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Anatomofisiologia do Sistema Digestório dos Equinos

O equino produz saliva (10- 15L) somente quando se alimenta, por isso, ele precisa se alimentar de forma contínua, 
porque não armazena o alimento. Na vida livre/natureza, passa cerca de 16 - 18 horas do dia pastando. 
Um animal estabulado anda mais ou menos 2 -3 horas por dia e tem sua alimentação composta por volumoso e 
concentrado (Geralmente ração 2x ao dia).  
Depois que o animal se alimenta, ocorre uma desidratação transitória e seu hematócrito aumenta em 10%.  
Quando se alimenta de ração o trânsito gastrointestinal fica mais rápido, sua temperatura e peristaltismo 
aumentam e o pH fica mais ácido, aumentando a secreção gástrica.  
Com isso, ocorre a morte de bactérias gram -, que liberam lipopolissacarídeos (LPS) causando endotoxemia.  
Também ocorre liberação de ácido lático, o que lesiona a mucosa (principalmente do ceco). 
Essas toxinas produzidas e liberadas provocam alterações no endotélio dos vasos (como se fossem 
microtromboses), principalmente no casco. As lâminas epidérmicas e dérmica são irrigadas por uma rede de 
capilares e com a toxemia, ocorre diminuição da irrigação dessas lâminas, que descolam do casco ocasionando 
laminite 
Uma saída para que isso não ocorra é a divisão da mesma quantidade de ração em mais vezes, além de intercalar 
com o volumoso.  
ANATOMIA: 
A parede abdominal mantém as vísceras protegidas.  
O que faz com que essas vísceras permaneçam na posição é a presença de ​conexões peritoneais (meso, omento, 
ligamentos)​ e​ os órgãos vizinhos.  
Além disso, os ​vasos também ajudam a ​ manter a posição devido à pressão. O ​líquido peritoneal​ por sua vez, 
favorece o deslizamento dessas vísceras.   
O cólon ventral possui 4 tênias e apresenta saculações. Entre o cólon ventral esquerdo e o cólon dorsal esquerdo 
existe a flexura pélvica que é onde ocorre uma diminuição do lúmen, o que predispõe a parada de alguns 
conteúdos/enterólitos.  
O cólon dorsal não apresenta tênias e entre o cólon dorsal esquerdo e o direito existe a flexura diafragmática.  

1 - Isabella Cassino Pereira


No cólon menor ou descendente, há formação de síbalas fecais, formadas nas saculações.  

Critérios para encaminhamento de Equinos com Cólica para cirurgia  


A ingestão exclusiva de concentrado fermenta o estômago, levando a produção de gás que gera compressão e 
consequente cólica.  
Devido à isso, são realizadas ​manobras de descompressão ​ que visam reposicionar os órgãos dentro da cavidade 
abdominal, melhorando o trânsito intestinal. 
 
MANOBRAS DE DESCOMPRESSÃO - TÉCNICAS 
 
● SONDA NASOGÁSTRICA:  
Tem como objetivo extrair o conteúdo fermentado.  
Geralmente as sondas possuem 2 metros, então não há necessidade e inseri-la por inteiro.  
Em distensões muito acentuadas, a sonda não ultrapassará o cárdia, e devido à isso, a descompressão e lavagem 
não ajudarão, nesse caso, pode-se usar um pouco de água morna com lidocaína ou até mesmo sedar o animal 
(xilazina).  
Para a colocação, deve-se deixar a cabeça flexionada, assoprar e observar a deglutição (sonda passando pelo lado 
esquerdo do esôfago). A sonda passará pelas conchas nasais, coana, faringe e encostará na laringe e depois descerá 
pelo esôfago. Saberá que alcançou o estômago pelo odor e pela presença de refluxo.  
Se essa técnica não adiantar, partir para a próxima técnica: 
 
● TIFLOCENTESE:  
Consiste na punção (pelo lado direito) do ceco na região dorsal do flanco com agulha ou catéter 16.  
O ceco distendido pressiona outras vísceras, por isso é necessária a retirda do conteúdo gasoso.  
Avaliamos o ceco distendido por gás através da inspeção, palpação retal e percurssão (timpânico).  
Quando retirada a agulha, permitirá o extravazameno de gás contido alí. Deve-se acoplar um equipo à agulho, 
colocar na água para melhor observação da saída do gás. (Gás fará bolhas na água) 

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É importante que esse extravazamento não seja muito rápido, pois as vísceras devem se reajustar. O tempo de 
extravazamento deve ser de mais ou menos 30 minutos.  
 
