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Introdução:
A Pessoa e obra do Espírito Santo têm sido esquecidas! Talvez os últimos cem
anos tenham sido um dos períodos mais omissos quanto ao Espírito Santo. Parado-
xalmente, quando consultamos os catálogos de livros evangélicos, “navegamos” na
3
“internet” ou adentramos em livrarias de material evangélico, nos surpreendemos
com a quantidade de livros, opúsculos, sermões, apostilas, cursos, fitas de vídeo,
“K7”, “CDs”, “DVDs” e outros meios semelhantes, sobre o Espírito. De fato, reafirmo,
o Espírito tem sido esquecido!
O Espírito tem sido esquecido porque os discursos modernos sobre Ele, parecem
não ser “elaborados” no Espírito, em submissão ao Espírito. Parece-me que a tenta-
ção humana é de ir “além” do que o Espírito vai; e, portanto, além do que requereu
de nós. Curiosamente, estas tentativas, são permeadas por um discurso “libertador”
do Espírito. No entanto, todas as vezes que tratamos do Espírito alheado do Seu
próprio desejo – conforme registrado nas Escrituras –, nos esquecemos do Espírito;
Ele passa a ser o tema de nossas cogitações, não da Sua revelação. Temos nos es-
quecido do Espírito!
1
Estudo ministrado na Escola Dominical da Igreja Presbiteriana em São Bernardo do Campo, SP., no
dia 19 de julho de 2009.
2
The Catechetical Lectures, XVI.1. In: P. Schaff & H. Wace, eds. Nicene and Post-Nicene Fathers of
the Christian Church, (Second Series), Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, 1978, Vol. VII, p. 115.
3
Esta é também uma preocupação do movimento carismático dentro da Igreja Católica. Vd. Hermann
Brandt, O Risco do Espírito: Um Estudo Pneumatológico, São Leopoldo, RS.: Sinodal, 1977, p. 7-8.
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rio, ela honra o Espírito, porque este conhecimento só pode ser alcançado por obra
de Deus (Mt 11.27; 16.17) e, é o Espírito de Deus Quem nos conduz à verdadeira
compreensão de Cristo. A confissão do Cristo por parte da Igreja, é, de certa forma,
a glória do Espírito (Jo 14.26; 15.26; 16.13-15/1Co 12.3). Bruner, analisando a atitu-
de de Paulo em relação a alguns discípulos em Éfeso que nada sabiam sobre o Es-
pírito Santo (At 19.1-7), mostra que o apóstolo passou-lhes a ensinar sobre o batis-
mo de Jesus (At 19.4). Conclui: “Este fato é relevante. O remédio para aqueles
que sabem pouco ou nada acerca do Espírito Santo não é instrução especi-
al sobre Ele, nem o conhecimento sobre o acesso ao Espírito, nem uma nova
coleção de condições, um novo regime de esvaziamento, de obediências
adicionais, de dedicação mais profunda, ou de orações ardentes, mas, pelo
contrário, simplesmente o grande fato: o evangelho da fé no Senhor Jesus
4
Cristo e o batismo em Seu nome”. Lloyd-Jones (1899-1981) faz um comentário
pertinente: “Ao meu ver, esta é uma das coisas mais espantosas e extraordi-
nárias acerca da doutrina bíblica sobre o Espírito Santo. Ele parece esquivar-
5
se e ocultar-se. Ele está sempre, por assim dizer, focalizando o Filho....”.
4
Frederick D. Bruner, Teologia do Espírito Santo, São Paulo: Vida Nova, 1983, p. 160.
5
D. Martyn Lloyd-Jones, Deus o Espírito Santo, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas,
1998, p. 31. À frente: “Ele não ensina acerca de Si mesmo, nem chama a atenção para Si
mesmo, nem glorifica a Si mesmo. Ele está o tempo todo chamando a atenção para o Se-
nhor, e essa é a característica de toda a obra do Espírito Santo” (D. Martyn Lloyd-Jones, Deus
o Espírito Santo, p. 61).
6
Tenho aqui em mente, as oportunas observações de Calvino: "As cousas que o Senhor deixou re-
cônditas em secreto não perscrutemos, as que pôs a descoberto não negligenciemos, para
que não sejamos condenados ou de excessiva curiosidade, de uma parte, ou de ingratidão,
de outra" (As Institutas, III.21.4). “Tudo o mais que pesa sobre nós e que devemos buscar é
nada sabermos senão o que o Senhor quis revelar à Sua igreja. Eis o limite de nosso conhe-
cimento” [João Calvino, Exposição de 2 Coríntios, São Paulo: Edições Parácletos, 1995 (2Co 12.4),
p. 242-243]. “....Que esta seja a nossa regra sacra: não procurar saber nada mais senão o
que a Escritura nos ensina. Onde o Senhor fecha seus próprios lábios, que nós igualmente
impeçamos nossas mentes de avançar sequer um passo a mais” [J. Calvino, Exposição de Ro-
manos, São Paulo: Paracletos, 1997, (Rm 9.14), p. 330].
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O Antigo Testamento emprega a palavra (ahUr) (rüah), para “espírito”, sendo tra-
duzida por “vento”, “espírito”, “alento”, “hálito”, “sopro”, etc. A idéia básica é de “ar
8
em movimento” (Gn 2.7; Ex 10.13,19; 14.21; Dt 32.11; Jó 1.19; Is 7.2). Entretanto,
“não é tanto o movimento por si que desperta a atenção, mas, sim, a ener-
9
gia que semelhante movimento manifesta”. “Não expressa imaterialidade,
10
mas a energia da vida em Deus”, resume Vos. Fazendo eco a Vos, Ferguson
enfatiza: “O que está em vista é energia em vez de imaterialidade. (...) A ên-
11
fase é posta, antes, em sua esmagadora energia”. (Is 25.4; 40.7; 59.19; Hc
7
Abraham Kuyper, The Work of the Holy Spirit, Chaattanooga: AMG. Publishers, 1995, p. XV-XVI.
8
J. Barton Payne, hUr: In: R. Laird Harris, ed., Theological Wordbook of the Old Testament, 2ª ed.
Chicago: Moody Press, 1981. Vol. 2, p. 836a.
9
E. Kamlah, et. al., Espírito: In: Colin Brown, ed. ger. Teologia do Novo Testamento,O Novo Dicioná-
rio Internacional de Teologia do Novo Testamento, São Paulo: Vida Nova, 1981-1983, Vol. II, p.124
(Doravante citado como NDITNT). “O pensamento implícito em rûah é que a ‘respiração’, com
o movimento do ar que ela acarreta, é a expressão externa da força vital inerente em todo
o comportamento humano” (Idem, Ibidem, II, p. 124). Por outro lado, recorrendo à figura do vento,
podemos dizer que: “.... Os hebreus conheciam muito bem o poder do vento. Uma tempesta-
de de areia no deserto é uma potência que pode destruir até homens. Tremendo poder!
