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Lídia Muchanga

Inclusão social das crianças da rua através da recriação e do lazer

Licenciatura em Educação e Assistência Social com Habilitações em Acção Social e


Intervenção Comunitária

Universidade Pedagógica de Maputo

Maputo, outubro, 2021


Lídia Muchanga

Inclusão social das crianças da rua através da recriação e do lazer

Projecto de Intervenção apresentada ao Departamento de


Ciências da Educação, Faculdade de Ciências da
Educação e Psicologia, Delegação de Maputo, para a
obtenção do grau académico de Licenciatura em
Educação e Assistência Habilitações em Acção Social e
Intervenção Comunitária

Supervisor:

Universidade Pedagógica de Maputo

Maputo, outubro, 2021


3

ÍNDICE

CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO............................................................................................................3
1.1. Introdução...............................................................................................................................3
1.2. Problematização.....................................................................................................................5
1.3. Justificativa.............................................................................................................................6
1.4. Objetivos................................................................................................................................7
1.4.1. Objetivo Geral................................................................................................................7
1.4.2. Objetivos Específicos.....................................................................................................7
2. CAPÍTULO II: REVISÃO DA LITERATURA.........................................................................8
2.1. Conceitos Básicos...................................................................................................................8
2.1.1. Inclusão..........................................................................................................................8
2.1.2. Inclusão social................................................................................................................8
2.2.3. Recreação.......................................................................................................................9
2.2.4. Lazer...............................................................................................................................9
2.2.5. Estratégias de inclusão social........................................................................................10

CAPÍTULO III: METODOLOGIA DO PROJETO.............................................................................12


3.1. Tipo de Projecto...................................................................................................................12
3.2. Abrangência geográfica........................................................................................................13
3.3. Grupo-alvo............................................................................................................................13
3.4. Técnica e instrumentos de intervenção do projecto..............................................................13

CAPÍTULO IV: APRESENTAÇÃO DO PROJECTO.........................................................................15


4.1. Apresentação do projecto.....................................................................................................15
4.1.1. Fase de concepção/diagnóstico.....................................................................................15
4.1.2. Fase de implementação.................................................................................................15
4.1.3. Fase da monitoria e avaliação.......................................................................................17

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..........................................................................................18
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CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO

1.1. Introdução
O trabalho académico em apreço consiste na apresentação de um Projeto de Intervenção
Social, na área específica de Educação e assistência Social, tendo este por finalidade e objecto
social a prestação de serviços filantrópicos, assistencial, desportivo, recreativo e educacional
na criança carente em observância ao exposto no artigo 27º desta Lei, “à criança que fique
temporária ou definitivamente privada do seu ambiente familiar ou que, no seu superior
interesse, não possa continuar integrada na sua família natural, tem direito à proteção
alternativa e assistência especial por parte do Estado, nos termos fixados por lei”.

Propõe-se intervir na problemática de crianças e adolescentes em situação de rua, que embora


tenham várias motivações, centremo-nos no fator busca de “diversão e liberdade”. Constitui
objetivo deste projeto de intervenção, retirar as crianças das ruas e oferecer actividades de
lazer e recreação, com a intenção de desenvolver novas habilidades ou aprimorar as que já
possuem.

A metodologia do projeto parte da defesa dos direitos da criança e do adolescente e dos


fundamentos da Educação Social. Para tal, são utilizados jogos e brincadeiras como
instrumentos para fomentar a participação e formação política e social dos envolvidos. As
brincadeiras realizadas em cada encontro com os participantes do projecto são programadas,
entretanto flexíveis, visto que as crianças e adolescentes têm a liberdade de sair, entrar, propor
novas regras, bem como sugerir novas brincadeiras para serem realizadas

