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Projeto em CAD é da URE Barueri (Divulgação Orizon)

RENOVÁVEIS

Em busca da energia do lixo


Orizon, vencedora no leilão A-5 com a URE Barueri, inicia estratégia para se tornar
megagrupo integrado de gestão de resíduos sólidos urbanos e geração de energia

Por Marcelo Furtado Publicado em 22/10/2021

Primeira vencedora de leilão com produto exclusivo para contratar usina térmica a resíduos sólidos
urbanos, o A-5 de 30 de setembro, com sua URE Barueri, de 20 MW, na região metropolitana de São
Paulo, a Orizon Valorização de Resíduos mira vários outros voos em rotas de recuperação
energética.

Proprietária de cinco aterros sanitários no Rio de Janeiro, Pernambuco e Paraíba, e com estratégia
pós-IPO feito em fevereiro, quando levantou R$ 486,8 milhões, de adquirir mais 20 até o fim do ano
em outras cidades no Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste, a empresa tem e terá por muitos anos farta
matéria-prima para gerar energia a partir do lixo. Mais especificamente, espera mais do que dobrar,
até o fim de 2021, o volume atual de 5 milhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos sob sua
operação e atingir 12 milhões de toneladas.
Com todo esse volume à disposição, todos os aterros da empresa têm na recuperação energética e
na reciclagem de materiais um meio de tornar o simples descarte no maciço do aterro uma
alternativa secundária.

Batizados por conta disso de ecoparques, os locais privilegiam soluções ecologicamente corretas,
conforme explicou à Brasil Energia o diretor de engenharia e implantação da Orizon, Jorge Elias.
Aproveitar o potencial calorífico do lixo, o que elimina definitivamente o passivo ambiental e
prolonga a vida útil dos aterros, é plano central da estratégia e deve resultar em nova empresa do
grupo voltada a negócios de energia.

Se ainda não aptos para a experiência de Barueri, cuja usina térmica com incineração direta dos
RSUs se tornou viável apenas por conta do leilão de energia, os ecoparques são objeto de outras
experiências de valorização energética, seja na forma da recuperação do biogás ou para a produção
de combustíveis derivados de resíduos urbanos (CDRUs), utilizados em fornos de cimento e com
possibilidade futura de expansão de uso industrial.

Para começar pela valorização energética mais


tradicional, segundo Elias, a empresa já figura entre
os maiores players do país em geração térmica a
biogás de aterro, com 63 MW de capacidade
instalada, e deve expandir ainda mais esse
aproveitamento com os novos aterros que entrarão
no portfólio da empresa em breve.

No aterro de Jaboatão dos Guararapes, que recebe


diariamente 4 mil t de RSU da região metropolitana
de Recife (PE), há uma térmica a biogás de 25,6 MW,
Jorge Elias, da Orizon: aterros da empresa em ampliação para 28,4 MW. No de João Pessoa,
privilegiam soluções ecologicamente corretas
(Divulgação Orizon) outra de 5 MW, também sendo ampliada para 5,6
MW.

As demais são em aterros no estado do Rio: em Nova Iguaçú, uma UTE de 17 MW; em São Gonçalo,
de 8,4 MW; duas miniusinas de geração distribuída em Barra Mansa; uma miniusina de GD de 5 MW
no ecoparque de Nova Iguaçú; e mais outra de mesma potência (5 MW) em São Gonçalo, que está
em análise para implantação.

CDRUs

A entrada do grupo na outra rota de valorização energética do lixo – combustíveis derivados de


resíduos urbanos – está em fase de implantação no aterro de Jaboatão dos Guararapes.

No momento, a Orizon está construindo uma unidade de triagem mecanizada do lixo, contratada à
alemã Stadler por R$ 70 milhões. Essa unidade vai processar cerca de 35% do volume total de lixo
do aterro, por volta de 500 mil t/ano, dos quais 100 mil t/ano serão transformados em CDRUs. Os
combustíveis renováveis, que ainda dependem de um módulo especial para serem preparados e que
será contratado pela mesma fornecedora alemã por mais um investimento de R$ 20 milhões, serão
vendidos a cimenteiras da região na substituição do coque de petróleo.

De acordo com Jorge Elias, na média o CDRU vai custar às cimenteiras entre R$180 e R$200 por
tonelada, contra mais de R$350/t do coque. Com poder calorífico entre 3.000 e 3.500 kcal/kg, contra
5.000 kcal do coque, o CDRU vai ser preparado também conforme as exigências de granulometria e
umidade dos clientes. Essa etapa está sendo negociada com as cimenteiras e determinará os
investimentos no módulo de CDRU, que inclui uma etapa de trituração, em contratação com a
Stadler.