Quando falam do Espírito de Deus estão pensando no poder de Deus, Seu alento, aquilo
que se emite Dele e que sai ao mundo para cumprir Seus propósitos. Na realidade este é o
conceito do Espírito no Antigo Testamento, o poder de Deus que sai ao mundo para realizar
algum propósito determinado que Deus tem” (Hoke Smith, Teologia Biblica dEl Espiritu Santo,
Buenos Aires: Casa Bautista de Publicaciones, 1976, p. 14-15). Vd. também, A.B. Davidson, The
Theology of the Old Testament, Edinburgh: T. & T. Clark, 1904, p. 193; A.B. Crabtree, Teologia do An-
tigo Testamento, 2ª ed. Rio de Janeiro: JUERP., 1977, p. 65-66; Sinclair B. Ferguson, O Espírito San-
to, São Paulo: Editora Os Puritanos, 2000, p. 16-19; Alister E. McGrath, Teologia Sistemática, históri-
ca e filosófica: uma introdução à teologia cristã, São Paulo: Shedd Publicações, 2005, p. 362.
10
Geerhardus Vos, Biblical Theology: Old and New Testaments, Grand Rapids, Michigan: Eerdmans,
1985 (Reprinted), p. 238.
11
Sinclair B. Ferguson, O Espírito Santo, p. 17,18.
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Algumas vezes também, ahUr indica os maus espíritos enviados da parte de Deus
(Jz 9.23; 1Sm 16.14-16,23; 18.10; 19.9; 1Rs 22.21-23/Jó 1.6-12; Is 19.14; 29.10) e
aos anjos (1Rs 19.11,12/Sl 104.4; Ez 1.12,20).
12
ARA: “ficou como fora de si”; BJ e ACR: “ficou fora de si”; ARC (1911): “não houve mais espírito ne-
la”.
13
J. Barton Payne, ahUr: In: R. Laird Harris, ed. Theological Wordbook of the Old Testament, Vol. 2, p.
836; Sinclair B. Ferguson, O Espírito Santo, p. 17.
14
F. Baumgärtel, Pneu=ma: In: G. Friedrich & G. Kittel, eds. Theological Dictionary of the New Testa-
ment, Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, 1982, Vol. VI, p. 364. (Doravante citado como TDNT).
15
Ver: Alister E. McGrath, Teologia Sistemática, histórica e filosófica: uma introdução à teologia cris-
tã, São Paulo: Shedd Publicações, 2005, p. 362.
16
378 vezes em hebraico e 11 em aramaico (Cf. Hans W. Wolff, Antropologia do Antigo Testamento,
2ª ed. São Paulo: Loyola, 1983, p. 51). Vejam-se também: J. Barton Payne, hUr: In: R. Laird Harris,
ed. Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento, São Paulo: Vida Nova, 1998, p. 1407
e Wilf Hildebrandt, Teologia do Espírito de Deus no Antigo Testamento, São Paulo: Editora Academia
Cristã, 2004, p. 17.
17
Como sabemos, o tetragrama YHWH é o nome pessoal de Deus, considerado pelos judeus como
o nome por excelência de Deus; ele é usado 5321vezes no Antigo Testamento. “É especialmente
no nome Yhwh que o Senhor se revela como o Deus de Graça” (Herman Bavinck, The Doctrine
of God, 2ª ed., Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, 1955, p. 103). (Sobre este assunto, vejam-se
mais detalhes em Hermisten M.P. Costa, Eu Creio, no Pai, no Filho e no Espírito Santo, São Paulo:
Edições Parakletos, 2002 e Idem, Os Nomes do Verbo Encarnado, São Paulo: 1988, p. 22-28.
18
Vd. B.B. Warfield, A Doutrina Bíblica da Trindade, Leiria: Edições Vida Nova, (s.d.), p. 165.
19
Wolff acentua que: “A maioria dos textos que tratam da rûach de Deus ou dos homens mos-
tra Deus e o homem em relação dinâmica. O fato de que um homem como rûach é vivo,
quer o bem e age com autorização não vem dele mesmo.” (H.W. Wolff, Antropologia do Anti-
go Testamento, p. 60).
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20
dor de toda criação (Gn 1.2; 6.3; Jz 3.10; 13.15/14.6; 1Sm 10.6; Jó 26.13; 33.4;
34.14-15; Sl 104.29-30; 146.4; Ec 12.7; Is 40.7), inclusive dos animais (Gn 6.17;
7.15,22; Ec 3.19-21). Considerando a variedade de emprego da palavra, torna-se,
em determinados casos, necessário um exame cuidadoso do contexto no qual o
termo ocorre.
20
Vd. Walther Eichrodt, Teologia Del Antiguo Testamento, Madrid: Ediciones Cristiandad, 1975, Vol. I,
p. 196; Vd. também, Vol. II, p. 56ss; Sinclair B. Ferguson, O Espírito Santo, p. 20-24; Alister E. Mc-
Grath, Teologia Sistemática, histórica e filosófica: uma introdução à teologia cristã, p. 363.
21
O profeta aqui alude a si mesmo e ao Espírito, indicando a sua inspiração profética (Cf. Is 61.1; Ez
2.2; 11.5; 37.1; Zc 7.12). (Vd. A.R. Crabtree, A Profecia de Isaías, Rio de Janeiro: Casa Publicadora
Batista, 1967, Vol. 1, p. 166; C.F. Keil & F. Delitzsch, Commentary on the Old Testament, Grand Ra-
pids, Michigan: Eerdmans, Vol. VII/2, 1969, p. 252-253).
22
Aqui, Zacarias fala de forma poética do Espírito de Deus como sendo os “sete olhos”. Figura
análoga é empregada em Ap 4.5. (Vd. J. Barton Payne, The Theology of the Older Testament, Grand
Rapids, Michigan: Zondervan, © 1961, p. 174).
23
Um contraste relevante é feito, quando é dito que os ídolos não têm hUr (Jr 10.14; Hc 2.19).
24
B.B. Warfield, A Doutrina Bíblica da Trindade, p. 130-131.
25
Sinclair B. Ferguson, O Espírito Santo, p. 40.
26
Vd. Hermisten M.P. Costa, A Inspiração e Inerrância das Escrituras, São Paulo: Editora Cultura
Cristã, 1998; Idem, A Harmonia dos Evangelhos, São Paulo: 1995, 10p; Idem, Unidade e Coesão das
Escrituras, São Paulo: 1995, 7p.
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também para o fato de que não podemos nos esquecer que, muitos dos textos vete-
rotestamentários ganham um sentido mais eloqüente para nós, justamente por dis-
pormos das “luzes” do Novo Testamento, direcionadas pelo Espírito Santo.
