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C

Representações artísticas e imagens ontar a história da tecnologia


do período citado no texto
desde o despertar da

Trevor I. Williams
Agricultura, construção, transporte, energia, medicina, máquinas,
armamentos, arquitetura e comunicação. Tudo o que você sempre civilização até os dias de

história das
quis saber sobre invenções está neste ambicioso projeto de hoje não é tarefa simples. Porém,
não há ninguém mais indicado
Trevor I. Williams, que dedicou mais de 30 anos de sua vida a
estudos sobre tecnologia. A história das invenções fascina e
Trevor I. Williams para esse ambicioso trabalho que
envolve os leitores em uma viagem pela história da atividade Trevor I. Williams, que dedicou
humana, que começa com o trabalho da pedra e o surgimento da mais de 30 anos de sua vida aos
agricultura até o lançamento de foguetes espaciais, o advento dos estudos sobre ciência e tecnologia.
computadores e a invenção dos chips de silício. Da Idade da Pedra, passando pela
A cada início de capítulo, um mapa
para identificar as principais Com conteúdo surpreendente e inúmeros fatos e dados Revolução Agrícola, pelo início
características sociais do período curiosos, a obra atinge seu principal objetivo: mostrar como da mecanização, pela evolução
histórico a ser descrito tecnológica durante as grandes

história das INVENÇÕES


os fatores tecnológicos modelaram – e continuam a modelar –
a história humana. guerras, até chegar ao advento
dos computadores e da tecnologia
O velho mundo da informação, o autor abrange a
Os primórdios da civilização; a Revolução Agrícola; o transporte; história da civilização material em
edificações e construções; energia e maquinário. sua totalidade e nos fornece uma
obra indispensável.
A descoberta de um novo mundo
Da ascensão do islã ao Renascimento; as frotas e a navegação; Com texto objetivo e de leitura
Uma linha do tempo em cada capítulo o início da mecanização. prazerosa, o livro possui conteúdo
para identificar as principais invenções surpreendente, com inúmeros
daquele período da história O nascimento da industrialização
fatos, dados curiosos e mais de
O surgimento do Mundo Moderno; novas formas de transporte;
300 imagens, incluindo:
a mineração e os metais; a invenção dos utensílios domésticos.
Fotografias das principais invenções
A expansão transatlântica do homem
O início do século XX; a tecnologia militar e a Primeira Guerra
Mundial; os novos canais de comunicação; a ascensão do
transporte terrestre e aéreo; as novas técnicas de construção.

O mundo moderno
O mundo do pós-guerra; medicina e saúde pública; os novos
Trevor Illtyd Williams nasceu em aspectos da agricultura e dos alimentos; novos materiais; os
16 de julho de 1921, em Bristol, computadores e a tecnologia da informação.
Inglaterra. Escreveu e editou uma
série de livros sobre química e Do machado de pedra Diversos infográficos que contribuem
para uma fácil compreensão
tecnologia. A importância de seu Às TECNOLOGIAs DA INFORMAçÃO
trabalho rendeu-lhe, em 1976, o
Prêmio Dexter, concedido a quem
presta notáveis contribuições
à história da química, por seu
extenso número de publicações
relativas à área. www.editoragutenberg.com.br
0800 2831322
Trevor I. Williams
Trevor I. Williams
história das

Atualizado e revisto por:


William E. Schaaf, Jr.
com Arianne E. Burnette
Tradução:
Cristina Antunes

Do machado de pedra
Às TECNO LO GIAs DA INFORMA çà O
Publicado originalmente em 1987 por Macdonald & Co
Edição atualizada e revista publicada em 1999 por Little, brown
and Company (UK)

Copyright do texto original © 1987 Trevor I. Williams


Material textual adaptado da tradução em português © 1999 William E.
Schaaf Jr/ Little Brown Company (UK)

Copyright da tradução © 2009 Autêntica Editora LTDA./Gutenberg

título original
A History of Invention – From Stone
Axes to Silicon Chips
tradução
Cristina Antunes
projeto gráfico de Capa
Diogo Droschi
projeto gráfico de miolo
Todos os direitos reservados pela Autêntica Editora/Gutenberg.
Christiane Costa / Conrado Esteves
Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida, seja
editoração eletrônica por meios mecânicos, eletrônicos, seja via cópia xerográfica, sem
Christiane Costa / Conrado Esteves a autorização prévia da Editora.
edição de textos
Ana Carolina Lins
Autêntica Editora Ltda./gutenberg
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30140-071 . Belo Horizonte . MG
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Tel: (55 31) 3222 68 19
editora responsável Televendas: 0800 283 13 22
Rejane Dias www.autenticaeditora.com.br

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Williams, Trevor I.
História das invenções : do machado de pedra às tecnologias da informação /
Trevor I. Williams ; tradução Cristina Antunes. – atual. e rev. por William E.
Schaaf, Jr. e Arianne E. Burnette. – Belo Horizonte : Gutenberg, 2009.

Título original: A History of Invention : From Stone Axes to Silicon Chips.


ISBN 978-85-89239-21-9

1. Invenções - História 2. Tecnologia - História I. Schaaf, William E.. II.


Burnette, Arianne E.. III. Título.

