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Setembro: a esperança dos “loucos”

Uma das questões que -teoricamente- ganha relevância cada vez mais entre discussões tanto
acadêmicas e quanto informais é a Saúde Mental - Tanto que existe um mês dedicado ao tema:
O setembro Amarelo. Entretanto, em sua grande parte os ambientes que são conduzidas essas
conversas contentam-se com o superficial, geralmente não ultrapassam 280 caracteres e só são
vistos quando convém. Não existe uma explanação real sobre a situação da saúde mental no
Brasil. Muitas pessoas se quer sabem como é um manicômio no país ou se eles existem de fato,
não sabem como um doente mental é classificado e como proceder judicialmente, muito
menos sabem da história dos “loucos” e de como eles são muito parecidos entre si. Essa
desinformação quando desfeita torna-se gritante e desesperadora frente a negligência Social.

Em primeiro lugar, é importante compreender que a loucura por muito tempo foi utilizada
como uma arma a favor de interesses, durante décadas pessoas eram tachadas à situação de
insanidade mental e enviada para lugares desumanos que exigiam uma postura dos
“internados” em hospícios, para que agentes externos conseguissem realizar suas vontades,
como calar esses sujeitos, extorquir heranças e aproveitar mão de obra. Essa situação pode
parecer absurda e distante, mas ela não aconteceu muito longe: Durante décadas do século XX,
esse cenário era comum e acontecia no interior mineiro, na cidade de Barbacena – inclusive de
forma mais agressiva e nojenta, sendo equiparado ao Holocausto por Foucault e Explicitado
pela jornalista Daniela Arbex em “Holocausto Brasileiro” . Tantas histórias de pessoas
abandonadas e largadas pelas famílias, filhos separados de mães, pessoas que viveram um
cárcere disfarçado de tratamento são desconhecidas para mais da metade da população
brasileira, população essa que acredita veementemente que pessoas incompatíveis com as
noções massificadas de “normal” devem ser internadas.

Sob esse viés, entende-se que a internação de “loucos”, privando-os da liberdade é resultado
de uma desinformação e falta de empatia da população. Assim, a máxima que lugar de doente
mental é em hospício, é ultrapassada e desumana, pois contribui para um repasse de
responsabilidades – a família repassa para o Estado ou Hospício, que por sua vez não se vê na
necessidade de cuidar e sim de aturar - e consequentemente o abandono de um ser humano.
Além disso, a legalização desse método torna a situação dos vulneráveis mais complicada ainda
pois, sem ter que os defenda, ficam sujeitos a vontade alheia, que na maioria dos casos
prefeririam que eles não existissem e enxergam a oportunidade perfeita de satisfazer os seus
desejos, como aconteceu outrora.

Portanto, a questão da Saúde Mental no Brasil vai muito mais que compartilhar uma “hashtag”
ou modificar a foto das redes sociais para amarelo no mês 09, ela envolve pessoas reais, com
histórias reais, que precisam de auxílio e são abandonadas por suas famílias, sem nenhuma
perspectiva de reinserção na sociedade. Enquanto toda essa ação desumana acontece, parte
da população e o Estado colocam uma venda e se negam a discutir o processo - a não ser que
seja em setembro.

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