Quanto a estrutura do trabalho, este projeto apresenta para além das notas introdutórias que é
caracterizado pela delimitação do tema, justificativa da escolha do tema, problematização e
objetivos do trabalho; A revisão da literatura constituída por algumas literaturas sobre
Inclusão social das crianças da rua através da recriação e do lazer; Metodologia do projeto,
constituído pelo conjunto de técnicas e processos utilizados para resolver o problema indicado
no Projeto de intervenção e cronograma detalhado das atividades; e a apresentação do projeto,
onde são apresentados o local de Estudo, recursos necessário, resultados esperados e
referências bibliográficas.
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1.2. Problematização

Diariamente encontramos nas ruas crianças e adolescentes que não estão convivendo com
suas famílias, muitas destas crianças e adolescentes fazem da rua sua moradia, estão nos
semáforos pedindo esmola, trabalhando, ou usando drogas, outras estão em centros de
acolhimento institucional. Embora as relações familiares de crianças e adolescentes em
situação de rua sejam geralmente permeadas por conflitos, vulnerabilidades e dificuldades no
campo psicossocial e afectivo, a família permanece sendo uma importante rede de
pertencimento para esses sujeitos.

Conforme o disposto no artigo 7 da Lei nº 7/2008, Lei de Promoção e Protecção dos Direitos
da Criança, é dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do Estado assegurar à
criança, com absoluta prioridade, a efectivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à
segurança alimentar, à educação, ao desporto, ao lazer, ao trabalho, à cultura, à dignidade, ao
respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. Porém, embora exista essa lei,
ainda se verifica o descaso de algumas famílias frente a estes direitos, não respeitando assim o
que determina a lei.

São notórios os esforços feitos pelo estado e sociedade civil com vista a proteger as crianças e
adolescentes em situação de rua, entretanto, este ainda é um problema persistente que
demanda esforços para a sua completa eliminação. Pois, ainda encontramos crianças que
passam pelo processo de acolhimento institucional e reintegração familiar, que, no entanto,
retornam às ruas, bem como, situações de crianças que mesmo estando em centros de
acolhimento sentem-se em piores condições de vida, em relação ao período em que se
encontram nas ruas, ou seja, as condições de vida dos lugares de acolhimento aumentam a
saudade das ruas.

Entretanto, este projecto não tem a pretensão de apresentar-se como solução ao problema dos
meninos de rua, uma vez que este é uma questão extremamente complexa, porém, procura-se
construir uma alternativa para amenizar esta problemática. Portanto, a introdução do lazer e
da recriação junto aos meninos de rua tem sua validade assegurada se se pensar que essas
crianças e adolescentes ainda estão em fase de desenvolvimento e formação da personalidade
e, não obstante as situações em que vivem, poderão encontrar durante estas actividades
oportunidades de entender o sentido da sua existência no seio do movimento e do prazer
causado pelas actividades.
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Conforme argumenta ABRAHÃO JUNIOR (2020), o lazer e a recreação são um conjunto de


ocupações às quais o indivíduo se pode entregar de livre vontade. Ele pode ser ainda uma área
específica da experiência humana com seus próprios benefícios, incluindo liberdade de
escolha, criatividade, satisfação, diversão e alegria.

Diante do acima exposto, levanta-se a seguinte questão de partida: Que acções podem
minimizar a permanência das crianças na rua?

1.3. Justificativa

Para além do imperativo académico de terminar a formação com uma monografia, projecto,
ou exame de estado, a realização deste trabalho constitui uma janela de oportunidade para
aprendizagem e aprofundamento das minhas habilidades de pesquisa e de projecto de
intervenção na minha área de formação. Por outro lado, importa salientar que o interesse por
este projecto surgiu a quanto das aulas práticas momento a partir do qual constatei a
existência desta situação.

Do ponto de vista da importância deste para as crianças justifica-se pelo facto de permitir que
as crianças possam gozar da alegria, satisfação e bem-estar que resulta da permanência desta
na família ou na instituição de acolhimento, de acordo com os princípios de direito
elementares previstos pela lei de proteção da criança, e a formação das crianças para
cumprirem com os seus deveres na família, na escola e na comunidade.

