupo de empresas do núcleo de ferramentarias
da ACIJ. O desenvolvimento tecnológico nesta área de atuação resultou no aumento de
produtividade e conseqüentemente, na diminuição dos custos de fabricação de uma
ferramenta, aumentando a competitividade das empresas no seu ramo de negócio.

A proposta deste trabalho foi qualificar e otimizar o desbaste e o acabamento do aço P20,
baseado nos seguintes pontos:

- Otimização das estratégias de corte para desbaste e acabamento;


- Comparação da geometria de três ferramentas de corte com diâmetro definido para desbaste
e acabamento.
Todas as atividades deste projeto foram realizadas e coordenadas em conjunto pelas duas
instituições. O projeto contou ainda com o suporte tecnológico da AIM (Associação de
Inteligência em Manufatura).
- As etapas de estudo do desbaste e do acabamento foram regidas pelo seguinte roteiro:

Estratégias de corte para desbaste e acabamento. Foram as situações de estudo criadas pelo
grupo da ACIJ;
- No laboratório do ITA, foram reproduzidas estas situações, dentro da limitação encontrada,
tais como outra máquina-ferramenta, outro suporte de ferramenta, outra fixação e tamanho de
peça. No entanto foram considerados os mesmos balanços de ferramentas e parâmetros de
corte;
- As melhores práticas, estratégias de corte e ferramentas encontradas na matriz de ensaio
executada no ITA, foram aplicadas e analisadas no chão-de-fábrica das empresas
participantes;
Este projeto foi coordenado tecnicamente em conjunto por representante do ITA e por
representante da ACIJ.

PROCEDIMENTOS DOS ENSAIOS E CARACTERIZAÇÃO DOS PARÂMETROS DE CORTE


UTILIZADOS

Para o desenvolvimento da tecnologia de usinagem do aço AISI P20, tema do presente


trabalho, foram estabelecidos os seguintes tópicos:
- Desenvolvimento e implementação de estratégias de usinagem de desbaste para
características de processo usuais dessas ferramentarias;

Desenvolvimento e implementação de estratégias de usinagem para acabamento (qualidade


superficial máxima de Rz= 5 µm), para características de processo e;
- Identificação das ferramentas ideais para a usinagem do aço estudado (AISI P20). Para os

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testes de fresamento foi fixada uma matriz que incluía:
- Diferentes formas para os testes de fresamento (filetes, paredes e cavidades);

- Ferramentas diferentes com mesmo diâmetro para utilização em testes de desbaste e;


- Ferramentas diferentes com mesmo diâmetro para utilização em testes de acabamento.

PLANO EXPERIMENTAL PARA CADA TESTE

De maneira a organizar os procedimentos, desenvolveu-se um plano experimental para cada


um dos testes realizados, conforme descrito na seqüência a seguir:

a) Especificação da ferramenta de corte

A geometria padrão da ferramenta a ser utilizada apresentava as seguintes especificações,


sugeridas pela AIM e fornecidas pela Sandvik, em função das geometrias tipicamente
utilizadas:
- Geometria de desbaste: fresa de topo reto e toroidal, com insertos intercambiáveis de 25 mm
de diâmetro (Figura 1) e;
- Geometria de acabamento: fresa de topo esférico, com insertos intercambiáveis, diâmetro 16
mm
(Figura 2).

Figura 1 - Fresa de topo reto e toroidal

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Figura 2 - Fresa de topo esférico

b) Determinação dos parâmetros de usinagem


Os parâmetros de corte, tanto de desbaste quanto de acabamento, foram estipulados pelo ITA
como sendo os usuais, objetivando introduzir nos experimentos as condições possíveis de
aplicação no chão-de-fábrica.

c) Dimensionamento dos corpos de prova


As medidas do corpo de prova foram definidas de maneira que coubessem na mesa da
máquinaferramenta e que permitissem a execução das estratégias estipuladas para os
experimentos. Para um bom aproveitamento do material durante os ensaios, determinou- se a
utilização de blocos de 100 mm. Além disso, nestas dimensões os corpos de prova novos
ainda podem ser movimentados manualmente sem que haja a necessidade explícita de
equipamentos auxiliares para a carga da peça na máquina.

