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O que é Liturgia?

• Origem grega:

• LEITOURGÍA-LEIT
= LEÓS- LAOS = povo,
comunidade. Daí vem o
sentido de público.

• Nesta dimensão vem a


palavra ERGON- URGIA
= serviço, obra, ação
• ÉRGÁZOMAI que indica agir, operar. É uma ação
ou obra publica para o povo. O termo “Liturgia” vai
evoluindo ao longo dos tempos e momentos
históricos.

• Por exemplo: Liturgia no uso civil. No grego


clássico esta palavra liturgia significa um serviço
público, ou seja, uma ação a favor do povo. Essa
ação poderia ser assumida livremente e ou
generosamente por amor, ou ser realizada por
obrigação imposta.
• Na época helenística, o termo liturgia era usado
para indicar o serviço obrigatório de um certo
trabalho, ao qual certas pessoas ou comunidades
seriam submetidas. Seja em troca de direitos e
vantagens particulares provenientes do Estado, ou
por castigo a elas aplicados por delitos cometidos,
tais como revoltas contra as autoridades estatais.

• Nota-se isso no Egito na época dos Ptolomeus, no


século II antes de Cristo, até na época imperial
romana. O que devemos compreender é o carater
público que é componente essencial da palavra
“Liturgia”.
• O termo “Liturgia” no uso religioso cultural.

• Ainda na época helenística, o termo liturgia é


usado no sentido religioso cultual indicando o
serviço que se devia prestar aos deuses por
pessoas para isso designadas.

• Nota-se isso no Egito na época dos Ptolomeus, no


século II antes de Cristo, até na época imperial
romana. O que devemos compreender é o carater
público que é componente essencial da palavra
“Liturgia”.
• Na verdade, o termo liturgia no sentido religioso-cultual
indica serviço ordenado e cerimônia voltada para certa
divindade. Nesse prisma, o termo “Liturgia” conserva o
sentido de “serviço de culto que é devido a Deus”
(S.Marsili,Liturgia, in Anamnesis 1, São Paulo,
Paulinas, 1987, 41).

• Liturgia na Sagrada Escritura: o termo liturgia com as


nuâncias etimológicas do termo em si aparece 170
vezes no AT, isto na versão grega dos LXX que ressalta
o valor “técnico do termo para indicar o culto levítico
que era uma forma cultual determinada por cerimônias
próprias fixadas nos livros da Lei e reservada a uma
categoria particular de pessoas” ( Marsili, 42).
Liturgia no NT: o termo liturgia no substantivo de
coisa e de pessoa aparece somente 15 vezes da
seguinte forma:

Letourgein: At 13,2; Rm 15, 16; Hb 10,11.


Leitourgía: Lc 1,23; 2Cor 9,12; Fl 2,17. 30.
Leitourgós: Rm 3, 6; 15,16; Fl 2,25;Hb 1,7. 14; 8,2
(conferir os textos citados com os do artigo a ser
estudado).
• Liturgia no sentido cristão: “Entquanto eles
faziam Liturgia ao Senhor e jejuavam, disse o
Espirito Santo separai-me Barnabé e Saulo...” At
13,2. Talvez, esta é a primeira vez que a
celebração cristã é chamada de liturgia.

• Imagina-se que o quase silêncio do NT em


relação ao termo liturgia seja para afastar sua
compreensão daquela liturgia levítica e templaria
que ofusca o verdadeiro sacrifício de Cristo que
tomou sobre si os nossos pecados e se ofereceu
por nós na Cruz.
Quem é o primeiro e maior liturgo?
• Deus Pai – CRIAÇÃO
• Deus Filho – SALVAÇÃO
• Deus Espírito Santo - SANTIFICAÇÃO

Obra da
Liturgia
Santíssima
Trindade
Qual é a nossa Liturgia?
CELEBR-AÇÃO

FAZER MEMÓRIA

RE–CORD-AÇÃO

PARTICIP-AÇÃO
Onde e quando fazer Liturgia?

Na nossa relação com Deus...