No que tange a família e a comunidade, a realização desse projecto é pertinente, pois, nos
permitira sensibilizar as famílias e as comunidades para o respeito ao direito da criança a
liberdade de expressão e participação nas questões que a dizem respeito em função da sua
idade e maturidade, aprendizagem e construção de experiências de relacionamentos saudáveis
com seus filhos e os demais elementos da comunidade. assim, promover um dos direitos
fundamentais da criança e do adolescente, que é o direito a família e a protecção. Este
projecto constitui um instrumento de integração da criança, no contexto académico, familiar,
entre outros, afastando-a assim, de ambientes que contribuem para o desenvolvimento da
delinquência social (criminalidade, desemprego, analfabetismo, etc.).

Do ponto de vista académico e social, o projecto poderá servir de fonte para a realização de
práticas e estratégias para os futuros formandos, assim como, para a realização de pesquisas
7

com vista ao desenvolvimento de conhecimento aprofundado sobre o fenómeno, experimentar


teorias, realizar pesquisas e análises de resultados.

1.4. Objetivos

1.4.1. Objetivo Geral


Promover a permanência das crianças da rua junto dos locais de acolhimento por meio de
actividades de recreativas.

1.4.2. Objetivos Específicos


⮚ Criar espaços recreativos para acolhimento das crianças da rua;
⮚ Realizar actividades de integração das crianças da rua nas actividades recreativas e
de debate;
⮚ Mobilizar as comunidades/famílias para o envolvimento activo na integração da
criança da rua.
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2. CAPÍTULO II: REVISÃO DA LITERATURA

2.1. Conceitos Básicos

2.1.1. Inclusão
Etimologicamente, a palavra inclusão provém do verbo incluir (do Latim Includere) que
significa conter em compreender, fazer parte de ou participar de. Assim, falar de inclusão é
falar do educando que se sente contido e parte da escola, ao participar de todas as
possibilidades educativas oferecidas pelo sistema educacional, contribuindo, portanto, com o
seu potencial (BREVILHERE & STEINLE, 2008).

De acordo com Leitão (2006, p. 34) apud CAMPUS (2017), a inclusão é proporcionar a todos
e cada um, o acesso às melhores condições de vida e de aprendizagem possíveis. Não apenas
alguns, mas todos, necessitam e devem beneficiar da aceitação, ajuda e solidariedade, dos
seus pares, num clima onde ser diferente é um valor.

Sendo assim, a inclusão pressupõe reconhecer que o outro, independentemente das suas
necessidades, precisa fazer parte da sociedade, não como “diferente”, mas sim, como parte
dela. Visa à aceitação das diferenças individuais, à valorização da contribuição de cada
pessoa.

2.1.2. Inclusão social

De acordo com Sheppard (2006, p. 22) apud ALVINO-BORBA & MATA-LIMA (2011), a
inclusão social está relacionada com a procura de estabilidade social através da cidadania
social, ou seja, todos os cidadãos têm os mesmos direitos na sociedade. A cidadania social
preocupa-se com a implementação do bem-estar das pessoas como cidadãos.

Para LACLAU (2006) a inclusão social é uma questão de abertura e de gestão: abertura,
entendida como sensibilidade para identificar e recolher as manifestações de insatisfação e
dissensos sociais, para reconhecer a “diversidade” social e cultural; gestão, entendida como
crença no caráter quantificável, operacionalizável, de tais demandas e questionamentos,
administráveis por meio de técnicas gerenciais e da alocação de recursos em projetos e
programas (as políticas públicas).
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Segundo LOPES (2006) inclusão social são as políticas sociais contemporâneas que
priorizam, equivocadamente, atingir os excluídos que estão no limite das privações através de
programas focalizados que sustentam rótulos de “inclusão social”.

