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http://jus.uol.com.br/revista/texto/17292
Publicado em 08/2010
ABSTRACT: This paper intends to present, briefly, the legal requeriments that Brazilian
citizens should observe in order to be elected into a public office; these assumptions
involve filling the constitutional requirements for eligibility, not focus on any of the causes of
ineligibility under the constitutional and infra-constitutional legislation, and finally do not
incurring in any of the cases of incompatibility. In fact, only after observe of these three
matters may the citizen, after approved on party-political convention, submit his name to
the Electoral Justice for approval in order to register his candidacy, which will lead him to
dispute the election, to diplomation and, ultimately, to take possession in the desired public
role, and consequent initiation of the exercise of representative mandate.
Neste trabalho serão indicados os pressupostos legais que o cidadão brasileiro deve
preencher para que possa habilitar-se, após competente registro de candidatura, a
disputar as eleições para ocupar um cargo público, tanto no Poder Executivo – Presidente
da República, Governador de Estado, Governador do Distrito Federal, ou Prefeito
Municipal, e respectivos Vices – quanto no Poder Legislativo – Senador, suplente de
Senador, Deputado Federal, Deputado Estadual, Deputado Distrital ou, ainda, Vereador.
2ELEGIBILIDADE. CONCEITO
Considera-se que a elegibilidade exprime uma segunda faceta da democracia, dela não
gozando, por exemplo, o analfabeto. D'outro viés, apenas os brasileiros natos, maiores de
35 anos, a gozam em sua plenitude, podendo ser eleitos para qualquer cargo, inclusive
para Presidente da República e Vice, bem como para o Senado federal,
Em artigo específico sobre o assunto, Ricardo Teixeira do Valle Pereira[2] considera que:
A elegibilidade é, pois, uma das facetas do direito de cidadania, ou, mais especificamente, dos
direitos políticos. Dentre os direitos políticos sobreleva o direito de votar, ou seja, o direito subjetivo
de participar ativamente das eleições, ao qual denomina-se comumente de ius suffragii e o direito
de ser votado, de poder postular concretamente o voto dos demais cidadãos, direito este também
conhecido como ius honorum. A elegibilidade perfectibiliza-se quando preenchidas as condições
básicas necessárias à configuração do direito de ser votado. Em outras palavras, e sintetizando,
elegibilidade é o direito subjetivo de ser votado, ou o preenchimento das condições básicas
necessárias ao direito de ser votado. E a estas condições básicas reserva-se a denominação
condições de elegibilidade. Em nosso sistema jurídico a elegibilidade é tratada em nível
constitucional. Com efeito, as condições de elegibilidade estão previstas no art. 14, parágrafo 3º da
Constituição Federal. Apesar de a elegibilidade ser matéria com status constitucional, pode a lei
ordinária dispor sobre o exercício de tal direito, regulamentando as condições estabelecidas na
Carta Magna, como deixa claro o § 3º do seu art. 14.
Cumpre observar que em datas especiais, previstas pelo TSE em calendário próprio,
podem ocorrer eleições suplementares. Neste ano de 2010, por exemplo, houve mais de
trinta eleições suplementares, para Prefeito e Vice-Prefeito, em Municípios brasileiros.
Essas eleições podem ocorrer todos os anos, sejam pares ou ímpares. Decorrem de
problemas havidos nas eleições, digamos, 'regulamentares' (as gerais e as municipais de
outubro), ou durante o mandato, ou por renúncia, ou morte, ou cassação, ou fraude, e etc.
Assim, todo ano par é, regularmente, ano eleitoral no Brasil. De quatro em quatro anos
ocorrem eleições gerais e, intercaladamente, de quatro em quatro anos, as eleições
municipais. Veja-se a exemplo que no ano de 2000 ocorreram eleições municipais, em
2002 eleições gerais, em 2004 eleições municipais, em 2006 gerais, em 2008 municipais,
neste ano de 2010 ter-se-á eleições gerais e assim sucessivamente. Em qualquer hipótese
a eleição ocorrerá no primeiro domingo do mês de outubro e, se houver segundo turno,
este será no último domingo de outubro. Vale lembrar que somente haverá hipótese de
segundo turno de eleição para os cargos do Executivo, e caso nenhum candidato tenha
obtido a maioria absoluta de votos válidos no primeiro turno, concorrendo então os dois
candidatos mais votados e sendo eleito o que obtiver a maioria de votos válidos; registre-
se que no caso de eleição para Prefeito e Vice, apenas poderá ocorrer segundo turno em
Municípios com mais de 200.000 eleitores, eis que com menos de 200.000 eleitores a
eleição em primeiro turno terá sido por maioria simples.
