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ISSN 1984-9354
O PROCESSO DE DECISÃO DE
COMPRA EM SUPERMERCADOS ON-
LINE: UMA PESQUISA QUALITATIVA
COM CLIENTES DO ZONA SUL
ATENDE
1. Introdução
A Internet trouxe a oportunidade para os varejistas inovarem em suas comunicações
com os consumidores e até realizar entregas customizadas (SRINIVASAN et al., 2002). O
número de compradores on-line no Brasil saltou de 4,8 milhões em 2005 para 9,5 milhões em
2007, um acréscimo de 97,9%. No que diz respeito especificamente ao varejo on-line, o
faturamento, em 2008, foi de 8,2 bilhões de Reais (http_1). A atividade supermercadista, em
virtude das mudanças no perfil de seu consumidor e de novas tecnologias à disposição do
varejo, tem tido que se adaptar às novas realidades, e é, portanto, importante que se conheça o
comportamento do consumidor nesse novo canal: a Internet. Em 2007, pela primeira vez, o
volume de compras em supermercado através da Internet ultrapassou as vendas realizadas por
telefone: 1,7% pela Internet contra 0,5% por telefone (ABRAS, 2008). Apesar disso, é notável
a carência de estudos sobre o processo de decisão de compra de um consumidor de
supermercado pela Internet no Brasil.
Segundo Nielsen (1997) apud Cutieri e Donaire (2000), o supermercado é um dos
maiores representantes do varejo tradicional e é também o principal canal de distribuição de
bens essenciais à população urbana. A participação dos supermercados na distribuição de
alimentos no mercado brasileiro corresponde a 85% (CUTIERI; DONAIRE, 2000).
O Zona Sul foi o primeiro supermercado no Rio de Janeiro a realizar serviço de
vendas pela Internet, iniciando em 1996, e é o único que dispõe de um centro de distribuição
especializado, tornando-se, na cidade do Rio de Janeiro, líder neste segmento. De acordo com
a Textual Serviços de Comunicação, em média, doze mil clientes utilizam o Zona Sul Atende
On-line para realizar, pelo menos, uma compra de supermercado por mês (http_2).
Por ter sido o pioneiro em comercialização de produtos de supermercado on-line no
Rio de Janeiro e ser o supermercado líder no segmento on-line, o Zona Sul Atende foi
escolhido como objeto deste estudo. A pesquisa buscou descrever e analisar o processo de
decisão de compra dos consumidores que utilizam a Internet para realizar suas compras de
supermercado no Zona Sul. Em razão da escassez de estudos sobre o tema, optou-se por uma
metodologia qualitativa. Foram realizadas 20 entrevistas em profundidade com consumidores
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No que diz respeito a compras de supermercado, Murphy (2007) aponta que comprar
pela internet pode ser atraente para diferentes públicos: os “pobres de tempo”, como famílias
com empregos que demandam muito tempo de suas rotinas; os pais com crianças pequenas,
para quem os produtos no supermercado podem parecer tentadores demais; as pessoas sem
carro; os mais idosos ou deficientes físicos; os “Tecnomaníacos”, que preferem utilizar o
computador a socializar no ambiente de supermercado.
Segundo Blackwell et al (2008), para alguns consumidores, comprar é um trabalho, e
não uma diversão. Esses consumidores podem adotar mais facilmente as compras pela
Internet, que prometem ser rápidas, fáceis e com envolvimento pessoal menor. O autor ainda
lembra que, para esse tipo de consumidor, a tarefa do profissional de marketing é tornar o
processo de compra o mais fácil e rápido possível.
Nesse contexto, há os conceitos de valores utilitários e hedônicos. O valor utilitário
pode ser conceituado como um julgamento de benefícios funcionais e análise de custo-
benefício, englobando aspectos mais cognitivos, como aspectos econômicos, de economia de
tempo e de conveniência. Já o valor hedônico está mais relacionado a benefícios e custos da
experiência da compra. Um exemplo é o entretenimento (OVERBY e LEE, 2006).
