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Drenagem como Instrumento de Dessalinização e

Prevenção da Salinização de Solos

12. CONDUTIVIDADE HIDRÁULICA –


TESTE DE FURO DE TRADO EM
AUSÊNCIA DE LENÇOL FREÁTICO

12.1. MÉTODO DE WINGER método são somente menores em cerca de 15%.


Para se obter um valor mais representativo é
1. Introdução recomendável realizar o teste dentro de uma única
camada de solo de cada vez, o que nem sempre é
O teste foi desenvolvido por Winger (3) para ser possível quando as camadas são delgadas.
conduzido em camadas de solo situadas na
ausência de lençol freático. É empregado em Com base nos valores obtidos por meio do teste
estudos a nível de projeto de drenagem subterrânea pode-se também identificar presença de barreira.
e em estudos de drenagem para classificação de
terras para irrigação. Em estudos de drenagem subterrânea assume-
se, em geral, que barreira é toda camada cuja
Mede a condutividade hidráulica horizontal da condutividade hidráulica é igual ou inferior a 1/10
camada de solo testada. Os resultados são válidos da condutividade hidráulica média das camadas
para o fluxo da água após ser atingido o estado de superiores.
saturação. Os valores de condutividade hidráulica
"k" são utilizados principalmente para cálculo do Para a condução do teste são empregados trados
espaçamento entre drenos; podem também ser tipo holandês ou caneco, válvula reguladora de
importantes para estudos de classificação de terras fluxo, reservatórios para abastecimento e
para irrigação, onde analisados em conjunto com transporte de água e viatura tipo pick-up.
outros fatores, auxiliam na definição das classes
de terra. Na computação dos valores de condutividade
hidráulica podem ser utilizadas fórmulas, ou
O teste é conduzido dentro de um furo de trado, nomógrafos, obtendo-se os valores em litros por
sendo fixada, na profundidade desejada, uma válvula hora ou em metros cúbicos por dia.
conectada com um reservatório calibrado, onde o O período de condução do teste é de no mínimo
volume de água consumido é medido. 06 (seis) horas, considerando-se que deve ser
alcançado o estado de saturação do solo nas
Quando conduzido em zona do perfil, onde existir imediações da zona testada.
mais de uma camada de solo, mede a condu-
tividade hidráulica de toda a zona testada, porém
o resultado obtido reflete, principalmente, a 2. Escolha de locais de execução
condutividade hidráulica da camada mais dos testes
permeável. Segundo De Boer (1) dados experi-
mentais mostram que os valores médios de Os testes são conduzidos em áreas que possuam
condutividade hidráulica obtidos por este método condições pobres de drenagem interna ou
são 47% inferiores aos valores obtidos com o teste suspeitas de virem a apresentar, no futuro,
de furo de trado de presença de lençol freático. problemas de drenagem, provocados pela prática
Segundo Winger (1), os valores médios de da irrigação.
condutividade hidráulica obtidos através deste No estudo de uma área faz-se a seleção das

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testes de furo de trado em ausência de lençol freático

