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O desaparecimento do jornalismo investigativo

Não temos no Brasil atualmente, com exceção do site The Intercept


Brasil, um verdadeiro jornalismo investigativo. A grande imprensa não
tem correspondentes internacionais na maior parte do mundo e, onde
tem, eles chegam sempre atrasados em relação aos fatos. A informação
que consumimos, em geral, é de segunda mão e os grandes furos não
vem através de investição, mas repassados por alguém, o que facilita a
manipulação do jornalismo.

A Lava Jato, não só em função da manipulação de membros do MPF


(Ministério Público Federal) e do Judiciário, mas também pelo desejo
dos donos dos veículos de imprensa, foi o assunto principal dos veículos
da imprensa brasileira. Todos os seus furos, sem exceção, foram
provenientes de vazamentos ilegais por parte de agentes públicos.
Esses agentes tinham interesse que o vazamento se transformasse em
uma matéria e, assim, fosse veiculada por um grande órgão da mídia.
Percebam, vazamento, especialmente dessa forma, não é investigação,
mas um presente de grego para o jornalista. Primeiro, porque diversos
deles foram desmentidos através da Vaza Jato (Intercept); segundo,
porque não atenderam o objetivo principal do jornalismo, ode informar
de maneira isenta. Portanto, não houve investigação no caso da LAva
Jato, apenas um jornalismo partidário que nunca apresentou nenhuma
prova encontrada através de um trabalho árduo de investigação
jornalística.

Outro exemplo disso é o caso de Bolsonaro, sua mulher e seus filhos


mais famosos. A imprensa só conseguiu veicular aquilo que foi dado de
presente a ela. áudios vazados por desafetos, Bolsonaro falando alto
demais, listas de depósitos vindas do Coaf, enfim, aquilo que
simplesmente foi jogado no colo da imprensa. Queiroz, assessor de
Flávio Bolsonaro, amigo de longa data de Jair Bolsonaro e sua família,
peça-chave no esquema das rachadinhas, sumiu e só foi achado muito
tempo depois, estando em São Paulo. Quanta investigação!

As manchas de óleo que surgiram no Nordeste brasileiro estão


fornecendo um grande material para imprensa nacional. Entretanto,
tudo que nos é informado é proveniente do governo, que praticamente
nada pesquisa sobre o assunto, e da população, de maneira empírica.

Fico imaginando se tivesse o poder e o dinheiro de um grande


conglomerado de mídia e comunicação o que faria no caso acima.
Primeiramente, contrataria uma excelente empresa especializada para
analisar o material. Depois, conseguiria a lista de todos os navios,
juntamente com suas cargas, na data provável do aconteceimento.
Também conseguiria uma amostra do óleo do barril da Shell encontrado
em Natal e faria uma investigação com membros da empresa, além de
procurar as primeiras pessoas que avistaram essas manchas de óleo.
Mas não tenho esse dinheiro e minhas ideias, infelizmente, não
poderão ser concretizadas.

Enfim, o jornalismo investigativo está desaparecendo da imprensa


brasileira e, pelo jeito, vai parar no mesmo lugar da opinião
contraditória, isto é, em lugar nenhum.

Alexandre Lessa da Silva

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