Para Overby e Lee (2006), o valor hedônico parece ter um papel significante para
compradores on-line infrequentes, mas não para compradores frequentes. Esses autores
realizaram uma pesquisa que buscou entender o perfil de compra do consumidor que
atualmente faz compras pela Internet. Concluíram que o valor utilitário da compra tem uma
influência muito maior na preferência pelo varejista na Internet do que o valor hedônico da
compra. Segundo eles, consumidores procuram comprar pela Internet quando procuram
valores utilitários como preços mais baixos e conveniência. Os autores indicam, então, que
varejistas on-line se concentrem em fornecer um nível de valor utilitário adequado aos seus
consumidores antes de se concentrar em outros fatores do site.
Influência do ambiente do site
De acordo com Mummalaneni (2005), as características ambientais de um website são
capazes de influenciar a satisfação do consumidor, sua intenção de lealdade e o número de
itens comprados. Kim e Stoel (2004) também examinaram essa questão da influência da
qualidade do website na satisfação do consumidor. E, Manganari et al. (2009) abordaram a
existência da influência da atmosfera da loja virtual no comportamento de compra on-line.
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Mowen e Minor (2007) apontam que o ambiente da loja influencia o estado emocional
do indivíduo, podendo afetar seu comportamento on-line. Menon e Kahn (2002) realizaram
uma pesquisa que investigou os efeitos de estímulo e prazer induzidos em experiências de
compras pela Internet. Seus resultados indicam que os profissionais de marketing devem
considerar cuidadosamente o impacto emocional do website no consumidor. Se a intenção é
promover o site para uma tarefa direta como uma compra única, ou algo que demande uma
reação imediata, e se uma exploração mais profunda por parte do usuário não é demandada ou
desejada, então talvez ele deva ser desenvolvido para ser estimulante. Se a intenção é que o
consumidor passe mais tempo no site, é preferível desenvolver um website com sensações
agradáveis. Isso encorajará, inclusive, compras por impulso (MENON e KAHN, 2002).
De acordo com Mowen e Minor (2007), o ambiente de uma loja transmite uma
mensagem aos consumidores, por exemplo, de alta qualidade. O uso de fotos bonitas e
agradáveis é uma forma de induzir prazer no consumidor, assim como o uso do humor em
algumas ocasiões. O estímulo pode ser induzido de muitas formas, como o emprego de cores
vibrantes e um conteúdo informacional que exija algum esforço do usuário para ser
assimilado (MENON e KAHN, 2002).
Risco Percebido
Um dos riscos mais mencionados pela literatura sobre compras na Internet é o da
privacidade e segurança das informações transmitidas (KOVACS e FARIAS, 2004). Kovacs e
Farias (2004) sugerem que é preciso lidar de forma diferente com usuários que já compraram
pela Internet e com usuários que nunca compraram. Eles apontam que o risco de satisfação e
o risco de perda de socialização são também riscos importantes a serem considerados para
indivíduos que nunca compraram on-line. Entende-se por risco de satisfação o risco da
alternativa escolhida não ser consistente com as crenças anteriores relativas a ela. Já o risco
de perda de socialização diz respeito ao fato dos consumidores preferirem fazer compras fora
da Internet como uma fonte de prazer e interação social. Este risco em particular não apareceu
nos resultados da pesquisa exploratória realizada por Hor-Meyll (2002) com consumidores
que compram atualmente pela Internet. Nos relatos dos entrevistados, os consumidores se
viam destacados da massa comum, como mais inovadores.
Outro risco mencionado na literatura é o da falta de informações sensoriais. Como
apontam Blackwell et al (2008, p. 155), pela Internet, é impossível experimentar roupas ou
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apalpar e cheirar frutas, legumes e verduras. Assim, decepções podem ocorrer mais facilmente
do que em lojas físicas. Arruda e Miranda (2003) também acrescentam que alguns indivíduos
desistiram ou simplesmente não realizam compras virtuais, pois dessa forma não veem e não
sentem o produto e também porque possuem preferência pela loja física real.