camadas de solo cuja condutividade hidráulica se função do grande número e variação das camadas
deseja obter. Essa escolha é a princípio feita em do solo.
escritório, com base nas descrições de perfis Na definição do número de testes o mais
provenientes de estudos de solo, devendo ser importante é a experiência do técnico de drenagem
também levadas em consideração as condições e o conhecimento dos solos da área.
de acesso e distâncias aos cursos de água ou
pontos de abastecimento.
4. Material Necessário
Em mapas topográficos, ou mesmo em aerofoto-
grafias da área, marcam-se "a priori", os locais de É necessário contar-se com uma quantidade
possíveis testes. Uma seleção final é geralmente apreciável de material, conforme segue:
feita "in-loco".
Para perfuração do furo de trado
É sempre interessante o conhecimento da e descrição do perfil
disposição das camadas superficiais da área do • enxada para limpar a área;
trabalho, porque as camadas a serem testadas • trados para solos de textura leve, média ou
podem apresentar-se onduladas e, então, caso isto pesada; deve-se contar com trados preferencialmente
aconteça, pode-se localizar os testes em pontos de 3 a 4" de diâmetro;
onde os horizontes do solo, a serem testados, • manivela ou haste de trado;
apresentem profundidades e espessuras mais • extensões de 1,0 m;
convenientes. • martelo de borracha;
• sacos plásticos e etiquetas, caso haja
Locais de fácil acesso devem ser preferidos, devido necessidade de coletar amostras;
a necessidade de se transportar todo o material e • prancheta escolar e ficha de descrição do perfil.
água para o local escolhido. No mínimo é
necessário que haja acesso para uma pick-up. Para condução do teste
• Escarificador para eliminar compactação e
superfícies que se tornem lisas devido aos
3. Número de testes movimentos do trado, o que prejudica a penetração
normal da água nos poros.
O número de testes vai depender principalmente
do nível de estudos, das dimensões do projeto e • Capa protetora, do mesmo tipo indicado para o
das dimensões de cada unidade de solo dentro do caso anterior, para testes a serem realizados em
projeto. camadas de solo instáveis, o que ocorre principalmente
em solos siltosos, solos de textura arenosa fina e
Deve-se fazer, de um modo geral, dois a três testes solos com predominância de argila do tipo
com repetição, para cada camada ou horizonte de montmorilonita, como é o caso dos vertissolos. O
solo a ser estudado. filtro serve para evitar o desmoronamento da parede
do furo de trado com a conseqüente alteração do
A nível de projeto executivo, é recomendável diâmetro interno desta.
conduzir de 2 a 3 testes para cada 5 a 25 hectares,
o que vai depender também da extensão da área e Para testes em camadas instáveis, abre-se o furo
da uniformidade das unidades de solo. com trado de 4 polegadas e usa-se capa de 3
polegadas, enchendo-se o espaço situado entre
Em solos aluvionais geralmente é necessária a o furo e o cilindro com areia grossa lavada. Com
condução de um maior número de testes em isso consegue-se manter a cavidade original do

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furo do trado.

O uso de capa protetora pode ser substituído, e • Mangueiras de plástico flexível, de aproxima-
com grande vantagem de ordem prática, principal- damente 6,0 m de comprimento e de 1,0 a 1,5
mente quando se trabalha com camadas de solo polegadas de diâmetro interno, para abastecer de
de baixa condutividade hidráulica, pelo enchimento água os tambores a serem usados no teste.
do furo de trado, até a parte superior da vávula
reguladora de fluxo da água, com areia grossa • Vasilhames com capacidade para conter de 50 a
lavada ou cascalho fino, conforme Figura 1. A areia 200 litros de água.
é colocada no furo até atingir a altura definida para
a bóia, que a seguir é fixada no ponto Pode-se usar um único tanque alimentador, como
predeterminado e coberta com o mesmo tipo de também, conectar dois deles para serem usados
areia. em conjunto, conforme Figura 2. Quando o
consumo de água é grande, o uso de dois
• Estopa para ser colocada no fundo do furo e vasilhames ao mesmo tempo facilita a obtenção
pressionada (socada) para evitar a formação de de uma descarga contínua. Neste caso, antes de
suspensões ao colocar-se água no furo, quando a completar o volume de um deles (zerar), deve-se
água for inicialmente liberada. tomar nota do volume gasto e, ao mesmo tempo
em que o registro de um tambor é fechado, o
• Uma pick-up munida de vasilhames para o registro do outro é aberto.
transporte de água.

Fig. 1 - Esquema de teste onde é utilizada areia para manter a parede do furo estável.

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testes de furo de trado em ausência de lençol freático

• Relógio para medir os intervalos de leitura.

A conexão entre vasilhames é feita por meio de • Trena de aço para medir a profundidade do furo e
um "T" de ½" munido de bicos de torneira de jardim, a altura da lâmina de água neste.
de preferência de metal, nas quais conectam-se
as mangueiras. • Ficha de anotação e computação do teste.

• Uma válvula com bóia para regular o fluxo de • Lanterna para eventuais necessidades de
água e manter seu nível constante no interior do observações no interior do furo e possíveis leituras
furo de trado. noturnas.

