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UNIDADE I - FILOSOFIA, CONHECIMENTO E APRENDIZAGEM

FILOSOFIA

Professor: Dr. José Francisco dos Santos


UNIDADE 1

FILOSOFIA, CONHECIMENTO E APRENDIZAGEM

OBJETIVOS:

A) Compreender o conceito de epistemologia e seu uso na filosofia e nas


ciências.
B) Analisar o processo de aprendizado e avaliar a qualidade desse
processo.
C) Compreender a noção de experiência educativa e avaliar a própria
experiência de aprendizagem sob esse prisma.

INTRODUÇÃO

Nesta unidade, analisaremos algumas questões fundamentais acerca do


conhecimento, enquanto problema filosófico, buscando aplicar as discussões,
de modo bastante prático, ao processo de ensino e aprendizagem da escola e
da universidade. Todos nós, professores e acadêmicos, estamos envolvidos
nessa questão, já que o resultado de nossa atividade deve ser o conhecimento.
Há inúmeros erros a serem evitados nesse processo, assim como há algumas
dicas e informações valiosas, que podem ajudar a tornar mais profícuo o
trabalho de aprender e ensinar.

Se considerarmos que a nossa mente é apenas um depósito de informações,


tenderemos a buscar, passivamente, tais conformações, em livros, esquemas
ou palavras do professor. Se acreditarmos que o conhecimento depende,
preponderantemente, de alguma capacidade ou dom natural, que não depende
do nosso esforço, encontraremos muitas desculpas para o pouco aprendizado.
O que procuramos explorar aqui é a ideia de que, para além dos nossos dons
naturais, o aprendizado é resultado do esforço pessoal, que deve ser
estimulado pelos professores e pelo material que utilizamos. Quando esse
processo se “encaixa” temos os melhores resultados possíveis.
No último tópico, analisaremos a ideia de “areté”, ou “excelência/virtude”, que
era a palavra fundamental da educação grega antiga, a fim de nos inspirarmos
na busca do melhor no nosso processo educativo.

Infográfico:
1. Buscando o melhor “trato epistemológico”

Precisamos começar esta unidade aprendendo uma palavra nova,


cujo significado permeia toda a história das ciências e nossa história
pessoal de estudo, ensino e aprendizagem. A palavra é
EPISTEMOLOGIA. Sua origem etimológica provém da palavra grega
“episteme”, que significa “conhecimento” ou “ciência” e “logos” que
pode ser traduzido por “teoria”, “estudo”. Então, epistemologia, pode
ser traduzida por “teoria do conhecimento”, que é o termo mais
comum nos livros de filosofia.

Há muita discussão, em toda a história do pensamento, sobre essa questão,


mas não as trataremos aqui, pois essa disciplina não forma filósofos, mas
apresenta temas de filosofia que possam ser úteis para a vida acadêmica de
estudantes de qualquer curso. Analisaremos, então, alguns tópicos que tocam
diretamente nossa vida escolar e universitária, pois, independente do curso que
você faz, das matérias que estuda, dos livros que lê ou das discussões de que
participa, o aproveitamento disso para o seu patrimônio intelectual depende do
modo como você lida com essas informações, como as trabalha na sua
cabeça. Portanto, depende do “trato epistemológico” que você dá aos
conteúdos que estuda.

Se você olhar para trás, na sua vida escolar, vai perceber que já
ouviu, leu, discutiu e fez provas sobre inúmeros assuntos. Pois
bem, se fosse preciso agora trazê-los à discussão, ou utilizá-los
como ferramenta para novos aprendizados (e isso é necessário
em qualquer área de estudo), o que você pode garantir que
realmente aprendeu? Quanto dos conteúdos que você estudou
estão aí, na sua cabeça e no seu coração, prontos para serem
utilizados e desenvolvidos?

Ora, se eles se perderam na noite dos tempos, significa que não


foram realmente aprendidos. Quando você aprende bem uma
coisa, ela passa a fazer parte de você, como conhecimento,
habilidade ou competência, e ajudará a resolver novos problemas,
aprender novos conteúdos, adquirir novas habilidades.
É comum que um professor de cálculo avançado, num curso de Engenharia,
por exemplo, tenha dificuldade de desenvolver seu conteúdo, pois as
informações fundamentais da matemática básica não estão presentes para os
alunos. Conteúdos fundamentais de História, como a Revolução Francesa,
suas expectativas e suas consequências são absolutamente necessários para
entender o mundo contemporâneo, sua estrutura política, social, jurídica e
todos os problemas e contradições que enfrenta. Mas quem se lembra o
suficiente desses conteúdos para fazer essas correlações? E então, por que
temos tanta dificuldade com os conteúdos que, teoricamente, aprendemos?
Podemos identificar dois erros básicos na epistemologia escolar. Um vem do
modelo tradicional de ensino, enquanto levava em conta, de modo exagerado,
a memorização de conteúdos para as provas. O outro – pior, a nosso ver –
deriva da chamada “pedagogia nova”, que critica severamente os métodos
tradicionais, e acredita que os alunos devam aprender espontaneamente, por
pesquisa e descoberta.

