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Uma verdadeira aprendizagem da escrita necessita, hoje, de ser assistida por um pro-
fessor que cumpra a função de mediador, entendendo-se essa mediação como um dispo-
sitivo ao mesmo tempo pedagógico e didático3.
Neste capítulo encontra-se uma série de princípios pedagógicos e didáticos que estiveram
subjacentes na planificação, concretização e avaliação das oficinas. Há princípios gerais, apli-
cáveis a qualquer outra disciplina, e princípios específicos de uma oficina de escrita de Língua
Portuguesa. Ambos relevam de uma conceção construtivista de ensino-aprendizagem.
(3) Maria Luísa Álvares Pereira, “Viver a escrita em Português”, in Noesis, 59, Lisboa, IIE, Julho/Setembro 2001, p. 41.
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Como lembra Maria Luísa Álvares Pereira, «as dimensões didática e pedagógica devem
misturar-se harmoniosamente de modo a propiciar a motivação dos alunos».4
Para muitos professores, estas são propostas completamente novas. É o que se tem
verificado quando apresentadas pelo formador. Alguns dizem que este tipo de trabalho
não é exequível devido às dimensões das turmas, à enorme falta de bases dos alunos, à
falta de hábitos de trabalho e de estudo, ao desinteresse, etc., etc. Tudo isto é possível:
estas perspetivas nortearam as oficinas orientadas desde 2002 até hoje. Não são princí-
pios abstratos, pelo contrário, têm vindo a ter aplicação concreta no trabalho com os alu-
nos e hoje estão presentes no NPPEB.
3. Apresentar aos alunos, a cada aluno individualmente, atividades que eles sejam ca-
pazes de desenvolver. Diversificar, pois, essas tarefas, de acordo com o conhecimento
prévio das suas dificuldades e capacidades. Não se trata de um trabalho diferente para
cada um – como lembra Isabel Solé: «Tão errado seria pensar numa tarefa diferente para
cada criança como pensar que todos deveriam fazer a mesma coisa»5.
(4) Ibidem.
(5) A investigadora lembra ainda que mesmo que todos se envolvam numa só tarefa, esta pode ser também diferenciada – vide
«Bases psicopegadógicas de la pratica educativa».
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– Criar “pares de escrita” desde o primeiro ano do ciclo, de modo a ter um número
de textos a acompanhar que seja exequível: ambos escrevem, ambos colaboram
para escrever o mesmo texto, cada um escreve o seu.
7. Avaliar numa perspetiva eminentemente formativa, que passa pela observação con-
tínua do trabalho em curso: «realiza-se ao mesmo tempo que se ensina”, “permite ir ajus-
tando o ensino ao processo de construção dos alunos”, ligando-se deste modo “à
individualização do ensino”, pois permite que “o professor intervenha segundo as neces-
sidades do aluno»8.
(6) Está de tal modo enraizado entre os professores o hábito de aulas esporádicas para escrever, sem continuação, que esta pro-
posta é das que mais resistência oferece.
(7) Também aqui a experiência do formador pode dar testemunho da dificuldade que tantos professores apresentam em admitir
que durante uma aula podem deixar trabalhar, autonomamente, um grupo de alunos, de modo a poderem ocupar-se dos mais
atrasados. Se planificarem uma sequência, a aula seguinte pode resolver o problema, se é que existe.
(8) Solé, Isabel, Art. cit., p. 85.
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Na página seguinte encontra alguns exemplos mais específicos deste tipo de trabalho.
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A experiência mostra que as observações orais não são, por regra, suficientes:
os alunos esquecem-nas e chamam novamente o professor. Nestes casos deve re-
correr-se às indicações escritas, necessariamente curtas, claras e objetivas.
1. Atenção à pontuação!
2. Cuidado com os parágrafos!
Etc., etc.
(9) O uso de um código de correção é muito eficaz, mas não basta. É conveniente o acompanhamento do professor. Sobre a elabo-
ração de um código de correção e sua utilização, ver, do autor, Ensinar e aprender a escrever – por uma prática diferente, Porto,
Edições Asa, 2001, pp. 25 a 29.
(10) Em apêndice podem ver-se casos de reescrita de um só aspeto.
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Se no início do texto se detetam vários tipos de erro relativos, por exemplo, a ortografia,
pontuação, articulação entre frases, etc., a experiência mostra que não se devem dar logo
indicações de reescrita para todos estes aspetos, deve operar-se por etapas, principal-
mente com os alunos mais renitentes em escrever. Uma prática didática inteligente e
ponderada contribui para a motivação do aluno.