Layout de lojas virtuais
Vrechopoulos et al. (2004) realizaram uma investigação experimental a respeito do uso
de três diferentes tipos de layout em um ambiente on-line de compras de supermercado:
Freeform, Grid e Racetrack. A importância do estudo, segundo os autores, é que o design da
interface e a interação entre o consumidor e o computador são fatores críticos para o sucesso
de um negócio via Internet. Os resultados da pesquisa demonstraram que o layout afeta
significativamente o comportamento do consumidor. Os três tipos de layout mencionados
também podem ser encontrados na literatura a respeito de lojas físicas (GHOSH, 1994 apud
VRECHOPOULOS et al, 2004), mas os autores do estudo citado adaptaram os parâmetros de
navegação dos layouts para o ambiente on-line da seguinte forma: (1) Grid: consumidores
visitando uma loja on-line baseada na estrutura de layout Grid realizam sua navegação através
de uma estrutura hierárquica de organização, por exemplo: categoria de produto → sub-
categoria de produto → produto final; (2) Freeform: visitantes de uma loja Freeform podem
encontrar seus produtos desejados rapidamente, através de uma ferramenta de busca ou
selecionando qualquer item que esteja permanentemente à mostra em qualquer página da loja;
(3) Racetrack: o layout Racetrack força que os consumidores naveguem por caminhos
específicos para encontrar seus produtos desejados. Isso é feito colocando-se apenas dois
“corredores” em cada página. Os consumidores, então, precisam escolher um dos corredores à
mostra para continuar a navegação dentro da loja.
Os resultados do estudo de Vrechopoulos et al (2004) em termos de usabilidade
percebida, facilidade de uso, entretenimento e tempo, para cada layout, foram: (a)
Usabilidade Percebida: os participantes do experimento perceberam o layout Freeform como
mais útil para encontrar os produtos da lista de compras no loja on-line; (b) Facilidade de
Uso: os participantes perceberam o layout Grid como o mais fácil de usar. O layout Racetrack
foi percebido como o mais difícil de ser utilizado; (c) Entretenimento: o layout Freeform foi
percebido como um pouco mais divertido, mas por uma margem pequena; (d) Tempo: foi
encontrado que o layout afeta significativamente o tempo que o consumidor está disposto a
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gastar comprando. Os layouts em que os participantes ficaram mais tempo comprando foram
os Racetrack e o Freeform.
3. Método
De acordo com Neves (1996), a falta de exploração na literatura disponível a respeito de
certo tema e a intenção de compreender vários aspectos de um fenômeno complexo são
elementos que tornam propício o emprego de métodos qualitativos de pesquisa. Além disso,
uma das vantagens dos métodos qualitativos de pesquisa é “permitir uma melhor
compreensão dos significados, dos valores e das opiniões dos atores sociais a respeito de
situações e vivências pessoais” (FRASER E GONDIM, 2004, p. 140). Dada a escassez de
estudos sobre o tema, considerou-se também a flexibilidade do método, que favorece “o
surgimento de elementos novos, imprevistos e a apreensão de aspectos ambíguos”
(GOLDMAN E MAC DONALD, 1987, apud CASOTTI, 1999, p. 9). Para o presente estudo,
decidiu-se utilizar uma combinação de duas técnicas de pesquisa qualitativa: a entrevista em
profundidade e a observação sistemática.
Neste estudo, o uso da entrevista em profundidade teve como objetivo investigar como
os consumidores entrevistados percebem o ato da compra de supermercado pela Internet;
pretendeu-se conhecer suas opiniões e crenças a respeito de si e do processo de compra
estudado. As entrevistas eram iniciadas com questões sobre o perfil do consumidor
entrevistado; em seguida, pedia-se aos informantes que realizassem sua compra normalmente,
apenas solicitando-os a se manifestar, em voz alta, caso ocorresse algum fato que eles
julgassem que merecesse a atenção do pesquisador. A seguir, era feita a entrevista
propriamente dita, com base em roteiro previamente estabelecido, construído a partir da
revisão de literatura. As entrevistas foram gravadas.
A observação, por outro lado, foi utilizada para investigar como os consumidores agem.
Optou-se pela modalidade de observação sistemática, buscando o distanciamento entre o
observador e o fenômeno observado, assim como a objetividade da observação. Os processos
de compra foram gravados com o uso de um software de licença livre chamado CamStudio
(http_3). O CamStudio é capaz de gravar, em um arquivo digital de vídeo, tudo que se passa
na tela do computador. Dessa forma, o processo de compra, toda a movimentação do cursor
do mouse de cada entrevistado na tela, foram gravados em vídeo, para análise posterior.
