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Antropologia Social, lacuna esta que dis- Antropologia das práticas de poder: reflexões etnográficas entre burocratas, elites

ites e corporações Antropologia das práticas de poder: refle-

Sérgio Ricardo Rodrigues Castilho


tancia as discussões em sala de aula do xões etnográficas entre burocratas, elites e

Antonio Carlos de Souza Lima


“mundo lá fora” à mão do cientista social
volta o foco para a mudança do fazer etnográfico que responde aos imperativos de um corporações apresenta um conjunto de
neófito, que tantas vezes se lança em pes-
quisas que se confundem com seus am-
bientes profissionais.
mundo em transformação. Mudança que anuncia a importância de associar observação
participante à análise acurada de documentação que revela práticas de poder, obrigando
ANTROPOLOGIA DAS trabalhos de grande relevância tanto para
o universo das pesquisas sobre o Estado e

Carla Costa Teixeira


a burocracia quanto para o ensino de An-
E quando o campo é uma repartição
pública? E quando o que devo entender é
os antropólogos – hoje muito mais jovens do que ontem, dada a expansão da
pós-graduação no Brasil – a lidar com “mentiras e verdades” que aviltam os sujeitos de
PRÁTICAS DE PODER tropologia nas universidades públicas e
privadas do País. O amplo painel de ques-
a rotina diária de uma instituição? O que tões aqui traçados responde a preocupa-
observar quando meu “interlocutor” são direito, estejam eles de um lado ou de outro da interlocução, indicando a necessidade de reflexões etnográficas entre burocratas, elites e corporações ções decorrentes de pesquisas empíricas
os documentos? Como fica a empatia em que, tendo como referência o fazer etno-
casos nos quais o universo de estudo de-
“descrever sem prescrições” que comprometam o trabalho; tarefa que exige habilidades gráfico nos chamados contextos de elite,
safia meus princípios éticos e morais? diversas, daquele que antes observava e participava, mas não se debruçava sobre – O R G. – colocam novos desafios e redimensionam
Estas são algumas das questões abordadas antigos debates sobre a prática antropoló-
pelos autores de forma sensível e densa,
documentos e práticas perscrutando, como historiador, as nuances e os entraves do poder [o r g a n i z a ç ã o] gica e os universos de negociação no pro-

ANTROPOLOGIA DAS PRÁTICAS DE PODER


trazendo ao leitor uma oportunidade para evitar o “mal-estar contemporâneo”. Trabalhar entre burocratas, elites e corporações Sérgio Ricardo Rodrigues Castilho cesso de produção de dados.
ímpar de relativizar a tão discutida auto- Os autores aqui reunidos brindam o
ridade do antropólogo quando mergu-
que jamais facilitam o acesso à informação, nem aos cidadãos e menos ainda aos Antonio Carlos de Souza Lima leitor com excelentes reflexões teórico-
lhamos nos processos de negociação que estudiosos, é um desafio que os clássicos não alcançam, mas que se precisa enfrentar. Carla Costa Teixeira metodológicas sobre uma pluralidade de
permeiam cada passo de nosso campo. casos que englobam burocracia, elites,
Ao tomar como ponto de partida refle-
A coletânea é expressão da Antropologia feita no Brasil, com responsabilidade e reflexão, redes de poder, corporações e práticas de
xões oriundas de pesquisas em cenários enfrentando as estruturas de poder que cerceiam os direitos e limitam a liberdade Estado. O eixo teórico está na noção de
políticos e administrativos, o debate aqui que os poderes estatais existem em redes
proposto inverte e desmistifica alguns
científica pela sonegação de informações. Há indicativos de que se formam antropólogos que podem ser seguidas e analisadas a
discursos já clássicos em nossa disciplina, que discutem as “colonialidades” produzindo uma Antropologia que desvenda o Brasil partir de uma perspectiva que privilegie o
como a questão da relação de poder entre Estado não como um “ser amorfo” insti-
pesquisador e seu sujeito e o mito da em-
sem se deixar seduzir pelas antropologias metropolitanas, e que se permitem atuar em tucionalizado ou uma coisa, mas o Estado
patia com o interlocutor. espaços diversos com qualidade, respeitando os cânones da ética. Para além da produção, em ação. Tendo como cenário esta pers-
Onde encontrará o estudioso, o aluno, pectiva teórica, a coletânea traz mais um
ou o professor da área publicação mais
reflete-se sobre os desafios de fazer Antropologia no Brasil sem descurar do diálogo com o valioso aporte ao debate atual, o fazer et-
oportuna? Os especialistas verão de ime- que se faz pelo mundo. nográfico no universo temático do stu-
diato o valor das discussões aqui presen- dying up.
tes em formato cuidadoso e atualizado. Como os organizadores explicitam,
Por sua vez, os que estão se iniciando na Jane Felipe Beltrão muito já foi discutido sobre os desafios,
área terão a oportunidade de se familiari- oportunidades e características do méto-
zar com autores e temas de grande atuali-
UFPA/CNPq do antropológico, em especial a observa-
dade e relevância. Ao seguir a guinada ção participante. Se nos remetemos às
epistemológica proposta por Laura disciplinas introdutórias e metodológicas
Nader na década de 1970, quando reflete dos cursos de graduação em Ciências So-
sobre a importância de análises em con- ciais no País, não teremos dificuldades em
textos up, esta coletânea permite que re- encontrar artigos e ensaios clássicos e
novemos nossas reflexões sobre o fazer contemporâneos que nos remetem às re-
antropológico, por vezes em uma “praia flexões de caráter metodológico. Entre-
deserta”, mas também nos corredores de tanto, no dizer dos próprios estudantes,
um edifício. ansiosos por relacionar as reflexões lidas
com seus interesses, grande parte do que é
Andréa de Souza Lobo lido não se conecta com os contextos dos
Universidade de Brasília estudos etnográficos na atualidade. Esta
obra vem, portanto, preencher uma lacu-
na existente nos cursos de graduação em

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