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PARA COMEÇAR
Escutamos do povo: “Reze por mim!”
Nosso povo sabe que rezamos
Muitas vezes levamos estas orações para a oração litúgica: quer na Liturgia das
Horas, quer na Celebração Eucarística (intenções) ou devocional, quer na oração pessoal
Tudo que fazemos é “material” para a Eucaristia
O Judeu piedoso costuma “dar graças a Deus” em tudo que toca
Assim, nada é “pagão”, mas tudo é sacralizado pelo poder da oração
As vezes vivemos como “pagãos”: desconsideramos Deus de algum aspecto de nossa
vida
1
RATZINGER, J. O novo povo de Deus. São Paulo: Edições Paulinas, 1969, p. 44.
2
AGOSTINHO. Obras Completas. Vol. I. Madrid: Biblioteca de Autores Cristianos, 1946, p. 687.
caridade
Ao mesmo tempo, não pode haver desejo de se estar na presença do Pai, se não
existir um desejo de compromisso efetivo com os irmãos, uma vez que todos somos filhos do
mesmo Pai
Finalmente, não podemos nos comunicar com o Pai, através da oração, se antes não
nos comunicamos com os irmãos
Agostinho chega a afirmar que o amor ao próximo é condição essencial para poder
estar na presença de Deus e contemplar a sua face: “O amor ao próximo purifica os olhos para
ver a Deus” (Comentário ao Evangelho de São João 17,8)3
A oração parte de um coração que ama e chega ao próprio coração de Deus que é
amor
A linguagem da caridade sempre chega aos ouvidos de Deus, ainda que não seja
perceptível aos ouvidos humanos
A oração que Deus escuta e que consegue o que pede é a que vai acompanhada da caridade
e da humildade, do jejum e da esmola, da temperança e do perdão, do desejo de fazer o
bem ao próximo e não retribuir mal por mal, e do propósito de evitar o pecado e realizar
boas obras. Porque apoiada nas asas dessas virtudes, a oração se eleva mais facilmente e
remonta até o céu, onde Cristo penetrou primeiro, nossa paz (Sermão 206,3)4.
Nas relações interpessoais, muitas vezes, o outro corre o risco de se tornar um
concorrente, um rival, alguém que precisa ser vencido “o homem é lobo do homem” (Tomas
Hobbes) – essa tem sido, em geral, a lei predominante em nossas relações competitivas
Na oração, ao contrário, o outro passa a ser visto como um irmão com quem
podemos compartilhar e a quem somos chamados a amar
Isso significa reconhecer que o outro é o lugar privilegiado onde Deus pode ser
reconhecido e encontrado: “Não há escada mais segura para subir ao amor de Deus que o
amor ao homem a seus semelhantes” (Os costumes da Igreja Católica I,26,48)5
Quem reza, ama; necessariamente ama
Amar a Deus e amar o irmão é a síntese proposta por Jesus ao afirmar que “desses
dois mandamentos dependem toda lei e os profetas” (Mt 22,40)
O amor e a oração são como que as duas faces da mesma moeda e os dois pólos que
se atraem mutuamente, num dinamismo infinito
Quando se ama, também se ora, e vice versa; e isso não pode ser jamais
interrompido
A oração é vital para que a chama do amor se mantenha viva
A maravilha da liturgia vivida é, pois, o mistério da caridade divina, tornando-se o tudo da
nossa vida. Na sua fonte, no seu fluxo, nos seus frutos, esta caridade procura tudo penetrar:
o âmago do coração e o ser pessoal, o trabalho e a cultura, as relações entre as pessoas e o
tecido das nossas sociedades. Na caridade o Reino já está presente e vem ‘com poder’, o do
Senhor crucificado e ressuscitado. Mas é ela que nos impulsiona também para ir cada vez
mais longe, ‘até ao extremo do amor’ (cf. Jo 13,1) 6.
3
AGOSTINHO. Obras Completas. Vol. XIII. Madrid: Biblioteca de Autores Cristianos, 1955, p. 559.
4
AGOSTINHO. Obras Completas. Vol. XXIV. Madrid: Biblioteca de Autores Cristianos, 1983, p. 110.
5
AGOSTINHO. Obras Completas. Vol. IV. Madrid: Biblioteca de Autores Cristianos, 1956, p. 321.
6
CORBON, J. A fonte da Liturgia. Lisboa: Paulinas, 1999, p. 185.