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Eu: “Frio, grosso, mal-amado… fique a vontade para me chamar como quiser,
mas prefiro idiota. Tenho meus motivos pra ser desse jeito. Motivos que ninguém
entende. Somente quem passou pelo que por isso sabe quão ruim é. Uma paixão
não correspondida tem sua beleza, numa situação dessas podemos aprender
muito. Primeiro, nunca, nunca confie 100% em uma mulher que já amou ou ama
alguém. Foi meu pior erro. E o mais incrível, ela me avisou. Segundo, se não é
correspondido pula fora. Solidão não cai bem em ninguém. Não, em hipótese
alguma tente obrigar alguém a te amar. O amor é algo puro e involuntário,
simplesmente acontece quando bem cultivado. Terceiro, a culpa sempre é sua.
Você escolhe quem vai ama. Talvez você se apaixone por alguém sem querer,
porém, não vai passar de uma paixonite. Caso esteja começando a sentir algo
mais forte por alguém que não te corresponde, fuja o mais rápido possível.”.
Eu: Lucas, leu isso? Que garoto idiota, como ele fala assim. Ele não sabe nada
sobre o amor.
Ele: Primeiro: ele escreveu, não falou.
Eu: Idiota.
Ele: Se ele escreveu sobre o assunto é por que já passou por essa situação. Onde
achou esse texto?
Eu: Você é muito idiota Lucas.
Ele: Isso tudo é porque você me ama, André. Estou começando a desconfiar de
você.
Eu: Lucas, você é lindo, porém, gosto de mulher, loira, morena, ruiva, tanto faz.
Então vai se ferrar.
Ele: Não parece. Desde que “conheceu” essa tal de Juliana, você não ficou com
ninguém.
Tinha conhecido a Juliana antes de vir morar na Alemanha, éramos
vizinhos, mas quase ninguém sabia, até porque quase não conversávamos,
naquela época, meninos andavam com meninos e as meninas com meninas. No
ano passado, com as especulações sobre minha permanência no Borussia, voltei a
conversar com algumas pessoas do Brasil, entre elas, estava a Juliana. Com o
avanço das negociações e da minha volta, quase certa, para o Brasil, a Juliana
resolveu me dar uma chance, mesmo em países diferentes. Mas eu não voltei.
O Lucas foi para o Brasil no meu lugar, mas só ficou seis meses por lá.
Durante esse tempo, quase não conversei com a Juliana. Com a volta do meu
amigo, meu nome voltou a ocupar a pauta de transferências e então voltei a
conversar com a Juliana, que estava meio receosa em me dar outra chance.
Eu: Vou socar a sua cara…
Eu: Foi bom tocar nesse assunto, vou conhecê-la semana que vem.
Ele: Sei…
Eu: Sério! Ela me ama…
Ele: Claro que ama, André!
Ele: Pensa! Ela nunca te viu, babaca.
Ele: Como consegue ser tão idiota assim?
Eu: Fala isso por que nunca amou ninguém!
Eu: Não quero discutir sobre isso. Fim!
Ele: André…
Ele: Deixa pra lá. Você não entenderia.
Eu: Chega Lucas, é sempre isso. Não confia mais em mim, não é? Desde que
voltou do Brasil está assim.
Ele: Você está apaixonado… Tchau André, até amanha.
Eu: Vai logo, tenho que ligar para Juliana.
Ele: Vai lá bobão, amo-te.
Eu: Eu também te amo.
Depois que parei de conversar com o Lucas achei melhor tomar um banho e
comer algo. Normalmente as ligações com a Juliana demorava horas.
Liguei a primeira vez e foi parar na caixa postal. A segunda tentativa estava
quase tendo o mesmo destino da ligação anterior, quando a Juliana atendeu.
- Alô, André?
- Amor, quanto tempo… Você esta bem?
- Estou sim e você, André?
- Estou bem, aconteceu algo?
- Não amor, desculpa. É que… – Ela suspirou – Deixa pra lá.
- Fala logo, Juliana. - Meu tom de voz rapidamente mudou ganhando força.
- Trabalho da faculdade, só isso.
- Sei…
Alguém bateu na porta. Pedi a Juliana que esperasse alguns minutos, pois,
iria atender a porta, ela concordou com certa arrogância no tom de voz.
Eram 2h da manhã. Tomado por ira, fui verificar quem era. Imaginei que
fosse o Lucas e automaticamente o desejei morto. Quando abro a porta, era o
Lucas acompanhado de duas mulheres. Uma estava beijando o pescoço dele. E a
outra correu em minha direção dando um salto e se pendurando no meu pescoço.
- André, quem esta com você? – Perguntou Juliana no outro lado da linha
nervosíssima.
