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CARACTERÍSTICAS GERAIS DE

DETECTORES DE RADIAÇÃO IONIZANTE

Msc. Luís Mura


Treinamento em detecção da radiação e
Instrumentação e Controle
Tópicos
• Introdução ao processo de detecção
• Modos de operação de detectores
1. Modo Corrente
2. Modo MSV (Mean Square Voltage)
3. Modo Pulso

• Formatação e processamento de pulsos


• Tempo morto
• Espectro de Energia
• Resolução de um detector
• Eficiência de um detector
• Exercícios
Introdução ao processo de detecção

O modelo simplificado

Suponha um detector que é


atingido por um única partícula e
interage com o material
constituinte do detector através de
um dos mecanismos mostrados na
aula de interação da radiação com
a matéria.

- Nano segundos nos gases


- Pico segundos em sólidos

Do ponto de vista de um sinal


nuclear este tempo pode ser
considerado instantâneo.
Introdução ao processo de detecção

Ao interagir a partícula pode gerar um


par de cargas ou vários pares de
cargas.

Essas cargas são geralmente coletadas


se aplicando um campo elétrico na
região ativa do detector. Assim elas
viajam em direções opostas.

Os tempos de coleta de cargas podem


variar drasticamente dependendo do
tamanho do detector e material
podendo ser da ordem de
milissegundos para câmaras de
ionização até nano segundos para
diodos semicondutores.
Introdução ao processo de detecção

Se considerarmos um tempo de
coleta tc teremos um sinal da
seguinte forma:

Integrando o sinal de 0 a tc
teremos:
Introdução ao processo de detecção

Q
Q
Q
Modos de Detecção

Quando a taxa de cargas


coletadas é suficientemente
baixa que podemos discriminar
a grande maioria dos pulsos de
carga gerados dizemos o que o
detector é operado no modo
pulso. Q
Já quando a coleta de carga é
dada de forma continua devido
a alta taxa de radiação incidente
dizemos que o detector é
operado no modo corrente.
Modo Corrente

• No sistema modo corrente os


coletores de carga (polos) são
ligados a amperímetros, pico
amperímetros ou em casos mais
especiais a eletrômetros. Esses
equipamentos medem a taxa de
corrente gerada no detector I(t)
devido a alta taxa de coleta de
cargas.
Modo Corrente

• Considerando que o equipamento tem uma resposta


fixada no tempo T (intervalo de tempo que a medida é
realizada) então o sinal dependente do tempo
proveniente de uma sequência de eventos será:
Modo Corrente

• Assim para um T da ordem de fração de segundos ou


maior, será observada uma média da flutuação de
interações individuais com o detector.
• Como consequência o sinal responderá de forma lenta a
rápidas variações na taxa de interações. Exemplo:
excursão de potência.
Modo Corrente

• A corrente média é dada taxa de eventos média e a carga


produzida por evento:
𝐸
𝐼0 = 𝑟𝑄 = 𝑟 𝑞
𝑤

r = taxa de eventos
Q = Eq/w = carga produzida em cada evento
E = energia média depositada por evento
W = energia média necessária para produzir um par de ions
no meio (elétron-ion)
Q = 1.6 x 10-19 C
Modo Corrente

• Em um caso de uma irradiação continua em estado estacionário


teremos um sinal que será dado por I0 mais a flutuação estatística do
sinal. Essa flutuação é devido a natureza estatística da radiação
seguindo uma distribuição de Poisson.

• 𝜎𝑖 (𝑡) será o resultado desta flutuação estatística


Modo Corrente

• Uma medida desta flutuação randômica considerando uma


distribuição de Poisson será a variância ou valor médio quadrado
definido como:

• Lembrando que neste caso estamos analisando a variação da


corrente média no domínio do tempo. O desvio padrão é:
Modo Corrente

• Relembrando que:

• O número de eventos n vai ser a taxa de eventos r multiplicada pelo


tempo T definido pelo tempo de resposta do equipamento utilizado
para amostrar a corrente. Assim:

𝜎𝑛 = 𝑟𝑇
• O valor de incerteza associado ao valor de corrente I0 será:

𝐼0
𝜎𝐼 (𝑡) =
𝑟𝑇
Modo MSV (Mean Square Voltage)

• O modo MSV também conhecido como Campbell é similar ao modo


corrente.
• Ele é útil quando realizamos medidas em campos mistos de radiação.
Ex: gama + nêutron.
• Nele não nos preocupamos com o sinal de corrente médio I0 e sim
com sua flutuação estatística. Neste circuito o sinal de flutuação é
elevado ao quadrado. Um circuito MSV tem a seguinte forma:

𝜎𝑛 = 𝑟𝑇

• Ou seja: 𝐼0 𝑟𝑄 2
𝜎𝐼 (𝑡) = 𝐼0 = 𝑟𝑄 𝜎𝐼2 (𝑡) =
𝑟𝑇 𝑇
Modo MSV (Mean Square Voltage)
2
𝑟𝑄
𝜎𝐼2 (𝑡) =
𝑇
• Vemos então que o sinal é diretamente proporcional a taxa de eventos e
proporcional ao quadrado da carga gerada.