Pode-se afirmar, portanto, que de dois em dois anos alguns milhares de cidadãos
nacionais buscam atender aos pressupostos de elegibilidade para preencher cargos
públicos no Brasil.
3.1Nacionalidade brasileira
Por outro lado, o inciso II do citado art. 12 considera brasileiro naturalizado todo aquele
que, "na forma da lei, adquira a nacionalidade brasileira (exigidas aos originários de países
de língua portuguesa apenas residência por um ano ininterrupto e idoneidade moral)", bem
como "os estrangeiros de qualquer nacionalidade, residentes na República Federativa do
Brasil há mais de quinze anos ininterruptos e sem condenação penal, desde que
requeiram a nacionalidade brasileira".
Vale registrar que continua prevista, nos termos dos incisos I e II, § 2°, art. 115, do
Estatuto do Estrangeiro (Lei nº 6.815, de 19.08.1980), a possibilidade de naturalização,
respectivamente, por radicação precoce e por conclusão de ensino superior: "Art. 115. O
estrangeiro que pretender a naturalização deverá requerê-la ao Ministro da Justiça,
declarando: nome por extenso, naturalidade, nacionalidade, filiação, sexo, estado civil, dia,
mês e ano de nascimento, profissão, lugares onde haja residido anteriormente no Brasil e
no exterior, se satisfaz ao requisito a que alude o artigo 112, item VII e se deseja ou não
traduzir ou adaptar o seu nome à língua portuguesa. (…). § 2º - Exigir-se-á a apresentação
apenas de documento de identidade para estrangeiro, atestado policial de residência
contínua no Brasil e atestado policial de antecedentes, passado pelo serviço competente
do lugar de residência no Brasil, quando se tratar de: I - estrangeiro admitido no Brasil até
a idade de 5 (cinco) anos, radicado definitivamente no território nacional, desde que
requeira a naturalização até 2 (dois) anos após atingir a maioridade; II - estrangeiro que
tenha vindo residir no Brasil antes de atingida a maioridade e haja feito curso superior em
estabelecimento nacional de ensino, se requerida a naturalização até 1 (um) ano depois da
formatura". Essas duas hipóteses infra-constitucionais encontram respaldo na alínea a,
inciso II, do art. 12 da CF/88, que prevê serem brasileiros naturalizados os que, na forma
da lei, adquiram a nacionalidade brasileira.
A perda de direitos políticos, que significa a privação definitiva desses direitos, ocorre nas
hipóteses de cancelamento da naturalização por sentença transitado em julgado e de
incapacidade civil absoluta (art. 3º do Código Civil), obedecido sempre o devido processo
legal, com decreto de sentença judicial transitada em julgado.
Observe-se, ainda, que a Constituição não deixa claro quais as hipóteses de perda e quais
as de suspensão dos direitos políticos; essa distinção passou a ser feita pela doutrina e
pela jurisprudência. Alguns consideram, por exemplo, que a 'incapacidade civil absoluta' é
caso de suspensão e a 'recusa de cumprir obrigação a todos imposta bem como prestação
alternativa', será caso de perda de direitos políticos.
3.3Alistamento eleitoral
Com relação ao alistamento eleitoral, necessário observar que, para o brasileiro ser eleitor
é preciso que ele se aliste e, para ele ser elegível, é preciso que ele já seja eleitor. Assim,
a forma de aquisição de cidadania, strictu sensu, é o ato de inscrição – alistamento - na
Justiça Eleitoral. De fato, é o título de eleitor que comprava a qualidade de cidadão.
