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NOTAS DE LEITURA:

UM ESTADISTA DO IMPÉRIO
NABUCO DE ARAUJO: SUA VIDA, SUAS OPINIÕES, SUA ÉPOCA
POR SEU FILHO JOAQUIM NABUCO

Jaqueline Rodrigues de Oliveira

NABUCO, Joaquim. Um Estadista do Império. 3 vols. Rio de Janeiro/Paris: H. Garnier,


1898-1900.

Divisão da Obra:
TOMOS (3) – LIVROS (6)– CAPÍTULOS (44)

TOMO PRIMEIRO: 1813-1857

 PREFÁCIO (Escrito no Rio de Janeiro, dezembro de 1897)


O prefácio da obra é, em si, bastante esclarecedor e muito importante para a
compreensão do valor que a obra viria a adquirir após a sua publicação, tanto por sucesso
literário quanto por contribuição à Historiografia. Nele, Joaquim Nabuco detalha o motivo e o
seu objetivo ao reconstruir a vida de seu pai, o senador do Império José Thomaz Nabuco de
Araujo, bem como a natureza e proveniência dos arquivos deixados por ele e todo o processo
de pesquisa e escrita que deram origem a Um Estadista do Império.
O processo de separação do arquivo de Nabuco de Araujo – entre opúsculos,
artigos de jornais e de revistas, cartas, manuscritos e notas -, se deu entre 1893 e 1894,
sendo seguido por uma disposição cronológica dos fatos que tomariam a forma da Vida
(ou Biografia) a partir de uma narrativa, estratégia pouco utilizada em biografias do
período. Chama atenção também a tática pensada pelo autor de divulgação de capítulos para a
imprensa antes da publicação da obra, através da Revista Brazileira, então editada por José
Veríssimo. Esse plano instigou a curiosidade da crítica literária que reagiu de maneira massiva
em produção de resenhas logo após o lançamento pela H. Garnier.
É interessante ressaltar também que, já no prefácio, Joaquim Nabuco demonstra
saudosismo do período monárquico, principalmente do Segundo Reinado, referindo-se a
ele como a “Grande Era Brazileira”; além disso, deixa implícita sua aversão à violência
das revoltas de 1893 e 1894 se comparadas às antigas “luctas pacíficas” do período
político anterior. Esse caráter elogioso à Monarquia vai render algumas críticas
literárias severas, principalmente a de Eunápio Deiró para o Jornal do Commercio.

 LIVRO I : ATÉ O MINISTÉRIO PARANÁ (1813-1853)


1 Capítulo I: Infância e Mocidade (1813-1842)
i. Primeiros Annos
Nessa primeira parte do livro, Joaquim Nabuco trata das origens de José Thomaz
Nabuco de Araujo, partindo da vida de seu pai, bem como da sua atuação política para
explicar os primeiros anos do futuro terceiro senador Nabuco de Araujo. É interessante
observar que a narrativa criada por Joaquim Nabuco, que insere os personagens da
biografia em seu lugar e em seu tempo, contribuem para uma vista geral da sua época,
fazendo jus ao título do livro e sua intenção de contribuir com a historiografia nacional.
Prova disso são as caracterizações presentes da Bahia e de sua tradição política, bem
como menções a acontecimentos históricos do período, como a Insurreição dos Negros
Ussás e as Lutas de Independência, por exemplo. → retrato x paisagem (minha
metáfora)
Joaquim Nabuco traça nessas primeiras páginas todas as situações e o contexto que,
para ele, moldaram o temperamento político de seu pai. Ao falar das influências que a Bahia
exerceu sobre Nabuco de Araujo, verifica-se uma adesão ao determinismo geográfico,
corrente antropológica surgida em fins do XIX. Além das particularidades do “ser baiano”, a
ida para o Pará, onde permaneceu dos três aos doze anos, também foi de capital importância
na construção do caráter de José Thomaz Nabuco de Araujo.
Nabuco insere em sua narrativa os conflitos entre os partidos brasileiro e português no
processo que levou à adesão ao Império no Pará, em 1823. Toda a efervescência política
causada pelas estratégias de John Pascoe Grenfell, as pelejas em praça pública e as prisões no
brigue Diligente seguidas por morte por asfixia também são destacadas pelo autor. Nesse
contexto, morre precocemente a mãe de Nabuco de Araujo, outro fator que viria a moldar a
natureza do futuro político, em conjunto com a influência da ação política do período e o
papel que a religiosidade assumiria em meio ao caos político em Belém. É nesse momento
que o autor deixa claro que Nabuco de Araujo, até o fim da vida, manteve-se
estritamente católico, fato este que nunca foi desassociado de sua vida pública. →
Nabuco católico.
Os últimos elementos que viriam a auxiliar na formação de Nabuco de Araujo se
deram em decorrência à eleição de seu pai para a Primeira Legislatura da Câmara dos
Deputados. A narrativa da extensa e dificultosa transferência da família para a capital do
Império, foi amenizada por um padrão utilizado por Joaquim Nabuco ao longo de toda a obra:
uma linguagem quase poética assumida em alguns momentos para exaltar lugares, situações,
pessoas e características, manobra longamente elogiada por José Veríssimo em sua crítica para
a Revista Brasileira. Nesse ponto, ele utiliza esse recurso para falar sobre o impacto de
viagens e do mar para a “elevação do espírito”, por exemplo. Essa característica de escrita foi
o que emprestou ao texto o cunho artístico, “quase pictórico”, destacado pela crítica da época.
Já no Rio de Janeiro, o jovem José Thomaz Nabuco de Araujo realizou os seus
estudos preparatórios de 1825 a 1829, que foram para ele de menor contribuição
intelectual do que a convivência política ocasionada pelo cargo ocupado pelo pai e,
principalmente, do que as visitas que ele fazia à galeria da Câmara “ […] para ouvir
Vasconcellos, Ledo, Calmon, Paula Souza, Dom Romualdo, Lino Coutinho.” (p.10).
Além disso, foram de muito impacto para ele a fama dos irmãos Andrada, a escrita de
Evaristo da Veiga, os discursos em tom profético de Mont’Alverne e a imprensa
brasileira que, de acordo com Joaquim Nabuco, “[…] tomara uma feição
completamente diferente com o aparecimento da Aurora Fluminense em 1827” (p.11).
Após o fim da legislatura, José Thomaz Nabuco de Araujo (Pai) assume o cargo de
Presidente da Paraíba, da onde se transfere Nabuco de Araujo para Olinda em 1831, para
iniciar seus estudos em Direito, não sem antes inaugurar sua ação política ao defender o pai de
ataques da imprensa local. Para Pernambuco, o futuro senador do Império carrega
algumas ideias liberais nubladas pela “impressão irresistível” deixada pela realeza e
pelos anos de convivência na capital da Corte.
Essa primeira parte da obra deixa, porém, questionamentos acerca da origem de
suas fontes, visto que os “peculios” de Nabuco de Araujo só abordavam os últimos 45 de
seus 65 anos, ou seja, o seu tempo de vida pública. Apesar de não especificar claramente
as fontes, ao longo desse primeiro texto se encontra uma referência à obra de Domingos
Antônio Raiol (Motins Políticos ou História dos Principais Acontecimentos Políticos na
Província do Pará desde o ano de 1821 até 1835), uma menção vaga a apontamentos e
correspondências pertencentes a José Thomaz Nabuco de Araujo (Pai) e, curiosamente,
estórias supostamente contadas cotidianamente à Joaquim Nabuco por seu pai, dando à
obra, provavelmente, uma fonte oriunda da história oral.

ii. Estudante de Olinda


Nesta parte, Joaquim Nabuco trata do ingresso de seu pai na Faculdade de Direito de
Olinda, em 1831. Baseado em reminiscências de um dos contemporâneos de José Thomaz
Nabuco de Araujo na instituição, o Barão de Penedo (Francisco Inácio de Carvalho
Moreira), o autor traça um panorama das peculiaridades de formação em uma
instituição jovem. Em 1827 foram fundados os cursos jurídicos em Olinda e São Paulo, cuja
estrutura era quase toda transplantada da antiga faculdade de Coimbra.
De acordo com Nabuco e Carvalho Moreira, a formação na época de Nabuco de
Araujo e de outros nomes de sua geração que também figurariam na vida pública, tinha uma
natureza mais prática e bem menos metódica e teórica do que se comparada à que Joaquim
Nabuco teve na mesma instituição anos depois, por exemplo. Além disso, podemos apreender
desse texto como era o cotidiano dos estudantes da primeira década do ensino superior no
Brasil. Nabuco de Araujo, por exemplo, atua no teatro e, principalmente, no jornalismo
político.

iii. Jornalista Acadêmico


Nesta parte, Joaquim Nabuco narra a atuação do pai em jornais estudantis –
meio utilizado pelos acadêmicos para exercitarem-se para a política -, mais
especificamente no Echo de Olinda (1831) e O Velho de 1817 (1833). Os fundadores e
diretores dessas folhas volantes faziam parte de uma espécie de “elite” na faculdade,
formada por estudantes que, assim como Nabuco de Araujo, já tinham conhecido a
capital do Império Brasileiro e/ou já haviam travado contato com qualquer centro
europeu. De acordo com o autor, esses pequenos jornais eram: “[…] folhas
exclusivamente politicas, contendo apenas dissertações rhetoricas sobre theses
constitucionaes e as vezes, em ‘paragraphos’ soltos, á moda norte-americana, pequenas
verrinas condensadas” (p. 17).
A parte central do texto acerca da atividade jornalística de Nabuco de Araujo é a
grande mudança de discurso que pode ser observada em comparação entre o Echo de Olinda –
de clara tendência federalista e exaltada – e O Velho de 1817 – com ideias extremamente
conservadoras, de inclinação restauradora. Assim, Nabuco de Araujo foi de um Exaltado para
um Restaurador que criticava ferrenhamente até mesmo Moderados.
A imprensa, anos depois, atribuiu a fase exaltada de Nabuco ao desejo de se eleger
deputado pela Paraíba após a sua formatura, em campanha prometida pelos Exaltados
denunciando, assim, um oportunismo político do futuro senador do Império. O autor critica
essa vertente, caracterizando a virada ideológica do pai como “versatilidade intelectual da
adolescência”. Essa é, provavelmente, a primeira passagem da obra que influiu para que a
crítica especializada apontasse uma “piedade filial” na narrativa de Joaquim de Nabuco.
No que diz respeito a referências, o autor lança mão de trechos de jornais – aqui
provavelmente já retirados dos arquivos de Nabuco de Araujo -, além de consultar
biografias de outras figuras relacionadas ao pai e manuais de História do Brasil para
detalhar acontecimentos históricos importantes, como a Setembrada.

iv. O 7 de Abril
Nesta parte, Joaquim Nabuco trata da abdicação de Dom Pedro I e dos anos da
Regência, fazendo um breve ensaio em que expõe suas ideias acerca do tema. Este é o
primeiro momento da obra em que o autor faz uma análise mais profunda do contexto da
época, referindo-se ao biografado apenas indiretamente.
Nabuco defende, ao longo de todo esse texto, a imagem da abdicação como um
“desquite amigável entre o Imperador e a nação”, ressaltando um suposto caráter liberal de
Dom Pedro I, que teria feito o esforço por apreço ao Brasil e por amor à sua filha, D. Maria da
Glória, cujo lugar no trono de Portugal deveria ser protegido.
Quando escreveu a biografia do pai, Joaquim Nabuco estava no que se conceituou
chamar de “segunda fase”1 de sua obra, a monarquista. Um Estadista do Império conseguiu
distinguir-se nesse período devido ao grande valor artístico e historiográfico da obra, que não
pode ser desmerecido por uma crítica que, naquele momento, pintava com tintas fortes a
posição política de Nabuco. Com exceção de Eunápio Deiró, para o Jornal do Commercio, os

1 “O pensamento de Joaquim Nabuco pode ser compreendido grosso modo como dividido em três períodos: o
abolicionista (década de 1880); o monarquista (década de 1890); e o panamericanista (década de 1900).”
(LYNCH, p. 277, 2011)
outros críticos relevaram o caráter monarquista da obra, tecendo comentários menos
agressivos a esse respeito. É importante destacar que a obra foi lançada antes de completada
uma década da Proclamação da República e que a efervescência política da época modificou
todos os ânimos.
Nesta, que talvez é a passagem mais criticada do primeiro tomo, Nabuco faz um
estudo interessante sobre as turbulências do período Regencial, que seria fruto do
desapontamento dos militares, dos exaltados, dos patriotas e da nação, já que o autor coloca
que esta última “[…] esperava do Imperador apenas uma troca de ministerio ou o abandono
de uma camarilha que lhe era suspeita” (p. 29). Um resumo do pensamento de Nabuco acerca
das Regências segue no trecho:
A fatalidade das revoluções é que sem os exaltados não é possível fazel-as e
com elles é impossivel governar. Cada revolução subentende uma lucta
posterior e alliança de um dos alliados, quasi sempre os exaltados, com os
vencidos. A irritação do Exaltados trará a ágitação federalista extrema, o
perigo separatista, que durante a Regencia ameaça o paiz do norte ao sul, a
anarchização das provincias. (p. 28)
Para este subcapítulo Nabuco utilizou, além do acervo de seu pai, cartas e anotações
dos Andradas ainda no exílio na Ilha das Cobras, textos de Theophilo Otoni e da Revista do
Instituto Histórico, diversos apontamentos, reminiscências, discursos e atas de interrogatório,
além do História do Brasil do Armitage e do A Independência, de Mello Moraes.

v. O Dr. José Eustaquio Gomes


Pequeno subcapítulo em que Joaquim Nabuco fala do Dr. José Eustáquio Gomes,
médico pernambucano que acolheu, por diversas vezes, o solitário e jovem universitário
Nabuco de Araujo em Recife.

vi. Primeiros Empregos


É natural que a transmissão do ascendente politico, durante quarenta annos, de
Francisco de Paula Cavalcanti (Suassuna) A Rego Barros (Boa Vista) e depois
ao irmão daquelle, Pedro Cavalcanti (Camaragibe) tenha parecido a formação
de uma dynastia no seio de um partido, mas ha razões mais profundas para
explicar a coincidencia. Cada um desses tres homens tinha as qualidades que
um concurso livre lhe haviam de merecer na ocasiao a insignia do commando.
Sem duvida grandes abusos são inherentes a todo predominio de família, mas
a chamada família Cavalcanti comprehendia grande parte da propriedade
territorial da provincia e a sua influencia directora no Partido Conservador era
legitima e natural, dados os elementos da sociedade pernambucana n’aquella
época. De facto, não era uma família só, mas diversos circulos, formados por
famílias antigas (p.37)
O trecho acima resume a interpretação de Joaquim Nabuco acerca do predomínio das
famílias Cavalcanti e Rego Barros na presidência da província de Pernambuco a partir de
1836, inaugurando um período de estabilidade conservadora na sempre turbulenta Recife, o
que duraria até a década seguinte com a Revolução Praieira. É nesse contexto que Nabuco de
Araujo ingressa na vida pública pernambucana após a conclusão de seus estudos, com o cargo
de promotor público de Recife. Logrou o posto devido as influências que já tinha na
província, bem como a amizade adquirida com os Cavalcantis após vários ataques aos
chimangos (embriões dos Praieiros) em seus artigos jornalísticos.
Nesse subcapítulo, Nabuco trata bastante da dinâmica política de Recife, bem como a
importância do poder exercido por círculos familiares antigos para a manutenção da
estabilidade durante um período de ausência do poder público central, devido a Regência.
O fato de Joaquim Nabuco apontar essa equação como algo natural é bastante curioso:
a defesa do direito de mando e poder por parte de oligarquias escravagistas soa problemático
para quem foi um abolicionista e também um crítico das repúblicas oligárquicas que se
espalharam pela América Latina. É o primeiro ponto da obra em que observo uma
incongruência entre o autor e a obra, mesmo considerando o fato de ser ele mesmo um
membro da aristocracia.