10-02687 CDD-609

Índices para catálogo sistemático:


1. Invenções : História : Tecnologia 609
Introdução 7

i. O Velho Mundo 1. Os primórdios da civilização 12


2. A Revolução Agrícola 33
3. Transporte 44
4. Edificação e construção 59
5. Engenharia e maquinário 73

iI . A descoberta de 6 . Da ascensão do Islã ao Renascimento 86


um novo mundo 7. Frotas e navegação 95
8. O início da mecanização 108

iiI. O nascimento da 9 .O surgimento do Mundo Moderno 118


industrialização 10. Novos modos de transporte 137
11.Mineração e metais 155
12. Utensílios domésticos 168

iv. A expansão 13. O princípio do século XX 182


transatlântica 14. A tecnologia militar e
a Primeira Guerra Mundial 190
15. Novos ca0nais de comunicação 201
16. Transporte: a ascensão do
transporte terrestre e aéreo 222
17. Novas técnicas de construção 239

v. O mundo moderno 18. O mundo do Pós-Guerra 250


19.Medicina e Saúde Pública 260
20. Novos aspectos da
agricultura e dos alimentos 279
21. Novos materiais 295
22. Computadores e Tecnologia da Informação 302
apostamos no impacto visual causado pelo
I NTROD UÇ ÃO amplo uso de imagens coloridas e ilustra-
ções, diferentemente do modo anterior a
que estive acostumado.
A civilização tem muitas facetas, mas
a maneira como o homem vive depende
muito mais do que ele pode fazer. O obje-
tivo deste livro é despertar maior interesse
No decorrer dos últimos 30 anos dedi- pelo modo como os fatores tecnológicos
quei muito tempo à história da tecnologia modelaram – e continuam a modelar – a
e escrevi e editei uma série de livros de ca- história humana; mas, se isso é conseguido,
ráter geral, tratando de temas e períodos o interesse deve ser mantido. Há, portanto,
históricos específicos. O fato de eles terem uma extensa bibliografia no final para aque-
sido bem recebidos encorajou-me a embar- les que quiserem leituras adicionais. Na
car neste novo trabalho que é, ao mesmo maior parte do período aqui examinado,
tempo, mais ambicioso e mais simples. Mais os inventores são anônimos e devem per-
ambicioso na medida em que abrange a to- manecer assim: não podemos dizer quem
talidade da história da civilização material, fez a primeira roda ou fundiu o primeiro
desde o trabalho da pedra e o surgimento cobre. De fato, como veremos, é provável
da agricultura até o lançamento de foguetes que muitas invenções básicas tenham sido
espaciais e a o advento dos computadores feitas independentemente, em diferentes
e das tecnologias da informação. Simples épocas e diversos lugares. Nas palavras de
porque notas de rodapé, referências no texto um provérbio russo, o melhor do novo é
e outros aparatos acadêmicos foram deixa- muitas vezes o passado imemorável.
dos de lado para favorecer um texto discur- À medida que a história se desenvolve,
sivo ininterrupto que resistisse à tentação no entanto, a situação muda: invenções
de explorar caminhos secundários, ainda específicas podem ser progressivamente
que esses possam ser interessantes. Usando atribuídas a indivíduos específicos, aten-
idioma vernáculo moderno – ele próprio tos às oportunidades sociais e econômicas.
reflexo de avanços tecnológicos recentes –, Mesmo assim, podemos apontar diversos

O século XIX viu uma revolução no


transporte por terra e por mar graças à
propulsão a vapor. Essa ilustração mostra
o esboço de Boulton e Watt para o Clemont
de Robert Fulton (1807). (Birminghan Public
Libraries. Boulton and Watt Collection)

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casos nos tempos atuais em que inventores muito grandes podem se permitir aplicar os
rivais registraram patentes um do outro, recursos necessários para se arriscarem mais
num prazo de dias ou mesmo de horas. A longe dentro do desconhecido.
ideia, por assim dizer, estava no ar, pronta A ideia tradicional de que a necessi-
para ser agarrada. dade é a mãe da invenção – postulada pela
No entanto, embora o gênio criativo e primeira vez por escritores clássicos como
imaginativo do indivíduo seja a mola mestra Aristóteles – é, na melhor das hipóteses, não
da invenção, neste momento, de certa forma mais que meia verdade. O que espero que
talvez estejamos rumando para um novo pe- este livro vá mostrar não é que a tecnologia
ríodo de anonimato, pois muito do progres- serve apenas para satisfazer necessidades hu-
so tecnológico agora se origina do trabalho manas visíveis, mas que a sociedade pode
de equipes não identificadas publicamente, lucrar tirando proveito dos novos avanços
dentro de laboratórios governamentais ou de técnicos. Às vezes é difícil perceber qual fator
grandes corporações. Isso reflete ainda outro é dominante em um caso específico, mas,
desenvolvimento significativo: a complexida- quando se trata da realidade da poderosa
de da tecnologia moderna é hoje tão notá- interação entre tecnologia e sociedade, não
vel que frequentemente apenas instituições pode haver dúvida.
Trevor I. Williams.

8
I
O Velho Mundo
O VELHO MUNDO
Esse é um termo conveniente, embora
geral, que representa um período
de cerca de 4.000 anos e abrange
geograficamente uma distância que
vai da Europa ocidental até a China –
uma ampla zona dentro da qual uma
sucessão de grandes impérios contíguos
floresceu e caiu.

O IMPÉRIO ROMANO atingiu sua maior


extensão no século III d.C., quando
compreendia e havia assimilado as culturas
da maior parte da Europa moderna, exceto
a Alemanha, a costa norte da África, todo o
Egito e grande parte do Oriente Médio.