De maneira concisa pode-se afirmar que dentre os brasileiros, natos e naturalizados, são
alistáveis obrigatórios os maiores de 18 anos, de ambos os sexos (ver a Lei n° 6.236, de
18/09/1975, que determina providências para o cumprimento da obrigatoriedade do
alistamento eleitoral), alistáveis facultativos os analfabetos, os maiores de 16 e menores
de 18 anos e os maiores de 70 anos e, finalmente, inalistáveis os menores de 16 anos, os
absolutamente incapazes para a vida civil (vale sempre relembrar, conforme dispõe o art.
15, II da CF/88, que é proibido o alistamento do absolutamente incapaz para a vida civil),
os estrangeiros (exceção para os portugueses que se enquadrem na hipótese de
reciprocidade na forma do art. 12, § 1° da CF/88), os conscritos (jovens no período do
serviço militar obrigatório), os privados temporária ou definitivamente dos direitos políticos
(a perda dos direitos políticos torna o cidadão inalistável) e os condenados por decisão
penal transitada em julgado, enquanto durarem seus efeitos.
Assim, para ser candidato a cargo público eletivo faz-se também necessário ser alistado
eleitoralmente.
Por outro lado, uma pessoa só pode possuir um domicílio eleitoral, na forma dos arts. 42 e
55, §§ 1º e 2º do CE. Para transferir seu domicílio eleitoral o eleitor deverá ter, pelo menos,
01 ano de inscrição primitiva, além de residir no novo domicílio - para onde pretenda se
transferir - há pelo menos 03 meses da data do requerimento e, finalmente, dar entrada no
pedido de transferência junto ao Cartório eleitoral do novo domicílio até 150 dias antes da
data das eleições (art. 91/LGE, que modificou o inciso I, § 1º, do art. 55/CE). Nas eleições
de 2010, conforme Resolução TSE n° 23.089/2009, o último dia para o eleitor requerer
inscrição eleitoral ou transferência de domicílio foi 05 de maio de 2010.Esse é o
procedimento normal para a transferência de domicílio eleitoral mas, para ser elegível, vale
repetir, o cidadão já deve ter seu domícilio na circunscrição a pelo menos um (01) ano
antes das eleições. Assim, caso o cidadão pretenda se candidatar a um cargo em outra
circunscrição eleitoral ele deverá, atempadamente - até um ano antes das eleições -,
promover a transferência de seu domicílio eleitoral para essa outra circunscrição.
Faz-se aqui remissão ao mesmo artigo citado no item anterior, "Alistamento e domicílio
eleitoral - noções básicas ao exercício da cidadania", de nossa lavra, onde ressaltamos
que apesar de historicamente não ter havido expressivas modificações normativas no
conceito de domicílio eleitoral, adotam alguns doutrinadores um entendimento de certa
elasticidade ao conceituá-lo, enquanto outros oferecem uma maior restrição. Pode-se citar
como fatores de referência que o eleitor teria para com determinado lugar aqueles
relacionados a valores sentimentais, econômicos, históricos, patrimoniais, de herança
social, política, cultural, de parentesco e amigos de aspirações comuns, bem como
interesses e realizações tanto das gerações dos seus antepassados como das futuras,
dentre outros. Corrobora tal entendimento o que dispõe o Código Eleitoral no sentido de
que, para efeito da inscrição, é domicílio eleitoral o lugar de residência ou moradia do
requerente e, verificando-se ter o alistando mais de uma, considerar-se-á domicílio
qualquer delas.
Jurisprudência - Domicílio eleitoral. Transferência. Residência. Antecedência (CE, art. 55). Vínculos
patrimoniais e empresariais. Para o Código Eleitoral, domicílio é o lugar em que a pessoa mantém
vínculos políticos, sociais e econômicos. A residência é a materialização desses atributos. Em tal
circunstância, constatada a antigüidade desses vínculos, quebra-se a rigidez da exigência contida
no art. 55, III". (Ac. no 4.769, de 2.10.2004, rel. Min. Humberto Gomes de Barros; no mesmo sentido
o Ac. no 23.721, de 4.11.2004, rel. Min. Humberto Gomes de Barros.)