A válvula deve se ajustar, com folga, ao furo de • Varetas de vergalhão enferrujado, de preferência,
trado, fornecer a vazão necessária, e controlar o para medir, com maior precisão, a altura da lâmina
nível de água. de água.

É fixada e mantida na altura desejada através de • Tubo plástico incolor para conectar o tambor à
arame ou barbante preso a um suporte atravessado bóia, devendo ser de ½ polegada de diâmetro
na "boca do furo" – pedaço de pau roliço e fino de interno.
1,0 a 1,5 cm de diâmetro.
• "T" de ½ polegada com três nipes e três pontas

Fig. 2 - Desenho esquemático de um teste onde são usados dois tambores e "T" para conexão.

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de torneira de jardim. polegada, sendo dispensada a fixação de torneira


ao mesmo, conforme Figura 4.
• Um nível de pedreiro para nivelamento aproximado A mangueira, de 1/2", que abastece o teste é
dos tambores. mantida no interior do vasilhame preferencialmente
com o uso de vergalhão de 4,2 mm, amarrada
• Barbante forte e que não seja de material sintético, com uso de barbante.
para prender o suporte da bóias à tábua que fica
na "boca do furo" e para vedar as uniões dos tubos
6. Preparo da válvula
de pvc flexível com o tambor e bóia carburador.
reguladora do fluxo de água
Deve ser usado preferencialmente molhado.

Uma maneira simples e prática de preparar uma


• Fita crepe.
bóia para teste de furo de trado, consiste do
seguinte material:
• Um funil bastante grande e um balde de 20 litros
de capacidade podem ser úteis no caso de haver
a) um pedaço de tubo de plástico, DN 50, tipo
dificuldades para encher totalmente os tambores
esgoto, de pvc rígido e parede delgada, com 15 a
por gravidade.
20 cm de comprimento;

b) dois tampões de pvc rígido, DN 50.


5. Preparo do tambor calibrado
c) uma válvula completa, de ½ polegada, do tipo
A um vasilhame de plástico de 50 ou 100litros de
usado em caixa d’água doméstica;
capacidade é fixada uma fita crepe. Na parte
externa e sobrepondo a fita ajusta-se, como visor,
d) um bico de torneira de jardim de metal.
um tubo comunicante de material plástico flexível
e transparente, de ¼ de polegada de diâmetro
• Perfura-se um dos tampões de pvc e a ele fixa-
interno, que se comunica com a parte interna do
se a válvula de ½ polegada;
tambor, tendo uma das pontas presa a uma vareta
de vergalhão ou qualquer material pesado, que • o segundo tampão é perfurado com broca fina,
mantenha a ponta da mangueira amarrada próxima permanecendo com aspecto de chuveiro, sendo a
do fundo do vasilhame. seguir fixado ao tubo;

• o braço ou alavanca de bóia é cortado e fixado,


Para a sua calibragem o vasilhame é colocado
em linha, com parte móvel da bóia.
sobre uma mesa, onde deve ser nivelado. A seguir
enche-se totalmente o vasilhame, o qual deve ser
O conjunto deve ser ajustado para que o curso da
mantido nivelado. Em um determinado ponto da
parte móvel da válvula seja suficiente para liberar o
parte superior do mesmo, marca-se na fita o ponto
máximo de água sem sair da cavidade guia.
"ZERO" com um lápis preto. Daí em diante, com o
emprego de uma proveta ou um frasco tarado, A operação seguinte consiste em fechar o conjunto,
retira-se a água de 250 em 250 mililitros, até encaixando-se primeiro a parte móvel da válvula,
que o vasilhame fique completamente calibrado. para depois ajustar-se a parte que confina a bóia.
Para evitar-se que o conjunto se solte, usa-se um
Daí a mangueira ascende esticada margeando a parafuso próprio para unir chapas de ferro. Na tampa
fita crepe onde é a seguir feita a calibragem. Neste superior é fixada uma alça para pendurar o conjunto
caso o vasilhame abastece o teste por meio de dentro do furo de trado. Ao conjunto fixa-se um
água sifonada, com uso de mangueira de ½ bico de torneira de jardim de ½" , conforme Figura 5.