O Antigo Testamento mostra o Espírito como onisciente (Is 40.13), onipresente (Sl
139.7) e onipotente (Is 34.16), evidenciando assim, a impotência e inércia dos ído-
los, visto que estes não têm espírito, não têm vida (Hc 2.19/Jr 10.14). Somente Deus
pode conceder vitalidade, já que a vida pertence a Deus (Ez 37.14/Hc 3.2) (hfyfx)
29
(hãyãh).
30
1) NÍVEL FÍSICO E INTELECTUAL:
27
Vd. Hermisten M.P. Costa, Teologia do Espírito Santo, São Paulo: 1986, p. 1-5.
28
Cf. Abraham Kuyper, The Work of the Holy Spirit, p. 27.
29
Este verbo e os seus derivados ocorrem no Antigo Testamento cerca de 800 vezes, sendo traduzi-
do normalmente por “viver” e “vida”. A sua origem etimológica ainda não foi explicada satisfatoriamen-
te. Biblicamente, hfyfx tem o sentido de: a) Chamar à existência o que não existia: [Gn 2.7 (adjetivo:
yfx “vivente”); Jó 33.4/2Rs 5.7], e b) Preservar vivo: (Gn 7.3; 19.32; Sl 33.19; 41.2). (Vd. mais deta-
lhes In: Hermisten M.P. Costa, Avivamento Bíblico, São Paulo: 1994, 3p).
30
McGrath chama esta ação do Espírito de “carisma” (Ver: Alister E. McGrath, Teologia Sistemática,
histórica e filosófica: uma introdução à teologia cristã, p. 363).
31
“Quando o Espírito veio sobre Sansão ou sobre Saul, não foi com o intuito de torná-los san-
tos, mas para dotá-los com extraordinário poder físico e intelectual; e, quando lemos que o
Espírito se afastou deles, isso significa que eles foram privados dos dons extraordinários”
(Charles Hodge, Teologia Sistemática, São Paulo: Hagnos Editora, 2001, p. 395).
32
Vd. Sinclair B. Ferguson, O Espírito Santo, p. 26.
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2) NÍVEL RELIGIOSO-MORAL:
Após o cativeiro babilônico, Deus encoraja o povo, dizendo que o Seu Espírito
permanecia no meio dele; aqui vemos a manifestação do Deus do Pacto (Ag 2.4,5),
cuja presença por Si só é altamente estimulante (Vd. Ex 29.45,46; 33.14; Dt 31.6-8;
Js 1.9; Is 41.10,13; 43.2/2Tm 1.7; Hb 13.5). “A certeza da promessa de Deus e o
fato do Espírito sempre presente seriam suficientes para acalmar os temores
37
da comunidade.” O particípio ativo do verbo hebraico “habitar” (damf()(ãmadh) (Ag
2.5) indica a idéia de que Deus sempre esteve presente no meio do Seu povo, mes-
mo durante o cativeiro (Ed 9.9; Ne 9.17,18,20,28); a presença de Deus não é algo
pontilhado, durante determinados eventos da história, antes, é contínua, ininterrup-
33
Vd. Sinclair B. Ferguson, O Espírito Santo, p. 26-31.
34
“No tempo do Antigo Testamento, ele estava incessantemente ativo – na criação e na
preservação do universo, na providência e na revelação, na regeneração de crentes, e na
capacitação de pessoas especiais para tarefas especiais” (John Stott, John Stott. Batismo e
Plenitude do Espírito Santo, 2ª. Ampli., São Paulo: Vida Nova, 1986, p. 17).
35
João Calvino, As Institutas, (1541), II.7.
36
João Calvino, As Institutas, (1541), II.7.
37
Gerard Van Groningen, Revelação Messiânica no Velho Testamento, Campinas, SP.: Luz para o
Caminho, 1995, p. 784.
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38
ta. “Se o exílio aparentemente tinha anulado a aliança, agora o povo era
certificado de que Deus ainda estava entre eles em Espírito, como estivera
39
durante todo o êxodo (Ex 29.45).” O fundamento do Pacto está na “palavra da
aliança” e no “Espírito” presente. Aliás, a Aliança sempre está ligada à Palavra mise-
ricordiosa de Deus e ao Seu Espírito (Is 54.10; 55.3; 59.21; Ag 2.5/Dt 7.9; 1Rs 8.23;
40
Dn 9.4). O Espírito dirige a história de forma poderosa, “transpondo os obstáculos”,
fazendo com que – de uma forma misteriosa para nós –, Deus sempre cumpra a
“palavra da aliança”.
3) NÍVEL PROFÉTICO-REVELACIONAL:
Tanto neste nível como no anterior, podemos dizer que, “O Espírito, um poder
capacitador, reveste aquele sobre o qual repousa com as qualidades que o
43
próprio Espírito possui”.
Do que foi visto até aqui, depreende-se, que a experiência do profeta com o Espí-
rito não era comum a todos em Israel (Nm 11.29). Todavia, o Antigo Testamento a-
38
Davidson orienta-nos que “o particípio representa uma ação ou condição em sua coesão
contínua....” (A.B. Davidson, An Introductory Hebrew Grammar, 24ª ed. Edinburgh, T.& T. Clark, (re-
printed), 1936, § 46, p. 159). O autor continua mostrando que, enquanto o imperfeito sugere suces-
são, uma multiplicidade de ação e de pontos, o particípio indica uma linha que se prolonga sem que-
bra em sua continuidade. (Ibidem., p. 159). Isto indica, que a “história não saiu das mãos de Deus"
(D. Martyn Lloyd-Jones, As Insondáveis Riquezas de Cristo, São Paulo: Publicações Evangélicas Se-
lecionadas, 1992, p. 64. (Sobre os variados conceitos de História e a perspectiva cristã, Vd. Hermis-
ten M.P. Costa, Escatologia: O Sentido da História à Luz da Sua Consumação, São Paulo: 2004).
39
Joyce G. Baldwin, Ageu, Zacarias e Malaquias, São Paulo: Vida Nova/Mundo Cristão, © america-
na, 1972, p. 37. Mesmo no exílio, Israel continuava sendo o povo eleito de Deus (Is 41.8-14; 43.1-7).
40
Vd. Francis Turretin, Institutes of Elenctic Theology, Phillipsburg, New Jersey: P & R Publishing,
1994, Vol. II, XV.xvi.10-11.
41
C.F. Keil & F. Delitzsch, Commentary on the Old Testament, VII/1, p. 282.
42
Vd. Hermisten M.P. Costa, A Inspiração e Inerrância das Escrituras, passim. Stott resume bem a
tarefa do profeta: “A característica essencial do profeta não era prever o futuro nem interpre-
tar a atividade presente de Deus, mas falar as palavras de Deus.” (J.R.W. Stott, O Perfil do
Pregador, São Paulo: SEPAL., 1989, p. 12).