Além das manobas de descompressão, devemos realizar o exame clínicp que consiste em:  
● AVALIAÇÃO DE PARÂMETROS  
 
FC   < 42 prognóstico bom  
42-60 observar e acompanhar  
>60 desidratação  

TEMP ºC  < 36 = choque  


37,5 - 38,5 = ausência de processo infeccioso  
> 39 = agitação e movimentação (enterite) 

FR  Pode estar aumentada, mas não taquipneica.  


Pode ocorrer respiração curta devido à distensão da cavidade. 

MUCOSA  Pálidas = sangramento, anemia 


Congesta = toxemia, déficit circulatório  
Ictéricas = babesia ou problema hepático  
Halo tôxemico= bactérias gram - do trato GI - desequilíbrio de fermentação  

TPC   < 2 seg = normal  


2 - 4 segundos = diminuição de perfusão  
> 4 seg = diminuição severa da perfusão e choque (hidratar de maneira agressiva)  

MOTILIDAD Descarga ileocecal deve ocorrer a cada 2 minutos.  



INTESTINAL  
 

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● PALPAÇÃO RETAL  
A palpação retal nos permite avaliar a presença e consistência das fezes, presença de estrutura distendida (com 
gás), presença de corpos estranhos e estruturas fora do lugar (como por exemplo, torção uterina, cálculo em 
bexiga...)  
Além disso, existem estruturas imperceptíveis à palpação, como o ​ceco e o Intestino Delgado​.  
 
● PARACENTESE ABDOMINAL: 
Consiste na punção da parede abdominal, com agulha 40x10 ou até mesmo cânula mamária (precisa de botão 
anestésico para incisionar com bisturi), permitindo a entrada na cavidade peritoneal.  
O líquido presente (líquido pertioneal) tem a função de lubrificar e facilitar o movimento do peritôneo.  
Com a paracentese, podemos fazer a análise desse líquido, avaliando: 
COLORAÇÃO  Amarelo para transparente = normal, baixa celularidade  
Alaranjado 
Vinhoso  
Esverdeado  

ASPECTO  Límpido  
Turvo  
Opaco 
Com Fibrina  

CELULARIDADE  < 2,5 g/dl  


>2,5 g/dl  
>4 mmol = isquemia  
1,0 mmol = normal  

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FIBRINOGÊNIO  até 200 mg/dl  
> 200 mg/dl  
 
 
QUANDO INTERNAR? 
- Animal diagnosticado com afecção cirúrgica  
- Animal precisa de acompanhamento e tto que não pode ser realizado na propriedade (fluidoterapia, 
paracentese seriada)  
- Parâmetros não indicam se é cirúrgico ou clínico e a internação ajudará caso animal piore e precise ir para 
cirurgia 
- Sinais patognomônicos:  
CAVALO INTEIRO - hérnia inguinal  
ÉGUA RECÉM PARIDA: torção de cólon  
ÉGUA EM FINAL DE GESTAÇÃO: diferencial de torção uterina 
 
CRITÉRIOS PARA ENCAMINHAMENTO:  
- Tempo decorrido desde o início da cólica: >6 horas 
- Dor intensa e incontrolável  
- Distensão abdominal  
- Atonia intestinal  
- Ausência de defecação  
- Achados no eame transretal: I.Delgado distendido, tênias sob tensão.  
-  
CUIDADOS: 
- Não administrar analgésicos potentes e de longa ação, pois podem dar falsa impressão de melhora  
- Não retira a sonda nasogástrica até que o estômago esteja vazio  

5 - Isabella Cassino Pereira


- Não manter animal no tronco de contenção ou realizar manobras que provoquem estresse  
- Não colocar o animal para pastar precocemente sob efeito de analgésico, pois pode agravar, gerando 
compactação e podendo levar a ruptura.  
- Não proceder na abdominocentese por receio de contaminação da cavidade  
 

Afecções Estrangulativas
Afecções que obstruem o lúmen, causando ​isquemia.  
 
● HÉRNIA INGUINAL / INGUINO ESCROTAL  
CARACTERÍSTICA  Aprisionamento de segmento do I.Delgado (normalmente jejuno ou íleo) pelo anel vaginal.  
Ocorre somente em cavalos inteiros (funículo espermático mais grosso).  

