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MENSAL

ANO XXII
N.º 247
10/2021
€3.50
[cont.]

VIDA A SOLO E OS ALICE IN CHAINS

CRADLE OF FILTH LVCIFYRE WHITECHAPEL


FULL OF HELL MONOLORD ASKING ALEXANDRIA
EDITORIAL
JOSÉ MIGUEL RODRIGUES

ÍNDICE
“OS RIFFS,
#247
N.º 247 / OUTUBRO 2021

LOUD!
Sede do editor/redacção:
Rua Carlos Mardel, 32 - 3.º Esquerdo
1900-122 Lisboa

MAN,
Tel. 215816655
E-MAIL
[geral@loudmagazine.net]
26
WEBSITE
FULL OF HELL
[www.loudmagazine.net]

OS RIFFS”
FACEBOOK
[www.facebook.com/loudmagazine.net]
ASSINATURAS
[assinaturas@loudmagazine.net]
NOTICIAS
[noticias@loudmagazine.net]
PUBLICIDADE

A
[ads@loudmagazine.net]
PUBLICAÇÃO MENSAL
ISSN: 087-9531
final, o que é um riff? Que palavra é essa, usada com tanta frequên- DEPÓSITO LEGAL: 152667/00
cia a cada nova edição da nossa/vossa revista, mas que nem tem
Registada na Entidade Reguladora para
tradução na língua portuguesa? Deve ser especial. Como definir
uma palavra que fala por si própria, numa linguagem tão directa que
a Comunicação Social sob o n.º 126774 28
acaba por dispensar explicações? Pois bem, em casos como este, TIRAGEM WHITECHAPEL
em que até as letras correm o risco de falhar, não haverá solução 15.000 exemplares
mais racional que voltar à base; leia-se, às raízes da terminologia. A PROPRIEDADE
origem da palavra é atribuída aos músicos de jazz que, durante os Pessoal do 13 – Publicações, Lda.
anos 20 do milénio passado, começaram a usar o termo entre si. NIF: 510172342
Reza a lenda que a palavra era usada para descrever combinações/progressões de notas DETENTORES COM MAIS DE 5% DO CAPITAL
que soavam bem e que, depois, eram repetidas ciclicamente em actuações e ensaios. Eram DA EMPRESA
o suporte das infindáveis viagens dos solos – de trompete, piano, contrabaixo e bateria. José Miguel Rodrigues, José Carlos Santos,
Bernardo Serralha, Pedro Oliveira,
Riff é uma derivação da palavra “refrain” [refrão] e, portanto, mais uma estrutura com uma Signoff - Consulting Unipessoal, Lda.
identidade própria e papel diferenciado dentro da música.
DIRECTOR
Aqui, as onomatopeias não funcionam, mas se não quiserem ir pelo lado técnico da ques- José Miguel Rodrigues
tão, é relativamente fácil dar um ou dois exemplos de riffs. Daqueles que se podem perfei- [jmr@loudmagazine.net]
tamente dar como resposta a quem nos pergunte “o que é um riff?”, matando logo ali a con- CHEFE DE REDACÇÃO / DIRECTOR ADJUNTO
versa. A não ser que vivam debaixo de uma pedra enorme, pensem na introdução da «Sweet José Carlos Santos
Child O’ Mine», dos Guns N’ Roses. Isso é um riff. Se forem fãs, recordem a introdução da [jcs@loudmagazine.net]
«It’s So Easy» – aí está outro riff. No espectro do rock/metal, um dos mais famosos será GERÊNCIA
para sempre o da «Smoke On The Water», dos Deep Purple. Há muitos, há alguns intempo-
rais, de outras bandas e de outros artistas, de guitarra, de baixo, de piano e até de bateria.
Pedro Oliveira, Daniel Marujo
40
CRADLE OF FILTH
Sim, é algo assim tão transversal. Trata-se aqui de um gancho, daqueles que se prendem ao COLABORADORES
córtex cerebral como uma pastilha se cola a uma sola de sapato. Cátia Nóbrega, David Rosado, Emanuel
Ferreira, Fernando Ferreira, José Almeida
Ribeiro, José Raposo, Luís Pires, Luís Rattus,
Sobretudo o rock, mas também o metal, sempre se basearam nos riffs para fazerem passar Marta Louro, Nelson Santos, Pedro C. Silva,
a mensagem – frases melódicas, curtas e altamente ritmadas. Será, de resto, daí que vem Ricardo Agostinho, Ricardo S. Amorim
muita da energia fulgurante que tantas vezes é associada à música feita com guitarras. E,
FOTOGRAFIA
como um riff é essencialmente uma sequência repetida de notas ou acordes, também há Catarina Torres, Estefânia Silva, Jorge Botas,
muitos ouvidos uma vez e que ninguém, a não ser o autor, vai recordar. Muitas vezes injus- Pedro Almeida, Pedro Roque, Sónia Ferreira
tamente ignorado, o Sr. Jerry Cantrell, figura de capa da edição de Outubro 2021 da LOUD!, Capa: Jonathan Weiner
é um daqueles guitarristas que, ao longo da sua carreira, tem mostrado saber exactamente DESIGN
como “sacar” riffs memoráveis, alguns até intemporais, às seis cordas da sua guitarra. Uma Joaquim Pedro
excepção à regra, a que sempre valeu a pena prestar atenção. Parte de uma geração mais
ILUSTRAÇÕES
nova de executantes dessa arte mágica de criar sons que ficam na cabeça, o Jerry apanhou
Stebba Ósk, Pedro Silva
um comboio que se movia já a alta velocidade e, mesmo num nicho em que se diz que tudo
já foi criado, conseguiu evidenciar-se. IMPRESSÃO
Jorge Fernandes, Lda.
Foi logo no início dos 90s que se afirmou como um dos pioneiros de uma cena grunge em Sede do Impressor: Rua Quinta Conde
de Mascarenhas, Lote 9, Vale Fetal,
crescimento e, nos anos seguintes, assinou alguns dos maiores álbuns da história do rock 2820-652 Charneca Da Caparica
moderno. Porque a vida, trágica, se meteu pelo caminho, só gravou seis álbuns com os
DISTRIBUIÇÃO
seus Alice In Chains – três antes, e três depois da trágica morte do vocalista Layne Staley.
Apesar dos longos hiatos, Cantrell fez deles um caso raro de uma banda daquelas que, VASP
30
apesar de terem sido enfiadas numa tendência estanque, deram o salto para o panteão. E ESTATUTO EDITORIAL

JERRY CANTRELL
esses seis álbuns, assim como os três que gravou a solo, estão pejados de riffs pesados Disponível online em:
loudmagazine.net/estatuto-editorial
e negros, com a dose certa de melancolia e ganchos. Só aqueles que são precisos para
nos fazer voltar uma, outra, outra e outra vez a discos que, por esta altura, alguns de nós já A LOUD! escreve de acordo com a antiga ortografia.
ouvem há mais de 30 anos.

4 LOUD!
EDITORIAL
JOSÉ MIGUEL RODRIGUES

ÍNDICE
“OS RIFFS,
#247
N.º 247 / OUTUBRO 2021

LOUD!
Sede do editor/redacção:
Rua Carlos Mardel, 32 - 3.º Esquerdo
1900-122 Lisboa

MAN,
Tel. 215816655
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[geral@loudmagazine.net]
26
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PUBLICAÇÃO MENSAL
ISSN: 087-9531
final, o que é um riff? Que palavra é essa, usada com tanta frequên- DEPÓSITO LEGAL: 152667/00
cia a cada nova edição da nossa/vossa revista, mas que nem tem
Registada na Entidade Reguladora para
tradução na língua portuguesa? Deve ser especial. Como definir
uma palavra que fala por si própria, numa linguagem tão directa que
a Comunicação Social sob o n.º 126774 28
acaba por dispensar explicações? Pois bem, em casos como este, TIRAGEM WHITECHAPEL
em que até as letras correm o risco de falhar, não haverá solução 15.000 exemplares
mais racional que voltar à base; leia-se, às raízes da terminologia. A PROPRIEDADE
origem da palavra é atribuída aos músicos de jazz que, durante os Pessoal do 13 – Publicações, Lda.
anos 20 do milénio passado, começaram a usar o termo entre si. NIF: 510172342
Reza a lenda que a palavra era usada para descrever combinações/progressões de notas DETENTORES COM MAIS DE 5% DO CAPITAL
que soavam bem e que, depois, eram repetidas ciclicamente em actuações e ensaios. Eram DA EMPRESA
o suporte das infindáveis viagens dos solos – de trompete, piano, contrabaixo e bateria. José Miguel Rodrigues, José Carlos Santos,
Bernardo Serralha, Pedro Oliveira,
Riff é uma derivação da palavra “refrain” [refrão] e, portanto, mais uma estrutura com uma Signoff - Consulting Unipessoal, Lda.
identidade própria e papel diferenciado dentro da música.
DIRECTOR
Aqui, as onomatopeias não funcionam, mas se não quiserem ir pelo lado técnico da ques- José Miguel Rodrigues
tão, é relativamente fácil dar um ou dois exemplos de riffs. Daqueles que se podem perfei- [jmr@loudmagazine.net]
tamente dar como resposta a quem nos pergunte “o que é um riff?”, matando logo ali a con- CHEFE DE REDACÇÃO / DIRECTOR ADJUNTO
versa. A não ser que vivam debaixo de uma pedra enorme, pensem na introdução da «Sweet José Carlos Santos
Child O’ Mine», dos Guns N’ Roses. Isso é um riff. Se forem fãs, recordem a introdução da [jcs@loudmagazine.net]
«It’s So Easy» – aí está outro riff. No espectro do rock/metal, um dos mais famosos será GERÊNCIA
para sempre o da «Smoke On The Water», dos Deep Purple. Há muitos, há alguns intempo-
rais, de outras bandas e de outros artistas, de guitarra, de baixo, de piano e até de bateria.
Pedro Oliveira, Daniel Marujo
40
CRADLE OF FILTH
Sim, é algo assim tão transversal. Trata-se aqui de um gancho, daqueles que se prendem ao COLABORADORES
córtex cerebral como uma pastilha se cola a uma sola de sapato. Cátia Nóbrega, David Rosado, Emanuel
Ferreira, Fernando Ferreira, José Almeida
Ribeiro, José Raposo, Luís Pires, Luís Rattus,
Sobretudo o rock, mas também o metal, sempre se basearam nos riffs para fazerem passar Marta Louro, Nelson Santos, Pedro C. Silva,
a mensagem – frases melódicas, curtas e altamente ritmadas. Será, de resto, daí que vem Ricardo Agostinho, Ricardo S. Amorim
muita da energia fulgurante que tantas vezes é associada à música feita com guitarras. E,
FOTOGRAFIA
como um riff é essencialmente uma sequência repetida de notas ou acordes, também há Catarina Torres, Estefânia Silva, Jorge Botas,
muitos ouvidos uma vez e que ninguém, a não ser o autor, vai recordar. Muitas vezes injus- Pedro Almeida, Pedro Roque, Sónia Ferreira
tamente ignorado, o Sr. Jerry Cantrell, figura de capa da edição de Outubro 2021 da LOUD!, Capa: Jonathan Weiner
é um daqueles guitarristas que, ao longo da sua carreira, tem mostrado saber exactamente DESIGN
como “sacar” riffs memoráveis, alguns até intemporais, às seis cordas da sua guitarra. Uma Joaquim Pedro
excepção à regra, a que sempre valeu a pena prestar atenção. Parte de uma geração mais
ILUSTRAÇÕES
nova de executantes dessa arte mágica de criar sons que ficam na cabeça, o Jerry apanhou
Stebba Ósk, Pedro Silva
um comboio que se movia já a alta velocidade e, mesmo num nicho em que se diz que tudo
já foi criado, conseguiu evidenciar-se. IMPRESSÃO
Jorge Fernandes, Lda.
Foi logo no início dos 90s que se afirmou como um dos pioneiros de uma cena grunge em Sede do Impressor: Rua Quinta Conde
de Mascarenhas, Lote 9, Vale Fetal,
crescimento e, nos anos seguintes, assinou alguns dos maiores álbuns da história do rock 2820-652 Charneca Da Caparica
moderno. Porque a vida, trágica, se meteu pelo caminho, só gravou seis álbuns com os
DISTRIBUIÇÃO
seus Alice In Chains – três antes, e três depois da trágica morte do vocalista Layne Staley.
Apesar dos longos hiatos, Cantrell fez deles um caso raro de uma banda daquelas que, VASP
30
apesar de terem sido enfiadas numa tendência estanque, deram o salto para o panteão. E ESTATUTO EDITORIAL

JERRY CANTRELL
esses seis álbuns, assim como os três que gravou a solo, estão pejados de riffs pesados Disponível online em:
loudmagazine.net/estatuto-editorial
e negros, com a dose certa de melancolia e ganchos. Só aqueles que são precisos para
nos fazer voltar uma, outra, outra e outra vez a discos que, por esta altura, alguns de nós já A LOUD! escreve de acordo com a antiga ortografia.
ouvem há mais de 30 anos.

4 LOUD!
PLAYLISTS

FOTO: CATARINA ROCHA


NOTÍCIAS
NOTICIAS@LOUDMAGAZINE.NET
JOSÉ MIGUEL RODRIGUES
MOONSPELL
BLACK WING – No Moon
FLUISTERAARS – Gegrepen Door De Geest
30 ANOS DE CARREIRA
Der Zielsontluiking
ISKANDR – Vergezicht
EM GRANDE ESTILO

O
LAMP OF MURMUUR – Submission And Slavery
MASTIFF – Leave Me The Ashes Of The s MOONSPELL vão andar na estrada durante o
Earth próximo ano e, depois de anunciada uma tour
com os PARADISE LOST, no Reino Unido, agora
sabe-se que vão regressar aos concertos também no
JOSÉ CARLOS SANTOS velho continente – e inseridos num cartaz de luxo. Isto
EMMA RUTH RUNDLE – Engine Of Hell porque a Vltima Ratio Fest, assim se intitula a digressão,
THE GOD MACHINE – One Last Laugh In A
conjuga cinco nomes, três dos quais incontornáveis:
Place Of Dying
DOLD VORDE ENS NAVN – Mørkere MY DYING BRIDE, BORKNAGAR e, claro, MOONSPELL.
TOWER – Shock To The System Além deste trio de peso, juntam-se ainda ao cartaz os
THE STRANGLERS – Dark Matters WOLFHEART — imagine-se de onde virá o nome — e os
HINAYANA. A rota de dezoito datas inicia-se em finais
de Setembro de 2022 na Alemanha, terminando nos
PEDRO ROQUE Países Baixos em meados de Outubro. Nesta lista não
GAEREA LOW – HEY WHAT existem datas para a Península Ibérica, sendo oito dos
THE BUG – Fire
espectáculos já anunciados em território alemão, mas
FUSTILARIAN – All This Promiscuous

O
Decadence Fernando Ribeiro e companhia já revelaram estar a
s tempos em que «LIMBO» foi editado não e “oficializar” a banda para esta edição. Foi uma preparar dois grandes concertos para celebrar 30 anos
THE BODY AND BIG BRAVE – Leaving None
se revelaram fáceis, mas os GAEREA têm saga de seis volumes da AZOREAN HEAVY METAL But Small Birds de carreira por cá. Além disso, está também agendada
lutado para promover aquele que foi o seu “1980 - 2000” COLLECTION, à qual ainda se pode 10 000 RUSSOS – Superinertia para o próximo ano a edição do espectáculo intimista
álbum mais popular até à data. Sucedem-se anún- juntar a «AZORES & METAL Vol #1», uma compi- que deram nas Grutas de Mira de Aire no passado mês
cios de datas, nem sempre concretizados, como o lação com os artistas actualmente mais ativos no de Maio nos formatos vinil, CD, DVD e Blu-ray. Em curso
caso recente do River Stone Fest — que, depois de arquipélago açoriano. Este sexto volume conclui EMANUEL FERREIRA
está também o processo de composição do sucessor
os convidar para cabeças-de-cartaz, numa mudan- a colecção com chave de ouro, pois reedita dois AKHLYS – Melinoë
de «Hermitage», que foi editado este ano, sabendo-se
ça de programa, acabou por cancelar a sua edição títulos da mais conhecida banda açoriana, MOR- THROANE – Plus Une Main À Mordre
BLUT AUS NORD – Hallucinogen que os músicos estão actualmente a trabalhar não num,
deste ano. Contratempos como esse não parecem, BID DEATH. Viajamos então até aos princípios mas em dois álbuns novos, um cantado em inglês e ou-
A PALE HORSE NAMED DEATH – Infernum
no entanto, travar a vontade de fazer acontecer e da década de 90 para escutar as duas primeiras In Terra tro cantado em português. “A começar a ser composto
os músicos anunciaram uma primeira digressão maquetas do grupo, «Nomad», de 1993, e «Sha- COUNT RAVEN – The Sixth Storm está o material que irá constituir os dois próximos álbuns
como cabeças-de-cartaz no Reino Unido, com su- meless Faith», de 1995. Curiosamente a edição de Moonspell, um em inglês, outro em português,“ expli-
porte dos WODE. A rota arranca a 21 de Abril no deste sexto volume, coincide com o mês em que cou a banda nas suas redes sociais.
The Black Heart, em Londres, terminando no dia a banda celebra 31 anos de existência. Criado em FERNANDO FERREIRA
28 de mesmo mês no Dead Wax, em Birmingham. plena pandemia, o MUSEU DO HEAVY METAL IRON MAIDEN – Senjutsu
Pelo meio, os músicos nacionais passam ainda AÇORIANO, existe apenas na internet, mas fisica- MORTE INCANDESCENTE – Vala Comum
WANG WEN – 100,000 Whys
por Ipswich, Bristol, Plymouth, Brighton, Manches- mente deu nas vistas através desta colecção de
SHY LOW – Behind The Sun
ter e Glasgow, num total de oito datas. Em solo seis cassetes em que reúne nomes das nove ilhas. WAZZARA – Cycles
nacional, confirmam-se os planos previamente

O
anunciados, com um espectáculo muito especial a s veteranos do hard’n’heavy nacional XE-
decorrer a 12 de Novembro, no Hard Club, Porto. QUE-MATE continuam a celebrar os 35 DAVID ROSADO
anos da edição do seu primeiro disco. “No

P
PULLEY – Esteem Driven Engine
ois, nem vale a pena explicar porque não se concerto de 2020, fizemos gravações ao vivo e FACE TO FACE – No Way Out But Through
realizou uma edição do SEBADELHE METAL vamos editar, exactamente passado um ano, um TURNSTILE – Glow On
TEENAGE BOTTLEROCKET – Sick Sesh!
FEST em 2020, mas tal como prometido CD com o concerto na íntegra, com oferta de DVD
LEPROUS – Aphelion
para esse ano, os lisboetas THERIOMORPHIC da respectiva actuação,” disse Francisco Soares
vão aparecer por terras de Foz de Côa na edição à LOUD! sobre a divulgação deste novo lança-

JCS
deste ano. Como prometido também, a data é 16 mento do grupo, que será disponibilizado com OS TOPS DO
de Outubro de 2021 e são vários os nomes a subir chancela Larvae Records. Recorde-se que a 27
ao palco. Como cabeça-de-cartaz estão os HEA- de Setembro, de 2020, no Forum Maia – Grande
VENWOOD, que continuam a preparar o sucessor Auditório, efectuou-se o concerto de comemo-
de «The Tarot Of The Bohemians», que já data de ração do 35.º aniversário da edição em vinil do
2016, e celebram ainda os 25 anos de «Diva». A «Em Nome Do Pai, Do Filho… E Do Rock’N’Roll».
eles junta-se o punk dos MATA-RATOS e o crust/ Nesse concerto foram executados todos os te-
metal dos SIMBIOSE, com os BIOLENCE a terem mas do álbum, bem como do single da época.
aqui a oportunidade de mostrar o seu excelente EP Por essa altura dos 30 anos, o disco, já um clás-
«Enslave, Deplete, Destroy!!», que surpreendeu sico do underground nacional, recebeu uma ree- MELHORES BANDAS
muitos. A fechar o cartaz, dois nomes da região
de Vila Real: SOLLUST e NEMATOMORPHOS. A
dição em CD e cassete. Agora, chega o disco ao
vivo, intitulado «Ao Vivo @ Forum Maia 2020».
DE SEATTLE
entrada é gratuita e, naturalmente, o festival se- EXTRA-GRUNGE

F
guirá as normas em vigor na fase de pandemia. A USTILARIAN é um novo projecto nacional de
empresa Strike Tours está a organizar o transporte black metal e o álbum de estreia foi editado, 01. Sunn O)))
a partir do Porto para o festival. Mais informação sem grande alarido, através da germânica 02. The Accüsed
na página oficial da empresa, em www.striketours. Amor Fati. Intitulado «All This Promiscuous De- 03. Black Breath
pt. Regras de acesso e toda a informação extra re- cadence», a versão em formato CD já está dispo-
lativa ao festival estará disponibilizada nas redes nível e no início de 2022 chegará então a edição
04, Nevermore
sociais associadas ao evento. em vinil. O projecto possui apenas um elemento, 05. Big Business
que a LOUD! sabe ser alguém bem conhecido no 06. The Murder City Devils

É 07. Queensrÿche
oficial, dia 20 de Setembro uma das colec- underground nacional, e responsável por uma das
ções de cassetes mais originais, com mar- maiores estreias dos últimos cinco anos no campo
ca lusa, chega ao fim. Não é surpresa, pois da música extrema feita por cá. Com cerca de 43
08. Bell Witch
desde o princípio que estavam anunciados apenas minutos, o disco traz um som situado no black me- 09. These Arms Are Snakes
seis títulos, faltava apenas a data de lançamento tal dos 90s, com veia mais tradicional. 10. Lesbian
6 LOUD!
PLAYLISTS

FOTO: CATARINA ROCHA


NOTÍCIAS
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JOSÉ MIGUEL RODRIGUES
MOONSPELL
BLACK WING – No Moon
FLUISTERAARS – Gegrepen Door De Geest
30 ANOS DE CARREIRA
Der Zielsontluiking
ISKANDR – Vergezicht
EM GRANDE ESTILO

O
LAMP OF MURMUUR – Submission And Slavery
MASTIFF – Leave Me The Ashes Of The s MOONSPELL vão andar na estrada durante o
Earth próximo ano e, depois de anunciada uma tour
com os PARADISE LOST, no Reino Unido, agora
sabe-se que vão regressar aos concertos também no
JOSÉ CARLOS SANTOS velho continente – e inseridos num cartaz de luxo. Isto
EMMA RUTH RUNDLE – Engine Of Hell porque a Vltima Ratio Fest, assim se intitula a digressão,
THE GOD MACHINE – One Last Laugh In A
conjuga cinco nomes, três dos quais incontornáveis:
Place Of Dying
DOLD VORDE ENS NAVN – Mørkere MY DYING BRIDE, BORKNAGAR e, claro, MOONSPELL.
TOWER – Shock To The System Além deste trio de peso, juntam-se ainda ao cartaz os
THE STRANGLERS – Dark Matters WOLFHEART — imagine-se de onde virá o nome — e os
HINAYANA. A rota de dezoito datas inicia-se em finais
de Setembro de 2022 na Alemanha, terminando nos
PEDRO ROQUE Países Baixos em meados de Outubro. Nesta lista não
GAEREA LOW – HEY WHAT existem datas para a Península Ibérica, sendo oito dos
THE BUG – Fire
espectáculos já anunciados em território alemão, mas
FUSTILARIAN – All This Promiscuous

O
Decadence Fernando Ribeiro e companhia já revelaram estar a
s tempos em que «LIMBO» foi editado não e “oficializar” a banda para esta edição. Foi uma preparar dois grandes concertos para celebrar 30 anos
THE BODY AND BIG BRAVE – Leaving None
se revelaram fáceis, mas os GAEREA têm saga de seis volumes da AZOREAN HEAVY METAL But Small Birds de carreira por cá. Além disso, está também agendada
lutado para promover aquele que foi o seu “1980 - 2000” COLLECTION, à qual ainda se pode 10 000 RUSSOS – Superinertia para o próximo ano a edição do espectáculo intimista
álbum mais popular até à data. Sucedem-se anún- juntar a «AZORES & METAL Vol #1», uma compi- que deram nas Grutas de Mira de Aire no passado mês
cios de datas, nem sempre concretizados, como o lação com os artistas actualmente mais ativos no de Maio nos formatos vinil, CD, DVD e Blu-ray. Em curso
caso recente do River Stone Fest — que, depois de arquipélago açoriano. Este sexto volume conclui EMANUEL FERREIRA
está também o processo de composição do sucessor
os convidar para cabeças-de-cartaz, numa mudan- a colecção com chave de ouro, pois reedita dois AKHLYS – Melinoë
de «Hermitage», que foi editado este ano, sabendo-se
ça de programa, acabou por cancelar a sua edição títulos da mais conhecida banda açoriana, MOR- THROANE – Plus Une Main À Mordre
BLUT AUS NORD – Hallucinogen que os músicos estão actualmente a trabalhar não num,
deste ano. Contratempos como esse não parecem, BID DEATH. Viajamos então até aos princípios mas em dois álbuns novos, um cantado em inglês e ou-
A PALE HORSE NAMED DEATH – Infernum
no entanto, travar a vontade de fazer acontecer e da década de 90 para escutar as duas primeiras In Terra tro cantado em português. “A começar a ser composto
os músicos anunciaram uma primeira digressão maquetas do grupo, «Nomad», de 1993, e «Sha- COUNT RAVEN – The Sixth Storm está o material que irá constituir os dois próximos álbuns
como cabeças-de-cartaz no Reino Unido, com su- meless Faith», de 1995. Curiosamente a edição de Moonspell, um em inglês, outro em português,“ expli-
porte dos WODE. A rota arranca a 21 de Abril no deste sexto volume, coincide com o mês em que cou a banda nas suas redes sociais.
The Black Heart, em Londres, terminando no dia a banda celebra 31 anos de existência. Criado em FERNANDO FERREIRA
28 de mesmo mês no Dead Wax, em Birmingham. plena pandemia, o MUSEU DO HEAVY METAL IRON MAIDEN – Senjutsu
Pelo meio, os músicos nacionais passam ainda AÇORIANO, existe apenas na internet, mas fisica- MORTE INCANDESCENTE – Vala Comum
WANG WEN – 100,000 Whys
por Ipswich, Bristol, Plymouth, Brighton, Manches- mente deu nas vistas através desta colecção de
SHY LOW – Behind The Sun
ter e Glasgow, num total de oito datas. Em solo seis cassetes em que reúne nomes das nove ilhas. WAZZARA – Cycles
nacional, confirmam-se os planos previamente

O
anunciados, com um espectáculo muito especial a s veteranos do hard’n’heavy nacional XE-
decorrer a 12 de Novembro, no Hard Club, Porto. QUE-MATE continuam a celebrar os 35 DAVID ROSADO
anos da edição do seu primeiro disco. “No

P
PULLEY – Esteem Driven Engine
ois, nem vale a pena explicar porque não se concerto de 2020, fizemos gravações ao vivo e FACE TO FACE – No Way Out But Through
realizou uma edição do SEBADELHE METAL vamos editar, exactamente passado um ano, um TURNSTILE – Glow On
TEENAGE BOTTLEROCKET – Sick Sesh!
FEST em 2020, mas tal como prometido CD com o concerto na íntegra, com oferta de DVD
LEPROUS – Aphelion
para esse ano, os lisboetas THERIOMORPHIC da respectiva actuação,” disse Francisco Soares
vão aparecer por terras de Foz de Côa na edição à LOUD! sobre a divulgação deste novo lança-

JCS
deste ano. Como prometido também, a data é 16 mento do grupo, que será disponibilizado com OS TOPS DO
de Outubro de 2021 e são vários os nomes a subir chancela Larvae Records. Recorde-se que a 27
ao palco. Como cabeça-de-cartaz estão os HEA- de Setembro, de 2020, no Forum Maia – Grande
VENWOOD, que continuam a preparar o sucessor Auditório, efectuou-se o concerto de comemo-
de «The Tarot Of The Bohemians», que já data de ração do 35.º aniversário da edição em vinil do
2016, e celebram ainda os 25 anos de «Diva». A «Em Nome Do Pai, Do Filho… E Do Rock’N’Roll».
eles junta-se o punk dos MATA-RATOS e o crust/ Nesse concerto foram executados todos os te-
metal dos SIMBIOSE, com os BIOLENCE a terem mas do álbum, bem como do single da época.
aqui a oportunidade de mostrar o seu excelente EP Por essa altura dos 30 anos, o disco, já um clás-
«Enslave, Deplete, Destroy!!», que surpreendeu sico do underground nacional, recebeu uma ree- MELHORES BANDAS
muitos. A fechar o cartaz, dois nomes da região
de Vila Real: SOLLUST e NEMATOMORPHOS. A
dição em CD e cassete. Agora, chega o disco ao
vivo, intitulado «Ao Vivo @ Forum Maia 2020».
DE SEATTLE
entrada é gratuita e, naturalmente, o festival se- EXTRA-GRUNGE

F
guirá as normas em vigor na fase de pandemia. A USTILARIAN é um novo projecto nacional de
empresa Strike Tours está a organizar o transporte black metal e o álbum de estreia foi editado, 01. Sunn O)))
a partir do Porto para o festival. Mais informação sem grande alarido, através da germânica 02. The Accüsed
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pt. Regras de acesso e toda a informação extra re- cadence», a versão em formato CD já está dispo-
lativa ao festival estará disponibilizada nas redes nível e no início de 2022 chegará então a edição
04, Nevermore
sociais associadas ao evento. em vinil. O projecto possui apenas um elemento, 05. Big Business
que a LOUD! sabe ser alguém bem conhecido no 06. The Murder City Devils

É 07. Queensrÿche
oficial, dia 20 de Setembro uma das colec- underground nacional, e responsável por uma das
ções de cassetes mais originais, com mar- maiores estreias dos últimos cinco anos no campo
ca lusa, chega ao fim. Não é surpresa, pois da música extrema feita por cá. Com cerca de 43
08. Bell Witch
desde o princípio que estavam anunciados apenas minutos, o disco traz um som situado no black me- 09. These Arms Are Snakes
seis títulos, faltava apenas a data de lançamento tal dos 90s, com veia mais tradicional. 10. Lesbian
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RES & METAL Vol #1». Criado em plena pandemia, o MUSEU DO HEAVY rência, e nos envies o respectivo compro-

