Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
com
Aula VIII
Aula VIII
A História e o Negro
Negro, filho de escrava e fidalgo português, o O artigo 402 do Código penal Brasileiro de 1890
baiano Luiz Gama fez da lei e das letras suas dizia: Fazer nas ruas e praças públicas exercícios
armas na luta pela liberdade. Foi vendido de agilidade e destreza corporal, conhecidos
ilegalmente como escravo pelo seu pai para pela denominação de capoeiragem: andar em
cobrir dívidas de jogo. Sabendo ler e escrever, correrias, com armas ou instrumentos capazes de
aos 18 anos de idade conseguiu provas de que produzir uma lesão corporal, provocando tumulto
havia nascido livre. Autodidata, advogado sem ou desordens.
diploma, fez do direito o seu ofício e
transformou-se, em pouco tempo, em Pena: Prisão de dois a seis meses.
proeminente advogado da causa abolicionista.
SOARES, C. E. L. A Negregada instituição: os capoeiras no Rio de
Janeiro: 1850-1890. Rio de Janeiro: Secretaria Municipal de Cultura,
AZEVEDO, E. O Orfeu de carapinha. In: Revista de História.Ano 1,
1994 (adaptado).
n.o 3. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, jan. 2004 (adaptado).
A imagem retrata uma cena da vida cotidiana dos escravos urbanos no início do século XIX.
Lembrando que as atividades desempenhadas por esses trabalhadores eram diversas, os escravos de
aluguel representados na pintura
d) eram autônomos, sendo contratados por outros senhores para realizarem atividades comerciais.
Ó sublime pergaminho
Libertação geral
E o negro jornalista
O samba–enredo de 1968 reflete e reforça uma concepção acerca do fim da escravidão ainda viva em
nossa memória, mas que não encontra respaldo nos estudos históricos mais recentes. Nessa concepção
ultrapassada, a abolição é apresentada como
a) conquista dos trabalhadores urbanos livres, que demandavam a redução da jornada de trabalho.
b) concessão do governo, que ofereceu benefícios aos negros, sem consideração pelas lutas de
escravos e abolicionistas.
c) ruptura na estrutura socioeconômica do país, sendo responsável pela otimização da inclusão social
dos libertos.
d) fruto de um pacto social, uma vez que agradaria os agentes históricos envolvidos na questão:
fazendeiros, governo e escravos.
e) forma de inclusão social, uma vez que a abolição possibilitaria a concretização de direitos civis e
sociais para os negros.
a) O uso de trajes simples indica a rápida c) reprodução de conflitos entre grupos étnicos
incorporação dos ex-escravos ao mundo do africanos.
trabalho urbano.
d) manutenção das características culturais
b) A presença de acessórios como chapéu e específicas de cada etnia.
sombrinha aponta para a manutenção de
e) resistência à incorporação de elementos
elementos culturais de origem africana.
culturais indígenas.
c) O uso de sapatos é um importante elemento
de diferenciação social entre negros libertos ou
em melhores condições na ordem escravocrata.
Nós nos recusamos a acreditar que o banco da Em um engenho sois imitadores de Cristo
justiça é falível. Nós nos recusamos a acreditar crucificado porque padeceis em um modo muito
que há capitais insuficientes de oportunidade semelhante o que o mesmo Senhor padeceu na
nesta nação. Assim nós viemos trocar este sua cruz e em toda a sua paixão. A sua cruz foi
cheque, um cheque que nos dará o direito de composta de dois madeiros, e a vossa em um
reclamar as riquezas de liberdade e a segurança engenho é de três. Também ali não faltaram as
da justiça. canas, porque duas vezes entraram na Paixão:
uma vez servindo para o cetro de escárnio, e
KING Jr., M. L. Eu tenho um sonho, 28 ago. 1963. Disponível em:
outra vez para a esponja em que lhe deram o fel.
www.palmares.gov.br. Acesso em: 30 nov. 2011 (adaptado).