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Para encontrar os produtos, o usuário pode optar pela navegação por seções. Ao
encontrar a categoria de produtos que deseja visualizar (por exemplo: legume convencional),
o Zona Sul Atende lista para o usuário todos os itens daquela seção. Outra opção de procura
por produtos é o uso do recurso “Compra Fácil”. Através dele, o usuário lista os produtos de
sua lista de compra e as alternativas são apresentadas, para cada um dos itens, um após o
outro. Uma terceira alternativa é o uso do encarte on-line para a procura de produtos. Esse
encarte é uma versão digital do encarte distribuído fisicamente pelas lojas do Zona Sul. O
usuário também pode optar por ir na aba de promoções e selecionar o item “encarte da
semana” para procurar os produtos oferecidos com desconto.
O Zona Sul Atende grava as compras do usuário em listas. Assim, ao voltar ao site, o
cliente pode verificar as compras que já havia feito antes. Esse recurso tem como finalidade
agilizar as compras do cliente, especialmente se são rotineiras e com muitos itens comprados.
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Se houver problema durante a compra, por exemplo, se a conexão à Internet falhar, o Zona
Sul Atende gravará a compra e a mostrará ao cliente como “Compra Interrompida”.
Ao terminar as compras e decidir proceder à finalização, o usuário recebe uma série de
opções. Além de poder optar por enviar as compras para presente, o usuário pode escolher o
endereço onde prefere que a entrega seja realizada, escolher entre horários para entrega pré-
estabelecidos pelo Zona Sul Atende ou programar sua entrega para o dia e o intervalo de
horários. Finalmente, caso o usuário necessite de suporte da equipe do site, pode optar por
fazê-lo por chat, e-mail ou telefone. Para falar por chat ou por telefone, no entanto, existem
horários específicos em que o serviço estará disponível. O suporte não funciona 24 horas.
Pode-se dizer que, de acordo com as classificações de layout apresentadas
anteriormente, a organização do Zona Sul Atende é um misto de Grid e Freeform. Se o cliente
procurar pelos produtos da sua lista de compras utilizando a busca por seções, estará usando o
recurso do Zona Sul Atende baseado na organização Grid. No entanto, como o cliente
também tem a opção de buscar pelo produto que deseja diretamente pela ferramenta de busca
do site, então o site também pode ser classificado como Freeform. Dessa forma, espera-se que
usuários mais avançados, que procuram usabilidade e desempenho, ou seja, que querem
encontrar cada produto rapidamente, escolham realizar as compras prioritariamente pelo
mecanismo de busca do Zona Sul Atende (freeform). Por outro lado, usuários que estão
procurando aprender a usar o site e que desejam que a experiência seja clara e fácil, deverão
optar por navegar pela aba de seções (grid).
Perfil dos informantes
Foram entrevistados, ao todo, oito homens e doze mulheres; quatorze eram originários
do Rio de Janeiro, e seis de outros estados; todos se encontravam morando atualmente no Rio
de Janeiro. A idade dos informantes variou de 27 a 56 anos, com média 35,6. Dez dos
entrevistados são solteiros, oito casados, dois divorciados. O critério foi o de ser usuário do
Zona Sul Atende e a busca de informantes foi por acessibilidade.
Reconhecimento de Necessidade
No primeiro estágio do processo de compra, o reconhecimento de necessidade de fazer
compra de supermercado on-line parece ser similar ao do supermercado em sua versão física.
Os entrevistados relataram que geralmente começam a perceber que é hora de fazer compras
quando a casa começa a se tornar „desabastecida‟. Frequentemente, a empregada doméstica é
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a iniciadora: avisa que algum produto que ela necessita para trabalhar está faltando ou faz
uma lista de compras. Alguns entrevistados também declararam que decidem fazer a compra
de supermercado quando começam a dar falta de alguns produtos específicos.