E com os irmãos...
Liturgia

uma ação
pessoal e
comunitária
Liturgia, uma
ação que nos
compromete
• “Se na hora da oração for necessário dar
remédios ou auxílio a algum pobre, ide
tranquilos, oferecendo a Deus esta ação como
se estivésseis em oração.
• Não vos perturbeis com angústia ou medo de
estar pecando por causa de abandono da
oração em favor do serviço dos pobres.
• Deus não é desprezado, se por causa de
Deus dele nos afastarmos, quer
dizer, interrompermos a obra de
de Deus, para realizá-la de outro
modo”
(S. Vicente de Paulo, in LH, vol. IV, pág. 1306)
• A liturgia da
comunidade é a fonte
da qual juntos
bebemos a água viva
que Cristo oferece,
uma água que jorra
para a vida eterna:
jorra do alto da Cruz e
do trono de Deus e do
Cordeiro (Ap 22,1) e
Beba desta fonte você também!
vem para dar vida a
todas as nações.
• São múltiplos os conceitos de liturgia. Por isso eu
não poderia deixar de incluir nesta exposição
alguns aspectos que possibilitam uma compreensão
a mais da liturgia.
• O então Cardeal Ratzinger no seu livro Introdução
ao Espírito da liturgia, São Paulo, Paulinas 2010.
Na primeira parte dessa obra, o eminente teólogo
fala sobre a natureza da liturgia dando ênfase sobre
o lugar da liturgia na realidade.
• Ratzinger inicia o primeiro capítulo dessa obra fazendo três
perguntas:
• 1. O que é, no fundo, a Liturgia
• 2.O que acontece nela
• 3.Que espécie de realidade encontramos aí.
• O autor reflete sobre essas perguntas dizendo que a liturgia