ARMADAS
METAL AÇORIANO tem dado nas vistas ultimamente na divulgação do vativo para assinaturas@loudmagazine.net,
metal das nove ilhas. Agora, edita esta compilação em CD, que reúne a partir das 12:00 do dia 2 de Outubro.
os artistas actualmente mais activos do arquipélago no campo da mú- Também podes fazer a assinatura direc-
sica pesada, a saber: DEPTHS OF MAKIND, RIOTS AT LOBE, KASKA- tamente em loudmagazine.bigcartel.com,
VEIL, MORBID DEATH, BEWARE THE WOLF, DRVZKA, VEIA, BURIED BY
onde estará disponível a partir da mesma
DAVID SOARES LAVA, WRECKAGE, KHTHON, SANCTUS NOSFERATU, DARK AGE OF
RUIN, MAZK, PALHA D’AÇO, DRAKH VENÊN e DREAMING IN BLACK. hora. Os novos assinantes têm direito a
Uma edição marcante para a descoberta de um sector importante do uma cópia de um destes discos dentro do
Os freiráticos portugueses da Época Moderna – homens que através beus (que, entre outras coisas, queriam reformar os costumes dos conven-
das grades dos ginecenóbios mantinham relações imateriais com freiras tos femininos) contra os Mundanos (estes, pelo contrário, não achavam
metal nacional, a não perder – é aproveitar enquanto esta nossa pro- limite do stock existente.
em clausura, trocando cartas, oferecendo preciosidades e figurinhas de problemáticas as relações entre freiras e freiráticos – até porque provi- moção dura. Podem entretanto visitar o Museu em museuhmazores. Sejam rápidos!
presépio – subsistem como sombras silhuetadas em momices teatrais, nham quase todos do mesmo grupo social: a nobreza). Nessa proteifor- bandcamp.com e em facebook.com/museuHEAVYMETALacoriano.
tão caricaturais quanto cabotinos; de resto, eram vistos pelos contem- me conjuntura, os chamados “outeiros” (ou seja, as tertúlias às grades dos
porâneos como sendo já figuras típicas: os homens explorados por “frei- conventos das ordens religiosas femininas), diversificaram e difundiram a
ras devoradoras de presentes”. Esta dinâmica de mulheres inacessíveis literatura escrita por freiras, integrando-a como constituinte de uma novi-
prometerem em troca de presentes algumas recompensas platónicas a dade europeia que vagarosamente se estabelecia: a dita “esfera pública”.
um transido público masculino permanece actual no universo das redes
sociais e das aplicações onde modelos oferecem fotos e filmes em tro- Falando em nobreza, D. João V não se livrou de ser classificado de freirá-
ca de vestuário e acessórios adquiridos e remetidos por patronos; nesse tico, em função de relações sobejamente conhecidas; entre outras, com
sentido, a analogia com o freiratismo seiscentista e setecentista adquire a madre Paula do convento de Odivelas. Não obstante, um aspecto que
espantosa similitude quando se compreende que o hodierno ecrã está a nesse caso se evidencia é o facto de as mulheres plebeias cobiçarem
agir exactamente da mesma forma que a antiga grade conventual – in- sexualmente o rei; algo admirável quando se constata a reduzida exposi-
clusive na matriz quadricular, uma de ferro e outra de pixéis. ção pública praticada pelos barrocos reis brigantinos, em contraste com
monarcas de dinastias anteriores. Cite-se como representativo da atrac-
Assim, tem de levar-se a sério os freiráticos para compreender a mentali- ção exercida pelo rei sobre as mulheres do povo, o episódio algo bizanti-
dade de Seiscentos e Setecentos; na verdade, sob esse patusco fenómeno no das Salemas: estas eram duas bruxas mulatas de Alcácer do Sal que
pulsa o embrião de um espaço misto a haver, à foram contratadas por quatro mulheres residen-
imagem daquele que coalesceria com o advento tes na Aldeia Galega (Montijo) para embruxarem
dos salões das Luzes presididos por cultas anfi- D. João V, levá-lo a abandonar a madre Paula e
triãs – e que melhores candidatas a esse “teste a apaixonar-se por outra freira que era irmã da
de fábrica” que as freiras letradas? Atrás de uma freira que namorava com o padre Bartolomeu
grade, protegidas de consórcio íntimo, podiam ser de Gusmão, inventor da Passarola; ora, o “pa-
interlocutoras alegres e descomprometidas. Tão dre voador” era irmão de Alexandre de Gusmão,
simbiótica era a sociabilidade entre freiras e freirá-
ticos que rebentavam revoltas dentro dos conven-
tos quando instâncias superiores tentavam coarc-
secretário particular do rei (uma espécie de pri-
meiro-ministro). Feitiçaria e luta palaciana pelo
poder caldeadas no melífluo pote do freiratismo.
ASSINATURA LOUD! O pagamento pode ser feito por cheque ou vale postal em nome
de Pessoal do 13 - Publicações, LDA. e remetido para a nossa
morada ou, mais simples ainda, por transferência bancária (num
tar as visitas masculinas; às vezes com imposição assinatura anual em papel multibanco não existem quaisquer comissões de transferência)
de grades duplas, separadas por alguns palmos. Todavia, o freiratismo também contribuiu para a

O freiratismo irrompeu no início do século XVII,


dissolução da respeitabilidade monacal; a par-
tir de meados de Setecentos acentuou-se um 36€ para o seguinte NIB: 0036 0027 99100151466 59.

Essencial é também o envio do nome completo, número de


cerca de 1603, como comprovam reiteradas leis, declínio irreversível das ordens monásticas e o
cartas régias, alvarás, diplomas, decretos e provi- desfecho foi o de que os serôdios amores freirá- (desconto de 14%) B.I./C.C., morada, contacto telefónico e e-mail, assim como o
sões publicados no decurso da centúria, proibindo ticos às grades e a significante literatura conven- comprovativo da transferência, para o endereço
o trato com freiras, familiaridades suspeitas nas tual feminina passaram a ser observados como Se gostaste de ler a LOUD! em versão digital durante assinaturas@loudmagazine.net
clausuras, as frequências nas grades e o abuso de coisas passadiças, como “grifarias”. Aliás, esta os meses do confinamento, continuamos a oferecer
falar nos adros das igrejas. À medida que o século crise monástica (de dimensão europeia, mas Também é possível assinar a LOUD! na nossa loja online
XVIII se aproximava, o freiratismo desenvolvera já com alterações nacionais) não foi pacífica, ocor-
esse serviço em gumroad.com/loudmagazine em:
uma coreografia e um discurso próprios, cristali- rendo por todo o território português verdadeiras – com um preço de capa reduzido! Aproveita já!
loudmagazine.bigcartel.com
zando na literatura de cordel arquétipos consoli- “batalhas monacais” num longo período em que

ASSINA JÁ!
dados do freirático e da freira concupiscente, mas ocorreram várias mortes à escala do reino. Os Se resides no estrangeiro, a LOUD! pode chegar a ti pelo correio
a coberto da caricaturização fermentavam forças séculos XVII e XVIII foram em Portugal um tem- na mesma. Envia e-mail para o endereço referido acima a pedir
que prenunciavam um novo modo de ambos os po de armadas em freiras e de freiras armadas.
informações.
sexos se relacionarem e que mascaravam, ainda,
uma controvérsia religiosa: a que opôs os Jaco- Freirático, por Alberto De Souza

8 LOUD! 9
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assinante uma cópia da compilação «AZO-
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um transido público masculino permanece actual no universo das redes
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espantosa similitude quando se compreende que o hodierno ecrã está a nesse caso se evidencia é o facto de as mulheres plebeias cobiçarem
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monarcas de dinastias anteriores. Cite-se como representativo da atrac-
Assim, tem de levar-se a sério os freiráticos para compreender a mentali- ção exercida pelo rei sobre as mulheres do povo, o episódio algo bizanti-
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dos salões das Luzes presididos por cultas anfi- D. João V, levá-lo a abandonar a madre Paula e
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de fábrica” que as freiras letradas? Atrás de uma freira que namorava com o padre Bartolomeu
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interlocutoras alegres e descomprometidas. Tão dre voador” era irmão de Alexandre de Gusmão,
simbiótica era a sociabilidade entre freiras e freirá-
ticos que rebentavam revoltas dentro dos conven-
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meiro-ministro). Feitiçaria e luta palaciana pelo
poder caldeadas no melífluo pote do freiratismo.
ASSINATURA LOUD! O pagamento pode ser feito por cheque ou vale postal em nome
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O freiratismo irrompeu no início do século XVII,


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uma coreografia e um discurso próprios, cristali- rendo por todo o território português verdadeiras – com um preço de capa reduzido! Aproveita já!
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zando na literatura de cordel arquétipos consoli- “batalhas monacais” num longo período em que

ASSINA JÁ!
dados do freirático e da freira concupiscente, mas ocorreram várias mortes à escala do reino. Os Se resides no estrangeiro, a LOUD! pode chegar a ti pelo correio
a coberto da caricaturização fermentavam forças séculos XVII e XVIII foram em Portugal um tem- na mesma. Envia e-mail para o endereço referido acima a pedir
que prenunciavam um novo modo de ambos os po de armadas em freiras e de freiras armadas.
informações.
sexos se relacionarem e que mascaravam, ainda,
uma controvérsia religiosa: a que opôs os Jaco- Freirático, por Alberto De Souza

8 LOUD! 9
“Achámos que,
depois de tanto
tempo, fazia
sentido olhar para
trás.”

tínhamos parado no «Aeons Black». A primeira


coisa que as pessoas vão ouvir neste álbum é
uma versão alternativa do final do disco ante-
rior,” revela o músico.

Desengane-se, no entanto, quem estiver à


espera de uma sequela do último registo,
uma vez que, no novo, Nilsson e compa-
nhia cavam “um pouco mais fundo”, segun-

THE VOYNICH CODE


do o músico. “Queria incorporar esses sons
grandes na nossa música. Desde o primeiro
álbum, sempre tivemos intros entre os te-
mas, para não se transformar tudo só numa
explosão de 45, 50 minutos. Isso, às tantas,
torna-se aborrecido, para nós e para quem
nos ouve. Mas sim, desta vez queria dar ao
material uma sensação de álbum concei-
Já com um álbum e dois EPs na algibeira, vaga de juventude para estes estilos. “Há tual, como se houvesse uma história a ser
toda uma geração nova que acaba de entrar
fomos descobrir mais sobre este trio nacional.
contada.” E não, pasmem-se, não há aqui

AEON
no metalcore e deathcore,” explica. “Isso até um conceito lírico, por isso a história está
se nota nas bandas que estão no mesmo só mesmo na imaginação do músico. “Eu

FOTO: TONY ÖSTMAN


o meio do metal nacional, o peso das em tour, fosse mais um e já teríamos de pro- ‘grupo’ que nós, como Slaughter To Prevail, faço a música e quem escreve as letras é
redes sociais e de alguns meios ciber- curar uma carrinha só para nós.” Na realidade, Born Of Osiris, Brain Of Sacrifice, Lorna Sho- o Tommy [Dahlström, vocalista]. Às vezes,
néticos acaba a ocultar correntes que a logística joga a favor de números pares. “Na re, toda uma veia nova de deathcore que acho que tem algum tipo de conceito, sim,
recrutam muitos seguidores, e que merecem ida ao Japão foi menos uma viagem, e quando está a surgir. Quando olhamos para as redes mas não discutimos as letras. Para mim,
tanta ou mais atenção que certos nomes que precisamos de alugar quartos, bastam dois,” sociais, a malta que interage é um público na verdade, pouco importa, porque sei que
dominam determinados ciclos viciosos e algo explica Vinnie. Essa passagem pelo Japão mais novo. Muitas vezes as pessoas dizem ele as escreve para que todos possam fazer
preguiçosos. Deathcore, metalcore, são ape- foi um marco importante para o grupo, como que somos desconhecidos em Portugal, mas a sua própria interpretação. Podem ter um
nas estilos que sofrem desse problema e aca-
bam muitas vezes negligenciados. É isso que
seria de esperar. Ficou até a sensação de te-
rem mais fãs por lá que em Portugal, algo que
porque não conseguimos chegar tão facil-
mente ao público mais velho.” E foi depois de
Suecos desaparecidos em combate, voltam significado para ti e podem ter um signifi-
cado diferente para mim, ou para ele. Mes-
acontece com THE VOYNICH CODE. Activos
há quase uma década, possuem já um EP, «Ig-
Nelson considera ser “não linear”. Diz ele: “Ava-
liando o streaming, uma grande parte ainda é
muitos concertos lá fora, e uma pandemia,
que o grupo chegou a «Post Mortem». “To-
à carga com um petardo de death metal mo assim, gosto de manter a música sob a
impressão de que existe um conceito, que
notum» de 2015, e um álbum, «Aqua Vitae», de de Portugal, cerca de 20%, com 50% sendo dos os trabalhos têm um título em latim,” ex- obscuro. existe uma história.” Entusiasmado, Zeb vai
2017. Recentemente saiu mais um EP, «Post dos Estados Unidos e Canadá.” Mas Japão e plica Nelson. “Escrevo sobre aquilo que vou elaborando, diz que é “como se estivesse

C
Mortem». Neste momento o grupo é forma- Austrália são de facto os outros dois merca- vivendo, e há uma sequência. O «Ignotum» onvenhamos, apesar de terem dado digressão, primeiro na Europa e depois nos a escrever uma banda-sonora na cabeça,
do apenas por três elementos, Vinnie Afonso dos com peso na audiência dos The Voynich é relativo ao desconhecido da vida e muito que falar na viragem do milénio, os Estados Unidos... Ele nunca tinha feito nada para um livro, um filme imaginário ou algo
e Vinnie Mallet nas guitarras e Nelson Rebelo Code. O músico considera que “há uma gran- associado ao manuscrito que dá nome à suecos AEON nunca conseguiram real- assim, e não se adaptou bem. Entretanto falei parecido.” E, depois, como quem não quer
na voz. “Acabámos por decidir fazer este EP, de fanbase no Japão graças ao promotor que banda.” O vocalista afirma que “olhava para mente furar para a primeira liga do death me- com o Daniel [Dlimi, guitarrista], que já tinha a coisa, ainda nos revela que, afinal, as se-
só os três,” explica Nelson. “Provar que éra- nos levou lá, que é também jornalista e mentor a vida e não sabia o que esperar hoje, como tal. Apoiados numa sequência de álbuns bem tocado connosco, e ele aceitou voltar, por isso melhanças entre o último tema de «Aeons
mos capazes de fazer este trabalho sozinhos. de uma página na internet, que descobriu o será o dia de amanhã, qual o meu destino, obscuros e extremos, os músicos liderados não foi uma mudança muito complicada. Pior, Black» e o início da «The Nihilist», tema
Estando à procura de baterista, e sem baixista pelo intrépido Zeb Nilsson estabeleceram foi com a situação do baterista... O Emil [Wiks- de abertura de «Gods End Here», não são
há algum tempo, procurámos, mas não foi fá- a sua reputação com uma série de lança- ten] juntou-se ao Abbath, fez umas digressões os únicos easter eggs a descobrir neste
cil encontrar um. Neste momento trabalhamos
com bateristas de sessão até encontrarmos
“Escrevo sobre aquilo que vou vivendo.” mentos entre 2005 e 2012, que lhes valeram
primeiras partes de digressões com bandas
com ele e, às tantas, teve um burnout total. Até
hoje, não voltou a tocar bateria.” Será essa a
regresso. “Achámos que, depois de tan-
to tempo, fazia sentido olhar para trás. Há
alguém definitivo.” No caso do baixista, opta- como os Cannibal Corpse. No entanto, nunca maldição destes Aeon – versão moderna dos temas, melodias, progressões de acordes;
ram não por procurar, pois o vocalista consi- grupo e fez questão de nos agendar para lá to- a seguir veio o «Aqua Vitae», pois comecei a se profissionalizaram e, claro, não é estranho Spinal Tap? “Começo a pensar que é mesmo há muitos pormenores diferentes que vão
dera funcionarem bem, com baixo de backing car. Metade ou até mesmo 70% do pessoal no velejar para encontrar o rumo da minha vida, que, a dada altura, a vida se tenha intrometido isso,” diz o guitarrista entre risos. “Até porque surgindo, de forma recorrente, de vez em
track. “Apesar de ter os seus pontos positivos concerto nem conhecia a nossa banda, eram o em que acabei a passar um mau bocado, pelo caminho. Após ter andado na estrada a o problema do baterista não está resolvido. quando. As pessoas provavelmente vão ter
e negativos – o backtracking nunca se engana, público regular da venue.” Vinnie defende mes- o que levou ao «Post Mortem», que podem promover exaustivamente «Aeons Black», de Quem nos safou durante as gravações foi de ouvir o álbum muitas vezes para perce-
por exemplo – mas claro que eventualmente mo os fãs nacionais: “Havendo muito mais po- considerar como a calma depois da tempes- 2012, Nilsson voltou a casa e viu, de um gol- o Janne [Jesper Jaloma], mas ele é um tipo berem, mas... Um spoiler: a linha de baixo
queremos ter um baixista a sério.” Apesar de pulação, naturalmente que isso se reflecte em tade.” O músico considera que “à semelhan- pe, a banda ruir aos seus pés. Claro, foi esse o ocupado e, se quisermos ir em tour, temos do tema-título tem a mesma melodia que o
tudo, há ainda outro argumento que reforça a número de fãs, mas olhando para os números ça de outras bandas, resolvemos começar a percalço que fez com que tivéssemos de es- de continuar à procura de uma solução mais final da «Liar’s Den». A melodia do coro é a
opção do backtracking, para Nelson: “Estáva- face à população, a base nacional até fica bem olhar a música de uma forma mais madura, perar quase uma década para ouvir música permanente.” Pese esta imparável dança de mesma que na linha de baixo no início do te-
mos para ir em tour, em 2018, tocando muito representada.” começando por escutar a geração anterior nova vinda daqueles lados. “Esse foi, efectiva- cadeiras, os Aeon “nunca se separaram”, diz ma-título.” Brutalidade que também é nerd,
lá fora e sem tempo para procurar alguém. à nossa. Começámos a tirar influências de mente, o maior problema, sim,” diz o guitarris- o nosso interlocutor – e, a prová-lo, estão de portanto. A verdade é que «God Ends Here»
Começámos depois a compor o álbum e não Apesar dessa representatividade, o impac- black metal, death, brutal death, até heavy ta, principal compositor e, no geral, timoneiro volta com um petardo de death metal blasfe- se afirma, de facto, como um disco “maior”,
era o momento certo para incorporar um bai- to mediático é menor, talvez devido à idade metal, pois na verdade foi o que começamos do grupo. “Passámos uma série de anos sem mo. Intitulado «God Ends Here», o disco parte mais intrincado e algo difícil, mas também
xista, e depois veio a pandemia.” Vinnie refor- dos fãs. “Quando começámos a tocar no Sa- a ouvir quando miúdos. Foi a junção do con- formação completa. O Ronnie [Björnström, ex- exactamente do ponto em que «Aeons Bla- mais forte em quase todos os sentidos;
ça a posição. “Ao ficarmos sem baixista, isso botage, enchemos a sala, com malta muito ceito ‘post mortem’ e a temática mais negra -guitarrista] entrou depois de termos lançado ck» nos tinha deixado em 2012. “Não sei até uma colecção de temas sombrios e épicos,
abriu-nos portas para dividirmos carrinhas de jovem, de dezassete, vinte anos,” considera que criou este bolo a que chamamos «Post o «Aeons Black», fez duas tours connosco e que ponto é que as pessoas vão apanhar isto, que a espaços até empurram a música dos
nove lugares. Sendo quatro podíamos entrar o guitarrista, que acredita que há uma nova Mortem», e é isso o novo EP.” [E.F.] depois desistiu. Estivemos sete semanas em mas sim, tive essa ideia de continuar de onde Aeon em novas direcções. [J.M.R.]

10 LOUD! LOUD! 11
“Achámos que,
depois de tanto
tempo, fazia
sentido olhar para
trás.”

tínhamos parado no «Aeons Black». A primeira


coisa que as pessoas vão ouvir neste álbum é
uma versão alternativa do final do disco ante-
rior,” revela o músico.

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espera de uma sequela do último registo,
uma vez que, no novo, Nilsson e compa-
nhia cavam “um pouco mais fundo”, segun-

THE VOYNICH CODE


do o músico. “Queria incorporar esses sons
grandes na nossa música. Desde o primeiro
álbum, sempre tivemos intros entre os te-
mas, para não se transformar tudo só numa
explosão de 45, 50 minutos. Isso, às tantas,
torna-se aborrecido, para nós e para quem
nos ouve. Mas sim, desta vez queria dar ao
material uma sensação de álbum concei-
Já com um álbum e dois EPs na algibeira, vaga de juventude para estes estilos. “Há tual, como se houvesse uma história a ser
toda uma geração nova que acaba de entrar
fomos descobrir mais sobre este trio nacional.
contada.” E não, pasmem-se, não há aqui

AEON
no metalcore e deathcore,” explica. “Isso até um conceito lírico, por isso a história está
se nota nas bandas que estão no mesmo só mesmo na imaginação do músico. “Eu

FOTO: TONY ÖSTMAN


o meio do metal nacional, o peso das em tour, fosse mais um e já teríamos de pro- ‘grupo’ que nós, como Slaughter To Prevail, faço a música e quem escreve as letras é
redes sociais e de alguns meios ciber- curar uma carrinha só para nós.” Na realidade, Born Of Osiris, Brain Of Sacrifice, Lorna Sho- o Tommy [Dahlström, vocalista]. Às vezes,
néticos acaba a ocultar correntes que a logística joga a favor de números pares. “Na re, toda uma veia nova de deathcore que acho que tem algum tipo de conceito, sim,
recrutam muitos seguidores, e que merecem ida ao Japão foi menos uma viagem, e quando está a surgir. Quando olhamos para as redes mas não discutimos as letras. Para mim,
tanta ou mais atenção que certos nomes que precisamos de alugar quartos, bastam dois,” sociais, a malta que interage é um público na verdade, pouco importa, porque sei que
dominam determinados ciclos viciosos e algo explica Vinnie. Essa passagem pelo Japão mais novo. Muitas vezes as pessoas dizem ele as escreve para que todos possam fazer
preguiçosos. Deathcore, metalcore, são ape- foi um marco importante para o grupo, como que somos desconhecidos em Portugal, mas a sua própria interpretação. Podem ter um
nas estilos que sofrem desse problema e aca-
bam muitas vezes negligenciados. É isso que
seria de esperar. Ficou até a sensação de te-
rem mais fãs por lá que em Portugal, algo que
porque não conseguimos chegar tão facil-
mente ao público mais velho.” E foi depois de
Suecos desaparecidos em combate, voltam significado para ti e podem ter um signifi-
cado diferente para mim, ou para ele. Mes-
acontece com THE VOYNICH CODE. Activos
há quase uma década, possuem já um EP, «Ig-
Nelson considera ser “não linear”. Diz ele: “Ava-
liando o streaming, uma grande parte ainda é
muitos concertos lá fora, e uma pandemia,
que o grupo chegou a «Post Mortem». “To-
à carga com um petardo de death metal mo assim, gosto de manter a música sob a
impressão de que existe um conceito, que
notum» de 2015, e um álbum, «Aqua Vitae», de de Portugal, cerca de 20%, com 50% sendo dos os trabalhos têm um título em latim,” ex- obscuro. existe uma história.” Entusiasmado, Zeb vai
2017. Recentemente saiu mais um EP, «Post dos Estados Unidos e Canadá.” Mas Japão e plica Nelson. “Escrevo sobre aquilo que vou elaborando, diz que é “como se estivesse

C
Mortem». Neste momento o grupo é forma- Austrália são de facto os outros dois merca- vivendo, e há uma sequência. O «Ignotum» onvenhamos, apesar de terem dado digressão, primeiro na Europa e depois nos a escrever uma banda-sonora na cabeça,
do apenas por três elementos, Vinnie Afonso dos com peso na audiência dos The Voynich é relativo ao desconhecido da vida e muito que falar na viragem do milénio, os Estados Unidos... Ele nunca tinha feito nada para um livro, um filme imaginário ou algo
e Vinnie Mallet nas guitarras e Nelson Rebelo Code. O músico considera que “há uma gran- associado ao manuscrito que dá nome à suecos AEON nunca conseguiram real- assim, e não se adaptou bem. Entretanto falei parecido.” E, depois, como quem não quer
na voz. “Acabámos por decidir fazer este EP, de fanbase no Japão graças ao promotor que banda.” O vocalista afirma que “olhava para mente furar para a primeira liga do death me- com o Daniel [Dlimi, guitarrista], que já tinha a coisa, ainda nos revela que, afinal, as se-
só os três,” explica Nelson. “Provar que éra- nos levou lá, que é também jornalista e mentor a vida e não sabia o que esperar hoje, como tal. Apoiados numa sequência de álbuns bem tocado connosco, e ele aceitou voltar, por isso melhanças entre o último tema de «Aeons
mos capazes de fazer este trabalho sozinhos. de uma página na internet, que descobriu o será o dia de amanhã, qual o meu destino, obscuros e extremos, os músicos liderados não foi uma mudança muito complicada. Pior, Black» e o início da «The Nihilist», tema
Estando à procura de baterista, e sem baixista pelo intrépido Zeb Nilsson estabeleceram foi com a situação do baterista... O Emil [Wiks- de abertura de «Gods End Here», não são
há algum tempo, procurámos, mas não foi fá- a sua reputação com uma série de lança- ten] juntou-se ao Abbath, fez umas digressões os únicos easter eggs a descobrir neste
cil encontrar um. Neste momento trabalhamos
com bateristas de sessão até encontrarmos
“Escrevo sobre aquilo que vou vivendo.” mentos entre 2005 e 2012, que lhes valeram
primeiras partes de digressões com bandas
com ele e, às tantas, teve um burnout total. Até
hoje, não voltou a tocar bateria.” Será essa a
regresso. “Achámos que, depois de tan-
to tempo, fazia sentido olhar para trás. Há
alguém definitivo.” No caso do baixista, opta- como os Cannibal Corpse. No entanto, nunca maldição destes Aeon – versão moderna dos temas, melodias, progressões de acordes;
ram não por procurar, pois o vocalista consi- grupo e fez questão de nos agendar para lá to- a seguir veio o «Aqua Vitae», pois comecei a se profissionalizaram e, claro, não é estranho Spinal Tap? “Começo a pensar que é mesmo há muitos pormenores diferentes que vão
dera funcionarem bem, com baixo de backing car. Metade ou até mesmo 70% do pessoal no velejar para encontrar o rumo da minha vida, que, a dada altura, a vida se tenha intrometido isso,” diz o guitarrista entre risos. “Até porque surgindo, de forma recorrente, de vez em
track. “Apesar de ter os seus pontos positivos concerto nem conhecia a nossa banda, eram o em que acabei a passar um mau bocado, pelo caminho. Após ter andado na estrada a o problema do baterista não está resolvido. quando. As pessoas provavelmente vão ter
e negativos – o backtracking nunca se engana, público regular da venue.” Vinnie defende mes- o que levou ao «Post Mortem», que podem promover exaustivamente «Aeons Black», de Quem nos safou durante as gravações foi de ouvir o álbum muitas vezes para perce-
por exemplo – mas claro que eventualmente mo os fãs nacionais: “Havendo muito mais po- considerar como a calma depois da tempes- 2012, Nilsson voltou a casa e viu, de um gol- o Janne [Jesper Jaloma], mas ele é um tipo berem, mas... Um spoiler: a linha de baixo
queremos ter um baixista a sério.” Apesar de pulação, naturalmente que isso se reflecte em tade.” O músico considera que “à semelhan- pe, a banda ruir aos seus pés. Claro, foi esse o ocupado e, se quisermos ir em tour, temos do tema-título tem a mesma melodia que o
tudo, há ainda outro argumento que reforça a número de fãs, mas olhando para os números ça de outras bandas, resolvemos começar a percalço que fez com que tivéssemos de es- de continuar à procura de uma solução mais final da «Liar’s Den». A melodia do coro é a
opção do backtracking, para Nelson: “Estáva- face à população, a base nacional até fica bem olhar a música de uma forma mais madura, perar quase uma década para ouvir música permanente.” Pese esta imparável dança de mesma que na linha de baixo no início do te-
mos para ir em tour, em 2018, tocando muito representada.” começando por escutar a geração anterior nova vinda daqueles lados. “Esse foi, efectiva- cadeiras, os Aeon “nunca se separaram”, diz ma-título.” Brutalidade que também é nerd,
lá fora e sem tempo para procurar alguém. à nossa. Começámos a tirar influências de mente, o maior problema, sim,” diz o guitarris- o nosso interlocutor – e, a prová-lo, estão de portanto. A verdade é que «God Ends Here»
Começámos depois a compor o álbum e não Apesar dessa representatividade, o impac- black metal, death, brutal death, até heavy ta, principal compositor e, no geral, timoneiro volta com um petardo de death metal blasfe- se afirma, de facto, como um disco “maior”,
era o momento certo para incorporar um bai- to mediático é menor, talvez devido à idade metal, pois na verdade foi o que começamos do grupo. “Passámos uma série de anos sem mo. Intitulado «God Ends Here», o disco parte mais intrincado e algo difícil, mas também
xista, e depois veio a pandemia.” Vinnie refor- dos fãs. “Quando começámos a tocar no Sa- a ouvir quando miúdos. Foi a junção do con- formação completa. O Ronnie [Björnström, ex- exactamente do ponto em que «Aeons Bla- mais forte em quase todos os sentidos;
ça a posição. “Ao ficarmos sem baixista, isso botage, enchemos a sala, com malta muito ceito ‘post mortem’ e a temática mais negra -guitarrista] entrou depois de termos lançado ck» nos tinha deixado em 2012. “Não sei até uma colecção de temas sombrios e épicos,
abriu-nos portas para dividirmos carrinhas de jovem, de dezassete, vinte anos,” considera que criou este bolo a que chamamos «Post o «Aeons Black», fez duas tours connosco e que ponto é que as pessoas vão apanhar isto, que a espaços até empurram a música dos
nove lugares. Sendo quatro podíamos entrar o guitarrista, que acredita que há uma nova Mortem», e é isso o novo EP.” [E.F.] depois desistiu. Estivemos sete semanas em mas sim, tive essa ideia de continuar de onde Aeon em novas direcções. [J.M.R.]

