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HISTÓRIA

Prof. Marques Aula:04

ROTEIRO DE AULA nº 3 Reprodução: O status das crianças nascidas de ventre es-


Escravismo Antigo1 AULA 01históricos,
cravo era igual ao de suas mães. Os testemunhos
no entanto, não atribuem um peso muito significativo a esta
1 A ESCRAVIDÃO NA GRÉCIA fonte de cativos.
1.1 A ESCRAVIDÃO SEGUNDO ARISTÓTELES: b) Fontes externas: A maior parte dos indivíduos escravizados

P
no mundo grego vinha do exterior das polis. Em geral, eram
Em sua obra “A Política”, o filósofo grego Aristóteles discursou
sujeitos de outras cidades gregas ou, na maioria das vezes,
sobre a condição dos escravizados na sociedade grega.
aqueles que eram considerados “bárbaros” 2. Os principais me-
DOCUMENTO XIV: O Estatuto do Escravizado canismos externos de obtenção de escravos eram os seguin-
tes:
É intenção da natureza modelar os
corpos dos homens livres de modo dife- Guerra: Os prisioneiros gerados por guerra eram geralmente
rente dos corpos dos escravos, atribu- convertidos em escravos. Os gregos poderiam apresar os seus
indo a uns a força necessária para os tra- inimigos vencidos em campo de batalha, mas também comprar
balhos pesados e dando a outros a pos- os cativos realizados em guerras entre “bárbaros”.
tura ereta e tornando-os impróprios para Comércio: O incremento das relações mercantis, proporcio-
esse gênero de trabalhos, mas tornando- nado pela “diáspora grega” 3, gerou uma oferta considerável de
os aptos para a vida de cidadão. É óbvio, escravos-mercadorias, acelerando o interesse dos helenos em
então, que uns são livres e outros escra- assimilar essa forma de mão-de-obra. Mesmo no caso dos pri-
vos, por natureza, e que para estes a es- sioneiros de guerra, os mercadores tendiam a comprá-los, pois
cravidão é não só adequada, mas tam- os oficiais e soldados dificilmente poderiam alojar e alimentar
bém justa. uma massa de cativos.
Busto de Aristóteles. Mármore, cópia Pirataria: Era comum ocorrer o rapto de pessoas para que
romana de um original grego em bronze. ARISTÓTELES. A Política. Lisboa: Veja, 1998. p.65
330.a.C. (adaptado). fossem vendidas como escravas em portos gregos. Essa era
uma prática bastante disseminada entre os fenícios, etruscos,
Condição Natural: Para Aristóteles, há homens que foram des- cretenses e entre outros povos antigos.
tinados ao comando e outros à obediência. Os escravos devem
ser aqueles cuja natureza favorece o trabalho braçal, com uso 1.3 OS LUGARES DO ESCRAVO:
limitado de intelecto. Por seu turno, os cidadãos deveriam dedi- DOCUMENTO XVI: Escravidão e Trabalho Livre.
car-se às tarefas que envolvem o raciocínio, evitando sobrema- Eram poucas as atividades exercidas exclusivamente por escravos no
neira o envolvimento com atividades manuais. mundo grego: o duro trabalho das minas, o serviço doméstico (que podia
Ócio Necessário: O otium é o tempo livre que a rotina do cidadão incluir a produção no quadro das unidades familiares a que estivessem
demandava; um descompromisso com seu próprio sustento ma- integrados). Da mesma forma, também eram escassos os setores reserva-
terial, condição que permitiria a ele dedicar-se às atividades con- dos aos homens livres: o exército (mas não a marinha), as atividades li-
sideradas superiores, tais como a guerra e a política. Era a es- gadas à lei e à justiça, a política (mas não a burocracia). Em todas as ou-
cravidão que tornava isso possível, uma vez que os escraviza- tras áreas, o trabalho livre e o escravo coexistiam em proporções variá-
dos se ocupavam inteiramente da construção da base material veis; de fato, as duas formas de trabalho eram complementares.
CARDOSO, C.F. Trabalho Compulsório na Antiguidade. Rio de Janeiro: Graal, 2003. p.50.
da sociedade e, desse modo, desemprenhavam um papel fun- (adaptado).
damental para o bom funcionamento da polis.
Espaço do trabalho: Na maior parte das atividades exercidas
Propriedade: O escravizado era visto uma ferramenta animada, pelos escravizados, notava-se a convivência diária destes com
constituindo parte do patrimônio do seu senhor. Poderia ser ne- homens livres pobres. que, não raras vezes, dividiam espaço na
gociado, legado, doado e alugado de forma completamente realização dos mesmos serviços. Algumas vezes, essa proximi-
alheia a sua própria vontade. dade gerou um vínculo de cumplicidade entre ambos.
1.2 AS FONTES DE ESCRAVIZAÇÃO:
DOCUMENTO XV: O Abastecimento de Escravos
Se a liberdade política parece intimamente ligada à cidade, o mesmo
se pode dizer da escravidão, que se converte na forma de dependência
predominante no mundo da polis. Convirá esclarecer que a escravidão
tem a sua máxima difusão apenas em algumas cidades, onde as grandes
reformas fizeram desaparecer a multidão de escravos locais. Em compen-
sação, após as reformas da época arcaica, que aumentaram o número de
cidadãos, os Atenienses deixaram de dispor, na própria Ática, de uma
multidão equivalente de dependentes. Para colmatar essa lacuna multi-
plicaram-se rapidamente os escravos provenientes sobretudo do exterior.
THÉBERT, Yvon. O Escravo. In: GIARDINA, Andrea. O Homem Romano. Lisboa: Presença,
1992. p.119.