Assim, o domicílio eleitoral com prazo de 01 ano antes do pleito, na circunscrição onde
pretenda concorrer, é outra condição constitucional de elegibilidade.
3.5Filiação partidária
No Brasil não se admite a candidatura avulsa, vale dizer, só pode ser candidato a cargo
público eletivo o cidadão brasileiro que esteja regularmente filiado a um Partido político;
assim, a cidadania passiva pressupõe, também, a filiação partidária, que deve estar
deferida até, no mínimo, um ano antes do pleito. De fato, cada Partido pode prever, em
seus Estatutos, prazo maior que o de um ano de filiação para o filiado poder se candidatar;
nunca, porém, menos.É o que dispõe o art. 9º da LGE, já antes transcrito, e cujo parágrafo
único prescreve que, caso ocorra fusão ou incorporação de partidos após esse prazo,
considerar-se-á a data de filiação do candidato ao partido de origem. No mesmo sentido
reza o art. 18 da Lei dos Partidos Políticos - LPP (Lei n° 9.096/95):
Art. 18. Para concorrer a cargo eletivo, o eleitor deverá estar filiado ao respectivo partido pelo
menos um ano antes da data fixada para as eleições, majoritárias ou proporcionais.
Outrossim, deverá o eleitor que desejar filiar-se a partido político estar em pleno gozo de
seus direitos políticos, que abrangem, dentre outros, o direito de votar e de ser votado, o
direito de iniciativa popular no processo legislativo, o direito de propor ação popular, o
direito de organizar e de participar de partidos políticos, e etc. Vale dizer que, para filiar-se,
o cidadão não pode ter incorrido em causas de perda ou suspensão desses direitos. E
apesar do art. 15 da CF/88 ter proibido a cassação, anulação, invalidação, usurpação e
subtração autoritária de direitos políticos, pode haver, como já mencionado, sua perda
e/ou sua suspensão, que caracterizam uma das hipóteses de inelegibilidade.
Importa registrar que, relativamente ao 'militar' que pretenda se candidatar a cargo eletivo,
aplicar-se-á o § 8° do art. 14 da CF/88, que dispõe que o militar, "se contar menos de dez
anos de serviço, deverá afastar-se da atividade e, se contar mais de dez anos de serviço,
será agregado pela autoridade superior e, se eleito, passará automaticamente, no ato da
diplomação, para a inatividade". Também aplicável o disposto no inciso V, § 3°, do art.
142, quando prevê que o militar, enquanto em serviço ativo, não pode estar filiado a
partidos políticos. Assim, caso um militar queira se candidatar, ele só poderá filiar-se
depois da convenção partidária e apenas caso seu nome seja indicado nessa convenção
como pré-candidato, para que possa o Partido requerer o registro de sua candidatura.
Como as convenções partidárias ocorrem entre 10 e 30 de junho do ano eleitoral, à
candidatura de militar ativo não se aplica o prazo de um ano de filiação partidária
constituindo-se, pois, em uma exceção à regra.
Também fogem à regra do prazo de filiação até um ano antes das eleições os membros da
Magistratura, dos Tribunais de Contas e do Ministério Público. Sobre o tema tratam os
artigos 95 e 128 da CF/88, quando prevêem que aos juízes e aos membros do Ministério
Público é vedado exercer ou dedicar-se à atividade político-partidária.
Nesse sentido repetimos as duas citadas exceções ao prazo mínimo de 01 ano de filiação
partidária antes das eleições, sobre as quais já nos pronunciamos em outra
oportunidade[4]. A primeira exceção diz respeito à candidatura de militar da ativa a cargo
público eletivo. De fato, ao servidor castrense (militar) na ativa é defeso a filiação
partidária. Assim, pretendendo o mesmo concorrer a eleições deverá lançar seu nome na
Convenção do partido a que pretenda filiar-se e, caso venha a ser indicado, aí então é que
promoverá sua filiação, ao tempo em que terá se afastado do cargo ocupado no prazo
legal de desincompatibilização. Deverá ser observado o disposto no art. 14, § 8° da CF/88.