10 LOUD! LOUD! 11
um período, e posso continuar em frente pa-

FOTO: JACQUELINE SCRIPPS


cificamente.”

Apesar da criatividade lírica deste álbum


novo, com muitas alegorias, «2 Seater»
acaba realmente por parecer muito pes-
soal. É uma história de amadurecimento,
e não só musicalmente. “Sim, acabei por
perceber que este álbum é de facto a minha
história pessoal, mas não foi com essa in-
tenção que escrevi as coisas, e só percebi
isso de facto quando outras pessoas mo
fizeram ver, sinceramente,” explica Mikaiah.
“Foi só quando tive que falar sobre a mensa-
gem que estava a transmitir em voz alta, ver-
balmente, quando tive que pensar nisso, que
se tornou óbvio. É uma crónica dos meus
últimos anos, e por isso é que me comecei a

“É possível

EXISTENCE:VOID
Projecto conimbricense, que existe há já uma década.
comparar os
Foo Fighters e
os Beatles, são
ambos bandas
Amadurecer foi a chave para o quarteto surgir com «Anatman».
de rock… só que
O
THE BOTS
s EXISTENCE:VOID agregam músicos influências da actualidade são nomes que já revela-se a várias dimensões, com as letras a
de vários outros projectos musicais de
Coimbra, em particular dos Antichthon.
precisam de alguma maturidade musical para
compreender. É necessário passar níveis para
assumirem um papel determinante na comple-
xidade do disco. É Alex o seu autor. “Na parte
é rock muito
Destroyers Of All, Terror Empire ou Grimlet são
outros dos nomes associados. Alex Mendes na
chegar a uns Deathspell Omega, por exemplo.” formal, não considero que tenha sido difícil fa-
zer as letras, pois não há grande preocupação
diferente!”
voz, Diogo Ferraz nas guitarras, Filipe Gomes Maturidade parece ser o conceito chave, que com a rima, seguindo mais a tradição do black
no baixo e João Dourado na bateria são os qua- também marca a criação do novo álbum, metal ortodoxo, em que se declama e encaixa referir a este trabalho como uma cena meio
tro integrantes, com a particularidade de João «Anatman». Primeiro, porque houve uma dis- um texto.” O vocalista revela escutar a música
Em 2014, atingiram o estrelato com o seu
coming of age, trata de temas como cres-
Dourado ser também responsável pela pro- persão dos vários membros da banda, como e só depois fazer a notação e procurar onde cimento, amadurecimento, aprendizagem
dução, enquanto Filipe Gomes, normalmente recorda Alex, que admite que ele e o Diogo se pertence a voz. Na parte material, as letras fo-
baterista, assume aqui um novo instrumento. dedicaram mais a outras coisas e que todos os ram escritas há algum tempo. “Quando tinha 21 indie punk incendiário, e regressam agora sobre quem sou… Eu era muito jovem quan-
do comecei a actuar de forma profissional.
“Quando os Antichthon foram formados, ainda outros se envolveram noutros projectos. Diogo anos, quando nos juntámos todos, no início dos
nenhum de nós tinha aprendido a tocar algum sublinha mesmo que “quando entrámos para Existence:Void,” recorda. “Era uma altura em que depois de anos conturbados. Tinha acabado de sair do liceu! Era um rapaz
de dezoito anos, e esses anos são muito for-
instrumento,” revela Diogo Ferraz, referindo a universidade, as prioridades alteraram-se um estava muito envolvido na leitura de filosofia, mativos. E eu passei-os com muitas distrac-

S
que apenas João Dourado seria a excepção. bocado, foi uma altura em que notámos que em particular a mais iconoclasta de Nietzsche eria compreensível que o Mikaiah Lei óbvio. Nesse sentido, encaro o «2 Seater» ções que não são comuns, estive dentro de
“Formámos a banda e no dia seguinte fomos cada um tinha um objectivo um bocadinho dife- e Schopenhauer, por isso não queria fazer algo estivesse nervoso. A última vez que com muito positivismo.” Compreende-se a uma espécie de nuvem, que de várias for-
todos inscrever-nos em aulas de música. Crad- rente,” algo que levou alguns a estudar mesmo que fosse ficção como fiz no passado, querendo lançou um disco com os THE BOTS, necessidade por algum closure, até porque, mas atrasou e dificultou algum amadureci-
le Of Filth e Dimmu Borgir eram as bandas que fora de Portugal. “Também deixou de haver a mesmo pôr os meus próprios pensamentos.” Os ainda na companhia do seu irmão mais segundo consta, muito de «2 Seater» ainda mento e alguma percepção sobre mim pró-
queríamos emular, e o grupo desenvolveu-se a prioridade de lançar por lançar, até porque não anos passaram e Alex voltou a rever as letras. novo, o baterista Anaiah Lei (que entre- são temas que foram aproveitados daquela prio que depois tive necessariamente que
partir dos gostos que tínhamos em comum.” To- tínhamos ficado muito satisfeitos com o resul- “Em 2019 ou 2020 peguei nelas outra vez, e pen- tanto saiu da banda), era um jovem de 21 época de explosão que se seguiu ao «Pink atravessar. Tive que aprender a respeitar-me
dos jovens, foram crescendo como músicos e tado final do álbum dos Antichton. Achámos sei que estava demasiado dependente destes anos. Estávamos em 2014, e «Pink Palms» Palms». “Neste conjunto de canções há de a mim próprio e a ser paciente. E acho que
pessoas, ao mesmo tempo que os Antichthon. melhor esperar até ao momento em que todos filósofos, não querendo estar a pregar com a ar- catapultou-os para o sucesso, levando-os facto muito material que já escrevi há vários essa transformação se reflecte na música.”
“Mas a uma dada altura os nossos gostos musi- tivessem a capacidade de apresentar um produ- rogância de um jovem de 22 anos. Optei por dar a aparecer em todos os maiores festivais anos, mas outras que fui escrevendo ao lon- Agora com 28 anos, e cheio de ideias novas
cais já tinham atingido uma certa maturidade. É to com um mínimo de qualidade e produção que um twist mais poético e imaginário, diluindo os norte-americanos de música independen- go do tempo, portanto há coisas bastante para que o sucessor de «2 Seater» não vol-
um salto grande, dos catorze para os dezanove pudesse influenciar o resultado final.” É por esta textos filosóficos no que seriam páginas perdi- te, algo improvável para o garage punk mais recentes, também,” explica o norte-a- te a demorar sete anos… que diferenças é
anos,” sublinha Alex Mendes. “Os Existence:- altura que João Dourado cria os seus próprios das de um livro encontrado, como o manuscrito meio oblíquo que praticavam. Seguiram-se mericano, originário de Detroit. “No final de que o Mikaiah de hoje nota em relação ao
Void foram o meu amadurecer como músico, já estúdios, e o Filipe Gomes arranca também de Voynich.” Os Existence:Void não são, assim, alguns anos de silêncio discográfico sur- contas acaba por ser um documento dos úl- miúdo que começou a fazer música ainda
com capacidade de compor músicas do princí- com a sua editora. “Assim estavam criadas as apenas mais uma nova banda, mas um projec- preendente, enquanto Mikaiah passava di- timos sete anos, de forma bastante literal. É adolescente? “É uma pergunta complica-
pio ao fim,” refere Diogo, lembrando que é nes- condições para retomar o que tínhamos feito, to que assumiu a maturidade pessoal, como ficuldades para gerir todo este crescimento mesmo o melhor da música que escrevi nes- da!” ri-se ele. “Acho que queria fazer músi-
sa altura que começam a conviver mais com com novas composições, e o desenvolvimento um ponto decisivo para a conclusão do produto prematuro. Foram sete anos até aparecer te intervalo. Resolvi não descartar nada só ca mais rápida, mais crua. Pensava menos,
o Filipe, que os acompanhava nos concertos. do registo vocal do Alex,” considera o guitarris- final, da arte, que começa logo pela interessan- o sucessor, «2 Seater», que tinha saído há por ser material ‘antigo’. Havia muita coisa quando era mais novo. Não que o material
“É dessa altura a «Eternal Recurrence», primeira ta. Para lá da música, este primeiro trabalho te capa com que se apresenta. [E.F.] dias quando conversámos com o guitarris- que queria ter gravado logo a seguir ao «Pink que está no álbum novo não tenha também
música do nosso álbum,” diz o guitarrista, com ta. “Sinto-me muito calmo, estranhamente,” Palms» mas que por uma razão ou outra essas componentes, continua a ser punk,
Alex a recordar quando recebeu a notícia pelo diz com um sorriso. “Antes de o álbum sair não consegui fazer, e não queria desperdiçar mas é um processo mental diferente. E que
Messenger, enquanto João e Diogo estavam a
compor esse tema. “Era tão diferente daquilo
“As nossas principais influências da estava bastante ansioso, mas só porque
queria mesmo que esse dia chegasse. Ago-
essa música, porque acho que ainda tinha
bastante valor. Enfrentei vários obstáculos
está sempre a mudar – este álbum é muito
diferente do anterior, mas a música que te-
que nós tínhamos, e por isso mesmo pensámos
em criar um projecto diferente. Até porque pas- actualidade são nomes que já preci- ra, é como se essa fase da minha vida tenha
finalmente terminado, e já me posso con-
e dificuldades durante estes últimos anos
que foram impedindo que pudesse lançar
nho estado a escrever esta semana também
é bastante diferente de tudo isso! É possível
sávamos por uma crise de identidade, no senti-
do em que não nos revíamos em certas bandas sam de alguma maturidade musical centrar a sério em continuar a fazer música
nova. Não posso ficar muito tempo parado a
música nova, e portanto a intenção é mes-
mo fazer um compêndio do que de melhor
comparar tudo, claro, mas tal como é possí-
vel comparar os Foo Fighters e os Beatles,
como acontecia dois ou três anos antes.” Pros-
para compreender.”
pensar no que as pessoas vão achar, se bem fiz nesse período complicado. Sinto que, são ambos bandas de rock… só que é rock
segue Diogo: “No fundo, as nossas principais que queremos sempre que gostem, como é desta forma, documentei estes anos, fechei muito diferente! [risos]” [J.C.S.]

12 LOUD! LOUD! 13
um período, e posso continuar em frente pa-

FOTO: JACQUELINE SCRIPPS


cificamente.”

Apesar da criatividade lírica deste álbum


novo, com muitas alegorias, «2 Seater»
acaba realmente por parecer muito pes-
soal. É uma história de amadurecimento,
e não só musicalmente. “Sim, acabei por
perceber que este álbum é de facto a minha
história pessoal, mas não foi com essa in-
tenção que escrevi as coisas, e só percebi
isso de facto quando outras pessoas mo
fizeram ver, sinceramente,” explica Mikaiah.
“Foi só quando tive que falar sobre a mensa-
gem que estava a transmitir em voz alta, ver-
balmente, quando tive que pensar nisso, que
se tornou óbvio. É uma crónica dos meus
últimos anos, e por isso é que me comecei a

“É possível

EXISTENCE:VOID
Projecto conimbricense, que existe há já uma década.
comparar os
Foo Fighters e
os Beatles, são
ambos bandas
Amadurecer foi a chave para o quarteto surgir com «Anatman».
de rock… só que
O
THE BOTS
s EXISTENCE:VOID agregam músicos influências da actualidade são nomes que já revela-se a várias dimensões, com as letras a
de vários outros projectos musicais de
Coimbra, em particular dos Antichthon.
precisam de alguma maturidade musical para
compreender. É necessário passar níveis para
assumirem um papel determinante na comple-
xidade do disco. É Alex o seu autor. “Na parte
é rock muito
Destroyers Of All, Terror Empire ou Grimlet são
outros dos nomes associados. Alex Mendes na
chegar a uns Deathspell Omega, por exemplo.” formal, não considero que tenha sido difícil fa-
zer as letras, pois não há grande preocupação
diferente!”
voz, Diogo Ferraz nas guitarras, Filipe Gomes Maturidade parece ser o conceito chave, que com a rima, seguindo mais a tradição do black
no baixo e João Dourado na bateria são os qua- também marca a criação do novo álbum, metal ortodoxo, em que se declama e encaixa referir a este trabalho como uma cena meio
tro integrantes, com a particularidade de João «Anatman». Primeiro, porque houve uma dis- um texto.” O vocalista revela escutar a música
Em 2014, atingiram o estrelato com o seu
coming of age, trata de temas como cres-
Dourado ser também responsável pela pro- persão dos vários membros da banda, como e só depois fazer a notação e procurar onde cimento, amadurecimento, aprendizagem
dução, enquanto Filipe Gomes, normalmente recorda Alex, que admite que ele e o Diogo se pertence a voz. Na parte material, as letras fo-
baterista, assume aqui um novo instrumento. dedicaram mais a outras coisas e que todos os ram escritas há algum tempo. “Quando tinha 21 indie punk incendiário, e regressam agora sobre quem sou… Eu era muito jovem quan-
do comecei a actuar de forma profissional.
“Quando os Antichthon foram formados, ainda outros se envolveram noutros projectos. Diogo anos, quando nos juntámos todos, no início dos
nenhum de nós tinha aprendido a tocar algum sublinha mesmo que “quando entrámos para Existence:Void,” recorda. “Era uma altura em que depois de anos conturbados. Tinha acabado de sair do liceu! Era um rapaz
de dezoito anos, e esses anos são muito for-
instrumento,” revela Diogo Ferraz, referindo a universidade, as prioridades alteraram-se um estava muito envolvido na leitura de filosofia, mativos. E eu passei-os com muitas distrac-

S
que apenas João Dourado seria a excepção. bocado, foi uma altura em que notámos que em particular a mais iconoclasta de Nietzsche eria compreensível que o Mikaiah Lei óbvio. Nesse sentido, encaro o «2 Seater» ções que não são comuns, estive dentro de
“Formámos a banda e no dia seguinte fomos cada um tinha um objectivo um bocadinho dife- e Schopenhauer, por isso não queria fazer algo estivesse nervoso. A última vez que com muito positivismo.” Compreende-se a uma espécie de nuvem, que de várias for-
todos inscrever-nos em aulas de música. Crad- rente,” algo que levou alguns a estudar mesmo que fosse ficção como fiz no passado, querendo lançou um disco com os THE BOTS, necessidade por algum closure, até porque, mas atrasou e dificultou algum amadureci-
le Of Filth e Dimmu Borgir eram as bandas que fora de Portugal. “Também deixou de haver a mesmo pôr os meus próprios pensamentos.” Os ainda na companhia do seu irmão mais segundo consta, muito de «2 Seater» ainda mento e alguma percepção sobre mim pró-
queríamos emular, e o grupo desenvolveu-se a prioridade de lançar por lançar, até porque não anos passaram e Alex voltou a rever as letras. novo, o baterista Anaiah Lei (que entre- são temas que foram aproveitados daquela prio que depois tive necessariamente que
partir dos gostos que tínhamos em comum.” To- tínhamos ficado muito satisfeitos com o resul- “Em 2019 ou 2020 peguei nelas outra vez, e pen- tanto saiu da banda), era um jovem de 21 época de explosão que se seguiu ao «Pink atravessar. Tive que aprender a respeitar-me
dos jovens, foram crescendo como músicos e tado final do álbum dos Antichton. Achámos sei que estava demasiado dependente destes anos. Estávamos em 2014, e «Pink Palms» Palms». “Neste conjunto de canções há de a mim próprio e a ser paciente. E acho que
pessoas, ao mesmo tempo que os Antichthon. melhor esperar até ao momento em que todos filósofos, não querendo estar a pregar com a ar- catapultou-os para o sucesso, levando-os facto muito material que já escrevi há vários essa transformação se reflecte na música.”
“Mas a uma dada altura os nossos gostos musi- tivessem a capacidade de apresentar um produ- rogância de um jovem de 22 anos. Optei por dar a aparecer em todos os maiores festivais anos, mas outras que fui escrevendo ao lon- Agora com 28 anos, e cheio de ideias novas
cais já tinham atingido uma certa maturidade. É to com um mínimo de qualidade e produção que um twist mais poético e imaginário, diluindo os norte-americanos de música independen- go do tempo, portanto há coisas bastante para que o sucessor de «2 Seater» não vol-
um salto grande, dos catorze para os dezanove pudesse influenciar o resultado final.” É por esta textos filosóficos no que seriam páginas perdi- te, algo improvável para o garage punk mais recentes, também,” explica o norte-a- te a demorar sete anos… que diferenças é
anos,” sublinha Alex Mendes. “Os Existence:- altura que João Dourado cria os seus próprios das de um livro encontrado, como o manuscrito meio oblíquo que praticavam. Seguiram-se mericano, originário de Detroit. “No final de que o Mikaiah de hoje nota em relação ao
Void foram o meu amadurecer como músico, já estúdios, e o Filipe Gomes arranca também de Voynich.” Os Existence:Void não são, assim, alguns anos de silêncio discográfico sur- contas acaba por ser um documento dos úl- miúdo que começou a fazer música ainda
com capacidade de compor músicas do princí- com a sua editora. “Assim estavam criadas as apenas mais uma nova banda, mas um projec- preendente, enquanto Mikaiah passava di- timos sete anos, de forma bastante literal. É adolescente? “É uma pergunta complica-
pio ao fim,” refere Diogo, lembrando que é nes- condições para retomar o que tínhamos feito, to que assumiu a maturidade pessoal, como ficuldades para gerir todo este crescimento mesmo o melhor da música que escrevi nes- da!” ri-se ele. “Acho que queria fazer músi-
sa altura que começam a conviver mais com com novas composições, e o desenvolvimento um ponto decisivo para a conclusão do produto prematuro. Foram sete anos até aparecer te intervalo. Resolvi não descartar nada só ca mais rápida, mais crua. Pensava menos,
o Filipe, que os acompanhava nos concertos. do registo vocal do Alex,” considera o guitarris- final, da arte, que começa logo pela interessan- o sucessor, «2 Seater», que tinha saído há por ser material ‘antigo’. Havia muita coisa quando era mais novo. Não que o material
“É dessa altura a «Eternal Recurrence», primeira ta. Para lá da música, este primeiro trabalho te capa com que se apresenta. [E.F.] dias quando conversámos com o guitarris- que queria ter gravado logo a seguir ao «Pink que está no álbum novo não tenha também
música do nosso álbum,” diz o guitarrista, com ta. “Sinto-me muito calmo, estranhamente,” Palms» mas que por uma razão ou outra essas componentes, continua a ser punk,
Alex a recordar quando recebeu a notícia pelo diz com um sorriso. “Antes de o álbum sair não consegui fazer, e não queria desperdiçar mas é um processo mental diferente. E que
Messenger, enquanto João e Diogo estavam a
compor esse tema. “Era tão diferente daquilo
“As nossas principais influências da estava bastante ansioso, mas só porque
queria mesmo que esse dia chegasse. Ago-
essa música, porque acho que ainda tinha
bastante valor. Enfrentei vários obstáculos
está sempre a mudar – este álbum é muito
diferente do anterior, mas a música que te-
que nós tínhamos, e por isso mesmo pensámos
em criar um projecto diferente. Até porque pas- actualidade são nomes que já preci- ra, é como se essa fase da minha vida tenha
finalmente terminado, e já me posso con-
e dificuldades durante estes últimos anos
que foram impedindo que pudesse lançar
nho estado a escrever esta semana também
é bastante diferente de tudo isso! É possível
sávamos por uma crise de identidade, no senti-
do em que não nos revíamos em certas bandas sam de alguma maturidade musical centrar a sério em continuar a fazer música
nova. Não posso ficar muito tempo parado a
música nova, e portanto a intenção é mes-
mo fazer um compêndio do que de melhor
comparar tudo, claro, mas tal como é possí-
vel comparar os Foo Fighters e os Beatles,
como acontecia dois ou três anos antes.” Pros-
para compreender.”
pensar no que as pessoas vão achar, se bem fiz nesse período complicado. Sinto que, são ambos bandas de rock… só que é rock
segue Diogo: “No fundo, as nossas principais que queremos sempre que gostem, como é desta forma, documentei estes anos, fechei muito diferente! [risos]” [J.C.S.]

12 LOUD! LOUD! 13
THE RAVEN AGE
“Tudo para que tínhamos trabalhado
parou e não sabíamos se iríamos
conseguir ter de volta esse ímpeto.”
estado normal vocês teriam seguido a acontecer. Como não havia muitas certezas,
vida no formato eléctrico? achámos que seria melhor avançar as datas
Acho que teríamos seguido como nor- para o final do ano e esperar que as coisas
malmente e talvez não tivéssemos con- já estejam bem nessa altura. Estamos mor-
cretizado este projecto, realmente. Isto tinhos para dar estes concertos em Dezem-
foi algo que já tínhamos dito que quería- bro, porque já há bastante tempo que esta-
mos fazer há algum tempo, mas o pro- mos parados nesse aspecto. Como temos
blema era sempre arranjar o tempo para algum trabalho para fazer em estúdio, não se
o fazer, porque antes da pandemia, não dá o caso de estarmos à espera que chegue
queríamos que o nosso próximo trabalho Dezembro para poder tocar, e assim aprovei-
fosse algo em formato mais relaxado. tamos os meses que faltam para ir fazendo
Não era esse o plano, queríamos seguir a mais alguma coisa.
todo o gás depois do «Conspiracy» para
o próximo disco, para podermos conti- Isso quer dizer o terceiro álbum – não con-
nuar a aumentar a nossa base de fãs. tando com o «Exile» - já está em prepara-
Só que, entretanto, chegou a pandemia e ção?
tínhamos tempo livre, sabíamos que não Sim, definitivamente. Já está bem adiantado,
queríamos editar o terceiro álbum durante aliás. Neste momento estou sentado, literal-
o confinamento porque acabaria por ser mente, no estúdio a gravar guitarras. Já está
engolido, e quando chegasse a altura para tudo escrito. Aproveitámos a pandemia para
dar concertos já não era exactamente um ir trocando ideias nos nossos estúdios casei-
lançamento novo. Por isso a oportunidade ros e íamos enviado ficheiros com regulari-
acabou por se proporcionar para fazermos dade uns aos outros. Não foi o mesmo que
este álbum. estarmos juntos numa sala para perceber o
Antes da pandemia, estavam com um que funciona e o que não funciona. Mas com
ímpeto grande e a fazer bastantes digres- o tempo que tínhamos livre, acabámos por
sões, e de repente parou tudo. Como é aproveitar para ir aperfeiçoando os temas. A
que reagiram, houve algum pânico? bateria já está gravada, as guitarras estão a
Não diria que foi pânico, acho que foi ser captadas neste momento... Estamos su-
mais desolador. E o não saber... Não sa- per excitados para o próximo capítulo.
ber quando as coisas vão voltar ao nor-

EXÍLIO
mal, não saber quando vamos dar o pró- E qual o plano para o lançamento? Prima-
ximo concerto, se vamos conseguir fazer vera de 2022?
o próximo disco. Estávamos à beira de Essa parece ser a altura mais provável. Di-
dar o primeiro concerto como cabeças- ria que é o nosso alvo. Mas não temos uma
-de-cartaz nos Estados Unidos e já está- ideia certa, tendo em conta os tempos que
vamos em solo norte-americano quando estamos a viver neste momento. Não faze-
soubemos que a pandemia era séria e mos ideia de quando vai começar a promo-
tivemos que voar na véspera daquele que ção, de quando lançamos o primeiro single,

ACÚSTICO
seria o nosso primeiro concerto como ca- quando fazemos um vídeo. E está difícil es-
beças-de-cartaz em Nova Iorque. Foi uma colher um tema para lançar primeiro, porque
desilusão e, como disseste, íamos com um há algumas canções de que gostamos bas-
ímpeto grande e tínhamos tocado bastante tante. É um bom problema para se ter.
em 2018 e 2019. Em 2019 fizemos cerca
de cinco meses de concertos. Foi mesmo E quão frustrante é não poderem planear
devastador! Tudo a ser cortado... Tudo para algo por causa de tudo o que estamos a
que tínhamos trabalhado parou e não sa- viver?
Fizeram muito recentemente um concerto Acho que a ideia surgiu por causa das di- bíamos se iríamos conseguir ter de volta É bastante frustrante! Essa é a questão, por-
Os THE RAVEN AGE aproveitaram a pandemia e a live stream. Como correu? gressões que fizemos. Tínhamos sempre esse ímpeto. Como te disse, não saber o que nós ainda nem temos um calendário de
Correu bem. Foi um longo processo de umas guitarras acústicas connosco, brin- futuro é muito difícil. digressão planeado. Queremos voltar à Euro-
incerteza em relação a um hipotético regresso à antecipação desse concerto e da edição cávamos um pouco com elas e tocávamos pa, queremos ir aos Estados Unidos, mas en-
estrada para concretizarem uma ideia: recriarem do «Exile». Todo o planeamento demorou
algum tempo... e o lançamento do disco,
uns dois ou três temas nesse formato. Na
digressão de 2019 fizemos mesmo alguns
Agora, o Reino Unido está a voltar ao nor-
mal no que diz respeito a concertos. Já
quanto não tivermos esse planeamento con-
creto de onde são as datas… Até porque só
alguns dos seus temas em formato acústico. «Exile» é o que era uma ideia que já tínhamos, aca- sets acústicos, normalmente entre datas na houve o Download em versão reduzida, e nessa altura é que sabemos quais os temas
bou por se transformar numa grande América do Sul, onde tocávamos um set de os festivais de Leeds e Reading mais recen- que vamos lançar e como vai ser a campa-
álbum resultante, que para além das suas canções em empreitada! [risos] A ideia inicial era fa- meia hora nos concertos. Obviamente que temente. Quais são os vossos planos nos nha. Basicamente, como nos últimos dezoito
versões unplugged, ainda inclui dois temas inéditos e zer algo mais simples, lançar apenas em tínhamos de fazer uns arranjos diferentes, próximos tempos? meses, vai ser um jogo de espera. [risos]
formato digipack. Mas depois veio o live e despir um pouco as músicas, se assim se Temos planos, e a ideia é dar uma série de
mais alguns ao vivo. A LOUD! aproveitou o facto de a stream com o pianista, o quarteto de cor- pode dizer. Foi aí que veio a ideia de fazer concertos no Reino Unido em Dezembro. Entretanto, já tens alguma opinião formada
banda estar em estúdio, já em avançado processo de das, a arte para o álbum, e tudo acabou
por exceder as nossas expectativas. Foi
isto como deve ser, gravá-las e tentar en-
volver uma orquestra ou algo do género, e
Vamos tocar nas principais cidades, vão
ser cerca de oito ou nove concertos. Ideal-
em relação ao novo disco dos Iron Maiden?
Sou grande fã dos últimos três temas!
gravação do terceiro álbum de originais, para falar com divertido finalmente fazer isto. agora estou satisfeito por finalmente termos mente gostaríamos que tivesse acontecido Por acaso, tenho de concordar contigo. A
concretizado tudo isso. mais cedo, mas as coisas ainda estavam minha preferida é a «Hell On Earth». Apesar
o guitarrista George Harris sobre esta novidade. Quando se aperceberam que alguns destes um pouco complicadas. Apesar dos festi- de gostar dos singles, «Writing On The Wall»
temas ganhavam com esta roupagem mais Esta ideia concretiza-se independentemen- vais de Leeds e Reading terem seguido em e «Stratego», há algo de especial nos temas
JORGE BOTAS JOHN MCMURTRIE espartana? te da pandemia, ou se o mundo estivesse frente, ainda havia rumores que podiam não mais longos.

