AQ

LEONARDO NEGRÃO / GLOBAL IMAGENS

ENTREVISTA

T U
AE
9 OUTUBRO 2021
Suplemento integrante
do Jornal de Notícias.
Não pode ser vendido separadamente.

Futsal / Liga
O campeonato
da melhor
seleção do
Mundo começa
hoje com uma
luta feroz P7

“Somos mesmo os melhores

e disse-o de forma genuína”
Hungria / Jorge Braz lembra o momento em que percebeu que o Mundial não fugia
João Janeiro
A história do que para sermos os melho- topo da hierarquia de toda diais e Europeus, e nós sem- Eu sabia que o título iria de-
português que POR Nuno A. Amaral res da Europa e do Mundo uma estrutura. A visão es- pre quisemos chegar a esse pender muito do nosso cres-
treina a equipa nuno.a.amaral@jn.pt teríamos de trabalhar mais tratégica da FPF sustentou patamar. Aprendi isto com o cimento ao longo da compe-
sensação P6 do que muita gente. Hoje, todo o processo e hoje per- meu antecessor, Orlando tição, mas quando fomos
tenho a consciência de que cebemos que temos a quali- Duarte, que o dizia constan- para estágio já tinha a forte
Menos de uma semana de- valeu a pena. Conseguimos dade que sempre tivemos. temente. Ele preferia per- convicção de que íamos fi-
Reportagem / pois de Portugal ter con- mesmo ser melhores do que Portugal sempre teve joga- der, mas jogar olhos nos car até ao fim. Podíamos ter
Assédio sexual quistado, pela primeira todos neste Mundial e fazer dores e seleções de topo olhos, tentando chegar lá. algum percalço, mas estava
vez, o Mundial de futsal, algo notável. O sentimento mundial. Nem sempre se Naquele momento especí- confiante de que desta vez
Futebol Jorge Braz faz o balanço de é de satisfação. Vale a pena ganha, mas para estarmos fico, senti que estávamos íamos chegar a uma meda-
feminino, uma campanha extraordi- dedicarmo-nos aos objeti- mais perto de ganhar de for- muito mais perto de vencer lha. Faltava saber qual era.
umm mundo nária. O timoneiro da equi- vos a que nos propomos. ma contínua é preciso essa aquele jogo do que a Espa- Depois de vencer a Espanha
selvagem
vagem pa das quinas, que já era sustentação de que falei. nha e quis espicaçar. Disse o e de perceber que o trajeto
campe
campeão da Europa, diz que O que é que a seleção tem que me ia na alma de forma estava a ir como queríamos,
P4/5
é mui
muito bom ter dois títu- agora que não tinha no Houve uma imagem mar- genuína porque nós somos não tive dúvidas. Só uma
los par
para defender. passado e que impedia es- cante, no jogo com a Espa- mesmo melhores do que medalha já não chegava. Te-
tas vitórias? nha. O Jorge Braz anda eles e já o tínhamos prova- ríamos de ser ambiciosos e
Já lh
lhe caiu a ficha sobre Temos uma base de susten- mesmo há 20 anos a dizer do na final do Europeu. pensar no troféu porque ha-
o qu
que realmente signifi- tação maior. Sei que as pes- que Portugal é melhor do via condições para isso.
ca e
este título mundial? soas têm muita tendência que eles? Foi nesse jogo que perce-
Sim
Sim. Eu disse muitas ve- de olhar apenas para a sele- A Espanha é uma equipa beu que Portugal podia
ze
zes nos últimos anos ção, mas esta equipa é o fantástica, já venceu Mun- chegar ao título? CONTINUA NA PÁGINA 2
2 ATAQUE
CONTINUADO DA PÁGINA ANTERIOR
Como é que reage a quem diz
que a seleção foi bafejada pela
sorte durante o Mundial?
Nem tenho resposta para isso. São
opiniões que temos de respeitar.
Eu olho muito mais para os senti-
mentos positivos. Só quem lá está
sabe da dificuldade que é jogar um
Mundial. Dizem que foi sorte por-
que a Argentina teve uma bola ao
poste no último segundo. Nós ti-
vemos duas antes. Olhamos sem-
pre para as bolas ao poste dos ou-
tros e não para as nossas. Foi sorte?
Nós não acreditamos nisso. Acre-
ditamos no nosso trabalho.
Como é que vai defender, não
um, mas dois títulos?
Não é fácil, mas é muito motiva-
dor. Era bem pior se ainda andás-
semos à procura dos títulos. So-
mos campeões da Europa e do
Mundo e vai ser um problema?
Problema era não ter títulos.
Quando ganhámos em 2018 disse-
-se que ia ser difícil repetir e ga-
nhámos logo o seguinte. Claro que
não vamos ganhar sempre porque
o futsal está a ter um grande des-
envolvimento em muitos países.
Mas queremos estar sempre nas
decisões, nas meias-finais e nas fi-
nais. Temos condições para isso.
Ainda bem que temos dois títulos
para revalidar.
A verdade é que o Europeu está
já aí à porta, no início de 2022...
Ainda não olhei bem para essa fase
final. Na próxima semana, vamos
para o sorteio. Neste momento,
estou mais preocupado com a se-
leção feminina e de sub-19, que
iniciaram os estágios no domingo
passado e também vão ter Euro-
peus. Quando conhecermos o sor-
teio, o grupo, os pavilhões, aí te-
remos de começar a dar o clique
novamente, a organizar tudo para
nos focarmos no Europeu.
Conta com Ricardinho?
Essa é uma decisão do Ricardo e a
que tomar eu estarei ao lado dele
a 100%. Essa é a única coisa que
está clara. Não há timings. Ainda
estamos todos aqui na fase do fes-
tejo e não falámos sobre isso.
Como define o grupo de jogado-
res que teve no Mundial?
É uma família com uma capacida-
de fabulosa de superação e de au-
xílio de uns aos outros. A supera-
ção dos momentos difíceis e a ale-
gria que se foi vivendo no dia a dia
foi o que caraterizou mais esta se-
9 de outubro de 2021 Jornal de Notícias
ENTREVISTA
leção, para além da qualidade bru-
“Ainda bem que tal dos jogadores. As pessoas falam
sempre da lengalenga da motiva-
ção, mas não é isso. É com muita
honestidade que digo que os me-
temos dois títulos lhores do Mundo são mesmo os
meus. Temos jogadores com qua-
lidade para jogar em qualquer liga,
em qualquer clube ou em qual-
para revalidar” quer seleção. Não tenho dúvidas.
Mas, claro, há sempre quem diga
que os outros é que são bons.
A explosão ao mais alto nível de
Pany Varela, eleito o segundo
melhor jogador do Mundial,
surpreendeu-o?
Não. Ele já tinha estado muito bem
durante a qualificação para o Euro-
peu. Quem trabalha com estes jo-
gadores diariamente não pode ficar
FOTOS: ANDRE SANANO
surpreendido. O Pany sabe muito
bem a minha opinião sobre ele.
Tem uma qualidade fabulosa em
várias áreas do jogo. É um jogador
fantástico, como são outros sobre
os quais não se fala tanto porque