Apenas um dos entrevistados mencionou que o encarte enviado por e-mail pelo Zona
Sul cria desejo de compra, mas ainda assim, somente se o encarte contiver em promoção um
produto que já faça parte rotineiramente da lista de compras do consumidor.
Avaliação de alternativas
Identificada a necessidade de „abastecer a casa‟, surge a questão de como fazê-lo. Por
serem usuários habituais de compras de supermercado pela internet e terem sido contatados
para uma pesquisa sobre esse tipo de compra, os entrevistados, espontaneamente, não
mencionaram qualquer processo de decisão. Já tinham escolhido a compra on-line. Ainda
assim, buscou-se investigar as razões dessa opção.
As duas vantagens apontadas unanimemente pelos entrevistados foram: economia de
tempo e comodidade. Quanto à primeira vantagem, alguns depoimentos resumem bem que o
problema de falta de tempo não é apenas a falta de tempo em si, mas também a relutância em
gastar seu tempo livre fazendo compras: "Durante a semana eu tô todo enrolado, teria de ir
sábado de manhã. Eu não quero perder o meu sábado, que eu tenho outras coisas para fazer
e não quero fazer no meu sábado. Então a decisão é: vou fazer on-line". "É muito mais
barato pagar a taxa de entrega e usar o tempo para aproveitar a vida".
Nesse sentido, os achados da pesquisa condizem com o que escreveram Blackwell et al.
(2008) sobre o uso de tempo por pessoas que não consideram o ato de ir às compras uma
diversão: os respondentes procuravam terminar suas compras rapidamente para dedicar seu
tempo livre a atividades que lhes dessem prazer.
No que diz respeito à comodidade, carregar peso, se deslocar, foram os aspectos mais
mencionados. A partir do momento em que a quantidade de produtos se torna muito grande e
pesada, a compra de supermercado pela Internet se torna uma boa opção, especialmente para
quem não tem carro. Outras vantagens percebidas incluem: a lista pronta do site, poder olhar
os armários de casa quando estiver em dúvida se tem ou não o produto, ou para se certificar
da marca, não precisar se arrumar para sair de casa, poder interromper as compras para
continuar depois e saber, durante todo o processo, qual está sendo o valor da compra.
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Além disso, vários informantes declararam que simplesmente não gostam de fazer
compra de supermercado: “Supermercado não é um lazer. Tem gente que acha, para ver os
produtos. Eu acho que quanto mais você olha, mais você compra. E os transtornos
associados acabam com o lazer”. “Eu odeio ir no supermercado. Nunca gostei”.
Um grupo de entrevistados em particular chamou atenção pelo motivo principal pelo
qual migrou do supermercado físico para o on-line: são consumidores que residiam
anteriormente em outras cidades e que, em virtude da péssima experiência que tiveram com os
supermercados do Rio de Janeiro, passaram a comprar pela Internet ao se mudarem para o Rio
de Janeiro. Seus depoimentos dão uma boa idéia do que os fizeram adotar as compras de
supermercado on-line: “Eu escolhi comprar pela Internet porque eu me irrito muito quando
eu vou no supermercado, porque eu gosto de fazer compra. Compra em geral. Mas os caixas
são mal-educados, as pessoas que deixam o carrinho no meio do negócio, eu acho os
supermercados um pouco sujos aqui. E são muito pequenos, muito apertados, em São Paulo
os supermercados são amplos, sabe? (...) Então um pouco para fugir, assim, dessa irritação,
eu compro on-line.".
Isso não significa que não haja desvantagens em se fazer compras pela internet. As
principais apontadas pelos entrevistados foram: falta de informações, especialmente as
sensoriais, dos produtos; o grande intervalo de tempo em que a compra pode chegar em casa;
o preço mais caro; o risco de não vir algo que foi encomendado. Ainda assim, na avaliação
dos entrevistados, os benefícios compensam amplamente essas desvantagens.
