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FILOSOFIA
OBJETIVOS:
INTRODUÇÃO
Infográfico:
1. Buscando o melhor “trato epistemológico”
Se você olhar para trás, na sua vida escolar, vai perceber que já
ouviu, leu, discutiu e fez provas sobre inúmeros assuntos. Pois
bem, se fosse preciso agora trazê-los à discussão, ou utilizá-los
como ferramenta para novos aprendizados (e isso é necessário
em qualquer área de estudo), o que você pode garantir que
realmente aprendeu? Quanto dos conteúdos que você estudou
estão aí, na sua cabeça e no seu coração, prontos para serem
utilizados e desenvolvidos?
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Literalmente.
Calma, vamos explicar! A frase remete a dois personagens da mitologia grega,
Hércules e Sísifo. Hércules, condenado a realizar doze dificílimos trabalhos, é
reconhecido pela sua força descomunal. Portanto, um “esforço hercúleo” é um
esforço enorme, algo que demanda grande energia. Sísifo foi condenado a
empurrar uma enorme pedra para cima de uma montanha. Quando finalmente
conseguia chegar lá com a pedra, ela rolava para baixo novamente, e ele tinha
que subir com ela de novo, indefinidamente. Portanto, um “trabalho de Sísifo” é
um trabalho que não produz resultado, que não leva a lugar nenhum. O termo
“mnemônico” se refere à memória. Esforço mnemônico é esforço de
memorização. Inúmeros conteúdos escolares foram memorizados, com esforço
hercúleo ou nem tanto, mas não se encontram mais à nossa disposição, foram
perdidos. Qual o resultado desse trabalho? Por que gastamos tempo, fosfato e
energia e não capitalizamos resultados expressivos desse esforço?
A chave da resposta está na expressão “trato epistemológico adequado”. Para
que o estudo e o aprendizado sejam eficazes, precisamos entender como
funciona a nossa mente, o que acontece quando realmente aprendemos algo.
Ora, a memória é uma auxiliar poderosa para a inteligência, mas não é a
essência da inteligência. Para que a inteligência possa dominar conteúdos,
precisamos organizá-los na mente, conectá-los e fazer com que ganhem
sentido, com que sejam iluminadores do nosso entendimento. Trabalhar na
busca dessa conexão é dar o “trato epistemológico” adequado aos conteúdos
que estudamos.
2. A qualidade da experiência no processo educativo
Dewey afirma que nem toda experiência é educativa. A experiência pode ser:
Se falamos de experiências de aprendizado escolar, cada coisa que
aprendemos, e que possibilita que, a partir dela, novos aprendizados venham a
se somar ao entendimento, novas capacidades de intelecção sejam
desenvolvidas, certamente passamos por uma experiência educativa;
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Fértil, que produz frutos (o oposto de “trabalho de Sísifo”).
que tomaram Constantinopla em 1453 e a descoberta do Brasil, em 1500? Ora,
a maioria dos estudantes já estudaram e fizeram prova com os dois conteúdos,
mas quem é capaz de conectá-los. Apreendidos separadamente, num mero
“esforço mnemônico”, são dois conteúdos logo esquecidos, pois a mente não
retém nada que não possa conectar. Compreendidos juntos, um ajuda a lançar
luz sobre o outro, de modo que um tempo histórico maior é compreendido com
mais facilidade. Como esse é o funcionamento natural do cérebro, aquilo que
faz sentido é melhor aprendido, e o conteúdo fica gravado na mente, não
apenas como mais uma informação, mas como algo que ajuda a compreender
inúmeras outras coisas. Quando a Inteligência vai se firmando desse modo,
nossa capacidade de compreensão se alarga continuamente.
!
tempo de leitura. Que tipo de conexões estão sendo feitas?
Os conteúdos estudados estão sendo úteis para melhorar a
compreensão de outras coisas, abrindo espaço para que
novos conteúdos possam ser aprendidos com mais
qualidade. Ou, para usar os termos de Dewey, as
experiências estão abrindo possibilidades para novas e
mais ricas experiências?