não fizeram golos. Houve ali joga-
dores com um rendimento brutal.
Um deles foi o guarda-redes
Bebé, de quem se chegou a dizer
que estava acabado...
Ele foi a imagem de toda a seleção.
Independentemente das dificul-
dades, conseguiu superar-se todos
os dias. Como já referi várias ve-
zes, o Bebé é um exemplo de vida.
Eu próprio não o convoquei mui-
tas vezes, mas desta vez foi só
olhar para a época que ele fez no
Leões de Porto Salvo. A forma
como ele se preparou para o está-
gio e para este Mundial ajudou-
-nos imenso. O Bebé, o Vítor Hu-
go, o André Sousa, que quando fi-
cou de fora era o que mais se ouvia
na bancada, e todos os outros.
Nas reações ao título, foi muito
salientada a popularidade do
futsal. Qual a razão para ser uma
modalidade tão popular?
O trabalho realizado pela Federa-
ção tem aumentado a relevância
social do futsal. As pessoas não
CV
Jorge Gomes Braz
 Idade: 49 anos
 Nacionalidade:
Canadiana/Portuguesa
 Cargo: Selecionador
de Portugal (desde 2015)
 Palmarés: Campeão da
Europa (2018), Campeão
do Mundo (2021)
Jorge Braz nasceu no Canadá, mas veio aos oito anos para a aldeia de Sonim, em Valpaços
Jornal de Notícias 9 de outubro de 2021
A festa do título mundial, na Lituânia, fez-se com um grupo de jogadores que Braz considera uma família
têm bem a noção do aumento de
competições nacionais nos últi-
mos anos. É a tal base. Tornar o
futsal a modalidade de pavilhão
mais praticada foi um objetivo cla-
ríssimo há muitos anos. Ver os clu-
bes, como o Benfica e o Sporting,
alcançar títulos europeus, tal
como agora a seleção, alavanca
tudo isso. Mas os nossos meninos
e meninas têm de continuar a ter
oportunidades de experimentar e
de praticar a modalidade. Caso
contrário, isto vai-se esfumar.
Será esse o caminho para haver
mais Ricardinhos no futuro?
O Ricardo é um ícone mundial.
Mas se olharmos para os jogadores
de topo nos atuais escalões de for-
mação, Portugal tem lá muitos.
Isso é um excelente indicador.
Nós temos jogadores que não fo-
ram ao Mundial, por opção minha,
e que são dos melhores.
O fim da carreira dele não o
preocupa?
Não. Quando acontecer, Portugal
não terá esse ícone, mas terá uma
competência elevadíssima.
Que reações teve de agentes de
outras modalidades ao título
conquistado na Lituânia? Vimos
Fernando Santos a abraçá-lo na
Cidade do Futebol...
Dividimos muitas vezes o mesmo
espaço e o mister Fernando San-
“Ricardinho é um ícone tos tem sempre uma palavra de in-
mundial. Quando chegar centivo, com aquela simpatia e a
forma de estar fantástica. Aquele
o fim da carreira dele, abraço que demos foi muito espe-
isso não me preocupa” cial, mas todos os selecionadores
das modalidades coletivas envia-
ram mensagens igualmente espe-
“O abraço de Fernando ciais. O Hugo [Silva], o Paulo [Jor-
Santos foi especial, mas ge Pereira], o Mário [Narciso], o
todos os selecionadores Renato [Garrido]... Ao Renato eu
enviaram mensagens” tinha perguntado como é que ele
fez para ganhar à Argentina na fi-
nal do Mundial de hóquei em pa-
“Sinto-me como peixe tins. Ela já sabia como era.
na água. O que tenho de Como foi vir do Canadá para
fazer agora é olhar para Trás-os-Montes aos oito anos,
o Europeu e mais nada” para começar uma vida nova?
O meu pai faleceu no Canadá e a
minha mãe optou por regressar.
Nem senti muito bem a transição.
Adorei a escola primária aqui, bem
diferente da do Canadá, que tinha
quatro campos relvados de fute-
bol. Aqui tínhamos um bocadinho
de terra batida para jogar. Do Ca-
nadá, as recordações que tenho
são da família, tios e primos, que
ainda estão quase todos lá.
Começou por jogar futebol?
Sim, a jogar na aldeia. Com 13
anos, já jogava na equipa dos gran-
des, como lhe chamávamos. No
ano seguinte, fui a Chaves e pedi
para me deixarem treinar. Aceita-
ram e fui viver sozinho aos 14
anos. Fiz todos os escalões de ju-
venis e juniores, assinei contrato
com os seniores. Ainda fiz uma
época na 1.ª divisão, mas depois
surge a faculdade, onde descobri o
futsal nos mundiais universitá-
rios. A paixão começa aí.
A mudança foi inevitável?
Foi. Entrei para a faculdade no
plantel sénior do Chaves, tentei
ATAQUE 3
conciliar, e nisso o mister José
Romão foi fantástico comigo. In-
centivou-me a ir sempre às aulas.
Para me manter em forma, joga-
va futebol de cinco nos campeo-
natos universitários até que hou-
ve uma convocatória para um
Mundial e eu fui chamado. Dois
anos depois, houve outro a que
ainda fui como guarda-redes.
Deixei de jogar futebol. Fiz uma
época de futsal em Chaves e de-
pois iniciei o processo como trei-
nador em Braga, na Universida-
de do Minho.
Ser treinador era algo em que já
tinha pensado?
A experiência do Mundial Univer-
sitário marcou-me. Pensava nas
razões que levavam o seleciona-
dor, Orlando Duarte, a mandar-
-nos fazer isto e treinar aquilo. Era
a minha área e a curiosidade sem-
pre existiu. Depois, foi seguir a
área do treino e da liderança.
A ida para a Federação foi um
percurso natural?
Tinha um trajeto nas seleções
universitárias com Orlando
Duarte, depois passei a adjunto
dele. Quando ele saiu, eu disse-
-lhe que saíamos os dois, mas a
insistência dele e da Federação
foi enorme. Acabei por continuar
o percurso e o trabalho que vinha
a ser feito.
Está na cadeira de sonho ou há
outros sonhos por realizar?
Já disse muitas vezes que me
sinto como peixe na água, por-
que aqui na Federação vive-se
exigência e é preciso trabalhar
muito. Tem sido fantástico e eu
vejo isto etapa a etapa. No des-
porto, vivemos de momentos.
Eu percebo quem tem objetivos
a longo prazo e quem quer che-
gar aqui ou ali, mas há gente que
se preocupa muito com o futuro
sem olhar bem para o presente.
O meu contrato vai até ao próxi-
mo Mundial, mas o que tenho de
fazer agora é olhar para o Euro-
peu, mais nada.
Como é o Jorge Braz longe das
quadras?
O tempo fora do trabalho é tão re-
duzido que tem de ser para a famí-
lia, estar em casa, fazer caminha-
das ao ar livre. Adoro fazê-las aqui
perto do Gerês, que tem espaços
fantásticos. A minh aldeia, em
Trás-os-Montes, também os tem.
Caminhar e estar em casa sossega-
do com a família são os melhores
passatempos que tenho. 
4 ATAQUE 9 de outubro de 2021 Jornal de Notícias