Já a segunda exceção diz respeito aos Magistrados, aos membros dos Tribunais de
Contas e ao Ministério Público, que estão dispensados de cumprir o prazo anual de
filiação, mas devem satisfazer aos prazos de desincompatibilização previstos na LC n°
64/90 e, caso venham a ser indicados na Convenção, aí então promoverão sua filiação
para perfarzer-se o registro da candidatura. Também sobre o assunto dispõe o TSE
através Resolução nº 22.156, de 2006, sendo que no art. 12 trata sobre o registro de
candidatura de militares e, no art. 13 expressamente prevê que os Magistrados, os
membros dos Tribunais de Contas e os do Ministério Público devem filiar-se a partido
político e afastar-se definitivamente de suas funções até seis meses antes das eleições.
Djalma Pinto[5] tratando do assunto assevera que "exceto aqueles em exercício, antes da
promulgação da Constituição de 1988 (art. 29, §3°, ADCT), os membros do Ministério
Público devem exonerar-se do cargo que postular mandato eletivo. Os magistrados são
igualmente obrigados a demitir-se do cargo para registrar candidatura. A propósito,
enfatizou o TSE que o magistrado somente poderá filiar-se a partido político depois de
publicado o ato que comprove seu afastamento de forma definitiva e até seis mesees
antes do pleito que deseja disputar (Resolução n° 22.179/06). Igual prazo de filiação e
desincompatibilização se aplica aos membros do Ministério Público (Resolução n°
22.012/05; Resolução n° 22.015/05)".
Por outro lado, uma vez eleito o cidadão pode se desfiliar do partido – e permanecer sem
filiação ou filiar-se a outro partido - e não perderá o mandato. Este é assunto ainda
polêmico, sendo alvo de inúmeras discussões que envolvem temas como a questão da
fidelidade partidária, dentre outros.
3.6Idade mínima
Finalmente, para concorrer a cargos públicos eletivos o cidadão deverá ainda observar
como condição constitucional a idade mínima exigida para o cargo pleiteado, nos termos
do já transcrito artigo 14, § 3°, VI, alíneas a, b, c e d: a) 35 anos para Presidente e Vice-
Presidente da República e para Senador e suplentes; b) 30 anos para Governador e Vice-
Governador de Estado e do Distrito Federal; c) 21 anos para Deputado Federal, Deputado
Estadual, Deputado Distrital, Prefeito, Vice-Prefeito e Juiz de paz; d) 18 anos para
Vereador.
A verificação dessa idade será feita levando-se em conta a data da posse no respectivo
cargo. Isso equivale a afirmar que pode um menor, de 17 anos de idade, candidatar-se a
Vereador, bastando que na data da posse (1º de janeiro) conte com 18 anos de idade
completos. É o que diz o § 2º do art. 11 da LGE: "a idade mínima constitucionalmente
estabelecida como condição de elegibilidade é verificada tendo por referência a data da
posse". Alguns doutrinadores, entretanto, discordam dessa interpretação entendo que não
poderia o legislador infra-constitucional dizer a mais do que a própria Constituição
estabeleceu.
4.CAUSAS DE INELEGIBILIDADE
II - se contar mais de dez anos de serviço, será agregado pela autoridade superior e, se eleito,
passará automaticamente, no ato da diplomação, para a inatividade.
Mister observar, na preciosa lição de Manoel Gonçalves Ferreira Filho[6], que destina-se o
instituto da inelegibilidade à defesa de possíveis e prováveis abusos contra a democracia,
aduzindo que já na Carta de 1934 ela aparecia como medida preventiva, "ideada para
impedir que principalmente os titulares de cargos públicos executivos, eletivos ou não, se
servissem de seus poderes para serem reconduzidos ao cargo, ou para conduzirem-se a
outro, assim como para eleger seus parentes; para tanto, impedia suas candidaturas,
assim como a de seus cônjuges ou parentes, por um certo lapso de tempo". A CF/88
adotou a técnica de enunciar algumas hipóteses de inelegibilidade e possibilitar que lei
complementar enunciasse outras.
Em outras palavras, pode-se concluir que o pretenso candidato deverá não apenas
atender a todas as condições constitucionais de elegibilidade, como também não ser
considerado inelegível, vale dizer, não incorrer nas causas de inelegibilidade, previstas
tanto na Carta Constitucional quanto na LC n° 64/90.
