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NOTIFICAÇÃO VÁLIDA DO ACUSADO


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CITAÇÃO VÁLIDA DO RÉU


Folha 14

INSTRUÇÃO
RESUMO DOS AUTOS:
A denúncia imputou ao réu ter praticado o crime capitulado no artigo 33, bem
como 28, da Lei 11.343/06, por supostamente “cultivar, para fins de comércio e/ou
fornecimento a terceiros, substância entorpecente, sem autorização e em desacordo com
determinação legal ou regulamentar”.
O acusado foi notificado para apresentação de defesa prévia, as fls. 59 dos
autos, a qual foi apresentada a fls. 63 e seguintes dos autos. A denúncia foi recebida as
fls. 85 e seguintes, sendo designada audiência (fls. 88) para a oitiva das testemunhas
arroladas pela acusação e pela defesa, sendo devidamente citado o acusado (fls. 93).
Na audiência foram ouvidas as testemunhas arroladas pelo Ministério Público
e pela defesa (fls. 98 a 100 dos autos). Encerrada a instrução, instadas as partes a
apresentação de memoriais de alegações finais.

PROVAS:
Conforme consta dos autos e da denúncia, o réu foi preso em flagrante, suspeito
da prática de crime previsto na Lei de Drogas (11.343/2006), por cultivar a substância
vulgarmente conhecida como “maconha”, que se encontrava em propriedade de seu
genitor.
Constam dos autos as seguintes informações:
- no momento da abordagem, os Policiais, afirmaram ter seguido a informação de “um
senhor”, sem ter obtido qualquer informação sobre ele (que era possível se ele realmente
existiu), que supostamente disse que alguém estava cultivando “maconha” no local;
- o próprio acusado afirmou ser outra pessoa responsável pelo cultivo, podendo ter
havido confusão com outra pessoa, se é que suposto “senhor” viu algo, uma vez que
nem mesmo no momento os Policiais Militares se preocuparam em confirmar com suposta
pessoa, não arrolada nos autos, se efetivamente foi o réu que ele supostamente viu no
local;
- o autor comprovou (recibos anexos a defesa prévia – fls. 71 e seguintes), que o dinheiro
que portava era oriundo do recebimento de remuneração como atendente, na qual retirava
vales, demonstrando a origem lícita do dinheiro, afastando a suspeita de origem do valor
relacionada ao tráfico;
- o autor, após o fato, por intervenção de sua família, que tomou então consciência de seu
vício, passou a frequentar atividade de orientação para tratamento do vício, demonstrando
realmente tratar-se de usuário, que buscou reintegrar-se a sociedade, inclusive mantendo
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atividade laborativa lícita e estudo, durante todo o processo e até o presente (comprova
por documentos em anexo a defesa prévia, fls. 71 e seguintes dos autos);
- cabe considerar, ainda, que desde a data do fato já se passaram aproximadamente 3
anos, sendo que o acusado nunca mais foi encontrado em qualquer atividade
suspeita, sendo que inclusive os policiais em seus depoimentos confirmaram que o
acusado não é conhecido no meio do tráfico na cidade;
- as testemunhas trazidas pela defesa confirmaram ter conhecimento de que o acusado
era usuário a época do fato, bem como a mudança de sua conduta social após o fato;
Importante destacar que o Policial 1, em seu depoimento, sobre o fato, disse
que um senhor teria dito que teria visto alguém “cultivando droga”, em propriedade rural,
não tendo sido identificado referido senhor, supostamente um vizinho, tendo o acusado
afirmado que era usuário:
P1: “(...) ligou para nós um senhor e disse que tinha visto um rapaz
cultivando droga, razão pela qual requisitou-se mandado para apuração”
P1: “(...) disse que era usuário”
P1: “(...) tem comércio e uso de drogas, ali, é frequente”
P1: “(...) não, até ele só informou e saiu” (sobre se identificaram o suposto
senhor que tinha falado com os policiais)
P1: “(...) não, não, só falou, deu as características” (sobre se o senhor na
data tinha sido levado até o acusado, resposta negativa)
P1: “(...) não, nunca vi” (se viu o acusado em outras ocorrências)