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A válvula é pendurada na posição desejada e


conectada, por meio de tubo plástico flexível de
1/2", ao tambor previamente calibrado, o qual deve
ter sido nivelado grosseiramente e ter o seu volume
de água conhecido.

• Solos instáveis

a - Emprego de tela e areia como forma de proteção


da geometria do furo.
Fig. 4 - Esquema do tambor calibrado sem uso de Coloca-se a tela no interior do furo e, então,
régua fixa e torneira. preenche-se o espaço entre este e a parede do
furo com areia grossa lavada e, a seguir, procede-
se da mesma forma anteriormente citada.
7. Condução do teste
b - Emprego somente de areia como forma de
Dois homens são suficientes para instalar e
proteção da geometria do furo.
conduzir o teste. De preferência, o furo deve
primeiro ser escavado com um trado manual de 3
Fixa-se a válvula na posição desejada e a seguir
polegadas sendo, a seguir, alargado com outro de
preenche-se toda a zona do teste com areia grossa
diâmetro um pouco maior, devendo ser atingida a
peneirada e lavada, ao mesmo tempo em que é
profundidade predeterminada para o teste. É feita
feita uma pequena compactação da areia.
a descrição do perfil, dando ênfase à cor, textura,
Procede-se assim até cobrir a bóia quase que
estrutura, mosqueado, presença de concreções e
totalmente.
consistência. Essas informações auxiliam, em
muito, na interpretação dos resultados obtidos
O furo deve, então, ser cheio de água até o ponto
pelos testes.
onde a válvula mantenha um fluxo de água
constante.
Depois de feito o furo de trado até a profundidade
desejada, este deve ser escarificado, na zona do
Logo que a válvula indicar que a lâmina de água
teste, para minorar os efeitos de compactação e
atingiu o equilíbrio entre a recarga e a infiltração
alisamento da parede pelo trado. Em solos de
checa-se a altura da mesma e, caso esta esteja
textura leve bem como em solos de textura média,
mais ou menos no ponto desejado, anota-se a
pouco adensados e cujo teor de umidade seja
data, hora e, então, faz-se a primeira leitura do
inferior a capacidade de campo, o uso de
volume consumido em litros. Toma-se em seguida
escarificador é dispensável. Depois do furo
a temperatura da água e dá-se o teste por iniciado.
escarificado, coloca-se na sua parte inferior um
Se o nível de água no furo estiver fora do desejado,
pouco de estopa para proteger o solo do impacto
faz-se o ajuste necessário alterando a posição da
da água e assim evitar a formação de suspensões.
válvula para o ponto pré-determinado.

Estando o furo de trado pronto para o teste, Depois de iniciado o teste cobre-se a "boca do
procede-se da seguinte forma: furo" para evitar a penetração de quaisquer objetos
ou animais.
• Solos estáveis

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O tanque alimentador deve ser checado e o volume de leitura em horas. Os intervalos de leitura são
de água completado sempre que necessário. determinados em função do material testado,
podendo variar de 15 minutos a algumas horas. O
Em uma ficha de "leitura do teste" deve-se anotar importante é que sejam tomadas leituras que
as leituras feitas de modo que seja obtido o volume apresentem valores mais ou menos constantes
de água consumido em litros, para cada intervalo após a saturação.

Fig. 5 - Desenho esquemático de conjunto regulador de fluxo (bóia). A) Em perspectiva, tampa de pvc rígido
de 50 mm com válvula de ½" de metal do tipo usado em caixa d’água doméstica. Do lado oposto fica um bico
de torneira de jardim; b) Em corte, parte vedante da válvula e bóia preparada de isopor, conforme a figura; c)
Planta de parte inferior do conjunto mostrando as perfurações de saída da água; d) Corte do conjunto
mostrando todas as partes.

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testes de furo de trado em ausência de lençol freático

Fig. 6 - Desenho esquemático do fluxo depois da saturação na zona do teste.