Entende-se com os conceitos acima, que, a inclusão social é o termo utilizado para designar
toda e qualquer política de inserção de pessoas ou grupos excluídos na sociedade. Portanto,
falar de inclusão social é remeter ao seu inverso, a exclusão social.

2.2.3. Recreação
A palavra recreação vem do verbo latino recreare que significa reproduzir e/ou renovar. Deve
ser entendida como uma atividade espontânea, natural, divertida, onde as pessoas buscam
acções que melhorem sua qualidade de vida, satisfazendo suas necessidades físicas, psíquicas
e mentais de forma prazerosa (YUKIT 1970; STREET; HAYLEY; CUTT, 2007 citados por
ABRAHÃO JUNIOR & PEZUK, 2020).

Para Brêtas (1997) citado por SILVA et al (2011), recreação pode ser entendida como o criar,
o recrear e o recriar-se, que está intimamente atrelado à acção do homem sobre o mundo.
Constitui-se, assim, num espaço privilegiado para a construção coletiva de novos
conhecimentos e, ainda, em possibilidade de influenciar educadores mais comprometidos com
as mudanças necessárias para o surgimento de uma sociedade pautada em valores mais
humanos.

Para esses autores, a recreação é uma actividade espontânea de criação na qual os


participantes buscam prazer e satisfação. Entretanto, para efeitos desta pesquisa,
consideramos a definição de Brêtas (1997) apud SILVA et al (2011), pois destaca o papel
educativo da recreação na formação de valores humanos.

2.2.4. Lazer
Segundo NUNES & HUTZ (2014), numa perspetiva psicológica, o lazer seria a satisfação de
uma necessidade humana complexa, que é colocada em prática por meio de experiências que
são individualmente definidas como prazerosas.

Sob ponto de vista da sociologia, o lazer é visto como “tempo orientado para a realização da
pessoa com fim último” (Dumazedier, 1974, p. 91 citado por BARBOSA, 2017). Nessa
perspetiva o lazer é tido como o tempo em que o indivíduo está livre de suas obrigações,
porém, não necessariamente uma atividade prazerosa.
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Witt e Bishop (2009) citados NUNES & HUTZ (2014), afirmam que cada pessoa define o
lazer de acordo com os seus gostos e com os recursos disponíveis para satisfazer as suas
necessidades, e poderá valorizar os resultados de maneira diferenciada, de acordo com o seu
sistema de valores e aspirações. A actividade de lazer depende do significado que a pessoa lhe
dá, e não da actividade em si. Com isso, o lazer pode assumir formas diversas para diferentes
pessoas, ou seja, uma mesma atividade pode ser vista como obrigação ou como lazer.

Percebe-se assim que lazer é um tempo, e que a recreação está relacionada às actividades
nelas desenvolvidas. A diferença entre o lazer e a recriação está na escolha das atividades
exercidas. Enquanto no lazer, o indivíduo possui liberdade de escolha, na recreação as
atividades estão presentes e são impulsionadas por motivos diversos, seja de aspecto físico,
psicológico ou social.

2.2.5. Estratégias de inclusão social

A inclusão social pode ser considerada como um processo utópico por alguns autores, mas,
por outro lado, também é considerado como um processo que tenta, de alguma forma, reverter
ou atenuar os efeitos provocados pelos processos de exclusão social.

De acordo com COUTO (2015) viabilizar a inclusão é responsabilidade do poder público do


Estado. E isso deve acontecer a partir de acções governamentais essenciais para o
desenvolvimento da cidadania. Essas acções devem compartilhar em seu interior não apenas a
renda, mas também o acesso às políticas e aos serviços sociais. Essa seria a função da
inclusão social compreendida como a possibilidade de enfrentamento da situação de exclusão
por meio da implementação de políticas sociais.