Uma boa estratégia para utilizar junto dos alunos com mais dificuldades consiste em
selecionar pequenas secções do texto onde ocorre determinado erro. Seleciona-se, por
exemplo, delimitando uma parte com dois traços verticais ou parênteses retos. Pede-se
ao aluno que isole esse pequeno excerto, copiando-o para a folha de rascunho.
Refletiu-se, até agora, sobre os alunos que escrevem com alguma facilidade. Mas há
também os que apresentam imensas dificuldades em começar a escrever: estes neces-
sitam, antes de mais, de escrever textos de cariz simples e com componente lúdica. Nes-
tes casos sugere-se que o professor escreva a primeira palavra ou frase. Assim os alunos
seguem-no sempre!
As sequências são fulcrais para que os alunos tenham tempo de praticar o aperfeiçoamento
dos seus textos, escrevendo-os e rescrevendo-os, depois de os planificarem. Uma sequên-
cia tem número variável de aulas e pode, e deve, ocorrer várias vezes ao longo do ano. O
número de aulas escolhido para uma oficina varia em função de vários fatores. Tudo de-
pende dos alunos envolvidos, das suas dificuldades, do grau de diversificação, etc.
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Na oficina apresentada na página 18, os alunos pediram mais aulas para além das que
estavam planificadas e a professora aceitou, tanto mais que o pedido foi realizado por al-
guns que, antes da oficina, eram notórios adversários da escrita.
Foi-lhe lembrado que podia aproveitar as sextas-feiras para permitir a reescrita da com-
posição anterior, não iniciando uma nova. Concordou imediatamente: a sequência pode
ser de aulas alternadas, o essencial é dar tempo para aperfeiçoar, a partir de indicações
de aperfeiçoamento de reescrita.
O facto de, nas oficinas, não ser conveniente que os materiais sejam levados para casa,
prende-se também com a noção de sequência. Deste modo, garante-se que na aula se-
guinte todos os têm. Por outro lado, o professor pode, em casa, se assim o entender, de-
bruçar-se sobre os textos mais problemáticos para apontar erros e dar indicações escritas
de revisão para a aula seguinte da sequência. Ganha deste modo tempo.
• A leitura não deve ser passiva, isto é, não se trata somente de ler os textos e nada mais. O
professor deve encorajar os alunos a explicarem que tipo de texto escreveram, a exibirem
os rascunhos, apontando os principais problemas de estruturação com que se depararam.
Este trabalho de análise dos textos intermédios é muito importante, cria na turma a cons-
ciência de que todos passam pelo mesmo tipo de dificuldades na construção do conhecimento11.
(11) Esta prática poderá ser esporádica, não tem de ser levada a cabo com caráter sistemático. Por vezes os alunos mais fracos ou
os que escrevem em oficina pela primeira vez têm dificuldade em expor o seu trabalho. Neste caso, o professor poderá auxiliar.
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• Outro aspeto relacionado com a leitura dos textos produzidos é o seguinte: no início
da oficina de oitavo ano, a professora avisou os alunos que os textos lidos seriam alvo
de avaliação pelos colegas e que seriam escolhidos os três melhores. E assim foi: fez-
-se um concurso e houve prémios. Os textos podem também ser divulgados junto da
comunidade escolar: através de um jornal (jornal de escola); de uma exposição; etc.,
tal como sucedeu com algumas cartas, incluindo os rascunhos, escrita para anos do
quinto ano no Colégio de Nossa Senhora de Lurdes – Porto. A divulgação dos textos
escritos pelos alunos pode motivar outras turmas.
A experiência mostra que nada disto sucede. Daí a importância de planificar o início da
sequência. Assim, naturalmente, os alunos trabalham com materiais apropriados ao seu
nível. Tudo lhes deve ser bem explicado! O trabalho planificado pelo professor deve surgir
como tendo sido elaborado a pensar neles, nos seus problemas concretos.
Não houve tempo para se fazer o que se fará em futuras oficinas: o docente mostrará
o seu texto, os seus rascunhos, falará das suas dificuldades. Se o professor optar por es-
crever também, não tem que o fazer necessariamente sozinho: pode integrar-se num
grupo, pode escrever com um aluno, etc. O que importa é que a turma sinta que o profes-
sor vive, ao escrever, hesitações, alterações, dúvidas, num trabalho que é de todos.
8. Avaliar formativamente.
Na oficina, o professor observa continuamente os escritos dos alunos, detetando as suas
dificuldades, necessidades, valorizando a sua evolução e competência no emprego, cada
vez mais autónomo, das operações de aperfeiçoamento (acrescentar, retirar, subs-
tituir e deslocar). Trata-se de uma avaliação que privilegia o aluno enquanto indivíduo, en-
quadrando-se deste modo numa perspetiva de diferenciação pedagógica.