43
Gerard Van Groningen, Revelação Messiânica no Velho Testamento, p. 508.
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ponta para o futuro, quando o Espírito seria derramado sobre todos em Israel – ho-
mens e mulheres, jovens e velhos –, e também, sobre todos os homens indistinta-
44
mente (Ez 36.27;37.14; Jl 2.28-32; Zc 12.10). O cumprimento desta promessa es-
tava relacionado com a Obra do Messias, que viria – como de fato veio –, na pleni-
45
tude do tempo e do Espírito Santo (Is 11.2; 42.1; 48.16; 61.1-11 /Lc 4.16-21; Jo
3.34; 14.16,17,26; 15.26). “Deus fez repousar plenamente o Seu Espírito sobre
Jesus para que Ele fosse uma fonte para nós, a fim de recebermos por meio
dele da Sua plenitude e, associados a Ele, pudéssemos, nessa comunhão,
46
participar das graças do Espírito Santo”, conclui Calvino.
O profeta Isaías descreve o Messias como aquele que “pode cumprir todos os
47
seus deveres porque é ungido por Yahwéh por meio da dádiva do Espírito”.
Foi o próprio Senhor quem “designou, equipou e autorizou seu escolhido” para mi-
48
nistrar a tarefa que lhe competia como profeta, sacerdote e rei.
44
A. A. Hoekema, A Bíblia e o Futuro, São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1989, p. 15-16; Wayne
A. Grudem, Teologia Sistemática, São Paulo: Vida Nova, 1999, p. 640.
45
Vd. G. Van Groningen, Revelação Messiânica no Velho Testamento, p. 602-603.
46
João Calvino, As Institutas, (1541), II.4.
47
G. Van Groningen, Revelação Messiânica no Velho Testamento, p. 604.
48
Cf. G. Van Groningen, Revelação Messiânica no Velho Testamento, p. 602-603.
49
Anthony Hoekema. A Bíblia e o Futuro, p. 20.
50
Vd. Hermisten M.P. Costa, A Literatura Apocalíptico-Judaica, São Paulo: Casa Editora Presbiteria-
na, 1992, p. 27ss.
51
J. Jeremias, Teologia do Novo Testamento, São Paulo: Paulinas, 1977, p. 124-125
52
O livro de Macabeus reflete esta idéia: “Levantou-se uma tão grande tribulação em Israel,
que não se tinha visto outra assim desde o tempo do desaparecimento dos profetas de Isra-
el” (1Mac 9.27. Vejam-se, também: 1Mac 4.46; 14.41).
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53
tempo sob o julgamento de Deus. Deus se cala”.
É a partir do Novo Testamento que a obra do Espírito – quase que totalmente res-
trita à nação de Israel no Antigo Testamento – se tornará mais abrangente, por meio
da nova aliança que, pela instrumentalidade da Igreja, unirá judeus e gentios (Ef
2.22/1Pe 2.5).
53
J. Jeremias, Teologia do Novo Testamento, p. 129.
54
lOq taB (Bath qôl). Literalmente, “Filha da voz” ou “Filha de uma voz”. O conceito é derivado de Dn
4.31. O Novo Testamento menciona algumas vezes uma voz que veio do céu (Vd. Mt 3.17; 17.5; Jo
12.28; At 9.4/ 22.7/26.14; 10.13,15). Unterman, assim define: “Voz celestial que continuou a
transmitir a mensagem de Deus ao homem depois que a PROFECIA bíblica chegou ao fim. O
sumo sacerdote podia ouvir a bat kol enquanto oficiava no Santo dos Santos, e, após a des-
truição do Templo, os que visitavam suas ruínas podiam ouvir a voz celestial expressando a
tristeza de Deus.” (Bat kol: In: Alan Unterman, Dicionário Judaico de Lendas e Tradições, Rio de Ja-
neiro: Jorge Zahar Editor, 1992, p. 43). Uma outra definição, como a de Van Pelt, com pequenas vari-
ações, é geralmente usada: “Um termo rabínico significando a divina voz, audível ao homem e
desacompanhada de uma visível manifestação da divindade.” (J.R. Van Pelt, Bath Kol: In:
Geoffrey W. Bromiley, (General Editor), The International Standard Bible Encyclopedia, 2ª ed. Grand
Rapids, Michigan: William B. Eerdmans Publishing Company, 1980, Vol. I, p. 438-439) (Doravante ci-
tado como ISBE). Ao que parece este “eco” tendeu a ser explorado como um meio de se decidir em
questões de difícil interpretação da Lei; daí a insistência do Rabino Josué (c. 100 AD) em enfatizar a
supremacia da Lei escrita, sendo esta questão debatida entre as escolas de Shammai e Hillel. (Vd.
Otto Betz, Fwnh/: In: TDNT., IX, p. 288-290; J.R. Van Pelt, Bath Kol: In: ISBE., I, p. 439a; A.K. Helm-
bold, Bath Kol: In: Merril C. Tenney, gen. ed. The Zondervan Pictorial Encyclopaedia of the Bible, 5ª
ed. Grand Rapids, Michigan: Zondervan Publishing House, 1982, Vol. I, p. 492. (Doravante citado
como ZPEB). No Talmude as referências à “Bath Kol” são inúmeras.
55
J. Jeremias, Teologia do Novo Testamento, p. 128. Esta voz vinda do céu, geralmente consistia na
declaração do juízo de Deus dirigido a indivíduos, grupos, governos, cidades ou todas as nações.
(Vd. Otto Betz, Fwnh/: In: TDNT., IX, p. 288 e A.K. Helmbold, Bath Kol: In: ZPEB., I, p. 492). (Vejam-
se, também: A.C. Schultz, Voz: In: E.F. Harrison, ed. Diccionario de Teologia, Grand Rapids, Michi-
gan: TELL., 1985, p. 556 (Doravante citado como DT); Bath Kol: In: EBTF., I, p. 456; . A.K. Helmbold,
Bath Kol: In: ZPEB., I. p. 492; Otto Betz, Fwnh/: In: TDNT., IX, especialmente, p. 285ss; J.R. Van Pelt,
Bath Kol: In: ISBE., I, p. 438-439).
56
Cf. J. Jeremias, Teologia do Novo Testamento, p. 130 e P. Van Imschoot, Espírito: In: A. Van Den
Born, redator, Dicionário Enciclopédico da Bíblia, 2ª ed. Petrópolis, RJ.: Vozes, 1977, p. 485.
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“Como podemos saber se o Filho e o Espírito Santo são Deus, iguais ao Pai?”
“As Escrituras revelam que o Filho e o Espírito são Deus iguais ao Pai, atri-
buindo-lhes os mesmos nomes, atributos, obras e culto, os quais só a Deus
62
pertencem.” (grifos meus).