- É o Lucas, amor. Mas ele já tá de saída com as amigas dele.
- Desliga isso, André! Larga essa aprendiz de Elsa. - Ele sorriu - Olha essa loira,
do jeitinho que você gosta.
- Quando ele sair me liga, tchau! – Ela desligou antes do eu pudesse me
justificar.
- Feliz? – Fiquei revoltado, joguei o celular no sofá – Pode se retirar da minha
casa agora!? - Gritei.
- Sério? Hoje é sábado, nossa noite… – Respondeu-me o Lucas abalado com a
minha reação – Não faz um mês que você está com essa garota e preferiu me
trocar. Parabéns FREUND! - Lucas se virou e chamou as mulheres - Eu cuido de
vocês.
- Obrigado, Lucas!
- Você já foi melhor André. Cuidado, essa menina tá acabando contigo!
- Tchau, Lucas!
Fechei a porta do apartamento e voltei correndo para o sofá.
A Juliana ignorou às duas primeiras ligações, na terceira atendeu e pediu
para que eu a deixasse dormir, pois, no dia seguinte me mandaria alguma
mensagem. A raiva que senti era tanta que depois de encerrar a ligação joguei o
celular no outro sofá e comecei a resmungar: “Ele não pode fazer isso! Ele não
pode vir na minha casa e estragar minha noite! Isso terá consequência”.
Antes de ir dormir fui conferir as redes sociais. O Lucas havia marcado a
Juliana em uma publicação que dizia: “Nos apaixonamos por outra pessoa ou
pela ideia que fazemos dessa pessoa”. Depois ele me mencionou nos
comentários.
Não consegui parar de pensar em como e quando o Lucas conheceu a
Juliana. A frase passou praticamente despercebida.
2.
No dia seguinte, fiquei irritado com a publicação que a Clarisse tinha feito
no Facebook:
“Tudo que tenho agora, é uma caneta e um caderno. A TV ligada me faz
lembrar de um amor que está distante. Não vou dizer que isso é ruim, mas o
destino poderia ter sido mais generoso. No entanto, sinto o que estou passando
será de grande aprendizado. Vou continuar seguindo. Tentando juntar o que
sobrou de mim. Vou erguer a cabeça e seguir em frente.”
Não podia ligar reclamar com o Lucas, muito menos com a Bianca, eles não
entenderiam. Foi então que me veio um flash de memória dos tempos em que
vivia no Brasil. Mandei uma mensagem para um primo explicando as novidades
e o assunto principal era: Como a Clarisse me tirava do sério. O Thiago não
entendeu muito bem, apenas leu o que mandava por boa parte do tempo.
Estávamos muito tempo sem nos falar e mesmo assim ele me deu atenção e
conselhos.
Eu: Thiago, o que essa garota tem na cabeça?
Enviei voltando ao assunto da publicação no facebook.
Ele: Já falamos sobre isso. Você está com ciúmes de um possível amor que nem
está por perto? É isso?
Mesmo sendo um desastre completo quando o assunto era o próprio
relacionamento, o Thiago tinha um dom, o homem conseguia acertar sempre que
uma pessoa estava com ciúmes, apaixonada ou simplesmente querendo iludir
outra. Exceto quando ele estava envolvido sentimentalmente com a pessoa em
um relacionamento.
***
A ideia da Bianca de passarmos o final de semana juntos ganhou força
durante a semana. Os dias passaram sem muitas novidades. Eu tentava não sentir
saudades da Juliana. O Lucas e a Bianca pareciam ter entrado num
relacionamento, o que foi bom. Pela primeira vez o meu amigo estava voltando
ao que era antes de passar uns dias no Brasil.
Na quarta-feira, quando cheguei da escola, recebi uma mensagem do meu
primo, Tiago:
Ele: Hoje é um dia daqueles que desejo que acabe logo. Não esta sendo legal,
não mesmo! O que me deixa animado, é o fato de no fim de semana poder lhe
reencontrar.
Eu: Como assim?
Respondi surpreso.
Ele: Ah! Sabe como é? Aqui não tem nada pra fazer.
Eu: Não é isso. Como assim vamos nos reencontrar?
Perguntei novamente. Sem nenhum sinal de “digitando…” deixei o celular
de lado. Talvez fosse uma brincadeira. Primos mais novos tem esse costume.
Adoram pregar peças nos mais velhos.
Enquanto preparava algo para comer, melhor dizendo, esquentando a
lasanha no micro-ondas, a Clarisse bateu em minha porta. Eram 20h, mas eu já
estava com roupa de dormir - sem camisa e short - e não me preocupei em vestir
algo mais adequado.
- Oi, Clarisse. - A cumprimentei com um beijo no rosto quando abri a porta.
- Oi. - Sorriu - Não vai me convidar para entrar?