A inelegibilidade, pois, pode ser considerada sob dois critérios distintos, decorrendo ou de
causas constitucionais ou de causas infraconstitucionais, conforme apontamos a seguir.
Jurisprudência - "[...] No processo eleitoral, que deve atender aos princípios da celeridade e da
concentração, nada impede que o juiz, havendo dúvida quanto à alfabetização do candidato,
promova, ele próprio, a aferição. [...]" (Ac. de 19.9.2004 no AgRgREspe no 22.842, rel. Min. Luiz
Carlos Madeira.)
Incorrendo em qualquer dessas duas situações o cidadão estará inelegível para qualquer
cargo público, em qualquer pleito, enquanto elas perdurarem.
Citando mais uma vez Rodrigo César Rebello Pinho[9], assevera ele que as
inelegibilidades relativas impedem o cidadão de disputar certos cargos eletivos devido a
situações específicas, vale dizer, "o indivíduo fica impedido de participar, como candidato,
em determinadas eleições, quer por motivos funcionais, de casamento, parentesco ou
afinidade, quer por tratar-se de candidato militar, quer ainda por influência de poder
econômico ou abuso de poder político. Elas estão previstas no art. 14, §§ 5º a 9º, da CF/88
e na Lei Complementar nº 64/90".
Por oportuno, mas sem maiores aprofundamentos neste trabalho, importa ressaltar o
quanto disposto no art. 16 da CF/88, na redação da EC nº 4/93, ao estabelecer que a lei
que alterar o processo eleitoral entrará em vigor na data de sua publicação, não se
aplicando à eleição que ocorra até 1 (um) ano da data de sua vigência. É feita esta
observação face à polêmica que envolve a aplicação da LC n° 135, de junho de 2010, às
eleições de outubro, apesar da recente decisão do TSE, por 5 votos a 2, entendendo que a
Lei da Ficha Limpa não viola o princípio da anterioridade ou anualidade previsto no artigo
16 da Constituição Federal.
Assim, dispõem sobre a perda anterior do mandato eletivo as alíneas b e c do art. 1° da
citada Lei Complementar, com redação dada pela LC nº 135/10, determinando serem
inelegíveis os parlamentares "que hajam perdido os respectivos mandatos por infringência
do disposto nos incisos I e II do art. 55 da Constituição Federal, dos dispositivos
equivalentes sobre perda de mandato das Constituições Estaduais e Leis Orgânicas dos
Municípios e do Distrito Federal, para as eleições que se realizarem durante o período
remanescente do mandato para o qual foram eleitos e nos oito anos subseqüentes ao
término da legislatura", bem como que "o Governador e o Vice-Governador de Estado e do
Distrito Federal e o Prefeito e o Vice-Prefeito que perderem seus cargos eletivos por
infringência a dispositivo da Constituição Estadual, da Lei Orgânica do Distrito Federal ou
da Lei Orgânica do Município, para as eleições que se realizarem durante o período
remanescente e nos 8 (oito) anos subsequentes ao término do mandato para o qual
tenham sido eleitos". Ainda, deverá ser também observado o disposto nos art. 55, I e II,
sobre as causas de perda de mandato de deputado e senador, bem como o art. 54 da
CF/88.
e) os que forem condenados, em decisão transitada em julgado ou proferida por órgão judicial
colegiado, desde a condenação até o transcurso do prazo de 8 (oito) anos após o cumprimento da
pena, pelos crimes: (Redação dada pela Lei Complementar nº 135, de 2010)
Não confundir essa hipótese de inelegibilidade com a condição de elegibilidade do art. 14,
§ 3º da CF/88.
g) os que tiverem suas contas relativas ao exercício de cargos ou funções públicas rejeitadas por
irregularidade insanável que configure ato doloso de improbidade administrativa, e por decisão
irrecorrível do órgão competente, salvo se esta houver sido suspensa ou anulada pelo Poder
Judiciário, para as eleições que se realizarem nos 8 (oito) anos seguintes, contados a partir da data
da decisão, aplicando-se o disposto no inciso II do art. 71 da Constituição Federal, a todos os
ordenadores de despesa, sem exclusão de mandatários que houverem agido nessa condição;
(Redação dada pela Lei Complementar nº 135, de 2010)
Isso significa que são inelegíveis para as eleições que se realizarem nos oito anos
seguintes, a partir da data da decisão irrecorrível do órgão competente (salvo se houver
sido suspensa ou anulada pelo Judiciário). Remete-se aqui à leitura do art. 11, § 5º, da Lei
nº 9.504/97.