REPORTAGEM

ASSÉDIO SEXUAL O LADO DO FUTEBOL

FEMININO ENTERRADO NO SILÊNCIO
Eduardo Pedrosa Costa
eduardo.p.costa@jn.pt

Ao longo da carreira como

jogadora de futebol, há um
episódio que Raquel Sam-
paio nunca se esquece :
“Havia um treinador que
não estava ali apenas para
treinar e assediava algu-
mas jogadoras através de
mensagens ou comentá-
rios. A equipa fez queixa à
Direção e ele foi afastado”.
Este é apenas um exemplo
de como o futebol femini-
no ainda continua a ser um
mundo difícil para as mu-
lheres, onde crescem mu-
ros de silêncio e impera o
medo.
Hoje, Raquel Sampaio é
agente de futebolistas.
Para trás, ficou uma carrei-
ra no Estoril como direto-
ra de Marketing e no Spor-
ting como diretora do fu-
tebol feminino. Dentro do
campo, guarda boas histó-
rias, fora dele a realidade
nem sempre foi cor de
rosa: foram vários os casos
de assédio sexual que to-
mou conhecimento. “Nós,
mulheres, ainda somos
algo vulneráveis e temos
medo de falar das coisas. lativo à equipa, fazia uma de futebol que prefere 6 Raquel ria de trabalho acabou da ro”. Foi aí que começaram
Se o caso vier a ser expos- aproximação física e res- manter o anonimato não Sampaio pior forma: “Ao jantar pu- as agressões. “Achei que ia
to publicamente, a jogado- pondia-me que, se quises- evita a emoção: foi agredi- vivenciou xava por conversas sexuais morrer, aliás, ele colocou-
ra pode ser afastada ou ig- se alguma coisa, tinha de da e alvo de uma tentativa casos de e queria embriagar-me. -me uma almofada na cara
norada. Depois, há treina- lhe dar outra em troca”. O de violação protagoniza- assédio Quando chegámos ao ho- e dizia que me matava”. O
dores com ligações à Dire- que nunca aconteceu. “No das por alguém que se sexual tel, soube no check-in que caso acabou em tribunal e
ção e têm as costas quen- momento de assinar con- apresentava como agente com um íamos ficar no mesmo o suposto agente cumpriu
tes”, disse ao JN. trato, questionava as joga- de futebol. Começava por dirigente quarto”. serviço comunitário e pa-
No meio onde abundam doras se tinham namorado oferecer às atletas mate- e um As surpresas desagradá- gou à vítima uma indemni-
homens, as palavras nem e fazia várias perguntas rial desportivo, depois pe- treinador veis não ficaram por aqui: zação de apenas 750 euros.
sempre são as melhores. pessoais”. dia-lhes para se despirem e “Saltou para cima de mim Outra jogadora que tam-
Exemplos? “Um dirigente fazerem videochamadas, e tentou forçar-me a fazer- bém se refugia no anoni-
fazia comentários menos TUDO MENOS UM AGENTE alegando que precisava de -lhe sexo oral. Deitou-me mato teve um treinador
próprios e olhava para as Mas há outras experiên- verificar “a evolução da de barriga para cima e que lhe fez uma proposta:
mulheres como sendo cias traumatizantes. Ainda condição física”. Mas esta prendeu-me os braços com “Se eu fizesse algo com ele
pouco profissionais. hoje, quando relata a his- atleta não aceitou. Posto os joelhos. Consegui sol- podia ter benefícios em
Quando lhe pedia algo re- tória, uma antiga jogadora isto, uma reunião que se- tar-me e dar-lhe um mur- campo, mas sempre lhe
 Jornal de Notícias 9 de outubro de 2021 ATAQUE 5

FLASH

O JN conta-lhe
casos de
treinadores
“Desporto passa a
Casos no estrangeiro
e dirigentes ser uma atividade
que assediaram
jogadoras. ABUSOS FÍSICOS E PSICOLÓGICOS
que provoca efeitos
Uma atleta
foi agredida VENEZUELA Um grupo de 24 jogadoras de fute-
mentais negativos”
bol da seleção acusaram o antigo treinador Ken-
neth Zseremeta (foto) e o preparador físico Jorge Silvério
Williams Pino de abusos físicos, psicológicos e Psicólogo desportivo
de assédio sexual. “Entre 2013 e 2017 surgiram
numerosas situações de assédio e abusos envol-
vendo Zseremeta durante os treinos, que causa-
ram inúmeros traumas psicológicos”, pode ler-
-se no comunicado das atletas. Uma futebolista
alega ter sido abusada sexualmente desde os 14
anos pelo treinador, com cumplicidade de Pino.

AGRESSÕES, VIOLAÇÃO E AMEAÇA

AFEGANISTÃO Em 2018, jogadoras da seleção acusa-
ram o presidente da federação, Keramuddin Ka-
rim, de abusos sexuais. Uma relatou que foi levada
para o quarto com intuito de saber se “era ou não Com que repercussões Com que perspetiva fica
lésbica” e que a agrediu, deixando-a inconsciente. psicológicas fica uma ví- a vítima em relação ao
Quando acordou, sem roupa, afirma que havia tima de assédio ou abuso desporto?
“sangue a sair do nariz, boca e vagina”. Quando sexual? Como atividade que antes
ameaçou contar o sucedido, Karim disse: “Já viste o Começam a pensar se ti- era de motivação e au-
que eu te fiz? Posso dar-te um tiro e o teu cérebro veram algum tipo de cul- mento de confiança, deixa
fica aqui espalhado, e posso fazer o mesmo à tua fa- pa. A autoestima fica aba- de proporcionar prazer e
mília”. No ano seguinte foi irradiado pela FIFA. lada e existe alguma ver- começa a ser vista como
gonha por pensarem se algo negativo. Estas víti-
podiam ter sido mais as- mas abandonam o despor-
sertivas ou tomado outras to e ficam com a saúde
LIVRO DENUNCIA SELECIONADOR atitudes para se defende-
rem. O desporto, que era
mental abalada por não
quererem praticar mais
ESPANHA “No las llames chicas, llámalas futbolis- uma fonte de prazer e re- nenhum tipo de atividade
tas”, o livro de Danae Boronat acusa Ignacio Que- compensa, passa a ser física, com receio que
reda, selecionador durante 27 anos, de vários casos uma atividade que provo- aconteça o mesmo.
de assédio sexual. “Quando estávamos sozinhos ca efeitos mentais negati-
no elevador beliscava-me o rabo e perguntava se vos e pode levar ao aban- Como é o processo de su-
sabia como fecundavam os galos com as galinhas”, dono do mesmo. peração depois destes
conta uma jogadora. Algumas assumiam a sua ho- casos ?
mossexualidade e ele dizia que queria “erradicar o Como se pode lidar com É preciso fazer com que a
lesbianismo”. “Quando tomávamos banho ou mu- a vergonha e o senti- confiança no outro seja
dávamos de roupa ele ia para o meio do balneário. mento de impotência? restaurada. Há que recons-
disse que preferia nunca Denunciámo-lo, mas não tivemos apoio”. A jovem deve procurar truir a autoestima das ví-
mais jogar futebol”. Como ajuda da família e amigos timas para que depois con-
a resposta sempre foi nega- próximos, pessoas que sigam confiar nas pessoas
tiva, o técnico insultava-a confia, e depois as instân- e para que possam viver
nos treinos: “Chamava-me
porca”. Algo que a incomo-
ASSÉDIO SEXUAL A MENORES cias de apoio à vítima.
Aguentar esse fardo du-
em sociedade de forma
equilibrada. Muitas vezes
dava, mas nada podia fazer: COLÔMBIA O selecionador nacional de sub-17 rante uma vida inteira o agressor tinha vantagem
“Há treinadores que são Didier Luna foi acusado por duas jogadoras de terá eventualmente re- ou algum domínio, como
contratados por agentes assédio moral e abuso sexual a menores, duran- percussões negativas, um treinador por exem-
com ligações ao clube e se te a preparação para o Mundial em 2018. “Ele ti- como estados depressivos plo, e são aquelas figuras
forem despedidos todo o nha certas atitudes com as meninas, como pegar e de ansiedade. Quanto que deviam educar e des-
projeto pode ser colocado nas suas nádegas, tentar beijá-las, defendendo- mais depressa se falar e envolver uma jogadora.
em causa”. -se debaixo de uma figura paternal. Uma chanta- procurar ajuda, melhor. Como fazem o contrário,
Estes três casos mostram gem psicológica sobre a qual muitas delas ainda Caso contrário, poderá ter isso pode trazer conse-
o lado mais negro do fute- não falaram”, revelou uma futebolista, que consequências complica- quências complicadas para
bol feminino. Enterrado no acrescentou ter sido ameaçada e que “iam des- das na saúde mental. a saúde mental das atletas.
medo e no silêncio.  cobrir quem tinha feito as acusações”.
6 ATAQUE 9 de outubro de 2021 Jornal de Notícias

