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FUNÇÃO INVERSA

Prof. Dr. Carlos A. P. Campani

DEFINIÇÃO

Um processo inverso é aquele que desfaz o que o processo original fez.


Assim, por exemplo, o processo de desempacotar é o processo inverso ao de
empacotar. Essa ideia pode ser estendida para funções.
Seja f : A → B tal que y = f (x). Se para cada y ∈ B existir exatamente
um valor x ∈ A, tal que y = f (x), então podemos definir uma função f −1 :
B → A tal que f −1 (y) = x, chamada de função inversa de f .

DOMÍNIOS E IMAGENS

Devemos observar o seguinte em relação à função e sua inversa:

dom(f −1 ) = img(f )

img(f −1 ) = dom(f )

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EXEMPLOS

1. f (x) = 2x − 5, f : R → R.

y = 2x − 5

Trocando x e y:
x = 2y − 5
Colocando na forma canônica:
1
y = (x + 5)
2
Ou seja, f −1 (x) = 12 (x + 5)
x−1
2. f (x) = 3−x
, dom(f ) = R − {3}

x−1
y=
3−x
Trocando x e y:
y−1
x=
3−y
Colocando na forma canônica:

x(3 − y) = y − 1

3x − xy = y − 1
y + xy = 3x + 1
y(1 + x) = 3x + 1
3x + 1
y=
x+1
Logo,
3x + 1
f −1 (x) =
x+1

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O domı́nio da f −1 é R − {−1} e o domı́nio da f é R − {3}. Assim:

img(f −1 ) = dom(f ) = R − {3}

img(f ) = dom(f −1 ) = R − {−1}

Obtendo a função inversa, podemos determinar indiretamente a ima-


gem da função via o domı́nio da função inversa, o que pode ser mais
fácil e interessante.
Uma outra forma de obter a imagem da função, sem usar a função
inversa, é perceber que esta função possui uma assı́ntota horizontal em
y = −1,
x−1 x
lim ≈ lim = −1
x→±∞ 3 − x x→±∞ −x

que é o valor que não tem projeção no eixo y, portanto é o número que
deve ser retirado do conjunto R para a determinação da imagem.

3. f (x) = 10 − x

10 − x ≥ 0 ⇒ x ≤ 10
dom(f ) = (−∞, 10]

f é uma função decrescente. Determinamos os valores da função (ima-


gem) nos extremos do domı́nio:

f (10) = 10 − 10 = 0

lim 10 − x = +∞
x→−∞

Porque limx→−∞ (−x) = +∞ e limu→+∞ 10 + u = +∞, com u = −x.
Logo, img(f ) = [0, +∞).

A curva do gráfico da função intercepta o eixo y em (0, 10):
√ √
f (0) = 10 − 0 = 10 ≈ 3, 162

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Gráfico da função:

Determinação da função inversa:


p
x= 10 − y

y = 10 − x2
Ou seja,
f −1 (x) = 10 − x2
Onde:
dom(f −1 ) = img(f ) = [0, +∞)
img(f −1 ) = dom(f ) = (−∞, 10]

Gráfico da função inversa:

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SIMETRIA NO GRÁFICO DA FUNÇÃO E SUA INVERSA

O gráfico da função e sua inversa apresenta simetria em relação à reta bisse-


triz do 1o e 3o quadrantes. No gráfico a seguir
√ apresentamos esta propriedade
−1
para as funções mostradas acima: f (x) = 10 − x e f (x) = 10 − x2 .

EXIGÊNCIA PARA A FUNÇÃO ADMITIR INVERSA

Seja f (x) = x2 , dom(f ) = R. Tentemos determinar a função inversa:

y = x2

x = y2

y=± x
que não é uma função, pois um elemento
√ do domı́nio,
√ digamos a, relaciona-se
com dois elementos do codomı́nio, + a e − a.
Vamos formalizar isso melhor.
Uma função é chamada de bijetora se ela nunca assume o mesmo valor
mais de uma vez, isso é,

∀x1 , x2 ∈ dom(f )(x1 6= x2 → f (x1 ) 6= f (x2 ))

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Fica evidente que a função f (x) = x2 não é injetora, pois existem dois
valores diferentes do domı́nio, digamos a e −a, cuja imagem é idêntica, f (a) =
a2 e f (−a) = a2 .
Se uma função f qualquer não é bijetora, então terı́amos,

x1 6= x2 ∧ f (x1 ) = f (x2 )

com f (x1 ) = y1 e f (x2 ) = y2 , e a inversa seria f −1 (y1 ) = x1 e f −1 (y2 ) = x2 ,


mas y1 = y2 para x1 6= x2 e a f −1 não poderia ser uma função.
A propriedade da bijeção é a exigência para a existência da função inversa
de uma função qualquer.
Para determinar se isso é verdadeiro, podemos usar o teste da reta hori-
zontal, que significa que nenhuma reta horizontal pode interceptar a curva
do gráfico da função em mais de um ponto. No caso desta função f (x) = x2 ,
o teste falha:

Uma vez que f (x) = x2 não satisfaz o teste da reta horizontal, a função
não admite inversa.
Vamos ver outro exemplo.

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Seja a função f (x) = x3 , f : R → R.
Observe que esta função satisfaz o teste da reta horizontal:

Determinando a expressão da função inversa:


y = x3
x = y3

y= 3x

f −1 (x) = 3 x
Sobrepondo os gráficos da f e da f −1 , observamos a caracterı́stica sime-
tria, em relação à reta bissetriz do 1o e 3o quadrantes, entre a função e sua
inversa:

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RESTRIÇÃO DE DOMÍNIO

Para que a função f (x) = x2 , dom(f ) = R, que não é bijetora, como


já vimos, admita inversa, devemos fazer uma restrição de domı́nio. Se no
domı́nio R ela não é bijetora, em qual domı́nio seria?
Basta ver que o problema é a existência dos valores a e −a no domı́nio,
com a2 = (−a)2 . Então, exigiremos que apenas o valor positivo pertença ao
domı́nio. Assim, a restrição de domı́nio é:

f (x) = x2 dom(f ) = [0, +∞)



e a função satisfaz o teste da reta horizontal. Sua inversa é f −1 (x) = x,
dom(f −1 ) = [0, +∞). O gráfico de ambas, evidenciando a simetria é o que
se segue.

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COMPOSIÇÃO DA FUNÇÃO E SUA INVERSA

A composição da função com sua inversa resulta na função identidade:

(f −1 ◦ f )(x) = x

Por exemplo, usando as funções que já apareceram anteriormente:


x−1
f (x) = dom(f ) = R − {3} img(f ) = R − {−1}
3−x
e
3x + 1
f −1 (x) = dom(f −1 ) = R − {−1} img(f −1 ) = R − {3}
x+1
então
3 x−1 +1
 
−1 −1 −1 x−1 3−x
(f ◦ f )(x) = f (f (x)) = f = x−1 =x
3−x 3−x
+1

Determinando o domı́nio da composta:

• dom(f ) = R − {3}

• img(f ) = R − {−1}

• dom(f −1 ) = R − {−1}

img(f ) ⊆ dom(f −1 )
Logo, dom(f −1 ◦ f ) = dom(f ) = R − {3}.

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