8. Cálculo da Como K = c x q temos:


condutividade hidráulica K ( m/dia ) = 0,0039 X q X [ Ln (h / r) - 0,31 ] / h2

Antes de usar fórmulas ou nomógrafos para o


cálculo da condutividade hidráulica, é preciso saber Condição II
qual a profundidade da barreira ou lençol freático,
conforme ilustrado através da Figura 8. A barreira
formada, neste caso, pode ser de material rochoso,
camada de textura pesada, camada adensada ou
camada de material cimentado.
onde:
h = altura da lâmina de água no furo de trado (m);
De posse deste dado pode-se definir a condição
r = raio do furo (m);
do teste para efeito de cálculo da condutividade
q = volume de água consumido no período (l/h)
hidráulica, ou seja:

Condição I: Tu > 3h e Condição II: Tu ≤ 3h , sendo


• Uso de nomógrafo
"Tu" a distância que vai do fundo do furo de trado
ao lençol freático ou a barreira (m).
São apresentados 2 nomógrafos, conforme Figuras
9 e 10, que permitem obter os valores de
Emprego de Fórmulas
condutividade hidráulica "K" para as condições I e
II. Basta então estar de posse dos valores de "Q",
Condição I
"h/r" e "h", para obter-se o valor da Condutividade
Como a vazão "q" é obtida em litros por hora,
Hidráulica "k" em "cm/h", que multiplicado por 0,24
conforme leitura no tambor, esta tem que ser
resulta no valor "k" em m/dia.
transformada em metros cúbicos por minuto para
ser usada na fórmula. Para essa conversão, basta
Na Tabela 1, em anexo, apresenta-se ficha com
multiplicar o valor de "q" por 1,68 x 10 -5.
resultado de teste conduzido, para fins de
q (m3 / min) = q (l / h) X 10 -5
classificação de terras para irrigação no município
O valor de " C " pode ser calculado pela fórmula:
de Jequitaí, Estado de Minas Gerais.
C = 1440{[ Ln (h / r) - 0,31 ] / (6,28 X h2)}

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Fig. 7 - Teste em operação com tambor alimentador e válvula.

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Condutividade Hidráulica -
testes de furo de trado em ausência de lençol freático

Cond. I:Tu>3h Cond. II:Tu ≤ 3h

Tu

O teste não deve ser conduzido próximo a áreas


9. Cálculo da vazão ajustada de formigueiro ativos, do tipo saúva, ou mesmo
extintos, devido a riscos de cortar galeria sem que
Para o cálculo da vazão ajustada, é feita a correção se perceba, e então obter-se valores irreais.
das viscosidades, conforme tabela 2, sendo os
ajuste feitos em função da viscosidade da água na
primeira leitura, após a estabilização aparente do 11. Conclusões
teste. Valores de viscosidade para temperaturas
da água de 0 a 37oC podem ser obtidas através da O teste mede a condutividade hidráulica horizontal
tabela 3. de camadas situadas acima do lençol freático,
podendo substituir o teste de furo de trado em
presença de lençol freático.
10. Limitações quanto ao uso deste
teste Em solos formados por várias camadas, pode ser
usado para obter a condutividade hidráulica de cada
Uma das principais limitações diz respeito ao uma delas.
tempo empregado na sua execução que é de
aproximadamente 12 horas e, também, à grande O número de testes por área depende dos tipos
quantidade de material usado. Um volume de solos encontrados, suas extensões e do nível
apreciável de água é também requerido, quando de investigação desejado.
se trabalha em solos de textura mais leve, bem
estruturado e pouco compactado.

Quando à zona do teste contém alta percentagem


de sódio, a água a ser usada deve conter 1.500 a
2.000 ppm de sais, preferivelmente sais de cálcio.

Em solos cascalhentos há dificuldade de se obter


uma superfície regular da parede ou diâmetro regular.

A relação h/r deve ser igual ou superior a 10 (dez).

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Tabela 1 - Resultados de Teste de Furo de Trado em Ausência de Lençol


Freático
FURO TP4 - DATA: 06.02.72 -
PROJETO DV/J - LOCAÇÃO: 20m Oeste de T5
EXECUTOR: M. BATISTA
Tu= Distância da Superfície da Água ao Lençol Freático ou à
D = Profundidade Total do Furo - 2,30m
Camada Impermeável: desconhecida m.
r = Raio do Furo - 5,8cm
Distância da Superfície do terreno ao Lençol Freático ou à
h = Altura da Camada de Água - 75,0cm
Camada Impermeável: desconhecida m.
Relação h / r = 75,0 / 5,8 = 12,5

INICIAL FINAL Tempo LEITURA Vol. Temp. Vazão Visc. Vazão K

(litros) Água Ajust.