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Cabe aqui um parêntesis para entendermos o significado da expressão “de cor”, que usamos como se
fosse saber algo “de cabeça”. Mas a palavra “cor”, que utilizamos unicamente nessa expressão, não
significa “cabeça”, mas “coração”. É uma palavra direta do latim. Em inglês, não resta dúvida do
significado, pois a expressão “by heart”, usa, em inglês, a palavra comum para “coração”. Como
mantivemos em português a mesma expressão em latim, a imensa maioria das pessoas não tem noção
de que significa “coração”. Daí que “decorar” algo’, para nós, seja sinônimo de “memorizar”, mesmo que
não entendamos nada do que foi memorizado. Ao contrário, saber algo de coração é não apenas
conhecer, mas, de alguma forma, “amar” o seu conteúdo. As coisas que realmente sabemos “de coração”,
não esquecemos. Muito diferentemente ocorre com nossos “decorebas” para provas. Frequentemente
acabam em “brancos”, na hora “H” e, dois dias depois, ninguém se lembra mais do tal conteúdo.
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Esse período, que corresponde ao mais antigo da civilização propriamente grega, leva esse nome em
homenagem ao poeta Homero. Os períodos que se seguem são o arcaico (período de formação e
consolidação do modelos das cidades-estado, ou “pólis”), o clássico (período de maior florescimento da
cultura grega, sobretudo em Atenas, corresponde ao tempo dos grandes filósofos, como Sócrates, Platão
e Aristóteles e grandes legisladores, Como Clístenes e Péricles) e helenístico( período que se seguiu à
dominação de Felipe II, da Macedônia e seu sucessor, Alexandre, o Grande, que espalhou a cultura grega
por todos os lugares por onde expandiu seu império).
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A expressão “marcial” é derivada de Marte, o deus da guerra, em sua denominação romana. Os gregos
o chamavam de Ares.
Os gregos se orgulhavam de serem diferentes dos bárbaros, que eram
considerados “brucutus”, apenas guerreiros selvagens. O diferencial grego
estava na fineza de costumes que vinha pelo aprendizado da música e da dança,
dos esportes mais variados. A mitologia aponta como os grandes mestres alguns
centauros (mistura de cavalo e homem), como Quíron (ou Quirão), mestre de
Aquiles. Henri-Irénée Marrou,
em “História da educação na
antiguidade”, relata que
“grande número de
monumentos literários e
figurativos mostram Quirão
ensinando Aquiles os
esportes e os exercícios
cavalheirescos, caça,
equitação, dardo, ou as artes
corteses, como a lira e
mesmo (...) a cirurgia e a
farmacopeia)”. Ou seja, não
bastava ser bom em combate.
O verdadeiro herói grego
deveria ter um saber bastante
diversificado e,
especialmente, se tornar uma
pessoa sofisticada.
Quíron e Aquiles,
num afresco de Herculano, Itália (Museu
Arqueológico Nacional, Nápoles).
Para as meninas, o modelo
vem sobretudo por Penélope,
esposa de Odisseu (Ulisses),
mas também Helena (o pivô
da guerra de Troia) e outros
modelos clássicos.
No mundo antigo, o equivalente ao nosso ensino básico era feito numa etapa
chamada “trivium”, com três disciplinas básicas: lógica, gramática e retórica, ou
seja, era necessário aprender a pensar, escrever e falar bem. Esse modelo
buscava excelência, sobre tudo no domínio da linguagem. Estudos superiores
só eram apreendidos depois de adquirida essa excelência básica. No período
medieval, após as invasões bárbaras, esse modelo de saber e todo o conteúdo
da sabedoria antiga que restou foi conservado pelos monges. Após a
pacificação dos bárbaros, as escolas e universidades medievais se tornaram
centros de excelência, com notável desenvolvimento intelectual. Desses
“criadouros de excelência” nasceram as bases de toda a ciência moderna.
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Imagem:
Quíron e Aquiles, num afresco de Herculano, Itália (Museu Arqueológico Nacional, Nápoles).
Disponível em:
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Qu%C3%ADron#/media/File:Chiron_instructs_young_Achilles_-
_Ancient_Roman_fresco.jpg>.
Imagem:
Helena de Troia Por Evelyn De Morgan, 1898.
Disponível em:
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Helena_(mitologia)#/media/File:Helen_of_Troy.jpg>.