Sobre o modelo tradicional, nosso texto


complementar n° 1 (Os planetas
descrevem órbitas elípticas) exemplifica
bem. É o caso típico do “decoreba” de
uma frase, uma fórmula, ou uma
sequência de informações, que são
cobradas ipsis literis1 na prova. O aluno
pode memorizar e tirar dez na prova,
mas isso não significa que entendeu o
assunto, muito menos que vai se
lembrar disso mais tarde.
Se quisermos quebrar a cuca e
aprender a falar difícil, podemos
representar isso na seguinte frase:
“Um esforço mnemônico hercúleo, sem
um adequado trato epistemológico,
redunda num trabalho de Sísifo”.

1
Literalmente.
Calma, vamos explicar! A frase remete a dois personagens da mitologia grega,
Hércules e Sísifo. Hércules, condenado a realizar doze dificílimos trabalhos, é
reconhecido pela sua força descomunal. Portanto, um “esforço hercúleo” é um
esforço enorme, algo que demanda grande energia. Sísifo foi condenado a
empurrar uma enorme pedra para cima de uma montanha. Quando finalmente
conseguia chegar lá com a pedra, ela rolava para baixo novamente, e ele tinha
que subir com ela de novo, indefinidamente. Portanto, um “trabalho de Sísifo” é
um trabalho que não produz resultado, que não leva a lugar nenhum. O termo
“mnemônico” se refere à memória. Esforço mnemônico é esforço de
memorização. Inúmeros conteúdos escolares foram memorizados, com esforço
hercúleo ou nem tanto, mas não se encontram mais à nossa disposição, foram
perdidos. Qual o resultado desse trabalho? Por que gastamos tempo, fosfato e
energia e não capitalizamos resultados expressivos desse esforço?
A chave da resposta está na expressão “trato epistemológico adequado”. Para
que o estudo e o aprendizado sejam eficazes, precisamos entender como
funciona a nossa mente, o que acontece quando realmente aprendemos algo.
Ora, a memória é uma auxiliar poderosa para a inteligência, mas não é a
essência da inteligência. Para que a inteligência possa dominar conteúdos,
precisamos organizá-los na mente, conectá-los e fazer com que ganhem
sentido, com que sejam iluminadores do nosso entendimento. Trabalhar na
busca dessa conexão é dar o “trato epistemológico” adequado aos conteúdos
que estudamos.
2. A qualidade da experiência no processo educativo

O filósofo norte-americano John Dewey


analisou muito bem essa questão na sua
obra “Experiência” e Educação. Ele a
escreveu exatamente para dirimir
confusões oriundas da tal “pedagogia
nova”, que criticava os métodos
tradicionais de ensino, mas carecia de um
entendimento adequado do que seria
mesmo aprender por experiência.

Dewey afirma que nem toda experiência é educativa. A experiência pode ser:
Se falamos de experiências de aprendizado escolar, cada coisa que
aprendemos, e que possibilita que, a partir dela, novos aprendizados venham a
se somar ao entendimento, novas capacidades de intelecção sejam
desenvolvidas, certamente passamos por uma experiência educativa;

Hás situações, na escola e fora dela, em que a experiência é tão ruim,


que cria um bloqueio na pessoa, de modo a que, por causa de tal
experiência, ter-se-á mais dificuldade para aprender coisas novas, ou
se desenvolver numa determinada direção. Tais experiências são
deseducativas.
Por fim, não foram poucas as experiências pelas quais passamos na
vida, e, em especial, na escola. Se determinado exercício, aula,
atividade não produz nada de significativo, mas é apenas um
preenchimento inócuo do tempo, nada se levará daí.

