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Por 4 vezes a(L)mei

Para agora aprender a me a(l)mar

Ana Flavia Carriel


Ficha catalográfica (opcional).

Caso deseje, a Câmara Brasileira do Livro faz este serviço,


cobrando R$ 25 para associados e R$ 50 para não
associados.

Para saber mais, visite a página:

http://www.cbl.org.br/telas/servicos/sobreFicha.aspx

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Vez 1 – O amor do médio não foi médio , foi
grande....................................................................8

Vez 2 – Extremos da fronteira, distância, língua e o


amor nas veias.....................................................................15

Vez 3 – Amor Maduro , made in Brazil........................21

Vez 4 – Ás vezes , 3 minutos basta.............................27

Agora é minha vez..................................................................28

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Por 4 vezes a(l)mei por Ana Flavia Carriel

Dedico essa escrita de alma para minhas irmãs, pois me


aceitam como sou, estão aqui quando choro e seremos
sempre as Anas.

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Por 4 vezes a(l)mei por Ana Flavia Carriel

Vez 1 – O amor do médio não foi médio , foi


grande.

Eu
17 anos e uma jovem quase destemida
Sem saber ao certo onde ia
Em cada parada observava e refletia
“O que estou fazendo aqui?”
E a vida seguia

Tive colegas que muito me admirava


Mas nenhum entrava no meu mais intimo
Como entrava em minha sala
Não sabiam qual era a minha cor favorita
Ou qual seria o meu medo mais surreal
Tudo era da convivência, risos
Jogos, somente a busca por momentos leves
Descontraídos
Coisa de gente jovem
Mas hoje vejo que era muito banal

A rotina era um tanto quanto automática


Acorda, anda, ônibus
Escola, estuda, come
Fala, presta atenção por 5 minutos, suspira de tédio
Escuta uma musica nova
Desce pra quadra suar
O intervalo era a convenção social
Cheio de interações metidas, infladas de egos

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Por 4 vezes a(l)mei por Ana Flavia Carriel

De gente se pegando, ou merendando


Ouvia-se o sinal e retornava pra sala
“Que hora mesmo isso iria acabar?”

E isso repetidamente acontecia


Com algum evento ou outro que ocorria
Enquanto tecia
A linha temporal do Ensino Médio
Que de médio teve nada
Foi pouco baixo.
Por muito tempo.

Eu
2012
E as mudanças que eu sem querer, escolhi
Ao entrar num curso a tarde que nem entendia
Se queria? Não sabia.
Mas eu estava ali
33 garotos falantes que poucos era do meu bando
6 gurias, que nenhuma me conhecia
Talvez somente a xará da classe,
Mas era somente o oi para o oi que eu falasse.

Passou então um tempo


E como todas as interações que ocorrem as vezes sem
explicações
Estava eu repentinamente num bando
De 7 ou 8 pessoas
Tão cansadas da vida que nem tinha iniciado

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Por 4 vezes a(l)mei por Ana Flavia Carriel

e de tudo só zoava ou ria


E naquela hora, todos os dias
Isso não me incomodava
Eu só ria junto
E participava
Não era pecado querer viver umas horas querendo ser
jovem
E achar que tudo naqueles momentos, tudo se pode.

Foi então, nessa convivência


Entre alguns garotos e gurias
Que nessa idade apenas uma coisa todos queriam:
Sair a ficar
Beijar
Apalpar
Sentir a adrenalina da interação
Que pra mim, foi tardia
Pois eu não entendia
Como era possível querer tanto algo
Tão intimo
Mas de uma maneira tão básica.

Mesmo não entendendo e nunca ter e experiencia de ter


tido
Eu sabia que comigo
Era diferente o meu sentir
E o meu envolver.
Por isso, nunca quis de fato trazer ninguém pra
Dentro de mim, pra realmente me conhecer.

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Mas, ninguém escapa


De encontrar alguém que te apresente o amor
Que falta o ar
Que é cultivado como qualquer flor
Que não entendemos na primeira vez
Que nunca achamos que irá chegar.

Então apareceu ela.


Ela já estava lá. Só não era notada assim.
Pelos outros, vários moços, mas não por mim.
Um dia, vários deles vieram pedir opinião
“O que eu faço pra ganhar dela, o coração?”
E para tentar ajudar, foi ali então que eu percebi
Que não somente te analisei
Eu te observei, absorvi e te entendi.