vii. Reação Monarchica de 1837


A reação monárquica é, para Joaquim Nabuco, um produto da concentração
conservadora gerada por dissidentes moderados “desiludidos” em aliança com os
restauradores, formando o campo regressista. O termo “reação monárquica” foi emprestado da
obra Acção, Reacção, Transacção (1855) de Justiniano José da Rocha.
Para Joaquim Nabuco, o grande símbolo do regresso conservador é o ministério de 19
de setembro de 1837, o “Ministério das Capacidades”, engrossado por Bernardo Pereira de
Vasconcellos, que havia passado para o partido regressista. Contrário à Maioridade, devido ao
que ele classificava como incompletude das instituições, Vasconcellos planejava a regência de
D. Januária, uma das irmãs do Imperador. Grupos liberais – progressistas – foram acusados de
se mobilizarem pela Maioridade, que de fato ocorreu em 1840.
Em mais uma de suas análises políticas, Joaquim Nabuco classificou a Regência como
uma “República Provisória” que, se não houvesse causado tantos abalos internos, provaria
que o elemento dinástico era desnecessário para o Brasil. De fato, o Segundo Reinado foi de
fundamental importância para uma “expansão para dentro”, de forma a consolidar o domínio
sobre o território herdado da colonização portuguesa e o próprio Império do Brasil como
corpo político autônomo, processo que perdurou até a década de 1850. O elemento
monárquico e a figura do Imperador era, naquele então, de fundamental importância para a
manutenção da unidade nacional. Para Nabuco, o mais aterrador seria equiparar-se às
repúblicas caudilhescas do resto da América Latina, que ele classificou como “[…] a mais
extensa serie de governos degradantes de origem européa”. (p. 43)

viii. Casamento. Primeira Eleição de Deputado


Neste subcapítulo, José Thomaz Nabuco de Araujo (Pai) volta ao primeiro plano da
narrativa. Eleito senador em 1837, ainda presidente do Espírito Santo, votou contra a
Maioridade, o que gerou nele o temor de prejudicar a carreira do filho, o que não aconteceu,
já que logo Nabuco de Araujo consegue um cargo de juiz de Direito, graças às influências em
Pernambuco.
J. Thomaz Nabuco de Araujo casa-se em 1840 com a sobrinha do Marquês de Recife,
cuja família era aliada dos Cavalcanti, o que vai lhe render acusações de ascender na vida
política devido ao casamento, o que logo é refutado pelo biógrafo: “A familia Paes Barreto e
Cavalante não eram nem tão ligadas, nem tão intimas, que Suassuna se preoccupasse de dar
uma cadeira na Camara em dote a uma sobrinha do marquez do Recife” (p. 47). Porém, após a
defesa que faz do pai, coloca em nota na mesma página que entendia os rumores e que,
definitivamente, a amizade com Suassuna ajudou o futuro senador do Império que, pelo
extremo bairrismo, dificilmente teria se destacado em Recife.
Dois anos após o casamento, Nabuco de Araujo é eleito deputado para a 5 a legislatura
da Camara, deixando a Recife totalmente transformada pelo governo do Barão da Boa Vista,
para regressar ao Rio de Janeiro.

2. Capitulo II: A sessão de 1843


i. A Camara
Neste primeiro texto do segundo capítulo, que encerra a narrativa sobre o jovem
Nabuco de Araujo, o autor trata da volta do então deputado para o Rio de Janeiro, a primeira
sessão na Câmara e o ambiente legislativo, bem como tensões ministeriais e na província de
Pernambuco.
De acordo com o autor, o pai encontrara uma sociedade completamente diferente da
que conhecera no Primeiro Reinado: “Aquella sociedade, em uma palavra, desapparecera,
com seus habitos, sua etiqueta, sua educação, seus principios e os que figuravam agora no
fastigio eram ou os novos politicas sahidos da revolução ou os commerciantes enriquecidos.”
(p.50). Destaca, ainda, o modo simples como viviam grandes estadistas que, às vezes,
morriam na miséria, o que mudaria apenas na década seguinte.
Já no que diz respeito ao ambiente na Câmara, o autor vai destacar a atuação de
Antônio Pereira Rebouças e sua “preocupação racial”, o reencontro com antigos colegas da
Faculdade de Direito de Recife, as querelas entre Ferraz e Maciel Monteiro, os discursos e
momentos de descontração, enfim, Joaquim Nabuco logra recriar o ambiente que antes só
poderia ser depurado em Atas da Câmara, em uma leitura bem menos empolgante, como
ressaltado pela crítica.
Uma das maiores tensões apontadas nesse subcapítulo é a presença de Aureliano de
Sousa e Oliveira Coutinho que, de acordo com o autor, nublava o espírito conservador do
Gabinete de Ministros de 23 de Março de 1841. Joaquim Nabuco coloca que “A influência
pessoal de Aureliano de 1840 a 1848 constitue um dos enigmas da nossa historia
constitucional” (p.56); enigma este que era sempre explicado pela aproximação entre o jovem
Imperador e Oliveira Coutinho, a quem acusavam de pertencer ao “Partido do Paço”. Sobre
esta relação, Nabuco referencia notas do próprio Dom Pedro II ao livro de Tito Franco.
Dissolvido o gabinete do qual “Aureliano” fazia parte, foi formado um novo, o de 20
de Janeiro de 1843, acalmando os ânimos. O “Gabinete Honorio” (porque foi organizado por
Honório Hermeto, que nomeou ministros mesmo antes do cargo de Presidente do Conselho,
de 1847) não satisfez, porém, os Cavalcanti de Pernambuco, que paradoxalmente ligavam a
figura conservadora de Antonio Paulino Limpo de Abreu ao partido da Praia, gerando mais
um foco de inquietação política, principalmente na deputação Pernambucana da qual Nabuco
de Araujo fazia parte. Além disso, também são mencionadas brevemente as revoltas liberais
em São Paulo e em Minas Gerais, as quais foram rapidamente suprimidas.

ii. Estreia Parlamentar


Nesse subcapítulo, Joaquim Nabuco narra a atuação do pai nas duas sessões de 1843,
que constituíram a totalidade da primeira legislatura de Nabuco de Araujo, antes da dissolução
da Câmara em 1844. De maneira elogiosa, o autor transcreve diversos discursos do pai, que
demostravam a visão prática do Direito que era marca da formação do jovem na Faculdade de
Direito do Recife. Como deputado novato, Nabuco de Araujo não poderia colocar-se em
evidência, deveria acompanhar a deputação Pernambucana e ater-se a assuntos de sua
competência, como os de sua província e os de organização judiciária.
As ideias de Nabuco de Araujo, seus projetos e discursos mostravam que, durante a
sua carreira política, o estadista sempre esteve associado ao jurista. Por vezes mais reacionário
e por outras mais liberal, Nabuco defendia de maneira contundente certos privilégios
políticos – como o acúmulo de cargos e salários – ao mesmo tempo que chegou a defender
seguridades do Ato Adicional de 1834 e a discursar contra a deportação de sediciosos liberais
para o Espírito Santo. Sobre esse caráter , Joaquim Nabuco resume:
Por isso era organicamente um liberal, mesmo quando dava todo o seu apoio
ao príncipio da autoridade, quando se dizia e sentia conservador, sem duvida
pelo interesse que lhe inspirava esse principio em uma época em que aquelle
assentimento não era espontaneo e a sociedade ainda prestava ouvido á
seducção de 1831, á utopia de engrandecer-se, de desenvolver-se em todos
os sentidos, sem um governo forte. (p. 74)
Após essa legislatura, Nabuco de Araujo só retornaria à Câmara em 1850, após o
predomínio liberal – de 1844 a 1848.

3. Capítulo III: A lucta da Praia


i. A situação Liberal – Eleições de Chichorro
Neste subcapítulo, Joaquim Nabuco vai tratar do período de 1844-1848, a situação
liberal, que abrangeu os gabinetes Alves Branco, Macaé e Paula Sousa, os quais são os
primeiros a contar com o cargo de Presidente do Conselho. Esse momento é o plano de fundo
para que Nabuco narre o predomínio do partido da Praia – liberal – na província de
Pernambuco, principalmente durante a presidência de Antonio Pinto Chichorro da Gama.
Os guabirús (conservadores de Pernambuco) passam a apoiar-se no Senado que era
essencialmente conservador, os saquaremas; já os praieiros apoiam-se no que Nabuco
denomina como “partido palaciano” (por contar com o suposto apoio do Imperador Dom
Pedro II), “a gente de Aureliano”, a Facção Aulica, ou simplesmente os liberais, luzias.
Nabuco provoca que enquanto os guabirús conseguiram contar com um apoio sólido do
Senado que derrubou duas eleições de Chichorro e de Duarte para o Senado, os luzias não
cederam em nenhum momento um ministério em seus gabinetes para algum partidário
praieiro.
Nabuco de Araujo, que ainda era juiz cível em Recife, vai fazer uma forte oposição ao
governo Chichorro, principalmente em seus artigos para O Lidador. Essa oposição,
combinada ao voto contrário de Nabuco de Araujo (Pai) no Senado e a preferência por algum
juiz vinculado à situação praieira, acarretaram na transferência do magistrado para Assú, na
província do Rio Grande do Norte. Esse episódio gerou grande manifestação na imprensa
conservadora de várias províncias do Império.
Todavia, mesmo com ressalvas, o autor reconhece que os praieiros se fizeram
necessários na “conquista do interior pela lei” (p. 85), contra desmandos de latifundiários, o
que Nabuco coloca que era um ponto anteriormente já levantado por seu pai tanto na Câmara
quanto em escritos. O autor, assim como o biografado, discordam apenas do uso partidário
que os praieiros fizeram das ocorrências, o que não é surpresa, já que boa parte das terras
supervisionadas pertenciam aos Cavalcanti ou ao Rego Barros, de quem Nabuco de Araujo
era aliado.
O texto se encerra com a queda da situação liberal:
Com o gabinete Paula Souza cahia a situação liberal, quéeda attribuida por
Theophilo Ottoni, não, como era notorio, ao esphacelamento do partido, á
sua falta de cohesão, ás incompatibilidades pessoaes dos seus chefes, ao
arrefecimento das boas graças do palacio. Os denunciantes, não mais da
facção aulica, porque essa agora se dispersa e desaparece, mas do governo
pessoal, passam a ser os liberaes, que negavam a sua existencia quando os
Saquaremas explicavam as evoluções de 1844 a 1848 pelos manejos
occultos dos reposteiros da Joanna, a residencia do mordomo Paulo Barbosa.
(p. 92)

ii. A Revolução do 1848


Inserindo-a no contexto das revoluções parisienses de 1848 e no cenário da queda da
situação liberal no Império do Brasil, Joaquim Nabuco inicia sua análise da Revolução
Praieira de 1848. De acordo com o autor, a revolta teve agentes facilitadores, tais como : 1) os
liberais, diferentes de conservadores, não esperariam a sua vez no jogo político; 2) os
praieiros tinham a massa propensa à revolta ao seu lado e partidários armados em seu governo
anterior; 3) o partido da Praia julgava contar com o apoio imperial ainda em um Gabinete
Olinda, tradicional oponente; 4) a nomeação de um presidente “fraco” para Pernambuco; e 5)
o adiamento da dissolução da Câmara conservara vários dos revoltosos como deputados.
O autor também destaca as atuações de Nunes Machado - de quem logrou conseguir
cartas inéditas enviadas à sua esposa na corte e que são citadas em notas nas páginas 100 e
101 – e Borges da Fonseca como líderes de uma revolução que, ao olhos de Joaquim Nabuco,
não possuía bandeiras concretas além da nacionalização do comércio, de compromissos
socialistas e de uma dubiedade no que diz respeito à causa republicana:
Elles negavam com todas as forças que a revolução tivesse caracter
republicano, e realmente Nunes Machado entrou nella accentuando as suas
convicções monarchicas e dizendo que só o fazia por força maior, para
libertar a Corôa da tutela de uma facção; mas era evidente que a revolução,
se durasse, tinha que ser forçosamente, como a do Rio Grande do Sul, um
movimento republicano de separação. Ora, nada enfraquece mais os
movimentos políticos do que a certeza de que a bandeira sob a que elles se
iniciam é impropria para dar-lhes a victoria e de que mesmo em plena lucta
será preciso substuil-a por outra que não se quiz desde o principio arvorar.
(p.98)
No que diz respeito ao biografado, o autor contextualiza que, no momento da
efervescência revolucionária, Nabuco de Araujo escrevia para o jornal União, substituto de O
Lidador, e havia sido nomeado juiz de crime no Recife, exercendo cargo de confiança do
Ministro de Justiça, Eusébio de Queiroz.

iii. Caracter da agitação Praieira


Não se póde deixar de reconhecer no movimento praieiro a força de um
turbilhão popular. Violento, indifferente a leis e a principios, incapaz de
permitteir em seu seio o minimo desaccordo, empregando sempre meios
muito mais energicos do que as resistencias exigiam, embriagando-se dos
seus excessos de autoridade: tudo isto é exacto do dominio da Praias, e esses
são os caracteristicos proprios da democracia. (p. 102)

É assim que o autor caracteriza, inicialmente, a Revolução Praieira. É interessante


destacar o sentido atribuído à democracia não apenas nesta, mas em várias outras passagens
da obra, como por exemplo na que Joaquim Nabuco cita a obra Acção, Reacção, Transacção,
de Justiniano José da Rocha, que também associa democracia à violência. Esse impulso
democrático e tendência revolucionária permanente observada em Pernambuco se deve, de
acordo com o autor, ao caráter do povo pernambucano, que são originários de fidalgos que se
ilustraram ao longo do tempo e que sempre foram cerceados por elementos estrangeiros – os
portugueses – e territoriais – os latifundiários.
Joaquim Nabuco, em sua análise, coloca que os Praieiros aproveitam-se dessa pauta
que já possui a adesão popular, dando ares de movimento social à revolução, o que perde o
apelo por esta ser também um movimento partidário. O autor, nesse ponto, traça uma
interessante problematização sobre o quanto paixões e vaidades partidárias podem prejudicar
a face social de diversos movimentos e revoltas.
Ainda em seu estudo sobre o caráter do Partido da Praia, Nabuco coloca que a história
política dos Praieiros sempre foi marcada por “impulsos democráticos e instintos palacianos”,
vinculando-os mais à facção aulica do que aos luzias, visto o caráter descoordenado e extremo
dos liberais pernambucanos. Não é difícil perceber que, em suas observações, constata-se uma
defesa dos Cavalcantes, família tão combatida pelos Praieiros.
Nabuco não deixa de destacar, por fim, o quão proveitosa foi a Revolução Praieira
para o partido conservador: “A revolução de 1848 em Pernambuco poderia ser desejada pelo
partido conservador, tão proveitosa lhe foi.” (p. 106). De fato, o movimento praieiro foi o
último a abalar o Império internamente, inaugurando um longo período de situação
conservadora no país.

iv. O Julgamento dos Rebeldes


Como juiz do crime de Recife, Nabuco de Araujo foi o responsável por comandar o
julgamento dos rebeldes, que iniciaram-se em 17 de agosto de 1849. Como conservador e
obrigatoriamente opositor político da Praia, o autor traçou uma linha de raciocínio de modo a
justificar uma imparcialidade do biografado, que manteve-se no cargo e assinou as sentenças.
Nesse subcapítulo há, ainda, observações acerca de prisão perpétua e anistia no Império do
Brasil.