57
Cf. J. Barton Payne, The Theology of the Older Testament, p. 173.
58
Vd. Geerhardus Vos, Biblical Theology: Old and New Testaments, p. 238; Sinclair B. Ferguson, O
Espírito Santo, p. 18.
59
Ver: Yves M.J. Congar, El Espíritu Santo, 2ª ed. Barcelona: Herder, 1991, p. 30.
60
Quanto às possíveis interpretações desse texto, Vd. Sinclair B. Ferguson, O Espírito Santo, p. 72.
Vd. também H. Bavinck, Our Reasonable Faith, 4ª ed. Grand Rapids, Michigan: Baker Book House,
1984, p. 387-388.
61
Peço licença aqui, para recordar a analogia feita por B.B. Warfield (1851-1921), já aludida nestas
anotações: “Podemos comparar o Velho Testamento com um salão ricamente mobilado,
mas muito mal iluminado; a introdução de luz nada lhe traz que nele não estivesse antes;
mas apresenta mais, põe em relevo com maior nitidez muito do que mal se via anteriormen-
te, ou mesmo não tivesse sido apercebido. O mistério da Trindade não é revelado no Velho
Testamento; mas o mistério da Trindade está subentendido na revelação do Velho Testa-
mento, e aqui e acolá é quase possível vê-lo” (B.B. Warfield, A Doutrina Bíblica da Trindade, p.
130-131).
62
Francis Turretini (1623-1687), o campeão da ortodoxia calvinista no século XVII, mesmo sem indi-
car o Catecismo Maior de Westminster, segue esta mesma ordem na sua exposição a respeito da Di-
vindade do Espírito (Vd. F. Turretin, Institutes of Elenctic Theology, Vol. I, III.30.12. p. 305ss.).
O Espírito Santo é Deus – Rev. Hermisten – 16/07/09 – 12/22
“3Então, disse Pedro: Ananias, por que encheu Satanás teu coração, para que
mentisses ao Espírito Santo, reservando parte do valor do campo? 4 Conservando-o,
porventura, não seria teu? E, vendido, não estaria em teu poder? Como, pois, as-
sentaste no coração este desígnio? Não mentiste aos homens, mas a Deus” (At 5.3-
4).
63
“O Espírito, aqui, aparece como substrato da autoconsciência divina, o princípio do co-
nhecimento de Deus acerca de Si mesmo. Em resumo, Ele é, simplesmente, o próprio Deus,
na essência do mais recôndito do Seu Ser. Tal como o espírito do homem é o centro da vida
humana, assim também o Espírito de Deus é o Seu próprio elemento vital. Como se pode,
pois, pensar que está subordinado a Deus, ou que recebe o Seu Ser de Deus?” (B.B. Warfield,
A Doutrina Bíblica da Trindade, p. 166).
64
Calvino comenta: “A não ser que o Espírito fosse algo subsistente em Deus, de modo ne-
nhum outorgar-se-Lhe-iam arbítrio e vontade” (As Institutas, I.13.14).
65
O fato do Espírito preceder à criação de todas as coisas, aponta para a Sua eternidade. (Cf. F.
Turretin, Institutes of Elenctic Theology, Vol. I, III.30.12. p. 306.
O Espírito Santo é Deus – Rev. Hermisten – 16/07/09 – 13/22
66
quanto Deus faz, ele o faz por meio do Espírito”. Todavia, deve ser ressaltado
67
que Ele é O agente, não uma agência.
E. É ADORADO:
Lc 2.25-29; At 4.23-25/At 1.16,20/Ef 2.18. Nos textos de Atos, fica claro que o
Deus adorado é identificado com o Espírito Santo que proferiu as Escrituras. Há o
reconhecimento de que o Senhor é o Espírito. “O culto religioso deve ser presta-
69
do a Deus o Pai, o Filho e o Espírito Santo – e só a Ele....”.
66
Charles Hodge, Teologia Sistemática, p. 394.
67
C. Hodge, Systematic Theology, Vol. I, p. 447.
68
A palavra “espírito” aqui, tem sido entendida por diversos comentaristas, como referindo-se ao Es-
pírito Santo, ou à Sua influência (Vd. Vincent, Alford, Wuest, Foulkes, Russel Shedd, Champlin, Sal-
mond, Hendriksen, entre outros).
69
Confissão de Westminster, XXI.2.
70
Vd. Catecismo Menor de Westminster, Pergunta 6; Catecismo Maior de Westminster, Perg. 9
71
H. Bietenhard, Nome: In: NDITNT., III, p. 281
O Espírito Santo é Deus – Rev. Hermisten – 16/07/09 – 14/22
72
G. PECA-SE CONTRA O ESPÍRITO: MT 12.31-32.
72
O substantivo que aparece neste texto (duas vezes), Blasfhmi/a, ocorre também em: Mt 15.19;
26.65; Mc 2.7; 3.28; 7.22; 14.64; Lc 5.21; Jo 10.33; Ef 4.31; Cl 3.8; 1Tm 6.4; Jd 9; Ap 2.9; 13.1,5,6;
17.3. O verbo, Blasfhme/w, é empregado mais vezes no Novo Testamento (35 vezes) e, aquele que
blasfema, Bla/sfhmoj, é utilizado 5 vezes (At 6.11,13; 1Tm 1.13 (aqui de forma substantivada); 2Tm
3.2; 2Pe 2.11).
O verbo Blasfhme/w, que tem o sentido de “injuriar”, “difamar”, ”insultar”, “caluniar”, “maldizer”,
“falar mal”, “falar para danificar”, etc., é formado de duas palavras, Bla/yij derivada de Bla/ptw =
“injuriar”, “prejudicar” (* Mc 16.18; Lc 4.35) e Fhmi/ = “falar”, “afirmar”, “anunciar”, “contar”, “dar a en-
tender”. A Blasfêmia tem sempre uma conotação negativa, de “maldizer”, “caluniar”, “causar má repu-
tação”, etc., contrastando com Eu)fhmi/a (“boa fama” * 2Co 6.8) e Eu)/fhmoj (“boa fama” * Fp 4.8) (Eu)/
& fh/mh). No Fragmento 177 de Demócrito, lemos: “Nem a nobre palavra encobre a má ação,
nem é a boa ação prejudicada pela má palavra (Blasfhmi/a)”.
