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ÉTICA E GOVERNANÇA

CORPORATIVA
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SUMÁRIO
1 – Os órgãos de administração da empresa .................................................................................2

2 – Deveres e responsabilidades dos administradores ..................................................... 5


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Governança corporativa e a gestão da empresa

1. Os órgãos de administração da empresa

A assembleia geral (reunião de sócios, no caso de sociedades limitadas) não integra


a gestão da sociedade, mas é responsável por eleger e destituir administradores e
tomar suas contas anualmente.

A administração da empresa cabe à diretoria executiva e ao conselho de


administração:

 Diretoria executiva: é o órgão de gestão da empresa, presente em todas as


formas empresariais. Os diretores representam a empresa perante terceiros e,
exceto se o estatuto/ contrato social estabelecer regra diversa, podem fazê-lo
individualmente. A atuação dos diretores é limitada pela lei, pelo estatuto/ contrato
social, pelas decisões da assembleia geral e, se houver, do conselho de
administração.

 Conselho de administração (CA): é um órgão fundamental da governança

Os administradores de sociedades seguradoras, resseguradoras, sociedades de capitalização, entidades


abertas de previdência complementar e corretoras de resseguro devem ser previamente aprovados pela
Susep, segundo os critérios estabelecidos no Anexo II da Resolução CNSP n. 330/2015, que incluem
capacitação técnica, experiência e reputação ilibada, entre outros.

Acesse a íntegra da Resolução 330.

corporativa, porém sua instalação somente é obrigatória para companhias abertas,


sendo facultativa – e recomendada como boa prática – para companhias fechadas
e sociedades limitadas. Devido à sua centralidade para a governança corporativa,
examinaremos o CA mais detidamente em um item próprio, a seguir.
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1.1 Conselho de administração

O CA é o elo de ligação entre a propriedade e a gestão da empresa. Tem as


atribuições principais de (i) estabelecer o direcionamento estratégico da organização,
(ii) agir como guardião de seus princípios, valores, objeto social e sistema de
governança e (iii) supervisionar a diretoria executiva.

O CA funciona por meio de reuniões periódicas em que as deliberações são tomadas


por maioria de votos. Não tem funções executivas e não representa a empresa perante
terceiros.

O CA atua sempre como órgão colegiado e deve ser composto por, no mínimo, três
membros, eleitos pelos sócios. O número de membros do CA deve levar em conta a
dimensão, complexidade e demais características específicas da organização.
Recomenda-se que seja ímpar e não ultrapasse 11.

Os conselheiros devem ser adequadamente remunerados, considerando as


condições de mercado, as qualificações, o valor gerado à organização e os riscos da
atividade. A remuneração apropriada favorece o alinhamento de objetivos e evita
conflitos de interesses.

1.1.1. Independência do CA

Os membros do CA são eleitos pelos sócios, porém sua responsabilidade e deveres


fiduciários são com a empresa. Os conselheiros devem agir com a maior
independência possível em relação ao sócio, grupo acionário ou parte interessada que
os elegeu ou os indicou.

No que tange à independência, podem ser identificadas três classes de conselheiros,


de acordo com sua relação com a empresa ou com agentes de sua governança:

• internos: diretores ou funcionários da organização;

• externos: conselheiros sem vínculo atual comercial, empregatício ou de direção com


a organização, mas que não são independentes, tais como ex-diretores e ex-
funcionários, advogados e consultores que prestam serviços à empresa, sócios ou
empregados do grupo controlador, de controladas ou de companhias do mesmo grupo
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econômico e seus parentes próximos e gestores de fundos com participação


relevante;

• independentes: conselheiros externos que não possuem relações familiares, de


negócio, ou de qualquer outro tipo com sócios com participação relevante, grupos
controladores, executivos, prestadores de serviços ou entidades sem fins lucrativos
que influenciem ou possam influenciar, de forma significativa, seus julgamentos,
opiniões, decisões ou comprometer suas ações no melhor interesse da organização.

Para promover a independência do CA em relação à diretoria é recomendável que ele


não inclua conselheiros internos em sua composição. É particularmente criticável a
cumulação, em uma mesma pessoa, dos cargos de diretor presidente e presidente do
conselho de administração.