Ainda, o Policial 2, confirma as mesmas informações:


P2: “(...) um senhor nos relatou que teria um jovem ali cultivando drogas”
P2: “(...) já pedimos o mandado e fomos até a propriedade abordar ele”
P2: “(...) corriqueiro jovens ali fazê o tráfico”
P2: “(...) não, eu não” (se enxergou o acusado oferecendo para alguém)
P2: “(...) é o senhor que ligou (...)” (sobre se foi o senhor que disse que viu alguém
oferecendo)
P2: “(...) não me recordo” (se viu o acusado em outras ocorrências)

Ainda, o Policial 3, confirma as mesmas informações:


P3: “(...) um senhor informou pra nós que teria um individuo cultivando drogas”
P3: “(...) ele falou que era para consumo”
P3: “(...) não, não foi identificado, parece que era um vizinho” (o senhor que teria
supostamente indicado)
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P3: “(...) só quer que resolva o problema não quer se envolver” (se o senhor não foi levado
a reconhecer o acusado na data)
P3: “(...) ele estava sozinho, tinha acabado de acordar o dia do flagrante” (se tinha alguém
para quem pudesse estar oferecendo ou entregando a substância entorpecente)

Ainda, a Testemunha 1:
T1: “(...) conheço, ela fazia doces pra fora” (sobre a família do réu)
T1: “(...) sim, porque eu notei neles né dai eu perguntei” (sobre se tinha conhecimento do
réu e o filho serem usuários)
T1: “(...) trabalhava, como atendente” (sobre o réu exercer atividade remunerada na
época)
T1: “(...) falou com meu filho que ele ia procurar um tratamento” (sobre conhecimento do
tratamento procurado pelo réu)

Ainda, a Testemunha 2:
T2: “(...) ah, sim eu sabia que ele usava né” (sabia que o réu era usuário)
T2: “(...) sim, ele falou né” (como ficou sabendo que o réu era usuário)
T2: “(...) sim, trabalhava parece como atendente (...) fui uma vez” (sobre a atividade lícita
exercida pelo réu a época dos fatos)

Esses os elementos presentes na instrução.


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EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) DA 1ª VARA FEDERAL DE


CORUMBÁ/MS

PROCESSO Nº: xxxxxxxxxx


AUTOR: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
RÉU: VINI SHINEIDER

O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, através de seu procurador da


República signatário, no uso de suas atribuições, vem, à presença de Vossa
Excelência, apresentar:

MEMORIAIS DE ALEGAÇÕES FINAIS

Em cumprimento ao disposto no art. 403, §3º do Código de Processo Penal.

I. BREVE SÍNTESE DA LIDE:

No dia xx/xx/xxxx foi distribuída a presente ação, em que o denunciado está sendo
acusado do crime de tráfico de drogas, disposto no art. 33 da Lei 11.343, por ter sido
encontrada plantação de “cannabis sativa lineu” na sua casa e este ter confessado o fato.

Após, foi notificado o réu para responder (fl. 59), momento no qual a defesa
prévia fora intentada (fls. 63 e ss). Foi recebida a denúncia pelo juiz (fl. 85) e marcada
então audiência para a oitiva das testemunhas arroladas (fl. 88). Sendo devidamente
citado o acusado (fl. 93).

No dia da instrução foram ouvidas todas as testemunhas arroladas (fls. 98 a


100) e o réu foi posto em liberdade. Com isso, foram intimadas as partes para
apresentação de memoriais de alegações finais. E é o que passará a ser exposto.
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II. PRELIMINARMENTE AO MÉRITO:

Finda a instrução processual, é possível verificar a presença de todos os


pressupostos processuais, veja-se: a competência do juízo, a capacidade das partes e a
originalidade da demanda.