4. Capítulo IV: A Legislatura de 1850-1852


i. A Sessão de 1850
Nabuco inicia o subcapítulo caracterizando a Câmara como conservadora e
majoritariamente formada por políticos do Segundo Reinado, em oposição às anteriores que
sempre somavam um maior número de homens mais experientes, da Regência e até mesmo
dos tempos de Dom Pedro I. Sobre o ministério de 1848, o Gabinete Olinda, o autor ressalta:
Foi realmente um ministerio forte esse que suprimmiu o trafico, dominou a
revolução de Pernambuco, derrubou Rosas, e ao mesmo tempo lançou a base
de grandes reformas e melhoramentos que mais tarde se realizaram.
Politicamente o anno de 1850 é caracterizado por grandes contratempos. É
nesse anno que o cruzeiro Inglez começa a fazer presas em nossos portos e
aguas territoriais em cumprimento da lei Aberdeen, o que mostra que a
Legação lngleza estava convencida de que com o partido conservador
tinham subido ao poder os protectores do trafico e que era preciso fazer
maior pressão sobre elles do que sobre os Liberaes, que tinham provocado
no governo o odio dos grandes traficantes. (p. 114)
A lei que proibiu o tráfico de escravizados foi assinada em 4 de setembro de 1850 e,
segundo o autor, foi resultado de discussões recorrentes na Câmara dos Deputados, no Senado
e nos Ministérios, e não resposta à pressão inglesa, como apontavam os liberais e a próprio
Foreign Office. O ministro da Justiça de então, Eusébio Queiroz, torna-se uma das estrelas do
gabinete, o que faz com o autor trace um panorama de sua personalidade comparado a um de
seu pai, que também assumiria o cargo anos mais tarde.
Joaquim Nabuco destaca ainda as complicações na Região do Prata que levaram à
queda de Olinda e ao Gabinete Monte Alegre, e a ação de Nabuco de Araujo na Câmara de
Nabuco de Araujo, que continua assumindo uma posição menos de político e mais de
magistrado.

ii. A Morte do Pae


Detalha a morte do pai de Nabuco de Araujo, José Thomaz Nabuco de Araujo (Pai),
em 18 de março de 1850, vitimado pela primeira epidemia de febre amarela no país, que
também acometeria Bernardo Pereira de Vasconcellos menos de dois meses depois.

iii. Regulamentos do Codigo Commercial


Nabuco de Araujo foi nomeado por Eusébio de Queiroz como membro da comissão
encarregada de organizar os regulamentos do Codigo do Commercio em março de 1850, ao
lado do ministro, de José Clemente Pereira, Carvalho Moreira, Caetano Alberto e Barão de
Mauá. Joaquim Nabuco destaca que no arquivo de seu pai não foi localizado a parte em seus
trabalhos nessa comissão, porém localizara um artigo do Correio Mercantil de 1857 que
especificava que o deputado havia escrito a seção de Nullidades e, em colaboração com
Carvalho Moreira, Juizo Arbitral.
Nesse período, Nabuco de Araujo destaca-se cada vez mais como um consultor
legislativo de renome e consideração.

iv. Presidência de São Paulo


Joaquim Nabuco destaca a curta presidência de Nabuco de Araujo em São Paulo, a
qual foi nomeada em junho de 1851. Devido a vários problemas de indicações políticas e
partidárias, o posto quase comprometeu a carreira de seu pai. O subcapítulo é repleto de
discursos de defesa de Araujo durante a sessão na Câmara que discutiu os problemas em São
Paulo, incluso improbidades na eleição de Pimenta Bueno, candidato do governo e do
gabinete Monte Alegre, mas que ia contra a deputação paulista.

5. Capítulo V: A opposição “parlamentar”


i. A Situação em Pernambuco
Joaquim Nabuco retorna ao contexto pernambucano, onde Nabuco de Araujo
conseguira ser reeleito deputado, mas em posição menos privilegiada do que na eleição
anterior. O autor atribui isto ao fato de o deputado estar passando de um político de província
e um estadista do Império, e até mesmo a um bairrismo pernambucano contra Nabuco, que era
baiano e vinha se destacando à revelia de políticos locais.
Nesse momento, Honório é nomeado presidente de Pernambuco e passa a adotar uma
política conciliatória e de proteção aos liberais vencidos. Seu principal objetivo era pacificar a
província, o que Tosta não conseguira por seu papel no desmonte da revolução, alimentando
rancores. São frequentes os elogios a Honorio na imprensa liberal pernambucana. Seu
sucessor foi Souza Ramos que, apesar de não ter o mesmo sucesso de Honorio, também fora
para a província com a recomendação imperial de aumentar a influência do governo e de
diminuir a de grupos locais, fazendo com que os presidentes conservadores não conseguissem
sustentar pedidos de seus amigos locais. De acordo com Nabuco, não era incomum que
guabirús colocassem obstáculos à conciliação ao rechaçar pequenos alívios a Praia.

ii. A Camara e o Ministério


Nabuco inicia o subcapítulo caracterizando a Câmara como conservadora e
confirmadora da tendência já inicialmente observada na legislatura anterior: a maioria das
cadeiras eram ocupadas por nomes que emergiram já no Segundo Reinado. O autor também
caracteriza o momento como de “calma nos espíritos”.

iii. A “Ponte de Ouro”


Esse subcapítulo é muito interessante e é provavelmente um dos preferidos dos
críticos que apontaram grande erudição e senso linguístico e artístico de Joaquim Nabuco. O
principal objeto desse texto é a oratória de Nabuco de Araujo e a análise de discurso
extremamente detalhada realizada pelo autor.
O discurso mais famoso do deputado Nabuco de Araujo, denominando de “Ponte de
Ouro”, foi realizado na sessão da Câmara de 6 de julho de 1853 e versava sobre a situação da
deputação pernambucana, núcleo de oposição chamado de Partido Parlamentar. No discurso,
o deputado defendeu uma política de conciliação a partir do governo e reformas jurídicas. Até
mesmo órgãos praieiros fizeram apreciações do discurso em O Liberal Pernambucano, por
exemplo.
O Livro I termina com o fim do Gabinete Itaboraí e o início do Ministério Paraná,
liderado por Honório Hermeto Carneiro Leão.

 LIVRO II: O MINISTÉRIO PARANA (1853-1857)


1. Capítulo I – O gabinete e o seu programa
i. O Presidente do Conselho
ii. Os Ministros
Em 6 de Setembro de 1853 organizava o Visconde de Paraná o seu
gabinete da seguinte forma : elle, na Presidencia do Conselho e com a pauta
da Fazenda, Pedreira na do Imperio, Nabuco na Justiça, Limpo de Abreu em
Estrangeiros e Bellegarde na Guerra. Em Dezembro Paranhos entrava para a
Marinha. (p. 161)

Nesses dois subcapítulos, Joaquim Nabuco traça um detalhado perfil político e de


personalidade de cada um dos componentes do Gabinete Paraná.

iii. A Conciliação
Estava assim, afinal, acabado o afastamento pessoal entre o Imperador e o
chefe mais poderoso dos conservadores desde a morte de Vasconcellos. O
programma do ministerio resumia-se n'uma palavra - conciliação. Pela
primeira vez depois de tantas perseguições um governo fazia solemnemente
da conciliação o seu compromisso ministerial. (p. 172)

De acordo com Joaquim Nabuco, a ideia da conciliação promovida pelo Gabinete


Paraná estava sendo muito bem recebida pela imprensa e pelo parlamento, principalmente
pelos liberais que lograram não receber tantas retaliações. Durante os próximos dez anos,
antigos conservadores e antigos liberais se misturariam nos gabinetes, o que de fato não geral
graves alterações na ordem estabelecida (“nada mais saquarema do que um luzia no poder”);
o momento de estabilidade só é rompido com o eventual surgimento da Liga Progressista.

2. Capítulo II: A sessão de 1854


i. A Defecção de Ferraz
Nesse subcapítulo, Nabuco narra o primeiro problema do Gabinete Paraná: a saída de
Ferraz, que denunciou a Conciliação “como não sendo outra coisa mais do que uma compra
de adhesões”, gerando a ruptura com Honorio e grande repercussão na sessão da Câmara.

ii. A Reforma Judiciária


Como ministro da Justiça, José Thomaz Nabuco de Araujo começou a empreender a
reforma judiciária que, desde a sua primeira legislatura, era por ele ansiada. Após realizar
vários jurisconsultos, o que deu grande impulso aos estudos de legislação comparada e aos
estudos jurídicos no geral, pelo que José de Alencar chegou a ressaltar que esses surgiram sob
patrocínio de Nabuco, o ministro teria como objeto de discussão da sessão de 1854, um
projeto bem diferente do que planejara:
Na sessão de 26 de Maio de 1854 Nabuco apresentou, simultaneamente com
um projecto sobre tribunaes do commercio, a sua reforma judiciaria. Era o
projecto que e1le tinha elaborado no intervallo das sessões, porém,
mutilado, incompleto,sacrificado ás exigencias politicas. (p. 190)

Alguns de seus colegas, como Wanderley e Ferraz, julgaram a reforma como muito
profunda, quase uma revolução. Conseguira, porém, o apoio do presidente da Bahia, Saraiva,
e incluso alguns aceites do Imperador que foram retirados do texto discutido na Câmara
devido à posição do Senado.
O que ocorria era que a reforma proposta por Nabuco pretendia modificar a Lei de 3
de Dezembro de 1841 que, de acordo com o biógrafo, era um verdadeiro fetiche para os
conservadores, e que não havia sido reformada nem mesmo pelos liberais em 1844-1848 ou
por Eusebio de Queiroz, que preferia carretilhas a grandes propostas. Tanto conservadores
quanto liberais se opuseram às propostas do ministro da Justiça, visto que aqueles viam uma
entronização dos juízes de direito à revelia da máquina policial montada em 1841, e estes,
apesar de a favor de uma reforma, não a queriam de modo a reforçar o princípio da
autoridade, muito menos cerceando a liberdade da imprensa ao tirar dela o poder de juri.
Nabuco transcreve diversos discursos proferidos naquela sessão, em especial aqueles
em que seu pai defende a Reforma Judiciária, que acaba sendo sacrificada pelo Senado,
gerando inclusive boatos da saída de Nabuco de Araujo do ministério, o que não aconteceu.

3. Capítulo III: A sessão de 1855


i. Justiniano José da Rocha e Paraná – Debate sobre a Conciliação.
Nessa sessão de 1855, classificada por Joaquim Nabuco como “muito trabalhosa”,
além de provocações de Ferraz envolvendo o Presidente do Conselho dos Ministros e o seu
Ministro da Justiça, ocorreu uma dramática peleja envolvendo Paraná e Justiniano José da
Rocha. J. J. da Rocha faz uma provocação, acusando a Conciliação de corrupção política
devido às aquisições do governo, sendo apoiado por Ferraz. Honório, por sua vez, acusa
Rocha de ter obtido favores enquanto jornalista, devido à acusações de subvenção à imprensa.
Nabuco classifica o discurso de defesa de Rocha como um dos mais comoventes e
emocionantes dos Annaes da Camara, sobre a questão dos pagamentos à imprensa, o biógrafo
destaca:
A questão da subvenção á imprensa é uma das mais delicadas que se podem
dar para um ministro. Nas contas da verba secreta dos differentes ministerios
a que Nabuco pertenceu (1853-1.857, 1858-1859, 1.865-1866), ha recibos de
jornalistas a quem o governo auxiliava. Não era esse serviço nada
comparavel ás grandes despezas que foram feitas a pedidos em época
posterior com o systema […] (p.209)

Ainda durante a sessão, José T. Nabuco critica a bandeira de Vassouras, proprietários


que barraram a reforma judicial no Senado.

ii. A Lei dos Círculos


A discussão central da sessão foi sobre a Lei Eleitoral, chamada de Lei dos Círculos, e
que fora proposta por Paraná, convertendo-se em uma das suas prioridades. O presidente do
Conselho dos Ministros propunha que os deputados fossem escolhidos de acordo com as
maiorias locais, tornando a Câmara dos Deputados uma expressão do país real.
Apesar da oposição do Senado, que temia que a eleição por círculos viesse a destruir a
disciplina e a coesão do partido conservador no Parlamento, o projeto foi aprovado.