• Partículas diferentes produzem cargas diferentes, assim, no modo MSV, o


sinal derivado em um campo de radiação misto será ponderado em favor
do tipo de radiação mais ionizante. Mais precisamente o sinal dessa
radiação mais ionizante será amplificado e irá se sobrepor. O principal
exemplo é a diferença entre a energia depositada por um nêutron e um
gama que pode variar até 20 vezes.

• Esse tipo de instrumentação é comum em reatores tipo BWR. Eles são


utilizados na faixa intermediária do reator onde o campo gama é
pequeno em relação ao campo neutrônico. Com esse sistema as normas
de segurança são atingidas.
Modo Pulso

• Os detectores modo pulso são os mais comuns em laboratórios e


medidas de precisão em reatores nucleares. Sua principal vantagem
esta na capacidade de preservar as informações como intervalo de
tempo e amplitude se eventos individuais.
• Um sistema modo pulso segue o seguinte esquema:

Onde R é a resistência (Ohms) e C é a capacitância (Farads) do detector


e o sistema de medição. No caso esse sistema pode ser o pré-
amplificador do sinal. A tensão é então medida e amplificada.
Modo Pulso

• Dois casos de operação são derivados desses tipo de sistema e são


identificados pela constante de tempo do circuito. A constante de
tempo para esse tipo de circuito é dada por τ = RC. Dado tc o tempo
coleta de carga temos os dois casos a seguir:

RC << tc

RC >> tc
Modo Pulso

• O caso em que RC >> tc é o mais comum na maioria dos detectores.

• Algumas propriedades importantes deste tipo de operação estão


listadas a seguir:
- O tempo de formação do pulso até o seu valor máximo somente pelo
detector e independente do circuito.
- O tempo de queda do pulso ou o tempo que a tensão demora para
voltar a 0 depende unicamente da constante de tempo do circuito.
- A amplitude do sinal de pulso é diretamente proporcional a carga
gerada no detector, sendo dada por:

𝑄
𝑉𝑚𝑎𝑥 =
𝐶
Tempo Morto

Em praticamente todos os sistemas de detecção de radiação em


modo pulso haverá a probabilidade de que a diferença de tempo
de formação entre dois pulsos seja menor que o tempo que o
detector leva para coletar o sinal ou será menor que o tempo que
o circuito leva para interpretar o sinal. Este tempo é comumente
chamado de tempo morto de um sistema de contagem.

Outra maneira usual de definir o tempo morto é período de


tempo necessário para o detector processar um evento.

O tempo morto se torna maior conforme a taxa de contagem


aumenta, já que, a probabilidade entre dois eventos consecutivos
se torna maior.
Tempo Morto

• Empilhamento: sobreposição de dois eventos que estão separados


por um intervalo de tempo menor do que o tempo morto (se o
detector permanecer sensível);

• Existem 2 tipos principais de sistemas de contagem com relação ao


tempo morto, o sistema paralisável e o sistema não paralisável.
Tempo Morto

• Sistema não paralisável

• Sendo: n = taxa de contagem real


m = contagens computadas
τ = tempo morto
• Temos: Eventos perdidos

𝑛−𝑚 𝑛
𝜏= 𝑚=
𝑛𝑚 1 − 𝑛𝜏
Tempo Morto

• Sistema paralisável

• Sendo: n = taxa de contagem real


m = contagens computadas
τ = tempo morto
• Temos:
𝑚 = 𝑛𝑒 −𝜏𝑛
Probabilidade de eventos consecutivos no intervalo
do tempo morto do detector.
Tempo Morto

Para o caso em que em que a taxa de eventos é baixa ( n <<1/τ ) temos:

• Sistema paralisável 𝑚 = 𝑛𝑒 −𝜏𝑛 ≅ 𝑛(1 − 𝑛𝜏)

𝑛
• Sistema não paralisável 𝑚= ≅ 𝑛(1 − 𝑛𝜏)
1 − 𝑛𝜏

Por esta motivo é ideal que quando utilizamos detectores modo pulso
estes estejam bem distantes de sua saturação. Para o caso de
experimentos os valores de perdas não devem ultrapassar 2% e para o
caso usinas as perdas não devem ultrapassar 15%.
Formatação de Pulsos

• Quando estamos tratando de pulsos provenientes de sinais


nucleares, muitas vezes é desejável formatar estes sinais de forma a
impedir sua sobreposição ou simplesmente modela-lo para a entrada
em um contador, amplificador ou processador de sinais. Entre os dois
principais modelos de formatação estão o CR e o RC.
Formatação de Pulsos