O IMPÉRIO EGÍPCIO
O IMPÉRIO ASSÍRIO

O IMPÉRIO EGÍPCIO alcançou geograficamente


o seu auge aproximadamente em 1450 a.C.,
quando se estendeu para o sul além de Cartum,
no Nilo, e em direção ao norte para o Eufrates.
O IMPÉRIO ASSÍRIO floresceu de um pequeno
começo no Tigre central. Por volta do século VII
a.C., estendia-se do norte do Egito ao que é hoje
o Irã ocidental, mas ruiu em 612 a.C. com o saque
de Nínive, sua capital, pelos medos e babilônios.
O IMPÉRIO PERSA

O IMPÉRIO PERSA foi fundado


aproximadamente em 550
a.C., por Ciro II. Sob Dario
I, estendeu-se desde o rio
Nilo até o Indo. Em seguida,
sob Alexandre, o Grande, foi
largamente incorporado em
um notável novo IMPÉRIO
IMPÉRIO PERSA
GREGO, que floresceu a partir
(maior extensão em 525 a.C.)
de cidades-Estado fundadas
Estados gregos ao redor do Mediterrâneo e
(550 a.C.) do Mar Negro.

O IMPÉRIO HAN. No início da era


cristã na Europa, o Império Han (202
a.C. – 220 d.C) já tinha dois séculos
de idade e rivalizava com o Império
Romano em extensão e riqueza.

IMPÉRIO DE ASOKA. A civilização


harappiana floresceu na região do
Vale do Indo cerca de 3.000 anos
atrás. É duvidoso que ela sempre
tenha tido um governo central, mas
é certo que em 250 a.C. o soberano
budista Asoka já estava firmemente
estabelecido como chefe do império
que cobria a maior parte do
subcontinente indiano.
c a p í t u l o 1
religiosas, nos costumes sociais, nas formas
de governo e na criação artística. Contudo,
O s primór d i o s uma faceta de fundamental importância para
d a civi liza çã o todas elas: a tecnologia, que, num sentido
mais amplo, pode significar a aplicação do
conhecimento para finalidades práticas.
Hoje, a tecnologia é, na prática, sinôni-
mo de ciência aplicada, mas as tecnologias
“Civilização” não pode ser precisamente básicas – tais como agricultura, construção,
definida, não apenas por ser um processo cerâmica, tecidos – foram originalmente em-
evolucionário, mas também por ter se ma- píricas e transmitidas de uma geração para
nifestado de formas muito diferentes através outra, enquanto a ciência, no sentido de pes-
dos tempos. Assim, a civilização romana, quisa sistemática das leis do universo, é um
que variava consideravelmente em si mesma fenômeno relativamente recente. A tecnolo-
dentro de sua enorme extensão, era muito gia foi fundamental, já que proporcionava os
diferente daquela da Polinésia, da qual o recursos necessários para sociedades organi-
Ocidente sequer tinha conhecimento até as zadas, e estas tornaram possíveis não apenas
grandes viagens do Pacífico no século XVI, a divisão do trabalho – por exemplo entre
ou daquela dos incas da América do Sul, que trabalhadores da terra, oleiros, marinheiros e
foi extinta pelos espanhóis. Entre essas civili- similares –, como também um ambiente no
zações, havia múltiplas diferenças nas crenças qual puderam florescer as artes em geral, não

6000 a.C. 3500 a.C. 3000 a.C. 2500 a.C.


trigo emmer linho foices de
moinho manual arados irrigação cânhamo
primeiro trigo einkornpainço bronze
AGRICULTURA irrigação primitiva no Egito cultivado
estágio cevada foice de sílex semeadeiras
no Oriente Médio na China
agrícola animais domesticados na Babilônia

tecelagem vidro feito corantes animais


cerâmica e vegetais
cerâmica queimada roda de oleiro no Egito
VIDA DOMÉSTICA na Mesopotâmia escrita em
lâmpada a óleo em fornos seda na China papiros

animal de carga barcos de veículos à roda


bote escavado junco no Nilo
(jumento) na China esquis usados
TRANSPORTE na madeira barcos à vela
na Holanda veículos à roda navios de madeira navio funerário na Escandinávia
na Mesopotâmia na Mesopotâmia de Queops
construção de arco aparece no Egito
tijolos cozidos pedra no Egito
CONSTRUÇÃO no forno no represa de alvenaria
pirâmide em degraus
Oriente Médio através do Wadi Gerrawi
de Zoser (pedra)

maquinário arcos e flechas simples alavancas e rampas enxó e pua de arco de


de força e usadas para mover corda usada no Egito
de COMBATE lanças cargas pesadas carruagem na Suméria

fundição por cera-perdida


solda e trabalho em
METAIS ouro aluvial cobre / bronze ornamentos de
soldagem chapa metálica
prata em Ur
de prata
escrita da civilização primórdios da Império Antigo egípcio civilização do
CULTURA Jericó Catal suméria escrita cuneiforme escrita Vale do Indo
URBANA Hüyuk calendário egípcio hieróglifos hierática Harappa e
da cultura no Nilo egípcios calendário babilônico Mohenjo-Daro