Dentre essas políticas podemos citar, em particular, a Assistência Social. Considerada por
YAZBEK (2004) apud COUTO (2015) como política estratégica de inclusão, esta tem como
princípio contribuir para a melhoria das condições de vida dos sujeitos, definindo a garantia
dos direitos daqueles que enfrentam processos de exclusão social e expansão da cidadania
para a classe trabalhadora, principalmente aos que não têm inserção formal no mercado de
trabalho.

PEREIRA (2013), em seu trabalho sobre a proteção social contemporânea, abordou duas
categorias de assistência social: do tipo “stricto sensu”, voltada especialmente para a pobreza
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absoluta, preocupada em trabalhar de forma emergencial, assistencialista e focalizada e a do


tipo “lato sensu”, a qual busca trabalhar com a pobreza relativa, causada pela desigualdade
social, como uma política de seguridade, com propostas de democratização e de inclusão
social. Assim, a assistência foi identificada como uma política de inclusão social já que é no
desenvolvimento da mesma que os excluídos encontram apoio e serviços.

PEREIRA (2013) considera ainda que falar sobre assistência social é uma tarefa complexa,
uma vez que, ela ainda não é considerada como uma política de direitos. Este autor, defende
que existem preconceitos e distorções quanto ao seu conceito. Conforme expressou SPOSATI
(1995), de uma maneira geral, compreende-se a assistência de forma restrita, como uma
concessão de auxílios em situações consideradas de risco ou vulnerabilidade. A literatura que
trata do tema muitas vezes mostra que ela é entendida e explicada pelas funções que exerce ou
pelo local institucional onde a assistência foi implementada.

No contexto Moçambicano os princípios estratégicos da Assistência social são: Não


institucionalização; promoção da participação da sociedade civil; participação comunitária,
justiça social, perspectiva de género, respeito pela diversidade cultural do país e
aproveitamento dos elementos comuns unificadores, para os objectos de desenvolvimento
social de todos; e sustentabilidade das acções e programas (RESOLUÇÃO no 46/2017). Tais
estratégias dividem-se em dois níveis: Institucional e Operativo.

A nível Institucional, a coordenação realiza-se através da implementação de mecanismos de


troca de informação, de diálogo e concertação, evitando-se deste modo a sobreposição de
actividades que são desenvolvidas por diversas instituições.

A nível operativo, desenrola-se a partir de acções na área da criança, mulher, deficiência,


terceira idade, toxicodependência, doente crónico, recluso, refugiado/repatriado e
deslocado/regressado.


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CAPÍTULO III: METODOLOGIA DO PROJETO


Este capítulo discute a metodologia usada para no presente projecto, no que se refere à
abordagem metodológica, às técnicas e instrumentos de intervenção social, grupo alvo e as
diretrizes éticas seguidas. Ademais, a metodologia utilizada diz respeito as recomendações
científicas neste domínio, contudo, a intervenção é suportada por uma consulta bibliográfica e
outros documentos que estão devidamente referenciados nas citações ao longo do
desenvolvimento de cada capítulo.

As metodologias implicam a definição de tarefas, normas e procedimentos para a sua


execução sendo o “método o caminho que se escolhe para a obtenção de um fim” (Espinoza,
1986, p.89 apud SERRANO, 2008). É através deste elemento que se compreende o conjunto
de actividades a desenvolver na execução do projeto, ou seja, as acções e os procedimentos
que se devem realizar para alcançar as metas e os objectivos propostos (SERRANO, 2008).

3.1. Tipo de intervenção

Trata-se de um projecto de intervenção social que visa promover a permanência das crianças
da rua junto dos locais de acolhimento por meio de actividades de recreativas. Sendo assim,
para sua execução, adoptamos a metodológica participativa ZOOP, por se adequar a natureza
do projecto.