PORTUGUÊS LÁ FORA “Não há

treinadores
como o
português na
resolução de

O SUCESSO
problemas no
imediato. Nós
encontramos

AO SOL DE UMA
soluções onde
os outros
vêem problemas”

ESPLANADA João Janeiro

Treinador do Kisvarda

João Janeiro treina o Kisvarda, equipa sensação

da liga húngara. Tudo começou por mero acaso
Eduardo Pedrosa Costa
desporto@jn.pt
INTERNACIONAL Melhora o
humor e dá energia. São vá-
rios os benefícios do café,
mas em João Janeiro provo-
cou-lhe uma mudança de
vida. Numa simples con-
versa de esplanada em Lis-
boa, enquanto tomava...
café, o técnico foi interpe-
lado por um casal desco-
nhecido que era próximo
do presidente de um clube
húngaro. O que seria uma
conversa de circunstância
levou o destino a fazer o
seu trabalho. Hoje, causa
sensação neste campeona-
to, ao serviço do Kisvarda,
o segundo classificado.
Esta é a história de quem
nunca foi treinador princi-
pal na 1.ª Divisão portu-
guesa, já trabalhou nos Es-
tados Unidos, nos Emira-
dos Árabes e em Espanha,
onde integrou a equipa de
Marcelo Bielsa, quando o
Athletic Bilbao foi à final
da Liga Europa. Hoje, além
do sucesso na Hungria, ain-
da faz consultadoria tática
a vários treinadores de
topo, apesar de não revelar
os nomes, “por questões de
confidencialidade”.
Na sombra do gigante Fe-
rencvaros, o Kisvarda tem
os mesmos 18 pontos que o
rival. É um clube modesto,
que subiu à 1.ª Divisão da
Hungria na época 2017/18,
e nos últimos anos andou
longe dos lugares cimeiros.
“Temos o orçamento mais
baixo da Liga. Tivemos di-
ficuldades iniciais enor-
mes, ao todo saíram oito jo-
gadores, dos quais seis
eram titulares, e vieram
apenas três. O resto fui bus-
car à academia”, conta.
Estas dificuldades obriga-
ram-no a saber adaptar-se
numa liga equiparada à
por tuguesa pelo “nível
técnico”, mas com diferen-
ças. “A nível tático e de
mentalidade, nós [portu-
gueses] somos mais bata-
lhadores e não vamos logo
abaixo com as adversida-
des. Vamos sempre atrás do
resultado”, adiantou.
Na véspera de ter conver-
sado com o JN, João Janei-
ro, de 40 anos, recebeu
uma carta que o encheu de
orgulho e o leva a acreditar
no futuro. “O presidente da
Federação Portuguesa de
Futebol congratulou-me
por ter vencido o prémio de
treinador do mês e fiquei
muito surpreendido”, ad-
mitiu o treinador luso, que
já foi elogiado pelo minis-
tro húngaro dos Negócios
Estrangeiros. 