4. Capítulo IV: Política Exterior


i. A missão Pedro Ferreira
O Ministério Paraná tinha como missão consolidar a política empregada pelo
ministério de 29 de setembro – Gabinete Olinda – no Rio da Prata. Apesar dos problemas com
a Confederação Argentina e Buenos Aires estarem em suspenso, a situação com o Paraguai
passou a ser preocupante:
Em agosto de 1853 Lopez I tinha mandado os passaportes ao ministro
brazileiro, Leal, acusando-o em nota de "dedicar-se á intriga e á impostura
em odio ao Supremo Governo do Estado" e de levantar atrozes calumnias
contra elle. Estava assim aberta entre os dois paizes uma questão que podia
levar á guerra, e de facto, bastava ter sido encaminhada de outro modo pelos
proprios acontecimentos, para ter levado a guerra. (p.218)

Esse conflito resultou na missão Pedro Ferreira, que foi afugentada pelo governo
paraguaio. O almirante não reagiu, gerando descontentamento no gabinete, porém Nabuco
avalia que sua decisão foi a mais acertada, visto que ali o Império Brasileiro tinha ainda
menos condições de uma guerra com o Paraguai.
A situação com o governo Lopez ficou ainda mais complicada após este ter
modificado o acordo firmado em 1856 com uma série de regulamentos que dificultaram a
navegação e o comércio nas fronteiras:
Os regulamentos contrariam profundamente o gabinete, que faz seguir em
missão especial para Assumpção o conselheiro José Maria do Amaral,
ministro em Paraná. A attitude de Lopez não se modificou entretanto, de
modo que o ministerio ao retirar-se não deixava ainda em estado
satisfactorio as nossas relações com o Paraguay a respeito da liberdade
fluvial, que era o mais nos interessava por causa do Matto-Grosso. (p. 221)

Um acordo é, enfim, firmado em 1858.


ii. Montevidéo
Problemas no governo uruguaio fez necessária a presença brasileira em seu território,
o que gerou tumulto no gabinete, já que os ministros temiam uma reação da Confederação
Argentina, de Buenos Aires e do Paraguai. A questão acabou resolvendo-se antes mesmo da
chegada de Limpo Abreu nos Estados Orientais.

iii. A abolição do corso


Foi no gabinete Paraná que o Brazil adheriu aos quatro principios de direito
maritimo proclamados no Congresso de Pariz de 1856, a saber: a abolição do
corso, a inviolabilidade da mercadoria inimiga, excepto o contrabando de
guerra, sob bandeira neutra, e a necessidade de ser o bloqueio effectivo para
ser respeitado. (p. 223)

De acordo com Nabuco, essa adesão não foi amplamente aceita, visto que muitos
acreditavam que o corso era o único recurso do Brasil em um eventual conflito com uma
potência naval, o gabinete, ao contrário, acreditava que a adesão era de fundamental
importância para as nações fracas e sem marinha de guerra.
5. Capítulo V: O tráfico e a escravidão
i. A lei de 5 de junho de 1854
Dando, de certa forma, prosseguimento aos assuntos internacionais durante o
ministério Paraná, Nabuco passa a narrar os acontecimentos que envolviam o tráfico e a
escravidão durante o período do governo do gabinete. O autor destacou o papel da Legação
Inglesa nesse âmbito, que sempre atuou de forma a fiscalizar o tráfico no Brasil com vistas às
leis de 7 de novembro de 1831 e a lei de 4 de setembro de 1850.
Apesar de ter destacado no primeiro livro que a lei de 4/9/1850 não tinha sido apenas
resultado da pressão inglesa, o autor reconhece que sem o temor do cruzeiro inglês seria
impossível pensar nela e aprová-la de um só golpe. Nabuco destaca que apesar da lei de
Eusebio e das deportações de traficantes empreendidas por ele, as estruturas do tráfico não
haviam sido desmontadas e que qualquer descuido por parte do governo, fariam com que a
máquina voltasse a funcionar. Para ilustrar esse fato, cita relatos de Sinimbú quando este era
chefe de polícia em 1856, nos quais ele denuncia diversas feitorias ao longo da costa africana,
pertencentes a traficantes que haviam tido influência no Brasil.
A lei junho de 1854 completou, de acordo com Nabuco, as medidas legislativas contra
o tráfico, preveniu casos como os de Bracuhy e diminuíam as suspeitas dos ingleses e do
mundo sobre a costa brasileira. O texto da lei, redigido com o apoio de Nabuco de Araujo, dá
poderes aos auditores da marinha para julgar traficantes mesmo que estes estejam longe da
costa e mesmo em momento posterior ao desembarque.

ii. O desembarque de Serinhaem


Um caso que gerou grandes repercussões e problemas com a Legação Inglesa foi o
desembarque de 209 escravizados em Serinhaem, em Pernambuco, em 13 de outubro de 1855.
O caso recebeu muita atenção do Imperador e Nabuco de Araujo, como ministro da Justiça,
estava a par e à frente da situação que acusava autoridades pernambucanas de crime de
responsabilidade por haver permitido a fuga do capitão e de toda tripulação a bordo do navio
negreiro.

iii. Os africanos da lei de 7 de Novembro


Nesse subcapítulo, Nabuco trata da delicada questão a respeitos dos escravizados
importados depois da lei de 1831, que a Inglaterra já considerava como livres e de escravidão
ilegal. O autor destaca que “[…] pode-se dizer mesmo que pareceu sempre mais facil abolir a
escravidão de um golpe do que fazer cumprir retrospectivamente a lei de 7 de Novembro.”
(p.242).
iv: Os Africanos livres
Joaquim Nabuco faz neste texto uma importante denúncia acerca do destino dos
africanos considerados livres por terer sido apreendidos no ato do desembarque:
A historia dos Africanos livres de uma e outra categoria é uma das paginas
mais triste da escravidão entre nós, além do mais, porque tudo se fazia em
violação de tratados,de solemnes compromissos, que o governo tomara de
garantir a liberdade dos Africanos que lhe eram entregues pelas Commissões
Mixtas. A distribuição de muitos d'elles entre homens políticos importantes
facilitava os abusos, abusos que se póde resumir! dizendo que em grande
parte aquelles Africanos livres foram fraudulentamente incorporados á
escravatura. (p.243)

O autor destaca que, na maioria das vezes, os interesses fundados na propriedade


escrava, ou seja, o de grandes latifundiários, era mais forte do que o governo, daí a
dificuldade de se fazer cumprir uma legislação que sempre existira e que, desde os primeiros
anos do Império do Brasil, condenavam a escravidão.
O autor destaca um decreto expedido por seu pai em 28 de Dezembro de 1853 que
libertava, de maneira gradual, esses “africanos livres” que haviam sido incorporados ao
sistema.

v. Commercio interprovincial
O autor destaca que Wanderley tinha um projeto, apresentado em 1854, que proibia o
transporte de escravos de uma província para outra e que, de acordo com Nabuco, não foi
votado na sessão de 1857 devido ao fim do ministério Paraná-Caxias, nos quais seu pai
figurou pela primeira vez como ministro da Justiça.
De fato, após o sufocamento do tráfico Atlântico, o país continuou o ciclo da
escravidão através de um tráfico interprovincial. O autor destaca que a antecipação de uma lei
como a proposta em 1854, resultaria em maior facilidade de desmonte da escravidão e
antecipação da abolição.

vi. Idéas da época


Ao longo de toda a obra, Joaquim Nabuco tece alguns estudos e análises bastante
interessantes, como é o caso desse, intitulado “Idéas da época”.
Partindo de algumas decisões condenatórias de escravizados tomadas por Nabuco de
Araujo enquanto Ministro da Justiça, como no caso de Gabriel David – escravizado do
Imperador que fora condenado injustamente - o autor coloca que o pai fora apenas uma peça
de uma estrutura que, em muito, lhe era superior, e que a indignação justa que recaiu sobre o
ministro, deveria pesar em cada um dos braços de sustentação da escravidão.
Segue trecho importante na explanação de Nabuco:
Era outra atrocidade da escravidão, que levou ainda trintas annos para ser
abolida. O regimen, todo elle, era de uma severidade cruel, para conter no
respeito dos senhores isolados, indolentes, incapazes de se defender, as
massas de escravtura que os cercavam. O Estado estivera sempre no habito
de castigar por conta dos donos os escravos reputados perigosos; no caso de
David a presumpção legal de innocencia, em que importava a absolvição do
jury, não destruia na consciencia do senhor a convicção de que elle tivera
parte no assassinato. O senhor era a nação, isto é, na falta do
usofructuario que desistia, o governo que a representava. (p.253)

6. Capítulo VI: Política Financeira


i. O governo e a praça. O orçamento
ii. As Commanditas por Ações
Neste capítulo, Joaquim Nabuco vai tratar sobre a política financeira do Ministério
Paraná. O fato mais marcante financeiramente no país nesse momento é a fuga de capital do
tráfico – desmantelado- que deixou, teoricamente, sem destino os investimentos de grandes
proprietários.
O gabinete nascera em uma phase de expansão, de vida nova, como foi a que
e seguiu á extincção do tráfico. Até então o espirito commercial e industrial
do paiz parecia resumir- se na importação e venda de Africano. Com a
extincção deu-se uma transformação maravilhosa. “Este facto, como é
sabido, diz o Relatorio da Commissão de Inquerito sobre o meio circulante
em 1860, teve um immenso alcance, mudando completamente a face de
todas a coisas na agricultura, no commercio, na industria. Os capitaes que
eram empregados n'essas iIlicitas transacções aflluiram á praça, do que
resultou uma baixa consideravel nos descontos; o dinheiro abundava e uma
subida extraordinaria teve logar nos preços das acções de quasi todas as
companhias. (p. 255)

Nesse momento, superando os exercícios anteriores, a renda pública aumentou, e cabia


ao gabinete apenas controlar o câmbio após a emissão em metal que tanto foi solicitada pela
praça e que acabaria provocando flutuações futuras.
O Barão de Mauá, aproveitando o momento econômico, solicita a liberação para
converter a sua sociedade commercial em uma commandita por ações, mas é temporariamente
impedido pelas desconfianças de Honório acerca do jogo de ações e de recomendações
francesas, destacando o papel que a Europa possuía em todas as esferas da governança no
Império do Brasil

7. Capítulo VII: O Ministro da Justiça


i. Marcha das Reformas. Reforma hypothecaria.
ii. Tribunaes do Commercio
iii. Crimes comettidos no estrangeiro
iv. Títulos de residência de estrangeiros. Passaportes.
v. Interpretação das Leis. - Assentos do Supremo Tribunal. - Aposentadorias forçadas
vi. Casamentos Mixtos
vii. Administração Eclesiastica: - Reforma dos Conventos. - Projecto de Concordata. -
Conversão dos bens das Ordens. - Recurso á Corôa. - Regeneração do Clero. -
Faculdades Theologicas.
vii. Laboriosidade de Nabuco. - Estreiteza do Orçamento. - Consolidação das Leis Civis
viii. Indisponível no PDF
ix. Consultas diversas. - Reclamações Diplomáticas
x. Relações com o Imperador. - Candidaturas ao Senado: Recusa
xi. Relações com os Collegas. - Relações com os Presidentes de Província. - Repressão do
Crime. - Guarda Nacional. -As aposentadorias. - Conselhos para administrar.
xii. Borges da Fonseca
Neste capítulo, o autor trata das realizações de Nabuco de Araujo durante seu
ministério nos Gabinetes Paraná-Caxias. No que diz que respeito a reformas, já foi
mencionado anteriormente todo o processo que levou ao arquivamento da Reforma Judiciária
proposta por Nabuco no Senado, o mesmo ocorre com o texto da reforma hipotecária:
As suas idéas de 1854 levam umas dez annos, outras de dezesete a vinte,
para se tornarem lei, poucas serão rejeitadas: póde-se dizer que em materia
judiciaria tudo quanto se fez foi segundo a inspiração dos seus Relatorios de
1854 a 1857 e de 1866 e do programma liberal de 1869 por elle formulado.
(p.268)

De acordo com Nabuco, em tudo que não dependia da aprovação das Câmaras, o
instinto reformador de seu pai foi decisivo, como no caso dos passaportes que, após decreto,
passou a valer sem necessidade de título de residência, o que foi comemorado por todos os
consulados e estrangeiros com exceção do de Portugal.
Os problemas com os casamentos mistos – no que diz respeito à religião católica e
protestante – é apresentado com um caso concreto e constitui um impasse devido ao fato de
existir uma religião de Estado, o catolicismo. Nabuco e uma secção propõem, então, uma
reforma acerca de casamentos protestantes, mistos e de pessoas que não professem religiões: a
esfera civil deveria preceder a religiosa nesses casos e a justiça do Império deveria ser capaz
de julgar situações nesse âmbito. A inspiração para o projeto de lei redigido, que torna-se o
primeiro sobre casamento civil a ser elaborado pelo governo, vem da legislação da Sicília e de
Nápoles e do Código Civil Francês. O projeto é vetado pela oposição de Francisco Diogo
Pereira de Vasconcellos, sucessor de Nabuco na pasta da Justiça.
Naquela época, a pasta da Justiça também era responsável pelos assuntos eclesiásticos,
o que foi um ponto polêmico do ministério de Nabuco de Araujo, visto a quantidade de
correspondências com diversos bispos. O biografado, preocupado com a formação de um
clero “capaz de servir à religião”, propôs uma série de reformas das ordens religiosas e de
seus conventos, das quais as mais contundentes eram a suspensão do ingresso de noviços, a
sujeição aos bispados e a conversão de bens de conventos desativados em apólices das dívidas
públicas. Todas essas medidas deram a Nabuco a fama de “inimigo das ordens”, imagem que
o biógrafo tenta desconstruir com maestria.
Além desses pontos que causaram alvoroço no campo religioso, Nabuco também se
debruçou sobre a questão das Faculdades Teológicas que, apesar de aprovada pela Câmara,
não fora adiante por falta de verba. Assim como a questão da educação clerical, a concordata
que tinha como objetivo tratar de todas essas reformas, bem como dos casamentos mistos, não
foi celebrada durante o Ministério Paraná.
No subcapítulo acerca da “laboriosidade de Nabuco” percebe-se claramente o apreço,
“a piedade filial” - amplamente citada pela crítica – do autor para com o biografado, que
chega às últimas páginas do primeiro tomo com uma narrativa rica em vários aspectos, menos
no que diz respeito à linearidade de seu discurso elogioso e recapacitante que, ainda que bem
fundamentado, constrói uma imagem de Nabuco de Araujo como um estadista irretocável, um
herói nacional.
De acordo com o Joaquim Nabuco, o pai era um exímio trabalhador e que a única
coisa que freou seu ímpeto de reformas, ao menos nesse primeiro ministério, foi a quantidade
limitada de verba pública:
Paraná queixava-se das despezas do ministro da Justiça e o Imperador
tomava sempre o partido mesmo das pequenas economias. Sob o imperio de
idéas tão restrictas era impossivel a Nabuco reformar convenientemente
qualquer serviço dos muitos que tinha a seu cargo, como a secretaria, a
policia, a magistratura, as prisões, a illuminação publica, os telegraphos, a
guarda nacional, a legislação, os seminarios o culto publico. (p. 339)

Seguindo o capítulo, Joaquim Nabuco destaca o outro papel ocupado por Nabuco de
Araujo no gabinete: o de consultor jurídico do Império, ilustrando esse fato com diversas
correspondências com consultorias oferecidas por ele concomitantemente ao seu labor no
ministério da Justiça. O autor destaca, inclusive, que o Imperador o consultava como
advogado e tomava muito em conta a sua opinião, visto que não era tão versado em assuntos
jurídicos.
No que diz respeito ao Imperador Dom Pedro II, a quem o décimo subcapítulo é
dedicado, Joaquim Nabuco coloca: “[…] era assim uma especie de guarda, ao mesmo tempo,
de uma certa tradicção de governo superior aos partidos e protector das opposições, da qual
fazia uma Monita constitucional não escripta e do programma politico a que dera sua
approvação”. (p.348)
O autor, então, caracteriza a relação do Imperador com os seus ministros como de
observação e nunca de imposição, ressaltando o aspecto parlamentar e constitucional da
monarquia, atenuando as atribuições do Poder Moderador. De acordo com o que foi
observado nas correspondências entre seu pai e Dom Pedro II, Joaquim Nabuco coloca que as
maiores preocupações do Imperador no período diziam respeito à perseguição ao tráfico, ao
combate à corrupção e à efetividade da política conciliatória do Gabinete, visto que aquele era
o programa colocado por Paraná quando foi indicado como Presidente do Conselho de
Ministros. Além disso, o autor ressalta que Nabuco de Araujo gozava da admiração imperial e
que quando pleiteou sua vaga ao Senado, foi imediatamente aceito.
Por fim, pode-se dizer que as duas últimas partes do capítulo foram, talvez, uma
oportunidade de Nabuco de fazer publicar as correspondências entre estadistas/políticos que
marcaram a história do Brasil Império, como Borges da Fonseca, consolidando um de seus
objetivos ao escrever a biografia de Nabuco de Araujo.
8. Capítulo VIII: Traço Geral da Administração. - Morte de Paraná. - Eleições de 1856. -
Fim do gabinete.