12 O v e l h o mundo
necessárias para a vida no dia a dia. A maio-
ria dessas artes dependia de alguma espécie
de suporte tecnológico: o escultor requeria
ferramentas, o escritor necessitava de tinta e
papiro (ou papel, mais tarde), o dramaturgo
precisava de teatros especialmente construí-
dos. Muito frequentemente, a fronteira en-
tre ofício e arte era indistinta: desde época
bem remota, os vasilhames dos ceramistas
eram ricamente ornamentados, exigindo
uma habilidade prática em vitrificação; o Olduvai Gorge, na planície do Serengeti, é um dos
sítios arqueológicos mais famosos do mundo e
tecelão usava corantes para tingir seu fio e deve seu nome à mais antiga tecnologia humana
manejava seu tear para produzir intricados de ferramenta de pedra conhecida.

e coloridos desenhos e os requintados pro-


dutos do joalheiro exigiam conhecimento de na vida das pessoas do mundo ocidental e,
trabalho com metais e de técnicas especiais, por sua necessidade, também no restante
tais como esmaltagem e granulação. do mundo. Não é, de maneira alguma, uma
Este livro pretende contar a história da história simples, já que se desdobra regular e
tecnologia desde o despertar da civilização logicamente, estando, pelo contrário, longe
até os dias de hoje, quando, para o melhor de ser uniforme – enquanto o primeiro ho-
ou o pior, tornou-se um fator dominante mem estava andando na superfície da lua,

2000 a.C. 1500 a.C. 1000 a.C. 500 a.C. 1 d.C. 500 d.C.
cultivo de campos arado com algodão no Oriente chá cultivado
algodão cultivado de arroz na China
pontas de ferro Médio e China na China
no Vale do Indo
milho cultivado cadeia de baldes parafuso de Arquimedes
shaduf na América para irrigação para irrigação

fechaduras e associação importação de seda para o ocidente


argila caulim romana de pintores
panela Li chaves no Egito fornos horizontais
usada pelos velas na Ásia Menor vidro soprado
chinesa para cerâmica em
oleiros chineses tricô de malha estabelecido o comércio do sal Roma e na China
veículo puxado bote de junco no Peru birreme canal do Nilo ao carro de sela barcos de casco
a cavalo Mar Vermelho mão na acolchoada trincado na
cavalos cavalgados fenício China na China Escandinávia
trirreme bússola magnética
rodas com raios Penteconter grego ferradura de ferro navios chineses com
(embarcação a remo) mapa-múndi estribo de metal anteparas transversais
Partenon Grande Muralha Muralha de Adriano
Stonehenge I da China
tumba Tholos muralha arco ogival
reforço de ferro arcos de
em Micenas Assíria-Média pedra na Panteão, Roma
nas construções Aqueduto Pont du Gard
China
cavalos de polia simples usada torno para fortaleza armas de artilharia
pelos assírios manivela na China
guerra usados madeira concêntrica Sinjerli rede de correio complexo de
pelos povos da torres de cerco compostos bestas
roda d’água plaina romana moinho d’água
incendiários guindaste e
estepe da Ásia arco composto complexo de polias baixa para madeira de Barbegal
ferro trabalhado expande-se o mineração de estanho aço produzido Coluna de Ferro
pelos chalybes uso do ferro na Cornualha por cofusão em Delhi
fundido minério molde de fundição ligas de bronze e fundição em uso do latão
sulfato de cobre em duas partes cobre-níquel na China pilha na China na China

pergaminho alfabeto fundação de Cartago calendário papel manufaturado


no Egito primeiros caracteres chineses cidades-Estado gregas Juliano na China
relógio de sol no Egito caracteres demóticos
cidades fenícias dominam fundação de Roma abreviaturas impressão manual
comércio do Mediterrâneo colapso do império hitita latinas com pedra na China

