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17/12/2020 A interrupção da Era Vargas impediu o Brasil de se tornar a Suécia Tropical - Portal Disparada

A interrupção da Era Vargas impediu o Brasil de


se tornar a Suécia Tropical
DE: FELIPE QUINTAS / 1 DIA ATRÁS

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É bastante chamativo que a Suécia, com uma população menor que a da cidade de São
Paulo e que a região metropolitana do Rio de Janeiro separadamente, tenha uma
indústria nacional, de marcas nacionais, que produza, dentro do país, carros,
caminhões, tratores, guindastes, trens, navios, iates e aviões (incluindo suas peças),
robôs, satélites, eletrodomésticos, aparelhos e dispositivos de telefonia, máquinas
agrícolas, motosserras e aparelhos de jardinagem, compressores e rolamentos
industriais, turbinas hidrelétricas, instrumentos de perfuração de petróleo, derivados
de petróleo, equipamentos médicos como máquinas de hemodiálise e tubos de
ressonância, fármacos, móveis, instrumentos musicais, semicondutores, eletrônicos,
armas, aços, papeis etc. Sem contar que o país se desindustrializou bastante nos
últimos 40 anos. Nos anos 70 e 80, por exemplo, a Suécia era o único país europeu que
construía usinas nucleares inteiras só com capital e tecnologia nacionais, sem
licenciamento algum dos EUA.

Existem várias explicações, de ordem histórica, política e geopolítica, para esse


prodígio industrial tecnológico sueco. Agências estatais de planejamento industrial
desde o século XVII, centros tecnológicos públicos e privados de primeira linha desde o
século XIX, forte protecionismo, restrições pesadas ao capital estrangeiro, amizade e
anuência da Inglaterra, dos EUA e até da Alemanha nazista e da URSS, tudo isso ajuda a
explicar.

Destaco um que é bastante interessante para o Brasil: a Suécia é um dos principais


países mineradores da Europa, e, desde a I Guerra Mundial, não há mineradoras
estrangeiras operando no país. A maior mineradora do país é uma empresa 100%
estatal, a LKAB, que, além de mineração, também fabrica peças e máquinas de
perfuração e mineração, explosivos, cimento, asfalto e trilhos.

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Além disso, o Estado sueco historicamente mantinha siderúrgicas estatais e hoje é o


segundo maior acionista da siderúrgica SSAB, garantindo que os minérios extraídos
pela LKAB sejam industrializados dentro do país, servindo de base a toda uma cadeia
industrial nacional. Não há as “perdas internacionais”, o país aproveita para dentro
todos os seus recursos naturais.

Proibição de mineradoras estrangeiras, mineração estatal, participação estatal na


siderurgia… Sim, já tivemos tudo isso, com Getúlio Vargas – Código de Minas, Vale do
Rio Doce, CSN. Se a Suécia, com apenas 10 milhões de habitantes, é capaz de tudo isso,
imaginem do que não seria capaz o Brasil, um país muito mais rico em gente e em
recursos, se tivesse conseguido manter o caminho que a Era Vargas iniciou, de um
desenvolvimento soberano e trabalhista. Ninguém no mundo seria páreo para o Brasil.

No mundo latino em geral, o termo “social-democracia” geralmente signi ca algo


semelhante a neoliberalismo progressista e cosmopolita. Porém, na Suécia e na
Noruega, os dois únicos países que de fato tiveram um período histórico conhecido
como social-democracia (como Era Vargas no Brasil), o termo signi cava algo muito
diferente.

O historiador norueguês Francis Sejersted, autor do excelente livro The Age of Social
Democracy: Norway and Sweden in the Twentieth Century (A Era da Social
Democracia: Noruega e Suécia no Século XX) a rma que as bases institucionais da
“ordem social democrata” eram: a nação e o nacionalismo (no que ele inclui o “pleno
controle político sobre o desenvolvimento econômico”), a grande corporação
industrial, a consciência de classe e o sistema corporativista de mediação entre capital
e trabalho, o sistema de mídia (monopólio estatal do rádio e da televisão, concedido ao
sindicalismo social democrata, e o controle dos jornais pelos partidos), a igreja estatal,
a escola pública padronizada e a família nuclear.

Um cenário, en m, bem diferente daquele que geralmente conhecemos por social-


democracia. Cenário esse que, segundo Sejersted, começou a se esvair nesses próprios
países a partir do nal dos anos 1970, embora ainda hoje esteja bem menos devastado
lá do que a Era Vargas aqui.

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GABRIEL
10 horas atrás ⋅ REPLY

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Excelente, Quintas. A principal pergunta a se destacar é como um país desse porte


conseguiu alavancar a indústria nacional apenas com recursos nacionais (mercado
nanceiro estatizado e capital estrangeiro risível até anos 80). Processo bem diferente
dos tigres asiáticos, já que se bene ciaram da globalização produtiva das
multinacionais.

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