Desde então nos aproximamos


Na mais pura amizade
Dessas que eu nem levo o milho
Você vem com a pamonha
Bolo, curau e a padaria pronta
E a conexão e sintonia
Era a mais verdadeira que existia
Então, quando percebi, me apaixonei.

Maria Carolina, Eu estava te amando.

Ai então, não consegui mais me portar igual


Chegar perto só fazia queimar mais meu coração.
Te ver chegar no pátio após o almoço

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Por 4 vezes a(l)mei por Ana Flavia Carriel

Com a sua mochila listrada


A sua voz fina, animada
A socializar com os nossos
Pra saber qual era a boa do dia
Era pretexto para meu coração ser feliz
E ardia e ardia.

Lembro-me de todas as caminhadas que fizemos


Todos os momentos de brincadeiras em classe
(ficamos vesga na frente dum professor?)
De todo os momentos que esperávamos o ônibus
Em que paguei uma paçoca para a menina
Gritar seu nome e te envergonhar
E você ficar deliciosamente brava comigo
Lembro de outros que ficávamos sentadas e
conversávamos sobre
Tudo e todos
Sentimentos e situações
Piadas internas
E a pior hora era quando ônibus chegava
Nem saia e eu já sentia a sua falta.

Lembro de quando você chorou pra mim


Abriu seu coração florido
Mas também tão cansado
E naquele minuto meu amor foi mais intensificado.

Foram muitas coisas até o dia do beijo da testa.


“Te amo” - Você disse - E eu sentada no banco do
terminal

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Com as bochechas queimando e nunca mais senti pela


primeira vez uma sensação dessa.

E então, me vi dentro da casa da sua família


Seu aniversário acontecia
Você estava triste
E feliz também.
Estávamos entre amigos
E discursei pra você na hora dos parabéns.

Linda estava com a saia branca curtinha

Mas, tudo que é bom


Pode ou não durar.
Mas você deve pensar
No que está disposta a
Sacrificar
Aturar
Enfrentar
Para que seja permitido viver
E eliminar na sua vida todos os “e se”.

Eu não tive coragem


Eu escolhi me afastar
(por medo e outros tantos pessoais motivos)

Eu desabafava sobre você para uma amiga


Que que sempre me ouvia
E eu achava que era acolhida (e de fato era)

Até que no dia

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Que você entrou no laboratório


Me encarou e pediu permissão para sair com ela
Comer lasanha era a maneira das pessoas flertarem
Mas também, o que é melhor do que algo com muçarela?

Naquele momento, eu estava sentada na cadeira


Minha vontade era puxar você pra mim
E dizer que não
E dizer que te amava
E dizer que, por mais que você fosse embora em uns
meses, depois que terminássemos o ensino médio
Era a pessoa que eu mais gostava
A favorita no mundo
E que onde eu encontraria
Outra guria
Igual a você?
Teria que me matricular no mesmo curso
Fazer os mesmos passos pra isso?

Tudo isso me passou pela mente


Coração
Meu ser.
Eu só não queria te perder.
Mas além do que eu queria
Eu mais que tudo queria te ver feliz e a viver.

E então te disse:
“Vai lá, manda a ver “.

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Vez 2 – Extremos da fronteira, distância,


língua e o amor nas veias

Certa vez
Agora já na faculdade
Engenharia entrando na minha vida
Estava eu a caminho da aula
Dentro do ônibus
Com fones de ouvido
Pra fugir de todo zumbido
Da cidade grande que cresci

Eu poderia estar ouvindo musicas


Mas as vezes tenho a imensa necessidade de ouvir
Alguém falar
Algo aleatório mesmo
Sem muita intenção de julgamento
Apenas para distração

Então, estava eu na minha favorita estação


Ouvindo um descontraído noticiário
Que anunciava um aplicativo
“Ache seu amor, por mais que apenas libido”
Era um conceito interessante
Encontrar alguém, perto ou distante
Só pelo que é ou sabe
Pelo conceito da sapiosexualidade
Pensei “Então será que preciso saber muito bem
matemática pra me dar bem nesse curioso tipo de tinder?”