Quanto à escolha do Zona Sul Atende, os entrevistados revelaram efetuar pouquíssima
pesquisa na comparação com outras alternativas. Durante a pesquisa e observação, todos
foram diretamente para o site do Zona Sul Atende. Indagados sobre esse comportamento,
alguns disseram ter procurado alternativas em ocasiões específicas. Duas entrevistadas
relataram haver feito comparação de preços entre o Zona Sul e o Pão de Açúcar. Como o
valor total da compra foi similar, a alternativa do Pão de Açúcar foi eliminada e nenhuma das
duas voltou para comparar os preços novamente. Outras duas entrevistadas disseram ter feito
pesquisas ocasionalmente, para a compra de uma grande quantidade de itens. Mas ambas
disseram não ter interesse em fazer esse tipo de procura para compras do mês.
Essa falta de interesse em avaliar alternativas se dá, de acordo com os entrevistados,
por três motivos: por hábito, para que não haja a cobrança de mais de uma taxa de entrega e,
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das entrevistadas: “Não é tão prático assim” (...) “Procurar o produto na prateleira é bem
mais rápido”. "Quando eu dito a lista pelo telefone e digo "eu quero ovos", ele já sabe aonde
que clica rapidamente e bota uma ou duas ou três dúzias de ovos. E ele é muito mais rápido
do que eu, que tenho que ficar "peraí, ovos é no hortifruti, ou é aqui ou é ali", eu fico catando
onde é que tem os ovos para poder escolher. Já, na minha lista padrão, isso fica mais fácil".
Em contrapartida, pessoas com uma lista pronta de produtos em mãos tenderam a
segui-la até o fim, mesmo que não à risca. O ato de comparar a lista do site com a lista de casa
é também uma tarefa que pode se tornar bastante enfadonha. E o motivo é que a lista de casa
não é organizada como a lista do site. Por exemplo, a lista do site é organizada por ordem
alfabética, e a lista de casa não segue uma ordem lógica muitas vezes. Ficou claro na pesquisa
que esse tipo de tarefa desgastou o humor dos entrevistados, especialmente quando a lista de
casa era extensa. Ainda assim, as listas prontas do site parecem servir como um eficiente
apoio à compra: ajudam o usuário a não esquecer de algum produto (no caso dos usuários que
não escreveram a lista) e a encontrar rapidamente suas marcas e produtos preferidos.
Ao mesmo tempo, tendem a inibir a comparação do usuário entre produtos semelhantes,
levando-se em consideração marca e preço, pois, ao ver o último produto comprado constando
em sua lista atual, o cliente já o incluía ali mesmo no carrinho de compras.
Comparação de preços
Todos os entrevistados realizaram comparação de preços entre os produtos do site, de
uma maneira ou de outra. Dezesseis checaram a aba de promoções do Zona Sul Atende e
viram os itens disponíveis com desconto, um a um. É importante frisar, no entanto, que essa
procura por promoções não fazia com que os consumidores escolhessem os produtos por
preço. Como citado anteriormente, os usuários já possuíam uma lista evocada (SCHIFFMAN
e KANUK, 2000, p. 404) e essa procura, na verdade, era como uma “caça ao tesouro”, na qual
os clientes esperavam encontrar suas marcas favoritas em promoção.
A aba de promoções também parece ser um bom incentivo para a compra por impulso.
Afinal, como o usuário percorre todos os produtos disponíveis, um a um, pode se interessar
por algum item em promoção que não estava em sua lista.
Uma entrevistada declarou que sempre olha a aba de promoções antes de terminar a
compra, em suas palavras: “Para ver se tem uma barbada. Não perder uma oportunidade.”
As influências do ambiente
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Anteriormente neste estudo, foi citada a pesquisa realizada por Menon e Kahn (2002),
na qual os pesquisadores relataram os resultados do prazer e do estímulo induzido nas
compras on-line. A respeito disso, onze entrevistados relataram que a compra foi entediante.
Mais especificamente, a compra começa em um nível neutro, nem estimulante e nem
entediante, e aos poucos começa a se tornar progressivamente enfadonha. Como se viu, vários
entrevistados relataram espontaneamente que, aos quarenta minutos de compra
aproximadamente, já estavam cansados e com vontade de encerrar: “Agora eu já to entrando
na fase assim que eu já meio enchi o saco de fazer a compra. Nesse exato momento, então eu
já começo a olhar assim, coisas que eu tô mais precisando”.