O pecado da blasfêmia surge no coração do homem (Mt 15.19/Mc 7.21,22); ele consiste entre ou-
tras coisas, em presumir-se com prerrogativas divinas ou ser o próprio Filho de Deus (Mt 9.1-3; Mc
2.7/Lc 5.21/Jo 10.33, 36; Mc 14.60-64). A blasfêmia entristece o Espírito, por isso a sua prática deve
estar distante de nós (Ef 4.25-32/Cl 3.8; Tt 3.2; 1Pe 4.1-4). A falsa doutrina propicia a prática da blas-
fêmia (1Tm 6.3,4), bem como os falsos mestres (2Pe 2.1-2,10-12). Esta será uma das características
dos homens nos últimos tempos (2Tm 3.1-2). Paulo diz que a sua perseguição aos cristãos houvera
sido tão pesada, que estes foram obrigados a blasfemar (At 26.11); sendo ele mesmo um blasfemo
(1Tm 1.13). O mal testemunho dos judeus contribuía para que os gentios blasfemassem o nome de
Deus (Rm 2.24, citando Is 52.5; compare com a orientação de Paulo, 1Tm 6.1; Tt 2.5). No entanto,
não devemos nos entristecer se somos blasfemados por causa de nossa fidelidade a Deus; esta é
uma evidência de que o Espírito glorioso de Deus repousa sobre nós (1Pe 4.14). A blasfêmia é uma
prática própria da “besta”, que blasfema contra o nome de Deus (Ap 13.1,5,6/17.3). Parece que os
efésios estavam combatendo Paulo, sob a insinuação de que ele havia blasfemado contra a deusa
Diana (At 19.32,37). Alguns homens foram subornados para dizer que ouviram Estevão blasfemar
contra Deus e Moisés (At 6.11-13). Bla/sfhmoj “expressa o ‘caluniar’ de uma pessoa; é a ex-
pressão mais forte da difamação pessoal.” (H. Währisch & C. Brown, Blasfêmia: In: NDITNT., I, p.
312). Xerxes quando convoca seus soldados a marcharem contra Atenas, diz que os atenienses
“blasfemaram” (injuriaram, insultaram) contra o seu pai e o seu povo (Heródoto, História, VII.8).
Em Platão (427-347 a.C.), é considerada blasfêmia atribuir aos deuses determinadas formas hu-
manas, conforme fizeram primariamente os poetas e, as mães, que assim aprendiam e transmitiam
aos seus filhos estas estórias (A República, 7ª ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, (1993), II,
381e).
No Novo Testamento este grupo de palavras é usado predominantemente no sentido religioso:
“caluniar”, “difamar”. O verbo Blasfhme/w empregado de forma absoluta, indica uma blasfêmia con-
tra Deus (Cf. Mt 26.65a; Mc 2.7; Jo 10.36); do mesmo modo ocorre com o substantivo Blasfhmi/a
(Cf. Mt 26.65b; Mc 14.64; Lc 5.21; Jo 10.33, etc.). “No NT o conceito de blasfêmia é controlado
completamente pelo pensamento de violação do poder e majestade de Deus. Blasfêmia
pode ser dirigida imediatamente contra Deus (Ap 13.6; 16.11,21; At 6.11), contra o nome de
Deus (Rm 2.24; 1Tm 6.1; Ap 16.9), contra a Palavra de Deus (Tt 2.5), contra Moisés e Deus e
conseqüentemente contra o fundamento da revelação na Lei (At 6.11).” (H.W. Beyer, Blas-
fhmi/a: In: TDNT., I, p. 622-623). Na LXX, este pensamento é predominante: a blasfêmia é contra a
majestade e glória de Deus. Para o judeu, falar de forma ímpia contra Moisés ou a Lei, significa blas-
femar (Vd. At 6.11). Para o judaísmo do período anterior ao Cristianismo — conforme interpretação
que faziam de Dt 21.22-23 —, morrer numa cruz significava uma blasfêmia, sendo este tipo de morte
uma maldição divina (Vd. Gl 3.13) (Cf. O. Hofius, Blasfhmi/a: In: Horst Balz & Gerhard Schneider,
eds. Exegetical Dictionary of New Testament, Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, 1978-1980, Vol. I,
p. 221. (Doravante citado como EDNT).
Hendriksen que traduz “blasfêmia” como sendo uma “irreverência desafiante”, comentando Mt
12.31,32, diz: “A blasfêmia contra o Espírito Santo é o resultado de gradual progresso no pe-
cado. Entristecer o Espírito (Ef 4.30), se não há arrependimento, leva à resistência ao Espírito
(At 7.51), a qual, se persistida, se desenvolve até que o Espírito é apagado (1Ts 5.19)” (William
O Espírito Santo é Deus – Rev. Hermisten – 16/07/09 – 15/22
Hendriksen, Comentário do Novo Testamento: Mateus, São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2001, Vol.
2, p. 39).
Seja qual for as nuanças interpretativas, este pecado, segundo nos parece, é resultado de uma re-
jeição consciente, deliberada, arrogante e despreocupada da obra do Espírito em Cristo, atribuindo-a
de forma provocativa e, por isso blasfema, à Satanás. Este pecado é imperdoável porque quem o
comete, não está disposto a arrepender-se e, portanto, não deseja ser salvo. Rejeitar o Espírito de
Cristo significa rejeitar os atos salvadores da Trindade: do Pai, do Filho e do Espírito Santo. O Espírito
procede do Pai e do Filho; a Sua obra consiste em dar testemunho do Pai e do Filho; rejeitá-lo signifi-
ca repudiar o Seu Ofício. (Sugestões para leitura: H.W. Beyer, Blasfhmi/a: In: TDNT., I, 621-625;
William Hendriksen, Comentário do Novo Testamento: Mateus, p. 36-39; O. Hofius, Blasfhmi/a: In:
EDNT., I, p. 219-221; W. Währisch & C. Brown, Blasfemar: In: NDITNT., I, p. 312-316; P.H. Davis,
Blasfêmia e Blasfêmia contra o Espírito Santo: In: EHTIC., I, p. 196-198; R.P. Martin, Blasfêmia: In:
J.D. Douglas, ed. org. O Novo Dicionário da Bíblia, São Paulo: Junta Cristã Editorial, 1966, Vol., I, p.
221-222; Frank Stagg, Mateus: In: Clifton J. Allen, ed. ger. Comentário Bíblico Broadman, Rio de Ja-
neiro: JUERP., 1983, Vol. VIII, p. 190 (Doravante citado como CBB); Russel N. Champlin, O Novo
Testamento Interpretado, Guaratinguetá, SP.: A Voz Bíblica, (s.d.), Vol. I, p. 391-392(Doravante cita-
do como NTI); J.A. Broadus, Comentário do Evangelho de Mateus, 3ª ed. Rio de Janeiro: Casa Publi-
cadora Batista, 1966, Vol. I, p. 356-358; Alexander B. Bruce, The Synoptic Gospels: In: W. Robertson,
Nicoll, ed. The Expositor’s Greek Testament, Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, 1983 (Reprinted),
Vol. I, p. 188-190; William Barclay, El Nuevo Testamento Comentado, Buenos Aires: La Aurora,
1973, Vol. II, p. 48-53; J.I. Packer, Teologia Concisa, Campinas, SP.: Luz para o Caminho, 1999, p.