14 LOUD! LOUD! 15
THE RAVEN AGE
“Tudo para que tínhamos trabalhado
parou e não sabíamos se iríamos
conseguir ter de volta esse ímpeto.”
estado normal vocês teriam seguido a acontecer. Como não havia muitas certezas,
vida no formato eléctrico? achámos que seria melhor avançar as datas
Acho que teríamos seguido como nor- para o final do ano e esperar que as coisas
malmente e talvez não tivéssemos con- já estejam bem nessa altura. Estamos mor-
cretizado este projecto, realmente. Isto tinhos para dar estes concertos em Dezem-
foi algo que já tínhamos dito que quería- bro, porque já há bastante tempo que esta-
mos fazer há algum tempo, mas o pro- mos parados nesse aspecto. Como temos
blema era sempre arranjar o tempo para algum trabalho para fazer em estúdio, não se
o fazer, porque antes da pandemia, não dá o caso de estarmos à espera que chegue
queríamos que o nosso próximo trabalho Dezembro para poder tocar, e assim aprovei-
fosse algo em formato mais relaxado. tamos os meses que faltam para ir fazendo
Não era esse o plano, queríamos seguir a mais alguma coisa.
todo o gás depois do «Conspiracy» para
o próximo disco, para podermos conti- Isso quer dizer o terceiro álbum – não con-
nuar a aumentar a nossa base de fãs. tando com o «Exile» - já está em prepara-
Só que, entretanto, chegou a pandemia e ção?
tínhamos tempo livre, sabíamos que não Sim, definitivamente. Já está bem adiantado,
queríamos editar o terceiro álbum durante aliás. Neste momento estou sentado, literal-
o confinamento porque acabaria por ser mente, no estúdio a gravar guitarras. Já está
engolido, e quando chegasse a altura para tudo escrito. Aproveitámos a pandemia para
dar concertos já não era exactamente um ir trocando ideias nos nossos estúdios casei-
lançamento novo. Por isso a oportunidade ros e íamos enviado ficheiros com regulari-
acabou por se proporcionar para fazermos dade uns aos outros. Não foi o mesmo que
este álbum. estarmos juntos numa sala para perceber o
Antes da pandemia, estavam com um que funciona e o que não funciona. Mas com
ímpeto grande e a fazer bastantes digres- o tempo que tínhamos livre, acabámos por
sões, e de repente parou tudo. Como é aproveitar para ir aperfeiçoando os temas. A
que reagiram, houve algum pânico? bateria já está gravada, as guitarras estão a
Não diria que foi pânico, acho que foi ser captadas neste momento... Estamos su-
mais desolador. E o não saber... Não sa- per excitados para o próximo capítulo.
ber quando as coisas vão voltar ao nor-

EXÍLIO
mal, não saber quando vamos dar o pró- E qual o plano para o lançamento? Prima-
ximo concerto, se vamos conseguir fazer vera de 2022?
o próximo disco. Estávamos à beira de Essa parece ser a altura mais provável. Di-
dar o primeiro concerto como cabeças- ria que é o nosso alvo. Mas não temos uma
-de-cartaz nos Estados Unidos e já está- ideia certa, tendo em conta os tempos que
vamos em solo norte-americano quando estamos a viver neste momento. Não faze-
soubemos que a pandemia era séria e mos ideia de quando vai começar a promo-
tivemos que voar na véspera daquele que ção, de quando lançamos o primeiro single,

ACÚSTICO
seria o nosso primeiro concerto como ca- quando fazemos um vídeo. E está difícil es-
beças-de-cartaz em Nova Iorque. Foi uma colher um tema para lançar primeiro, porque
desilusão e, como disseste, íamos com um há algumas canções de que gostamos bas-
ímpeto grande e tínhamos tocado bastante tante. É um bom problema para se ter.
em 2018 e 2019. Em 2019 fizemos cerca
de cinco meses de concertos. Foi mesmo E quão frustrante é não poderem planear
devastador! Tudo a ser cortado... Tudo para algo por causa de tudo o que estamos a
que tínhamos trabalhado parou e não sa- viver?
Fizeram muito recentemente um concerto Acho que a ideia surgiu por causa das di- bíamos se iríamos conseguir ter de volta É bastante frustrante! Essa é a questão, por-
Os THE RAVEN AGE aproveitaram a pandemia e a live stream. Como correu? gressões que fizemos. Tínhamos sempre esse ímpeto. Como te disse, não saber o que nós ainda nem temos um calendário de
Correu bem. Foi um longo processo de umas guitarras acústicas connosco, brin- futuro é muito difícil. digressão planeado. Queremos voltar à Euro-
incerteza em relação a um hipotético regresso à antecipação desse concerto e da edição cávamos um pouco com elas e tocávamos pa, queremos ir aos Estados Unidos, mas en-
estrada para concretizarem uma ideia: recriarem do «Exile». Todo o planeamento demorou
algum tempo... e o lançamento do disco,
uns dois ou três temas nesse formato. Na
digressão de 2019 fizemos mesmo alguns
Agora, o Reino Unido está a voltar ao nor-
mal no que diz respeito a concertos. Já
quanto não tivermos esse planeamento con-
creto de onde são as datas… Até porque só
alguns dos seus temas em formato acústico. «Exile» é o que era uma ideia que já tínhamos, aca- sets acústicos, normalmente entre datas na houve o Download em versão reduzida, e nessa altura é que sabemos quais os temas
bou por se transformar numa grande América do Sul, onde tocávamos um set de os festivais de Leeds e Reading mais recen- que vamos lançar e como vai ser a campa-
álbum resultante, que para além das suas canções em empreitada! [risos] A ideia inicial era fa- meia hora nos concertos. Obviamente que temente. Quais são os vossos planos nos nha. Basicamente, como nos últimos dezoito
versões unplugged, ainda inclui dois temas inéditos e zer algo mais simples, lançar apenas em tínhamos de fazer uns arranjos diferentes, próximos tempos? meses, vai ser um jogo de espera. [risos]
formato digipack. Mas depois veio o live e despir um pouco as músicas, se assim se Temos planos, e a ideia é dar uma série de
mais alguns ao vivo. A LOUD! aproveitou o facto de a stream com o pianista, o quarteto de cor- pode dizer. Foi aí que veio a ideia de fazer concertos no Reino Unido em Dezembro. Entretanto, já tens alguma opinião formada
banda estar em estúdio, já em avançado processo de das, a arte para o álbum, e tudo acabou
por exceder as nossas expectativas. Foi
isto como deve ser, gravá-las e tentar en-
volver uma orquestra ou algo do género, e
Vamos tocar nas principais cidades, vão
ser cerca de oito ou nove concertos. Ideal-
em relação ao novo disco dos Iron Maiden?
Sou grande fã dos últimos três temas!
gravação do terceiro álbum de originais, para falar com divertido finalmente fazer isto. agora estou satisfeito por finalmente termos mente gostaríamos que tivesse acontecido Por acaso, tenho de concordar contigo. A
concretizado tudo isso. mais cedo, mas as coisas ainda estavam minha preferida é a «Hell On Earth». Apesar
o guitarrista George Harris sobre esta novidade. Quando se aperceberam que alguns destes um pouco complicadas. Apesar dos festi- de gostar dos singles, «Writing On The Wall»
temas ganhavam com esta roupagem mais Esta ideia concretiza-se independentemen- vais de Leeds e Reading terem seguido em e «Stratego», há algo de especial nos temas
JORGE BOTAS JOHN MCMURTRIE espartana? te da pandemia, ou se o mundo estivesse frente, ainda havia rumores que podiam não mais longos.

14 LOUD! LOUD! 15
ASKING ALEXANDRIA
Têm estado muitos activos nas redes so- rar merda na nossa direcção, especialmente que acho tão engraçado as pessoas chama- experiência de sempre. Apaixonei-me com-
ciais, com mais e mais acções à medida quando as coisas não fazem sentido. No ou- rem “vendidas” às bandas. Para mim, vendi- pletamente por guitarras, amplificadores e
que a data de edição ao álbum se aproxi- tro dia, li um comentário em que alguém dizia do é alguém que está sempre a escrever a pedais. Todos nos apaixonámos de novo uns
Da geração pós-MySpace, que é também a geração de ma. Lês o que se escreve sobre vocês?
Sei que não devia, mas dou sempre uma vis-
que o Danny [Worsnop] não consegue cantar
porque tudo o que faz é ficar bêbado o dia in-
mesma coisa. Que não arrisca, só porque o
que já fez funciona.
pelos outros, a amizade até ficou mais for-
te. Pela primeira vez em muito, muito tempo,
todas as redes sociais que lhes permitiram transformar- ta de olhos. Não consigo resistir! É uma coi- teiro e não cuida da voz. Eu sei o que se pas- partilhámos uma acomodação que não era
sa difícil. Dantes, era algo que estava sempre sa. O Danny está sóbrio há dois anos... Não Não se pode dizer que o vosso público este- um tour bus. Estivemos um mês fechados no
se em fenómenos de popularidade à escala mundial presente, mesmo que estivesse muito lá para tocou numa gota de álcool durante esse tem- ja propriamente a decrescer. mesmo sítio, a gravar, a escrever e a passar
num curto espaço de tempo, os ASKING ALEXANDRIA trás na minha cabeça. Costumava ficar cha- po e, já agora, tem um treinador vocal. Treina Certo, mas nunca nos vendemos. Temos um bom bocado. Para nós, foi muito impor-
teado com isso, especialmente porque po- todos os dias. De acordo com essa pessoa, mudado sempre, de disco para disco. É o tante ter isso de volta.
são das bandas que mais furor têm provocado nos des dar tudo de ti a algo, trabalhar tão dura- não é isso que se passa. É meio perturbador oposto de um músico vender-se, que é fazer
últimos anos. Com um contagiante híbrido de metal, mente, e vai sempre haver alguém que acha
que o que fizeste é péssimo. A verdade é que
porque... bem, simplesmente porque não é
verdade.
o que ama ou o quer fazer, independente-
mente do que vier. Nós estamos a fazer arte,
Soa quase como um novo começo.
Foi uma experiência incrível! Foi algo que
rock, punk, pop, post-hardcore e, numa fase inicial, as pessoas não conhecem esse contexto, estamos a arriscar. nunca mais vamos esquecer e tomámos a
nem me conhecem a mim. Há milhões de Imagino que também não estejas preocu- decisão de que nunca vamos voltar a fazer
uma abundância de texturas electrónicas, ao longo de bandas no planeta, há músicos de que não pado com agradar a toda a gente quando O «Like A House On Fire» foi lançado há discos da maneira que fazíamos antes, com
mais de uma década o quinteto britânico, com base nos gosto, mas não sinto qualquer necessidade estás a escrever, certo? pouco mais de um ano – e aqui estão, com toda a gente separada. Daqui para a frente,
de lhes mostrar ódio em relação à música Certo. Isso é ponto assente; nunca vai acon- um sucessor resultado da pandemia. Ou já vamos fazer as coisas assim. Vamos arran-
Estados Unidos e raízes no Dubai, assinou uma sequência que fazem. Parece tão bizarro perder tanto tecer, nem vale a pena estar preocupado estava planeado? jar tempo para estarmos todos juntos no
de sete álbuns irrepreensíveis, que os viram crescer tempo e energia a fazer isso em vez de me
concentrar nas coisas de que gosto... Enfim,
com isso. Acho que essa é a importância
de escrevermos música de que gostemos,
Não, o «See What’s On The Inside» é real-
mente um produto do tempo de inactividade
mesmo sítio quando chegar o momento de
fazer um álbum. Quando estás metido na
de forma exponencial. «See What’s On The Inside» é o à medida que fui ficando mais velho, percebi e que seja verdadeira. Se nos sentarmos a provocado pela pandemia. No início, foi meio máquina, estás a fazer o melhor que podes,
que faz parte do jogo. pensar sobre como vão ser as reacções e as assustador porque lançámos o álbum e, às mas só vais, vais, vais. Basicamente, estás
mais recente, editado pouco mais de um ano após «Like respostas das outras pessoas a isso, vamos tantas, percebemos que não íamos poder apenas no modo go e dizem-te que tens
A House On Fire», o disco que a pandemia não lhes Pela forma como falas, percebe-se que ain- enlouquecer. Isso, no final, é só uma espécie tocá-lo ao vivo, mas depois... Sejamos sin- de fazer isto, isto, isto. No passado, houve
da te custa. de produto. Bem, é exactamente isso que é: ceros, este foi o primeiro período de folga muitos momentos em que tive ideias e aca-
permitiu levar em tour. Aproveitámos a ocasião para [risos] É simples, eu sei que não podemos produto. Não é uma obra de arte. Não é um que tivemos em muito tempo. E esse tempo bei por fazer os temas do início ao fim, sem
fazer ponto de situação com o guitarrista e estratega do agradar a toda a gente. E sim, é perturbador e
doloroso quando as pessoas começam a ati-
pedaço de ti, é algo em que pensaste cogni-
tivamente para vender a alguém. É por isso
de folga permitiu-me relembrar e pensar no
que queria quando comecei a banda. Fez-me
grande input deles, mas desta vez foi uma
colaboração.
projecto, o simpático Ben Bruce.
JOSÉ MIGUEL RODRIGUES DANNY WORSNOT
“Somos nós os cinco que fazemos este
grupo mágico e conseguimos captar
essa energia novamente.”
pensar na sensação que tive quando tinha Como é que esse sair “da máquina” se re-
doze anos e queria começar uma banda flectiu?
com os meus amigos. Sinto que é tão fácil Acho que este é o disco mais Asking Alexan-
perder isso quando a música se transforma dria desde o primeiro, para ser muito since-
na tua carreira. Estás tão focado em coisas ro. Foi um período muito criativo, mesmo.
como o management, as editoras, os tipos Resultou bem estarmos a trabalhar todos
que te marcam as tours, tudo o que tens de juntos, como um quinteto, que é algo que
fazer para divulgar o álbum. A magia acaba não fazíamos num álbum inteiro desde o
por diluir-se. «Stand Up And Scream», que também foi
um esforço colectivo. Naquela altura éra-
E o que saiu desse período de reflexão? mos nós os cinco, numa sala juntos. Eu
Reflecti sobre tudo, sobre o que fizemos e sempre fui, e continuo a ser, o compositor
conquistámos. E percebi que não me sentia principal. Portanto, muitas das ideias come-
da mesma forma, e isso deixou-me triste, çam aqui, mas quando há cinco pessoas
por isso pensei “caraças, tenho de voltar envolvidas no processo, todos têm sua
ali”, dar um twist na forma como fazemos opinião, e é isso que fez as coisas serem
as coisas. Nós, ao longo dos anos, fomo- mágicas. Foi isso que nos fez homens, que
-nos separando como banda. Uns vivem fez os Asking Alexandria. Parece que estou
aqui, outros vivem ali, outros vivem além, entusiasmado? [risos] É porque estou mes-
há algum tempo que já não escrevíamos mo, essa dinâmica e colaboração foram

BASEADO EM
uns temas juntos na sala de ensaios. Além super importantes, tornaram o resultado
disso, quando começámos a pensar em final muito melhor. Somos nós os cinco que
fazer este disco, nem sequer tínhamos fazemos este grupo mágico e conseguimos
editora. captar essa energia novamente. Posso ou-
vir um tema e pensar “fixe, isto foi uma ideia
E foram em frente, sem expectativas. do Sam que deixou a canção muito melhor”.
Exactamente. Não sabíamos quem o Posso ouvir um riff e lembrar-me de estar a
iria lançar. Devíamos lançá-lo nós? Na- tocá-lo na guitarra para o Cameron e, juntos,

FACTOS REAIS
quela altura, estava tudo em aberto. descobrirmos as harmonias. Há algo muito
Aproveitando o facto de estarmos mais especial na capacidade que uma banda tem
descontraídos, decidimos ir para um de se unir e criar, num processo que envolve
estúdio, nós os cinco no meio do nada, mais do que apenas uma mente. Geralmen-
para recuperarmos a ligação e vermos te, é nesses momentos que acontece algo
o que acontecia. Man, foi a melhor especial.

16 LOUD! LOUD! 17
ASKING ALEXANDRIA
Têm estado muitos activos nas redes so- rar merda na nossa direcção, especialmente que acho tão engraçado as pessoas chama- experiência de sempre. Apaixonei-me com-
ciais, com mais e mais acções à medida quando as coisas não fazem sentido. No ou- rem “vendidas” às bandas. Para mim, vendi- pletamente por guitarras, amplificadores e
que a data de edição ao álbum se aproxi- tro dia, li um comentário em que alguém dizia do é alguém que está sempre a escrever a pedais. Todos nos apaixonámos de novo uns
Da geração pós-MySpace, que é também a geração de ma. Lês o que se escreve sobre vocês?
Sei que não devia, mas dou sempre uma vis-
que o Danny [Worsnop] não consegue cantar
porque tudo o que faz é ficar bêbado o dia in-
mesma coisa. Que não arrisca, só porque o
que já fez funciona.
pelos outros, a amizade até ficou mais for-
te. Pela primeira vez em muito, muito tempo,
todas as redes sociais que lhes permitiram transformar- ta de olhos. Não consigo resistir! É uma coi- teiro e não cuida da voz. Eu sei o que se pas- partilhámos uma acomodação que não era
sa difícil. Dantes, era algo que estava sempre sa. O Danny está sóbrio há dois anos... Não Não se pode dizer que o vosso público este- um tour bus. Estivemos um mês fechados no
se em fenómenos de popularidade à escala mundial presente, mesmo que estivesse muito lá para tocou numa gota de álcool durante esse tem- ja propriamente a decrescer. mesmo sítio, a gravar, a escrever e a passar
num curto espaço de tempo, os ASKING ALEXANDRIA trás na minha cabeça. Costumava ficar cha- po e, já agora, tem um treinador vocal. Treina Certo, mas nunca nos vendemos. Temos um bom bocado. Para nós, foi muito impor-
teado com isso, especialmente porque po- todos os dias. De acordo com essa pessoa, mudado sempre, de disco para disco. É o tante ter isso de volta.
são das bandas que mais furor têm provocado nos des dar tudo de ti a algo, trabalhar tão dura- não é isso que se passa. É meio perturbador oposto de um músico vender-se, que é fazer
últimos anos. Com um contagiante híbrido de metal, mente, e vai sempre haver alguém que acha
que o que fizeste é péssimo. A verdade é que
porque... bem, simplesmente porque não é
verdade.
o que ama ou o quer fazer, independente-
mente do que vier. Nós estamos a fazer arte,
Soa quase como um novo começo.
Foi uma experiência incrível! Foi algo que
rock, punk, pop, post-hardcore e, numa fase inicial, as pessoas não conhecem esse contexto, estamos a arriscar. nunca mais vamos esquecer e tomámos a
nem me conhecem a mim. Há milhões de Imagino que também não estejas preocu- decisão de que nunca vamos voltar a fazer
uma abundância de texturas electrónicas, ao longo de bandas no planeta, há músicos de que não pado com agradar a toda a gente quando O «Like A House On Fire» foi lançado há discos da maneira que fazíamos antes, com
mais de uma década o quinteto britânico, com base nos gosto, mas não sinto qualquer necessidade estás a escrever, certo? pouco mais de um ano – e aqui estão, com toda a gente separada. Daqui para a frente,
de lhes mostrar ódio em relação à música Certo. Isso é ponto assente; nunca vai acon- um sucessor resultado da pandemia. Ou já vamos fazer as coisas assim. Vamos arran-
Estados Unidos e raízes no Dubai, assinou uma sequência que fazem. Parece tão bizarro perder tanto tecer, nem vale a pena estar preocupado estava planeado? jar tempo para estarmos todos juntos no
de sete álbuns irrepreensíveis, que os viram crescer tempo e energia a fazer isso em vez de me
concentrar nas coisas de que gosto... Enfim,
com isso. Acho que essa é a importância
de escrevermos música de que gostemos,
Não, o «See What’s On The Inside» é real-
mente um produto do tempo de inactividade
mesmo sítio quando chegar o momento de
fazer um álbum. Quando estás metido na
de forma exponencial. «See What’s On The Inside» é o à medida que fui ficando mais velho, percebi e que seja verdadeira. Se nos sentarmos a provocado pela pandemia. No início, foi meio máquina, estás a fazer o melhor que podes,
que faz parte do jogo. pensar sobre como vão ser as reacções e as assustador porque lançámos o álbum e, às mas só vais, vais, vais. Basicamente, estás
mais recente, editado pouco mais de um ano após «Like respostas das outras pessoas a isso, vamos tantas, percebemos que não íamos poder apenas no modo go e dizem-te que tens
A House On Fire», o disco que a pandemia não lhes Pela forma como falas, percebe-se que ain- enlouquecer. Isso, no final, é só uma espécie tocá-lo ao vivo, mas depois... Sejamos sin- de fazer isto, isto, isto. No passado, houve
da te custa. de produto. Bem, é exactamente isso que é: ceros, este foi o primeiro período de folga muitos momentos em que tive ideias e aca-
permitiu levar em tour. Aproveitámos a ocasião para [risos] É simples, eu sei que não podemos produto. Não é uma obra de arte. Não é um que tivemos em muito tempo. E esse tempo bei por fazer os temas do início ao fim, sem
fazer ponto de situação com o guitarrista e estratega do agradar a toda a gente. E sim, é perturbador e
doloroso quando as pessoas começam a ati-
pedaço de ti, é algo em que pensaste cogni-
tivamente para vender a alguém. É por isso
de folga permitiu-me relembrar e pensar no
que queria quando comecei a banda. Fez-me
grande input deles, mas desta vez foi uma
colaboração.
projecto, o simpático Ben Bruce.
JOSÉ MIGUEL RODRIGUES DANNY WORSNOT
“Somos nós os cinco que fazemos este
grupo mágico e conseguimos captar
essa energia novamente.”
pensar na sensação que tive quando tinha Como é que esse sair “da máquina” se re-
doze anos e queria começar uma banda flectiu?
com os meus amigos. Sinto que é tão fácil Acho que este é o disco mais Asking Alexan-
perder isso quando a música se transforma dria desde o primeiro, para ser muito since-
na tua carreira. Estás tão focado em coisas ro. Foi um período muito criativo, mesmo.
como o management, as editoras, os tipos Resultou bem estarmos a trabalhar todos
que te marcam as tours, tudo o que tens de juntos, como um quinteto, que é algo que
fazer para divulgar o álbum. A magia acaba não fazíamos num álbum inteiro desde o
por diluir-se. «Stand Up And Scream», que também foi
um esforço colectivo. Naquela altura éra-
E o que saiu desse período de reflexão? mos nós os cinco, numa sala juntos. Eu
Reflecti sobre tudo, sobre o que fizemos e sempre fui, e continuo a ser, o compositor
conquistámos. E percebi que não me sentia principal. Portanto, muitas das ideias come-
da mesma forma, e isso deixou-me triste, çam aqui, mas quando há cinco pessoas
por isso pensei “caraças, tenho de voltar envolvidas no processo, todos têm sua
ali”, dar um twist na forma como fazemos opinião, e é isso que fez as coisas serem
as coisas. Nós, ao longo dos anos, fomo- mágicas. Foi isso que nos fez homens, que
-nos separando como banda. Uns vivem fez os Asking Alexandria. Parece que estou
aqui, outros vivem ali, outros vivem além, entusiasmado? [risos] É porque estou mes-
há algum tempo que já não escrevíamos mo, essa dinâmica e colaboração foram

BASEADO EM
uns temas juntos na sala de ensaios. Além super importantes, tornaram o resultado
disso, quando começámos a pensar em final muito melhor. Somos nós os cinco que
fazer este disco, nem sequer tínhamos fazemos este grupo mágico e conseguimos
editora. captar essa energia novamente. Posso ou-
vir um tema e pensar “fixe, isto foi uma ideia
E foram em frente, sem expectativas. do Sam que deixou a canção muito melhor”.
Exactamente. Não sabíamos quem o Posso ouvir um riff e lembrar-me de estar a
iria lançar. Devíamos lançá-lo nós? Na- tocá-lo na guitarra para o Cameron e, juntos,

FACTOS REAIS
quela altura, estava tudo em aberto. descobrirmos as harmonias. Há algo muito
Aproveitando o facto de estarmos mais especial na capacidade que uma banda tem
descontraídos, decidimos ir para um de se unir e criar, num processo que envolve
estúdio, nós os cinco no meio do nada, mais do que apenas uma mente. Geralmen-
para recuperarmos a ligação e vermos te, é nesses momentos que acontece algo
o que acontecia. Man, foi a melhor especial.

16 LOUD! LOUD! 17
BRAINSTORM
qual dos dois é melhor. Adoro ambos. Para mos um músico convidado. Perguntou-me
mim, e também para os restantes elementos quem tinha em mente e eu comecei a falar
da banda, não foi chegar lá e gravar apenas de músicos nos Estados Unidos, Inglaterra,
um «Midnight Ghost» parte dois, queríamos Suécia... ao que ele contrapôs que devíamos
mesmo fazer algo excelente e que tivesse pensar em alguém que morasse perto do
uma identidade própria. Acho que o «Walls estúdio. Alguém que eu já conhecia há anos
Of Skulls» tem muita melodia e, ao mesmo e que é um dos grandes nomes da cena na
tempo, uma melancolia que o torna muito Alemanha. Porque não perguntar-lhe se es-
especial. taria disponível? Decidimos então ligar ao
Peavy e ele mostrou-se logo entusiasmado
Acontece-vos, quando passam muito tempo com a ideia de poder participar. Nessa altura
a trabalhar num tema, que perderem o foco disse ao Seb que, se já tínhamos uma lenda
inicial da ideia que tinham para a canção? no disco, tínhamos também de ter um ícone
Isso aconteceu-nos no «On The Spur Of The mais recente. E ele perguntou de quem es-
Moment» onde trabalhámos nas canções tava a falar e eu só lhe disse para não fazer
vezes sem conta, a modificar os arranjos, perguntas parvas, se não queria uma respos-
a acrescentar outras partes, e depois ainda ta parva. [risos] Tínhamos o tema «Turn Off
pensámos que, se calhar, nos esquecemos The Light» que era perfeito, e assim que ele
de mais alguma coisa. O que aconteceu nes- gravou a sua parte, deu logo para perceber
te novo, por um lado foi especial, porque es- que assentou que nem uma luva. Ter estes
távamos preparados para entrar em estúdio dois convidados acaba por tornar o disco
na Primavera de 2020 e eis que aparece essa ainda mais especial.
coisa chamada COVID-19 e não nos foi pos-
sível ir. Tivemos que reagendar as gravações, E é fácil trabalhar em estúdio com o Seeb?
e decidimos gravar em Outubro. Entretanto, Hmmm.. acho que tens de lhe perguntar a
eu não estava muito satisfeito com algumas ele. [risos] A sério, acho que se pode chamar
das linhas vocais e certas partes de algumas ao Seeb um verdadeiro produtor, e essa é a
canções, e decidi que devíamos voltar à sala grande diferença comparando com outras
de ensaios. Falei com os restantes elemen- pessoas com quem já trabalhamos no pas-
tos da banda e disse-lhes que devíamos tra- sado. Não todas, mas algumas. Porque al-
balhar mais nos temas, mas não da forma guns deles são apenas engenheiros de som.
obsessiva como tínhamos feito no «On The Já o Seeb é um verdadeiro produtor porque
Spur Of The Moment». Somos muito conhe- trabalha no duro contigo nas canções. Ele
cidos pela maneira como tocamos música ouve-as, abre a sua mente, e depois diz-te o
ao vivo, e foi isso que fizemos. Retirámos al- que odeia. [risos] Depois discute-se um pou-
gumas partes, modificámos alguns arranjos co as ideias e tentam-se coisas diferentes, e
e fizemos as coisas como se estivéssemos é isso que eu espero de um produtor. Acaba
em palco. Depois voltei para a casa e a minha por tornar-se um sexto elemento da banda
mulher ficou um pouco chateada porque eu enquanto estamos em estúdio. Para mim,
apaguei tudo o que tinha gravado e comecei é uma situação perfeita porque podes dizer
outra vez da estaca zero. Mas o resultado fi- o que gostas e o que não gostas nas músi-
nal é tão bom, que fiquei bastante satisfeito. cas. O importante é o resultado final. Houve
Por estranho que possa parecer, a pandemia alturas em que ele me obrigou a gravar uma
acabou por ser uma bênção porque deu para frase vezes sem conta, durante umas duas

O TREZE
repensarmos algumas coisas e é por isso horas, e eu só tive vontade de o matar! E ele
que estamos tão contentes com este novo insistia que ainda não estava bem e na tua
disco. Tivemos mais tempo, mas focámo- cabeça pensas que estás a cantar bem e de-
-nos no que é mais importante, que são os pois ele mostra-te as diferenças. Acabas por
Brainstorm em 2021. ter que concordar e o resultado final é sem-
Regressaram aos palcos, num festival re- gritos para colocar a máscara. [risos] Mesmo pre bem melhor.
cente. Como foi essa sensação? só lá estando uma pessoa dentro da loja tens Contam com dois convidados de luxo: o
Por um lado, foi extraordinário, e por outro, de usar a máscara e vens de um local ao lado “Peavy” dos Rage e o “Seeb” dos Orden Têm uma digressão agendada para Outubro

DA SORTE
foi muito estranho, sinceramente. Foi quase com 10.000 pessoas num festival sem ser Ogan que também produz o disco. e Novembro, com passagem por Portugal.
como estar a subir ao palco pela primeira necessário. Surreal. Sempre quis trabalhar com alguns músicos Acreditas que isso vai acontecer?
vez, tal era o nervosismo. Não tivemos tem- que admiro há muito. No entanto, às vezes As datas na Alemanha, ainda não sabemos,
po para ensaiar as canções, mas por muito Falando agora do novo disco dos Brains- as pessoas não têm tempo ou não encaixam porque a situação muda de dia para dia e
que possamos ensaiar, é sempre diferente torm, «Wall Of Skulls»… Referiste-te a certa bem na música, porque tem de fazer sentido. é difícil prever se as salas têm capacidade
quando tocamos ao vivo. Mas foi uma sen- altura ao álbum anterior, «Midnight Ghost», Desde que estou na banda, nunca fizemos para nos receber ou não. Pela conversa que
sação tão boa. Adorámos! Demorou alguns como um ponto de viragem na carreira da nada do género, e eu queria mesmo fazer temos com o promotor em Espanha e Portu-
minutos, mas depois logo veio ao de cima banda. Acabou por servir de inspiração para isso. Por isso, no estúdio, falei com o Seeb gal, parece que as datas vão mesmo aconte-
aquele sentimento de estar em palco. o novo material? e disse-lhe que seria porreiro que tivésse- cer. É aguardar!
Acho que o «Wall Of Skulls» é um passo em
Os BRAINSTORM estão de regresso com um novo Tens conseguido lidar bem com a pande- frente em relação ao «Midnight Ghost», pelo
mia? menos para os meus ouvidos. E é verdade
trabalho, «Wall Of Skulls», já o 13.º disco de estúdio
da carreira da banda germânica. Conversámos com
Nós, enquanto banda, conseguimos lidar
bem com a situação. Todos temos empre-
o que disse em relação a esse disco ante-
rior há três anos. Acho que foi uma mistura “A pandemia acabou por ser
uma bênção porque deu para
gos normais, por isso deu para nos focarmos perfeita entre um estilo mais moderno e as
o vocalista Andy B. Franck, que nos revelou como no trabalho e depois um pouco na música. nossas raízes, das quais nunca nos esque-
a pandemia acabou por ser uma bênção para a No festival, não era obrigatório o uso de más- cemos. Acho que, agora, no «Wall Of Skulls»,

concepção do álbum, e ainda nos falou da sensação


cara. Bastava estar vacinado ou ter um resul-
tado negativo. Não usar máscara foi um pou-
temos mais algumas das nossas imagens
de marca que nos tornaram conhecidos já lá
repensarmos algumas coisas e é
de regressar aos palcos, passados quase dois anos. co estranho, porque dentro do festival eram
10.000 pessoas sem máscara, mas depois
vão 25 anos. São temas mais rápidos, mais
directos ao assunto, canções mais curtas, por isso que estamos tão contentes
com este novo disco.”
quando saías e ias a uma bomba de gaso- temas mais orelhudos. Acho que essa é a
JORGE BOTAS ALEX KUEHR lina para comprar alguma coisa, ouvias logo diferença principal. Mas não consigo dizer