Todos os entrevistados concordaram que, quanto menos tempo passam fazendo a
compra, mais agradável a experiência é. Os fatores que causam cansaço, segundo os
entrevistados, são: (1) Precisar rolar a tela o tempo todo, para checar e comparar os produtos;
(2) Clicar e precisar esperar a tela mudar, repetidamente; (3) Precisar, o tempo todo, ficar
checando a lista de compras de casa e comparando com a do site; (4) Quando é necessário
comprar produtos obrigatórios, em que não há prazer associado, como produtos de limpeza e
papel higiênico; (5) Procurar e ter dificuldade ou demorar para encontrar o produto desejado.
Poucos entrevistados relataram ter passado por sensações de estímulo durante a compra.
Uma das entrevistadas, curiosamente, alternava frequentemente entre a procura por seções e o
sistema de busca do site. Ela relatou, espontaneamente, que alternava entre as duas opções
para evitar que a experiência se tornasse monótona. Dois entrevistados se sentiram
estimulados ao pesquisar a aba de promoções do site e disseram gostar muito de encontrar um
produto do qual são consumidores com desconto; um se sentiu estimulado ao ver fotos de
produtos do qual gosta muito, e se sentiu tentado a realizar compra por impulso. Uma relatou
que realizar compras por impulso é estimulante. Essa “caça ao tesouro” (MITTAL et al, 2007,
p. 567), ou busca por barganhas de produtos parece ser algo que quebra a monotonia do
processo. Além do apelo racional do desconto, do ponto de vista emocional, é um momento
de ruptura em uma experiência potencialmente enfadonha para o usuário do site.
Organização do site
Quando se pensa em fazer compras de supermercado on-line, a experiência parece ser
simples. Trata-se de fazer a lista, procurar no site e fechar a compra. No entanto, a procura por
produtos no site pode ser mais difícil do que se pensa. O primeiro problema encontrado diz
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respeito à quantidade de itens listados cada vez que o usuário busca por um produto. Como a
quantidade de opções às vezes é muito grande, o consumidor acaba perdendo muito tempo e
se esforçando muito para encontrar o produto que deseja: “Ficar procurando uma água
mineral no meio de duzentas, perde um tempão”.
Quanto ao site do Zona Sul Atende ser, no que diz respeito ao layout, um misto de Grid
e Freeform, os achados de Vrechopoulos et al. (2004) se confirmaram durante o
acompanhamento dos entrevistados. Usuários mais acostumados com o site dificilmente
usaram a pesquisa de produtos por seções, preferindo usar o mecanismo de busca como
primeira opção para encontrar seus produtos. Apesar do sistema Grid, ou por seções, ser
aparentemente mais intuitivo e fácil de usar, os resultados da pesquisa sugerem que ele é mais
desgastante. Foi comum observar entrevistados iniciarem a compra procurando os produtos
pela aba de seções, e então optarem posteriormente pela opção Freeform. Segundo os
entrevistados, essa escolha se dá com a finalidade de poupar-se tempo. No entanto, o
mecanismo de busca do Zona Sul Atende apresenta alguns problemas.
Os problemas registrados no mecanismo de busca (Freeform) estão relacionados ao
fato da busca ser por palavra exata. Por exemplo, uma das entrevistadas tentou comprar o
aparelho de barbear do marido procurando “Presto-Barba”, mas como o nome correto é
“Prestobarba”, não encontrou. O sistema não tem sensibilidade para reconhecer palavras
similares, então simplesmente não retornou produto algum.
Outro problema é que, ao buscar alguns produtos, como leite, o cliente pode receber
uma lista de produtos que não são exatamente o que está procurando. Isso porque o site não
realiza uma procura por relevância, e sim por palavra exata. Por exemplo, se o cliente
escreve “leite” no sistema de busca, espera-se que receberá opções de leite em caixa ou em
pó. Mas na realidade, são listados todos os produtos que possuam a palavra “leite”, com as
seções organizadas em ordem alfabética. Ou seja, em ordem, o sistema retorna:
“achocolatados”, “café e capuccinos”, “cereal em barra”, “chantilly”, “doces em barra” e
“leite de coco” antes de vir, propriamente, “leite em pó” e “leite longa vida”.