225-226; Sinclair B. Ferguson, O Espírito Santo, p. 65-66; Herman Bavinck, Our Reasonable Faith, p.
252-254; Edwin H. Palmer, El Espiritu Santo, Edinburgh: El Estandarte de la Verdad, (s.d.), Edição
Revista, p. 226-238).
73
John L. Dagg, Manual de Teologia, São Paulo: FIEL., 1989, p. 192.
O Espírito Santo é Deus – Rev. Hermisten – 16/07/09 – 16/22
74
Herman Bavinck, Our Reasonable Faith, p. 253-254.
75
João Calvino, Exposição de Hebreus, São Paulo: Paracletos, 1997, (Hb 6.4), p. 151.
76
João Calvino, As Pastorais, São Paulo: Paracletos, 1998, (1Tm 1.13), p. 41.
O Espírito Santo é Deus – Rev. Hermisten – 16/07/09 – 17/22
O Espírito Santo é chamado de Espírito do Pai (Mt 10.20; Lc 11.13; 1Co 6.19; 1Ts
4.8) e Espírito do Filho (Gl 4.6; Fp 1.19; 1Pe 1.11), sendo ENVIADO POR DEUS (At
5.32): Pai (Jo 14.26; Gl 4.6) e Filho (Jo 15.26).
Segundo me parece, o texto que mais especificamente trata desta relação Trinitá-
ria é o de Romanos, quando Paulo diz: “Vós porém, não estais na carne, mas no
Espírito, se de fato o Espírito de Deus habita em vós. E se alguém não tem o Espíri-
to de Cristo, esse tal não é dele” (Rm 8.9).
77
João Calvino, Exposição de Hebreus, (Hb 6.6), p. 155.
78
João Calvino, As Pastorais, (1Tm 1.13), p. 41.
79
João Calvino, Exposição de Hebreus, (Hb 6.4), p. 153.
80
João Calvino, As Pastorais, (1Tm 6.21), p. 187.
81
João Calvino, Exposição de Romanos, (Rm 8.9), p. 271.
O Espírito Santo é Deus – Rev. Hermisten – 16/07/09 – 18/22
A relação Trinitária foi compreendida pela Igreja da seguinte forma: Quando fala-
mos do Filho em relação ao Pai, dizemos que aquele é gerado (gennhqe/nta) do Pai
e quando nos referimos ao Espírito, declaramos que Ele é procedente
82 83
(e)kporeuo/menon) do Pai e do Filho. Esta relação ocorre eternamente, sem prin-
cípio nem fim, jamais havendo qualquer tipo de mudança na essência (ou)si/a) divi-
84
na, nem qualquer tipo de subordinação ontológica; “a subordinação pretendida
consiste apenas naquilo que concerne ao modo de subsistência e opera-
ção, implícito nos fatos bíblicos de que o Filho procede do Pai, e o Espírito
procede do Pai e do Filho, e de que o Pai opera através do Filho, e o Pai e o
85
Filho operam através do Espírito”. Portanto, a subordinação não é ontológica
mas sim existencial (econômica). Deste modo, a nomenclatura Pai, Filho e Espírito
Santo, é apenas um designativo que implica uma correlação intertrinitária que é ne-
cessária e eterna, não uma primazia de essência, no que resultaria em diferenças de
86
honra e glória.
Retornando à nossa linha mestra, devemos enfatizar que a relação Trinitária tem
sido compreendida pela Igreja como uma procedência eterna e necessária, do Espí-
rito da parte do Pai e do Filho. As palavras de Agostinho (354-430) tornaram-se basi-
82
gennhqe/nta e e)kporeuo/menon são expressões usadas no Credo Niceno-Constantinopolitano
(381). Quanto à distinção das expressões, e o significado da “procedência”, confesso minha ignorân-
cia, juntamente com Agostinho (354-430) e João Damasceno (c. 675-749) (Vd. F. Turretin, Institutes
of Elenctic Theology, Vol. I, III.31.3; J. Oliver Buswell, A Systematic Theology of the Christian Religion,
Grand Rapids, Michigan: Zondervan, © 1962, I, p. 119-120).
83
Como já mencionamos supra, a expressão “e do Filho” em latim “Filioque”, foi acrescentada no
Concílio local de Toledo (589).
84
“O Pai é entendido como o primeiro princípio (archê) da Trindade e, por conseguinte,
como o princípio unificador da hypostases [u/po/stasij]. O Filho é gerado do Pai, e o Espírito
procedente do Pai através do Filho” (Trinitas: In: Richard A. Muller, Dictionary of Latin and Greek
Theological Terms, 4ª ed. Grand Rapids, Michigan: Baker Book House, 1993, p. 308). No entanto, a
expressão do autor, “o Espírito procedente do Pai através do Filho” não corresponde à compre-
ensão de Nicéia e Constantinopla, visto que esta fórmula, de certo modo, inspirada em Gregório de
Nissa (c. 335-c.394) – que modelou a teologia oriental –, foi rejeitada por Agostinho (354-430), para
evitar qualquer tipo de subordinação (Agostinho, A Trindade, São Paulo: Paulus, 1994, V.14.15. p.
208-210).(Vd. J.N.D. Kelly, Doutrinas Centrais da Fé Cristã: origem e desenvolvimento, São Paulo:
Vida Nova, 1993, p. 198).
85
Charles Hodge, Teologia Sistemática, p. 346.
86
“A propriedade peculiar e pessoal da terceira pessoa é expressa pelo título Espírito. Esse tí-
tulo não pode expressar sua essência, visto que sua essência é também a essência do Pai e
do Filho. Ele deve expressar sua eterna relação pessoal com as outras pessoas divinas, visto
ser ele uma pessoa constantemente designada como o Espírito do Pai e o Espírito do Filho.”
(Archibald A. Hodge, Confissão de Fé Westminster Comentada por A.A. Hodge, São Paulo: Editora
os Puritanos, 1999, Capítulo II, p. 91). (Vd. também, A.A. Hodge, Esboços de Theologia, Lisboa: Ba-
rata & Sanches, 1895, p. 151-152).
O Espírito Santo é Deus – Rev. Hermisten – 16/07/09 – 19/22
“Sua procedência não quer dizer que seja inferior ao Pai e ao Filho, do
mesmo modo que pelo fato do Filho ser gerado tampouco significa que
não esteja num plano de igualdade com o Pai. O segredo está no fato de
que o Espírito foi ETERNAMENTE espirado, do mesmo modo que o Filho foi
eternamente gerado. Nunca houve um tempo em que o Espírito não fosse
espirado. Tem coexistido eternamente com o Pai e o Filho. Dizer que pro-
cedeu de, ou foi espirado do Pai e do Filho não implica que seja menos
Deus; só fala da relação que sustenta eternamente com as outras duas
88
Pessoas da Trindade”.
