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SEM RESPOSTAS

SCLIAR, Moacyr. Os Vendilhões do Templo. São Paulo; Companhia das Letras. 2002.

Médico, cronista, contista, romancista, ensaísta e autor de livros infanto-juvenis, Moacyr Scliar, com seu
estilo irônico e seu humor judaico, tem estórias marcadas por críticas sociais. Sua obra “Os Vendilhões do
Templo” é separada em três capítulos distintos, em que, apesar da distância do tempo e do espaço, as
protagonistas têm suas vidas entrelaçadas pelo surgimento de uma personagem incompreendida, o Vendilhão
do Templo. Essas estórias iniciam no ponto de transição da vida de suas personagens principais e acabam da
mesma forma, com algo prestes a acontecer.

A trama inicia-se em 33 d.C., narrando a estória de um campônio sem nome, um homem humilde e ignorante,
mas, depois de mudar para a cidade e descobrir a arte de vender, encontra sua identidade. Porém, tudo muda
quando se vê humilhado e não compreende o porquê da ira divina; em sua busca por vingança acaba por ter
mais dúvidas do que respostas. Séculos mais tarde, no novo mundo, um sarcástico jornalista narra um dia de
sua vida e recorda seu passado atormentado, frustrado e desencorajado, não acredita na possibilidade de um
futuro próspero, contudo velhas amizades e novos amores podem ser a solução de alguns de seus problemas.

Na obra, assuntos polêmicos são tratados com imparcialidade por Scliar, seu principal intuito é demonstrar
que, apesar de seus tabus, eles fazem parte da vida humana. A traição matrimonial é quase certa na vida de um
homem, pelo menos é o que indica o autor quando relata os encontros do vendilhão com uma prostituta e o do
jornalista com sua colega Márcia em um lugar nada convencional. A corrupção era vista pelo vendilhão, desde
que, sem excesso, como fonte de estímulo à atividade mercantil, já para o jornalista: “Corrupção é uma coisa
que dá trabalho, exige contatos, longas conversas, demanda aquele mínimo de organização que nunca tive.”.
Ou seja, para eles corrupção existe sim, mas desde que não atrapalhe suas vidas, eles não se importam, lavam
as mãos como membros da classe média normalmente o fazem. E por fim a religião, assunto – base do livro,
retrata um momento da vida de Cristo e faz o leitor ver a situação em um novo ângulo, pois em um primeiro
momento não associa a figura do mestre à do salvador.

Scliar tenta transmitir em sua obra que a vida é feita de muitas perguntas e de umas poucas respostas. Afinal,
não dá para compreender tudo; os pontos de vista são diferentes e a percepção que se tem das coisas é ínfima
diante de sua complexidade. O ideal é viver, como o próprio autor disse em uma entrevista à rádio Eldorado,
sem se explicar e sem questionar, talvez nessa simplicidade a existência da vida não seja tão questionada.

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