18 LOUD! LOUD! 19
BRAINSTORM
qual dos dois é melhor. Adoro ambos. Para mos um músico convidado. Perguntou-me
mim, e também para os restantes elementos quem tinha em mente e eu comecei a falar
da banda, não foi chegar lá e gravar apenas de músicos nos Estados Unidos, Inglaterra,
um «Midnight Ghost» parte dois, queríamos Suécia... ao que ele contrapôs que devíamos
mesmo fazer algo excelente e que tivesse pensar em alguém que morasse perto do
uma identidade própria. Acho que o «Walls estúdio. Alguém que eu já conhecia há anos
Of Skulls» tem muita melodia e, ao mesmo e que é um dos grandes nomes da cena na
tempo, uma melancolia que o torna muito Alemanha. Porque não perguntar-lhe se es-
especial. taria disponível? Decidimos então ligar ao
Peavy e ele mostrou-se logo entusiasmado
Acontece-vos, quando passam muito tempo com a ideia de poder participar. Nessa altura
a trabalhar num tema, que perderem o foco disse ao Seb que, se já tínhamos uma lenda
inicial da ideia que tinham para a canção? no disco, tínhamos também de ter um ícone
Isso aconteceu-nos no «On The Spur Of The mais recente. E ele perguntou de quem es-
Moment» onde trabalhámos nas canções tava a falar e eu só lhe disse para não fazer
vezes sem conta, a modificar os arranjos, perguntas parvas, se não queria uma respos-
a acrescentar outras partes, e depois ainda ta parva. [risos] Tínhamos o tema «Turn Off
pensámos que, se calhar, nos esquecemos The Light» que era perfeito, e assim que ele
de mais alguma coisa. O que aconteceu nes- gravou a sua parte, deu logo para perceber
te novo, por um lado foi especial, porque es- que assentou que nem uma luva. Ter estes
távamos preparados para entrar em estúdio dois convidados acaba por tornar o disco
na Primavera de 2020 e eis que aparece essa ainda mais especial.
coisa chamada COVID-19 e não nos foi pos-
sível ir. Tivemos que reagendar as gravações, E é fácil trabalhar em estúdio com o Seeb?
e decidimos gravar em Outubro. Entretanto, Hmmm.. acho que tens de lhe perguntar a
eu não estava muito satisfeito com algumas ele. [risos] A sério, acho que se pode chamar
das linhas vocais e certas partes de algumas ao Seeb um verdadeiro produtor, e essa é a
canções, e decidi que devíamos voltar à sala grande diferença comparando com outras
de ensaios. Falei com os restantes elemen- pessoas com quem já trabalhamos no pas-
tos da banda e disse-lhes que devíamos tra- sado. Não todas, mas algumas. Porque al-
balhar mais nos temas, mas não da forma guns deles são apenas engenheiros de som.
obsessiva como tínhamos feito no «On The Já o Seeb é um verdadeiro produtor porque
Spur Of The Moment». Somos muito conhe- trabalha no duro contigo nas canções. Ele
cidos pela maneira como tocamos música ouve-as, abre a sua mente, e depois diz-te o
ao vivo, e foi isso que fizemos. Retirámos al- que odeia. [risos] Depois discute-se um pou-
gumas partes, modificámos alguns arranjos co as ideias e tentam-se coisas diferentes, e
e fizemos as coisas como se estivéssemos é isso que eu espero de um produtor. Acaba
em palco. Depois voltei para a casa e a minha por tornar-se um sexto elemento da banda
mulher ficou um pouco chateada porque eu enquanto estamos em estúdio. Para mim,
apaguei tudo o que tinha gravado e comecei é uma situação perfeita porque podes dizer
outra vez da estaca zero. Mas o resultado fi- o que gostas e o que não gostas nas músi-
nal é tão bom, que fiquei bastante satisfeito. cas. O importante é o resultado final. Houve
Por estranho que possa parecer, a pandemia alturas em que ele me obrigou a gravar uma
acabou por ser uma bênção porque deu para frase vezes sem conta, durante umas duas

O TREZE
repensarmos algumas coisas e é por isso horas, e eu só tive vontade de o matar! E ele
que estamos tão contentes com este novo insistia que ainda não estava bem e na tua
disco. Tivemos mais tempo, mas focámo- cabeça pensas que estás a cantar bem e de-
-nos no que é mais importante, que são os pois ele mostra-te as diferenças. Acabas por
Brainstorm em 2021. ter que concordar e o resultado final é sem-
Regressaram aos palcos, num festival re- gritos para colocar a máscara. [risos] Mesmo pre bem melhor.
cente. Como foi essa sensação? só lá estando uma pessoa dentro da loja tens Contam com dois convidados de luxo: o
Por um lado, foi extraordinário, e por outro, de usar a máscara e vens de um local ao lado “Peavy” dos Rage e o “Seeb” dos Orden Têm uma digressão agendada para Outubro

DA SORTE
foi muito estranho, sinceramente. Foi quase com 10.000 pessoas num festival sem ser Ogan que também produz o disco. e Novembro, com passagem por Portugal.
como estar a subir ao palco pela primeira necessário. Surreal. Sempre quis trabalhar com alguns músicos Acreditas que isso vai acontecer?
vez, tal era o nervosismo. Não tivemos tem- que admiro há muito. No entanto, às vezes As datas na Alemanha, ainda não sabemos,
po para ensaiar as canções, mas por muito Falando agora do novo disco dos Brains- as pessoas não têm tempo ou não encaixam porque a situação muda de dia para dia e
que possamos ensaiar, é sempre diferente torm, «Wall Of Skulls»… Referiste-te a certa bem na música, porque tem de fazer sentido. é difícil prever se as salas têm capacidade
quando tocamos ao vivo. Mas foi uma sen- altura ao álbum anterior, «Midnight Ghost», Desde que estou na banda, nunca fizemos para nos receber ou não. Pela conversa que
sação tão boa. Adorámos! Demorou alguns como um ponto de viragem na carreira da nada do género, e eu queria mesmo fazer temos com o promotor em Espanha e Portu-
minutos, mas depois logo veio ao de cima banda. Acabou por servir de inspiração para isso. Por isso, no estúdio, falei com o Seeb gal, parece que as datas vão mesmo aconte-
aquele sentimento de estar em palco. o novo material? e disse-lhe que seria porreiro que tivésse- cer. É aguardar!
Acho que o «Wall Of Skulls» é um passo em
Os BRAINSTORM estão de regresso com um novo Tens conseguido lidar bem com a pande- frente em relação ao «Midnight Ghost», pelo
mia? menos para os meus ouvidos. E é verdade
trabalho, «Wall Of Skulls», já o 13.º disco de estúdio
da carreira da banda germânica. Conversámos com
Nós, enquanto banda, conseguimos lidar
bem com a situação. Todos temos empre-
o que disse em relação a esse disco ante-
rior há três anos. Acho que foi uma mistura “A pandemia acabou por ser
uma bênção porque deu para
gos normais, por isso deu para nos focarmos perfeita entre um estilo mais moderno e as
o vocalista Andy B. Franck, que nos revelou como no trabalho e depois um pouco na música. nossas raízes, das quais nunca nos esque-
a pandemia acabou por ser uma bênção para a No festival, não era obrigatório o uso de más- cemos. Acho que, agora, no «Wall Of Skulls»,

concepção do álbum, e ainda nos falou da sensação


cara. Bastava estar vacinado ou ter um resul-
tado negativo. Não usar máscara foi um pou-
temos mais algumas das nossas imagens
de marca que nos tornaram conhecidos já lá
repensarmos algumas coisas e é
de regressar aos palcos, passados quase dois anos. co estranho, porque dentro do festival eram
10.000 pessoas sem máscara, mas depois
vão 25 anos. São temas mais rápidos, mais
directos ao assunto, canções mais curtas, por isso que estamos tão contentes
com este novo disco.”
quando saías e ias a uma bomba de gaso- temas mais orelhudos. Acho que essa é a
JORGE BOTAS ALEX KUEHR lina para comprar alguma coisa, ouvias logo diferença principal. Mas não consigo dizer

18 LOUD! LOUD! 19
PORTRAIT
“Não lutamos para manter novo um som
old school, mas para criarmos o nosso pró- “Movimentamo-nos num estilo
musical com 50 anos, e é importante
prio som,” afirmam vocês no press release.
Achas importante destacar isto?
O que se tem tornado importante para nós,
ao longo dos anos, é encontrar a nossa pró-
pria identidade musical. Começámos como
percebermos que adicionamos
muitas bandas fazem, a tocar de forma se-
melhante a alguns dos nossos heróis. Após algo que ainda não tenha sido
acrescentado.”
algum tempo, isso deixou de fazer sentido
e de nos satisfazer. Começámos a procurar
inspiração dentro do que fazíamos e do que
outros faziam. É isso que quero dizer, porque
nos movimentamos num estilo musical com Ao dizeres isso, recordas-me o tema «Phan- Isso pode vir a ser bom. Quanto ao fanatismo
50 anos, e é importante percebermos que tom Fathomer». É um bom exemplo daquilo religioso, penso que não há muito a fazer.
adicionamos algo que ainda não tenha sido a que chamaste espírito de rebanho?
acrescentado. Ainda gosto das velhas bandas Sim, anda muito à volta desse conceito. Fala Passando à banda, mais uma vez fizeste
e de muito do que elas fazem hoje, ajudaram a da importância de questionar as coisas, prin- uma alteração e há um novo guitarrista, Karl
formar todo o género. Fizeram a sua parte, de- cipalmente o que os media e aqueles que nos Gustafsson. Onde o encontraste?
senvolvendo este estilo. Nós queremos fazer rodeiam, dizem ser “a verdade”. As autorida- Ele é um amigo do nosso baixista, o Fredrik
o mesmo, desenvolver o heavy metal. des dizem-nos “a verdade”. No tema falo da Petersson. Queríamos focar-nos na compo-
importância de procurar para lá dessa “ver- sição dos temas do disco, antes de conside-
E isso é fácil? Como tu próprio disseste, já dade”, perceber o verdadeiro sentido das pa- rarmos um novo guitarrista, pois achámos
são décadas de música até hoje. lavras que nos dizem. Esse é um dos temas estranho incorporar alguém enquanto esti-
Talvez não seja fácil, e demora tempo até que em que procuramos explorar o quotidiano. véssemos na fase de escrita. Esperámos até
um grupo desenvolva o seu próprio som. Tem Há outras que lidam mais com o lado espi- à Primavera, colocámos nomes na mesa. O
de ser feito passo a passo. Em cada álbum ritual e místico. Karl foi sugestão do Fredrik e estava disponí-
que lançamos, chegamos mais perto daquilo vel. Ele não está em nenhuma banda, apenas
que pretendemos, do nosso próprio som. En- É uma letra influenciada por aquilo que es- num grupo de versões dos Manowar. É ele e
quanto atravessamos esse desenvolvimento, tamos a passar, na actualidade? o Hellbutcher dos Nifelheim. Eles tocam duas
tudo é válido e satisfatório para nós próprios. As letras foram todas escritas antes da pan- a três horas de versões dos Manowar, volta e
É importante que não haja repetição, mas demia, ou no máximo, no seu princípio. Mas meia. É o guitarrista perfeito para nós e um
evolução. Claro que é ao ouvinte que cabe de- realmente, as restrições e tudo que se se- tipo fantástico, por isso creio que vai resultar.
cidir se isso está a acontecer ou não, mas do guiu, ou muito disso, envolvem parte desta
nosso ponto de vista, estamos no caminho de temática que falo nas letras. Na Suécia ti- Neste disco as guitarras são só tuas, sem
correcto, pelo menos. Creio que, embora ain- vemos restrições leves, mas durante dezoito convidados como no passado?
da possamos fazer lembrar muitos nomes, meses, não pudemos ter concertos. Muitas Sim, desta vez não quis convidados e fiquei
há já um som característico dos Portrait. outras coisas aconteceram. Houve diferen- com bastante para gravar, mas como gosto
Melodias características da nossa música. tes níveis de restrições e medidas, ao longo de gravar, não há problema.
É isso que quero seguir ainda mais à frente. da pandemia e no mundo todo. Apesar disso,
a narrativa é praticamente a mesma em todo O Per Lengstedt tem-se revelado um exce-
No momento em que falamos, já aparece- o lado e há pouca resistência a essas deci- lente vocalista, até que ponto a sua voz tem
ram algumas reviews, e quase sempre mui- sões, por parte das pessoas, ou dos media. ajudado a definir o rumo da banda?
to positivas. É uma forma de perceberes Não estou, com isto, a dizer que possuo to- Tem sido muito importanto e não me lembro
que estás no caminho certo para esse som? das as respostas, ou que sei a verdade. Ape- de algum registo que não consiga cantar.
É bom saber que as pessoas gostam do que nas sinto a falta de debate, de discussão, pôr A voz dele consegue atingir vários níveis...
tu fazes, mas reviews positivas não são o su- tudo claro. Quando esse tipo de debates não Por exemplo, no disco anterior, na «Pure Of
ficiente, se não estivermos satisfeitos com o aparece, significa que algo está a acontecer. Heart», conseguiu alguns graves que nunca
disco. O mais importante para nós, é estar- Há muitos interesses em jogo em tudo isto. lhe tinha ouvido. Pensei logo que no disco
mos satisfeitos enquanto músicos, com o Políticos, económicos e, obviamente do lado seguinte teríamos de usar mais esse alcance
São suecos e tocam heavy metal. É talvez álbum que conseguimos obter do nosso tra-
balho. Claro que é bom ler todo esse feedba-
da indústria da saúde. É importante perceber
o que se passa. O mundo está a mudar e vi-
vocal, algo com que o Per também concorda.
No tema «The Gallow’s Crossing», ele mostra
a melhor, e mais simples, definição para os ck positivo e estamos contentes com isso. mos isso nestes dezoito meses. Espero que muito dessas capacidades e do seu espec-
Mostra-nos algo, pelo menos, mesmo não tudo melhore rapidamente e que as mudan- tro. Tem sido muito importante para o nosso
autores de «At One With None», os PORTRAIT. sendo a confirmação de que tudo está certo. ças sejam apenas temporárias e se volte ao som e para o seu desenvolvimento.
Christian Lindell é o guitarrista e mentor do normal, sem mudar muito o que havia antes.
Em que pensaste quando resolveste dar a Já que falámos das músicas deste disco,
grupo, e foi também ele que conversou com a este trabalho o título «At One With None»? Não acreditas que possa haver uma mudan- como surge a «Ashen»?
LOUD! para apresentar o novo disco. Refere-se a quando te sentes um estranho
numa terra estranha, seja uma localidade, ou
ça, para aceitar mais a ciência, e acreditar
menos na religião?
É uma faixa escrita pelo nosso baterista.
Grande tema, pois ele tem um grande senti-
EMANUEL FERREIRA STEFAN JOHANSSON uma sociedade. Tem uma ligação também, a Não acredito que isso possa acontecer. Tudo do de melodia. É algo invulgar, pois quando
quando és diferente, ou te sentes diferente, o que está a acontecer, pode ter uma expli- os bateristas escrevem temas, tendem a se-
fazendo algo que não é permitido. Quando cação em termos religiosos. Olhando para a guir uma linha bastante ritmada. Ele optou
vês os outros alinhados como cordeiros e história da humanidade, podemos concluir pela melodia, num tema que é o mais antigo

A TRADIÇÃO
tu caminhas no teu próprio trilho, pelos teus que, se deus existir, não é um bom deus. É daqueles que estão no disco. Uma grande
próprios passos, em direcção ao desconhe- por isso que não acredito que a pandemia vá parte já estava composta, e até ensaiada,
cido, ao escuro. Este é um dos sentidos do mudar a forma como os sistemas de crença quando gravámos o «Burn The World», em
título, o outro é mais espiritual, e relaciona- funcionam. Por outro lado, há tantos resul- 2017. Fizemos uns rearranjos, e duas ou
-se com reunires-te com algo maior, e depois tados diferentes no campo científico, que três semanas antes de entrarmos em es-

E A EVOLUÇÃO
nada acontecer. As letras, pelo menos algu- podes escolher um dos lados e ele vai soar túdio, fizemos muitas mudanças mesmo.
mas, são escritas sobre essas linhas. Por como certo e adequado. Outro tipo pode sur- Creio que no final resultou muito bem. É
vezes escritas de diferentes perspectivas, gir com algo diferente que contradiz o esta- um dos lados positivos de não termos dea-
umas mais espirituais e mágicas, enquanto belecido. Isso pode ajudar a que as pessoas dlines e podermos usar todo o tempo que
outras estão mais focadas no mundo e so- olhem para estes assuntos por sua conta, em quisermos para compormos e fazermos os
ciedade contemporânea. lugar de apenas acreditarem nos cabeçalhos. arranjos correctos.

20 LOUD! LOUD! 21
PORTRAIT
“Não lutamos para manter novo um som
old school, mas para criarmos o nosso pró- “Movimentamo-nos num estilo
musical com 50 anos, e é importante
prio som,” afirmam vocês no press release.
Achas importante destacar isto?
O que se tem tornado importante para nós,
ao longo dos anos, é encontrar a nossa pró-
pria identidade musical. Começámos como
percebermos que adicionamos
muitas bandas fazem, a tocar de forma se-
melhante a alguns dos nossos heróis. Após algo que ainda não tenha sido
acrescentado.”
algum tempo, isso deixou de fazer sentido
e de nos satisfazer. Começámos a procurar
inspiração dentro do que fazíamos e do que
outros faziam. É isso que quero dizer, porque
nos movimentamos num estilo musical com Ao dizeres isso, recordas-me o tema «Phan- Isso pode vir a ser bom. Quanto ao fanatismo
50 anos, e é importante percebermos que tom Fathomer». É um bom exemplo daquilo religioso, penso que não há muito a fazer.
adicionamos algo que ainda não tenha sido a que chamaste espírito de rebanho?
acrescentado. Ainda gosto das velhas bandas Sim, anda muito à volta desse conceito. Fala Passando à banda, mais uma vez fizeste
e de muito do que elas fazem hoje, ajudaram a da importância de questionar as coisas, prin- uma alteração e há um novo guitarrista, Karl
formar todo o género. Fizeram a sua parte, de- cipalmente o que os media e aqueles que nos Gustafsson. Onde o encontraste?
senvolvendo este estilo. Nós queremos fazer rodeiam, dizem ser “a verdade”. As autorida- Ele é um amigo do nosso baixista, o Fredrik
o mesmo, desenvolver o heavy metal. des dizem-nos “a verdade”. No tema falo da Petersson. Queríamos focar-nos na compo-
importância de procurar para lá dessa “ver- sição dos temas do disco, antes de conside-
E isso é fácil? Como tu próprio disseste, já dade”, perceber o verdadeiro sentido das pa- rarmos um novo guitarrista, pois achámos
são décadas de música até hoje. lavras que nos dizem. Esse é um dos temas estranho incorporar alguém enquanto esti-
Talvez não seja fácil, e demora tempo até que em que procuramos explorar o quotidiano. véssemos na fase de escrita. Esperámos até
um grupo desenvolva o seu próprio som. Tem Há outras que lidam mais com o lado espi- à Primavera, colocámos nomes na mesa. O
de ser feito passo a passo. Em cada álbum ritual e místico. Karl foi sugestão do Fredrik e estava disponí-
que lançamos, chegamos mais perto daquilo vel. Ele não está em nenhuma banda, apenas
que pretendemos, do nosso próprio som. En- É uma letra influenciada por aquilo que es- num grupo de versões dos Manowar. É ele e
quanto atravessamos esse desenvolvimento, tamos a passar, na actualidade? o Hellbutcher dos Nifelheim. Eles tocam duas
tudo é válido e satisfatório para nós próprios. As letras foram todas escritas antes da pan- a três horas de versões dos Manowar, volta e
É importante que não haja repetição, mas demia, ou no máximo, no seu princípio. Mas meia. É o guitarrista perfeito para nós e um
evolução. Claro que é ao ouvinte que cabe de- realmente, as restrições e tudo que se se- tipo fantástico, por isso creio que vai resultar.
cidir se isso está a acontecer ou não, mas do guiu, ou muito disso, envolvem parte desta
nosso ponto de vista, estamos no caminho de temática que falo nas letras. Na Suécia ti- Neste disco as guitarras são só tuas, sem
correcto, pelo menos. Creio que, embora ain- vemos restrições leves, mas durante dezoito convidados como no passado?
da possamos fazer lembrar muitos nomes, meses, não pudemos ter concertos. Muitas Sim, desta vez não quis convidados e fiquei
há já um som característico dos Portrait. outras coisas aconteceram. Houve diferen- com bastante para gravar, mas como gosto
Melodias características da nossa música. tes níveis de restrições e medidas, ao longo de gravar, não há problema.
É isso que quero seguir ainda mais à frente. da pandemia e no mundo todo. Apesar disso,
a narrativa é praticamente a mesma em todo O Per Lengstedt tem-se revelado um exce-
No momento em que falamos, já aparece- o lado e há pouca resistência a essas deci- lente vocalista, até que ponto a sua voz tem
ram algumas reviews, e quase sempre mui- sões, por parte das pessoas, ou dos media. ajudado a definir o rumo da banda?
to positivas. É uma forma de perceberes Não estou, com isto, a dizer que possuo to- Tem sido muito importanto e não me lembro
que estás no caminho certo para esse som? das as respostas, ou que sei a verdade. Ape- de algum registo que não consiga cantar.
É bom saber que as pessoas gostam do que nas sinto a falta de debate, de discussão, pôr A voz dele consegue atingir vários níveis...
tu fazes, mas reviews positivas não são o su- tudo claro. Quando esse tipo de debates não Por exemplo, no disco anterior, na «Pure Of
ficiente, se não estivermos satisfeitos com o aparece, significa que algo está a acontecer. Heart», conseguiu alguns graves que nunca
disco. O mais importante para nós, é estar- Há muitos interesses em jogo em tudo isto. lhe tinha ouvido. Pensei logo que no disco
mos satisfeitos enquanto músicos, com o Políticos, económicos e, obviamente do lado seguinte teríamos de usar mais esse alcance
São suecos e tocam heavy metal. É talvez álbum que conseguimos obter do nosso tra-
balho. Claro que é bom ler todo esse feedba-
da indústria da saúde. É importante perceber
o que se passa. O mundo está a mudar e vi-
vocal, algo com que o Per também concorda.
No tema «The Gallow’s Crossing», ele mostra
a melhor, e mais simples, definição para os ck positivo e estamos contentes com isso. mos isso nestes dezoito meses. Espero que muito dessas capacidades e do seu espec-
Mostra-nos algo, pelo menos, mesmo não tudo melhore rapidamente e que as mudan- tro. Tem sido muito importante para o nosso
autores de «At One With None», os PORTRAIT. sendo a confirmação de que tudo está certo. ças sejam apenas temporárias e se volte ao som e para o seu desenvolvimento.
Christian Lindell é o guitarrista e mentor do normal, sem mudar muito o que havia antes.
Em que pensaste quando resolveste dar a Já que falámos das músicas deste disco,
grupo, e foi também ele que conversou com a este trabalho o título «At One With None»? Não acreditas que possa haver uma mudan- como surge a «Ashen»?
LOUD! para apresentar o novo disco. Refere-se a quando te sentes um estranho
numa terra estranha, seja uma localidade, ou
ça, para aceitar mais a ciência, e acreditar
menos na religião?
É uma faixa escrita pelo nosso baterista.
Grande tema, pois ele tem um grande senti-
EMANUEL FERREIRA STEFAN JOHANSSON uma sociedade. Tem uma ligação também, a Não acredito que isso possa acontecer. Tudo do de melodia. É algo invulgar, pois quando
quando és diferente, ou te sentes diferente, o que está a acontecer, pode ter uma expli- os bateristas escrevem temas, tendem a se-
fazendo algo que não é permitido. Quando cação em termos religiosos. Olhando para a guir uma linha bastante ritmada. Ele optou
vês os outros alinhados como cordeiros e história da humanidade, podemos concluir pela melodia, num tema que é o mais antigo

A TRADIÇÃO
tu caminhas no teu próprio trilho, pelos teus que, se deus existir, não é um bom deus. É daqueles que estão no disco. Uma grande
próprios passos, em direcção ao desconhe- por isso que não acredito que a pandemia vá parte já estava composta, e até ensaiada,
cido, ao escuro. Este é um dos sentidos do mudar a forma como os sistemas de crença quando gravámos o «Burn The World», em
título, o outro é mais espiritual, e relaciona- funcionam. Por outro lado, há tantos resul- 2017. Fizemos uns rearranjos, e duas ou
-se com reunires-te com algo maior, e depois tados diferentes no campo científico, que três semanas antes de entrarmos em es-

E A EVOLUÇÃO
nada acontecer. As letras, pelo menos algu- podes escolher um dos lados e ele vai soar túdio, fizemos muitas mudanças mesmo.
mas, são escritas sobre essas linhas. Por como certo e adequado. Outro tipo pode sur- Creio que no final resultou muito bem. É
vezes escritas de diferentes perspectivas, gir com algo diferente que contradiz o esta- um dos lados positivos de não termos dea-
umas mais espirituais e mágicas, enquanto belecido. Isso pode ajudar a que as pessoas dlines e podermos usar todo o tempo que
outras estão mais focadas no mundo e so- olhem para estes assuntos por sua conta, em quisermos para compormos e fazermos os
ciedade contemporânea. lugar de apenas acreditarem nos cabeçalhos. arranjos correctos.

20 LOUD! LOUD! 21
GUS G
quando me aventuro um pouco mais. Foi
GUS G é hoje em dia sinó- importante perceber também quanto esta
-nimo de virtuosismo. música pode ser audível. Porque podes
perfeitamente ser maluco e fazer com que
O guitarrista grego, conhe- a música instrumental seja muito difícil.
[risos] Mas isso não era algo que quises-
cido por ter tocado com se fazer, nem sequer andava atrás disso.
Ozzy Osbourne, Dream Evil Claro que queria esticar a coisa um pouco,
tentar coisas que combinassem com a for-
e os seus Firewind, aprovei- ma como toco e a nível dos arranjos, mas
tou o interregno nas digres- também queria grandes melodias, porque
sou grande fã disso. A abordagem foi fei-
sões provocado pela pande- ta, portanto, sempre de mente aberta, mas
também a tentar com que a guitarra fosse
mia para escrever mais um a voz. Fazer com que as melodias fossem
disco a solo, mas desta vez, cantáveis, era o objectivo principal.

totalmente instrumental. Quando se pensa em discos instrumentais,


Falámos com Gus para sa- vêm à memória os da era Shrapnel. Por
exemplo, Marty Friedman com Jason Be-
ber mais pormenores sobre cker, Richie Kotzen, Paul Gilbert, Michael
Lee Firkins, Greg Howe. Tudo o que tivesse
esta novidade, chamada o selo da Shrapnel, quase de certeza que
«Quantum Leap». eram bons discos…
E grande maioria eram mesmo bons! Era
JORGE BOTAS bom material e foram trabalhos pioneiros. Eu
oiço guitarristas novos hoje em dia, e depois
vou ouvir os discos do Greg Howe a seguir, e
percebo que ele fazia coisas mais extremas
com a guitarra e estava muito à frente do
Quando percebeste que ias fazer um disco tempo. Estamos a falar de obras com mais
instrumental? Fazer mais música para os de 25 anos. Muitos dos gajos novos, mesmo
Firewind não fazia sentido? os mais loucos, não conseguem estar ao ní-
Quando lançámos o último álbum dos Fi- vel dele. [risos]
rewind no ano passado e percebemos que
vinha aí um confinamento, definitivamente Mas diferente do teu objectivo de ter a gui-
que não estava a pensar em mais música tarra a fazer as vezes da voz. Nos discos do
para os Firewind, de facto. Vi muitas ban- Marty e Jason por exemplo, havia solos de
das a entrarem em pânico e a dizerem que guitarra à farta...
iam para estúdio fazer mais álbuns. No Sim.. sim... Há vários tipos de música instru-

“Uma das vantagens de fazer música


nosso caso, qual era o sentido de fazer mental. Há material como nos discos dos
um disco número dez, quando nem sequer Cacophony e depois há coisas como os ál-
demos um concerto para promover o nú- buns do Joe Satriani, e eu tentei ir mais nes-
mero nove? Estamos num ponto da nossa
carreira em que não necessitamos de lan-
sa direcção. Apesar do Satriani ter um estilo
distinto, a minha abordagem foi um pouco
instrumental é que podes ser aventureiro
e fazer o que bem te apetecer.”
çar música a toda hora. Já temos um bom essa. A guitarra assume o papel de destaque,
catálogo. Não entrei em pânico para fazer mas não está a “solar” durante cinco minutos
nova música para os Firewind, porque sa- em cada canção. Há espaço para solos, para
bia que ainda tínhamos um bom álbum nas outras partes de guitarra, temas e coisas do
mãos. Por isso, pensei em ir para as minhas género. Mas tem de haver um tema e melo- fazer o que quiser e as pessoas até aceitam que estaria disponível para tocar comigo,
cenas a solo e fazer algo diferente. O disco dia principal, onde a guitarra assume o papel porque é um disco a solo e posso mostrar as caso eu necessitasse. Eu gosto da forma
instrumental era algo que tinha na minha da voz. mais variadas influências. Quando se faz um como ele toca, mas originalmente disse-
lista de coisas para fazer. Era algo em que disco com a banda, há um certo tipo de som -lhe que não, porque estava a trabalhar
já tinha pensado, mas que nunca tinha feito. Neste «Quantum Leap» há um pouco de a respeitar, e acabamos por ter que seguir completamente sozinho. Já tinha a bateria
No fundo, foi uma boa altura para me focar cada estilo nas variadas canções. Por esse caminho. toda programada, e com bom som – eu, na
em projectos que nunca tinha concretizado exemplo, a «Enigma Of Life» é uma espécie verdade, até sou bom a fazer isso. [risos] Ia
e nunca seria capaz de concretizar se an- de balada blues. Não sendo conhecido pelo Contas feitas, quanto demorou todo este ser um disco Gus G onde eu tocava mes-

VOZ COM
dasse em digressão sem parar, que é o que estilo blues, foi uma forma de mostrares um processo? mo tudo, incluindo o baixo e os teclados.
acontece normalmente. pouco a tua versatilidade? Comecei em Junho e terminei tudo em Ja- Disse-lhe que era porreiro ter um baterista,
Eu sou conhecido primordialmente por tocar neiro deste ano com a mistura e masteriza- mas com restrições para voar e dificul-
Sendo este o teu primeiro trabalho instru- metal, mas para um guitarrista de metal, aca- ção. Foram três meses para terminar a com- dades em arranjar estúdio para gravar a
mental, como foi a abordagem à composi- bo por ter muitas influências blues rock. Mui- posição das canções e dos arranjos. A partir bateria, porque queria estar presente para
ção? Porque uma coisa é escreveres com tas pessoas falam do meu vibrato e bending de Setembro foi gravar tudo como deve ser, produzir... só que apercebi-me entretanto
uma letra em mente, outra coisa é teres só e todas as cenas melódicas que faço. Esse incluindo arranjar o baterista... Talvez tenha que ele tinha um estúdio. Como seria uma
música, suponho. tema acaba por estar num contexto mais de começado mais tarde, porque o ano passado pena não lhe dar uma oportunidade, pe-
Uma das vantagens de fazer música instru- balada e a retirar o ganho no amplificador um está assim um pouco como uma névoa, qua- di-lhe para gravar uma canção que serviu
mental é que podes ser aventureiro e fazer pouco. E assim ouves as minhas influências se como se não tivesse acontecido. [risos] também para perceber se conseguia cap-

CORDAS
o que bem te apetecer. Não tens de seguir mais hard rock, tipo Gary Moore. Também tar e gravar bem o som da bateria. Quando
a estrutura verso, refrão, verso. Podes com- escrevo este tipo de coisas, e até escrevi um Já que falaste no baterista, a escolha aca- recebi o ficheiro, o som estava muito bom
por como quiseres e adicionar mais cama- tema que é mais synth wave. Isso é uma das bou por recair no Jan-Vincent Velazco. e deu para entender que ele percebia mes-
das de harmonias ou outras coisas. Não vantagens de embarcar num disco a solo e Como aconteceu esta ligação? mo do assunto e que tinha bons microfo-
tem de seguir um caminho comercial, por instrumental. Não há nenhum limite para o Foi ele que me enviou um e-mail do nada! nes de captação. Acabámos por fazer tudo
assim dizer. Ao mesmo tempo, para mim, que eu possa fazer, estilisticamente. Posso [risos] Tinha visto algo online que dizia que forma remota, depois o Dennis Ward fez as
é importante manter uma fórmula de com- tocar temas acústicos, posso tocar temas eu estava a trabalhar num novo disco a misturas e ainda acabou por tocar baixo
posição, e saber como manter o equilíbrio de fusão, posso fazer cenas de metal, posso solo. Enviou-me uma série de links e disse no disco.