A Paixão de Cristo parte foi de noite sem dormir,
O cenário vivenciado pela população negra, no parte foi de dia sem descansar, e tais são as
sul dos Estados Unidos nos anos 1950, conduziu vossas noites e os vossos dias. Cristo despido, e
à mobilização social. Nessa época, surgiram vós despidos; Cristo sem comer, e vós famintos;
reivindicações que tinham como expoente Martin Cristo em tudo maltratado, e vós maltratados em
Luther King e objetivavam tudo. Os ferros, as prisões, os açoites, as chagas,
os nomes afrontosos, de tudo isto se compõe a
a) a conquista de direitos civis para a população vossa imitação, que, se for acompanhada de
negra. paciência, também terá merecimento de martírio.
b) o apoio aos atos violentos patrocinados pelos VIEIRA, A. Sermões. Tomo XI. Porto: Lello & Irmão, 1951 (adaptado).
e) a aceitação da cultura negra como b) a função dos mestres de açúcar durante a safra
representante do modo de vida americano. de cana.
A África também já serviu como ponto de partida Tendo encarado a besta do passado olho no
para comédias bem vulgares, mas de muito olho, tendo pedido e recebido perdão e tendo
sucesso, como Um príncipe em Nova York e Ace feito correções, viremos agora a página – não
Ventura: um maluco na África; em ambas, a África para esquecê-lo, mas para não deixá-lo
parece um lugar cheio de tribos doidas e rituais aprisionar-nos para sempre. Avancemos em
de desenho animado. A animação O rei Leão, da direção a um futuro glorioso de uma nova
Disney, o mais bem-sucedido filme americano sociedade sul-africana, em que as pessoas
ambientado na África, não chegava a contar com valham não em razão de irrelevâncias biológicas
elenco de seres humanos. ou de outros estranhos atributos, mas porque são
pessoas de valor infinito criadas à imagem de
LEIBOWITZ, E. Filmes de Hollywood sobre África ficam no clichê.
Deus.
Disponível em: http://noticias.uol.com.br. Acesso em 17 abr, 2010.
Quem acompanhasse os debates na Câmara dos Em dezembro de 1945, começou uma greve de
Deputados em 1884 poderia ouvir a leitura de dois meses no principal porto da África Ocidental
uma moção de fazendeiros do Rio de Janeiro: Francesa, Dacar. As autoridades só conseguiram
"Ninguém no Brasil sustenta a escravidão pela levar os grevistas de volta ao trabalho com
escravidão, mas não há um só brasileiro que não grandes aumentos de salário e, o que é ainda
se oponha aos perigos da desorganização do mais importante, pondo em prática todo o
atual sistema de trabalho". Livres os negros, as aparato de relações industriais usado na França
cidades seriam invadidas por "turbas ignaras", — em resumo, agindo como se os grevistas
"gente refratária ao trabalho e ávida de fossem modernos operários industriais.
ociosidade". A produção seria destruída e a
COOPER, F.; HOLT, T.; SCOTT, R. Além da escravidão. Rio de Janeiro:
segurança das famílias estaria ameaçada. Veio a Civilização Brasileira, 2005 (adaptado).
Abolição, o Apocalipse ficou para depois e o
Brasil melhorou (ou será que alguém duvida?). Durante o neocolonialismo, o trabalho forçado −
Passados dez anos do início do debate em torno que não se confunde com a escravidão — foi
das ações afirmativas e do recurso às cotas para uma constante em diversas regiões do continente
facilitar o acesso dos negros às universidades africano até o século XX. De acordo com o texto,
públicas brasileiras, felizmente é possível conferir sua superação deriva da
a consistência dos argumentos apresentados
contra essa iniciativa. De saída, veio a a) crítica moral da intelectualidade metropolitana.
advertência de que as cotas exacerbariam a
questão racial. Essa ameaça vai completar 18 b) pressão articulada dos organismos
anos e não se registraram casos significativos de multilaterais.
exacerbação.
c) resistência organizada dos trabalhadores
GASPARI, E. As cotas e a urucubaca. Folha de S. Paulo, 3 jun. 2009. nativos.
c) culturalmente qualificadas.
d) historicamente equivocadas.
e) economicamente fundamentadas.
Eu junto
A atuação dos países europeus contribuiu para
ao vosso magnífico canto
que a África — entre 1880 e 1914 — se
a minha pobre voz
transformasse em uma espécie de grande
os meus humildes ritmos.
“colcha de retalhos”. Esse processo foi motivado
pelo(a)
Eu vos acompanho
pelas emaranhadas Áfricas
a) busca de acesso à infraestrutura energética
do nosso Rumo.
dos países africanos.
Eu vos sinto
b) tentativa de regulação da atividade comercial
negros de todo o mundo
com os países africanos.
eu vivo a nossa história
c) resgate humanitário das populações africanas meus irmãos.
em situação de extrema pobreza.