CR diferenciador (Filtro passa alta)

• O circuito CR segue o seguinte diagrama:

Tensão de entrada Tensão de saída


Formatação de Pulsos

CR diferenciador (Filtro passa alta)

• Diferenciando em relação ao tempo e considerando que 𝐸 = 𝑖𝑅, 𝜏 = 𝑅𝐶


temos:

• Para 𝜏 = 𝑅𝐶 bem pequeno temos:

• Para 𝜏 = 𝑅𝐶 grande temos:


Formatação de Pulsos

CR diferenciador (Filtro passa alta)


Formatação de Pulsos

RC integrador (Filtro passa baixa)

• O circuito RC segue o seguinte diagrama:

Tensão de entrada Tensão de saída


Formatação de Pulsos

RC integrador (Filtro passa baixa)

• Diferenciando em relação ao tempo e 𝜏 = 𝑅𝐶 temos:

• Para 𝜏 = 𝑅𝐶 grande temos:

• Para 𝜏 = 𝑅𝐶 bem pequeno temos:


Formatação de Pulsos

CR diferenciador (Filtro passa alta)


Formatação de Pulsos
Espectro de Energia (Espectro de Tensão)

Como mostrado anteriormente, quando operamos detectores no modo


pulso conseguimos extrair uma informação muito importante, a energia
da partícula que interagiu com o detector. Se utilizarmos associado a
instrumentação de detecção um sistema que discrimine diferentes
pulsos de tensão, como um sistema monocanal ou um sistema MCA
(Multi Channel Analyser), é possível fazer a contabilidade do número de
partículas com uma determinada energia que interagiram com o
detector.

Quando colocamos esses dados em um histograma do número de


partículas em função da tensão do pulso ou da energia da partícula
temos o chamado Espectro de Energia ou Espectro de Tensão.
Espectro de Energia (Espectro de Tensão)
Espectro de Energia (Espectro de Tensão)

Variando o ganho:
Resolução em Energia

• Resolução em energia: capacidade do sistema de detecção


discriminar duas energias próximas;
Resolução em Energia
Eficiência de um detector

• Eficiência: probabilidade do sistema registrar um evento;


Eficiência de um detector

• A eficiência intrínseca (εint) de um detector está totalmente


relacionada a capacidade de interação entre a radiação e o
material do detector.

• Para radiações carregadas como α e elétrons os materiais


utilizados freiam (Stopping Power) facilmente essas partículas que
geram pares de cargas assim que entram no volume ativo do
detector, assim, é possível atingir eficiências intrínsecas de 100%.

• Para radiações não diretamente ionizantes (gamas, nêutrons) há a


possibilidade de essas partículas atravessarem o material do
detector sem interagir ou só depositar parcialmente sua energia
nele, variando o número de cargas no volume ativo sendo
impossível atingir eficiências intrínsecas de 100%.

• A energia da partícula incidente também é se extrema importância


nesse processo pois quanto maior a energia da partícula menor
será a probabilidade de interação.
Eficiência de um detector

DETECTOR

Fonte Isotrópica pontual Se d >> a

• A eficiência geométrica é simplesmente a razão entre as


partículas que tem a trajetória do detector e as que não.
Eficiência de um detector

DETECTOR DETECTOR

• A geometria da fonte também influência a eficiência geométrica e


sua posição em relação ao detector é o principal redutor de
eficiência.
Eficiência de um detector

• Geralmente os cálculos de eficiência geométrica só são


utilizados para se realizar uma estimativa de como projetar a
configuração fonte-detector.

• A eficiência total do sistema de detecção é determinada


experimentalmente com uma fonte com atividade já conhecida
e geometria similar a utilizada na medida desejada.

• Essas fontes são conhecidas como fontes padrão e através


delas é possível levantar a curva de eficiência de um detector.
Eficiência de um detector

Curva de Eficiência para a 7‫ ھ‬Gaveta do sistema de detecç‫م‬o HPGe,


com a Fonte de Eu-152
0,016

0,014 Data: Data1_Efic


Model: ExpDec1
Equation: y = A1*exp(-x/t1) + y0
Weighting: y Instrumental
0,012
Chi^2/DoF = 1.45375
R^2 = 0.98998

0,010 y0 = 0.00294 ± 0.00024


Eficiência

A1 = 0.02001 ± 0.00177
t1 = 364.48355 ± 38.313

0,008

0,006

0,004

0,002
200 400 600 800 1000 1200 1400 1600
Energias (Kev)
Bibliografia
“Guia para Física Experimental”, Caderno de Laboratório,
Gráficos e Erros, Instituto de Física, Unicamp
PERGUNTAS?

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