Segundo Telles (1998) apud SANTOS (2013), planificar de forma participativa um projecto
social, significa dar voz às pessoas que estão directamente envolvidas na situação-problema
na qual se pretende intervir, sejam as que sofrem suas consequências ou as que dela tiram
proveito; desenvolver conhecimento comum sobre a situação que integre os saberes dos
especialistas, quanto os das pessoas comuns; alegar alternativas, formular estratégias e tomar
decisões em conjunto.

3.2. Abrangência geográfica

O contexto no qual se desenvolveu a intervenção foi o distrito municipal de KaMpfumo, do


qual fazem parte os bairros Central A, B e C; Alto Maé A e B; Malhangalene A e B; Polana
Cimento A e B, Coop e Sommerschield.

As actividades serão realizadas nos bairros onde meninos de rua costumam se reunir. Em
suma, pressupõe inicialmente o mapeamento do território, a partir de abordagens sistemáticas,
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ou seja, tendo em conta o ambiente em que ele é oriundo, bem como no qual esta inserido;
identificando locais onde exista situação de crianças de rua, podendo também a comunidade
solicitar abordagens, quando necessário, através de um telefone central.

3.3. Grupo-alvo

Tendo em conta o âmbito da intervenção, verifica-se que o grupo-alvo é muito diversificado.


Contudo, conscientes do nosso papel e finalidade, realçamos que o principal grupo-alvo são as
crianças da rua entre 7 a 14 anos, com histórico ou não de integração. A escolha deste grupo
etário, surge como resultado de um processo de trabalho de campo, que teve em conta a
questão da regularidade e uniformidade etária dos membros nos grupos sociais em que se
pretende intervir, a partir de uma observação não participante nos locais por eles preferidos
(nas ruas) e nos centros de acolhimento.

Pretende-se abranger cerca de 100 crianças em situação de rua, divididos em três grupos
focais em sítios estratégicos, previamente escolhidos arredores da cidade de Maputo.

3.4. Técnica e instrumentos de intervenção do projecto

Para a execução do projecto foram usadas os seguintes instrumentos e técnicas: entrevista, a


visita social, dinâmica de grupo, o relatório social, o debate e grupos de reflexão.

Para TRINDADE (2004), a entrevista é um instrumento que permite realizar uma escuta


qualificada, por meio do processo de diálogo, visa estabelecer uma relação com o usuário,
com objetivo de conhecer e intervir em sua realidade social, econômica, cultural e política,
podendo ser individual ou grupal. Para o caso concreto desta pesquisa, iremos privilegiar a
entrevista individual com o objectivo de: promover o conhecimento da realidade dos usuários;
e realizar os encaminhamentos e orientações necessários para a garantia de direitos.

A visita social é um instrumento de suma importância e pode ser domiciliar ou institucional.


Neste caso, iremos priorizar a visita institucional que consiste em conhecer e avaliar a
qualidade dos serviços prestados pelas entidades sociais públicas ou privadas (AMARO,
2003). Este instrumento será útil para averiguar se as instituições de acolhimento oferecem
instalações físicas em condições adequadas de acessibilidade, habitabilidade, segurança,
higiene e salubridade as crianças residentes.
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Dinâmica de grupo é uma técnica, que utiliza jogos, brincadeiras ou simulações de modo a
provocar uma reflexão acerca de uma determinada temática que tenha relação com o objeto de
intervenção, e que no caso do Serviço Social, tem o assistente social como facilitador
(TRINDADE, 2004). Visto que a nossa intervenção privilegiará o lazer e a recreação em suas
actividades, faz-se pertinente o uso desta técnica no projecto.

Debate é um diálogo formal, argumentativo, no qual duas ou mais pessoas expõem seu
parecer sobre um determinado assunto (AMARO, 2003). Esta técnica será útil na medida em
que permitirá que as crianças exponham seu ponto de vista com relação a tema polémicos que
tenham haver com a vida nas ruas, e assim, os assistentes sociais possam perceber os pontos
de vista delas. Esta técnica, permite que os participantes exponham suas opiniões, sem que se
sintam reprimidos.