As companhias abertas listadas no Novo Mercado, segmento especial da B31, que


estabelece os mais elevados níveis de governança corporativa, obrigam-se a incluir,
em seu CA, um mínimo de 2 ou 20% (o que for maior) de conselheiros independentes.
Neste segmento, a cumulação dos cargos de presidente do conselho e diretor
presidente da companhia pela mesma pessoa é vedada.

1.1.2. Composição do CA

É recomendável que o CA seja composto por profissionais com conhecimentos,


experiências, faixa etária e gêneros distintos. A diversidade de perfis e perspectivas
tende a fomentar os debates, o que resulta em decisões de maior qualidade e mais
seguras.

No entanto, algumas competências devem ser comuns a todos os membros do CA:


comprometimento com os valores da organização, visão estratégica, capacidade de
comunicação, dedicação à função, conhecimento de GC, entre outras.

1.1.3. Comitês

Comitês são órgãos, estatutários ou não, de assessoramento ao CA. Os comitês são


grupos de trabalho com escopo limitado, encarregados de aprofundar a análise de

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Antiga BM&FBOVESPA.
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determinados temas complexos, que requerem especialização e dedicação. Não têm


poder de deliberação e suas recomendações não vinculam as deliberações do
conselho de administração.

São usuais os comitês de auditoria, recursos humanos/ remuneração, governança,


finanças, sustentabilidade, entre outros. Recomenda-se que sejam compostos,
preferencialmente, por conselheiros.

1.1.4. Secretaria de governança

O conselho de administração pode contar com uma secretaria de governança,


atuando sob sua supervisão direta, com a função de apoiar os processos de
governança da organização e o desempenho das atividades do CA, do conselho fiscal
e dos comitês, bem como de auxiliar o presidente do conselho de administração na
definição dos temas relevantes a serem incluídos na agenda das reuniões e na
convocação da assembleia geral e bom funcionamento desses fóruns.

2. Deveres e responsabilidades dos administradores

Diretoria executiva e o conselho de administração compõem a administração da


empresa. Para todos os fins, inclusive legais, os membros de ambos os órgãos são
considerados administradores.

2.1. Regra geral

Como regra, o administrador não é pessoalmente responsável pelas obrigações que


contrair em nome da sociedade e em virtude de ato regular de gestão. Poderá
responder com os próprios bens pelos prejuízos causados à companhia ou pela
companhia a terceiros, entretanto, quando (i) violar a lei ou o estatuto ou (ii) ainda que
dentro de suas atribuições, agir com culpa ou dolo.

O Brasil tem assistido a um movimento de crescente responsabilização pessoal de


administradores. Essa tendência verifica-se não apenas naquelas hipóteses em que
se comprova uma atuação dolosa/ intencional do administrador que, por exemplo,
envolve-se pessoalmente em crimes e infrações administrativas, como corrupção ou
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cartel, ou em fraudes contra a própria companhia. Há inúmeros casos de condenação


de executivos e conselheiros por atuação culposa, ou seja, não intencional2.

Mas como se caracteriza a conduta culposa de um administrador? A resposta a essa


pergunta está nos deveres fiduciários dos administradores em face da empresa. Age
com culpa o administrador que desrespeita esses deveres. Conhecê-los e observá-
los é, portanto, a única forma de evitar a responsabilização pessoal.

Vejamos, então, quais são os deveres dos administradores:

2.2. Deveres de lealdade, de perseguir os objetivos da empresa e de evitar


conflito de interesse

O administrador (diretor ou conselheiro) deve manter-se fiel à empresa e atuar para


proteger e promover seus objetivos de negócio, não se utilizando de sua posição em
benefício próprio ou de terceiros. Algumas obrigações decorrentes do dever maior de
lealdade são:

 manter reserva sobre os negócios da companhia;


 não usar em benefício próprio ou de terceiro as oportunidades comerciais de que
tenha conhecimento em razão do exercício de seu cargo;
 não se omitir no exercício ou proteção de direitos da companhia ou, visando à
obtenção de vantagens, para si ou para outrem, deixar de aproveitar oportunidades
de negócio de interesse da companhia;
 não adquirir, para revender com lucro, bem ou direito que sabe necessário à
companhia, ou que esta tencione adquirir;
 não intervir em qualquer operação social em que tiver interesse conflitante com o
da companhia3.