O s P rim ó rdios da C i v i l i z a ç ã o 13
outros, em locais remotos do mundo, ainda de anos. A mais antiga tecnologia humana
estavam vivendo praticamente na Idade da de ferramenta de pedra conhecida é, por
Pedra. Também não ocorreu um processo essa razão, chamada de Oldowan. Resquí-
simples de novas técnicas sendo inventa- cios humanos de lugares tão longínquos
das em um único centro, de onde elas se como Pequim têm entre 350.000 e 500.000
propagam para longe. Isso muitas vezes até anos, e fósseis mais primitivos do Homo erec-
chegou a ocorrer, mas temos diversos exem- tus têm sido encontrados em Java, datando
plos de invenções independentes e de fortes de 600.000 a 1,8 milhão de anos atrás. No
interações nas quais culturas distintas se entanto, o estudo de tais vestígios primi-
encontram. A China, embora tendo vivido tivos é domínio dos antropólogos, e para
uma história turbulenta, tem desfrutado que encontremos homens com os quais
cerca de 4.000 anos de civilização ininter- possamos nos identificar não podemos vol-
rupta, e a importância de suas exportações tar mais que, aproximadamente, 25.000
para o Ocidente é bem conhecida, já que anos, apesar de a espécie Homo sapiens ter
seu povo foi responsável, entre outros, pela se desenvolvido bem antes disso.
bússola magnética, pelo papel, pela impres- Ao voltar tanto no tempo somos igual-
são e pela pólvora. Mais tarde, por outro mente levados para uma época de ampla
lado, especialmente depois que os jesuítas variação climática, marcada por sucessivos
lá se estabeleceram, as tecnologias ocidentais avanços e recuos de geleiras que, vez ou
também foram absorvidas pela civilização outra, cobriam a maior parte da América
chinesa. Portanto, determinar as rotas pelas do Norte, da Europa e da Ásia. Por causa
quais tanto produtos manufaturados quanto dessa severidade do clima, a sobrevivência
novas ideias foram trocados ao longo dos somente foi possível através de respostas
séculos é um dos aspectos mais fascinantes tecnológicas: controle do fogo, construção
da história da tecnologia. de abrigos ou aperfeiçoamento dos naturais
e produção de vestimentas capazes de isolar
Os homens primitivos o frio. Essas mudanças climáticas tinham
A afirmação de que a tecnologia é um outra importante consequência, visto que,
ingrediente essencial da civilização ime- em sua extensão máxima, a cobertura de
diatamente nos faz questionar quando foi gelo ampliada podia imobilizar enormes
que o homem se tornou um ser civilizado, quantidades de água a ponto de mudar o
distinguível de seus ancestrais hominídeos. nível dos oceanos, fazendo-os descer a um
Pode não ser, é claro, um ponto preciso de nível cerca de 100 metros abaixo do atual.
transição, mas o critério geralmente acei- A migração humana – e animal – foi favo-
to é que o homem se diferencia de seus recida pelo surgimento de pontes de terra
ancestrais primatas por sua habilidade de que não existiam antes, abrindo caminho,
produzir ferramentas. por exemplo, da Ásia para a América do
Desde a declaração do bispo James Norte – através do Estreito de Bering – e da
Ussher, no século XVII, de que a criação Grã-Bretanha para a Europa continental.
aconteceu no ano 4004 a.C., tem sido dada De modo inverso, à medida que períodos
ao homem uma antiguidade muito maior. mais quentes intervinham, os oceanos se
Estima-se que resquícios descobertos em Ol- elevavam, fazendo com que as áreas recen-
duvai Gorge, na África oriental, e associados temente ocupadas se tornassem isoladas.
com pedras cruamente esculpidas como fer- Embora essas variações climáticas fos-
ramentas tenham uma idade de 2,6 milhões sem mais severas nas latitudes setentrionais,

14 O v e l h o mundo
os efeitos eram globais. Afetavam profunda- vamos falar de seres civilizados no sentido
mente a fauna e a flora regionais, fazendo geralmente aceito, devemos procurar mais
com que o homem só pudesse sobreviver se que isso. Além das habilidades manuais, de-
adaptasse suas técnicas às novas condições. O vemos olhar para a capacidade de pensamen-
Saara é um exemplo: hoje é um deserto, mas to racional conceitual e a habilidade para se
durante a Idade do Gelo europeia foi uma comunicar através de uma linguagem falada
área verde. Prova disso são os traços abun- e, em última análise, escrita. Somente assim
dantes de antigos assentamentos, com várias as realizações de uma geração podem ser
pinturas rupestres que retratam animais que transmitidas para as próximas e, por estas,
desapareceram há muito tempo. Além disso, ser aperfeiçoadas. Tendemos a considerar a
foi o principal caminho para a migração hu- informação tecnológica como uma inovação
mana, e não a barreira que é hoje. moderna, mas, na realidade, trata-se de uma
As considerações climáticas, assim das mais antigas e mais fundamentais: um
como a evidência fóssil, sugerem a África sistema para manutenção de registros e rela-
como o berço da espécie humana (embora tos públicos foi um dos primeiros requisitos
a possibilidade de mais de um centro não das comunidades organizadas.
possa ser descartada). De lá ocorreu a migra-
ção para as partes do mundo onde o clima Homem, o caçador-coletor
era mais favorável. Na Europa, na Ásia, no O Paleolítico ou antiga Idade do Gelo
Japão e na Austrália certamente já existiam foi um período no qual o homem viveu à
colônias humanas há cinquenta mil anos. custa da terra como caçador e coletor de ali-
A América do Norte, no entanto, parece mento em vez de como um produtor delibe-
ter sido praticamente desabitada até 20.000 rado. O sucesso nisso demandava uma série
anos atrás, quando caçadores da Mongó- de habilidades, muitas das quais completa-
lia atravessaram a ponte de terra até o que mente refinadas e complexas, que lhe permi-
é hoje o Alasca e o Canadá, em busca de tiram não apenas sobreviver, mas sobreviver
abundantes rebanhos de mamute e rena. confortavelmente, em circunstâncias sob as
Mais tarde, eles se espalharam para o sul, quais o homem civilizado moderno teria ra-
rumo ao México, e em seguida ao longo do pidamente perecido. Não é exequível colocar
istmo do Panamá, descendo a costa oeste da a aquisição dessas habilidades em qualquer
América do Sul. Um assentamento da Idade espécie de ordem cronológica, visto que a
do Gelo, em Monte Verde, bem abaixo no prática variava de lugar para lugar e de época
sul do Chile, data de mais ou menos 11.000 para época, dependendo das circunstâncias
a.C, e foi dessa linhagem que surgiram as locais. A extraordinária habilidade do talha-
civilizações dos incas e dos astecas, as quais, dor de pederneira (ou britador), por exem-
entretanto, tiveram vida curta. plo, não seria, obviamente, praticada em
Porém, por enquanto devemos voltar a áreas onde esse tipo de pedra não estivesse
examinar que tipos de habilidades acumu- disponível. Assim, devemos nos contentar
ladas foram legados ao homem moderno em sumariar o que pode ser chamado de
por seus ancestrais remotos. Se aceitarmos tecnologias básicas do homem paleolítico, o
a definição de que o homem é um primata qual significa o homem que ainda não tinha
criador de ferramentas, podemos olhar para nenhum conhecimento dos metais.
um bastão pontiagudo endurecido no fogo Inicialmente, o homem não produ-
ou para uma pedra rudemente lascada como zia ferramentas, porém dependia do que
evidência de realização tecnológica. Mas se se revelava imediatamente pronto, como