Dewey indica duas características básicas de uma experiência educativa, dois


critérios que podem identificá-la desse modo:

a) Continuidade: para que algo permaneça em nós como resultado de um


aprendizado, é necessário que tal conteúdo se conecte a outros que já
sabemos. Quando uma nova informação chega à mente, ela procura lá
informações correlatas, com as quais possa se ligar. Se encontrar, será atraída
por elas e a elas se ligará, de modo parecido com as ligações atômicas numa
molécula. Quanto mais “moléculas” de conhecimento podermos formar,
maiores as chances de que isso se torne um desenvolvimento efetivo de
inteligência.
Podemos retornar ao exemplo das “órbitas elípticas” do nosso texto
complementar 1, para ilustrar por que a primeira lei de Kepler, embora
“decorada” pelo aluno, nunca foi aprendida. É um caso tipo de “esforço
mnemônico hercúleo”, que redundou em “trabalho de Sísifo”. Vejam que, no
próprio texto, o autor indica como o mesmo conteúdo poderia ser trabalhado
para que o entendimento fosse completo e profícuo2.
No texto complementar 2 (Inteligência e conexão), há um exemplo de História
que vai na mesma direção. Trata-se de relacionar dois normalmente isolados
um do outro no ensino. Afinal, há alguma relação entre os turcos otomanos,

2
Fértil, que produz frutos (o oposto de “trabalho de Sísifo”).
que tomaram Constantinopla em 1453 e a descoberta do Brasil, em 1500? Ora,
a maioria dos estudantes já estudaram e fizeram prova com os dois conteúdos,
mas quem é capaz de conectá-los. Apreendidos separadamente, num mero
“esforço mnemônico”, são dois conteúdos logo esquecidos, pois a mente não
retém nada que não possa conectar. Compreendidos juntos, um ajuda a lançar
luz sobre o outro, de modo que um tempo histórico maior é compreendido com
mais facilidade. Como esse é o funcionamento natural do cérebro, aquilo que
faz sentido é melhor aprendido, e o conteúdo fica gravado na mente, não
apenas como mais uma informação, mas como algo que ajuda a compreender
inúmeras outras coisas. Quando a Inteligência vai se firmando desse modo,
nossa capacidade de compreensão se alarga continuamente.

Portanto, é necessário que cada estudante reflita sobre o


modo como está utilizando o cérebro, o tempo de aula, o

!
tempo de leitura. Que tipo de conexões estão sendo feitas?
Os conteúdos estudados estão sendo úteis para melhorar a
compreensão de outras coisas, abrindo espaço para que
novos conteúdos possam ser aprendidos com mais
qualidade. Ou, para usar os termos de Dewey, as
experiências estão abrindo possibilidades para novas e
mais ricas experiências?

Esse questionamento é fundamental, em qualquer área de estudo ou em


qualquer momento da vida em que se esteja. Afinal, tudo que não precisamos é
perder tempo (e dinheiro!) num aprendizado “de Sísifo”. Isso depende em
grande monta da responsabilidade de cada estudante, embora sirva também
para os professores, para que avaliem a qualidade de seu trabalho docente,
bem como do material didático, etc.
b) Interação: o princípio da interação, segundo Dewey, é a valoração, de modo
equilibrado, dos aspectos internos (subjetivos) e externos(objetivos) da
experiência. Quando experimentamos algo, há o efeito que isso provoca na
nossa sensibilidade, na nossa alma. Esse é o aspecto subjetivo, interno. Aquilo
que está fora de nós é objetivo, externo. Temos que nos conscientizar de que o
mundo e a vida não estão aí para satisfazer nossas expectativas e gostos
pessoais. Temos que lidar com pessoas, situações, coisas, que não
escolhemos, mas das quais não podemos simplesmente nos livrar. É
necessário haver um equilíbrio entre esses fatores.
No caso do conhecimento, os conteúdos, professores e métodos de ensino, por
exemplo, não têm que nos agradar o tempo todo. Devem ser úteis e produtivos,
melhorando nossa vida intelectual. Para tanto, é necessário “suportar” o que
vem de fora e que, momentaneamente, pode não ser agradável. Aliás, se
quisermos mesmo aprender e evoluir, devemos abandonar a atitude infantil de
querer ser agradado o tempo todo. Inúmeros conteúdos e exigências
acadêmicas vão nos tirar do conforto, exigir renúncia de horas de lazer e
festas, leituras exigentes e pouco atraentes, cálculos complicados. Mas se não
nos desprendermos desses apegos, raramente vamos evoluir e aprender algo
realmente significativo.
Por outro lado, não podemos violar nosso interior, de modo a que a experiência
de aprendizado, ou outra qualquer, nos prejudique sem recompensa. Assim, se
você está matriculado(a) num curso que não te agrada de modo algum, com o
qual você não tem afinidade, não é inteligente continuar nele. Essa parte da
experiência subjetiva é fundamental. O sacrifício é válido se vemos
perspectivas de uma realização maior lá na frente. Do contrário, estaremos
vivendo uma experiência não educativa.
3. Educação e excelência