Data Hora Data Hora Horas Inicial Final (1) (ºC) (1/h) (Cent.) (1/h) (m/dia)
06/09 16:45 06/09 17:45 1,0 0,00 29,25 29,25 28,5 29,25 - - -

06/09 17:45 06/09 18:45 1,0 29,25 44,00 14,75 28,0 14,75 - - -
06/09 18:45 06/09 19:45 1,0 44,00 59,00 15,00 27,0 15,00 - - -
06/09 19:45 06/09 20:45 1,0 59,00 72,75 13,75 27,0 13,75 0,8545 13,75 -

06/09 20:45 06/09 21:45 1,0 72,75 85,75 13,00 27,0 13,00 0,8545 13,00 -
06/09 21:45 06/09 22:45 1,0 0,00 13,75 13,75 26,0 13,75 0,8737 13,75 0,19

Obs.: O teste foi realizado em uma camada situada entre 110 e 230 cm de profundidade,
apresentando textura franco argilosa. Mosqueado fraco a partir de 270 cm.
Presença de concreções ferruginosas leves.

Tabela 2 -
Vazão ajustada em função da viscosidde da água na primeira leitura após a
estabilização.

Q(1/h) TEMP. ÁGUA (ºC) VISCOSIDADE Q. AJUST.(l/h)

DA ÁGUA (CENTIPOISE)

14,25 19,0 1,0299 14,25

14,97 23,0 0,9358 13,60

15,63 25,0 0,8937 13,58

Q. AJUSTADO = 14,97 × 0,9358 / 1,0299 = 13,60 l / h

Q. AJUSTADO = 15,63 × 0,8937 / 1,0299 = 13,58 l / h

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Condutividade Hidráulica -
testes de furo de trado em ausência de lençol freático

Tabela 3 -
Valores da viscosidade de água
para temperaturas em graus centígrados
e Farenheit. (*)

TEMP.ºC TEMP.ºF VISCOSIDADE TEMP.ºC TEMP.ºF VISCOSIDADE


0 32,0 1,7921 20 68,0 1,0050
1 33,8 1,7313 21 69,8 0,9810
2 35,6 1,6728 22 71,6 0,9579
3 37,4 1,6191 23 73,4 0,9358
4 39,2 1,5374 24 75,2 0,9142
5 41,0 1,5188 25 77,0 0,8937
6 42,8 1,4728 26 78,8 0,8737
7 44,6 1,4284 27 80,6 0,8545
8 46,4 1,3860 28 82,4 0,8360
9 48,2 1,3462 29 84,2 0,8180
10 50,0 1,3077 30 86,0 0,8007
11 51,8 1,2713 31 87,8 0,7840
12 53,6 1,2363 32 89,6 0,7679
13 55,4 1,2028 33 91,4 0,7523
14 57,2 1,1709 34 93,2 0,7371
15 59,0 1,1404 35 95,0 0,7225
16 60,8 1,1111 36 96,8 0,7085
17 62,6 1,0828 37 98,6 0,6947
18 64,4 1,0559
19 66,2 1,0299

(*) Notas da aula - de acordo com Binghan e Jackson, Bull. Bur. Stds. 14, 75 (1918).

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Drenagem como Instrumento de Dessalinização e
Prevenção da Salinização de Solos

Fig. 9 - Nomógrafo para determinação da condutividade hidráulica em testes de furo de trado em ausência
de lençol freático, segundo Raymond A. Winger do U.S. Bureau of Reclamation

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Condutividade Hidráulica -
testes de furo de trado em ausência de lençol freático

Fig. 10 - Nomógrafo para determinação da condutividade hidráulica em testes de furo de trado em ausência
de lençol freático, segundo Raymond A. Winger do U.S. Bureau of Reclamation

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Drenagem como Instrumento de Dessalinização e
Prevenção da Salinização de Solos