O s P rim ó rdios da C i v i l i z a ç ã o 15
permanecem em uso até os dias de hoje,
sendo modificadas à medida que novos ma-
teriais e técnicas se tornaram disponíveis.
As antigas lanças eram, sem dúvida, nada
mais que varas de madeira afiadas em pon-
ta e endurecidas no fogo. Uma das mais
antigas peças de marcenaria sobreviventes
é exatamente semelhante a uma lança,
feita de teixo, recuperada de solo alaga-
do – um bom conservante de madeira –
na Inglaterra e com, talvez, mais de um quar-
Pinturas rupestres proporcionam imagens vívidas to de milhão de anos de idade. Outra lança
das atividades do homem primitivo. Este exemplo similar, também feita de teixo, foi encontra-
do platô Tassili n’Ajjer, na Argélia, data de cerca
de 6.000 a.C. Retrata uma cena de caça, incluindo
da dentro do esqueleto de um elefante na
girafas, hoje só encontradas ao sul do Saara. Alemanha. Era com armas simples assim que
grandes presas eram caçadas. Mais tarde, fo-
uma pedra afiada, um osso quebrado ou ram utilizadas pontas feitas de pederneira ou
um galho partido. Posteriormente ele co- osso, e o poder da arma nua do caçador foi
meçou a modelar madeira, osso e pedra aumentado pelo uso de recursos de alavanca
como ferramentas. Artefatos de madeira (spear-throwers) para obter maior velocidade
raramente sobrevivem, embora sua forma no arremesso, como aqueles usados pelos
possa muitas vezes ser deduzida a partir esquimós, pelos aborígines da Austrália e
dos instrumentos de pedra – tais como ca- pelos nativos da Nova Guiné. O arco foi o
beças de machado ou pontas de lança –, mais antigo dispositivo usado para liberar
com as quais eles devem ter sido usados. No instantaneamente energia concentrada e é
começo, a machadinha pontiaguda, ainda claramente ilustrado em pinturas rupestres
usada pelos aborígines australianos, foi a na África do Norte que datam, provavel-
ferramenta básica para todos os fins, sendo mente, de 20000 a.C. ou antes – indubita-
útil para cortar, raspar, triturar e rachar. velmente, eles eram, então, já bem antigos.
Mas, já em época muito antiga, existe clara Para a caça de pequenos animais eram
evidência não apenas da produção delibe- usadas armas de arremesso feitas de madeira,
rada de ferramentas, mas também de um dentre as quais podemos citar o bumeran-
surpreendente grau de especialização. gue australiano de formato falciforme que
Muitas das armas inventadas para a retorna ao lançador, uma forma altamen-
essencial e fundamental atividade da caça te especializada de arma. Bumerangues de

O nível do mar caiu durante a última Idade do


Gelo, criando pontes de terra entre Grã-Bretanha e
Europa, Ásia e América do Norte, China e Indonésia
e Nova Guiné e Austrália. Na medida em que
desenvolveram meios de sobrevivência em climas
mais frios, os homens primitivos começaram a
se propagar fora da África, há cerca de 50.000
anos. As novas pontes terrestres permitiram-lhes
colonizar primeiro a Europa e a Ásia, depois a
Austrália e, finalmente, a América, alcançando a
extremidade da América do Sul 13.000 anos atrás.

16 O v e l h o mundo
1600
2000 caça para derrubá-la. Ambos os dispositivos
1200 são provavelmente armas muito antigas e
800
AD 400 bem podem ter sido inventadas indepen-
dentemente, em mais de um lugar, já que
os laços também eram usados pelos índios
bilhões