O último capítulo do primeiro tomo diz respeito aos traços gerais da administração do
ministério Paraná e os acontecimentos que rondaram o fim do gabinete. O autor coloca que
apesar de o ministério ter conseguido menos conquistas do que o governo de 1848-1853, ele
logrou ser mais moral do que material ao alcançar a conciliação e a eleição livre.
Pelo valor moral das conquistas do ministério, mesmo após a morte do Marquês de
Paraná em 1856, - geradora de grande comoção - o Imperador resolveu nomear o então
Marquês de Caxias – Ministro da Guerra – como o novo Presidente do Conselho, de modo
que o gabinete conseguiu estar à frente das primeiras eleições após a reforma tão defendida
pelo presidente anterior. O autor levanta que a maior parte dos parlamentares acreditavam que
Nabuco de Araujo seria uma escolha mais lógica do que Caxias, mas que acabou não se
concretizando.
O gabinete Caxias durou menos de um ano, o tempo suficiente para liderar as
mobilizações ao redor das eleições de 1856, e foi procedido por mais um ministério chefiado
pelo Marquês de Olinda.

TOMO SEGUNDO: 1857-1866


 LIVRO III – OS GABINETES FINANCEIROS (1857-1861). - A LIGA (1861-
1864) – PRIMEIROS GABINETES PROGRESSISTAS (1864-1865)
1. Capítulo I: Gabinete Olinda – Souza Franco (1857-1858)
i. A formação do gabinete
Joaquim Nabuco inicia o tomo com um capítulo sobre o Ministério Olinda de 1857,
ressaltando a dificuldade de escolha de um novo Presidente do Conselho visto que os maiores
nomes conservadores eram opositores da reforma eleitoral – da qual, após a morte do
Marquês de Paraná, o Imperador havia se tornado o maior defensor – e até mesmo da política
de conciliação. Olinda torna-se a melhor opção, mesmo tendo feito oposição à Paraná, já que
era de extrema ductilidade política, de acordo com o autor. Organiza o ministério ao lado do
liberal Souza Franco, o que não tinha ocorrido nem mesmo no Gabinete da Conciliação.
Esse gabinete de formação bastante conciliatória gera, de forma contraditória, reações
bastante adversas na Câmara, já que os conciliadores se ressentem da oposição de Olinda à
Paraná e sua mudança brusca e os conservadores condenam a aproximação do chefe do
Partido Conservador com liberais.
Mais uma vez, observa-se que Joaquim Nabuco logra traçar os traços positivos e
negativos de grande parte dos estadistas contemporâneos ao seu pai, não exitando em pintá-
los de cores mais fortes, como fez com o Marquês de Olinda ao caracterizá-lo como dúbio. De
fato, Nabuco foi extremamente detalhista no que diz respeito aos personagens da época,
facilitando uma reconstituição do jogo político no período imperial.

ii. Defesa da Conciliação e das Aposentadorias


Na primeira sessão de 1857, a Conciliação e a política do gabinete de 6 de setembro
foram a pauta central. Nabuco discursa a favor do Gabinete Paraná e analisa a função dos
partidos e a naturalidade de suas mudanças ao longo do tempo. Além disso, a pauta da
aposentadoria dos magistrados do ministério de Nabuco o tonou alvo de críticas durante a
sessão.
iii. Senador.
Na vida do homem político a escolha senatorial era outr’ora o facto
principal; era a independencia, a autoridade, a posição permanente, a entrada
para a pequena aristocracia dominante. (p. 13)

Nabuco tornara-se, aos 45 anos, senador por sua província natal, a Bahia.

iv. A Sessão de 1857. - Octaviano jornalista.


Nesse subcapítulo, Joaquim Nabuco demonstra o poder da imprensa na política com o
exemplo do jornalista Francisco Octaviano, do Correio Mercantil, que desafiava os
conservadores a romperem com Olinda e seu gabinete, apesar da tática daqueles de
reclamarem o antigo regente como chefe de seu partido, de modo a fazê-lo reconsiderar a
aliança com os luzias e os conciliadores. O jornalista também expõe a importância dos jornais
políticos para os partidos e a compreensão das lutas daquele tempo.

v. A pluralidade bancaria
Anteriormente fora observado que Joaquim Nabuco classificou os primeiros
ministérios pós-Paraná/Caxias como “financeiros”, neste subcapítulo ele explica que após a
sessão de 1857, classificada como estéril, inicia-se no Império um período de grande agitação
com o “ensaio da chamada liberdade bancária” (p.22) – pluralidade x unidade de emissão.
Souza Franco impõe uma liberdade restrita que gera graves repercussões tanto
políticas quanto econômicas. Com a baixa do câmbio e a agitação financeira, conservadores/
donos de antigas fortunas ficam alarmados e justificam seus medos apontando exemplos
como a agiotagem dos antigos capitães do tráfico após a criação do Banco do Brasil, em 1853.

vi. A Sessão de 1858. - A retirada do gabinete.


Essa é a primeira sessão que Nabuco de Araujo assiste como senador, colocando-se em
um papel mais de observador até adquirir traquejo senatorial. O tema da sessão centrou-se na
política financeira de Souza Franco, que tinha grandes opositores como Salles Torres Homem
e até mesmo o próprio Imperador, que preferia retornar a uma política mais conciliatória.
A nomeação de um presidente extremamente conservador para Pernambuco, abala a
aliança de Olinda com os liberais, representados por Souza Franco. De acordo com o autor,
além da oposição do Senado e da insatisfação do Imperador, é a política ambígua e vacilante
que provoca a queda do gabinete. Foi então formado o ministério Abaeté, no qual Nabuco de
Araujo figurava, mais uma vez, como Ministro da Justiça. A imprensa recebeu o novo
gabinete com ressalvas e Joaquim Nabuco o caracterizou como uma reação conservadora.
Octaviano, do Correio Mercantil, escreve um artigo aconselhando os novos ministros,
gerando repercussão.

2. Capítulo II: Gabinete Abaeté – Salles Torres Homem (1858-1859)


i. Segunda vez ministro. - Cooperação de Nabuco
Nesse ministério de reação conservadora, o autor coloca que Nabuco de Araujo – um
conservador transformando-se em liberal - era um membro heterogêneo e que mantinha-se
isolado devido ao protagonismo financeiro dos assuntos ministeriais daquele momento. A
palavra “Conciliação” naquele ponto já havia se tornado polissêmica e criava diversos
sentidos políticos, sendo usada de maneiras diferentes pela situação e pela oposição.
Joaquim Nabuco coloca que Araujo aceitara o cargo no ministério por agradecimento
ao Imperador pela vaga senatorial, mas que ia bem atuando como advogado no Rio de Janeiro
a fim de saldar as dívidas contraídas em seu anterior ministério. Em sua passagem no gabinete
Abaeté produzira um contrato com Teixeira de Freitas para a redação do Código Civil e a
reforma da Secretaria da Justiça.
ii. Retirada de Nabuco
Nabuco retira-se do ministério devido a desacordos com os seus colegas em questões
políticas.
iii. A sessão de 1859. - Attitude de Nabuco no Senado
Ao retirar-se do ministério, Nabuco se dedica à advocacia, travando duelos forenses
com Teixeira de Freitas. O autor coloca que a política, nesse momento, torna-se a diversão e o
descanso de seu pai, apesar da grande agitação na Câmara devido as mudanças ministeriais,
que abolira a conciliação, substituindo por “moderação e justiça”, gerando profundos debates
de sentido. O autor descreve assim a posição do biografado: “Parece querer fazer da
Conciliação o compromisso, o laço de um novo partido, cujo espirito fosse o da conservação,
mas de conservação pela reforma e pela attracção do sentimento liberal progressivo.” (p. 45)

iv. A restricção bancaria. - A retirada do gabinete.


As intensas discussões entre o ministério e a oposição acerca das questões bancárias
levaram à dissolução do Gabinete Abaeté. Inicialmente, o ministério quisera adiar sessões
como forma de advertência para uma possível dissolução da Câmara, mas essa iniciativa
desagradou ao Imperador, que preferiu que o gabinete se retirasse. Coube à Ferraz a
organização de um novo ministério, composto em sua maioria por amigos de Nabuco de
Araujo.

3. Capítulo III: Gabinete Ferraz (1859-1861)


i. Rego Barros. - Paes Barreto
Joaquim Nabuco faz mais uma de suas análises de personalidades políticas da época.

ii. Ferraz à frente da reacção financeira. O Regulamento do Sello.


O presidente do Conselho manejou de forma astuta a questão financeira, que tanto
comprometera os ministérios anteriores, colocando sua proposta como à margem da
dicotomia que tinha despertado paixões na Câmara. Apesar disso, o regulamento de 30 de
Setembro, que versava sobre os selos, colocou contra o governo as praças do Rio de Janeiro e
da Bahia, o que foi presencialmente observado pelo Imperador nesta última província.

iii. A sessão de 1860. - Martinho de Campos


Acerca das opiniões do biografado acerca do ministério, o autor apresenta
correspondências que demonstram que Nabuco de Araujo foi de um apoio amistoso a uma
suave oposição, em que caracteriza o gabinete como oligárquico.
A sessão de 1860 é um ponto de virada para o gabinete, visto que este surpreende seus
apoiadores e adota medidas financeiramente restritivas. A lei de 22 de agosto de 1860 exigia a
aprovação do governo antes da incorporação de qualquer sociedade anônima, civil ou
mercantil. No rodapé, Joaquim Nabuco destaca o folheto de H. A. Milet, “O Meio Circulante
e a Questão Bancária” (1875), no qual repreende-se medidas restritivas, colocando-o na linha
de pensamento do Barão de Mauá que vislumbrava uma economia aberta como a dos Estados
Unidos.
Apesar de claramente oposto à lei de 1860, o autor defende Ferraz das acusações
sofridas à época e acentua que, para muitos, a crise de 1864 fora mais amena devido à
existência dessa cláusula de restrição.
A oposição ao governo fora comandada pelo liberal Martinho Campos, sobre quem
Joaquim Nabuco emite uma análise detalhada e convicta.

iv. Attitude de Nabuco. - Isolado dos partidos


Nabuco de Araujo concentra-se, nessa sessão, em questões de legislação criminal e
civil acerca de crimes cometidos por brasileiros no exterior e nacionalidade de filhos de
estrangeiros nascidos no Brasil. Sobre este último assunto, gera-se muitas discussões, visto
que este causava diversas desavenças no âmbito das relações exteriores. Nabuco vai opôr-se
ao jurisconsulto do Código Civil, Teixeira de Freitas, que devido à sua intransigência em
defender a nacionalidade brasileira para os filhos de estrangeiros, pressiona o senado com sua
retirada do projeto de elaboração do código. Nabuco realiza um atalho ao propor as questões
do domicílio e da maioridade, o que agrada à Freitas, sendo aprovada a lei em 10 de Setembro
de 1860.
Além dessas questões, Nabuco também discute a reforma eleitoral, única assunto
político do qual ele se ocupa.

v. As eleições de 1860: triumpho democratico. Theophilo Ottoni.


O arranjo político causado pelo gabinete Ferraz havia unido os conservadores e
extremado os liberais, dos quais Nabuco de Araujo tinha preferido se isolar à espera dos
resultados eleitorais.
A formação de uma liga naquele ponto, vista por Joaquim Nabuco como inevitável,
acendia as esperanças políticas do senador, que preferia que o contingente conservador
prevalecesse sobre o liberal, apesar de suas tendências cada vez mais progressistas. O autor
aponta que:
Nabuco foi em nossa politica o iniciador deste principio - que os partidos, e
tambem os ministerios, se legitimam por idéas e duram emquanto ellas
duram. - A sua theoria, como vimos, era que só nas sociedades aristocraticas
podem existir partidoshitoricos; era como se dissesse que não queria os
partidos como corporações de mão-morta e como se declarasse abolidos os
vinculos politicos. A expressão mesma partidos transimissiveis é delle. (p.
74)

O autor destaca que as eleições de 1860 tiveram um amplo caráter democrático, como
não se vira desde 1837, com a participação massiva da juventude e o triunfo da chapa liberal.
É interessante observar que, aqui, Joaquim Nabuco muda o tom ao falar da democracia,
atribuindo um sentido mais positivo a ela nesse momento político do Império do Brasil: “ […]
esse acontecimento tomou as proporções uma revolução pacífica que tivesse finalmente
derribado a olygarchia acastellada no Senado.” (p. 74).
Junto a uma nova geração de liberais, também é eleito Theophilo Otonni, que Joaquim
Nabuco caracteriza como um “vulcão extincto”, “um veterano novato” e um “anachronismo
vivo” em mais uma de suas análises de perfis políticos, em que geralmente destaca os
antecedentes políticos e ideológicos, o caráter político e pessoal, atuação política e discurso.
Por vezes utilizando como referência notícias biográficas, Nabuco logra inserir na vida de seu
pai, diversas outras pequenas biografias que dão uma visão ampla do todo, conforme já
mencionado.
Os efeitos da eleição derrubam o gabinete Ferraz, que é sucedido pelo do Marquês de
Caxias, que terá como braço direito Paranhos.

4. Capítulo IV: Gabinete Caxias-Paranhos (1861-1862)


i. Ministerial “si et in quantum”. - Formação da Liga. - A estátua de D. Pedro I.
O autor faz um desenho da nova situação política do país após as eleições e a
formação do Gabinete Caxias, bem como situa Nabuco de Araujo nesse novo cenário.
No que diz respeito aso partidos, a Câmara estava dividida entre conservadores
puritanos, conservadores moderados e liberais. No que diz respeito a eles, Nabuco mantivera-
se isolado, bem como da Liga enquanto esta não apresentou suas ideias, mas declara ser
ministerial “si et in quantuam”, ou seja, enquanto o gabinete não atuasse de maneira
discordante.
A posição isolada de Nabuco é discutida por muitos e ele mantém-se sempre a meia
distância do ministério: por vezes se distancia como no discurso na inauguração da estátua de
Dom Pedro I, por vezes colabora com ele.

ii. O discurso do “Uti possidetis”. - Quéda do Gabinete. - Triumpho da Liga.


Neste subcapítulo o autor realiza outra análise de um discurso marcante de Nabuco de
Araujo, com características semelhantes ao realizado no Tomo I. De acordo com o autor, os
pontos levantados no discurso ofereceram uma base viável de aliança entre Conservadores e
Liberais, de modo a fazer triunfar a Liga. O gabinete é derrubado pela Câmara, que propõe a
dissolução desta, mas o Imperador não cede.

5. Capítulo V: O primeiro gabinete Zacharias e o Gabinete Olinda, chamado “dos


velhos” (1862-1864)
i. A vez de Nabuco? Primeiro gabinete Zacharias. Sua quéda immediata.
Apesar de ser considerado por muitos como o líder das ideias que constituíam a Liga,
Nabuco de Araujo foi preterido pelo Imperador, que preferiu nomear Zacharias de Goes para
um ministério que acabou durando apenas 3 dias, mas que causou impacto por batizar o novo
partido como Progressista. O autor inicia o subcapítulo, porém, indagando qual seria a sorte
daquele gabinete caso houvesse sido presidido por seu pai, visto que acredita que ele teria
conseguido sobreviver a sessão da Câmara que veio a rejeitar o Gabinete Zacharias. Essa é
mais uma daquelas passagens que podem causar suspeita de piedade filial por parte de
Joaquim Nabuco.

ii. Gabinete Olinda. Nabuco e a dissolução da Câmara.