a) Fontes internas: Cerâmica grega representando o trabalho de escravos rurais.

Dívidas: O recrutamento interno de mão-de-obra escrava foi Escravos rurais: Responsáveis por tarefas produtivas que cons-
possível até as reformas de Sólon (594 a.C.), quando a escra- tituem a principal origem da riqueza dos seus senhores, estavam
vidão por dívidas foi proibida por lei.

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As questões discutidas nesse material se enquadram nas seguintes habilidades da Matriz de Referência do Ver roteiro de aula nº1
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ENEM: H11 Identificar registros de práticas de grupos sociais no tempo e no espaço. H12 Analisar o papel da Idem
justiça como instituição na organização das sociedades. H16 Identificar registros sobre o papel das técnicas
e tecnologias na organização do trabalho e/ou da vida social.

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História - Prof. Marques
sujeitos a uma disciplina severa que tinha por objetivo explorar Expansão romana: Roma dilatou as suas fronteiras continua-
os limites de sua capacidade de trabalho. mente desde o início do período republicano, as sucessivas
campanhas militares proporcionaram a anexação de terras, a
subordinação de populações inteiras e a escravização dos prisi-
oneiros de guerra. O militarismo tornou-se a principal fonte de
escravizados para aquela sociedade.
Conquista do Mediterrâneo: O período das Guerras púnicas
264-146 a.C.) movidas pelos romanos contra os cartagineses
marca o início da grande expansão romana, culminando na con-
quista do Mediterrâneo. Esse recorte cronológico também marca
a notável expansão do escravismo como sistema produtivo he-
gemônico de Roma.
2.3 OS ESCRAVOS GLADIADORES:
DOC.XIX: Escravos Gladiadores em Pompeia
Mulher entronizada com sua escrava. Mármore Vinte pares de gladiadores pertencentes a Decimus Lucretius Satrius
Valens, flâmine perpétuo de Nero César, filho de Augusto e dez pares de
Espaço doméstico: Os escravos do lar dedicavam-se a uma
gladiadores pertencentes a Decimus Lucretius Valens filho combaterão
grande variedade de tarefas, mantendo forte ligação com as
em Pompeia nos dias seis, cinco, quatro três e na véspera dos idos de abril.
suas senhoras, uma vez que a administração doméstica compe-
Haverá uma caça conforme às regras, e toldos.
tia, majoritariamente, ao gênero feminino. As mulheres não ape- Cartaz publicitário pintado numa parede em Pompeia. Apud. CARDOSO, C.F. Trabalho compul-
nas eram responsáveis por gerenciar o trabalho desses escra- sório na antiguidade. São Paulo: Graal, 2003. p.148.
vos, como também criavam laços, especialmente com suas Gladiador: Escravos fortes e/ou
acompanhantes. habilidosos no manejo de diferen-
2 A ESCRAVIDÃO EM ROMA tes tipos de armas eram treinados,