22 LOUD! LOUD! 23
GUS G
quando me aventuro um pouco mais. Foi
GUS G é hoje em dia sinó- importante perceber também quanto esta
-nimo de virtuosismo. música pode ser audível. Porque podes
perfeitamente ser maluco e fazer com que
O guitarrista grego, conhe- a música instrumental seja muito difícil.
[risos] Mas isso não era algo que quises-
cido por ter tocado com se fazer, nem sequer andava atrás disso.
Ozzy Osbourne, Dream Evil Claro que queria esticar a coisa um pouco,
tentar coisas que combinassem com a for-
e os seus Firewind, aprovei- ma como toco e a nível dos arranjos, mas
tou o interregno nas digres- também queria grandes melodias, porque
sou grande fã disso. A abordagem foi fei-
sões provocado pela pande- ta, portanto, sempre de mente aberta, mas
também a tentar com que a guitarra fosse
mia para escrever mais um a voz. Fazer com que as melodias fossem
disco a solo, mas desta vez, cantáveis, era o objectivo principal.

totalmente instrumental. Quando se pensa em discos instrumentais,


Falámos com Gus para sa- vêm à memória os da era Shrapnel. Por
exemplo, Marty Friedman com Jason Be-
ber mais pormenores sobre cker, Richie Kotzen, Paul Gilbert, Michael
Lee Firkins, Greg Howe. Tudo o que tivesse
esta novidade, chamada o selo da Shrapnel, quase de certeza que
«Quantum Leap». eram bons discos…
E grande maioria eram mesmo bons! Era
JORGE BOTAS bom material e foram trabalhos pioneiros. Eu
oiço guitarristas novos hoje em dia, e depois
vou ouvir os discos do Greg Howe a seguir, e
percebo que ele fazia coisas mais extremas
com a guitarra e estava muito à frente do
Quando percebeste que ias fazer um disco tempo. Estamos a falar de obras com mais
instrumental? Fazer mais música para os de 25 anos. Muitos dos gajos novos, mesmo
Firewind não fazia sentido? os mais loucos, não conseguem estar ao ní-
Quando lançámos o último álbum dos Fi- vel dele. [risos]
rewind no ano passado e percebemos que
vinha aí um confinamento, definitivamente Mas diferente do teu objectivo de ter a gui-
que não estava a pensar em mais música tarra a fazer as vezes da voz. Nos discos do
para os Firewind, de facto. Vi muitas ban- Marty e Jason por exemplo, havia solos de
das a entrarem em pânico e a dizerem que guitarra à farta...
iam para estúdio fazer mais álbuns. No Sim.. sim... Há vários tipos de música instru-

“Uma das vantagens de fazer música


nosso caso, qual era o sentido de fazer mental. Há material como nos discos dos
um disco número dez, quando nem sequer Cacophony e depois há coisas como os ál-
demos um concerto para promover o nú- buns do Joe Satriani, e eu tentei ir mais nes-
mero nove? Estamos num ponto da nossa
carreira em que não necessitamos de lan-
sa direcção. Apesar do Satriani ter um estilo
distinto, a minha abordagem foi um pouco
instrumental é que podes ser aventureiro
e fazer o que bem te apetecer.”
çar música a toda hora. Já temos um bom essa. A guitarra assume o papel de destaque,
catálogo. Não entrei em pânico para fazer mas não está a “solar” durante cinco minutos
nova música para os Firewind, porque sa- em cada canção. Há espaço para solos, para
bia que ainda tínhamos um bom álbum nas outras partes de guitarra, temas e coisas do
mãos. Por isso, pensei em ir para as minhas género. Mas tem de haver um tema e melo- fazer o que quiser e as pessoas até aceitam que estaria disponível para tocar comigo,
cenas a solo e fazer algo diferente. O disco dia principal, onde a guitarra assume o papel porque é um disco a solo e posso mostrar as caso eu necessitasse. Eu gosto da forma
instrumental era algo que tinha na minha da voz. mais variadas influências. Quando se faz um como ele toca, mas originalmente disse-
lista de coisas para fazer. Era algo em que disco com a banda, há um certo tipo de som -lhe que não, porque estava a trabalhar
já tinha pensado, mas que nunca tinha feito. Neste «Quantum Leap» há um pouco de a respeitar, e acabamos por ter que seguir completamente sozinho. Já tinha a bateria
No fundo, foi uma boa altura para me focar cada estilo nas variadas canções. Por esse caminho. toda programada, e com bom som – eu, na
em projectos que nunca tinha concretizado exemplo, a «Enigma Of Life» é uma espécie verdade, até sou bom a fazer isso. [risos] Ia
e nunca seria capaz de concretizar se an- de balada blues. Não sendo conhecido pelo Contas feitas, quanto demorou todo este ser um disco Gus G onde eu tocava mes-

VOZ COM
dasse em digressão sem parar, que é o que estilo blues, foi uma forma de mostrares um processo? mo tudo, incluindo o baixo e os teclados.
acontece normalmente. pouco a tua versatilidade? Comecei em Junho e terminei tudo em Ja- Disse-lhe que era porreiro ter um baterista,
Eu sou conhecido primordialmente por tocar neiro deste ano com a mistura e masteriza- mas com restrições para voar e dificul-
Sendo este o teu primeiro trabalho instru- metal, mas para um guitarrista de metal, aca- ção. Foram três meses para terminar a com- dades em arranjar estúdio para gravar a
mental, como foi a abordagem à composi- bo por ter muitas influências blues rock. Mui- posição das canções e dos arranjos. A partir bateria, porque queria estar presente para
ção? Porque uma coisa é escreveres com tas pessoas falam do meu vibrato e bending de Setembro foi gravar tudo como deve ser, produzir... só que apercebi-me entretanto
uma letra em mente, outra coisa é teres só e todas as cenas melódicas que faço. Esse incluindo arranjar o baterista... Talvez tenha que ele tinha um estúdio. Como seria uma
música, suponho. tema acaba por estar num contexto mais de começado mais tarde, porque o ano passado pena não lhe dar uma oportunidade, pe-
Uma das vantagens de fazer música instru- balada e a retirar o ganho no amplificador um está assim um pouco como uma névoa, qua- di-lhe para gravar uma canção que serviu
mental é que podes ser aventureiro e fazer pouco. E assim ouves as minhas influências se como se não tivesse acontecido. [risos] também para perceber se conseguia cap-

CORDAS
o que bem te apetecer. Não tens de seguir mais hard rock, tipo Gary Moore. Também tar e gravar bem o som da bateria. Quando
a estrutura verso, refrão, verso. Podes com- escrevo este tipo de coisas, e até escrevi um Já que falaste no baterista, a escolha aca- recebi o ficheiro, o som estava muito bom
por como quiseres e adicionar mais cama- tema que é mais synth wave. Isso é uma das bou por recair no Jan-Vincent Velazco. e deu para entender que ele percebia mes-
das de harmonias ou outras coisas. Não vantagens de embarcar num disco a solo e Como aconteceu esta ligação? mo do assunto e que tinha bons microfo-
tem de seguir um caminho comercial, por instrumental. Não há nenhum limite para o Foi ele que me enviou um e-mail do nada! nes de captação. Acabámos por fazer tudo
assim dizer. Ao mesmo tempo, para mim, que eu possa fazer, estilisticamente. Posso [risos] Tinha visto algo online que dizia que forma remota, depois o Dennis Ward fez as
é importante manter uma fórmula de com- tocar temas acústicos, posso tocar temas eu estava a trabalhar num novo disco a misturas e ainda acabou por tocar baixo
posição, e saber como manter o equilíbrio de fusão, posso fazer cenas de metal, posso solo. Enviou-me uma série de links e disse no disco.

22 LOUD! LOUD! 23
CRIMINAL
O «Sacrifício» destaca-se logo à primeira
audição, pela crueza bruta que mostra. Pa-
Achas que houve alguma razão para teres
recuperado este feeling rebelde e contesta- “É talvez uma era pouco valorizada,
porque as pessoas se focam muito
rece os teus primeiros tempos com os Cri- tário dos primeiros tempos? O clima social
minal. Concordas? complicado que se viveu no teu país terá
Figura bem conhecida do underground, através das Sim, até porque era essa a ideia, em parte. A contribuído para isso?
suas presenças nos Brujeria e Lock Up especialmente, inspiração para este álbum centrou-se mui-
to naquele momento da história em que o
Acho que a razão principal para o álbum ter
resultado assim é mesmo a forma como
só nos anos 80, mas os 90s também
o chileno Anton Reisenegger é um old schooler a sério.
Para além de ter fundado os lendários Pentagram
metal extremo começou a explodir, no início
dos anos 90, em que apareceram em grande
escrevemos a música. Nos últimos anos,
para aí nos últimos três ou quatro álbuns, o foram altamente!”
os Sepultura, os Napalm Death, essas ban- procedimento era basicamente eu sentado
Chile nos anos 80, mantém há 30 anos a sua das todas, com grande alcance depois dos em frente ao computador a escrever riffs, e
seus inícios no underground. É talvez uma a pensar “olha, este é bom!”, e depois outro no estúdio. É das melhores memórias que uma daquelas bandas americanas horríveis!
máquina implacável de thrash metal, os CRIMINAL, era pouco valorizada, porque as pessoas se riff e “este é muito bom!” e por aí fora. [risos] tenho, e a energia que senti durante a escrita Por exemplo, sou grande fã dos álbuns que
que regressam agora à boa forma com o excelente focam muito só nos anos 80, mas os 90s Ao fim de algum tempo, decidia que tinha deste álbum teve vibes parecidas. os Napalm Death fizeram no final dos anos
também foram altamente! uma canção, enviava ao baterista, ele gra- 90, o «Diatribes» e assim, é a esse groove que
«Sacrifício», já o décimo da carreira da banda sul- vava a bateria, e pronto. Agora foi diferente, Tal como os Cavaleras nessa ocasião, tam- me refiro. Tem um ritmo semelhante, tum-
americana, e uma espécie de regresso às raízes. É Especialmente nos mais “puristas”, gerou-
-se muito a ideia que os 90s foram uma
porque o nosso baterista actual, o Danilo
Estrella, desde que se juntou a nós demons-
bém tu e o Danilo foram o núcleo duro da
composição, não foi?
-tum-ta-tum-turum-tum-ta-tum, consegue-se
perceber bem, e com o nosso baterista, nota-
sempre um prazer conversar com o Anton, senhor de merda, mas isso é ignorar injustamente tan- trou uma vontade enorme de ser parte do Sim, éramos só os dois, com aquela ligação -se perfeitamente o espalhafato latino. [risos]
ta coisa boa, e importante, que aconteceu… processo criativo, de fazer parte de toda a directa, com feedback imediato, foi incrível. Ele é um músico treinado e talentoso, conse-
opiniões vincadas e que sabe o que quer do seu metal. Concordo totalmente. Até mesmo aqui no escrita. Sempre teve tanto entusiasmo nes- É a melhor maneira de canalizar a criativi- gue tocar jazz, consegue basicamente tocar
Chile, com a minha história pessoal, que se re- se sentido, que cada vez que tenho vindo ao dade. Quando estamos sozinhos, temos a tudo o que quiser, e ajudou a trazer essa iden-
JOSÉ CARLOS SANTOS CRISTIAN CARRASCO
flecte um pouco do que se passou globalmen- Chile – tenho vindo cá muito frequentemente tendência de começar a reciclar os nossos tidade de volta à banda.
te. Eu já tinha a minha banda, os Pentagram, nos últimos anos – nos encontramos na sala pensamentos e apenas amplificá-los. Gos-

THRASH
nessa altura, e era tudo muito underground, de ensaio e tocamos muito à moda antiga. to muito mais de ter este intercâmbio com Groove mas extremo. Mais Napalm Death e
tudo muito subterrâneo, tínhamos que nos Sem planos, sem tocarmos nada pré-defini- outra pessoa. Mas não quero deixar passar Sepultura, menos Disturbed ou Five Finger
esconder da polícia, coisas assim. Depois tive- do a não ser meia dúzia de ideias de riffs, é algo que perguntaste que realmente tam- Death Punch. [risos]
mos finalmente a mudança de governo, com o mesmo só ir para lá e tocar, tocar, tocar. E bém foi um factor importante, que é o clima Exactamente! [risos] Ou até Machine Head
fim da ditadura no final dos anos 80, e tudo se foi nessas horas lá passadas que acabámos social que se viveu neste país. Em Outubro do primeiro álbum. O «Burn My Eyes», que
começou a abrir. Havia major labels a mostrar por escrever o álbum quase todo, e acho que de 2018 houve uma revolta popular muito grande disco. Coisas pesadas, com “toma-
interesse, havia imprensa livre, havia a MTV… isso dá aos temas o tal feeling de crueza, de grande no Chile, e apesar de eu não estar tes”!
Podíamos ter os nossos vídeos na MTV! Ima- espontaneidade, porque o período que pas- aqui na altura em que tudo aconteceu, tinha

À ANTIGA
gina o que isto significava para nós, era uma sámos naquela sala a tocar teve essa “elec- estado pouco tempo antes, e regressei pou- A formação dos Criminal sempre foi uma
loucura. E isso gerou uma criatividade imensa tricidade” que era mais comum antigamente. co tempo depois. Em ambas as ocasiões roda viva à tua volta, mas pareces especial-
e um entusiasmo muito grande. Fez-me lembrar quando fui visitar os Cavale- percebi que se conseguia sentir algo no mente contente com este pessoal que tens
ras a Belo Horizonte, enquanto estavam a es- ar, estava carregado, havia uma atmosfera agora. Será desta que é para durar?
crever o «Schizophrenia», e estive com eles bastante pesada. As pessoas não sabiam O Danilo cresceu a ouvir os Criminal, é fã
o que ia acontecer. O Chile é habitualmente de longa data, tal como o nosso guitarrista,
um lugar muito animado, Santiago é uma o Sergio Klein. Creio que eles, subconscien-
cidade que está sempre a vibrar de energia, temente, deram à nossa música aquilo que
e naquela altura essa vibração era maior eles próprios já tinham saudades de ouvir
ainda, havia quase uma agressão latente a nela. Espero que esta relação dure bastante
pairar no ar, era tudo muito volátil. As pes- tempo. Já há muitos anos que não fazemos
soas estavam prontas para ir para as ruas dois álbuns seguidos com a mesma forma-
e queimar tudo. Como é óbvio, tudo isto foi ção, talvez consigamos desta vez. Estou mui-
uma séria influência no nosso estado de es- to feliz por tocar com estes tipos. Já falei dos
pírito e encontra-se representado no álbum chilenos, pessoal de formação técnica séria
também. e altamente entusiastas com a banda, mas
tenho que elogiar particularmente o Danny
Consideras que há algo inerentemente chi- [Biggin, baixista], é o meu sidekick há mais de
leno nos Criminal? É um exercício hipotéti- quinze anos, é uma fundação extraordinária
co, claro, mas acreditas que a banda seria nesta banda. Ele que até é guitarrista, mas
muito diferente se as tuas origens fossem fez-se num baixista incrível.
outras?
Acho que há, sem dúvida, um elemento chile- O «Sacrifício» tem duas músicas em espa-
no na banda. E até sou capaz de definir o que nhol, ao contrário da solitária do costume…
é, porque quando me mudei para a Europa e e é tão fixe ouvir-te cantar na tua língua. Não
comecei a colaborar mais com músicos euro- queres fazer mais umas no futuro?
peus, perdemos isso, e começámos a parecer Tenho andado a pensar em tentar fazer um
mais uma banda sueca, ou inglesa! Agora que EP inteiro em espanhol, confesso. Talvez en-
voltámos a ter três membros chilenos na ban- tre dois álbuns, uma coisa de quatro ou cinco
da, e que estamos praticamente baseados no músicas, acho que o pessoal ia gostar. Pelo
Chile outra vez, isso voltou-se a sentir. Tem a menos na América do Sul ia ficar tudo doido.
ver com um certo tipo de percussão, com uma [risos] Há essa possibilidade, sim. Em rela-
cadência, com um… eu hesito sempre em usar ção ao «Sacrifício», quando estávamos a gra-
a palavra groove, porque actualmente ganhou var – porque eu deixo sempre as letras para o
um significado diferente, mas creio que as fim –, apercebi-me que com toda a temática
pessoas entendem o contexto em que estou que o disco ia ter, o momento na história do
a usá-la. É algo rítmico, o que nos define como Chile que estávamos a viver, fazia sentido
chilenos, e como sul-americanos no geral. Po- ter mais que um tema em espanhol. E sabia
demos ter perdido isso durante algum tempo, exactamente quais iam ser, tinham que ter
mas fico feliz que o tenhamos recuperado. a ver com isto tudo, e assim foi. Fiquei real-
mente com vontade de fazer mais. Olha! E
Adorei o teu cuidado com o groove. [risos] tu, não queres contribuir com um tema em
[risos] Não quero que pensem que somos português?! [risos]

24 LOUD! LOUD! 25
CRIMINAL
O «Sacrifício» destaca-se logo à primeira
audição, pela crueza bruta que mostra. Pa-
Achas que houve alguma razão para teres
recuperado este feeling rebelde e contesta- “É talvez uma era pouco valorizada,
porque as pessoas se focam muito
rece os teus primeiros tempos com os Cri- tário dos primeiros tempos? O clima social
minal. Concordas? complicado que se viveu no teu país terá
Figura bem conhecida do underground, através das Sim, até porque era essa a ideia, em parte. A contribuído para isso?
suas presenças nos Brujeria e Lock Up especialmente, inspiração para este álbum centrou-se mui-
to naquele momento da história em que o
Acho que a razão principal para o álbum ter
resultado assim é mesmo a forma como
só nos anos 80, mas os 90s também
o chileno Anton Reisenegger é um old schooler a sério.
Para além de ter fundado os lendários Pentagram
metal extremo começou a explodir, no início
dos anos 90, em que apareceram em grande
escrevemos a música. Nos últimos anos,
para aí nos últimos três ou quatro álbuns, o foram altamente!”
os Sepultura, os Napalm Death, essas ban- procedimento era basicamente eu sentado
Chile nos anos 80, mantém há 30 anos a sua das todas, com grande alcance depois dos em frente ao computador a escrever riffs, e
seus inícios no underground. É talvez uma a pensar “olha, este é bom!”, e depois outro no estúdio. É das melhores memórias que uma daquelas bandas americanas horríveis!
máquina implacável de thrash metal, os CRIMINAL, era pouco valorizada, porque as pessoas se riff e “este é muito bom!” e por aí fora. [risos] tenho, e a energia que senti durante a escrita Por exemplo, sou grande fã dos álbuns que
que regressam agora à boa forma com o excelente focam muito só nos anos 80, mas os 90s Ao fim de algum tempo, decidia que tinha deste álbum teve vibes parecidas. os Napalm Death fizeram no final dos anos
também foram altamente! uma canção, enviava ao baterista, ele gra- 90, o «Diatribes» e assim, é a esse groove que
«Sacrifício», já o décimo da carreira da banda sul- vava a bateria, e pronto. Agora foi diferente, Tal como os Cavaleras nessa ocasião, tam- me refiro. Tem um ritmo semelhante, tum-
americana, e uma espécie de regresso às raízes. É Especialmente nos mais “puristas”, gerou-
-se muito a ideia que os 90s foram uma
porque o nosso baterista actual, o Danilo
Estrella, desde que se juntou a nós demons-
bém tu e o Danilo foram o núcleo duro da
composição, não foi?
-tum-ta-tum-turum-tum-ta-tum, consegue-se
perceber bem, e com o nosso baterista, nota-
sempre um prazer conversar com o Anton, senhor de merda, mas isso é ignorar injustamente tan- trou uma vontade enorme de ser parte do Sim, éramos só os dois, com aquela ligação -se perfeitamente o espalhafato latino. [risos]
ta coisa boa, e importante, que aconteceu… processo criativo, de fazer parte de toda a directa, com feedback imediato, foi incrível. Ele é um músico treinado e talentoso, conse-
opiniões vincadas e que sabe o que quer do seu metal. Concordo totalmente. Até mesmo aqui no escrita. Sempre teve tanto entusiasmo nes- É a melhor maneira de canalizar a criativi- gue tocar jazz, consegue basicamente tocar
Chile, com a minha história pessoal, que se re- se sentido, que cada vez que tenho vindo ao dade. Quando estamos sozinhos, temos a tudo o que quiser, e ajudou a trazer essa iden-
JOSÉ CARLOS SANTOS CRISTIAN CARRASCO
flecte um pouco do que se passou globalmen- Chile – tenho vindo cá muito frequentemente tendência de começar a reciclar os nossos tidade de volta à banda.
te. Eu já tinha a minha banda, os Pentagram, nos últimos anos – nos encontramos na sala pensamentos e apenas amplificá-los. Gos-

THRASH
nessa altura, e era tudo muito underground, de ensaio e tocamos muito à moda antiga. to muito mais de ter este intercâmbio com Groove mas extremo. Mais Napalm Death e
tudo muito subterrâneo, tínhamos que nos Sem planos, sem tocarmos nada pré-defini- outra pessoa. Mas não quero deixar passar Sepultura, menos Disturbed ou Five Finger
esconder da polícia, coisas assim. Depois tive- do a não ser meia dúzia de ideias de riffs, é algo que perguntaste que realmente tam- Death Punch. [risos]
mos finalmente a mudança de governo, com o mesmo só ir para lá e tocar, tocar, tocar. E bém foi um factor importante, que é o clima Exactamente! [risos] Ou até Machine Head
fim da ditadura no final dos anos 80, e tudo se foi nessas horas lá passadas que acabámos social que se viveu neste país. Em Outubro do primeiro álbum. O «Burn My Eyes», que
começou a abrir. Havia major labels a mostrar por escrever o álbum quase todo, e acho que de 2018 houve uma revolta popular muito grande disco. Coisas pesadas, com “toma-
interesse, havia imprensa livre, havia a MTV… isso dá aos temas o tal feeling de crueza, de grande no Chile, e apesar de eu não estar tes”!
Podíamos ter os nossos vídeos na MTV! Ima- espontaneidade, porque o período que pas- aqui na altura em que tudo aconteceu, tinha

À ANTIGA
gina o que isto significava para nós, era uma sámos naquela sala a tocar teve essa “elec- estado pouco tempo antes, e regressei pou- A formação dos Criminal sempre foi uma
loucura. E isso gerou uma criatividade imensa tricidade” que era mais comum antigamente. co tempo depois. Em ambas as ocasiões roda viva à tua volta, mas pareces especial-
e um entusiasmo muito grande. Fez-me lembrar quando fui visitar os Cavale- percebi que se conseguia sentir algo no mente contente com este pessoal que tens
ras a Belo Horizonte, enquanto estavam a es- ar, estava carregado, havia uma atmosfera agora. Será desta que é para durar?
crever o «Schizophrenia», e estive com eles bastante pesada. As pessoas não sabiam O Danilo cresceu a ouvir os Criminal, é fã
o que ia acontecer. O Chile é habitualmente de longa data, tal como o nosso guitarrista,
um lugar muito animado, Santiago é uma o Sergio Klein. Creio que eles, subconscien-
cidade que está sempre a vibrar de energia, temente, deram à nossa música aquilo que
e naquela altura essa vibração era maior eles próprios já tinham saudades de ouvir
ainda, havia quase uma agressão latente a nela. Espero que esta relação dure bastante
pairar no ar, era tudo muito volátil. As pes- tempo. Já há muitos anos que não fazemos
soas estavam prontas para ir para as ruas dois álbuns seguidos com a mesma forma-
e queimar tudo. Como é óbvio, tudo isto foi ção, talvez consigamos desta vez. Estou mui-
uma séria influência no nosso estado de es- to feliz por tocar com estes tipos. Já falei dos
pírito e encontra-se representado no álbum chilenos, pessoal de formação técnica séria
também. e altamente entusiastas com a banda, mas
tenho que elogiar particularmente o Danny
Consideras que há algo inerentemente chi- [Biggin, baixista], é o meu sidekick há mais de
leno nos Criminal? É um exercício hipotéti- quinze anos, é uma fundação extraordinária
co, claro, mas acreditas que a banda seria nesta banda. Ele que até é guitarrista, mas
muito diferente se as tuas origens fossem fez-se num baixista incrível.
outras?
Acho que há, sem dúvida, um elemento chile- O «Sacrifício» tem duas músicas em espa-
no na banda. E até sou capaz de definir o que nhol, ao contrário da solitária do costume…
é, porque quando me mudei para a Europa e e é tão fixe ouvir-te cantar na tua língua. Não
comecei a colaborar mais com músicos euro- queres fazer mais umas no futuro?
peus, perdemos isso, e começámos a parecer Tenho andado a pensar em tentar fazer um
mais uma banda sueca, ou inglesa! Agora que EP inteiro em espanhol, confesso. Talvez en-
voltámos a ter três membros chilenos na ban- tre dois álbuns, uma coisa de quatro ou cinco
da, e que estamos praticamente baseados no músicas, acho que o pessoal ia gostar. Pelo
Chile outra vez, isso voltou-se a sentir. Tem a menos na América do Sul ia ficar tudo doido.
ver com um certo tipo de percussão, com uma [risos] Há essa possibilidade, sim. Em rela-
cadência, com um… eu hesito sempre em usar ção ao «Sacrifício», quando estávamos a gra-
a palavra groove, porque actualmente ganhou var – porque eu deixo sempre as letras para o
um significado diferente, mas creio que as fim –, apercebi-me que com toda a temática
pessoas entendem o contexto em que estou que o disco ia ter, o momento na história do
a usá-la. É algo rítmico, o que nos define como Chile que estávamos a viver, fazia sentido
chilenos, e como sul-americanos no geral. Po- ter mais que um tema em espanhol. E sabia
demos ter perdido isso durante algum tempo, exactamente quais iam ser, tinham que ter
mas fico feliz que o tenhamos recuperado. a ver com isto tudo, e assim foi. Fiquei real-
mente com vontade de fazer mais. Olha! E
Adorei o teu cuidado com o groove. [risos] tu, não queres contribuir com um tema em
[risos] Não quero que pensem que somos português?! [risos]

24 LOUD! LOUD! 25
FULL OF HELL
terno sobre até onde ir com eles e desta vez sobre aquilo que devo fazer. Conforme fico
vieram mais ao de cima do que nos últimos mais velho, acabo por me preocupar menos
discos. Pessoalmente, só espero ter mais de- e menos com isso. Felizmente nunca me for-
les no futuro. cei a escrever coisas que não queria fazer e
agora estou a aproveitar. As letras acabaram
Há muito debate entre vocês durante a es- por ser bastante pessoais, eu estava a lidar
crita? com várias merdas, ainda estou, e acho que
Nem por isso. Sempre foram o Spencer e são ideias com as quais as pessoas se po-
o Dave a tratar da maioria da música, en- dem relacionar.
quanto eu trato das letras e da estética.
Acho que nunca tivemos uma discussão Na «Eroding Shell» pareces explorar um
acesa, quando me juntei à banda eu e o pouco a ideia do medo que podemos sentir
Spencer concluímos que queríamos mis- numa multidão. Trata-se de uma experiên-
turar as cenas rápidas de que gostamos cia pessoal?
com merdas extremas e noise, expulsámos É sem dúvida aplicável nesse sentido literal
imediatamente os outros membros porque de estar num público enorme, é uma expe-
eles não queriam essa direcção e desde en- riência assustadora. É uma canção que fala
tão temos sido uma frente unida. Eu estou sobre ter medo de pessoas, de seres huma-
finalmente a sentir-me confortável com o nos, e do potencial dessas pessoas em con-
que fazemos, no sentido em que sinto que junto. A humanidade é como que uma mana-
metade dos elogios que nos fazem até têm da que se move colectivamente às mãos de
algum sentido, até aqui sempre achei um ideologias. Numa multidão, as pessoas não
exagero. pensam realmente no que estão a fazer no