12.2 . MÉTODO DE PORCHET Q = K A, sendo a área do fluxo do furo de trado


dada pela equação A = 2πrh+πr2 , onde r = raio do
O teste de Porchet mede a condutividade furo de trado e h = altura de lâmina de água.
hidráulica, no campo, em ausência de lençol
freático. Consiste em fazer um furo de trado, até Tem-se então Q = K(2πrh+πr2) ou
penetrar o suficiente na camada a ser testada, adi- Q = 2πKr(h + r/2)
cionar água e medir o rebaixamento do seu nível
Ao mesmo tempo tem-se que a vazão no furo de
no furo.
trado Q = -πr2dh/dt; igualando as duas expressões
obtém-se:
Da mesma forma que o teste desenvolvido por
dh
Winger, permite determinar os valores de 2πkr (h + r/2) = - πr2 ou
dt
condutividade hidráulica de camadas distintas de
um mesmo solo, bastando para isso aprofundar o 2πkrdt = - πr2
furo de trado sucessivamente, limitando-se a
interromper o mesmo dentro do estrato que se Integrando-se os dois lados resulta:
queira estudar. As medições em diferentes
camadas de solo podem também ser feitas em
furos distintos e que se situem próximos. 2k (tn-to) = -r [Ln(ht + r/2) − Ln (ho + r/2)]

Para se obter valores de condutividade hidráulica K=


mais próximos do real e portanto, mais confiáveis,
faz-se necessário um pré-umedecimento do solo Como Lnx = 2,3 Log. x, tem-se:
no local do furo, através da adição de água a este, Log(h 0 + r / 2) − Log(h t + r / 2)
K = 115
, r
para que o teor de umidade atinja ou se aproxime tn − t0
da saturação, para que as forças de tensão nas onde: k = condutividade hidráulica – cm/s
proximidades do furo sejam anuladas ou r = raio do furo de trado – cm
minimizadas. ho = altura inicial do nível de água – cm
ht = altura do nível d’água correspondente
O equipamento utilizado na medição do rebaixa- ao tempo tn – cm
mento do nível de água pode ser o mesmo descrito tn = tempo correspondente a altura do
anteriormente para o teste de furo de trado em nível d’água ht - s .
presença de lençol freático, composto de suporte, to = tempo correspondente ao início do
trena e boia. teste – s

A dedução da fórmula de cálculo da condutividade Utilizando-se papel semi-log e plotando-se ht + r/


hidráulica é feita tomando como base a fórmula de 2 no eixo “y” e o tempo no “x”, deve-se obter uma
Darcy para fluxo em meio saturado onde: Q = K i linha reta, cuja inclinação é dada pela expressão:
A, sendo:

Q = vazão; K = condutividade hidráulica; i = ou K = 1,15 r tan α = (expresso em cm/s).


gradiente hidráulico e A = área de fluxo.
O furo de trado é enchido com água e deixado
O método, também chamado de inverso do auger- drenar livremente, o que deve ser feito por muitas
hole, considera que o gradiente hidráulico se vezes, até que o solo, nas imediações do furo,
iguala à unidade, quando o solo atingir o estado fique úmido o suficiente para que os valores de
de saturação ou próximo deste, o que resulta em infiltração se tornem relativamente constantes.

144
Condutividade Hidráulica -
testes de furo de trado em ausência de lençol freático

A seguir são medidos valores de rebaixamento da O exemplo na tabela a seguir mostra dados de
lâmina de água (h+r/2) e os tempos correspon- um teste, conforme Oosterban(3) onde o valor da
dentes, que são plotados em papel semi-log, no condutividade hidráulica encontrado, para r = 4cm
que o gráfico deve resultar em uma linha reta. Caso e ho= 18cm foi de 0,55 m/dia.
seja obtida uma linha curva, deve-se dar continui-
dade ao processo de umedecimento e plotagem t Ht* ht ht + r/2
dos dados obtidos, até que o resultado seja 0 71 19 21
satisfatório.Calcula-se então a condutividade 140 72 18 20
hidráulica da camada testada, utilizando-se a 300 73 17 19
equação acima men-cionada, ajustada para 500 74 16 18
fornecer valores da condutividade hidráulica em m/ 650 75 15 17
dia, podendo-se trabalhar com logarítimo de base 900 76 14 16
decimal ou neperiano, logo:
*Distância da lâmina de água em relação à
referência.