• Nos anos vinte do século passado “foi proposto
que a Liturgia fosse entendida como um “jogo”.
• Primeiro ponto de compreensão: tal como um
jogo a liturgia tem suas próprias regras.
• Apesar do jogo ter caráter útil, deve ser isento
de propósitos, o jogo é um evento que se
revestido de gratuidade, é curador e libertador .
• O jogo nos tira todo o peso do mundo e do
trabalho, nos leva a transcender. O jogo, diz
Ratzinger, “seria quase um outro mundo, um
oásis de liberdade, onde podemos deixar fluir
livremente o nosso ser por um momento; nós
precisamos desses momentos, que constituem
uma saída para fora do cotidiano poderoso,
conseguindo assim suportar o seu peso”
(Ratzinger,9).
• Seguindo a teoria de jogo que nos remete
para a natureza da liturgia, Ratzinger
compara a liturgia a uma brincadeira de
crianças, que de certa forma, “é uma
espécie de antecipação da vida”, direi
antecipação do gozo supremo, ou do
antegozo da liturgia celeste.
• Segundo Ratzinger, “a Liturgia seria então
um modo de antecipação completamente
diferente, de pré-ensaio: um prelúdio da
futura e da eterna vida a qual, como expõe
Santo Agostinho, não é, ao contrário da
nossa vida presente, tecida de necessidade e
obrigatoriedade, mas sim inteiramente da
liberdade de oferecer e se dá.
• o Terceiro aspecto apontado por Razinger
se fundamenta nos textos bíblicos Ex 7,16;
Ex 8,21; Ex 7, 26; 9,1; 9,13; 10, 3. Esses
textos falam da partida de Israel do Egito
com duas finalidades: 1. alcançar a terra
prometida, 2. oferecer culto e sacrifícios a
Deus no deserto. “Iremos para o deserto, a
três dias de caminho e ofereceremos
• Sacrifícios ao Senhor, nosso Deus,
conforme a ordem que Ele nos deu” (Ex
8,23).
• Pois bem, como vemos, o objetivo do
Êxodo parece ser a adoração de Deus, mas à
medida de Deus, portanto, sempre fora de
qualquer compromisso político, ou interesse
humano.
• Segundo Ratzinger, “Israel aprende venerar
Deus da maneira por ele exigida. O culto,
que é a Liturgia, no sentido própria, faz
parte dessa veneração, mas, além dela, a
vida segundo a vontade de Deus, também
faz parte dela, sendo a vida a parte
imprescindível da adoração correta”
(Ratzinger, 12).
• Ratzinger ilustra seu raciocínio citando
Irineu de Lion que diz: “Aglória de Deus é o
homem vivo; porém, a vida do homem
significa olhar a Deus” (Adv. Haer IV 20,7).
• Para Ratzinger, a verdadeira adoração de
Deus é o Homem na sua santa e correta
maneira de viver, “mas a vida só se tornará
verdadeira obtendo a sua forma mediante
• O olhar de Deus. O culto serve para a
transmissão desse olhar concedendo assim
uma vida que honre a Deus” (Ratzinger,13).
• como vemos, a primazia é sempre de Deus,
o olhar de Deus muda o homem. O homem
olha para Deus, mas é o olhar de Deus que
muda o homem.
Ratzinger apresenta três pontos importantes:
O primeiro ponto: ele lembra que no Sinai, o
povo obtém não só as instruções de culto, bem
como “uma lei e normas de conduta ampla”.
O segundo ponto é o ordenamento da Aliança do
Sinai. Nesse ponto há três aspectos entrelaçados e
inseparáveis: o culto, a lei, e a moralidade.
• Segundo Ratzinger, a lei não fundamentada
moralmente torna-se ilegítima; moral e lei
que não tenham suas origens no olhar a
Deus degradam o Homem, privando-o do
seu maior valor e da sua maior capacidade,
negando-lhe a vista para o infinito e eterno:
com esta aparente libertação, ele fica sujeito
à ditadura das maiorias no poder,
• As casuais normas humanas que
obrigatoriamente acabam por violá-lo”
(Ratzinger,13).
• Com estas considerações chegamos ao
terceiro ponto que é ao mesmo tempo a
conclusão que nos remete para as questões
iniciais sobre a natureza do culto e da
Liturgia.
• Conclui-se assim que“uma ordem das coisas
humanas que desconhece Deus diminui o
homem. Por isso o culto e a lei não se pode
separar por completo. Deus tem o direito a
receber uma resposta dos homens, tem
direito ao próprio homem e, onde esse direito
de Deus se perde, dissolve-se também a
jurisprudência dos homens
• Porque lhe falta o marco que aglutina tudo”
(Ratzinger,13).
• Dessa forma, o culto, compreendido na sua
extensão e profundidade, excede o ato
litúrgico. O homem será glorificação para
Deus colocando-o na luz ( é isso o culto), se
vive do olhar para Ele” (Ratzinger,14).
• Respondendo a pergunta que espécie de
realidade encontramos na Liturgia,
Ratzinger parte do princípio que quem
exclui Deus do termo realidade é só
aparentemente realista, abstraindo-se de
onde nós “viemos nos movemos e
existimos”(At 17,28). Até aqui......
• Para Ratzinger, quando é correta a relação
do homem com Deus, todas as demais
relações e convívio entre as pessoas e com
o resto do mundo são bem ordenadas
(Ratzinger, (14-15). A lei é costitutiva paara
a liberdade e para a comunidade, e a
adoração, por sua vez, é a conduta correta
para Deus e é constitutiva para a lei.
• A Liturgia compreendida como adoração,
“é o modo correto do culto e da relação com
Deus, é constitutiva para a existência certa
do homem no mundo, precisamente porque
vai para além d quotidiano, fazendo-nos
participar no modo de existir no “céu” do
mundo de Deus, deixando assim entrar a luz
do mundo divino no nosso (Ratzinger,15).
• Como na referência e comparação feita da
Liturgia ao jogo, “o culto possui efetivamente
um caráter antecipado. Ele antecipa-se para
uma vida mais definitiva, conferindo valores à
nossa vida presente (Ratzinger,15). Uma vida
sem essa antecipação seria pesada e fútil,
talvez seja, essa a razão de não haver
sociedade sem culto
• Segundo Ratzinger, “O homem sozinho, não
consegue mesmo “criar” um culto fácil porque,
sem Deus se revelar, ele será sempre
insignificante (Ratzinger,15). O autor insiste
sempre na primazia de Deus, o homem não
precede Deus é Deus quem precede o homem
em tudo. Uma liturgia sob o primado do homem
faz dele o objeto do culto e da adoração.
A teologia da liturgia
• Retomamos o pensamento de Salvatore
Marsili, Rumo a uma teologia da Liturgia,
no segundo capítulo de ANAMESIS 1, p.
55-102. Vimos que o NT quase ignora a
palavra Liturgia, certamente em virtude do
sentido judaizante que a acompanhava. O
NT não quer acentuar o sentido ritualista do
termo Liturgia.
• Depois do NT aparecem os escritos de
1Clemente onde o termo liturgia é usado várias
vezes com o sentido de ministério. Por exemplo:
“ homens dignos receberam o ministério =
(leitourgia dos apóstolos”; “Julgamos injusto
afastar do seu ministério (leitourgia) aqueles que,
encarregados... Coma aprovação da Igreja
prestam o seu ministério (leitourgein) ao rebanho
de Cristo”;
• “Julgamos injusto afastá-los do ministério. Com
efeito seria não pequeno pecado afastar do episcopado
aqueles que santamente ofereceram os dons” (cf.
notas 3 e 4 p. 56).