E educação grega antiga tem como base a obra clássica do poeta


Homero, a Ilíada e a Odisseia. Crianças e jovens gregos deveriam
saber de cor3 os versos desses poemas épicos. Com isso,
aprendiam a “excelência” (em grego: “areté”) que deveriam
desenvolver. No caso dos meninos, o símbolo da excelência era o
grande guerreiro Aquiles. Para o menino grego do período
homérico4, especialmente para os que eram da classe nobre
(aristocrática), a excelência estava em ser um grande guerreiro.
Para tanto, sua educação era, normalmente, confiada a um
preceptor, que o introduzia não apenas nas artes marciais5
(preparação para a batalha), mas também nos hábitos refinados
das cortes, que o deviam transformar num verdadeiro cavalheiro.

3
Cabe aqui um parêntesis para entendermos o significado da expressão “de cor”, que usamos como se
fosse saber algo “de cabeça”. Mas a palavra “cor”, que utilizamos unicamente nessa expressão, não
significa “cabeça”, mas “coração”. É uma palavra direta do latim. Em inglês, não resta dúvida do
significado, pois a expressão “by heart”, usa, em inglês, a palavra comum para “coração”. Como
mantivemos em português a mesma expressão em latim, a imensa maioria das pessoas não tem noção
de que significa “coração”. Daí que “decorar” algo’, para nós, seja sinônimo de “memorizar”, mesmo que
não entendamos nada do que foi memorizado. Ao contrário, saber algo de coração é não apenas
conhecer, mas, de alguma forma, “amar” o seu conteúdo. As coisas que realmente sabemos “de coração”,
não esquecemos. Muito diferentemente ocorre com nossos “decorebas” para provas. Frequentemente
acabam em “brancos”, na hora “H” e, dois dias depois, ninguém se lembra mais do tal conteúdo.
4
Esse período, que corresponde ao mais antigo da civilização propriamente grega, leva esse nome em
homenagem ao poeta Homero. Os períodos que se seguem são o arcaico (período de formação e
consolidação do modelos das cidades-estado, ou “pólis”), o clássico (período de maior florescimento da
cultura grega, sobretudo em Atenas, corresponde ao tempo dos grandes filósofos, como Sócrates, Platão
e Aristóteles e grandes legisladores, Como Clístenes e Péricles) e helenístico( período que se seguiu à
dominação de Felipe II, da Macedônia e seu sucessor, Alexandre, o Grande, que espalhou a cultura grega
por todos os lugares por onde expandiu seu império).
5
A expressão “marcial” é derivada de Marte, o deus da guerra, em sua denominação romana. Os gregos
o chamavam de Ares.
Os gregos se orgulhavam de serem diferentes dos bárbaros, que eram
considerados “brucutus”, apenas guerreiros selvagens. O diferencial grego
estava na fineza de costumes que vinha pelo aprendizado da música e da dança,
dos esportes mais variados. A mitologia aponta como os grandes mestres alguns
centauros (mistura de cavalo e homem), como Quíron (ou Quirão), mestre de
Aquiles. Henri-Irénée Marrou,
em “História da educação na
antiguidade”, relata que
“grande número de
monumentos literários e
figurativos mostram Quirão
ensinando Aquiles os
esportes e os exercícios
cavalheirescos, caça,
equitação, dardo, ou as artes
corteses, como a lira e
mesmo (...) a cirurgia e a
farmacopeia)”. Ou seja, não
bastava ser bom em combate.
O verdadeiro herói grego
deveria ter um saber bastante
diversificado e,
especialmente, se tornar uma
pessoa sofisticada.

Quíron e Aquiles,
num afresco de Herculano, Itália (Museu
Arqueológico Nacional, Nápoles).
Para as meninas, o modelo
vem sobretudo por Penélope,
esposa de Odisseu (Ulisses),
mas também Helena (o pivô
da guerra de Troia) e outros
modelos clássicos.

Helena de Troia Por Evelyn De Morgan, 1898.