Pedi desculpas pela distração e a indiquei o caminho. Fechei a porta e a
levei até a cozinha.
- Servida? O cardápio de hoje é lasanha, sabor quatro queijo. Uma delícia. - Sorri
estendo o prato.
- Não, obrigada. - Virou o rosto enjoado com o cheiro - Já comi.
Não insisti. Ela ficou estranha com o cheiro da lasanha.
-Podemos ir para um lugar mais fresco?
Assenti. Fomos para o meu quarto e a Clarisse só falto se jogar pela janela.
Eu sentei na cama e continuei comendo. Enquanto isso ela se recuperava do
enjoou debruçada no parapeito da janela.
- Então… - Clarisse quebrou o silêncio - Você ficou sabendo que eu estava
namorando o Mario?
Balancei a cabeça confirmando.
- Fui a casa dele, semana passada…
- Mas ele mora longe. -Interrompi.
- Sim. Eu dormi lá de sábado para domingo… - Ela colocou a cabeça para fora
novamente à procura de ar limpo - Transamos.
Aquela informação me afetou mais do que pensei que afetaria. Parte de
mim, tinha esperança em ficar com a Clarisse. Não consegui pensar em algo
louvável para responder, a segunda opção era tentar agir naturalmente. Mas eu
sabia o destino da conversa, ela ficou enjoada com o cheiro queijo.
Droga! Grávida!? Não pode ser. Porra Clarisse, como pode dar um mole
desse! Pensei, mas única coisa de conseguir fazer foi enfiar mais pedaço de
lasanha na boca.
- Não sei o que dizer. - Respondi com a boca cheia.
- Desculpa… - Ela me olhou triste.
- Why? - Acabei de comer e deslizei o prato para o lado de fora do quarto - Senta
aqui - Indiquei um lugar no colchão - Você não tem que se desculpar.
- Tenho sim. - Respondeu encostando a cabeça no meu colo e se ajeitando na
cama - Eu não devia ter ido lá. Eu não gostava tanto assim do Mario como no
início do namoro. Eu não devia ter perdido minha virgindade com ele.
- Como assim? - Tirei o cabelo que estava tampando os olhos da Clarisse.
- Eu fiquei com ciúmes de você com a brasileira. - Ela ficou envergonhada,
provavelmente deve ter sido muito difícil assumir aquilo - Você estava gostando
dela de verdade. Eu pensei que se transasse com ele iria te esquecer.
Droga! Droga! Ela transou com um cara pra me esquecer e ficou grávida!
Olha a merda que eu fiz!, pensei. Não sabia o que responder.
- Você está grávida? - Enfim perguntei.
- Não, André! - Minha cara de alivio foi tão imediata que casou uma crise de riso
na Clarisse. - E se eu tivesse? Você não me aceitaria?
- Não sei. - Respondi. Não era bem o que queria dizer, seria melhor ter dito algo
que fizesse se apaixonar perdidamente e depois me venerasse como o príncipe
encantado do seu conto de fadas. Porém eu não consegui mentir para Clarisse.
Ficamos em silêncio por um tempo. Ela pareceu bastante surpresa com a
minha sinceridade, mas não questionou e nem procurou uma resposta mais
concreta. Estava ficando tarde e Clarisse não demonstrava atitude de quem iria
pra casa. Pedi que ela levantasse a cabeça para, enfim, colocar o prato na pia.
Quando voltei ela perguntou se podia dormir comigo, de conchinha. Era
normal a Clarisse dormir aqui em casa algumas vezes durante a semana,
a casa dela ficava à distância de 44 milhas, cerca de 30 minutos de carro, e como
não tinha sido aprovada no exame de direção, não podia dirigir.
- Prefere dormir com a janela aperta? - Perguntei enquanto entrava no banheiro
para escovar os dentes.
- Fechada! - Gritou Clarisse.
Terminei minha higiene, fechei a janela e apaguei a luz. Deitei no canto, de
costas para parede, e a Clarisse se ajeitou no meu corpo como se eu fosse uma
almofada gigantesca. Aquele perfume doce ficou impregnado no meu nariz a
noite toda.
Observação:
Não tem nada de romântico em dormir de conchinha, ainda mais com a
Clarisse, uma moça com o corpo mais invejado e escultural da BVB-Kolleg,
escola para os futuros jogadores profissionais do Borussia Dortmund, para filhos
e filhas dos jogadores, e para os filhos e filhas dos funcionários do clube. Foi
extremamente constrangedor sentir a pele nua da Clarisse colada na minha, já
que não faríamos sexo. Em todos os minutos daquela noite ela se ajeitou
procurando a melhor posição para os nossos corpos se encaixarem, o que tornou
inevitável ficar excitado.
4.