ou Os dados provenientes da tabela acima foram


plotados, conforme a figura 1 abaixo, o que resultou
em uma relação linear entre os valores de ht+ r/2,
em centímetros e o tempo em segundos.

ht + r/2 = cm
O teste de Porchet, quando comparado com o
teste de furo de trado em ausência de lençol
freático, desenvolvido por Winger, é prático e
simples de ser conduzido, ao mesmo tempo em
que reduz drasticamente o consumo de água, bem
como a quantidade de material necessário para a
sua condução.

Para facilitar o processo de pré-umedecimento


da zona a ser testada, utiliza-se válvula de nível
semelhante àquela utilizada no teste de furo de
tempo=s
trado em ausência de lençol freático, que se
Fig. 1 - Medidas de leituras do rebaixamento do nível
adeqüe a furo de trado de 3”; na sua confecção
de água plotados em função do tempo.
é usado tubo de pvc rígido, tipo esgoto, DN 50 e
reservatório para abastecimento de água. Após a
pré-saturação, remove-se a válvula e utiliza-se o
Foi então calculada a condutividade hidráulica
equipamento medidor do rebaixamento do nível da
utilizando-se a fórmula:
água. O período de pré-umedecimento depende
do tipo de camada de solo no que se refere a onde:
textura, estrutura e consistência. Para solo de
textura arenosa, muito permeável, um período de
1/2 hora ou inferior, pode ser suficiente enquanto to = 140s; ho + r/2 = 20 cm e ln (ho + r/2) = 2,996.
que para solos de textura argilosa pouco permeável tn = 650s; ht + r/2 = 17 cm e ln (ht + r/2) = 2,833,
esse período pode ser superior a 1 dia luz. o que resultou em K = 0,55 m/dia.

145
Drenagem como Instrumento de Dessalinização e
Prevenção da Salinização de Solos

Teste conduzido em solo de textura arenosa franca tn = 300 s


do Projeto de Irrigação Rodelas R 4/5, lote 138- ho = 80 cm
BA, após um pré-umedecimento, resultou na ht = 25 cm
obtenção de K = 6,4 m/dia, tendo como base os /dia
dados abaixo apresentados; valor idêntico foi
obtido através de teste de furo de trado em É apresentada, conforme a figura 02, ficha de teste
presença de lençol freático. conduzido no projeto Nupeba - CODEVASF -
r = 4,0 Barreiras, BA
to = 0

TESTE DE CONDUTIVIDADE HIDRÁULICA EM AUSÊNCIA DE LENÇOL


FREÁTICO
(MÉTODO DE PORCHET)

146
Condutividade Hidráulica -
testes de furo de trado em ausência de lençol freático

Há que se considerar que os valores de conduti- 7- WINGER, Jr., R.J. In place permeability tests
vidade hidráulica obtidos através deste método são used for subsurface drainage investigations.
aproximados, pelo fato de ter sido assumido na Colorado: Divison of Drainage and Groundwater
sua concepção que o gradiente hidráulico é Engineering, 1965. 1 v. il.
unitário, o que só ocorre para fluxo vertical, sendo
que no teste o fluxo é dominantemente horizontal. 8- Winger, Jr., R.J. LUTHIN, J.N. Guide for
Por outro lado os resultados obtidos com esse investigation of subsurface drainage
tipo de teste tem sido bastante compatíveis com problem on irrigated lands. Michigan:
as características físicas das camadas de solo American Society of Agricultural Engineers, s.d.
testadas (textura, estrutura e consistência de 1 v. il. (Special publication Sp-04-66).
campo o que indica que o teste, sempre que bem
conduzido, produz resultados confiáveis. 9- WINGER, Jr., R.J. Subsurface drainage.
Madrid: International Commission on Irrigation
and Drainage. 1960. lv . il.
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3- OOSTERBAAN, R. J., MIJLAND, H. J.


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