A usinagem somente foi realizada na região do corpo de prova em que as propriedades


mecânicas estavam homogêneas. Desse modo, a peça bruta foi primeiramente desbastada
para a remoção das superfícies oxidadas ou encruadas irregularmente, antes da execução de
qualquer ensaio.

METODOLOGIADOSENSAIOS

Antes do ensaio, foram preparadas folhas de registro de dados em uma seqüência pré-
definida. Cada folha de registro de dados era exclusiva de um conjunto de parâmetros de
usinagem (inserto, condições de usinagem e critério de fim de vida da ferramenta).

O suporte de fixação da ferramenta de corte foi mantido sempre na mesma posição, de modo a
assegurar o mesmo balanço de ferramenta para todas as situações. Antes da troca de cada
ferramenta de corte, garantiu-se a limpeza do assento do suporte, assegurando desta forma
um posicionamento adequado da ferramenta.

Os ensaios são diretamente influenciados pelo desenvolvimento dos materiais da ferramenta


de corte e revestimentos. A proposta para esse trabalho era aplicar as distintas geometrias
ensaiadas nas diversas situações de engajamento da ponta da ferramenta (semi-acabamento e
acabamento).

A eficiência das ferramentas de corte foi avaliada em função do comportamento das mesmas
nas diversas situações. A análise dos resultados seguiu os seguintes critérios:

- Medição do desvio da haste da ferramenta;

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- Acabamento da superfície usinada;
- Medição dos esforços da ferramenta de corte;
- Desenvolvimento de estratégias de semi-acabamento e acabamento;
- Medição de ruído e;
- Determinação da vida útil de ferramenta relativa às duas melhores ferramentas analisadas.

1. Metodologia para análise do desvio da haste da ferramenta de corte

O erro dimensional produzido na superfície da peça ocorre, fundamentalmente, pelo


deslocamento da haste da ferramenta. No caso do corte concordante, no momento da entrada
do gume na peça, a maior espessura de usinagem (h) provoca uma retração da haste da
ferramenta de corte, originando um erro dimensional na peça.

O comprimento da ferramenta (fator exponencial 3) e o diâmetro (fator exponencial 4)


influenciam diretamente no desvio da haste da ferramenta. Ou seja, o desvio será tanto maior
quanto maior for o comprimento da haste e quanto menor for o diâmetro da ferramenta de
corte.
Para os distintos modelos de geometrias da ponta das ferramentas, foi montada uma matriz de
parâmetros de corte, nas condições de acabamento, com duas variações de avanço por dente
(fz) PR fundidade de corte axial (ap) e profundidade de corte radial (ae).

2. Metodologia para análise do acabamento superficial das peças

Os parâmetros de rugosidade, R a (desvio médio aritmético de rugosidade ou rugosidade


média) e R z (profundidade média de rugosidade) foram medidos na direção do avanço e na
direção perpendicular ao avanço. Cada medição foi realizada três vezes nas respectivas
direções. Foi utilizado equipamento da Mitutoyo para este procedimento.

3. Metodologia para análise de estratégias de desbaste e acabamento

Em virtude das condições geométricas desvantajosas na fabricação de matrizes, a aplicação


das ferramentas de corte requer o uso de estratégias de corte orientadas, para evitar situações
de engajamento crítico da aresta de corte e assegurar as condições ótimas de usinagem.
Para a garantia de efetividade de processo no fresamento, é importante aplicar os resultados
obtidos nos passos descritos de “a” até “c” para as geometrias complexas.
Em parceria com o setor de CAD/CAM das empresas do grupo, foram definidas três
características geométricas complexas (cantos, esquinas e rampas), como apresentado na
Figura 3, e de engajamento da ferramenta de corte (entradas, saídas e mergulho) para cada
etapa (semi-acabamento e acabamento), tipicamente ocorrentes no chão-de-fábrica das
empresas participantes do estudo, conforme mostrado na Figura 4.

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Figura 3 - Geometria definida para os ensaios das estratégias de corte

Figura 4 - Estratégia de engajamento da ferramenta de corte

Uma vez definidas estas características, foram definidas três alternativas para cada situação.
As melhores práticas encontradas para cada situação foram aplicadas diretamente no chão-de-
fábrica. Todas as situações ensaiadas geraram um relatório de análise (comportamento de
cada ferramenta em relação ao desvio da haste, acabamento superficial e medição de ruído).
Vale ressaltar que o desenvolvimento destas estratégias foi aplicado nos sistemas CAD/CAM
utilizados pelas ferramentarias do grupo, pelos próprios colaboradores das empresas. No
entanto, os desenvolvimentos foram realizados no ITA com o sistema NX3 da UGS.