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Fiz o cadastro.
Uma decepção.
Só gente distante ou sem a melhor intenções.
Até que me surgiu uma moça
Dos cachos mais lindos que já vi
Densos, com curvas perfeitas
Além de ser médica e argentina
(Me julguem, mas sempre gostei das latinas)
E o espanhol é a linha que a minha alma vibra
Dei um like
E ele foi correspondido.
Mandamos um Hola e ai aprontou o cupido.

Nos falamos por semanas


A médica tinha bom gosto
Pra música, comida e humor
Trocamos facebook para verificar se existíamos
Naquela ou alguma outra realidade
Trocamos então whatsapp
E todos os dias você me mandava mensagem
Textos, imagens
Do quanto gostava de mim.
E a sorte de termos suprido
Esse vazio, não só em mim.

Até que um dia


Eu fui pra casa de uma amiga do médio
Tomamos álcool e quando eu estava no tédio
Tive a coragem de falar
“Gosto mesmo de você e você me pira “
Mesmo você não acreditando muito

[ 14 ]
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Senti que seu coração sorria


E o meu explodia
E dessa vez eu sabia que não poderia ser infarto
Pois não era a primeira vez.

Desde então
O que sentíamos só crescia
Dentro da distância, a vontade de se ver
As conversas diárias, os planos remotos
As rotinas doidas
Nos amávamos e gostávamos da companhia
Da vida vazia que tínhamos que viver.

Tudo isso até que em um momento


Meu amigo sacana pediu um nude
E eu brinquei falando que sim
Você ficou brava com ciúmes de mim

Eu disse “Mas não temos nada “


E nesse dia, você disse: Vamos ser namoradas.

Meu mundo caiu.


Eu nunca tinha aceitado rótulo de ninguém.
E aquela situação atípica
Da distancia, do desconhecimento
De saber como era te abraçar, tocar, beijar
Eu não sabia.

Mas como tiê já disse


Dessa vez eu Disse sim.

[ 15 ]
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Eu estava saindo da faculdade


E você me ligou
Pediu em namoro as 10:40 da noite
Que eu lembro pois perdi o ônibus.
E não fiquei brava, pois
Eu só queria sair gritando pro mundo
Que eu estava amando.
E ainda, namorando.

Foi assim até setembro.


Os acontecimentos nos ajudaram
E você veio pro meu país.
Pra minha cidade.
Pro meu bairro.
Pro meu carro.
Pra minha casa.
Pra minha vida.

O abraço da rodoviária foi o melhor


O primeiro encontro foi o surreal
Seus cachos eram tão cheirosos
Seu corpo, sua pele
Você é linda.

Era meu aniversário, e você conheceu minha família,


meus amigos
Dividiu o mesmo espaço comigo
Minha irmã nos pegou nos beijando na cozinha
E rimos dessa patifaria
E depois passamos a noite inteira juntas
Não acreditando que era verdade

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No outro dia, acordei e te fiz café


Te levei para a rodoviária, você tinha que voltar
Estudar e trabalhar no seu estágio

E nos vimos mais vezes


Nos encontramos em mais cantos da minha cidade
Nos beijamos, nós amamos nos sábados e domingos
E por alguns momentos, algumas vezes
Eu vivi o amor que antes eu não tinha tido.

E, mesmo estando no nosso canto


As pessoas não davam paz
Eram ligações atras da gente
E a outra guria que quase bati
Por dizer que eu era muito nova pra você

E que quando olhei, você estava escondida atras dos


cachos
Sem saber o que falar
Uma pequena menina
Que eu queria proteger
E sempre amar.

Mas, acabou o melhor momento


Você teve que ir, com o vento
Naquele dia, trouxe chuva pra cidade
E meu coração choveu também.

Meses passaram.
A vida se tornou mais difícil pra ambas.
Seus planos não funcionaram e você se afastou

[ 17 ]
Por 4 vezes a(l)mei por Ana Flavia Carriel

Como eu entenderia o que estava acontecendo


Se você se fechava e não compartilhava
Não mostrava o que estava doendo?

E num momento então, depois de 2 anos, sua mensagem


chegou:

“não deu certo, meus planos não se concretizaram,


Acabou”.

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Vez 3 – Amor Maduro , made in Brazil.