SINAIS E  - Testículo firme 


DIAGNÓSTICO  - Animal com muita dor, aumento de FC, FR, TPC e halo toxêmico 
- Refluxo: pela alteração do ID 
- Palpação retal: ID entrando no canal inguinal  
- Paracentese: não há alteração de início. Só terá alteração quando o ID começar a sofrer.  

TRATAMENTO   Enterectomia e Enteroanastomose.  


Castração do testículo envolvido.  
Sutura em 2 planos: 1º seromuscular sem pegar mucosa e 2º cushing na serosa, invaginando o primeiro plano. 
Pode também suturar em plano único.  
Depois que desencarcerar, há liberação de todos os radicais livres, mediadores inflamatórios e tóxicos na 
circulação, o que piora o quadro do animal no momento da cirurgia.  
 
 
 

6 - Isabella Cassino Pereira


 
 
 
 
 
● APRIOSIONAMENTO DO CÓLON DO ESPAÇO NEFRO-ESPLÊNICO  
CARACTERÍSTICA  Deslocamento dorsal do cólon e seu aprisionamento no espaço nefro-esplênico. (Colon preso entre o baço e 
o rim).  
Baço se desloca junto ao gradil costal, devido à distensão gástrica ou esplenomegalia, permitindo a 
passagem do cólon entra a parede e o baço.  

SINAIS E  Palpação retal 


DIAGNÓSTICO   Sintomas  
Paracentese (pode perfurar baço)  
Palpação retal = normal  
Rim esquerdo palpável, bordo livre do baço e cólon imperceptível na região  

TRATAMENTO   Clínico: Utilização de 1 ampola de e​ pinefrina o


​ u ​adrenalina​ no soro IV - contração esplênica   
Cirúrgico: C
​ eliotomia (​ repociosonamento pela linha alba.  
 
● TORÇÃO DE CÓLON  
CARACTERÍSTICA  Segmentos do intestino quando cheios ficam mais propensos à torções.  
Éguas recém paridas, tem maior facilidade de torcer, devido ao espaço residual que fica na cavidade 
abdominal.  
O cólon e outras partes do intestino podem retornar ao espaço antes ocupado pelo útero.  

SINAIS E  Sintomas de cólica  


DIAGNÓSTICO  Desconforto abdominal em éguas 3 semanas após o parto  

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TRATAMENTO  Trata-se como se fosse compactação  
 
 
 
 
● INTUSSUSCEPÇÃO 
CARACTERÍSTICA  Comum em potros (I.Delgado), porém pode ocorrer em adultos (íleo cecal - íleo entra dentro do ceco).  
Pode torcer só uma parte, mas geralmente em potros no pós parto é o íleo todo.  

SINAIS E   
DIAGNÓSTICO  

TRATAMENTO   Retirada do íleo e posterior Anastomose do jejuno no ceco.  


 
● CÓLICA TROMBOEMBÓLICA  
CARACTERÍSTICA  Causda pela migração de larvar ​Strongylus vulgaris -​ quando há eclosão dos ovos, as larvas sobem para as 
artéria mesentérica cranial e chegam na aorta, onde se alojam.  
Há formação de pseudoaneurisma.  
Depois que crescem na artéria (L1, L2 e L3), deicam a parede da artéria enfraquecida e sua pressão aumenta 
fazendo uma dilatação e um dia rompe.  
O trombo cai na artéria mesentérica, obstruindo o intestino.  

SINAIS E  Palpação retal com presença de intestino delgado (distensão da regiao proximal)  
DIAGNÓSTICO   Paracentese turva e sanguinolenta  

TRATAMENTO   Enterectomia e Enteroanastomose do segmento necrosado  


Remoção do segmento que apresenta o trombo no mesentério 
 

8 - Isabella Cassino Pereira


 
 
 
 
 

Afecções Não Estrangulativas


A princípio não ocorre diminuição do fluxo sanguíneo, então n ​ ão ocorre isquemia por enquanto. 
São lesões obstrutivas que são provocada pelo próprio alimento ingerido pelo animal.  
O tto consiste na hidratação para umidifcar a ingesta ressecada e ajudar no trânsito gastrointestinal.  
Ainda não é necessária a intervenção cirúrgica, o tto é inicialmente clínico.  
 