4. Metodologia para avaliação da vida da ferramenta com distintos revestimentos

Utilizando um microscópio óptico e de ferramentaria, verificaram-se as condições iniciais em


que se encontravam as ferramentas de corte, bem como os valores dos ângulos que compoem
a sua geometria.
Os ensaios de vida de ferramenta foram realizados segundo Norma ISO 8688-2 e adequados
conforme as características dos ensaios. O critério de fim de vida estabelecido foi o desgaste
de flanco máximo (VBmax= 0,2 mm). Todavia, o desenvolvimento de cratera foi sempre
observado. Este valor foi tomado como base, de modo a garantir a repetibilidade dos
resultados. Um exemplo do comportamento da vida da ferramenta é apresentado na Figura 5.

As medições de desgaste foram realizadas de acordo com intervalos de comprimentos


regulares, sendo efetuadas medições a cada 1 m, para cada variação de patamar de desgaste
e a cada 3 m nos pontos de estabilização do gume no corte. O objetivo de tantas medições,
uma vez que se poderia optar pela utilização de uma série de números normalizados já
existente, foi o de verificar a variação dos patamares de estabilização do gume, bem como
verificar o comportamento de corte, pelas derivadas das curvas de desgaste dos gumes das
ferramentas, para se avaliar a repetibilidade dos ensaios.

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Figura 5 - Desgaste progressivo de ferramenta de corte usinando aço AISI P20

Cada condição foi repetida uma vez e, em caso de discordância de resultados, se procedeu
então a mais uma repetição. Nos ensaios foi medido o desgaste em todas as arestas de corte
da ferramenta. Também foi considerado como marca de desgaste de flanco o maior valor
encontrado dentre todas as arestas de corte.

As marcas de desgaste foram medidas no microscópio de ferramentaria Leica do ITA. Todas


as ferramentas foram ajustadas com o mesmo comprimento em balanço, em relação à base do
porta-ferramenta. Na Figura 6 estão apresentadas peças usinadas resultantes dos processos
de otimização.

Figura 6 - Peças usinadas durante os testes.

CONCLUSÕES ESTRATÉGICAS SOBRE A PARCERIA AIM/ITA-ACIJ

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O projeto “Análise do processo de desbaste e acabamento por fresamento do aço AISI P20
beneficiado no grupo do núcleo de ferramentarias da ACIJ” é pioneiro em âmbito nacional, no
que concerne a relação entre empresas de porte médio e o meio acadêmico.
Em um curto espaço de tempo de 4 meses, as empresas do Núcleo de Usinagem e
Ferramentaria da ACIJ tiveram acesso a um volume de informações direcionado para seus
produtos e suas estruturas de chão-de-fábrica.
Isso resultou nos seguintes ganhos:

-Utilizou-se a competência da academia na velocidade demandada pelos parceiros industriais.


Com isso, as tomadas de decisões tecnológicas, que necessariamente são realizadas pelas
empresas, puderam ser auxiliadas por um agente externo (AIM/ITA);

-Os parceiros da Associação de Inteligência em Manufatura (AIM/ ITA) puderam ainda


contribuir com soluções aplicáveis para a realidade do chão-de-fábrica das empresas;

-Fortaleceu-se a relação entre as próprias empresas do núcleo e;

-As empresas do núcleo se mostraram determinadas na busca da melhoria contínua e no


desenvolvimento de novas soluções tecnológicas, mostrando para o mercado uma imagem de
empreendimento tecnológico;

O vínculo criado abre perspectivas para projetos posteriores, onde, de antemão, pode-se
recomendar as seguintes atividades:

-Benchmarking tecnológico e organizacional para ferramentarias, com o objetivo de verificação


do estado organizacional e tecnológico do setor;

-Otimização do processo de fresamento de materiais com durezas superiores a 45 HRC,


tipicamente utilizados para injeção de PVC, freqüentemente encontrados na região e;

-Auxílio na tomada de decisões para investimentos em novas tecnologias, baseado no perfil


das empresas.

Fonte:Revista Ferramental

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