Grupos de reflexão é uma técnica de apoio psicológico emocional que contribui para que os
indivíduos envolvidos possam lidar com medos, angustias preocupações e anseios (Faleiros,
1985, p. 24 apud AMARO, 2003). Nesse sentido, usaremos esta técnica, juntamente com a
dinâmica de grupo, para criar à possibilidade dos sujeitos se descobrirem como tal, assim
como o reconhecimento de sua identidade social e valores, construindo vivências novas e
refletindo sobre as suas experiências.

3.5. Questões éticas do projecto


A intervenção com crianças em situação de rua envolve dilemas éticos específicos, os quais
demandam dos pesquisadores especial atenção e vigilância para garantir a protecção dos
direitos dessa população. Tratam-se de situações que emergem no contexto de intervenção e
têm especial conexão com a forma como essa população vive, a qual se caracteriza por uma
história de violação de direitos; uma intensa circulação entre espaços diferentes das cidades;
envolvimento com atos ilícitos; além de outras situações que podem colocar a sua vida em
risco (MORAIS, NEIVA-SILVA, & KOLLER, 2010).

Nesse sentido, dentre as principais questões éticas em intervenção, procuraremos assegurar às


crianças:

 O direito à explicitação da proposta do projecto, com ênfase nos seus objectivos,


métodos e propósitos, garantindo todas as informações necessárias para que o Termo
de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) seja efectivamente uma escolha/opção
desses sujeitos e/ou daqueles que por eles são responsáveis;
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 O respeito aos direitos de privacidade e confidencialidade, nas condições de


construção e de divulgação dos dados;
 As informações sobre os possíveis benefícios do projecto e a garantia de que o mesmo
não será submetido a situações consideradas de risco;
 O direito de não-participação em situações que julgar inapropriadas, inadequadas ou
que lhe causem algum incômodo, e o direito de deixar de participar do projecto em
qualquer momento de seu percurso;
 A garantia de que os custos da participação no projecto (deslocamento, alimentação,
materiais, etc.) serão de responsabilidade dos coordenadores do projecto e que a
participação deverá se dar em horários que não prejudiquem outras actividades
exercidas pelos sujeitos, incluindo as remuneradas. Trata-se, nesse caso, de crianças
em situação de rua, nos vários contextos em que exercem actividades as quais, apesar
de proibidas pela legislação, ainda persistem. São exemplos, crianças trabalhando nas
ruas, pedindo esmola, dentre outras.

Para a realização de palestras e actividades nos bairros eleitos, iremos submeter um pedido de
autorização anexado ao plano detalhado do projecto ao Conselho Municipal da cidade de
Maputo, assim, pretendemos conseguir o deferimento legal para intervir na comunidade.
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CAPÍTULO IV: APRESENTAÇÃO DO PROJECTO

4.1. Apresentação do projecto

As principais fases/etapas do Projeto de Intervenção são as seguintes: conceção/ diagnóstico,


implementação, monitorização e avaliação.

4.1.1. Fase de concepção/diagnóstico

Tem a função de verificar as hipóteses que originaram o projeto, permitindo o


aprofundamento das indagações levantadas no estudo de viabilidade e o avanço no
conhecimento de todas as questões que envolvem a problemática e o projeto. Esta fase
subdividiu-se em duas actividades

 1º actividade: Nesta etapa iremos fazer o levantamento contextual do projecto.