Esse ideal de excelência é fundamental para o desenvolvimento da cultura


clássica, que fará dos gregos verdadeiros luminares do mundo antigo, com um
desenvolvimento intelectual muito acima dos demais de sua época e depois
dela.

No período clássico, especialmente em Atenas, a “areté” se


modificou. Embora o serviço militar continuasse um fator
preponderante da vida, o desenvolvimento político fez com que
os jovens ambicionassem posições relevantes no governo. Para
tanto, o modelo não era mais o do guerreiro homérico, mas do
político. Após as reformas de Sólon, Clístenes e Péricles, Atenas
passou a viver um período democrático, no qual a participação
política não estava restrita aos nobres (aristocratas), mas a
qualquer cidadão livre, adulto e do sexo masculino.
Para ter destaque nesse sistema, uma habilidade fundamental
era a retórica, uma vez que os discursos e disputas públicas da
“ágora”, que era uma espécie de praça de mercado, onde as
pessoas se reuniam para diversas finalidades, inclusive para
discussões políticas. Para desenvolver essa habilidade, surgiram
os que podem ser considerados os primeiros professores
profissionais: os sofistas. Sua arte era especialmente a retórica,
desenvolvida em exercícios de disputas verbais.
Atenas se preocupou também com a educação em geral. As
crianças eram ensinadas pelo “pedótriba”, ou treinador- o
equivalente ao atual professor de educação física -, o gramático,
ou professor de linguagem e citarista (professor de música). A
ginástica e a música eram consideradas disciplinas
fundamentais para qualquer pessoa, para preparar o corpo e o
espírito, buscando o ideal de uma mente sã num corpo são.

No mundo antigo, o equivalente ao nosso ensino básico era feito numa etapa
chamada “trivium”, com três disciplinas básicas: lógica, gramática e retórica, ou
seja, era necessário aprender a pensar, escrever e falar bem. Esse modelo
buscava excelência, sobre tudo no domínio da linguagem. Estudos superiores
só eram apreendidos depois de adquirida essa excelência básica. No período
medieval, após as invasões bárbaras, esse modelo de saber e todo o conteúdo
da sabedoria antiga que restou foi conservado pelos monges. Após a
pacificação dos bárbaros, as escolas e universidades medievais se tornaram
centros de excelência, com notável desenvolvimento intelectual. Desses
“criadouros de excelência” nasceram as bases de toda a ciência moderna.

Nas últimas décadas, nossos sistemas educacionais abandonaram essa


excelência, em especial na formação intelectual, para dar mais ênfase à
mudança de comportamento, à criação de modelo moral “revolucionário”. Todo
o sistema educacional sofre essa queda de qualidade, mas apesar de tudo
isso, precisamos estabelecer, ao menos individualmente, certos padrões de
excelência que queremos atingir, para o sucesso profissional que
vislumbramos ao nos inscrevermos para um curso superior. A queda do padrão
de excelência tem produzido profissionais de nível sofrível e pessoas
despreparadas, de modo geral, uma vez que os padrões de exigência
decaíram em todos os níveis. Um modo de nadar contra essa corrente é nos
dedicarmos com mais afinco aos nossos estudos, procurando ir além do que é
exigido em cada disciplina, pois a exigência dificilmente vai além do mínimo
exigível. Que o tempo da universidade, por todo o investimento que acarreta,
nos produza uma elevação de padrão, para não recairmos em “trabalho de
Sísifo”.
REFERÊNCIAS

BERNARDIN, Pascal. Maquiavel Pedagogo. Campinas/SP: Editora Ecclesiae,


2013.
DEWEY, John. Experiência e educação. Petrópolis: Editora Vozes, 2010.
JAEGER, Werner. Paideia: a formação do homem grego. São Paulo: Martins
Fontes, 2001.
MARROU, Henri-Irénée. História da educação na antiguidade. São Paulo:
EPU, 1975.
SANTOS, José Francisco dos. Para refletir: artigos para reflexão e discussão
em filosofia, ética e temas transversais. Jundiaí/SP: Paco Editorial, 2013.
Gráficos:

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Imagem:
Quíron e Aquiles, num afresco de Herculano, Itália (Museu Arqueológico Nacional, Nápoles).
Disponível em:
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Qu%C3%ADron#/media/File:Chiron_instructs_young_Achilles_-
_Ancient_Roman_fresco.jpg>.

Imagem:
Helena de Troia Por Evelyn De Morgan, 1898.
Disponível em:
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Helena_(mitologia)#/media/File:Helen_of_Troy.jpg>.

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