A redação anterior da LC n° 64/90 contemplava, no artigo 1°, apenas essas alíneas (a à i).
A multi-citada Lei da Ficha Limpa (LC n° 135/10) acrescentou, ainda, as alíneas j, k, l, m,
n, o, p e q como outras hipóteses de inelegibilidade para concorrer a qualquer cargo
público, in verbis:
j) os que forem condenados, em decisão transitada em julgado ou proferida por órgão colegiado da
Justiça Eleitoral, por corrupção eleitoral, por captação ilícita de sufrágio, por doação, captação ou
gastos ilícitos de recursos de campanha ou por conduta vedada aos agentes públicos em
campanhas eleitorais que impliquem cassação do registro ou do diploma, pelo prazo de 8 (oito)
anos a contar da eleição;
k) o Presidente da República, o Governador de Estado e do Distrito Federal, o Prefeito, os membros
do Congresso Nacional, das Assembleias Legislativas, da Câmara Legislativa, das Câmaras
Municipais, que renunciarem a seus mandatos desde o oferecimento de representação ou petição
capaz de autorizar a abertura de processo por infringência a dispositivo da Constituição Federal, da
Constituição Estadual, da Lei Orgânica do Distrito Federal ou da Lei Orgânica do Município, para as
eleições que se realizarem durante o período remanescente do mandato para o qual foram eleitos e
nos 8 (oito) anos subsequentes ao término da legislatura;
l) os que forem condenados à suspensão dos direitos políticos, em decisão transitada em julgado ou
proferida por órgão judicial colegiado, por ato doloso de improbidade administrativa que importe
lesão ao patrimônio público e enriquecimento ilícito, desde a condenação ou o trânsito em julgado
até o transcurso do prazo de 8 (oito) anos após o cumprimento da pena;
n) os que forem condenados, em decisão transitada em julgado ou proferida por órgão judicial
colegiado, em razão de terem desfeito ou simulado desfazer vínculo conjugal ou de união estável
para evitar caracterização de inelegibilidade, pelo prazo de 8 (oito) anos após a decisão que
reconhecer a fraude;
p) a pessoa física e os dirigentes de pessoas jurídicas responsáveis por doações eleitorais tidas por
ilegais por decisão transitada em julgado ou proferida por órgão colegiado da Justiça Eleitoral, pelo
prazo de 8 (oito) anos após a decisão, observando-se o procedimento previsto no art. 22;
Como visto e já referido, deverá o cidadão brasileiro vencer essas duas facetas dos
pressupostos legais para que possa habilitar-se a registrar seu nome à disputa de um
cargo público eletivo. Mas, não fica apenas por aqui, pois, além de preencher as
condições de elegibilidade e não incorrer em qualquer das hipóteses de inelegibilidade o
cidadão deverá, também, não incidir em alguma causa de incompatibilidade para que
possa exercer sua cidadania passiva. É o que veremos no próximo capítulo.
5.Incompatibilidade
Além das causas de inelegibilidade, há outras hipóteses, relativas a pessoas que exercem
cargos, empregos ou funções, públicas ou privadas, que tornam determinados cidadãos
inelegíveis caso não se afastem desses cargos, empregos ou funções,
desincompatibilizando-se nos prazos definidos pela LC nº 64/90.
Jurisprudência - "Inelegibilidade (LC no 64/90, art. 1o, inciso II, letra l e inciso IV, letra a).
Cabe ao candidato desincompatibilizar-se, ou afastar-se no prazo de lei, de direito e de
fato. Caso em que isto não se verificou. Questão de fato (súmulas nos 279/STF e 7/STJ).
