Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Jesus mostra para Nicodemos que o Reino de Deus não se baseia no anterior, aquele
tão esperado por sua classe religiosa, mas exige um novo começo, por isso, é preciso “nascer
de novo/do alto” (Cf Jo 3,7). Este nascimento se dá a partir da água-Espírito e é indispensável
para se entrar no Reino. Não é o esforço pessoal, aquele que nasce da fraqueza humana (sarx),
que fazem do homem e da mulher aptos a participarem do Reino. Para fazer parte deste Reino
é necessário um princípio vital novo, criado por Deus. É o Espírito, que cria no ser humano a
condição de “espírito”, o que lhe possibilita a capacidade de amar. Segundo Mateos &
Barreto(1999, p. 224) “o esforço consistirá em adquirir sabedoria interior nem lenta perfeição
própria segundo a Lei, e sim na tarefa do amor aos outros”.
Este novo nascimento produz uma liberdade que orienta toda a vida da pessoa (v.8).
Entretanto, é fundamental deixar bem claro que o “nascer de novo”, na perspectiva joanina,
não se realiza automaticamente nem é um processo mágico ou misterioso, mas é um
acontecimento marcado pela liberdade, em que se recebe o Espírito, por ele se deixa
interpelar/questionar e a ele se dá uma reposta concreta e consciente. Logo, o v.8 se refere à
liberdade do Espírito e à liberdade da pessoa que é por ele presenteada. Como podemos ver
também, João afirma a ligação entre fé e recebimento do Espírito, ser batizado e vida nova a
partir do Espírito. O ser humano nascido do Espírito, isto é, nascido “do alto” passa por uma
transformação radical.
Para Konnings(1989, p.129):
Quem nasce da “carne” continua sendo mero ser humano fechado em seu
egoísmo. Entretanto, ao nascer do Espírito que é verdadeira vida, o ser
humano se transforma em pessoa impulsionada por Deus. O que significa
dizer que é capaz de viver uma nova vida que não se acreditava capaz.
Portanto, para João, é o Espírito, que sendo Vida, gera a vida, o nascimento
do alto ou “de Deus” nos seres humanos, desta forma, é ele quem gera a
Vida por excelência, a Vida Nova.
Em sua oração ao Pai, ao terminar seu discurso de despedida, Jesus confia uma missão
aos seus/as, que nada mais é que a mesma missão que o Pai havia a ele confiado: “Como tu
me enviaste ao mundo, também eu os enviei ao mundo”. (Jo 17,18). A missão, portanto, é a
mesma. Para que os seus/as possam realizar esta missão, e num gesto que lembra a ação de
Deus na criação (Gn 2,7), Jesus sopra (insufla) sobre eles o Espírito da parte de Deus. Eles
não recebem um simples carisma, mas sim uma vida nova, como sugere a proximidade da
imagem do insuflar. Os discípulos/as possuem agora o Espírito para que possam cumprir a
missão de serem testemunhas da fé frente à descrença do mundo, que segundo a perspectiva
joanina é o pecado do mundo. “O sopro do Cristo ressuscitado opera nos discípulos/as uma
transformação radical, recriaos e os torna aptos à obra sobre-humana da qual passam a ser
responsáveis e os consagra à missão.” Portanto, é a partir desta nova vida advinda do Espírito,
que os discípulos/as renovados e animados, encontram-se cheios de alegria, paz e coragem
para assumir a missão cristã no mundo.
REFERÊNCIAS
BÍBLIA. Português. A Bíblia de Jerusalém. Nova edição rev. e ampl. São Paulo: Paulus, 2012
BINGEMER, M. C. L. Crer e dizer Deus Pai, Filho e Espírito Santo. In: Atualidade
Teológica n° 9. Rio de Janeiro, 2001.
KONINGS, Johan. Evangelho segundo João: amor e fidelidade. Petropolis: Vozes, 2000.
CONGAR, Yves . Revelação e Experiência do Espírito. Petrópolis. Vozes. 2012.