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Existem, ainda, algumas hipóteses excepcionais de responsabilização pessoal do administrador
independentemente de dolo ou culpa. Ela é autorizada pelo Código de Defesa do Consumidor e pela Lei
Ambiental, sempre que a pessoa jurídica seja obstáculo ao ressarcimento dos prejuízos causados aos
consumidores ou ao meio ambiente. Embora sem respaldo em lei, uma parte da jurisprudência trabalhista tem
também aplicado a responsabilidade objetiva para ressarcimento de danos ao trabalhador.
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Nessa hipótese, a Lei das S/A determina, ainda, que o administrador interessado não participe da deliberação
que a respeito tomarem os demais administradores, devendo cientificá-los do seu impedimento e fazer
consignar, em ata de reunião do conselho de administração ou da diretoria, a natureza e extensão do seu
interesse. Ainda que observada essa regra, o administrador somente pode contratar com a companhia em
condições de mercado.
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2.3. Dever de diligência

O dever de diligência é frequentemente debatido em casos concretos e seu


cumprimento/ descumprimento, muitas vezes, é de difícil determinação em situações
concretas. Para melhor compreendermos sua abrangência, dividimos as obrigações
dele decorrentes em três categorias:

Requisitos • Qualificação profissional


básicos da • Conhecer os negócios da Cia
diligência • Dedicação à função
Diligência no • Obter e considerar todas as informações relevantes para a
processo decisão
decisório • Questionar/ desafiar
• Compartilhar conhecimento com outros administradores
• Avaliar alternativas
• Assessorar-se com especialistas
• Decidir

Diligência nas • Acompanhar a performance da empresa


obrigações de • Fiscalizar a gestão dos diretores (no caso do CA) e demais
monitoramento subordinados (no caso da diretoria)
e fiscalização • Monitorar os riscos corporativos: (i) estabelecer políticas e
processos para seu gerenciamento e (ii) fiscalizar o
cumprimento das regras
• Promover o acompanhamento da implementação de
programas de integridade
• Investigar fatos suspeitos
• Intervir para apuração e punição de condutas ilegais ou
antiéticas

Fonte: Elaborado pelo autor.

2.4. Dever de informação (aplicável a administradores de companhias abertas)

Decorre do princípio geral de transparência e consiste na obrigação de divulgar ao


mercado: (i) informações gerais sobre a companhia e (ii) deliberações ou fatos
relevantes ocorridos nos seus negócios que possam influir na cotação das ações ou
na decisão dos investidores de vender ou comprar valores mobiliários emitidos pela
companhia. Os principais procedimentos de disclosure são:

 Formulário de Referência – Contém todas as informações da companhia, como


atividades, fatores de risco, administração, estrutura de capital, dados financeiros,
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valores mobiliários emitidos e operações com partes relacionadas, reunidos em


um único documento, que deve ser arquivado e atualizado regularmente na
Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
 Informações Trimestrais (ITR) – Nesse formulário devem estar contidas as
informações contábeis trimestrais da companhia, acompanhado de relatório de
revisão emitido por auditor independente.
 Fatos relevantes – Quaisquer atos ou fatos que possam afetar a cotação da ação
da companhia ou influenciar as decisões de compra ou venda dos investidores.

2.4.1. Insider trading

Um dos objetivos do dever de disclosure é assegurar igualdade de condições a todos


os interessados em negociar ações ou outros valores mobiliários da companhia,
dispondo das mesmas informações para tomada de suas decisões de investimento.

O insider trading caracteriza-se pelo uso indevido de informação privilegiada por


administrador da companhia, que negocia suas ações por preços que ainda não
refletem os impactos da informação não divulgada ao mercado e por ele detida tão
somente em razão de sua posição na empresa.

Além de violação ao dever fiduciário, punível pela CVM, o insider trading configura
crime. E pode ser praticado não só por administradores, mas também por acionistas
controladores ou por quem quer que, em virtude do exercício de atividade profissional,
função ou posição na companhia, sua controladora, controlada ou coligada, tenha
conhecimento de informação relativa a ato ou fato relevante.

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