Recurso especial não conhecido." NE: Candidatura a vice-prefeito. (Ac. no 13.488, de
30.9.96, rel. Min. Nilson Naves.)
§ 4° A inelegibilidade prevista na alínea e do inciso I deste artigo não se aplica aos crimes culposos
e àqueles definidos em lei como de menor potencial ofensivo, nem aos crimes de ação penal
privada. (Incluído pela Lei Complementar nº 135, de 2010)
5Conclusão
O Brasil não é mais o "país dos coronéis", nem os brasileiros são mais uma multidão
indolente para quem se olha do alto dos palanques nas campanhas eleitorais com
promessas que o vento e um pouco de tempo se encarregam de levar ao esquecimento
logo após a posse dos eleitos. Hoje, já se pode sentir nitidamente que o povo brasileiro
busca participar dos destinos da nação, que o povo, mesmo lentamente, sai de sua apatia
política quase habitual para buscar saber - parodiando Berthold Brecht - quem irá decidir
sobre o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio, sobre o
valor do transporte, da conta da luz, da água e do telefone, sobre a qualidade de ensino
que será ofertada, sobre as intermináveis filas nos postos de saúde, sobre se aquele que o
representa pela força do voto encontra-se efetivamente comprometido com quem o elegeu
e não apenas com seus próprios interesses. O povo brasileiro está a sair de sua
ignorância política e, passo a passo, segue em frente em busca de um Brasil melhor,
através de uma melhor representação política.
Este trabalho tem em vista, modestamente, colaborar com essa busca de conhecimento
por parte do cidadão brasileiro, sobremodo daqueles voltados ao estudo do Direito
Eleitoral, traçando os pressupostos básicos para alcançar a investidura em um mandato
popular, mais precisamente indicando as condições de elegibilidade, as causas de
inelegibilidade e as hipóteses de incompatibilidade, as quais, uma vez observadas,
facultam o registro de candidatura e conduzem à diplomação dos eleitos, consagrando,
afinal, a posse daqueles de quem se espera a dignidade e a compostura necessárias ao
exercício do poder político a que foi guindado pelo voto popular.
NOTAS
[1] SILVA, José Afonso da - Curso de Direito Constitucional Positivo, 23ª ed, São Paulo:
Malheiros, 01.2004, p. 365 – grifo original.
[3] MEYER, Lucia Luz - Alistamento e domicílio eleitoral - Noções básicas ao exercício da
cidadania. Disponível em: Revista Jus Navigandi, ano 13, n° 2253, 01.09.2009:
<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=13430 >.
[4] MEYER, Lucia Luz - Registro de candidatura. Como alcançar um cargo público eletivo.
Disponível em: Revista Jus Navigandi, ano 13, n° 2263, 11.09.2009: <
http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=13477 >.
[5] PINTO, Djalma - Elegibilidade no direito brasileiro, São Paulo: Atlas, 2008, p. 21.
[6] FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves - Curso de Direito Constitucional, 31ª ed, São
Paulo: Saraiva, 2005, p. 116-118.
[7] SILVA, José Afonso da - Curso de Direito Constitucional Positivo, 23ª ed, São Paulo:
Malheiros, 01.2004, p. 387.
REFERÊNCIA
FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves - Curso de Direito Constitucional, 31ª ed, São
Paulo: Saraiva, 2005.
MEDINA, Ademir Ismerim - Comentários à Lei Eleitoral, São Paulo: Quartier Latin, 2002.
SILVA, José Afonso da - Curso de Direito Constitucional Positivo, 23ª ed, São Paulo:
Malheiros, 01.2004.
TELES, Ney Moura - Novo Direito Eleitoral – Teoria e Prática, Brasília: LGE, 2002.
CF de 05.10.1988< http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituiçao.htm>
Sobre o autor
MEYER, Lucia Luz. Elegibilidade: pressupostos legais para ser votado. Jus Navigandi, Teresina,
ano 15, n. 2615, 29 ago. 2010. Disponível em: <http://jus.uol.com.br/revista/texto/17292>. Acesso
em: 16 fev. 2011.