2012 2015 2017 2021

Observador com Bielsa
Na época 2011/12, João Ja-
Do trabalho com neiro esteve nos espanhóis
Bielsa em Bilbau do Athletic Bilbao como ob-
à Hungria, servador. Nesse ano, o ar-
eis o percurso gentino Marcelo Bielsa le-
vou os bascos às finais da
de João Janeiro Liga Europa e da Taça do
Rei, perdidas para o Atlético
Madrid e o Barcelona.
O sucesso no Belenenses
João Janeiro esteve na equi-
pa técnica do Belenenses na
temporada 2014/15, que foi
de sonho para a formação
de Belém. Terminou no sex-
to lugar da liga portuguesa,
classificação que lhe garan-
tiu o apuramento para a
Liga Europa.
Do Loures à Hungria
Era treinador-adjunto no
Loures quando teve a con-
versa de café que acabou
por o levar até à Hungria.
Por já ter contrato com o
Tulsa, dos EUA, só rumou a
terras magiares em 2018,
iniciando este percurso ao
comando do Szeged.
O ano de sonho
A época do Kisvarda não po-
dia estar a correr de melhor
feição para João Janeiro. O
técnico encontra-se no se-
gundo lugar do campeonato
húngaro, com os mesmos
pontos do Ferencvaros, li-
derando uma equipa com
menos recursos.
Jornal de Notícias 9 de outubro de 2021
FUTSAL
COMEÇA O NOVO CAPÍTULO
DE UMA VELHA RIVALIDADE
Sporting e Benfica são os grandes candidatos à conquista do
campeonato. Rivais lisboetas com poucas mexidas nos plantéis
Campeão Sporting conquistou o troféu Stromp, ao bater o Torreense, por 5-4, na apresentação aos sócios
Ricardo Rocha Cruz
desporto@jn.pt
LIGA É inevitável: neste mo-
mento não há quem não fale
de futsal em Portugal. De-
pois da seleção lusa ter escri-
to, na semana passada, a his-
tória mais bonita da modali-
dade, com a conquista do
Mundial, o campeonato por-
tuguês arranca, hoje, com as
expetativas em apoteose.
O Sporting faz-se ao cami-
nho com os heróis que esti-
veram presentes na con-
quista do Mundial e com as
outras armas que tem,
apontando à renovação do
título. Depois de uma época
2020/21 perfeita, em que os
leões deitaram as garras a
tudo que existia para dispu-
tar (para além do título na-
cional, venceram a Taça de
Portugal, a Taça da Liga e a
Liga dos Campeões), Nuno
Dias terá novamente a tare-
fa de comandar uma equipa
que praticamente se mante-
ve inalterada: Miguel Ânge-
lo (ex-Braga), Caio Ruiz (ex-
-Portimonense) e Waltinho
(ex-Cartagena) são as únicas
caras novas.
Igualmente discreto a con-
tratar, o Benfica apresenta a
maior de todas as novidades
no leme da equipa. Pulpis, de
47 anos, foi o escolhido para
recolocar as águias na rota
dos triunfos (foram campeãs
nacionais em 2018/19). O
técnico espanhol conta com
um palmarés internacional
que impõe respeito (Europe
Cup Winners, Champions
1.ª JORNADA
JOGOS
Quinta dos Lombos (14 h)
Candoso (16 h)
Futsal Azeméis
Viseu 2001
(17 h)
(amanhã)
Sporting (amanhã) Nun’Álvares
Benfica (amanhã)Leões Porto Salvo
Torreense (amanhã) Portimonense
Liga Asiática e “Sea Game”
são algumas das provas ga-
nhas) e ao núcleo duro da
temporada passada acres-
centou nomes como os de
Rómulo (ex-KPRF e interna-
cional pela Rússia), Bruno
Cintra (ex-Braga) e Carlos
Monteiro (ex-Caxinas), que
na pré-temporada sofreu
uma lesão muscular e vai fa-
lhar o arranque da Liga.
Sem conhecer desde
2001/02, altura em que o
Freixieiro foi campeão, ou-
tro vencedor que não seja
Sporting ou Benfica, a luta
pelo título vai muito prova-
velmente ser discutida num
ombro a ombro entre os ve-
lhos rivais da capital.
Braga, Fundão e Leões de
Porto Salvo fizeram várias
Braga
Modicus mexidas nos plantéis e são os
Fundão
Eléctrico
mais fortes candidatos ao úl-
timo, mas igualmente sabo-
roso, degrau do pódio. 
SCP
POR DENTRO
Estreia no topo
Depois de três épocas
na segunda divisão, o
Nun’Álvares conse-
guiu a tão desejada
subida ao principal es-
calão. Para o ano de
estreia, os “condestá-
veis” mantiveram o
núcleo duro e contra-
taram somente joga-
dores brasileiros.
Subida a todo o gás
O Torreense precisou
de apenas três épocas
para subir dos distri-
tais à Liga. Mário Sil-
va, ex-adjunto de Joel
Rocha no Benfica, foi
o timoneiro escolhido
para comandar a luta
pela permanência.
AS EQUIPAS
SPORTING
Treinador: Nuno Dias
Figura: Alex Merlim (ala)
Pavilhão: João Rocha
FUNDÃO
Treinador: Nuno Couto
Figura: Mário Freitas (ala)
Pavilhão: Municipal do Fundão
MODICUS
Treinador: Ricardo Ferreira
Figura: Fábio Lima (ala)
Pavilhão: do Modicus
BRAGA
Treinador: Bruno Guimarães
Figura: Tiago Brito (ala)
Pavilhão: Desportivo
Universitário de Gualtar
ELÉCTRICO
Treinador: João Freitas Pinto
Figura: Matheus (ala)
Pavilhão: Gimnodesportivo de
Ponte de Sor
QUINTA
DOS LOMBOS
Treinador: Jorge Monteiro
Figura: Tiaguinho (ala)
Pavilhão: Desportivo dos
Lombos
TORREENSE
Treinador: Mário Silva
Figura: Tunha (pivot)
Pavilhão: Física de Torres
Vedras
ATAQUE 7
BENFICA
Treinador: Pulpis
Figura: Robinho (ala)
Pavilhão: Fidelidade
LEÕES PORTO
SALVO
Treinador: Ricardo Lobão
Figura: Bebé (guarda-redes)
Pavilhão: dos Leões de Porto
Salvo
VISEU 2001
Treinador: Paulo Fernandes
Figura: Rafa Stocker (pivot)
Pavilhão: Desportivo Cidade de
Viseu
PORTIMONENSE
Treinador: Pedro Moreira
Figura: Renan Fuzo (fixo)
Pavilhão: Desportivo da
Boavista
FUTSAL
AZEMÉIS
Treinador: Ricardo Canavarro
Figura: Tiago Sousa (fixo)
Pavilhão: Municipal Professor
António Costeira
CANDOSO
Treinador: Henrique Passos
Figura: Thales (fixo)
Pavilhão: Desportivo do
Candoso
NUN’ÁLVARES
Treinador: Eugénio Gonçalves
Figura: Kelvin (guarda-redes)
Pavilhão: do Nun’Álvares
8 ATAQUE 9 de outubro de 2021 Jornal de Notícias

DIA
DO CLUBE

IVO PEREIRA / GLOBAL IMAGENS

PLANTEL Guarda-redes: Bruno Guimarães, Sérgio Carneiro e Marino Defesas: André Ribeiro, Diogo Pinheiro, Guimarães, Barreira, Candé, Tomás Mota e Pantir
Médios: Léo, Fernandes, Deco, Dani, Ricardo, Luís Costa e Bessa Avançados: Cunha, Nuno Herdeiro, Ricardinho, Bruno Silva, Diogo Torres, Marco Monteiro e Rui Carvalho
Treinador: Jorge Lopes Presidente: Rui Almeida

RENASCER GRADUAL
pela defesa, que foi alvo de uma re-
modelação profunda relativamen-
te à temporada passada.
“Dos titulares do quinteto de-