muitas vezes em escolas próprias
2.1 O ESCRAVO SEGUNDO O DIREITO ROMANO: para este fim, com o objetivo de
participarem de espetáculos de
DOC.XVII: Uma visão Jurídica
sangue organizados pelos roma-
Os escravos tornam-se propriedade nossa seja em virtude da lei civil,
nos para entreter a população.
seja da lei comum dos povos; em virtude da lei civil, se qualquer pessoa
de mais de vinte anos permitir a venda de si própria com a finalidade de Panis et Circensis: Política pú-
lucrar conservando uma parte do preço da compra; e em virtude da lei blica disseminada no fim da Repú-
comum dos povos, são nossos escravos aqueles que foram capturados na blica e início do Império romano,
guerra e aqueles que são filhos de nossas escravas. caracterizada, dentre outras coi-
Aelius Marcianus. Institutas Apud CARDOSO, C.F. Trabalho compulsório na antiguidade. São sas, pela organização de pelejas
Paulo: Graal, 2003. p.140.
entre gladiadores para ocupar o
Caráter Pluriétnico: A escravidão na antiguidade clássica não espírito das massas populares e
recaiu sobre um único povo ou sobre um mesmo grupo étnico. colaborar para o controle social Mosaico de Nenning, representando
Os cativos eram provenientes de diferentes partes do Mar Medi- nas cidades romanas. uma luta de gladiadores romanos.
terrâneo e do Mar Negro.
Caças: Os espetáculos de sangue tinham como atração principal
Objeto Animado: Aproximando-se do pensamento aristotélico, a luta entre gladiadores, condição que chegava a gerar fama
o direito romano não conferia aos escravos personalidade jurí- para alguns deles. Esses combates eram precedidos pela luta
dica. Isso significa que eram vistos como “Ferramentas vocáli- contra grandes animais (chamadas de caças), geralmente de
cas”, sobre as quais os senhores possuíam direito de uso e de procedência exótica, tais como rinocerontes, elefantes e leões.
troca.
Pecúlio: Bem cujo uso e gestão era transmitido de um cidadão
para alguém que não tinha direito legal de ter propriedade (me-
nores, mulheres ou pessoas escravizadas). Embora não fosse
usual, o doador poderia sempre retomar o bem de volta. No caso
dos cativos, era possível que o acúmulo do pecúlio fosse usado
para a compra de sua alforria.
Libertos: A obtenção da liberdade, fosse por decisão do senhor
ou por compra realizada com o pecúlio, criava uma nova cate-
goria que, em certos casos, poderia aspirar até mesmo a cida-
dania.
2.2 A ESCRAVIDÃO E O EXPANSIONISMO ROMANO:
DOC.XVIII: Cativos de Guerra
Prisioneiros reduzidos à escravatura em diferentes campanhas
Ano Origem Nº de prisioneiros
209 a.C. Tarento 30 000
204 a.C. África 8 000
177 a.C. Ístria 5 632
174 a.C. Sardenha 40 000
167 a.C. Epiro 150 000
146 a.C. Cartago 50 000
ALFÖLDY, Géza. A História Social de Roma. Lisboa: Editorial Presença, 1989. p.71.

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