“Eu gosto de cenas arrastadas,


JARDIM DA e como não somos uma banda
verdadeira de grindcore, podemos

HUMANIDADE fazer o que quisermos. Mais, como


não somos verdadeiramente nada,
podemos fazer tudo, não interessa
INSIGNIFICANTE
O quinto álbum dos FULL OF HELL, «Garden
cional, desde a pop experimental, ao noise,
ao folk… Acho que ele acaba por trazer umas
não tradicional; temos o Sam que é muito
bom com o saxofone alto mas queríamos
realmente.”
Sentes que aquela dose extra de noise rock
à Harvey Milk é um resultado da experiência
momento, e assusta-me o potencial que têm
nessa situação.
Of Burning Apparitions», é mais uma prova de sensibilidades bastante únicas para este
mundo da música extrema.
uma voz diferente. recente do Spencer com os Eye Flys?
Ele próprio admite-o. Tocar com essa malta Outra ideia que exploras, esta mais profun-
vitalidade e não-conformidade estilística dada pelo Esse é portanto mais um exemplo do quão foi uma experiência muito fixe para ele, que da, é a noção de espiritualidade. Conside-
Continuando um pouco por fora, vocês há importantes as digressões e a vossa abor- sempre gostou do género. Gravar um disco ras-te uma pessoa espiritual?
quarteto da Pennsylvania. Há grindcore, há death uns anos gravaram um split com os Intensi- dagem DIY às mesmas têm sido. fez com que esses sons escoassem para a É uma grande questão no álbum e algo que
metal, mas também há muito noise, instrumentos de ve Care, e desta vez tiveram o Ryan Bloomer Desde o momento em que eu e o Spencer nossa música. Por acaso quando estávamos tenho vindo a ponderar com muita frequên-
a fazer noise como convidado. Correu bem, nos conhecemos, que estamos naquele ce- a falar no início do álbum, surgiu a ideia de cia. Sempre tive uma enorme ausência de
sopro e, desta feita, uma dose saudável de noise rock, portanto. nário get in the van. Queríamos imenso fazer fazer um disco todo arrastado e eu estava ideias sobre deus, os meus pais não me
tudo a decorrer em simultâneo enquanto o vocalista Sim, o Ryan é um gajo pesado na cena do
noise e o Spencer tinha interesse em saber
a banda, começámos logo a viajar e nunca
parámos. Durante a pandemia, acabou por
todo entusiasmado com a ideia, que um dia
vamos certamente concretizar. Desta vez,
deram uma educação religiosa e sempre
me considerei puramente ateu. Os últimos
(e homem da maquinaria) Dylan Walker, com quem se ele estaria disponível para nos ajudar a ser bom perceber que ainda podemos ter conforme as músicas foram saindo eram anos mudaram isso, mas não te sei dizer
tratar do noise neste disco e ele alinhou. Ado- uma experiência que nos satisfaz mesmo blastbeats por toda a parte, simplesmente em que é que acredito. Acho que sempre fui
a LOUD! não perdeu a oportunidade de falar, berra ramos Intensive Care e adoramos o Ryan. O sem as digressões. É uma variável enorme aconteceu assim. Eu gosto de cenas arras- uma pessoa espiritual sem direcção. Duran-
versos de angústia existencialista. Spencer queria que os convidados neste dis- e eu não sabia como é que lidaria com a au- tadas, e como não somos uma banda ver- te a escrita para este álbum estava mental-
co fossem mais subtis, daí não termos vo- sência dela, mas agora sei que continuaria dadeira de grindcore, podemos fazer o que mente num local bastante negro, foi um pe-
LUÍS PIRES JESS DANKMEYER calistas extras, porque queríamos um álbum com esta banda mesmo que as digressões quisermos. Mais, como não somos verda- ríodo para examinar essas ideias, o pensar
mais insular. O mesmo se aplica à Shoshana, nunca voltassem. deiramente nada, podemos fazer tudo, não na minha impermanência. No fundo estava
o clarinete baixo del é fantástico, mas é mais interessa realmente. a tentar aceitar a ideia de que a minha exis-
Este foi o vosso primeiro disco com o Seth pectiva fresca sobre o que estamos a fazer, uma presença deep cut. Falaste da tua paixão pelos sopros, e sendo tência não é mais do que um mísero flash
Manchester. Essa ideia surgiu após a tua portanto é muito bom tê-lo na equipa. estes fundamentais na vossa colaboração Como foi a tua escrita de letras desta vez? de luz no enorme caminho do universo,
experiência com os Sightless Pit? E como é que uma pessoa que toca clarine- com Merzbow, parecem estar mais em foco Foi bastante natural, fui-me apercebendo de aceitar essa merda enquanto sentia medo
Até foi mais por causa das colaborações Imagino que seja muito diferente de gravar te e vive na Austrália acabou num disco de de novo no novo álbum. várias coisas ao longo dos últimos anos, en- existencial, pensar na minha relação com o
com os The Body, que foram feitas as duas com o Kurt Ballou. Full Of Hell? Eu estou sempre a puxar nessa direcção. quanto estava aqui a passar-me da cabeça. universo e o que isso pode significar. Não
com ele também. Quando vimos a forma São dois génios que existem em espaços Eu sou um fã enorme da banda del, os Su- Tínhamos de facto muito trompete na co- Nunca me procurei obrigar a escrever sobre tenho respostas, o álbum é essencialmen-
como ele aborda álbuns, é tão fora daquilo a criativos completamente diferentes. Não ffer, que tocavam powerviolence, conhece- laboração com Merzbow, mas acho que o algo específico, mas um dos temas foi a falta te uma crise, é o procurar de algum tipo de
que estamos habituados, que é perfeito para consigo comentar na parte da engenharia, mo-nos há seis ou sete anos quando fomos Spencer não quer exagerar nisso porque já de conforto de estar em público, sempre me iluminação interior. Acaba por ser a mesma
uma banda como nós que quer sempre no- mas a forma de trabalhar do Seth, que vem tocar à Austrália e criámos uma amizade foi feito antes por outras bandas e de forma senti estranho a expor-me e a pensar naqui- merda de sempre, percebo hoje que sem-
vas experiências. Quase que fomos trabalhar de fora do metal e hardcore do Kurt, parece- desde então. Eu sempre gostei de instrumen- muito melhor. Eu simplesmente gosto de lo que devia ser e o que era suposto fazer. pre escrevi sobre isto, simplesmente com
com ele para o último, e desta vez sentimos -me muito única. É muito interessante ter um tos de sopro e acho que ficam muito bem na ouvir esses instrumentos na nossa música, Quero tanto que esta banda seja o melhor menos urgência e sem saber sobre o que
que estávamos prontos. Ele tem uma pers- gajo que grava toda esta música não-tradi- nossa música. Desta vez queríamos um som portanto vai haver sempre algum debate in- possível que isso às vezes gera confusão estava a escrever.

26 LOUD! LOUD! 27
FULL OF HELL
terno sobre até onde ir com eles e desta vez sobre aquilo que devo fazer. Conforme fico
vieram mais ao de cima do que nos últimos mais velho, acabo por me preocupar menos
discos. Pessoalmente, só espero ter mais de- e menos com isso. Felizmente nunca me for-
les no futuro. cei a escrever coisas que não queria fazer e
agora estou a aproveitar. As letras acabaram
Há muito debate entre vocês durante a es- por ser bastante pessoais, eu estava a lidar
crita? com várias merdas, ainda estou, e acho que
Nem por isso. Sempre foram o Spencer e são ideias com as quais as pessoas se po-
o Dave a tratar da maioria da música, en- dem relacionar.
quanto eu trato das letras e da estética.
Acho que nunca tivemos uma discussão Na «Eroding Shell» pareces explorar um
acesa, quando me juntei à banda eu e o pouco a ideia do medo que podemos sentir
Spencer concluímos que queríamos mis- numa multidão. Trata-se de uma experiên-
turar as cenas rápidas de que gostamos cia pessoal?
com merdas extremas e noise, expulsámos É sem dúvida aplicável nesse sentido literal
imediatamente os outros membros porque de estar num público enorme, é uma expe-
eles não queriam essa direcção e desde en- riência assustadora. É uma canção que fala
tão temos sido uma frente unida. Eu estou sobre ter medo de pessoas, de seres huma-
finalmente a sentir-me confortável com o nos, e do potencial dessas pessoas em con-
que fazemos, no sentido em que sinto que junto. A humanidade é como que uma mana-
metade dos elogios que nos fazem até têm da que se move colectivamente às mãos de
algum sentido, até aqui sempre achei um ideologias. Numa multidão, as pessoas não
exagero. pensam realmente no que estão a fazer no

“Eu gosto de cenas arrastadas,


JARDIM DA e como não somos uma banda
verdadeira de grindcore, podemos

HUMANIDADE fazer o que quisermos. Mais, como


não somos verdadeiramente nada,
podemos fazer tudo, não interessa
INSIGNIFICANTE
O quinto álbum dos FULL OF HELL, «Garden
cional, desde a pop experimental, ao noise,
ao folk… Acho que ele acaba por trazer umas
não tradicional; temos o Sam que é muito
bom com o saxofone alto mas queríamos
realmente.”
Sentes que aquela dose extra de noise rock
à Harvey Milk é um resultado da experiência
momento, e assusta-me o potencial que têm
nessa situação.
Of Burning Apparitions», é mais uma prova de sensibilidades bastante únicas para este
mundo da música extrema.
uma voz diferente. recente do Spencer com os Eye Flys?
Ele próprio admite-o. Tocar com essa malta Outra ideia que exploras, esta mais profun-
vitalidade e não-conformidade estilística dada pelo Esse é portanto mais um exemplo do quão foi uma experiência muito fixe para ele, que da, é a noção de espiritualidade. Conside-
Continuando um pouco por fora, vocês há importantes as digressões e a vossa abor- sempre gostou do género. Gravar um disco ras-te uma pessoa espiritual?
quarteto da Pennsylvania. Há grindcore, há death uns anos gravaram um split com os Intensi- dagem DIY às mesmas têm sido. fez com que esses sons escoassem para a É uma grande questão no álbum e algo que
metal, mas também há muito noise, instrumentos de ve Care, e desta vez tiveram o Ryan Bloomer Desde o momento em que eu e o Spencer nossa música. Por acaso quando estávamos tenho vindo a ponderar com muita frequên-
a fazer noise como convidado. Correu bem, nos conhecemos, que estamos naquele ce- a falar no início do álbum, surgiu a ideia de cia. Sempre tive uma enorme ausência de
sopro e, desta feita, uma dose saudável de noise rock, portanto. nário get in the van. Queríamos imenso fazer fazer um disco todo arrastado e eu estava ideias sobre deus, os meus pais não me
tudo a decorrer em simultâneo enquanto o vocalista Sim, o Ryan é um gajo pesado na cena do
noise e o Spencer tinha interesse em saber
a banda, começámos logo a viajar e nunca
parámos. Durante a pandemia, acabou por
todo entusiasmado com a ideia, que um dia
vamos certamente concretizar. Desta vez,
deram uma educação religiosa e sempre
me considerei puramente ateu. Os últimos
(e homem da maquinaria) Dylan Walker, com quem se ele estaria disponível para nos ajudar a ser bom perceber que ainda podemos ter conforme as músicas foram saindo eram anos mudaram isso, mas não te sei dizer
tratar do noise neste disco e ele alinhou. Ado- uma experiência que nos satisfaz mesmo blastbeats por toda a parte, simplesmente em que é que acredito. Acho que sempre fui
a LOUD! não perdeu a oportunidade de falar, berra ramos Intensive Care e adoramos o Ryan. O sem as digressões. É uma variável enorme aconteceu assim. Eu gosto de cenas arras- uma pessoa espiritual sem direcção. Duran-
versos de angústia existencialista. Spencer queria que os convidados neste dis- e eu não sabia como é que lidaria com a au- tadas, e como não somos uma banda ver- te a escrita para este álbum estava mental-
co fossem mais subtis, daí não termos vo- sência dela, mas agora sei que continuaria dadeira de grindcore, podemos fazer o que mente num local bastante negro, foi um pe-
LUÍS PIRES JESS DANKMEYER calistas extras, porque queríamos um álbum com esta banda mesmo que as digressões quisermos. Mais, como não somos verda- ríodo para examinar essas ideias, o pensar
mais insular. O mesmo se aplica à Shoshana, nunca voltassem. deiramente nada, podemos fazer tudo, não na minha impermanência. No fundo estava
o clarinete baixo del é fantástico, mas é mais interessa realmente. a tentar aceitar a ideia de que a minha exis-
Este foi o vosso primeiro disco com o Seth pectiva fresca sobre o que estamos a fazer, uma presença deep cut. Falaste da tua paixão pelos sopros, e sendo tência não é mais do que um mísero flash
Manchester. Essa ideia surgiu após a tua portanto é muito bom tê-lo na equipa. estes fundamentais na vossa colaboração Como foi a tua escrita de letras desta vez? de luz no enorme caminho do universo,
experiência com os Sightless Pit? E como é que uma pessoa que toca clarine- com Merzbow, parecem estar mais em foco Foi bastante natural, fui-me apercebendo de aceitar essa merda enquanto sentia medo
Até foi mais por causa das colaborações Imagino que seja muito diferente de gravar te e vive na Austrália acabou num disco de de novo no novo álbum. várias coisas ao longo dos últimos anos, en- existencial, pensar na minha relação com o
com os The Body, que foram feitas as duas com o Kurt Ballou. Full Of Hell? Eu estou sempre a puxar nessa direcção. quanto estava aqui a passar-me da cabeça. universo e o que isso pode significar. Não
com ele também. Quando vimos a forma São dois génios que existem em espaços Eu sou um fã enorme da banda del, os Su- Tínhamos de facto muito trompete na co- Nunca me procurei obrigar a escrever sobre tenho respostas, o álbum é essencialmen-
como ele aborda álbuns, é tão fora daquilo a criativos completamente diferentes. Não ffer, que tocavam powerviolence, conhece- laboração com Merzbow, mas acho que o algo específico, mas um dos temas foi a falta te uma crise, é o procurar de algum tipo de
que estamos habituados, que é perfeito para consigo comentar na parte da engenharia, mo-nos há seis ou sete anos quando fomos Spencer não quer exagerar nisso porque já de conforto de estar em público, sempre me iluminação interior. Acaba por ser a mesma
uma banda como nós que quer sempre no- mas a forma de trabalhar do Seth, que vem tocar à Austrália e criámos uma amizade foi feito antes por outras bandas e de forma senti estranho a expor-me e a pensar naqui- merda de sempre, percebo hoje que sem-
vas experiências. Quase que fomos trabalhar de fora do metal e hardcore do Kurt, parece- desde então. Eu sempre gostei de instrumen- muito melhor. Eu simplesmente gosto de lo que devia ser e o que era suposto fazer. pre escrevi sobre isto, simplesmente com
com ele para o último, e desta vez sentimos -me muito única. É muito interessante ter um tos de sopro e acho que ficam muito bem na ouvir esses instrumentos na nossa música, Quero tanto que esta banda seja o melhor menos urgência e sem saber sobre o que
que estávamos prontos. Ele tem uma pers- gajo que grava toda esta música não-tradi- nossa música. Desta vez queríamos um som portanto vai haver sempre algum debate in- possível que isso às vezes gera confusão estava a escrever.

26 LOUD! LOUD! 27
WHITECHAPEL
Ao vosso oitavo álbum da carreira, ainda é novo para nós, esse álbum, que se sente em duzimos nesse álbum levaram directamente Gostamos de pensar que vão reagir bem.
possível sentir aquele frio na barriga quando pleno no novo. Já não nos sentimos enfia- a melodias mais ricas e mais perceptíveis Damos o benefício da dúvida às pessoas.
um novo trabalho está prestes a ser editado? dos dentro de uma caixa como antigamen- na música. Quando abrandas a cadência, é Espero que compreendam que sentimos
Depois de uma primeira metade da sua carreira forte- É mesmo, sim. Se não mais que antes, até! te, queremos experimentar coisas novas, como se abrisses espaço, espaço esse que que esta era a única maneira de continuar a
Sinto que este é o nosso melhor material, e isso deixa-nos sempre com a pica toda. podemos preencher com texturas várias. A contar esta história. Se fores um ser huma-
mente associada ao deathcore, os WHITECHAPEL co- e estou ansioso para ter feedback das pes- Neste momento, vejo à minha frente um fu- partir daí é como se tudo tivesse acontecido no [risos], acho que é fácil de perceber. Mas
meçaram a soltar-se um pouco. O último álbum, «The soas. Quando se é mais novo, somos mais turo enorme a escrever e tocar música, que em cadeia. Os ritmos mais lentos deram ori- se ergueste paredes à tua volta e só gostas
cépticos em relação à forma como as coi- não via necessariamente nos nossos pri- gem a mais melodia, e mais melodia teve o de uma cena, então também entendo se não
Valley», de 2019, foi o último passo de um processo de sas vão ser recebidas, há alguma insegu- meiros anos. Já não precisamos de escre- condão de inspirar o Phil [Bozeman, vocalista] gostares deste disco e dos próximos. Tudo é
libertação da “caixa” estilística onde estavam metidos, rança. Mas neste momento sentimo-nos
mais maduros e bastante confiantes, por
ver o que é esperado de nós, descobrimos
que podemos perfeitamente escrever vindo
a cantar em voz limpa, porque era algo que
complementava melhor os temas. E a cada
uma escolha, e está tudo bem.

e «Kin», para além de liricamente continuar a história isso só há mesmo razões para estar entu- directamente “das tripas”, que os resultados novidade que vamos introduzindo, estamos Já falas dos próximos com alguma proprie-
siasmado. são ainda melhores. Sinto-me mais inspira- constantemente a pensar noutras ideias. dade, já têm material novo ou pelo menos
contada nesse trabalho, mostra a banda de Knoxville, do, e sei que esse sentimento vai aumentar Mas sim, o «The Valley», como sugeriste, teve ideais soltas nesta altura?
no Tennessee, plenamente virada para o futuro, con- O «The Valley» foi um passo especialmente cada vez mais a partir daqui. um papel muito importante, decisivo. De- Sim sim, sem dúvida! Claro que não temos te-
importante para vocês? Parece ter sido o pois de fazermos esse álbum, as comportas mas completos, mas temos muitos esboços e
forme nos garantiu o guitarrista Ben Savage. culminar de algo, olhando agora com pers- Quando é que essa libertação começou a abriram-se de vez, e chegámos rapidamente ideias. Como sempre, ainda não sabemos ao
pectiva. tomar forma, és capaz de apontar? onde estamos agora, com o «Kin». que vai soar – só descobrimos isso quando nos
JOSÉ CARLOS SANTOS ALEX MORGAN Considero que sim. Em termos de história Sinto que é algo que já vinha a crescer há al- juntamos todos numa sala e começamos a fil-
contada, o «Kin» é uma continuação do guns anos. Diria que desde o «Whitechapel», Souberam logo o tipo de álbum que ia ser, trar tudo, aí é que a personalidade da música,
«The Valley». Abriu como que um mundo quando começámos a experimentar com ou foi difícil seguir o «The Valley» ao prin- através da banda, se revela. Para já é um monte
tempos mais lentos, e riffs mais angulares, de cípio? de ideias com potencial ainda em processo de
outro estilo. Os temas mais lentos que intro- Não sabíamos logo, não, confesso. Era algo recolha, veremos como será o resultado.

“A cada novidade que vamos


introduzindo, estamos constantemente
a pensar noutras ideias.”
que não estava claro, e isso ainda durou Ao fim destes anos todos, para além da es-
bastante tempo. Andámos um bocado às tabilidade da vossa formação – bateristas à
apalpadelas às escuras. Tudo começa com parte –, nunca houve grande actividade vos-
uma ideia, e tentamo-nos pôr na situação de sa em termos extra-Whitechapel. Ninguém
um fã: o que é que eu quero ouvir? Ou mais na banda teve alguma vez a tentação de se
especificamente ainda: depois de ouvir «The aventurar noutra coisa diferente?
Valley», o que é que eu quero ouvir agora? O Nunca, realmente. Quero que todas as mi-
princípio do álbum foi mesmo a «I Will Find nhas boas ideias vão para os Whitechapel.
You», quando conseguimos polir tudo e me- Tudo o que eu escrevo que possa soar a
ter aquele riff enorme em destaque. Soava- esta banda, vai para esta banda. Qualquer
-nos exactamente ao que pretendíamos, e outro projecto que eu tivesse, seria estar a
percebemos que era aquele o caminho em dispersar boas ideias, e no fim de contas
termos sonoros. Tendo esse tema quase alguém iria sofrer com isso. Para além de
concluído como base, outros riffs e ideias que iríamos saturar os fãs, se tivéssemos
foram encaixando no sítio, tudo parecia com- várias bandas relacionadas connosco a
plementar-se. Toda a arte começa com uma funcionar ao mesmo tempo. O resto do
ideia, e depois vai-se trabalhando até chegar pessoal nos Whitechapel também pensa
à forma que queremos. E foi assim. assim, já falámos disso algumas vezes.
Enfim, claro que toco música com ami-
O Phil falou com vocês sobre a performance gos, em Nashville, onde vivo. Coisas muito
dele no álbum? Terá sido um desafio gran- funky, geralmente. Sou grande fã do John
de, a quantidade de voz limpa que usa, e as Frusciante, e com o grupo de amigos mú-
várias formas como a aplica? sicos que tenho, tocamos esse tipo de
Sabes que ele não é de falar muito nessas coi- música, que sei que nunca vai fazer parte
sas. [risos] Mas acredito que sim, que tenha de um álbum dos Whitechapel. Não é nada
sido um desafio. Nós escrevemos sempre a público nem nada disso, só nos juntamos
música primeiro, sequenciamos o álbum todo às vezes e tocamos, para estar uns com os

AVENIDAS
musicalmente, e depois o Phil escreve as letras outros e para “coçar essa comichão” musi-
do princípio ao fim. Mas da minha parte, o que cal. E acho que isso é saudável para a mi-
me pareceu ter sido um desafio maior para ele nha actividade principal.
foi a voz limpa em registo mais agudo. Lem-
bro-me da parte final do tema-título, que tem A tua toada é de optimismo inabalável, hoje
uma parte num registo vocal altíssimo, depois em dia. Sentes que estão no ponto alto da
do solo de guitarra, onde faz uma espécie de vossa carreira como Whitechapel?
grito cantado, acho que é a nota mais alta que Sim, é um ponto alto, digo-o claramente. Mas

NOVAS
ele já atingiu, e sei que isso foi um desafio. demorou muito a chegar aqui. Não foi nada
Mas no geral, durante a gravação, pareceu to- fácil. Fizemos por merecê-lo. Muito traba-
talmente calmo e à vontade. lho, muita dedicação. Durante muitos anos
foi frustrante, admito. Sentíamo-nos presos,
O press release diz que o álbum é tão rock super categorizados. Chegar ao ponto onde
como metal. Achas que os vossos fãs vão estamos demora tempo, e requer muito tra-
reagir bem a isto? balho. Mas vale a pena.

28 LOUD! LOUD! 29
WHITECHAPEL
Ao vosso oitavo álbum da carreira, ainda é novo para nós, esse álbum, que se sente em duzimos nesse álbum levaram directamente Gostamos de pensar que vão reagir bem.
possível sentir aquele frio na barriga quando pleno no novo. Já não nos sentimos enfia- a melodias mais ricas e mais perceptíveis Damos o benefício da dúvida às pessoas.
um novo trabalho está prestes a ser editado? dos dentro de uma caixa como antigamen- na música. Quando abrandas a cadência, é Espero que compreendam que sentimos
Depois de uma primeira metade da sua carreira forte- É mesmo, sim. Se não mais que antes, até! te, queremos experimentar coisas novas, como se abrisses espaço, espaço esse que que esta era a única maneira de continuar a
Sinto que este é o nosso melhor material, e isso deixa-nos sempre com a pica toda. podemos preencher com texturas várias. A contar esta história. Se fores um ser huma-
mente associada ao deathcore, os WHITECHAPEL co- e estou ansioso para ter feedback das pes- Neste momento, vejo à minha frente um fu- partir daí é como se tudo tivesse acontecido no [risos], acho que é fácil de perceber. Mas
meçaram a soltar-se um pouco. O último álbum, «The soas. Quando se é mais novo, somos mais turo enorme a escrever e tocar música, que em cadeia. Os ritmos mais lentos deram ori- se ergueste paredes à tua volta e só gostas
cépticos em relação à forma como as coi- não via necessariamente nos nossos pri- gem a mais melodia, e mais melodia teve o de uma cena, então também entendo se não
Valley», de 2019, foi o último passo de um processo de sas vão ser recebidas, há alguma insegu- meiros anos. Já não precisamos de escre- condão de inspirar o Phil [Bozeman, vocalista] gostares deste disco e dos próximos. Tudo é
libertação da “caixa” estilística onde estavam metidos, rança. Mas neste momento sentimo-nos
mais maduros e bastante confiantes, por
ver o que é esperado de nós, descobrimos
que podemos perfeitamente escrever vindo
a cantar em voz limpa, porque era algo que
complementava melhor os temas. E a cada
uma escolha, e está tudo bem.

e «Kin», para além de liricamente continuar a história isso só há mesmo razões para estar entu- directamente “das tripas”, que os resultados novidade que vamos introduzindo, estamos Já falas dos próximos com alguma proprie-
siasmado. são ainda melhores. Sinto-me mais inspira- constantemente a pensar noutras ideias. dade, já têm material novo ou pelo menos
contada nesse trabalho, mostra a banda de Knoxville, do, e sei que esse sentimento vai aumentar Mas sim, o «The Valley», como sugeriste, teve ideais soltas nesta altura?
no Tennessee, plenamente virada para o futuro, con- O «The Valley» foi um passo especialmente cada vez mais a partir daqui. um papel muito importante, decisivo. De- Sim sim, sem dúvida! Claro que não temos te-
importante para vocês? Parece ter sido o pois de fazermos esse álbum, as comportas mas completos, mas temos muitos esboços e
forme nos garantiu o guitarrista Ben Savage. culminar de algo, olhando agora com pers- Quando é que essa libertação começou a abriram-se de vez, e chegámos rapidamente ideias. Como sempre, ainda não sabemos ao
pectiva. tomar forma, és capaz de apontar? onde estamos agora, com o «Kin». que vai soar – só descobrimos isso quando nos
JOSÉ CARLOS SANTOS ALEX MORGAN Considero que sim. Em termos de história Sinto que é algo que já vinha a crescer há al- juntamos todos numa sala e começamos a fil-
contada, o «Kin» é uma continuação do guns anos. Diria que desde o «Whitechapel», Souberam logo o tipo de álbum que ia ser, trar tudo, aí é que a personalidade da música,
«The Valley». Abriu como que um mundo quando começámos a experimentar com ou foi difícil seguir o «The Valley» ao prin- através da banda, se revela. Para já é um monte
tempos mais lentos, e riffs mais angulares, de cípio? de ideias com potencial ainda em processo de
outro estilo. Os temas mais lentos que intro- Não sabíamos logo, não, confesso. Era algo recolha, veremos como será o resultado.

“A cada novidade que vamos


introduzindo, estamos constantemente
a pensar noutras ideias.”
que não estava claro, e isso ainda durou Ao fim destes anos todos, para além da es-
bastante tempo. Andámos um bocado às tabilidade da vossa formação – bateristas à
apalpadelas às escuras. Tudo começa com parte –, nunca houve grande actividade vos-
uma ideia, e tentamo-nos pôr na situação de sa em termos extra-Whitechapel. Ninguém
um fã: o que é que eu quero ouvir? Ou mais na banda teve alguma vez a tentação de se
especificamente ainda: depois de ouvir «The aventurar noutra coisa diferente?
Valley», o que é que eu quero ouvir agora? O Nunca, realmente. Quero que todas as mi-
princípio do álbum foi mesmo a «I Will Find nhas boas ideias vão para os Whitechapel.
You», quando conseguimos polir tudo e me- Tudo o que eu escrevo que possa soar a
ter aquele riff enorme em destaque. Soava- esta banda, vai para esta banda. Qualquer
-nos exactamente ao que pretendíamos, e outro projecto que eu tivesse, seria estar a
percebemos que era aquele o caminho em dispersar boas ideias, e no fim de contas
termos sonoros. Tendo esse tema quase alguém iria sofrer com isso. Para além de
concluído como base, outros riffs e ideias que iríamos saturar os fãs, se tivéssemos
foram encaixando no sítio, tudo parecia com- várias bandas relacionadas connosco a
plementar-se. Toda a arte começa com uma funcionar ao mesmo tempo. O resto do
ideia, e depois vai-se trabalhando até chegar pessoal nos Whitechapel também pensa
à forma que queremos. E foi assim. assim, já falámos disso algumas vezes.
Enfim, claro que toco música com ami-
O Phil falou com vocês sobre a performance gos, em Nashville, onde vivo. Coisas muito
dele no álbum? Terá sido um desafio gran- funky, geralmente. Sou grande fã do John
de, a quantidade de voz limpa que usa, e as Frusciante, e com o grupo de amigos mú-
várias formas como a aplica? sicos que tenho, tocamos esse tipo de
Sabes que ele não é de falar muito nessas coi- música, que sei que nunca vai fazer parte
sas. [risos] Mas acredito que sim, que tenha de um álbum dos Whitechapel. Não é nada
sido um desafio. Nós escrevemos sempre a público nem nada disso, só nos juntamos
música primeiro, sequenciamos o álbum todo às vezes e tocamos, para estar uns com os

AVENIDAS
musicalmente, e depois o Phil escreve as letras outros e para “coçar essa comichão” musi-
do princípio ao fim. Mas da minha parte, o que cal. E acho que isso é saudável para a mi-
me pareceu ter sido um desafio maior para ele nha actividade principal.
foi a voz limpa em registo mais agudo. Lem-
bro-me da parte final do tema-título, que tem A tua toada é de optimismo inabalável, hoje
uma parte num registo vocal altíssimo, depois em dia. Sentes que estão no ponto alto da
do solo de guitarra, onde faz uma espécie de vossa carreira como Whitechapel?
grito cantado, acho que é a nota mais alta que Sim, é um ponto alto, digo-o claramente. Mas

NOVAS
ele já atingiu, e sei que isso foi um desafio. demorou muito a chegar aqui. Não foi nada
Mas no geral, durante a gravação, pareceu to- fácil. Fizemos por merecê-lo. Muito traba-
talmente calmo e à vontade. lho, muita dedicação. Durante muitos anos
foi frustrante, admito. Sentíamo-nos presos,
O press release diz que o álbum é tão rock super categorizados. Chegar ao ponto onde
como metal. Achas que os vossos fãs vão estamos demora tempo, e requer muito tra-
reagir bem a isto? balho. Mas vale a pena.