É A CHAVE DA GLÓRIA
Fundado em 2013, o Ermesinde 1936 quer fixar-se
entre a Elite. É das melhores defesas da divisão
Bernardo Monteiro
desporto@jn.pt
AF PORTO Ainda numa fase precoce
do processo de reconstrução, ini-
ciado em 2013, o Ermesinde Sport
Clube 1936 pretende voltar à gló-
ria dos velhos tempos e esta época
está a ter um arranque como não
acontecia há muito. Lidera a Série
3 da Divisão de Elite e tem uma das
defesas menos batidas, com apenas
dois golos sofridos. Este início aus-
picioso pode ser importante para
atingir um dos principais objetivos
do clube, que passa pela consolida-
ção na Divisão de Elite, para depois
poder sonhar com voos mais altos,
como os campeonatos nacionais.
Mas não é a única meta da Direção
do Ermesinde 1936.
“Queremos colocar todas as equi-
pas da formação na 1.ª Divisão. Isso
é fundamental, pois eles são o fu-
turo do clube. Além disso, precisa-
mos de remodelar o campo do
Montes da Costa [antigo palco de
jogos do clube], para podermos
acomodar lá os jovens, e reconfigu-
rar a ocupação do Estádio dos So-
nhos”, revelou o presidente Rui Al-
meida, que ambiciona devolver ao
clube a “grandeza que merece”.
Para o treinador Jorge Lopes, um
dos segredos deste arranque, que é
o melhor desde que iniciou a aven-
tura no clube (2013/14), é a “segu-
rança e experiência” transmitida
FIGURA
Nuno Herdeiro
Capitão, 33 anos
Há cinco anos no clube, o
avançado já se sente “pra-
ta da casa” e não se vê a jo-
gar noutra equipa que não
seja o Ermesinde 1936.
fensivo, em relação a 2020/21, só
sobrou o guarda-redes [Marino].
Não nos podemos dar ao luxo de
ser um clube esbanjador e, por
isso, fomos buscar reforços cirúr-
gicos, que encaixaram muito bem
na equipa”, explica o técnico.
Além desta gestão criteriosa, a
consistência defensiva tem sido
importante para os resultados. O
primeiro golo sofrido foi contra o
grande rival Alfenense, no último
lance do dérbi, à terceira jornada,
e Jorge Lopes confessa que “foi o
que mais doeu”, mas na última
ronda Diogo Guimarães teve o
azar de fazer um autogolo, antes
da reviravolta épica na deslocação
a São Pedro da Cova (1-2), consu-
mada com golos perto do final.
Uma das forças do clube é a mas-
sa adepta, conhecida pela paixão e
dedicação ao emblema de Valon-
go. A claque ”Ultras Ermesinde”
acompanha a equipa para todo o
lado e o máximo dirigente dos er-
mesindenses enaltece a impor-
tância deste fator, que acredita ter
o efeito de 12.º jogador, porque
“faz a diferença quando a equipa
não está tão bem”. 
ERMESINDE SPORT
CLUBE 1936
Fundação: 18-7-2013
Local de jogos: Estádio dos
Sonhos
Sócios: 400
Palmarés: 2.ª Divisão da AF Porto
de 2013/14; 1.ª Divisão da AF Porto
de 2014/15; Divisão de Honra da
AF Porto de 2016/17.
CURIOSIDADES
Um renascer glorioso
Desde que foi fundado, em 2013,
o Ermesinde 1936 já conquistou
mais títulos (3) que o Sport Clu-
be Ermesinde em toda a história.
Viveiro de craques
Jorge Silva, ex-jogador do Boavis-
ta e pai do avançado Fábio Silva
(Wolverhampton) e do central
Jorge Silva (Lazio), jogou nas ca-
madas jovens do Ermesinde.
Jornal de Notícias 9 de outubro de 2021
INQUÉRITO
DA SEMANA
POR Ricardo Rocha Cruz
A seleção de futsal é campeã
do mundo. O país dá os apoios
necessários às modalidades?
José Manuel Constantino
Presidente do Comité
Olímpico de Portugal
Financiamento
é 40% inferior
à média da
União Europeia
Em Portugal, as políticas
públicas de financiamento
ao desporto são 40% infe-
riores à média dos países da
União Europeia. Esta situa-
ção penaliza as modalida-
des de pavilhão (em Portu-
gal existem 27 modalida-
des de pavilhão) bem como
as restantes. Este facto re-
duz, naturalmente, a capa-
cidade de um aumento si-
gnificativo da competitivi-
dade externa e limita seve-
ramente as possibilidades
de alargamento da base dos
praticantes desportivos.
Acresce a esta situação um
quadro fiscal pouco esti-
mulante na área do patro-
cínio e do mecenato. A si-
tuação, que já era má, agra-
vou-se com a intervenção
externa (troika), não tendo
sido possível, ainda, recu-
perar os valores da situação
anterior.
Tó Neves
Ex-jogador de hóquei
em patins
Não há êxito
sem boas
condições
de trabalho
Se há coisa em que não
acredito é que exista êxito
quando as condições de tra-
balho não são boas. Na mi-
nha humilde opinião, isso
muito dificilmente poderá
acontecer. O caso do futsal
é independente das restan-
tes modalidades de pavi-
lhão. Porque o futsal é
apoiado pela Federação Por-
tuguesa de Futebol e é im-
possível comparar os valo-
res envolvidos e disponibili-
zados. Enquanto internacio-
nal pela seleção de hóquei
em patins, a minha expe-
riência foi muito boa. Não
existia nenhum país com
condições melhores que as
nossas. Tanto em termos de
estágios, como apoio médi-
co. Penso que o tempo não
mudou nada disto para pior.
Por isso, acredito que os jo-
gadores atuais tenham boas
condições.
Arnaldo Pereira
Ex- jogador
de futsal
Hoje em dia o
futsal é tratado
de forma muito
profissional
Posso falar pela modalidade
que pratiquei e ainda prati-
co, que é o futsal. Quando
comecei a jogar, os apoios
não eram muitos, o futsal
era o primo pobre do fute-
bol. Mas sendo um despor-
to de “bola no pé” sempre
contou com muitos prati-
cantes, ainda por cima é,
normalmente, jogado num
pavilhão, não à chuva e ao
frio. Com o estrondoso ter-
ceiro lugar que Portugal
conquistou na Guatemala,
a modalidade começou a fi-
car mais conhecida e a ga-
nhar apoios e mais prati-
cantes. Com a entrada dos
grandes clubes e a conti-
nuidade dos históricos mais
popular se tornou. Hoje em
dia, a Federação trata o
futsal de uma forma profis-
sional, para que nada falte
aos atletas. Isso vê-se no dia
a dia e nos resultados.
João Brenha
Ex-jogador
de voleibol
Modalidades
de pavilhão
vivem a contar
os cêntimos
O futsal está ao nível do fu-
tebol, portanto não serve
para comparar. Quanto às
restantes modalidades de
pavilhão, parece-me que
não recebem os devidos
apoios. Tudo começa pela
base e também pelos clubes.
É aí que os miúdos começam
a jogar e podem evoluir. E
não há apoio suficiente. Os
clubes de pavilhão vivem a
contar os cêntimos. Se tivés-
semos alguma dúvida de
como o país trata as modali-
dades de pavilhão, ela ficou
esclarecida com a pandemia.
Aí ficou claro como o Des-
porto foi colocado de lado. E
o direito ao Desporto é algo
que está presente na Consti-
tuição. Se querem jogar, os
miúdos têm de pagar men-
salidade. E isso não é sufi-
ciente para os clubes pode-
rem evoluir. Ainda falta
muito apoio.
ATAQUE 9
OPINIÃO
ARNALDO MARTINS
Editor Adjunto
Um Nobel da
Paz para os pais
portugueses
Começo por pedir perdão a Maria Ressa e Dmi-
try Muratov – por sinal meus camaradas – pela
ignorância, mas até ontem nunca tinha ouvi-
do falar deles. Dou-lhes os parabéns pelo No-
bel da Paz, ou seja lá o que isso é, pois os crité-
rios do prémio, que apela à fraternidade e as-
senta numa série de critérios fofinhos, são
sempre discutíveis e, pelo menos a mim, me-
tem medo. Se eu riscasse qualquer coisa a dis-
tinção ficava por cá e distribuía os 10 milhões
de coroas suecas (um milhãozinho de euros)
pelos pais portugueses. Redutor? Talvez, mas
falo da realidade que conheço e vejo no prato
e não pela que me querem dar, através dos
écrans e redes sociais.
Feito o intróito, o objetivo é chegar aos dias
de glória no desporto nacional. É medalhas
olímpicas, é distinções nas mais diversas mo-
dalidades, títulos internacionais e agora até so-
mos campeões do mundo de futsal. Tudo isso
com um desporto escolar praticamente inexis-
tente e onde sem o acompanhamento dos pais,
que se desdobram em horários, seria impossí-
vel que os jovens atletas se tornassem nas es-
trelas de hoje e amanhã. Tudo isso sem as pro-
messas bélicas, como as bazucas, mas sim com
o esforço dos pais e, posteriormente, clubes e
dirigentes. Mas a base, pela minha experiên-
cia, começa nos familiares e esses continuam
sem prémios, pode ser o Nobel ou outro qual-
quer, e ainda têm de suportar mensalidades
para que os filhos joguem à bola ou dancem
ballet. Está justificado o título.
O protocolo talvez exigisse falar das eleições
do Benfica ou de mais um treino da seleção na-
cional, frente ao todo poderoso Catar, mas pelo
que ouvi hoje no autocarro já toda a gente sabe
os resultados e senti mais preocupações com a
greve da CP. Estas semanas sem as principais li-
gas em ação custam mais a passar, mas são um
descanso para o Governo, que assim tem mais
tempo para se inteirar da realidade do Cartão
do Adepto. Como prometeu António Costa.
10 ATAQUE
DESPORTO
JUVENIL
Pandemia afastou 30% dos atletas da formação, mas clube icónico do basquetebol português mostra primeiros sinais de recuperação
OS DESAFIOS
João Filipe Brandão
desporto@jn.pt
NO REGRESSO
LEÇA DA PALMEIRA O bas-
quetebol, por ser uma mo-
dalidade coletiva, teve difi-
culdades em encontrar regi-
mes de treino para que to-
À COMPETIÇÃO
dos os atletas pudessem
manter o nível demonstra-
do antes da paragem devido
à pandemia de covid-19.
NO DESPORTIVO
No Grupo Desportivo de
Basquete de Leça fizeram-
-se sentir esses obstáculos,