Disponível em: www.agostinhoneto.org. Acesso em: 30 jun. 2015.
a) incitar a luta por políticas de ações afirmativas Em todo o país a lei de 13 de maio de 1888
na América e na África. libertou poucos negros em relação à população
de cor. A maioria já havia conquistado a alforria
b) reconhecer as desigualdades sociais entre os antes de 1888, por meio de estratégias possíveis.
negros de Angola e dos Estados Unidos. No entanto, a importância histórica da lei de
1888 não pode ser mensurada apenas em termos
c) descrever o quadro de pobreza após os numéricos. O impacto que a extinção da
processos de independência no continente escravidão causou numa sociedade constituída a
africano. partir da legitimidade da propriedade sobre a
pessoa não cabe em cifras.
d) solicitar o engajamento dos negros
estadunidenses na luta armada pela ALBUQUERQUE. W. O jogo da dissimulação: Abolição e cidadania
negra no Brasil. São Paulo: Cia. das Letras, 2009 (adaptado).
independência em Angola.
TEXTO II
e) conclamar as populações negras de diferentes
países a apoiar as lutas por igualdade e
Nos anos imediatamente anteriores à Abolição, a
independência.
população livre do Rio de Janeiro se tornou mais
numerosa e diversificada. Os escravos, bem
menos numerosos que antes, e com os africanos
mais aculturados, certamente não se distinguiam
muito facilmente dos libertos e dos pretos e
pardos livres habitantes da cidade. Também já
não é razoável presumir que uma pessoa de cor
seja provavelmente cativa, pois os negros libertos
e livres poderiam ser encontrados em toda parte.
O sincretismo religioso no Brasil colônia foi uma No contexto da transição do trabalho escravo
estratégia utilizada pelos negros escravizados para o trabalho livre, a construção da imagem
para descrita no texto tinha por objetivo
Flor da Negritude
BROCOS, R. A redenção de Cam, 1895 Disponível em: http:// No início dos anos 1950, a fundação do
mnba.gov.br. Acesso em: 13 jan. 2013 Renascença Clube, como espaço de convivência,
demonstra o(a)
Na imagem, o autor procura representar as
diferentes gerações de uma família associada a a) inexperiência associativa que levou a elite
uma noção consagrada pelas elites intelectuais negra a imitar os clubes dos brancos.
da época, que era a de
b) isolamento da comunidade destacada que
a) defesa da democracia racial. ignorava a democracia racial brasileira.
Muitos países se caracterizam por terem Sou filho natural de uma negra, africana livre, da
populações multiétnicas. Com frequência, Costa da Mina (Nagô de Nação), de nome Luiza
evoluíram desse modo ao longo de séculos. Mahin, pagã, que sempre recusou o batismo e a
Outras sociedades se tornaram multiétnicas mais doutrina cristã. Minha mãe era baixa de estatura,
rapidamente, como resultado de políticas magra, bonita, a cor era de um preto retinto e
incentivando a migração, ou por conta de sem lustro, tinha os dentes alvíssimos como a
legados coloniais e imperiais. neve, era muito altiva, geniosa, insofrida. Dava-se
ao comércio — era quitandeira, muito laboriosa
GIDDENS,A. Sociologia. Porto Alegre: Penso, 2012 (adaptado)
e, mais de uma vez, na Bahia, foi presa como
suspeita de envolver-se em planos de insurreição
Do ponto de vista do funcionamento das
de escravos, que não tiveram efeito.
democracias contemporâneas, o modelo de
sociedade descrito demanda, simultaneamente, AZEVEDO, E. “Lá vai verso!”: Luiz Gama e as primeiras trovas
burlescas de Getulino. In: CHALHOUB, S.; PEREIRA, L. A. M. A
a) defesa do patriotismo e rejeição ao hibridismo. história contada: capítulos de história social da literatura no Brasil.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1998 (adaptado).
Os escravos tornam-se propriedade nossa seja em virtude da lei civil, seja da lei comum dos povos; em
virtude da lei civil, se qualquer pessoa de mais de vinte anos permitir a venda de si própria com a
finalidade de lucrar conservando uma parte do preço da compra; e em virtude da lei comum dos povos,
são nossos escravos aqueles que foram capturados na guerra e aqueles que são filhos de nossas
escravas.
A obra Institutas, do jurista Aelius Marcianus (século III d.C.), instrui sobre a escravidão na Roma antiga.
No direito e na sociedade romana desse período, os escravos compunham uma