na América pré-colombiana, e as bolas, na


região da Patagônia, na América do Sul.
milhões anos
atrás
A pedra foi de uma importância ímpar
10.000 100 por causa de sua dureza e da capacidade de
1000
100
1000 permitir um corte afiado, mas o homem
10 10.000
também sempre se servia, onde quer que es-
1 tivesse, de recursos locais. Embora os animais
100.000
O aumento da população mundial fossem caçados principalmente pela carne,
durante o último milhão de anos.
10.000.000
A inserção mostra o crescimento
também forneciam osso, chifre e marfim.
ao longo dos últimos 2.000 anos. Esses eram transformados não apenas em arti-
gos úteis, mas também em outros objetos, tais
diferentes formatos desenvolveram-se tam- como estatuetas, que tanto eram ornamentais
bém na África, na Índia e em outros lugares, como tinham significado religioso. Os chifres
como prova um bumerangue encontrado na serviam como picaretas, e as escápulas, como
Polônia meridional, na caverna Obla-Zowa, pás. Ambos são comumente encontrados pró-
ximos aos restos de minas e pedreiras, como
que se acredita ter 21.000 anos, sendo mais
as de Grime’s Graves na Inglaterra, que foram
antigo que o primeiro bumerangue austra-
abertas para fornecer pederneira.
liano conhecido. Projetar tal artefato com
Os animais também forneciam couros
a vantagem do conhecimento de aerodinâ-
que podiam ser raspados, limpos da gor-
mica atual seria tarefa para um especialista;
dura e dos pelos com raspadeiras de sílex
como ele foi desenvolvido empiricamente
e depois tornados macios e flexíveis, talvez
pelo homem primitivo, permanece um mis- pela mastigação, como faziam os esquimós.
tério. Outro exemplo de arma de arremesso Posteriormente, o couro era transformado
bem antiga é a funda, que tem sido encon- em vestimentas, essenciais para proteção nos
trada em muitos sítios paleolíticos. frios invernos do norte.
Para pessoas que vivem perto do mar ou A madeira servia a muitos propósitos.
dos rios, a pesca é uma importante fonte de Nos locais de climas setentrionais, onde era
alimento, e várias espécies de anzóis de pesca abundante, funcionava como um combustí-
foram recuperadas de sítios paleolíticos. Eles vel indispensável e fonte de luz. O fogo tam-
vão desde o simples gancho de garganta (gorge bém era usado na caça para dispersar animais
hook) – uma espiga de pontas duplas no meio rumo a uma emboscada ou em direção a ar-
do qual a linha era amarrada – até verdadeiros madilhas, conforme revelaram os esqueletos
anzóis feitos de sílex, osso ou concha. de uma manada de elefantes circundada por
Pinturas egípcias datadas de mais de feixes queimados que foram encontrados em
3000 anos a.C. mostram o uso do laço e escavações na Espanha. A madeira, modela-
de bolas. Estas últimas consistiam em dois da pelo corte e pela raspagem, era apropriada
pesos ligados por uma corda curta, lança- para muitas outras finalidades práticas, como
das com um movimento giratório a fim de fornecer cabos para ferramentas, conferindo
serem enroscadas em torno das pernas da uma vantagem mecânica. Também deve ter

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em situações similares, os homens tendem
a reagir da mesma maneira, ainda que seja
apenas pelo número de opções limitado.

O trabalho da pedra
Em razão da natureza perecível da ma-
deira, nosso conhecimento de como ela era
usada deve ser, em grande parte, uma ques-
tão de inferência. Com a pedra, no entanto,
falamos com mais propriedade, uma vez que
existe um grande número de artefatos anti-
O homem primitivo fez hábil uso de todos os materiais
disponíveis. Ossos e chifres tiveram muitas utilidades:
gos que atravessaram os anos e chegaram até
escápulas, por exemplo, davam excelentes pás, e galhadas nós. A pederneira era o material favorito em
serviam como picaretas. Estes arpões feitos de chifres de todo o mundo devido às suas propriedades
galhadas vieram de um sítio mesolítico (cerca de 6.000
a.C.) em Stone Car, Yorkshire, Inglaterra. físicas incomuns. Embora um forte golpe a
despedace, reduzindo grandes pedras a pro-
porções manejáveis, golpes mais leves produ-
sido útil para a construção de estruturas de
zem o que é chamado de fratura concoidal
abrigos, como as cabanas revestidas de couro
(semelhante a “concha”), removendo uma
dos índios americanos, as tendas portáteis
lasca de pederneira e deixando uma rasa
dos lapões e os yurts, construções arredon-
depressão. Pelo controle da força e direção
dadas dos mongóis.
do golpe, um trabalhador habilidoso pode
Embora barcos verdadeiros não possam regular o tamanho e a forma das lascas com
ser identificados antes do sétimo milênio extraordinária precisão.
a.C., balsas simples devem ter sido usadas Duas técnicas básicas eram usadas. Em
bem antes. Mesmo sob as mais primitivas uma delas, eram lascados pedaços de uma
condições, os recipientes simples e os vasi- peça de pederneira de tamanho considerável
lhames para beber eram cobiçados, e havia até o objeto desejado (por exemplo, uma ma-
muitas fontes naturais deles antes do ad- chadinha) ser produzido. Os resultados disso
vento da cerâmica. Conchas, chifres ocos, são chamados de ferramentas sobre núcleo.
cabaças, cuias de coco e semelhantes podiam Na outra técnica, a pedra era trabalhada para
facilmente ser utilizados para esse fim, como produzir lascas de tamanho e forma ade-
ainda são em algumas partes do mundo. quados para serem usadas como raspadeiras
Certamente, pessoas que podiam costurar ou lâminas de faca. Essas eram chamadas
vestimentas de couro podiam igualmente ferramentas sobre lascas. Inevitavelmente,
costurar garrafas de couro. E, apesar de não as duas técnicas se sobrepunham de vez em
haver evidência direta, podemos supor que quando. O produtor de ferramentas sobre
a cestaria básica já era conhecida em épocas núcleo, naturalmente, recolheria algumas
remotas, uma vez que vimeiros, juncos e das lascas resultantes para convertê-las em
outros materiais apropriados estavam larga- ferramentas sobre lascas. Essas técnicas de
mente disponíveis. De fato, à medida que modelagem da pederneira não desapare-
penetramos na visão dos períodos históricos, ceram de todo na sociedade moderna. Na
podemos inferir que o homem fez o mesmo cidade de Brandon, na Inglaterra, romper
tipo de uso dos recursos disponíveis que as pederneiras com martelos foi uma técnica
tribos primitivas fazem hoje. Isso porque, usada desde 1790 até recentemente para