Por ter baixo valor agregado, a viabilidade da operação comercial do CDRU depende do frete, o que
exige uma proximidade máxima de 50 km entre as cimenteiras e o aterro, explica Elias. E isso ocorre
em Jaboatão dos Guararapes, onde há na proximidade várias indústrias da área, e deve ocorrer
também nas operações de Minas Gerais, em aterro da própria Orizon em fase de projeto.

Quando não há cimenteiras na distância para viabilizar a negociação, os aterros devem contar
apenas com a unidade de triagem mecanizada de separação dos recicláveis. Do total que passa por
essa etapa, entre 6% e 8% são de materiais reaproveitáveis para reciclagem (papéis, plásticos,
borrachas etc). Os materiais que, misturados, formam os CDRUs, são contaminados e por isso
inservíveis. Cerca de 50% do lixo é de orgânicos que seguem para o aterro.

Com a parte civil concluída, e com o galpão de recebimento dos resíduos em construção, até janeiro
de 2022 a Orizon recebe as peneiras da triagem mecanizada em Jaboatão. Logo na sequência, será
implantado o módulo de CDRU. A empresa espera obter retorno sobre o investimento em Jaboatão e
demais aterros entre quatro e seis anos.

URE em 2025

Apesar de todos esses movimentos dos últimos anos, que resultaram em uma empresa listada em
bolsa e com valor de mercado de R$ 1,7 bilhão, a Orizon recebeu mais atenção recentemente por ter
conseguido negociar a URE Barueri no leilão A-5, primeiro projeto brasileiro de usina waste to energy
(WTE), com incineração direta de resíduos. Além do mérito de desbravar a tecnologia, a sua
viabilização dá fim a uma novela que se arrasta desde 2011, quando se iniciaram as tratativas para o
licenciamento da usina na região metropolitana de São Paulo. A primeira licença de instalação veio
em 2015 e precisou ser renovada em 2018.

Com 20 MW de potência instalada, a empresa vendeu 12 MWm da usina no leilão, ou 75% da sua
garantia física de 16 MW, para um pool de distribuidoras por R$ 1,2 bilhão ao longo de 20 anos.

A energia comercializada no mercado regulado, a R$ 549,35/MWh, vai garantir a receita principal


para pagar os R$ 500 milhões em investimentos. Outra receita importante é o gate fee (tarifa para o
tratamento do lixo), parte do acordo da PPP com a prefeitura de Barueri, que deve prover entre
R$120 a R$130 a tonelada, e também envolverá contratos com outras prefeituras da região, como
Santana de Parnaíba, Jundiaí e Carapicuíba. A usina tem capacidade para 870 t/dia, para os 16
MWm de garantia física total do empreendimento, resultando em vendas de até 145 GWh/ano.

Segundo Jorge Elias, o restante da garantia física pode tanto ser comercializado no mercado livre de
energia como ser contratado em previstos novos leilões com produto para a fonte. Para o ACL, diz o
diretor, a negociação pode ser facilitada pelo desconto de 100% no uso do fio que a usina tem direito
pela outorga concedida antes de fevereiro de 2022, quando termina o prazo para os subsídios de
novos projetos de renováveis. Segundo ele, o preço prêmio com a isenção de 100% oscila hoje entre
R$150 e R$160 por MWh em relação à energia convencional e de até R$110 em relação às
renováveis com 50% de desconto (eólica, biomassa e solar).

No planejamento, a URE Barueri deve adiantar sua entrada em operação para 2025. Isso garante o
desconto no fio por 30 anos, desde que entre em operação no máximo 4 anos depois da obtenção
ou renovação da outorga. Pelo leilão, a URE só precisaria estar operando em janeiro de 2026. A
geração antecipada vai possibilitar receita nova tanto no mercado regulado quanto no mercado livre.

Embora o financiamento de Barueri estivesse acordado com o Banco Mundial e a Caixa Econômica
Federal, por conta do adiamento deliberado do projeto para entrar do leilão os contratos caducaram. 
Mas Elias acredita que a empresa ficou mais robusta após o IPO e por isso o acesso a outras linhas
privadas, nacionais e internacionais, está mais fácil. Como a tecnologia da usina será importada,
resta ainda a possibilidade de se obter financiamento no exterior.

Com início da construção previsto para o segundo trimestre de 2022, entre 32 e 36 meses serão
suficientes para colocar a URE Barueri em operação. A brasileira Siner será a empresa responsável
pelo EPC mas o fornecedor da linha de incineração, considerado o coração da usina (fornalha,
caldeira e tratamento de gases), ainda não está definido. A escolha está entre dois grandes players
globais da área, que passarão por uma “mini-licitação” entre novembro e dezembro deste ano. Entre
os principais fornecedores da tecnologia figuram empresas como a americana Babcock & Wilcox, a
belga Keppel Seghers, a suíça-japonesa Hitachi Zosen Inova e a alemã Martin.

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