Já na busca por seções (Grid), os produtos nem sempre estão agrupados segundo a
lógica que o consumidor espera. Um dos entrevistados, procurando por papel higiênico,
seguiu as seções “limpeza” e depois “banheiro”. Não havia opção de papel higiênico ali. O
papel higiênico estava em “perfumaria e higiene” e depois em “papel higiênico e lenços”.
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Outra entrevistada não sabia que os refrigerantes eram divididos entre “normal” e “diet”:
“Caramba não acho... Ah, eu não vou achar aqui porque eu entrei em refrigerantes que não
são diet, agora tá separado, refrigerante diet num canto e não-diet no outro. Por isso é que
eu não vou achar" (...) "Antigamente não era separadinho assim”.
À medida em que o consumidor precisa refazer sua busca para encontrar o que deseja, a
experiência começa a se tornar frustrante. Isso contribui para que o cliente decida encerrar sua
compra. Dessa forma, uma ferramenta de busca mais flexível e “inteligente”, bem como uma
organização em seções mais amigável, teria muito a oferecer ao consumidor para tornar sua
experiência de compra mais agradável.
Riscos percebidos
No geral, os entrevistados declararam perceber poucos riscos com as compras feitas
pela Internet. Alguns (quatro) declararam sentir que correm algum risco por fazer compras de
cartão de crédito pela Internet. Mesmo assim, nunca tiveram problemas.
O risco de receber produtos como frutas e verduras de qualidade inferior ao desejado,
em razão da falta de informações sensoriais, não foi mencionado. De uma maneira geral, os
clientes confiam no Zona Sul Atende para a compra desses produtos, por dois motivos: (1) O
Zona Sul se posiciona como um supermercado mais caro, que comercializa produtos de
qualidade, então crêem que não vão mandar produtos ruins; (2) Se algum produto vier ruim,
basta reclamar que haverá troca. Um dos entrevistados ilustra: “Agora, não é o meu caso, mas
tem gente que não gosta de comprar pela Internet porque diz que a qualidade dos legumes
você não pode escolher. Eu não me preocupo muito com isso. Porque nunca tive problema.
Eu arrisco, eu peço para vir, não é isso que vai deixar de fazer eu comprar pela Internet...”.
Produtos perecíveis, segundo alguns entrevistados, vêm até melhor do que se eles
mesmos tivessem escolhido no supermercado físico. Uma entrevistada mencionou que uma
das maiores vantagens do supermercado on-line é que “o que está escrito é o que é”. Por isso,
diz ela, “eles escolhem melhor do que eu mesma”. Isso é visto como um benefício relevante.
Mais uma vez, poupa-se esforço e tempo. Porém, o Zona Sul Atende precisa corresponder a
essa expectativa. Nas palavras de um entrevistado: “Não vão colocar uma coisa já... Feia...
Que dá margem para você reclamar. E o Zona Sul, pelo menos no meu ver, é um
supermercado que você pode escolher as coisas meio que de olho fechado...”.
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que suas expectativas sejam atendidas. Assim, o zelo pela qualidade dos produtos entregues é
um elemento essencial para assegurar e reforçar a fidelidade dos clientes do serviço.
- O risco de perda de socialização não foi identificado. Pelo contrário, os entrevistados
demonstraram satisfação em poder efetuar suas compras sem interagir com outras pessoas.
Em seu conjunto, esses resultados apontam que o Zona Sul Atende soube conquistar a
confiança e fidelidade dos entrevistados. Isto se deve muito à qualidade do serviço prestado,
que contribui para minimizar os riscos percebidos. Entretanto, há oportunidades para melhorar
o nível de satisfação dos clientes, aprimorando os mecanismos de busca e a organização por
sessões de modo a torná-los mais próximos do modelo mental dos usuários (isto é, da forma
com que estes, intuitivamente, realizam a tarefa de buscar e selecionar produtos para suas
compras). Tal medida favoreceria também a realização de um maior volume de compras ao
reduzir o tempo gasto na procura por produtos e o cansaço causado por esse processo.
Referências bibliográficas
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sobre a entrevista na pesquisa qualitativa. Paideia, Universidade Federal da Bahia, 2004.
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Salvador: Anpad, 2002.
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