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A D

As mais primitivas ferramentas de pedra eram pouco mais que


seixos lascados, como aqueles recuperados em Olduvai Gorge
(A). Esses contrastam com a lasca e o núcleo (B), o raspador
e a pederneira (C), as pontas de flecha neandertais (F) e a
lindamente trabalhada adaga de pederneira da Dinamarca (E), que
provavelmente data da antiga Idade do Bronze. Numa primeira fase,
a produção de ferramentas de pederneira torna-se uma indústria
organizada, e produtos característicos são distribuídos ao longo
das rotas de comércio. Um desses centros foi aquele em Grime’s
Grave, Norfolk, Inglaterra (D). Lá, mineiros neolíticos desciam em
poços a uma profundidade de 10 m, com galerias iluminadas.
Minas de pederneira similares foram descobertas em outras
partes da Inglaterra e em muitas regiões da Europa.
C
E F

fornecer pedra para fecharias de pederneira observação de povos primitivos nos tempos
de armas de fogo na África. atuais mostrem que também pode ser usada
Se corretamente desferido, um golpe uma peça de madeira dura ou de osso. Uma
leve descolava uma lasca. A pederneira a ser técnica alternativa era golpear a pedra a ser es-
modelada geralmente seria mantida numa culpida contra a borda de outra maior, usada
das mãos e golpeada com um seixo seguro como uma bigorna. Na lascagem por pressão,
na outra mão, embora a experiência e a uma peça pontuda de madeira ou de osso era

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pressionada fortemente contra a borda da que as realizações do homem paleolítico va-
pederneira a ser esculpida, e pequenas lascas riaram consideravelmente, visto que os arte-
eram removidas no ponto de contato. Na fatos sobreviventes demonstram claramente
assim chamada técnica núcleo de tartaruga o surgimento de diferentes culturas. Assim,
(tortoise-core), a pederneira era antes de tudo na cultura acheuliana do norte da França,
modelada até que parecesse uma tartaruga in- que se originou na África, predominou o
vertida. Se golpeada repetidamente em torno uso de ferramentas sobre núcleo, enquan-
da borda, ela renderia uma sucessão de lascas to na cultura clactoniana-mousteriana, que
uniformes afiadas que poderiam ser usadas, deve ter chegado na Europa a partir da Ásia,
sem tratamento adicional, como facas des- eram favorecidas as ferramentas de lascas.
cascadoras ou para propósitos semelhantes. A cultura aurignaciana, que incluía o Cro-
Certas pedras siliciosas, tais como a Magnon, era caracterizada pelo extenso uso
obsidiana e o sílex córneo, demonstram a do osso e do chifre. Para o especialista, a
mesma propriedade útil da fratura concoidal forma precisa pela qual uma pederneira é
e foram usadas nas regiões onde existiam. trabalhada ou uma galhada é entalhada pode
O vidro e a cerâmica também fraturam con- ser tão reveladora quanto a forma de usar o
coidalmente, e, nos tempos modernos, os pincel numa pintura o é para um moderno
aborígines da Austrália têm recebido com historiador de arte.
prazer garrafas e isoladores descartados pelas
linhas telefônicas como matérias-primas. Artes decorativas
Outras pedras siliciosas foram utilizadas À medida que abordamos períodos
em regiões onde a pedra rochosa não era históricos – digamos 25000 a.C. – surgem
acessível, ou quando a disponibilidade de novos critérios culturais. Inicialmente, as
pederneira para lascar era uma desvanta- tentativas do homem de produzir ferramen-
gem, como na manufatura de ferramentas tas eram estritamente utilitárias, embora o
pesadas, por exemplo, machados para o cor- orgulho da habilidade artesanal, evidencia-
te de árvores. Rochas ígneas perfeitamente do por um acabamento mais fino do que a
granuladas, como o basalto, eram cortadas necessidade demandava, logo se tornasse
rudemente com o auxílio de outras pedras aparente. Então o talento artístico foi pra-
e, então, finalmente modeladas por pulve- ticado como um fim em si mesmo ou, pelo
rização. Isso pode ser feito com o auxílio menos, por propósitos místicos em vez de
de um bloco de rocha áspera, tal como o práticos. A chamada estatueta de Vênus,
arenito. Por outro lado, uma mistura de areia com uns poucos centímetros de altura e
e água serviria. Essa técnica também era usa- muitas vezes esculpida em marfim, tem sido
da pelos egípcios para preparar superfícies encontrada em sítios tão distantes como
planas de pedras para construção. Ela da- Rússia, Itália e França.
ria um acabamento satisfatório, mas alguns Uma manifestação particularmente in-
machados sobreviventes têm um polimento teressante foi a arte rupestre. Ela retrata, de
tão intenso que evidentemente haviam sido maneira vívida, muitas das atividades e fer-
mais polidos, talvez com couro e um fino pó ramentas – especialmente aquelas associadas
de polimento, como barro ou argila absor- à caça – que, de outra maneira, seriam uma
vente (fuller’s earth). questão de inferência. Embora os melhores
As questões de diferença racial nas ha- exemplos conhecidos estejam na Europa
bilidades físicas e na acuidade mental são ocidental, como em Chauvet, Lascaux e
delicadas e controversas. É fato, entretanto, Altamira, também têm sido encontrados –

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