A tentativa é dizer que temos esperança


Já tive conversas com pessoas que
Entendem minha maneira clichê
Que as vezes estou a imaginar:
“Onde está e o que está fazendo a pessoa que irei me
apaixonar pela vida”
Se é que isso existe.
E nessa esperança
Nessa era tão digital
Porque não tentar um app novo afinal?

Algo mais especifico, pra meninas que beijam meninas (e


meninos )
Pra tentar encontrar alguém que se identifica com o que
olho no espelho
Com o que passei na vida (pouca coisa, mas senti muito)
Não sei, apenas encontrar algo que faça sentido
Que flua naturalmente
Que seja fértil semente
Pra nascer algo bom.

E fiz isso.
E te encontrei, Fernanda
Tinha as fotos engraçadas
Um sorriso lindo, bem humorado
E quando demos o tão esperado match
Não foi mais nada necessário

[ 19 ]
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Você se mostrava mente aberta


E falava sobre tudo
Achei sempre admirável a maneira que entendia
Sobre todas as coisas da vida
Da menor e da mais complexa
Como cozinhar e cuidar de crianças
Dos maravilhosos sotaque do sul
De game de patifarias

E de como sutilmente me apresentou


De maneira mais incrível e gostosa
O gosto pela putaria.

Eu costumo pensar que para quem sabe o que quer


As coisas podem ocorrer sim de maneira mais rápida
Eu vivi coisas que já me deixam preparadas pra próxima
E você também.

Tanto que em poucas semanas


Você já estava a me dizer
Que o seu tempo passava de maneira diferente
Que era para vivermos o presente

Depois de algumas semanas você estava aqui


No mesmo estado
Na mesma cidade
Na mesma cama.

Aquela sexta feira


Tinha tanta coisa acontecendo
Só lembro da promoção

[ 20 ]
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E da tinta que eu tinha no cabelo


Que sai correndo de uma cidade
Cheguei noutra e pulei no ônibus
Fui para o hotel onde você estava
E eu nem sabia se eu estava com a alma ali
Tão ansiosa e nervosa
Até que cheguei na sua porta e bati.

Você abriu.
Meu coração me consumiu.
Você falou.
Você é mais linda ainda pessoalmente.
Embora nervosa, estava de boa
Até falava calmamente
Eu nervosa
E falava sem parar com as mãos

Até que num dado momento


Não nos contivemos
Nós olhamos
Você me colocou na escrivaninha
E demos nosso primeiro beijo

Que beijo.
Que cheiro.
Que desejo.

Consumimos ali
A adrenalina que eu podia
Te fazer sentir prazer num nível que eu nem entendia
Que logo acabou e eu voltei.

[ 21 ]
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E retornei para nosso final de semana.


Quase não saímos da cama.
Nossos corpos nus e você sempre dizia
“Pra que vergonha guria, tu és linda”
E eu, pela primeira vez a amava e a desejava de maneira
mais intensa.

Dessa vez, você foi com o vento


E mesmo de longe, me senti muito amada.
A pandemia veio
E nos deixou desoladas
Mesmo assim, estávamos otimistas
E num certo dia, com tu chapada
Me cobrou perto do amigo
Me chamando de namorada.

No outro dia, me senti desafiada


Então perguntei se comigo queria
Enfrentar os desafios e ser
Oficialmente minha parceria da quebrada.

Você disse sim, e tava tão feliz.

E foram meses
Os vídeos chamas, os momentos de companhia
O sexo virtual, o que dava pra fazer na pandemia
Os conselhos, os aprendizados
A saudade, as lives de sertanejo
A playlist de funk
Os mimos enviados ao meu serviço
Me senti amada

[ 22 ]
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Desejada
Invejada
E crescida.

Mas, tudo que é bom


Pode ser até bom pra mim
Que a esperança nunca morre
E que na vida, das situações difíceis
Nunca fui de desistir por dar errado
Sempre tentei fazer dar certo
Mas no meu tempo

E as vezes as pessoas tem pressa


Pois não sabemos se o amanhã nos espera.
Você me ligou.
Disse que já não dava mais.
Talvez depois da vacina
Mas ficar longe não era vida
E eu não mudaria minha sina.

“ Não dá mais “- E assim então seguimos nos


afastando devagar.

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[ 24 ]
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Vez 4 – Ás vezes , 3 minutos basta

Texto do livro.

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Agora é minha vez

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