O I.Delgado e o Grosso divergem na sintomatologia quando obstruídos pois possuem funções diferentes.  
O Delgado tem a funçao de secretar, ajudando na digestão de determinados alimentos, por isso, quando obstruído 
tem refluxo de líquido e deve-se fazer fluidoterapia.  
Já o I.Grosso tem a função de absrover água, por isso quando obstruído não tem refluxo e deve-se hidratar com 
água na sonda/fluido.  
Ambos possuem receptores de dor quando distendidos.  
 
As afecções são: 
 
● COMPACTAÇÃO DE CÓLON  
CARACTERÍSTICA  Pode ser causado pela aplicação de Amitraz, diminuindo a motilidade intestinal.  
Ingestão de fibras de má qualidade 
Desequilíbrio eletrolítico  
Areia  

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SINAIS E  Diagnóstico diferencial com obstruções por enterólitos ou corpo estranho  
DIAGNÓSTICO  

TRATAMENTO   Hidratação com soro IV e sondagem  


Enterotomia: incisão na porção antimesentérica, na flexura pélvica. Lavagem e retirada do conteúdo. O ideal é 
uma unica incisão. Sutura em 2 planos: simples contínua para mucosa e invaginante para serosa.  
 
● DESIDRATAÇÃO  
CARACTERÍSTICA  Causada pela diminuição da ingestão de água  
Exercício logo em seguida da alimentação  
Cavalo que dorme de capa térmica  
Diminuição do trânsito intestinal (estabulado, intoxicação por amitraz, febre intermitente, hematozoários…)  

SINAIS E  IG: Ausência de fezes na ampolo fecal ou poucas fezes, presença de muco e dor moderada 
DIAGNÓSTICO   ID: Relfuxo, ID palpável, distentido e dor intensa  

TRATAMENTO   Hidratação feita até a normalização do exame línico e paracentese sem aumento de lactato, presença de 
proteínas e alta celularidade. 
ID: soro parenteral  
IG: sonda + soro parenteral  
Desidratação de 5% = dar 5L 
Desitração de 7% = dar 21 L 
Desidratação de 10% = dar 30L 
 
● OBSTRUÇÃO DO I. DELGADO  
CARACTERÍSTICA  Causado por materiais compactados, espassamento da parede por verminose ou compressão da parede por 
abscesso ou obstrução por p
​ arascaris.  
Ocorre mais no íleo porque é o responsável por empurrar o conteúdo ingerido para o ceco.  
O íleo também possui uma parede espessa, que facilita o comprometimento para o seue svaziamento 

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quando acontece alguma alteração no ceco.  

TRATAMENTO   Laparotomia e hidratação da ingesta durante a cirurgia  


Vermifugação adequada  
 
 
● OBSTRUÇÃO POR PARASITA  
CARACTERÍSTICA  Ocorre devida à resistência criada pelos vermes pelo protocolo de vermifugação de 3 em 3 meses, sem 
critério.  
ID: P
​ arascaris equorum ​- infestam animais de até 2 anos  
Geralmente acometem mais o jejuno  

TRATAMENTO   Realizar exame de fezes a cada 6 meses e só vermifugar se necessário - Benzimidazóis por 3 dias. 
 
● ENTERÓLITOS NO CÓLON ASCENDENTE OU DESCENDENTE  
CARACTERÍSTICA  Concressão sólida que ocorre por excesso de minerais, pode ocorrer no IG .  
Quando formam no colon descendente podem ser localizados na palpação retal.  

SINAIS E  Palpação retal com presença de enterólitos no cólon descendente  


DIAGNÓSTICO  

TRATAMENTO   Cirurgia com animal em estação e acesso pelo antímero esquerdo  


 
● COMPACTAÇÃO DE ESTÔMAGO 
CARACTERÍSTICA  Cavalos com úlceras ou gastrite diminuem a movimentação intestinal, ocasionando a compactação do 
estômago (rara) 

TRATAMENTO   Omeprazol - quando causado por uma gastrite  

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● OBSTRUÇÃO ESOFÁGICA  
CARACTERÍSTICA  Pode ser causada pela ingesta de caroço de manga ou abacate  

TRAAMENTO   Esofagotomia - normalmente ocorre deiscência, mas o que extravaza é saliva.  


 

12 - Isabella Cassino Pereira

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