87
Agostinho, ATrindade, São Paulo: Paulus, 1994, XV.17.27. p. 522. Vd. também: IV.20.29; V.14.15;
XV.17.29; 26.47; 27.50.
88
Edwin H. Palmer, El Espiritu Santo, p. 15. Berkhof coloca desta forma: “O eterno e necessário
ato da primeira e da segunda pessoas da Trindade pelo qual elas, dentro do Ser Divino, vêm
a ser a base da subsistência pessoal dO Espírito Santo, e propiciam à terceira pessoa a posse
da substância total da essência divina, sem nenhuma divisão, alienação ou mudança” (L.
Berkhof, Teologia Sistemática, Campinas, SP.: Luz para o Caminho, 1990, p. 98). [Vd. também, A.H.
Strong, Systematic Theology, 35ª ed. Valley Forge, Pa.: Judson Press, 1993, p. 340-343; F. Turretin,
Institutes of Elenctic Theology, Vol. I, III.31.3ss. p. 308-310; A.A. Hodge, Esboços de Theologia, p.
151-152; Charles Hodge, Teologia Sistemática, p. 394; Loraine Boettner, Studies in Theology, p. 122-
124; Herman Bavinck, The Doctrine of God, p. 310ss; L. Berkhof, Teologia Sistemática, p. 97-98; R.L.
Dabney, Lectures in Systematic Theology, Grand Rapids, Michigan: Baker Book House, 1985 (Re-
printed), XIX, p. 210-211; Heber Carlos de Campos, O Ser de Deus e os Seus Atributos, São Paulo:
Cultura Cristã, 1999, p. 127ss.].
89
Este tipo de comentário poderia induzir o leitor à compreensão de que desvalorizamos os termos
teológicos; o que estaria extremamente distante de nossa convicção e perspectiva. Os termos teoló-
gicos, em grande parte, são expressões humanas na elaboração da fé conforme revelada nas Escri-
turas; portanto, limitados; no entanto, servem de referências para expressar a compreensão bíblica
formulada ao longo da história. Desprestigiar gratuitamente as expressões teológicas, tem, em geral,
contribuído para o empobrecimento da doutrina bíblica e, consequentemente o enfraquecimento da
vida cristã.
90
“A linguagem é a primeira tentativa do homem para articular o mundo de suas percep-
ções sensoriais. Esta tendência é uma das características fundamentais da linguagem hu-
mana” (Ernst Cassirer, Antropologia Filosófica, 2ª ed. São Paulo: Mestre Jou, 1977, p. 328).
O Espírito Santo é Deus – Rev. Hermisten – 16/07/09 – 20/22
91 92
greja; nada na Escritura é ocioso (At 20.27/2Tm 3.16); ocioso e ingrato, é deixar
93
de considerar “todo o desígnio de Deus” ou tentar ultrapassá-lo. Quanto a este úl-
timo perigo, talvez mais tentador para nós teólogos, cabe a advertência de Calvino
(1509-1564), ao encerrar o capítulo sobre a Trindade:
“Espero que pelo que temos dito, todos os que temem a Deus verão
que ficam refutadas todas as calúnias com que Satanás tem pretendido
até o dia de hoje perverter e obscurecer nossa verdadeira fé e religião. Fi-
nalmente confio em que toda esta matéria haja sido tratada fielmente,
para que os leitores refreiem sua curiosidade e não suscitem, mais do que
é lícito, molestas e intrincadas disputas, pois não é minha intenção satisfa-
zer aos que colocam seu prazer em suscitar sem medida algumas novas
especulações.
“Certamente, nem conscientemente nem por malícia omiti o que pode-
ria ser contrário a mim. Mas como meu desejo é servir à Igreja, me pare-
ceu que seria melhor não tocar nem revolver outras muitas questões de
pouco proveito e que resultariam enfadonhas aos leitores. Porque, de que
serve discutir se o Pai gera sempre? Tendo como indubitável que desde a
eternidade há três Pessoas em Deus, este ato contínuo de gerar não é
94
mais que uma fantasia supérflua e frívola”.
Por outro lado, se os termos são imperfeitos e imprecisos, devemos sempre lem-
brar que somente a Escritura é inspirada e infalível, não os nossos termos e interpre-
tações. O ponto, portanto, que deve ser priorizado, é a realidade por trás dos termos.
Procede esta compreensão?, deve ser sempre a pergunta do estudante sincero, de-
sejoso de conhecer mais a Palavra de Deus. Bavinck mais uma vez é-nos impres-
cindível em suas observações a respeito da elaboração doutrinária da Igreja:
usar esses termos e expressões, pois as Sagradas Escrituras não foram da-
das por Deus à Igreja para ser desconsideradamente repetida, mas para
ser entendida em toda a sua plenitude e riqueza, e para ser reafirmada
em sua própria linguagem para que dessa forma possa proclamar os po-
derosos feitos de Deus. Além disso, tais termos e expressões são necessários
para manter a verdade da Escritura contra seus oponentes e colocá-la
em segurança contra equívocos e erros humanos. E a história tem mostra-
do através dos séculos que a despreocupação com esses nomes e a re-
jeição deles conduz a vários afastamentos da confissão.
“Ao mesmo tempo nós devemos, no uso desses termos, nos lembrar que
eles são de origem humana e, portanto, limitados, sujeitos a erro e falíveis.
Os Pais da Igreja sempre reconheceram isso. Por exemplo, eles afirmavam
que o termo pessoas, que foi usado para designar as três formas de exis-
tência no Ser divino não fazem justiça à verdade, mas servem de ajuda
para manter a verdade e eliminar o erro. A palavra foi escolhida, não por-
que fosse a mais precisa, mas porque nenhuma outra melhor foi encon-
trada. Nesse caso a palavra está atrás da idéia, e a idéia está atrás da re-
alidade. Apesar de não poder preservar a realidade a não ser dessa for-
ma, nós nunca devemos nos esquecer de que é a realidade que conta, e
não a palavra. Certamente na glória outras e melhores palavras e expres-
95
sões serão colocadas em nossos lábios”.
Considerações Finais:
95
Herman Bavinck, Our Reasonable Faith, p. 157-158.
96
Vd. Sinclair B. Ferguson, O Espírito Santo, p. 102.
97
Confissão de Westminster, 34.1.
O Espírito Santo é Deus – Rev. Hermisten – 16/07/09 – 22/22
98
Vd. Frederick D. Bruner, Teologia do Espírito Santo, p. 238.
99
Vd. Frederick D. Bruner, Teologia do Espírito Santo, p. 125, 228.
100
A.A. Hoekema, O Cristão Toma Consciência do Seu Valor, Campinas, SP.: Luz para o Caminho,
1987, p. 53.