Buscamos conhecer as expetativas da criança e da comunidade com relação ao
projecto. Busca-se aqui, uma visão da situação inicial dos potenciais beneficiários por
meio do levantamento detalhado de dados e informações que demonstrem suas
condições de vida, através, da visita social nos pontos de frequência e permanência de
crianças e de adolescentes de rua, identificando as áreas de circulação e locais onde
estes se encontram. Essas informações subsidiaram o monitoramento ao longo do
projeto e suas avaliações finais.
 2ª actividade: Identificação das dinâmicas sociais do problema identificado e
identificação das percepções, experiências, e o que esperam os beneficiários em
relação à situação problema, através da entrevista, onde busca-se conhecer as
motivações por detrás desse estilo de vida.
 3ª actividade: Palestras com os membros da comunidade para dar conhecimento do
projecto, explicitando os seus principais objetivos. O objectivo é engajar a todos os
envolvidos sejam cidadãos beneficiários ou equipe da organização promotora, no
projecto.
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4.1.2. Fase de implementação

É a fase mais complexa de todo o ciclo, pois este é o momento do desenvolvimento das
actividades e da utilização dos recursos, tendo como alvo o alcance dos resultados e objetivos
estipulados. Para tal serão realizadas as seguintes actividades:

 1ª actividade: Aproximação dos profissionais da equipa (assistentes sociais) para uma


primeira abordagem, seguindo-se quantas forem necessárias para a construção de
vínculo. Esta, supõe um processo de iniciativa por parte dos assistentes sociais, ao
tempo que é imperativo o respeito ao interesse e o desejo de que a aproximação
ocorra.
 2ª actividade: Contacto com o público alvo com a frequência de cinco vezes na
semana, contemplando oito horas diárias, durante o período de férias escolares. A
organização dos dados/informações é efetivada em um cadastro, para cada criança
contactada entre as observadas, registrando-se sexo, idade, local de procedência
(endereço exato), vínculo familiar, escolaridade, inserção em trabalho infantil/juvenil
e programas de acolhimento.
 3ª actividade: No decorrer do projecto serão realizados encontros semanais da equipe
de educadores, intercalando os relatos dos educadores sobre as actividades nas ruas e
os contactos com as crianças e com os adolescentes; Contactos com instituições
públicas e privadas para colecta e repasse de informações, bem como para
encaminhamentos, quando necessário. Como resultado desses encontros, será feita a
elaboração e distribuição de relatórios aos organismos responsáveis pela definição de
políticas sociais. Tais relatórios abordam o desenvolvimento do trabalho, a
socialização das informações e os dados já obtidos. Far-se-á também Análise dos
dados e discussão dos resultados.

4.1.3. Fase da monitoria e avaliação

Corresponde ao momento em que se questionam os resultados e os impactos de todos os


esforços e recursos envolvidos. Diferente da avaliação contínua, que acontece ao longo da
implementação, essa acontece em espaços maiores de tempo, normalmente em períodos
marcantes ao longo do projecto, como, por exemplo, ao final de cada ano. Dessa forma, a
conclusão de um projeto pressupõe uma avaliação final seguida pela elaboração de relatórios,
que apontem os resultados e ou impactos alcançados com suas acções.
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5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABRAHÃO JUNIOR, Virgílio & PEZUK, Julia Alejandra. O Papel da Recreação e do Lazer
na Inclusão Social de Adolescentes. 147 Rev. Ens. Educ. Cienc. Human., v. 21, n. 2, p. 147-
153,
2020. Disponível em https://www.researchgate.net/publication/345092537_O_Papel_da_Recr
eacao_e_do_Lazer_na_Inclusao_Social_de_Adolescentes. Acesso aos 04 de Jul. 2021.

ALVINO-BORBA, Andreilcy & MATA-LIMA, Herlander. Exclusão e inclusão social nas


sociedades modernas: um olhar sobre a situação em Portugal e na União Europeia. Serv.
Soc. Soc., São Paulo, n. 106, p. 219-240, Abr./Jun. 2011. Disponível em
https://www.scielo.br/j/sssoc/a/m9myrdnWWqsDjph5WRsRHym/?format= pdf & lang=pt.
Acessos em  01  Jul.  2021.

AMARO, Sarita. Visita Domiciliar Guia para uma abordagem complexa. AGE Editora. 2003.

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