• O termo “Liturgia” NT não contempla a
forma cultual que identifica com a forma
legalista exclusiva do ritual levítico
veterotestamentário. O culto cristão está
centrado em Cristo. Ele é, ao mesmo tempo,
o sacerdote, altar e vítima.
• O culto na antiguidade cristã.
• A ausência de sacrifício levou a Igreja
primitiva a sérias acusações, inclusive de
ateísmo, impiedade, porque o seu culto não
estava centrado no templo, nem nos altares,
nem nas vítimas sacrificadas para honrar a
Deus. Para os cristãos esses termos não
definem o culto.
• Depois da imolação do Cordeiro Divino, que
se tornou Cordeiro Pascal, porque tomou
sobre si nossos pecados e se imolou na cruz,
o altar da redenção, então a compreensão de
culto para os redimidos por Cristo é uma
outra bem diferente. É o culto espiritual que
conta. Não é o rito e a oferta material.
• O mistério salvífico de Cristo imp
• O culto cristão é uma experiência mística que leva o homem à
transcendentalização. Transcender é ir além de. É um ir ascensional.
Quando celebramos estamos com um pé na história e o outro na glória.
• Transcender não quer dizer ignorar a realidade histórica, mas é
experimentar a glória inserido na história. Caso contrario, a liturgia seria
uma ação mística alienante e, para nossa vergonha, o culto cristão seria o
ópio consumado. A religião não é o ópio do povo é a luneta, por meio da
qual, o povo pode ver o clarão da glória para além da poeira da história.
• A liturgia, como objeto de estudo da teologia, é a ciência da superação
onotológica e como ritualização do mistério é a experiência da glorificação
de Deus e a santificação do gênero humano.
• Cristo, o novo templo. Cristo relativiza o lugar
referencial do culto que é o templo e lhe dá
novo sentido com suas fortes declarações: Jo
2,19-22; Mt 26,61; Mc 14, 58; At 6, 14.
Quando Jesus fala sobre a destruição do
templo correlaciona com a espiritualidade do
culto levítico. O novo templo não é feito por
mãos humanas, é espiritual.
• Cristo, Cordeiro imolado é o novo templo
da nova Jerusalém. Seu corpo é o templo
(Jo 2, 21) habitação da santidade plena.
Nele por ele se dá o culto em espírito e
verdade (Jo 4, 23-24). Cristo é, ao mesmo
tempo, templo e pedra angular (Mt 21,42)
de todo o edifício espiritual. Os cristãos
como outras pedras vivas sobre a pedra
• Angular que é Cristo, formam, em Cristo, a
casa de Deus, o edifício espiritual (1Pd 2,4-
5). Eis aí o verdadeiro templo santo e a
verdadeira habitação de Deus no Espírito.
Assim os cristãos formam, depois de Cristo,
a vinha e a construção de Deus (1Cor 3,9).
Os cristão, em Cristo, são templos,
sacerdotes e vítimas espirituais agradáveis
• A Deus (1Pd 2,4-5; Rm 12,1).
• Assim, a própria comunidade dos fiéis em
Cristo é a casa da oração e do culto, a
assembleia dos cristãos é o templo onde se
acolhe a grandeza e a dignidade de Deus.
Assim a teologia do culto cristão está
fundamentada numa visão inteiramente
espiritual.
(realizadas). Portanto, se na
teologia, o culto cristão, o
sacrifício, é a santidade interior
da vida e da oração que a
exprime. O altar é Cristo
enquanto acolhe a oferta comum
da oração, o templo é Cristo.
Cristo na sua dupla dimensão
pessoal=Ele mesmo e
comunitária=a Igreja=corpo de

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