que o clube ainda tentou
DE LEÇA
“contornar” com a ajuda de
“treinos online por Zoom”,
mas que se provaram “insu-
ficientes para cativar todos
os atletas”, dos escalões fe-
mininos e masculinos.
A falta de uma cultura des-
portiva, que já deveria estar
incutida na sociedade por-
tuguesa, é apresentada
como uma das causas. “Não
De volta à normalidade, há o hábito de ir para a praia
fazer uma corrida ou de ir
jovens basquetebolistas para a sala de musculação,
têm recuperar o tempo porque tudo isso tem mais
piada quando se faz em
que a covid-19 lhes tirou equipa e nós somos uma
equipa”, assinala Jorge Cor-
reia, coordenador do Des-
portivo.
O dirigente do clube ma-
tosinhense lembra que a
fase mais crítica na evolu-
ção de um atleta nesta mo-
dalidade é a “transição en-
tre o escalão sub-12 e o sub-
-14, já que passam do mini-
basquete para um campo
maior e tem que jogar com
gente mais velha”.
Mesmo numa fase mais
avançada do desconfina-
mento, só eram permitidos
treinos “sem contacto”, o
que “matou os miúdos” no
que ao desenvolvimento
desportivo diz respeito.
“Sem campos de férias e
sem torneios de verão du-
rante os últimos dois anos,
perdeu-se o interesse pela
modalidade e uma das gran-
des formas de atrair novos
talentos”, reiterou Jorge
Correia, acrescentando:
“Mais do que uma retoma,
este momento trata-se de
um recomeço da formação
do Grupo Desportivo de
Basquete de Leça”.
9 de outubro de 2021 Jornal de Notícias
AMIN CHAAR / GLOBAL IMAGENS
Os atletas
Joana Bettencourt
13 anos
“Sempre fui ver os
jogos de basquetebol
do meu irmão e
comecei a ficar
fascinada. Decidi
experimentar e acabei
por ficar no Leça”
Maria João Dias
15 anos
“Perdemos cerca de 30%
dos atletas e estamos agora a “É muito bom voltar,
dar os primeiros passos em mas custa treinar três
vezes por semana,
termos da reconstrução da-
quilo que o clube era há dois embora exista uma
anos”, reforçou o coordena- ansiedade grande para
dor. voltar a jogar, a
O caminho a seguir poderá competir”
passar por um trabalho em
conjunto com as escolas e
ATL do concelho. “Seria be-
néfico para todos conseguir-
mos promover o nosso des-
porto e nosso clube junto
dos mais jovens”, concluiu
Jorge Correia.
Aliás, é este vislumbre do Maria Borges
que outrora foi o Grupo Des- 14 anos
portivo de Basquete de Leça,
que motiva as atletas para “Existe um nervoso
voltarem à competição e da- por voltar à
rem o melhor na reconstru- competição, mas é
ção de um clube icónico do normal. Sinto que as
basquetebol português.  coisas se complicaram
neste regresso por não
termos ritmo”
BILHETE
DE IDENTIDADE
Nome: Grupo Desportivo
de Basquete de Leça
Fundação: 1/6/1972
Atletas na formação: 175
Jornal de Notícias 9 de outubro de 2021
NA HORA
FALCAO É A ÚLTIMA
CAUSA DE VALLECAS
Mesmo a custo zero, avançado foi rejeitado
por vários clubes e brilha no Rayo Vallecano
Falcao soma três golos na La Liga ao serviço da equipa do bairro de Vallecas
Vasco Samouco
desporto@jn.pt
ESPANHA Aos 35 anos, Rada-
mel Falcao foi dado como
acabado. Por um lado, a ida-
de, que, apesar de tantas
provas em contrário, ainda
é um entrave para jogadores
e clubes; por outro, um his-
torial de problemas físicos
(de acordo com o Transfer-
makt, nas duas últimas épo-
cas esteve afastado da com-
petição durante 253 dias
por lesões), suficientes para
fazer desconfiar da motrici-
dade do avançado colombia-
no. O Galatasaray, onde pas-
sou o último par de anos,
também lhe fechou a porta,
mas seria apenas o primei-
ro. Se o ex-jogador do F. C.
Porto esperava resmas de
propostas, enganou-se e foi
um clube espanhol de um
bairro de Madrid, pequenos
em tamanho e grandes nas
causas a que se entregam, a
dar-lhe a mão. Hoje, são fe-
lizes juntos.
Que tenha sido o Rayo
Vallecano e Vallecas a da-
rem um voto de confiança
ao internacional colombia-
no não surpreende. Afinal,
cuidar das minorias, dos
mais vulneráveis e dos pros-
critos da sociedade é algo
que corre nas veias das gen-
tes deste bairro operário,
que chegou a ser um dos
mais pobres da capital espa-
nhola, e que ganhou corpo
nos tempos do franquismo
pela aversão aos ideais fas-
cistas. Desde aí, ganhou a al-
cunha de “pequena Rússia”
e os seus habitantes costu-
mam escrever Vallekas para
vincarem a corrente dissi-
dente que caracteriza o bair-
ro e as pessoas, conhecidas
pelo espírito combativo,
pela irmandade comunitá-
ria e pela luta contra todo e
qualquer abuso de poder.
Portanto, Falcao, o acabado,
JUANJO MARTIN / EPA
o olhado de lado, foi recebi-
do de braços abertos.
Foi anunciado como refor-
ço a 4 de setembro e 14 dias
depois só precisou de 10 mi-
nutos para começar a retri-
buir. O primeiro golo apare-
ceu para fechar a vitória so-
bre o Getafe (3-0), antes do
segundo, marcado aos 90+6
minutos, que foi decisivo
para garantir os três pontos
no campo do Athletic Bil-
bao. A 26 de setembro, mais
um, este para encaminhar o
triunfo na receção ao Cádiz
(3-1). E assim, Falcao tor-
nou-se apenas no segundo
jogador a marcar nos três
primeiros jogos com a cami-
sola do Rayo Vallecano: leva
uma média de um golo a
cada 51 minutos.
De acordo com a Cadena
Ser, Jorge Mendes ofereceu
Falcao a mais nove clubes
espanhóis, mas nenhum se
mostrou interessado. Valle-
cas manda dizer obrigado. 
ANÁLISE
Futebol não profissional
POR Vasco Oliveira
Treinador
Salgueiros, a alma de Fénix
O Sport Comércio e Salgueiros, fun-
dado a 8 de dezembro de 1911, detém
uma longa história centenária, in-
tensa e arrepiante, na década de 40
era o clube da cidade com mais asso-
ciados, o seu bairrismo popular era
inigualável. A nostalgia dos tempos
relembra-nos quando os nossos avôs
diziam: vou a Vidal Pinheiro ver o ve-
lho Salgueiral.
A sua primeira presença na primei-
ra divisão deu-se na época 1943/44,
contudo a grande afirmação só viria
acontecer na década de 80/90, perma-
necendo com regularidade na 1.ª Liga,
coroando o seu percurso com a presen-
ça na Taça UEFA na época de 1990/91
quando defrontou o Cannes do ainda
desconhecido Zidane.
Porém, a queda da torre de Babel es-
taria por vir, com a descida à 2.ª Liga
em 2001/02, o Salgueiros teve gran-
des dificuldades para se aguentar, bas-
taram dois anos para a derrocada, que
levou o clube a converter o nome por
várias vezes, não evitando mesmo as-
sim a fuga aos campeonatos distritais.
Por esta altura, o tombo da torre es-
tava consumado, o velho Salgueiral es-
teve às portas da morte, o seu prestí-
gio derrogou e a sua existência supri-
miu quase a zeros, sem estádio, sem
dinheiro e com pouca esperança de
vida, o seu fim anunciava-se nos cor-
redores do futebol.
Contudo, havia algo, uma força que
fazia estremecer e ecoar esperança,
um ruído afetuoso e maciço que anun-
ciava a chegada de um novo sonho, a
alma de Fénix a verdadeira alma sal-
gueirista tinha renascido das cinzas
mais profundas.
Mesmo sem base nuclear, o exército
de Vidal Pinheiro continuou a invadir
todos os estádios por onde passava, a
Positivo & Negativo
 Os adeptos do Salgueiros serão
sempre o ponto mais positivo da sua
existência. O visível progresso do
clube é constante e sólido, é maravi-
lhoso sentir o renascimento deste
histórico, ter a oportunidade de as-
sistir a um jogo do Salgueiros é um
hino ao futebol.
ATAQUE 11
presença de Fénix incorporou as almas
e transformou cinzas em fogo, pro-
vando ao mundo do futebol que os
adeptos são a única força impartível
que um clube pode ter, sem eles não
há clubes.
Com o alicerce desta enorme alma,
o Salgueiros conquistou um novo ter-
ritório, uma nova base que irá certa-
mente escrever uma nova história re-
cheada de capítulos gloriosos.
No seu 107.º aniversário o Salgueiros
foi recompensado com a cedência do
Complexo Desportivo de Campanhã,
um ato nobre e de louvor que a Câma-
ra Municipal do Porto exerceu sobre
este histórico e eterno emblema, veio
tarde, mas ainda a tempo.
Os filiados salgueiristas meteram
mãos ao caminho e não perderam
tempo, várias remodelações tem vin-
do a ser feitas no recém denominado
Estádio do Cerco, bancadas, cobertu-
ras, pinturas, balneários, tudo tem
vindo a ser feito pela mão desta gran-
de alma.
Este é um histórico clube que privi-
legiou e foi salvo pela massa adepta, a
queda anunciada foi transformada
numa nova oportunidade, a sua força
continua a ser sentida por onde passa,
assistir a um jogo do Salgueiros é como
entrar no antigo Coliseu de Roma,
emoção e euforia são constantes, o
apoio é frenético e contagiante.
No estádio estamos sempre à espe-
ra do golo salgueirista, o momento em
que a alma de Fénix sobrevoa o relva-
do, congratulando todos os que luta-
ram pela causa.
A alma salgueirista representará
sempre o triunfo da vida sobre a mor-
te e quando o ruído for intenso e o ca-
lor demasiado, já sabemos, a alma de
Fénix está no estádio.
 Relembrar os motivos que levaram
à queda da torre de Babel são senti-
mentos de temor e pânico. Esperemos
que o passado tenha transmitido co-
nhecimento suficiente para que não
se volte a repetir o desaire deste pres-
tigiado emblema. Se há clube que me-
rece um estádio é o Salgueiros.
12 ATAQUE 9 de outubro de 2021 Jornal de Notícias