Esse ministério presidido pelo Marquês de Olinda, é composto por nomes mais
antigos da política do Império do Brasil, por isso é denominado de gabinete “dos velhos”. De
fato, foi a consolidação da Liga por contar com homens neutros, alheios a paixões partidárias,
de acordo com Joaquim Nabuco, o que é de fato estranho devido ao caráter conservador que
parecia acompanhar a idade dos antigos estadistas.
A dissolução da Câmara se torna urgente para que a facção progressista não seja
derrotada, o que de fato ocorre mesmo após loga procrastinação do Ministério.

iii. As eleições de 1863. - O Partido Progressista. - Manifesto de Salles Torres-Homem.


Após a dissolução da Câmara, os candidatos do novo partido passam a justificar o
Partido Progressista de formas diferentes em cada província de acordo com o seu histórico
político, de modo a angariar o maior número possível de cadeiras na galeria. De acordo com
Joaquim Nabuco o fato era que o novo partido era um movimento produzido a partir da
Conciliação de 1853, proposta por Paraná e que, naquele momento, tinha como principal
sustentáculo a figura de Nabuco de Araujo.
O partido conservador era então defendido por Salles Torres-Homem que, em seu
manifesto, lamenta o apoio e a confiança depositados em Olinda que, visto sempre como o
patrono do partido conservador, havia se convertido no sucessor de Paraná.

6. Capítulo VI: Começo da situação progressista. - Segundo Gabinete Zacharias (1864)


i. Apresentação do Gabinete Zacharias.
Joaquim Nabuco inicia o capítulo falando sobre a vitória estrondosa do novo partido
nas eleições de 1863 e o consequente fracasso do partido conservador. Ressalta, porém, que as
divisões entre moderados e liberais no interior do Partido Progressista eram cada vez mais
perceptíveis.
O Ministério Olinda retira-se e o Imperador convida, mais uma vez, Zacharias Goes de
Vasconcellos. O autor frisa que é esse o ministério responsável pela guerra no Uruguai que,
em sequência, causou a guerra do Paraguai.

ii. Nabuco considerado o creador da nova situação. O seu retrahimento.


O autor apresenta discursos de Nabuco de Araujo nos quais ele explica a sua posição
no interior do Partido Progressista, bem como discorre sobre o papel de indivíduos nos
processos políticos. A rejeição de um papel diretor e militante no interior do partido que ele ao
menos embasara com seus discursos, gera repercussões na imprensa acerca de seu retraimento
político.
iii. Caracter politico de Zacharias
Análise personalista de Zacharias de Goes Vasconcellos.

iv. A Camara de 1864


A primeira sessão da 12ª Legislatura da Câmara dos Deputados traz Theophilo Otoni e
Saraiva como os maiores nomes de uma galeria que mesclava “mocidade e tradição”, visto
que contava tanto com políticos do período da Regência quanto com a última geração
acadêmica daquela época.

v. Nabuco e o Ministério. - Defesa de Sinimbú e das aposentadorias forçadas.


Discurso de Nabuco em defesa a Sinimbú no que diz respeito às aposentadorias
forçadas de magistrados do Supremo Tribunal, assim como fizera para si mesmo nas sessões
que o acusaram em 1857.

vi. A reforma hypothecaria desde 1856. - Os regulamentos hypothecarios de Nabuco.


Durante o ano de 1864, o principal trabalho parlamentar de Nabuco foi a reforma
hipotecária, à qual também se dedicou em seu ministério e conseguira a aprovação da Câmara
em 1856, sendo substituída por outra pelo Senado, em 1857. Nesse subcapítulo, o autor vai
apresentar diversas correspondências do senador durante o seu trabalho de resgate e
aperfeiçoamento da reforma que viria a ser aprovada ainda em 1864.
O autor faz uma crítica ainda ao sistema brasileiro que, ao longo do tempo, passou a
dar os créditos de leis pelos que as duplicaram – já durante a República – e ressalta que o
sistema hipotecário e de crédito territorial são, na realidade, de autoria de Nabuco de Araujo.

vii. O segundo José Bonifacio. - Retirada do Gabinete.


O autor discorre acerca da figura de José Bonifacio de Andrada e Silva, “o Moço” e da
retirada do gabinete, causado pela ruptura que sempre existira no interior do partido e de um
conflito com o Ministro do Império. Furtado assume o gabinete que apresenta características
cada vez mais liberais, um retrato do conflito no interior da Liga entre Progressistas e
Históricos.
7. Capítulo VII: Gabinete Furtado (1864-1865)
i. A crise comercial de 1864. - Concurso que Nabuco presta ao Gabinete.
Com o Gabinete Furtado, os liberais sentiam que haviam retornado ao controle da
situação política do país, porém ainda não se sabia que iriam passar por episódios graves
como a crise de 1864 e a Guerra do Paraguai.
A crise iniciou-se no dia 10 de Setembro de 1864 com o fechamento do banco A. J. A
Alves Souto e Cª, gerando grande consternação e desespero público e uma corrida que
sobrecarregou o Banco do Brasil. O decreto de suspensão de pagamentos foi redigido por
Nabuco de Araujo, mesmo sem que ele fizesse parte do Ministério ou do Conselho de Estado.
De acordo com Joaquim Nabuco, essa revelação era inédita, visto que o Ministério não dera
os créditos a Nabuco, porém ameniza:
Não é meu intento, desvendando essas paginas das relações de Nabuco e
Furtado, figurar o ultimo como um ministro incompetente e que nada
poderia fazer por si mesmo, e isto sómente para dar a Nabuco a paternidade
de actos que elle nunca reclamou. Escrevendo, porém, a vida d'este, não
descobri razão para calar a historia de sua collaboração com o Ministerio de
31 de Agosto, que me pareceu honrosa para ambos. (p. 140)

ii. O Duque de Saxe e o posto de Almirante. - Duvida sobre o patrimonio dos principes.
O autor detalha a colaboração de Nabuco no processo de criação de projetos que
agraciassem com altos cargos e patentes militares os príncipes consortes das princesas, filhas
do Imperador, que logo se casariam.

iii. Separação de antigos Liberaes e antigos Conservadores.


O jogo político se acentua e as rixas no interior do Partido Político ficam cada vez
mais evidentes com as indicações para os presidentes de província e o núcleo conservador que
estava formando-se na Bahia. Nabuco de Araujo mantém-se alheio a todas as indicações para
cargos de grande relevância.

8. Capítulo VIII: A Guerra do Paraguay antes da organisação do gabinete de 12 de maio


de 1864.
i. Antecedentes da questão Uruguaya
Joaquim Nabuco traça os antecedentes das relações entre o Império do Brasil e o
Estado Oriental do Uruguai após a Guerra da Cisplatina. As frequentes intervenções militares
do exército brasileiro são, para o autor, atos desinteressados do Governo Brasileiro que, à
revelia de sua vontade, auxiliava quaisquer das facções uruguaias – blancos ou colorados – a
fim de consolidar a independência do Estado Oriental – principalmente contra ambições
argentinas - e servir de modelo de civilização contra a barbárie representada pela atuação dos
caudilhos.
Nabuco utiliza como referência os escritos do diplomata uruguaio Andrés Lamas,
considerado por ele o único amigo do Império do Brasil na Região do Prata. Lamas defendia a
em escritos, para seus compatriotas, a aliança com o Brasil, o que era visto com maus olhos
por ser um afronte à democracia.
A posição política de Joaquim Nabuco deve ser, sem margem para dúvidas,
considerada durante toda a sua análise acerca dos episódios que levam à Guerra do Paraguai,
assim como todas as suas considerações ao longo da obra o foram. Os argumentos de Nabuco
acerca da presença brasileira em território uruguaio e as ideias negativas que muitos
exprimiam sobre isso, por exemplo, são simplórios e reduzidos à “maldade humana” e à
“ingratidão”, omitindo o fato de que nenhuma movimentação política é isenta de interesses.

ii. A Missão Saraiva. - A guerra do Uruguay.


Os acontecimentos no Uruguai têm como argumento uma série de abusos operados
contra brasileiros em território do Estado Oriental, governado naquele momento por Atanasio
Cruz Aguirre, do partido blanco. A missão Saraiva tinha, inicialmente, um teor de negociação,
depois de pacificação e, por fim, de construção de alianças após a percepção de
inevitabilidade de um confronto. A aliança mais inesperada é firmada com os argentinos,
inflamados não por uma justificativa de civilidade – tão apregoada pelo Império do Brasil –
mas sim de aparelhamento nas disputas entre blancos e colorados. Constrói-se, então, uma
aliança entre brasileiros, argentinos e colorados uruguaios a fim de derrubar o governo de
Aguirre. Devido a uma série de questões que sempre isolaram o Império do Brasil da Região
do Prata, Joaquim Nabuco destaca o mérito de Saraiva em lograr alianças, não inimigos.
A construção da narrativa de Joaquim Nabuco acerca de questões alheias aos arquivos
de seu pai é um dos pontos de maior relevância de sua obra. Para este subcapítulo, ele utilizou
diversas correspondências, decretos, despachos, arquivos pessoais de outros estadistas – no
caso, do Conselheiro de Estado João Alfredo – e, ainda, anexa suas próprias correspondências
com Saraiva, à qual atribui, merecidamente, um grande valor na obra.
É importante destacar também a análise psicológica contida em suas considerações
acerca da política sul-americana, principalmente gaúcha, de paixões extremadas, voltadas à
loucura. Nesse aspecto, alinha-se com Domingos Faustino Sarmiento em todas as suas
considerações acerca da civilização e da barbárie, exceto que não atribui a civilidade apenas a
elementos europeus, como também ao Império do Brasil, por exemplo. → tananan eita
caraleo

iii. Intervenção de Lopez. - Fim da Guerra do Uruguay. - Invasão da República


Argentina pelos Paraguayos.
O ataque ao Marquez de Olinda com Carneiro de Campos, novo presidente do Mato
Grosso; invasão do Mato Grosso; a ascensão de Rosas no Uruguai e o fim da guerra em
Montevidéu; invasão de Buenos Aires por tropas paraguaias.

iv. Caracter de guerra do Paraguay. - Lopez


A guerra com o Paraguay teve importancia tão decisiva sobre o nosso
destino nacional, teve-a tambem sobre o de todo o Rio da Prata, que se pode
ver nella como que o divisor das aguas da historia contemporanea. Ella
marca o apogeo do Imperio, mas tambem procedem della as causas
principaes da decadencia e da quéda da dynastia. (p. 197)

Nesse subcapítulo, Joaquim Nabuco realiza uma análise geral sobre o caráter da guerra
do Paraguai e do presidente daquele país, Solano Lopez. Quanto às referências, o autor
ressalta que a história da Guerra da Tríplice aliança ainda estava por escrever-se e coloca
como principal obstáculo a parcialidade dos historiadores de cada país envolvido no conflito,
o que para ele afastava a verdade histórica, alinhando-se ao discurso historiográfico de fins do
século XIX.
Apesar disso, neste estudo, o autor fazer referência a comentários do Barão de Rio
Branco acerca da tradução de Guerra da Tríplice Aliança de Schneider, escritos de
Masterman e Thompson, depoimentos de generais da guerra e artigos de jornais paraguaios,
principalmente para traçar a imagem de Solano Lopez.

v. A aliança Argentina.
O autor analisa o papel da República Argentina na Aliança, bem como as vantagens e
desvantagens trazidas pelo acordo aos argentinos e ao governo de Bartolomeu Mitre.
Inicialmente neutros, Mitre decide declarar guerra ao Paraguai após os ataques e opta por
aliar-se ao Império do Brasil, que já estava em conflito com Lopez. As principais referências
desse subcapítulo foram as análises – muitas contrárias à Tríplice Aliança – presentes no
escrito Biblioteca, a obra Polêmicas, correspondências entre Mitre e Sarmiento e o Tratado da
Tríplice Aliança – anexado na íntegra em um apêndice ao final do livro.

vi. A invasão do Rio Grande do Sul.


vii. A imprevisão geral. - A decadência militar.
viii. A fortuna da Aliança.
O autor segue analisando os desdobramentos do conflito, em suas mais diferentes
etapas, utilizando as mesmas referências dos demais subcapítulos.

ix. O Gabinete Furtado e A Guerra.


As primeiras convocações para os Voluntários da Pátria e, depois das baixas, o
processo de recrutamento compulsório, ainda foram geridos pelo Gabinete Furtado. O autor
ressalta que mesmo com o apoio de maior arte da população, seria impossível manter o
número de soldados sem o recrutamento, pelo caráter do brasileiro e pela duração da guerra.
Os homens que ingressaram de forma espontânea foram, de acordo com Nabuco, um mérito
do gabinete devido a sua popularidade.

 LIVRO IV: O GABINETE OLINDA (1865-1866)


1. Capítulo I: Formação do Gabinete. - O seu programa
i. Nabuco, incumbido de organizar Gabinete, exime-se. - Ministro da Justiça.
Após o fim do capítulo dedicado às causas e primeiros desdobramentos da Guerra do
Paraguai, o biografado retorna ao primeiro plano da obra. Com a queda do gabinete Furtado,
por meio de escrutínio secreto, o Imperador recorre inicialmente à Abaeté e Saraiva que,
impossibilitados, indicam Nabuco. Mesmo apontado como criador da nova situação, o autor
coloca que esta havia sido a primeira em que Nabuco de Araujo fora considerado para
Presidente do Conselho de Ministros, o que fez com ele recusasse exatamente pelo longo
histórico de preterição. Com a negativa, cabe ao Marquês de Olinda organizar um novo
gabinete, no qual Nabuco figura como Ministro da Justiça.
ii. O Ministério perante as Camaras. Razões de Nabuco para declinar a Presidencia do
Conselho.
Nabuco de Araujo coloca que declinou da presidência do Conselho de Ministro por
razões políticas, mas que aceitou o cargo de ministro pela situação de guerra, cuja sua
debelação era o principal programa do gabinete Olinda.

iii. Discurso do “statu quo”. A situação.


Em mais um estudo de discurso do biografado, Joaquim Nabuco concentra-se, esta
vez, no pronunciamento de 26 de Maio de 1865, no qual o senador e ministro conclama união
em meio ao momento delicado do país, propondo trégua política.

iv. Necessidade do adiamento. - Silveira Lobo Ministro. - Saldanha Marinho.