Outrossim, confirma-se a autoria e materialidade do fato, visto a confissão do


acusado e a plantação encontrada em sua residência, bem como, devidamente presentes
as condições da ação, quais sejam, a tipicidade, legitimidade ativa e passiva das partes e
o interesse de agir.

III. DO MÉRITO:

Após esboçar o trâmite processual, é possível observar que os fatos que


compõem a denúncia estão aptos a conduzirem à condenação de VINI SCHINEIDER
dentro da pena prevista no art. 33 da Lei nº 11.343/2006, in verbis:

“Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender,
expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar,
prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que
gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou
regulamentar:
Pena - reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500
(quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa.” (Grifou-se)

De início, faz-se de suma importância atentar que a materialidade do crime


narrado na denúncia ficou amplamente comprovado no Auto de apreensão, bem como, no
Laudo do exame toxicológico que corroborou com a análise botânica detalhada realizada
nas amostras das plantas encontradas no local do flagrante, as quais em seguida testaram
positivo para “cannabis sativa lineu”, vulgarmente conhecida como “maconha”.

Sob essa perspectiva, frisa-se que a conduta de prisão em flagrante é uma


medida caracterizada pela privação da liberdade do agente surpreendido e, independe de
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prévia autorização judicial. Diante disso, tal prática encontra-se amparada pelos
dispositivos permissivos do Código de Processo Penal, qual seja:

“Art. 302. Considera-se em flagrante delito quem:


I - está cometendo a infração penal;
II - acaba de cometê-la;
III - é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo ofendido ou por qualquer
pessoa, em situação que faça presumir ser autor da infração;
IV - é encontrado, logo depois, com instrumentos, armas, objetos ou papéis que
façam presumir ser ele autor da infração.”

Portanto, muito embora persistam questionamentos em relação ao auto da


prisão em flagrante, é necessário recordar que tal prática se deu no momento que foram
encontrados 35 pés de “cannabis sativa lineu” na propriedade onde o réu fixou residência,
quantia significativa para ser considerada fabricação e depósito de entorpecentes,
condutas amplamente tipificadas como infração penal.
As testemunhas corroboram com a necessidade de condenação do Acusado:
A Testemunha 1 diz ter conhecimento da relação do réu com entorpecentes:
T1: “(...) sim, porque eu notei neles né dai eu perguntei” (sobre se tinha
conhecimento do réu e o filho serem usuários)..
T1: “(...) falou com meu filho que ele ia procurar um tratamento” (sobre
conhecimento do tratamento procurado pelo réu);

Ainda, a Testemunha 2 ratifica seu conhecimento da relação do réu com


entorpecentes:
T2: “(...) ah, sim eu sabia que ele usava né” (sabia que o réu era usuário)..
T2: “(...) sim, ele falou né” (como ficou sabendo que o réu era usuário)..
O Réu não escondia de ninguém sua relação com os entorpecentes, denotando a
possibilidade de comercializar, embora quando interpelado pelos policiais, informalmente,
e quando interrogado na Delegacia de Polícia e em seus interrogatórios judiciais, tenha
afirmado que a droga era destinada ao consumo, como defesa, o que não se sustenta pela
quantidade.
No mesmo sentido, a série de depoimentos dos policiais, relativas a informação
dada por um Senhor desconhecido (supracitado), o qual alegou ser supostamente o
vizinho do cultivador da droga:
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O Policial 1 relatou como tomaram conhecimento do fato e que o local tem histórico
de tráfico de entorpecentes:
P1: “(...) ligou para nós um senhor e disse que tinha visto um rapaz cultivando
droga, razão pela qual requisitou-se mandado para apuração”
P1: “(...) tem comércio e uso de drogas, ali, é frequente”

Ainda, o Policial 2, ratifica as mesmas informações:


P2: “(...) um senhor nos relatou que teria um jovem ali cultivando drogas”
P2: “(...) já pedimos o mandado e fomos até a propriedade abordar ele”
P2: “(...) corriqueiro jovens ali fazê o tráfico”
P2: “(...) é o senhor que ligou (...)” (sobre se foi o senhor que disse que viu
alguém oferecendo)

Por fim, consoante o Policial 3, confirma-se novamente o evento:


P3: “(...) um senhor informou pra nós que teria um individuo cultivando drogas”
P3: “(...) não, não foi identificado, parece que era um vizinho” (o senhor que
teria supostamente indicado)
P3: “(...) só quer que resolva o problema não quer se envolver” (se o senhor não
foi levado a reconhecer o acusado na data)
P3: “(...) ele estava sozinho, tinha acabado de acordar o dia do flagrante” (se
tinha alguém para quem pudesse estar oferecendo ou entregando a substância
entorpecente).

A partir disso, tem-se que a autoria é induvidosa, e tendo em vista que o


flagrante ocorreu mediante mandado que permitia a devida averiguação dos fatos, não é
necessária a discussão da legitimidade dos atos policiais que participaram da ação.

Portanto, a não averiguação direta de quem realmente prestou as informações


anônimas sobre a possível plantação de ilícitos na propriedade de Manoel Schineider, não
abona o fato de que foram encontradas quantias muito significativas de “maconha” na
propriedade supracitada.

Nesse sentido, em que pese o réu afirme, em juízo, não ser o proprietário dos
ilícitos, não foi possível, no decorrer da instrução, averiguar a identidade do suposto
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verdadeiro dono e cultivador dos entorpecentes. A partir disso observa-se que a defesa do
réu fica fragilizada, uma vez que a Lei nº 11.343/2006 é clara em afirmar em seu artigo 2º
que:

“Art. 2º Ficam proibidas, em todo o território nacional, as drogas, bem como


o plantio, a cultura, a colheita e a exploração de vegetais e substratos dos
quais possam ser extraídas ou produzidas drogas, ressalvada a hipótese de
autorização legal ou regulamentar, bem como o que estabelece a Convenção de
Viena, das Nações Unidas, sobre Substâncias Psicotrópicas, de 1971, a respeito
de plantas de uso estritamente ritualístico-religioso.” (Grifou-se)

Diante do exposto, entende-se que o plantio de drogas em território brasileiro é


proibido e independe da quantidade cultivada. Nesta senda, calha destacar que no caso
concreto que se discute, foram encontrados 35 pés de “cannabis sativa lineu”, o que
representa um montante expressivo, sendo então considerado tráfico de drogas, não
cabendo justificar como mero cultivo para consumo e, se fosse, também é ilícito.

Na mesma toada, entende-se que a Lei de Drogas não determina a quantidade


capaz de ensejar em crime de tráfico de entorpecentes, portanto fica a critério da
interpretação daquele que tomará a decisão. Todavia, é relevante destacar que o réu é
amplamente reconhecido como usuário de drogas, conforme fazem prova os depoimentos
das testemunhas arroladas, e muito embora sua conduta seja reconhecida positivamente
no contexto social, ainda assim não é capaz de justificar e nem mesmo abonar a prática
criminosa prevista no art. 33, caput da Lei 11.343/2006.

Ante a todo o explanado, perfazem-se típicas e antijurídicas as condutas do


acusado, portanto o Ministério Público manifesta-se a favor da pretensão punitiva nos
termos da denúncia, para condenar o Réu como incurso na pena do art. 33, caput, da Lei
de Drogas.

IV. PEDIDOS:

Ante ao exposto, requer:


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a) que seja recebido o presente memorial de alegações finais;

b) a condenação do acusado pelo crime de tráfico de drogas, nos termos do artigo


33 da Lei 11.343/06;

c) a imediata execução da pena em caso de condenação transitada em julgado;

Nestes termos, pede e espera deferimento.

Corumbá/MS, xx de _________ xxxx.

_________________________________
PROCURADOR DA REPÚBLICA

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