PUBLICIDADE

SIR ARTHUR CONAN DOYLE

Sherlock Holmes | Série 2
4.º VOLUME
9 de outubro
4,95 € AOS
+ jornal SÁBADOS

SIR ARTHUR CONAN DOYLE

As obras que nos contam

as célebres investigações
do maior detective de sempre.
Livro 7. O nobre solteirão
Livro 8. O Estrela de Prata
Livro 9. O ritual Musgrave
Livro 10. O intérprete grego
Livro 11. A ciclista solitária Formato: 14 cm x 21 cm
Número médio de páginas: 180

Livro 12. Os seis bustos de Napoleão

Peça já no seu agente Nas bancas Nas bancas 9 de outubro 16 de outubro 23 de outubro

CADA TÍTULO PERMANECE À VENDA EM BANCA DURANTE DUAS SEMANAS.

Para qualquer esclarecimento ou compra da série 1 desta coleção: apoiocliente@noticiasdirect.pt | Linha de apoio: 219 249 999 | Dias úteis das 8h00 às 18h00.
Coleção composta por 6 livros, distribuídos em banca aos sábados com o JN, de 18 de setembro a 23 de outubro de 2021. PVP unitário: 4,95€ cont. (IVA incluído) + JN. PVP da coleção: 29,70€ cont. (IVA incluído) + 6 JN. Venda limitada ao stock existente.