Ainda que o discurso de Nabuco tenha provocado um impacto entre os políticos, este
fora apena momentâneo, visto que as rivalidades entre liberais e moderados continuavam se
acentuando, devido, principalmente, à presença de Ferraz no ministério. O autor trata de
localizar o biografado na disputa, colocando-o, ideologicamente, ao lado dos partidários da
Conciliação da época de Paraná e dos conservadores no caso de impossibilidade de
manutenção da liga. No campo da política, porém, o Ministro da Justiça estava disposto a não
pender para nenhum dos lados, aberto à ideia de deixar o poder caso as paixões continuassem
arrefecidas.
As Câmaras são adiadas, o que é visto pelo gabinete como uma pausa das disputas
políticas e uma boa oportunidade de intensificação do trabalho, antes disso, porém, Silveira
Lobo é incorporado ao ministério. Ao lado de Saldanha Marinho, Lobo mantém o espírito da
Liga. Nabuco realiza análise das duas figuras.

v. O Imperador resolve seguir para o Rio Grande.


Após a invasão do Rio Grande do Sul, o Imperador embarca para a província em 10 de
Julho de 1865, em companhia de Ferraz – Ministro da Guerra -, do Duque Augusto de Saxe –
seu genro – e do Marquês de Caxias.

2. Capítulo II: O Gabinete Olinda e A Guerra.


i. O Imperador no Rio Grande do Sul. - Cartas de Ferraz e Boa-Vista. - Ferraz e o
Gabinete.
Nesse subcapítulo, Joaquim Nabuco trata da missão do Imperador no Rio Grande. Os
principais documentos utilizados foram as cartas de Boa Vista e, principalmente de Ferraz a
Nabuco, único amigo deste no ministério. As cartas eram muito interessantes, deixando
transparecer as dificuldades mediante aos problemas financeiros, as exigências do séquito
imperial, a “teimosia” do Imperador e a falta de combatentes e de munição.
De acordo com o autor, o comportamento de Ferraz no Rio Grande do Sul – agindo
como o único ministro do Imperador – aumentou a animosidade do Gabinete contra ele.
Porém, depois de muitas cartas magoadas de ambos os lados, chegaram a uma conclusão
acerca do poder de referendo que cabia ao então Ministro da Guerra.

ii. A questão do commando em chefe


O comando em chefe das tropas divide-se com a presença do Imperador em
Uruguaiana, apesar de concessões anteriormente realizadas pelo Governo Brasileiro. O
comando divide-se: Mitre passa a comandar a tropa argentina, oriental e a brigada Kelly,
enquanto Porto Alegre a brasileira, enfraquecendo o prestígio do presidente argentino frente a
Lopez.

iii. Uruguayana
A rendição da coluna Estigarribia em Uruguaiana e os termos em que ela ocorreu é
colocada pelo autor como uma prova de humanidade na guerra por parte dos Aliados. A
principal referência do texto são falas de Ferraz em sessões de 1866 e diversos folhetos
redigidos na capital do Império.

iv. Medidas de Guerra


Detalhamento das medidas tomadas pelo Gabinete Olinda no que dizia respeito à
guerra, em especial ao recrutamento de combatentes, principalmente os da Guarda Nacional.
O otimismo após a rendição de Uruguaiana, provoca atrasos de recrutamento e pressão da
oposição no que diz respeito à política do gabinete e sua eficiência se comparado ao governo
anterior.
v. O Ministro da Guerra. - A parte do Gabinete de 12 de Maio de 1865 na Guerra do
Paraguai.
Análise de ação de Ferraz, o Ministro da Guerra e balanço das realizações do Gabinete
Olinda no conflito, ressaltando a atuação de seus ministros e sua contribuição inestimável.

vi. Mato Grosso.


vii. O Tratado de Alliança.
As negociações ao redor do Tratado da Aliança e as reverberações no Império do
Brasil e na República Argentina.

viii. A Diplomacia da Guerra. - Bombardeamento de Valparaíso. - Reconciliação com a


Grã-Bretanha.
Nesse subcapítulo o autor realiza um estudo acerca da relação do Império do Brasil
com o restante da América do Sul, exceto os dois companheiros da Tríplice Aliança, em
especial a República da Argentina. O governo manifesta-se contra o bombardeamento em
Valparaiso, no Chile, o que é para Nabuco a prova de que a solidariedade imperial não estava
atrelada a alinhamento político, ainda que este não fosse o pensamento do resto da América,
que tendia a isolar o Brasil, devido à Monarquia – para isso utiliza como exemplo os escritos
do argentino Alberdi.
Nesse contexto, outro fato ligado à diplomacia de guerra é a reconciliação com a Grã-
Bretanha após os episódios de 1863.

3. Capítulo III: A sessão de 1866


i. Magistratura e Política. - Queixas contra Nabuco.
Durante a pausa nas Câmaras, acentuou-se a divisão no interior da Liga, gerando
extremado receio entre os Liberais, que passaram a culpar o Ministro da Justiça, ou seja,
Nabuco de Araujo. A questão principal dizia respeito à escolha dos magistrados, que muitos
acreditavam estarem sendo realizados baseados em escolhas políticas de Nabuco de Araujo,
afim de beneficiar os Vermelhos, o que o biógrafo nega firmemente com base em
correspondências e históricos de indicações durante os ministérios do biografado.

ii. O Memorandum. - Recomposição.


O autor trata do memorando em que os ministros do Gabinete Olinda colocam que o
ministério deveria se retirar antes do retorno das Câmaras, visto que não estavam preparados
para a luta política e a guerra, sua única pauta de governo, já se imaginava resolvida após a
rendição de Uruguaiana. O Imperador é contrário à dissolução e o gabinete se mantém, ainda
que lhe falte coesão, organização e alinhamento político.

iii. O discurso de “Saturno”.


Análise de discurso de Nabuco.

iv. A Fusão das Câmaras


v. A Questão Financeira. - Crise Ministerial
Nessas duas últimas partes do capítulo, o autor trata das dificuldades do gabinete
durante as sessões, visto que eles tinham uma oposição bem melhor articulada, ainda que
tivessem a maioria da galeria. A votação da dissolução havia sido apertada, e o gabinete fora
salvo pela oratória de Zacharias que futuramente seria o próximo Presidente do Conselho de
Ministros.
Outra pauta é a política financeira restritiva de Carrão que entra em choque com a de
Silveira da Mota que é apoiado por Paula e Souza, Ministro da Agricultura. Esse desacordo
gera uma profunda debandada dos ministros, deixando o gabinete cada mais frágil.

4. Capítulo IV: Reformas e Projectos Ministeriaes.


i. Projectos judiciaes de Nabuco. Reforma da Leide 3 de Dezembro; Organização da
Magistratura; Ministerio Publico; a Ordem dos Advogados; Registros Criminaes;
Estatistica Criminal; Colonias Penaes.
ii. Reformas Comerciaes de Nabuco: derogação do juízo arbitral necessario; projecto de
lei de fallencias; sociedades de responsabilidade limitada.
iii. O Casamento Civil
iv. A abertura do Amazonas
Surge como uma necessidade de coesão e coerência política, visto que se exigia do
Paraguai livre navegação e comércio.
v. A emancipação dos escravos
É também durante o ministerio de 12 de Maio de 1865 que surge pela
primeira vez nas altas regiões a idéa da emancipação dos escravos. é muito
incerta a causa d'esse primeiro impulso que não devia mais parar; é , porém,
licito fixal-o no anno de 1866. (p. 388)

Nesse subcapítulo, o autor trata sobre as primeiras ações no que diz respeito à
emancipação dos escravizados. Os cinco projetos de Pimenta Bueno foram, ao ver do autor,
encomendados pelo Imperador e inspirados por ele, visto que o monarca sempre apresentara
reservas contra a escravidão, o que foi intensificado com as provocações durante a Guerra:
Na posição em que se achava, o Imperador era quem recebia qualquer
affronta feita ao paiz, e o escarneo, a humilhação, vinha de toda parte, de
amigos e inimigos, do Semanario paraguayo como da Revue des Deux-
Mondes, dos Congressos pan-americanos, como das caricaturas porteñas. (p.
389)

O autor utiliza como referência discursos de Rio Branco, bem como o livro “quase
todo” escrito pelo barão Dom Pedro II para ilustrar o desdém que o restante da América do
Sul nutria pelo Brasil e o impacto disso para a posição do Imperador.
Além dos projetos de Pimenta Bueno, outro documento que prova que a abolição era
uma pauta é o da Conferência de Ministros, no início de 1866, no qual Nabuco cita essa
questão como um dos programas do gabinete, ainda que não fosse de todo aceito pelo
Marquês de Olinda.

vi. A questão consular com a França: Accordo Penedo- Drouyn de Lhuy. - Opiniões de
Nabuco e de Teixeira de Freitas.
vi. A Reforma Municipal.

5. Capítulo V: Dissolução do Ministério


i. Crise ministerial. - Porque Nabuco não podia ser Ministro.
ii. Nabuco e Olinda.
iii. Esforços do Imperador para conservar o Gabinete. - Demissão.
Neste capítulo, o autor apresenta os desdobramentos do fim de um gabinete que
subsistira somente pela vontade do Imperador e pelos esforços mediantes à Guerra do
Paraguai. Desde o início do livro dedicado ao Gabinete Olinda, é perceptível as dificuldades
atravessadas para manter o corpo de ministros coesos e unidos.
As animosidades contra o Ministro da Guerra, os conflitos de interesses entre o
Ministro da Fazenda e o da Agricultura, as discordâncias entre Nabuco e Olinda e os desafios
perante o Parlamento foram as causas diretas do fim do gabinete.
Apêndice: O autor organizou um apêndice com documentos que dizem respeito à
Guerra da Tríplice Aliança:
- Tratado da Tríplice Aliança, assignado em Buenos-Ayres no dia 1º de Maio de 1865;
- Despacho de Saraiva a Octaviano em 29 de Novembro de 1865;
- Consulta da Secção dos Negocios Estrangeiros do Conselho de Estado, de 30 de Novembro
de 1865;
- Projecto Argentino de Tratado de Paz (1865), e Contra-projecto de Saraiva (1866/Maio);
- Instrucções de Saraiva ao Plenipotenciário brazileiro, expedidas na data de 5 de Maio de
1866.

TOMO TERCEIRO: 1866-1878


 LIVRO V: QUÉDA DOS PROGRESSISTAS (1866-1868). COMEÇO DA
SITUAÇÃO CONSERVADORA (1868-1872)
1. Capítulo I: Terceiro Ministerio Zacharias. - Nabuco entra para o Conselho de
Estado.
i. O Gabinete. - O Imperialismo.
O autor inicia o terceiro tomo com a formação do Ministério Zacharias (1866), que
logrou uma composição de ministros do campo Progressista, com exceção de Ferraz que
continuara com a pasta da Guerra. Os dois lados da Liga, assim como toda a Câmara, já
estava decidida a ir às eleições em favor da desunião.
A questão do “imperialismo”, do voto direito e censitário, também entra em questão
através da imprensa e com a circulação de um opúsculo chamado O Imperialismo e a Reforma
(1865), publicado anonimamente por Souza Carvalho.

ii. Nomeação de Conselheiro de Estado. - Projetos de S. Vicente: Conselhos de


Presidencia; Reforma do Conselho de Estado; Abertura do Amazonas; Emancipação.
Acerca da nomeação de Nabuco de Araujo para o Conselho de Ministros, é perceptível
que o autor adquire um tom provocativo: “Uma vez elle (O Imperador) resistira a nomeação
de Nabuco por não ser senador; mais tarde foram nomeados deputados” (p.6). Ao longo de
toda a obra, percebe-se uma certa rusga na narrativa todas as vezes em que o biografado
parece ser preterido pelo Imperador, como no caso das nomeações para o Conselho de
Ministros. Apesar disso, em nota na mesma página, Joaquim Nabuco ressalta correspondência
em que Camaragibe cumprimenta Araújo por ascender ao Conselho de Estado mesmo após
prematura demissão do ministério, o que atestaria uma boa vontade por parte do Dom Pedro
II.
É no Conselho de Estado que vai se concentrar, a partir dali, boa parte da atuação
política de Nabuco de Araujo até a sua morte, sustentando, de acordo com o autor, a sua
máxima de que “o rei reina e não governa” mais do que em qualquer outro momento de sua
carreira política.
As pautas mais correntes naquele momento eram os projetos de Pimenta Bueno acerca
da abertura do Amazonas, da emancipação dos escravizados, os Conselhos de Presidência e a
reforma do Conselho de Estado.

2. Capítulo II: Elaboração da Lei de 28 de Setembro de 1871 no Conselho de Estado


i. A Escravidão até 1866
O capítulo se inicia com um estudo muito interessante acerca da construção da pauta
da emancipação dos escravizados. O autor coloca que antes da década de 1850, não existia a
questão da escravidão, mas sim a do tráfico. O tráfico transatlântico é concebido e colocado
como um problema já na época da Independência do Brasil, devido, principalmente, à pressão
exercida pela Grã-Bretanha.
Apesar de que naquele momento a escravidão não era vista como um problema para a
maioria da sociedade, o autor aponta para uma primitiva tradição emancipatória através de
obras e propostas de José Bonifácio (1825) e dos deputados Antonio e Ernesto Ferreira França
(1831), que obviamente foram desconsiderados devido a uma extrema aceitação e legitimação
social da escravização de africanos.
Após a lei que proibiu o tráfico e a sua debelação após as medidas tomadas no
Ministério Paraná-Caxias (1853-1857), surge de maneira incipiente pensamentos,
problematizações e projetos acerca da escravidão, dos quais o autor cita os de Silva
Guimarães (1850-1852), Wanderley (1854) e Silveira da Motta (1857). Além disso, destaca
também os pensamentos abolicionistas dos presidentes do Instituto de Advogados, com
destaque para o primeiro Francisco Jê Acaiaba de Montezuma, Visconde de Jequitinhonha.
Na década de 1860, os projetos de Pimenta Bueno se destacaram, mas aliados a ele
surgiram outros nomes:
O grupo de 1860 a 1865, quando a emancipação amadurece rapidamente,
continuador dos primiticvos abolicionista, os do Primeiro Reinado e da
Regencia, da epoca da escravidão ainda indiscutida, comprehende
Jequitinhonha, Silveira da Motta, Tavares Bastos, no Parlamento; Caetano
Alberto Soares, Perdigão Malheiro, no Instituto dos Advogados; o velho
Barreto, no Correio Mercantil; Manoel da Cunha Galvão, na Immigração; e
uma pleide de redactores de projectos: Silva Netto, Camara Leal, F. A.
Brandão, que apparecem no memento em que a idéa chegava ao ponto de
realização. (p. 26)

ii. Os projectos de S. Vicente (1866)


O autor realiza uma análise comparativa entre os projetos de Pimenta Bueno e as leis
portuguesas de emancipação em suas possessões ultramarinas da África e da Ásia.

iii. Primeira discussão no Conselho de Estado (1867)


Ainda no primeiro semestre do ano 1867, antes da abertura das Câmaras, a instituição
da escravidão é discutida pela primeira vez no Conselho de Estado, sendo terminantemente
rejeitada, porém o apoio político à abolição estava claramente sustentado pela opinião do
Imperador:
O facto, porém, para dizer a verdade, é este: a pressão moral que coage e o apoio político que
sustenta esse pronunciamento do Conselho de Estado contra a escravidão, é saber-se que a
opinião do Imperado está formada; é já ter elle, como chefe de Estado, assumido a
responsabilidade de separar a sorte do Brazil da sorte da escravidão. (p. 42)
Os conselheiros se dividiam acerca do caráter e dos prazos da reforma, o que por
vezes disfarçava o caráter anti-reforma que era atribuído apenas a Olinda e Muritiba.

iv. Projecto da Commissão


Após as discussões no Conselho de Estado, propõe-se a criação de uma comissão
criadora de projetos emancipatórios a serem apresentados às Câmaras, da qual Nabuco de
Araujo é nomeado presidente. Naquele mesmo ano, Dom Pedro II discursa pela primeira vez
aludindo a reformas ligadas à escravidão, gerando grande impacto social e político.

v. Discussão do Projecto (1868). Nabuco relator.


A principal referência do subcapítulo é a publicação que aborda a discussão nas
sessões do Conselho de Estado acerca do projeto de Nabuco de Araujo: Pareceres do
Conselho de Estado no anno de 1868 relativos ao Elemento Servil, de 1871 pela Typographia
Nacional.

vi. Confronto dos trabalhos do Conselho de Estado com a Lei de 28 de Setembro de


1871.
Joaquim Nabuco disponibiliza no Apêndice uma comparação entre as deliberações do
Conselho de Estado através da comissão presidida pelo seu pai e o texto da Lei de 28 de
Setembro de 1871 (“do Ventre Livre). O autor disponibiliza esse estudo a fim de demonstrar
as semelhanças, de maneira a atribuir a autoria legislativa a Nabuco de Araujo, ainda que faça
uma negativa a esse respeito ao fim do capítulo.

3. Capítulo III: O Terceiro Gabinete Zacharias e a Guerra. Votos de Nabuco no


Conselho de Estado.
i. Parte do Gabinete Zacharias na Guerra do Paraguai. O Ministro da Marinha. -
Nomeação de Caxias.
ii. Desejo do Conde d'Eu de seguir para a guerra.
iii. Alforria de escravos para o exército.
O autor ilustra o seu texto com uma carta de Nabuco ao Imperador apontando a
alforria de escravizados para o serviço militar na Guerra do Paraguai. O conselheiro aponta
que seria a melhor soma entre a causa civilizatória (emancipação) e a causa nacional (a
guerra).
iv. A questão dos limites argentinos com o Paraguai. - Inhabilitação da família de Lopez.
v. Amnistia na República Oriental do Uruguay. Navegação da Lagôa Mirim.

4. Capítulo IV: O 16 de julho (1868)


i. A divisão dos Liberaes. - Tendencias republicanas. - Eleições de 1867.
ii. A questão Caxias: voto de Nabuco.
iii. Demissão de Zacharias . - Chamada de Itaborahy.
iv. Attitude de Nabuco. - O discurso do sorites (17 de Julho de 1868)
v. Nabuco sustenta perante o Imperador o principio “O rei reina e não governa”. -
Dissolução da Câmara dos Deputados.
O capítulo inicia-se com uma visão dos acontecimentos na Europa em cartas para
Nabuco de Araujo, onde temem pelo futuro das monarquias e da política com uma possível
abdicação de Victor Emmanuel na Itália. Na política brasileira, a disputa entre liberais
Históricos e Progressistas se acirra, e as eleições são vencidas por uma maioria progressista.
As ações do Marquês de Caxias na Guerra do Paraguai rivalizam-se com o Gabinete
Zacharias, que é dissolvido e substituído por um Gabinete Conservador presidido por Itaboraí.
O autor utiliza-se do opúsculo O Erro do Imperador para ilustrar certas opiniões da
época acerca da convocação de gabinete conservador quando o elemento progressista se fazia
necessário em vistas civilizatórias – no que diz respeito à abolição da escravatura –, as quais
foram preteridas por questões da Guerra.
Nabuco realiza mais uma análise de um dos discursos de seu pai, “do sorites”, no qual
o senador realiza uma crítica acerca da formação da nova situação conservadora do país, de
maneira extremamente inflamada, colocando-se como um líder Liberal. A Câmara, de caráter
progressista, é dissolvida.

5. Capítulo V: Nabuco chefe Liberal.


i. Fundação do Centro Liberal. Nabuco Presidente.
ii. Nabuco á testa da propaganda abolicionista (1868-1871)
iii. A Abstenção. - Nabuco e Saraiva. - Carta de Saraiva sobre o poder da Corôa
iv. O Programma. - O Manifesto: “Reforma ou Revolução”.
Com a fundação do Centro Liberal, Nabuco é eleito presidente de sessões que eram
realizadas em sua própria casa. A pauta dos liberais comandados por Nabuco passam a ser,
então, a extinção do Poder Moderador e, principalmente, a abolição da escravidão. O autor
reproduz a carta pelo senador à Sociedade Democrática Constitucional Limeirense, que ganha
repercussão internacional e o coloca como um líder político da luta abolicionista no Brasil.
O Programma Liberal e o Manifesto “Reforma ou Revolução” expressam,
respectivamente, o caráter parlamentar e a capacidade analítica de Nabuco acerca da política.
O Manifesto exprimia a necessidade das reformas a fim de evitar uma revolução,
possivelmente republicana.

6. Capítulo VI: Gabinete Itaborahy (1868-1870)


i. Sessão de 1869. - Discurso de 17 de Junho.
ii. O Fim da Guerra. - A Campanha do Paraguay.
iii. O Conde d’Eu e a Escravidão no Paraguay.
iv. Sessão de 1870. - Esforço de Nabuco pela emancipação. - Indica o successor de
Itaborahy e seus collegas. - Apello ao Imperador.
v. O Additivo sobre a questão dos escravos: Quéda do Gabinete.
Deste capítulo destacam-se a análise - inclinadamente poética – que Joaquim Nabuco
realiza sobre o fim da Guerra do Paraguai, bem como o simbolismo do conflito que é, de
acordo com o autor, uma epopeia paraguaia.
O traço mais marcante dos estudos realizados acerca dos acontecimentos do tempo do
biografado - que garantem uma boa parte do mérito historiográfico da obra - , é a longa lista
de referências bibliográficas que certificam a erudição de Nabuco. Ainda que o arquivo
pessoal de Nabuco de Araujo tenha eximido seu filho de uma pesquisa documental extensa,
ela foi por vezes realizada e somada a um grande acervo bibliográfico.
Com o fim da Guerra do Paraguai, se encerrava a condição colocada pelo Imperador
para a retomada das discussões sobre a emancipação, e a atitude do Conde D’Eu de libertar os
escravizados que restaram em Assunção colocou a questão em primeiro plano. Os esforços de
Nabuco se concentram, nesse momento, em reforçar a importância da reforma, combatendo o
gabinete Itaboraí.

7. Capítulo VII: Gabinete S. Vicente


i. O Gabinete e seu Programma.
ii. Silveira Martins. - Apparecimento do partido Republicano. - A República.
iii. O Manifesto Zacharias.
iv. Attitude dos Liberaes. S. Vicente resigna.

Com a queda do Gabinete Itaboraí, S. Vicente é convidado pelo Imperador para a


formação de um novo ministério, demonstrando sua vontade de retomar as discussões e o
processo emancipatório.
Nesse contexto, surge a figura de Silveira Martins, cujo caráter político é também
analisado pelo autor. De acordo com o estudo, Martins torna-se o ídolo de todos os espíritos
republicanos e democráticos no período de 1868 a 1878, os mesmos que ele depois viria a
combater.
Em fins de 1870 surge o jornal A Republica, que publica em seu primeiro número o
Manifesto Republicano. Joaquim Nabuco destaca que, diferente de outras folhas da mesma
linha política, essa não era de forma alguma efêmera, tendo sua sede se tornado um núcleo de
discussões do novo partido. Acerca da reação do Imperador, o autor utiliza como referência
relatos de Oliveira Borges, que destaca que Dom Pedro II teria escrito a seguinte frase a um
cauteloso Marquês de S. Vicente: “se os Brazileiros não me quiserem para seu Imperador, irei
ser professor” (p.191).
Quanto a Nabuco de Araujo, ao mesmo tempo que respeitava o ato de seus
companheiros de Partido Liberal, lastimava o que ele considerava um enfraquecimento do
verdadeiro liberalismo. → INTERESSANTÍSSIMO
S. Vicente, resignado quanto a não estar pronto para a luta política da sessão de 1871 –
em que se pretendia aprovar a legislação dos “nascituros” - abre mão do Gabinete, que é
assumido por Rio Branco.

8. Capítulo VIII: Ascensão de Rio Branco. - A lei da emancipação.


i. Formação do Gabinete. - O Presidente do Conselho.
ii. Viagem do Imperador á Europa. A lei da Regencia.
iii. Attitude dos Liberaes perante a Reforma.
iv. Discurso de Nabuco
v. Discursos de Salles Torres Homem, Souza Franco e Octaviano.
vi. O caracter da reforma.
vii. A parte de cada um.
viii. Desgosto no partido Liberal pelo apoio prestado a Rio-Branco; resposta de Nabuco.
O capítulo se inicia com uma análise do caráter do Visconde Rio Branco, que preside o
gabinete mais longo de todo o Império do Brasil (de 1871 a 1875). Contemporânea à ascensão
de Rio Branco, se iniciam os preparativos para primeira viagem do Imperador Dom Pedro II à
Europa. As questões da Regência e a incumbência das Câmaras em sua delimitação tornam-se
motivos de controvérsia entre Rio Branco e Nabuco de Araujo.
O autor detalha a atitude dos Liberais quanto à Reforma, de forma que Nabuco deveria
ser o condensador das ideias. O partido decide apoiar a reforma como colocada pelo Visconde
do Rio Branco que é exaltado pelo autor como o criador da lei de 28 de Setembro de 1871,
visto que esta foi aprovada devido ao seu esforço perante às Câmaras.
Joaquim Nabuco analisa o caráter da lei e aponta que ela não causou o mais
“insensível sofrimento” à lavoura e aos proprietários, o que seria feito de maneira
completamente distinta por outros estadistas, como Nabuco de Araujo, por exemplo. Ganha
destaque dois fatos contundentes sobre a lei: ela fora lavrada sob um governo conservador e
muitos emprestaram a ela um caráter definitivo, quando apenas os nascituros tinham sido
emancipados. O movimento abolicionista, para o autor, só recomeça em 1879, não sendo mais
assistindo por seu pai.

9. Capítulo IX: Reforma Judiciária de Sayão Lobato (1871). A dissolução de 1872.


i. A Política das Reformas Liberaes
ii. A Reforma Judiciária
iii. Lucta entre Paulino de Souza e Rio-Branco. O Gabinete fica em minoria na Camara
dos Deputados (21 de Maio de 1872). - Dissolução da Camara.
Os conflitos no interior do Partido Conservador, representados pelo Visconde do Rio
Branco e a dissidência comandada por Paulino de Souza, constitui a principal preocupação
política do gabinete, que logrou dissolver uma Câmara em 1872.
A fim de obter espaço para resolver as questões internas, o governo procurou
empreender o maior número possível de reformas, todas da pauta Liberal, controlando o
grupo da oposição comandado por Nabuco de Araujo.
Na mesma sessão em que foi discutida a Lei de 28 de Setembro de 1971, também foi a
Reforma Judiciária, tema tão caro a Nabuco de Araujo e que já havia sido mencionado nos
dois tomos anteriores.

 LIVRO VI: OS ÚLTIMOS ANNOS (1872-1878)

1. Capítulo I: A questão argentina


2. Capítulo II: Questão religiosa (1873-1875)
3. Capítulo III: Fastigio e Retirada de Rio Branco (1872-1875), Gabinete Caxias-
Cotegipe (1875-1878)
4. Capítulo IV: Nabuco Advogado (1857-1878)
5. Capítulo V: Nabuco Conselheiro de Estado (1866-1878)
6. Capítulo VI: O Código Civil (1873-1878)
7. Capítulo VII: A Ascensão Liberal. - A Morte (1878)
8. Capítulo VIII: Nabuco e a Monarchia.
No último livro de sua extensa obra, Joaquim Nabuco mantém as mesmas
características com que iniciou e desenvolveu a sua narrativa. Quanto ao estilo da escrita, o
teor e objetos de análises, as referências bibliográficas e documentais e a própria sobreposição
de planos entre a vida, as opiniões e a época de Nabuco de Araujo já foram anotadas todas as
minhas considerações.
O sexto livro é composto, basicamente, pelas pautas que abrangeram os Gabinetes de
Rio Branco e de Caxias, como as questões argentina e religiosa. A questão argentina
configurou-se como um desdobramento dos acordos fronteiriços na Guerra do Paraguai,
gerando conflitos diplomáticos que deixaram a Região do Prata na eminência de uma nova
guerra, situação resolvida já no Gabinete Caxias, em 1876.
Sobre a questão religiosa, fora provocada por uma cisão entre a Igreja e Maçonaria,
mobilizada pela atuação de bispos. O governo do Império, ao condenar os clérigos logo após
as primeiras reformas emancipatórias, infligiu um grave golpe ao reinado, visto que “A
monarchia pareceu separar-se, quasi a um tempo, da grande propriedade e da Igreja” (p.387).
O assunto encerrou-se com a anistia aos bispos.
Em sequência, os próximos capítulos tratam do trabalho de Nabuco de Araujo como
Jurisconsulto, em suas atuações como advogado e como conselheiro de Estado. O capítulo
sobre o Código Civil é, de acordo com o autor, um dos mais tristes da biografia, já que o
senador não conseguira concluir o projeto em que se concentrou em seus últimos anos.
Abalado pela morte de companheiros, pela fadiga e pela depressão, o estadista contraiu uma
febre biliosa que o vitimou no dia 19 de Março de 1878. O biógrafo anexa, em notas, cartas
enviadas a ele por seu irmão e cunhado, bem como trechos de necrológios da imprensa, que
refletiam a consternação geral na cidade.
No penúltimo capítulo da obra, é realizado um balanço acerca da relação entre Nabuco
e a Monarquia, realizando-se uma análise da linha política do Reinado de Dom Pedro II,
contendo diversas referências.
O último capítulo constitui o que a maioria das biografias eram, conforme observado
na própria vida citada ao longo da obra O Marquês de Paraná, de José de Alencar (1856),
antes da inauguração de um novo tipo de narrativas vivenciais sob a pena de Joaquim Nabuco.
No texto, o autor carateriza o pai em seus traços morais, como orador e como político,
ressaltando características já apresentadas e discutidas ao longo da obra. Os dois últimos
subcapítulos situam Nabuco de Araujo no momento da escrita, ou seja, nos primeiros anos da
República e na posterioridade.

Apêndice:
- Instrucções ao Marquez de Caxias em 21 de Outubro de 1866;
- Confrontos dos trabalhos do Conselho de Estado com a lei de 28 de Setembro de 1871;
- Instrucções de 1º de Fevereiro de 1869, dadas ao Conselheiro José Maria da Silva Paranhos
(depois Visconde do Rio Branco) para a sua Missão Especial no Rio da Prata e Paraguay.
- Instrucções de 12 de Outubro de 1870 ao mesmo chefe de Missão Especial.
- Accordo Mitre – S. Vicente, de 19 de Novembro 1872.

BIBLIOGRAFIA
LYNCH, Christian. “O Império é que era a República: A Monarquia Republicana de Joaquim
Nabuco”. In: Lua Nova, São Paulo, n. 85, 2012, p. 277-311.

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