28 LOUD! LOUD! 29
ILUMINADA ESCURIDÃO
Porventura a mais importante banda da história do grunge (ou
segunda, depende a quem perguntarem), os Alice In Chains são
hoje em dia a mais resiliente manifestação do som de Seattle
e muito disso se deve ao seu mentor, guitarrista, e vocalista,
JERRY CANTRELL. Três anos volvidos do lançamento de «Rainier
Fog», o lendário músico prepara-se para lançar «Brighten», o seu
terceiro disco a solo da carreira e o primeiro desde «Degradation
Trip Volumes 1 & 2» de 2002. Para o novo trabalho, para além do
productor Tyler Bates, que já gravou uma série de bandas-sonoras
com realizadores como James Gunn, Rob Zombie, e Zack Snyder,
recrutou ainda uma série de músicos de renome na nossa praça,
com Greg Puciato e Duff McKagan à cabeça. A LOUD! não perdeu a
oportunidade para uma profunda conversa sobre o novo álbum e
sobre a génese de Jerry Cantrell enquanto músico.
LUÍS PIRES JONATHAN WEINER

Já há dezanove anos que não tínhamos A base do álbum foi um quarteto composto dessas ideias já existem há meses ou até
um álbum a solo teu. Como surgiu o «Bri- por mim, pelo Tyler Bates, pelo Paul Fig, e anos. Pela altura que te chega uma ideia
ghten»? pelo Joe Barresi. [NR: mistura] Entre nós os aos ouvidos, já nós tivemos de viver com ela
Provavelmente em 2019, quando começá- quatro, toda a gente foi fundamental para durante imenso tempo [risos] e nem todas
mos a terminar as digressões de apresenta- concretizar a ideia, para a gravar, e para as ideias acabam por chegar a um álbum.
ção do «Rainier Fog», nessa altura comecei convidar um grupo fantástico de músicos. Durante um processo criativo, tens todas
a pensar na ideia de fazer um disco a solo. Toda a gente trouxe alguém. Eu já tinha to- estas ideias que nunca foram lançadas e
Normalmente temos sempre uma pausa de- cado com o Tyler e com o Gil Sharone [ba- que são boas ideias, e com a «Atone» em
pois de uma campanha de álbum, porque é teria, Team Sleep e ex-The Dillinger Escape particular, acho que era uma ideia muito
um compromisso de cerca de três anos, des- Plan] e o Gil estava numa banda com o Greg boa que simplesmente nunca foi desenvol-
de a escrita, à gravação, e respectiva digres- Puciato [guitarra e voz], pelo que o Greg apa- vida até se tornar naquela canção, na qual
são de apresentação. Apercebemo-nos que rece no disco graças ao Gil. Eu convidei o tenho muito orgulho, acho que está muito
é uma boa ideia afastarmo-nos um bocado Duff [McKagan, baixo, Guns N’ Roses] para boa e finalmente na sua verdadeira forma.
uns dos outros, e criarmos esse espaço en-
tre nós. Acho que é uma forma saudável de
lidar com a banda e portanto 2020 acabou
por não nos afectar nesse aspecto. Já não “Em geral escrevo em fluxo de
fazia um disco a solo há tanto tempo porque
estava sempre a trabalhar no meu day job, consciência. Às vezes nem sei bem
o que raio ou sobre que raio escrevi
que são os Alice In Chains. [risos] Ou night
job, como lhe preferires chamar. [risos] Tive a
sorte de, quando a pandemia aconteceu, ter
algo para trabalhar que não requeria concer-
tos e felizmente já tínhamos a maioria dos
até anos mais tarde.”
básicos gravados. Para o resto, tínhamos
outros músicos que ainda queríamos gra- aparecer, o Joe Barresi trouxe o Abe Laboriel Dito isto, ficar preso ao tempo ao qual já tive
var, mas o esqueleto estava pronto e traba- Jr. [bateria, Paul McCartney], e o Tyler trouxe uma ideia parece-me pouco relevante, pre-
lhei com o meu engenheiro Paul Fig e com o Michael Rozon, que é um tipo fenomenal cisamente porque toda a música que ouves
o Tyler [Bates, produtor]. Foi essencialmente com a pedal steel guitar, o Jordan Lewis para de um certo artista é composta por ideias
trabalho em pares, sempre com a máscara, os teclados, e a filha dele, a Lola Bates, que que já andam na cabeça da pessoa há um
a usar Purell [NR: desinfectante de mãos], e fez vozes de acompanhamento muito boas tempo. Há coisas que acontecem espon-
a tentar minimizar a nossa exposição tanto também. taneamente, claro, e nós também fazemos
quanto possível. Felizmente conseguimos música assim, mas a maioria do material é
terminar tudo sem ninguém adoecer. Um dos singles de apresentação, o «Ato- uma colagem de ideias e de partes já escri-
ne», tem um ambiente reminiscente das tas no passado. Todos os álbuns dos Alice
Li uma referência tua ao Tyler Bates e ao composições do Morricone para os filmes In Chains têm uma mão cheia de canções
Paul Fig como parceiros de composição e do Sergio Leone, que é algo que já há umas que provavelmente surgiram em sessões de
parece em geral que tiveram um envolvi- décadas querias fazer, não é? discos anteriores e simplesmente não fo-
mento muito maior do que o do produtor e Não é assim tão invulgar isso acontecer. ram usadas ou não se encaixavam naquele
engenheiro habituais. Sempre que ouves um álbum, algumas trabalho específico.

30 LOUD! LOUD! 31
ILUMINADA ESCURIDÃO
Porventura a mais importante banda da história do grunge (ou
segunda, depende a quem perguntarem), os Alice In Chains são
hoje em dia a mais resiliente manifestação do som de Seattle
e muito disso se deve ao seu mentor, guitarrista, e vocalista,
JERRY CANTRELL. Três anos volvidos do lançamento de «Rainier
Fog», o lendário músico prepara-se para lançar «Brighten», o seu
terceiro disco a solo da carreira e o primeiro desde «Degradation
Trip Volumes 1 & 2» de 2002. Para o novo trabalho, para além do
productor Tyler Bates, que já gravou uma série de bandas-sonoras
com realizadores como James Gunn, Rob Zombie, e Zack Snyder,
recrutou ainda uma série de músicos de renome na nossa praça,
com Greg Puciato e Duff McKagan à cabeça. A LOUD! não perdeu a
oportunidade para uma profunda conversa sobre o novo álbum e
sobre a génese de Jerry Cantrell enquanto músico.
LUÍS PIRES JONATHAN WEINER

Já há dezanove anos que não tínhamos A base do álbum foi um quarteto composto dessas ideias já existem há meses ou até
um álbum a solo teu. Como surgiu o «Bri- por mim, pelo Tyler Bates, pelo Paul Fig, e anos. Pela altura que te chega uma ideia
ghten»? pelo Joe Barresi. [NR: mistura] Entre nós os aos ouvidos, já nós tivemos de viver com ela
Provavelmente em 2019, quando começá- quatro, toda a gente foi fundamental para durante imenso tempo [risos] e nem todas
mos a terminar as digressões de apresenta- concretizar a ideia, para a gravar, e para as ideias acabam por chegar a um álbum.
ção do «Rainier Fog», nessa altura comecei convidar um grupo fantástico de músicos. Durante um processo criativo, tens todas
a pensar na ideia de fazer um disco a solo. Toda a gente trouxe alguém. Eu já tinha to- estas ideias que nunca foram lançadas e
Normalmente temos sempre uma pausa de- cado com o Tyler e com o Gil Sharone [ba- que são boas ideias, e com a «Atone» em
pois de uma campanha de álbum, porque é teria, Team Sleep e ex-The Dillinger Escape particular, acho que era uma ideia muito
um compromisso de cerca de três anos, des- Plan] e o Gil estava numa banda com o Greg boa que simplesmente nunca foi desenvol-
de a escrita, à gravação, e respectiva digres- Puciato [guitarra e voz], pelo que o Greg apa- vida até se tornar naquela canção, na qual
são de apresentação. Apercebemo-nos que rece no disco graças ao Gil. Eu convidei o tenho muito orgulho, acho que está muito
é uma boa ideia afastarmo-nos um bocado Duff [McKagan, baixo, Guns N’ Roses] para boa e finalmente na sua verdadeira forma.
uns dos outros, e criarmos esse espaço en-
tre nós. Acho que é uma forma saudável de
lidar com a banda e portanto 2020 acabou
por não nos afectar nesse aspecto. Já não “Em geral escrevo em fluxo de
fazia um disco a solo há tanto tempo porque
estava sempre a trabalhar no meu day job, consciência. Às vezes nem sei bem
o que raio ou sobre que raio escrevi
que são os Alice In Chains. [risos] Ou night
job, como lhe preferires chamar. [risos] Tive a
sorte de, quando a pandemia aconteceu, ter
algo para trabalhar que não requeria concer-
tos e felizmente já tínhamos a maioria dos
até anos mais tarde.”
básicos gravados. Para o resto, tínhamos
outros músicos que ainda queríamos gra- aparecer, o Joe Barresi trouxe o Abe Laboriel Dito isto, ficar preso ao tempo ao qual já tive
var, mas o esqueleto estava pronto e traba- Jr. [bateria, Paul McCartney], e o Tyler trouxe uma ideia parece-me pouco relevante, pre-
lhei com o meu engenheiro Paul Fig e com o Michael Rozon, que é um tipo fenomenal cisamente porque toda a música que ouves
o Tyler [Bates, produtor]. Foi essencialmente com a pedal steel guitar, o Jordan Lewis para de um certo artista é composta por ideias
trabalho em pares, sempre com a máscara, os teclados, e a filha dele, a Lola Bates, que que já andam na cabeça da pessoa há um
a usar Purell [NR: desinfectante de mãos], e fez vozes de acompanhamento muito boas tempo. Há coisas que acontecem espon-
a tentar minimizar a nossa exposição tanto também. taneamente, claro, e nós também fazemos
quanto possível. Felizmente conseguimos música assim, mas a maioria do material é
terminar tudo sem ninguém adoecer. Um dos singles de apresentação, o «Ato- uma colagem de ideias e de partes já escri-
ne», tem um ambiente reminiscente das tas no passado. Todos os álbuns dos Alice
Li uma referência tua ao Tyler Bates e ao composições do Morricone para os filmes In Chains têm uma mão cheia de canções
Paul Fig como parceiros de composição e do Sergio Leone, que é algo que já há umas que provavelmente surgiram em sessões de
parece em geral que tiveram um envolvi- décadas querias fazer, não é? discos anteriores e simplesmente não fo-
mento muito maior do que o do produtor e Não é assim tão invulgar isso acontecer. ram usadas ou não se encaixavam naquele
engenheiro habituais. Sempre que ouves um álbum, algumas trabalho específico.

30 LOUD! LOUD! 31
Enquanto compositor isso significa que es- tória. A forma como abordo as letras é tentar que encontrei o meu próprio caminho. Nesse
tás sempre a escrever ideias para mais tar- que elas não sejam demasiado literais e não sentido, é algo que tento transportar para o
de ou são coisas que te ficam na cabeça? ter álbuns em que tens uma canção sobre que faço hoje em dia com a banda, sozinho,
Tenho de as gravar, senão esqueço-me! [ri- isto e outra sobre aquilo. Não é assim que e com outros músicos.
sos] Há coisas que ficam, mas a maioria das escrevo, tento escrever algo que se aplique
ideias são efémeras a não ser que as grave em níveis diferentes e em geral escrevo em Como acabou por correr a interacção com
de uma forma ou outra. Aprendi bastante fluxo de consciência. Às vezes nem sei bem este elenco de luxo que recrutaste para o
cedo no processo de me tornar um compo- sobre que raio escrevi até anos mais tarde, «Brighten», alguns dos quais, como o Greg
sitor que tenho de gravar as coisas numa percebes? Pode até não ser só sobre uma Puciato, que vêm de um mundo diferente e
fita, ou no telemóvel, ou no computador, o coisa, pode ser sobre uma mistura de coisas. não tinham experiência de gravação conti-
que interessa é que elas estejam nalgum Para além disso, gosto de escrita que possa go?
lugar. [risos] O critério é simples, se for algo ser interpretada de uma série de formas dife- Bem, trabalhar com o Greg foi fantástico,
que me toque auditivamente, que me faça di- rentes, em que uma linha significa algo para damo-nos muito bem, ele é um tipo muito
zer “foda-se, isto é mesmo fixe,” então gravo- uma pessoa e algo completamente diferente versátil e talentoso. Conheci-o através do Gil
-o; não é algo que faça constantemente, mas para outra, adoro isso. Sharone que estava na altura nos The Dillin-
faço-o com regularidade, digamos assim. Ao ger Escape Plan com ele. Eu, o Gil e o Tyler
fazer isto ao longo de um período de anos, Isso aconteceu-me com os Alice In Chains, já tínhamos trabalhado numa canção para
fico com imensas ideias para explorar quan- cresci a interpretar canções de forma com- a banda-sonora do «John Wick: Chapter
do entro no processo de escrita. Claro que pletamente diferente do que era suposto, 2» chamada «A Job To Do», portanto já tí-
começo com as ideias novas, mas acabo mas acho que enquanto ouvinte é positiva nhamos essa história. Quando quis dar uns
concertos em Dezembro de 2019, o Tyler e
o Gil ajudaram-me a montar uma banda e
uma série desses músicos acabaram nes-
“Tens sempre de tentar ser mesmo te álbum: o Gil Sharone, o Greg Puciato, o
Tyler Bates, claro, o Michael Rozon, o Jor-
bom, tão bom quanto possível. dan Lewis. O resto dos músicos surgiram
como que do nada… Quer dizer, não foi do
Estás a apontar para um nível que é nada, foram outros membros da equipa que
os convidaram. O meu engenheiro e co-pro-

essencialmente inatingível, mas se dutor Paul Fig trouxe o Vincent Jones que
é um músico fantástico e que fez alguns

os teus objectivos forem assim tão


arranjos fenomenais de teclas e cordas, so-
bretudo na «Goodbye», que encerra o disco,
mas também pontualmente no resto dos te-
altos, consegues chegar francamente mas. O Joe Barresi, que misturou o disco e
também ajudou a determinar a direcção da
próximo durante a maioria do tempo.” produção, trouxe o Abe Laboriel Jr. e acho
que foi fundamental tê-lo a bordo; a mistura
do Gil e do Abe a tocar basicamente metade
do álbum cada um, ter dois bateristas talen-
sempre por revisitar ideias antigas que não essa criação de laços e interpretações pes- tosos com sensibilidades diferentes, penso
usei ou que não desenvolvi até ao fim, por- soais com as canções. que acrescentou imensa profundidade ao
que muitas vezes encontro partes que encai- Não só é positivo, é mesmo assim que deve disco.
xam na perfeição como o que estou a fazer ser! É como na analogia do quadro antigo;
naquele momento. Sinto-me bastante bem pegas em dez pessoas e pões um quadro à Consta que tiveste permissão do próprio El-
com a proporção de boas ideias que tenho frente delas; não vais ter duas interpretações ton John para incluir a tua versão da «Goo-
escrito ao longo dos anos, claro que nem iguais do que lá está, e as canções funcio- dbye» no disco, depois de ele ter participa-
tudo é bom e nem todas merecem ser edi- nam exactamente da mesma forma. O facto do na «Black Gives Way To Blue». Como é
tadas, mas há uma percentagem considera- de eu deixar as coisas em aberto, acho que que olhas para a vossa colaboração ao lon-
velmente alta de material que se traduziu em também se dá a essas interpretações, até go dos anos?
canções bastante boas. Digamos que tenho porque nunca gostei daquela ideia de fazer É uma curiosidade para mim sobre o que
uma batting average bastante boa, no senti- análise de significados canção a canção. decidi fazer com a minha vida. Em primeiro
do em que, se acho que uma cena é fixe, se lugar, o simples facto de o ter conseguido
me faz sentir alguma coisa, seja entusiasmo Falando em emoções criadas por canções, fazer com amigos, ter-me tornado num mú-
ou uma emoção, há uma probabilidade bas- fiquei com a impressão que há uma atmos- sico e compositor. Depois acabamos por
tante boa que vai acabar por fazer alguém fera inspiradora e positiva que é transversal ser uma comunidade bastante pequena de
sentir alguma coisa quando a ouvir. ao «Brighten», mesmo que este não esteja aberrações carnivalescas [risos] e de piratas
isento de escuridão. neste barco à deriva, mas conhecer o Elton
Também é assim que elaboras letras? Sim, esse ambiente está presente, mas e desenvolver uma pequena amizade com
As letras são sempre a cena mais fodida para quando fores ler as letras descobres que ele ao longo dos anos significa o mundo
mim, sem excepção, e são sempre a última não são muito diferentes do que escrevi no para mim. O facto de ele ter feito parte do
coisa que faço. Começo sempre pela música passado. É material novo e isso é fixe, é uma nosso regresso com o «Black Gives Way
e sou capaz de ter uma frase ou uma ideia nova colecção de canções, mas há um esti- To Blue», da nossa despedida para o Lay-
para um refrão ou assim, mas na maioria das lo e uma forma de misturar escuridão e luz, ne conforme seguíamos em frente, essa
vezes é só mesmo uma melodia vocal. Pala- de passar entre acordes maiores e menores canção é imensamente poderosa. Essa
vras são fodidas, man! [risos] É esse o mo- de forma não discordante, de forma que faz canção para mim relaciona-se com um par
mento em que as coisas se podem estragar, sentido. Penso que isso tem sido uma marca de canções dele, uma é a «Goodbye», cuja
mesmo quando tens uma boa ideia musical; da música dos Alice In Chains ao longo dos versão incluí neste álbum, e outra é a «Cur-
claro que eventualmente podes ter letras anos, bem como da minha forma de escre- tains», que é uma espécie de canção curta
que não são merdas para prémios literários ver música noutros contextos. Tenho orgulho e emotiva de um outro disco do Elton John.
e ter uma canção de rock’n’roll do caralho, nisso, é um tema que revisito com frequência [NR: «Captain Fantastic And The Brown Dirt
porque não é suposto ser grande literatura, e que ainda não fiquei sem formas de explo- Cowboy», de 1975] A «Black Gives Way To
é mesmo só rock, man. Mas tentas sempre rar, isso dá-me gozo. É uma linguagem que Blue» é como essas duas canções, é curta,
ter palavras e letras que tenham um impacto, desenvolvi com o meu parceiro de escrita é potente, é sombria, mas também é inspi-
provoquem uma emoção, e contem uma his- Layne Staley e com a minha banda, e penso radora ao mesmo tempo. No que diz respei-

32 LOUD! LOUD!
LOUD! 33
33
Enquanto compositor isso significa que es- tória. A forma como abordo as letras é tentar que encontrei o meu próprio caminho. Nesse
tás sempre a escrever ideias para mais tar- que elas não sejam demasiado literais e não sentido, é algo que tento transportar para o
de ou são coisas que te ficam na cabeça? ter álbuns em que tens uma canção sobre que faço hoje em dia com a banda, sozinho,
Tenho de as gravar, senão esqueço-me! [ri- isto e outra sobre aquilo. Não é assim que e com outros músicos.
sos] Há coisas que ficam, mas a maioria das escrevo, tento escrever algo que se aplique
ideias são efémeras a não ser que as grave em níveis diferentes e em geral escrevo em Como acabou por correr a interacção com
de uma forma ou outra. Aprendi bastante fluxo de consciência. Às vezes nem sei bem este elenco de luxo que recrutaste para o
cedo no processo de me tornar um compo- sobre que raio escrevi até anos mais tarde, «Brighten», alguns dos quais, como o Greg
sitor que tenho de gravar as coisas numa percebes? Pode até não ser só sobre uma Puciato, que vêm de um mundo diferente e
fita, ou no telemóvel, ou no computador, o coisa, pode ser sobre uma mistura de coisas. não tinham experiência de gravação conti-
que interessa é que elas estejam nalgum Para além disso, gosto de escrita que possa go?
lugar. [risos] O critério é simples, se for algo ser interpretada de uma série de formas dife- Bem, trabalhar com o Greg foi fantástico,
que me toque auditivamente, que me faça di- rentes, em que uma linha significa algo para damo-nos muito bem, ele é um tipo muito
zer “foda-se, isto é mesmo fixe,” então gravo- uma pessoa e algo completamente diferente versátil e talentoso. Conheci-o através do Gil
-o; não é algo que faça constantemente, mas para outra, adoro isso. Sharone que estava na altura nos The Dillin-
faço-o com regularidade, digamos assim. Ao ger Escape Plan com ele. Eu, o Gil e o Tyler
fazer isto ao longo de um período de anos, Isso aconteceu-me com os Alice In Chains, já tínhamos trabalhado numa canção para
fico com imensas ideias para explorar quan- cresci a interpretar canções de forma com- a banda-sonora do «John Wick: Chapter
do entro no processo de escrita. Claro que pletamente diferente do que era suposto, 2» chamada «A Job To Do», portanto já tí-
começo com as ideias novas, mas acabo mas acho que enquanto ouvinte é positiva nhamos essa história. Quando quis dar uns
concertos em Dezembro de 2019, o Tyler e
o Gil ajudaram-me a montar uma banda e
uma série desses músicos acabaram nes-
“Tens sempre de tentar ser mesmo te álbum: o Gil Sharone, o Greg Puciato, o
Tyler Bates, claro, o Michael Rozon, o Jor-
bom, tão bom quanto possível. dan Lewis. O resto dos músicos surgiram
como que do nada… Quer dizer, não foi do
Estás a apontar para um nível que é nada, foram outros membros da equipa que
os convidaram. O meu engenheiro e co-pro-

essencialmente inatingível, mas se dutor Paul Fig trouxe o Vincent Jones que
é um músico fantástico e que fez alguns

os teus objectivos forem assim tão


arranjos fenomenais de teclas e cordas, so-
bretudo na «Goodbye», que encerra o disco,
mas também pontualmente no resto dos te-
altos, consegues chegar francamente mas. O Joe Barresi, que misturou o disco e
também ajudou a determinar a direcção da
próximo durante a maioria do tempo.” produção, trouxe o Abe Laboriel Jr. e acho
que foi fundamental tê-lo a bordo; a mistura
do Gil e do Abe a tocar basicamente metade
do álbum cada um, ter dois bateristas talen-
sempre por revisitar ideias antigas que não essa criação de laços e interpretações pes- tosos com sensibilidades diferentes, penso
usei ou que não desenvolvi até ao fim, por- soais com as canções. que acrescentou imensa profundidade ao
que muitas vezes encontro partes que encai- Não só é positivo, é mesmo assim que deve disco.
xam na perfeição como o que estou a fazer ser! É como na analogia do quadro antigo;
naquele momento. Sinto-me bastante bem pegas em dez pessoas e pões um quadro à Consta que tiveste permissão do próprio El-
com a proporção de boas ideias que tenho frente delas; não vais ter duas interpretações ton John para incluir a tua versão da «Goo-
escrito ao longo dos anos, claro que nem iguais do que lá está, e as canções funcio- dbye» no disco, depois de ele ter participa-
tudo é bom e nem todas merecem ser edi- nam exactamente da mesma forma. O facto do na «Black Gives Way To Blue». Como é
tadas, mas há uma percentagem considera- de eu deixar as coisas em aberto, acho que que olhas para a vossa colaboração ao lon-
velmente alta de material que se traduziu em também se dá a essas interpretações, até go dos anos?
canções bastante boas. Digamos que tenho porque nunca gostei daquela ideia de fazer É uma curiosidade para mim sobre o que
uma batting average bastante boa, no senti- análise de significados canção a canção. decidi fazer com a minha vida. Em primeiro
do em que, se acho que uma cena é fixe, se lugar, o simples facto de o ter conseguido
me faz sentir alguma coisa, seja entusiasmo Falando em emoções criadas por canções, fazer com amigos, ter-me tornado num mú-
ou uma emoção, há uma probabilidade bas- fiquei com a impressão que há uma atmos- sico e compositor. Depois acabamos por
tante boa que vai acabar por fazer alguém fera inspiradora e positiva que é transversal ser uma comunidade bastante pequena de
sentir alguma coisa quando a ouvir. ao «Brighten», mesmo que este não esteja aberrações carnivalescas [risos] e de piratas
isento de escuridão. neste barco à deriva, mas conhecer o Elton
Também é assim que elaboras letras? Sim, esse ambiente está presente, mas e desenvolver uma pequena amizade com
As letras são sempre a cena mais fodida para quando fores ler as letras descobres que ele ao longo dos anos significa o mundo
mim, sem excepção, e são sempre a última não são muito diferentes do que escrevi no para mim. O facto de ele ter feito parte do
coisa que faço. Começo sempre pela música passado. É material novo e isso é fixe, é uma nosso regresso com o «Black Gives Way
e sou capaz de ter uma frase ou uma ideia nova colecção de canções, mas há um esti- To Blue», da nossa despedida para o Lay-
para um refrão ou assim, mas na maioria das lo e uma forma de misturar escuridão e luz, ne conforme seguíamos em frente, essa
vezes é só mesmo uma melodia vocal. Pala- de passar entre acordes maiores e menores canção é imensamente poderosa. Essa
vras são fodidas, man! [risos] É esse o mo- de forma não discordante, de forma que faz canção para mim relaciona-se com um par
mento em que as coisas se podem estragar, sentido. Penso que isso tem sido uma marca de canções dele, uma é a «Goodbye», cuja
mesmo quando tens uma boa ideia musical; da música dos Alice In Chains ao longo dos versão incluí neste álbum, e outra é a «Cur-
claro que eventualmente podes ter letras anos, bem como da minha forma de escre- tains», que é uma espécie de canção curta
que não são merdas para prémios literários ver música noutros contextos. Tenho orgulho e emotiva de um outro disco do Elton John.
e ter uma canção de rock’n’roll do caralho, nisso, é um tema que revisito com frequência [NR: «Captain Fantastic And The Brown Dirt
porque não é suposto ser grande literatura, e que ainda não fiquei sem formas de explo- Cowboy», de 1975] A «Black Gives Way To
é mesmo só rock, man. Mas tentas sempre rar, isso dá-me gozo. É uma linguagem que Blue» é como essas duas canções, é curta,
ter palavras e letras que tenham um impacto, desenvolvi com o meu parceiro de escrita é potente, é sombria, mas também é inspi-
provoquem uma emoção, e contem uma his- Layne Staley e com a minha banda, e penso radora ao mesmo tempo. No que diz respei-

32 LOUD! LOUD!
LOUD! 33
33
to à «Goodbye», é uma canção que sempre Water», que senão me engano é um álbum oceano ou um deserto, ou o escalar de uma particulares. Claro que há ferramentas novas Considero que tive imensa sorte nesse as- oferecidas, o que é uma pena. Torna-se
ressoou comigo, já a tinha tocado nos dois de nove canções [NR: é mesmo] e é a última montanha, todos requerem esforço, demo- a aparecer conforme o tempo passa e tens pecto, já que infelizmente ao longo dos anos necessário encontrar outras estratégias e
concertos em L.A. em Dezembro de 2019 e canção do «Brighten», que é outro álbum de ram um bom bocado, e assim que começas de te adaptar a essas mudanças e incorporar as artes têm decaído imenso nas escolas. tens por exemplo o museu MoPop em Sea-
é uma canção de encerramento muito boa, nove canções, também ele encerrado pela não podes parar e estás comprometido até o que te faz sentido nessa altura. Não penso Por artes, quero dizer a disponibilidade de ttle [NR: Museum Of Pop Culture] no qual os
pelo que decidimos mantê-la para o disco. O «Goodbye». ao fim. Estas analogias aplicam-se ao fazer que o desafio se torne mais fácil ou difícil, é aulas de arte, de aulas de música. Hoje em Alice In Chains foram homenageados o ano
Vincent Jones fez um arranjo maravilhoso um álbum, é um processo muito longo, muito o que é, e é um esforço que vale a pena. A dia são muito poucas as escolas que ainda passado com uma série de amigos nossos
de cordas e teclas, eu toquei um pouco de Diz muito sobre o quão intemporal uma can- complicado, e requer uma série de pessoal cada disco que começo, sai um “oh foda-se, têm uma componente artística forte. No a tocar canções da banda, e é um museu
guitarra e cantei. Depois queria confirmar ção é quando consegue encerrar desta for- para garantir que o álbum é segurado até à como caralho é que faço isto outra vez? [ri- geral, cresci num tempo em que este in- interactivo em que as crianças podem
com o Elton que ele estava okay com a mi- ma dois álbuns tão diferentes e separados sua compleição. sos] Consigo fazer isto outra vez?” Tens de vestimento existia, fui o beneficiário destas simplesmente pegar num baixo e tocá-lo,
nha versão da canção, foi uma questão de por tantas décadas. começar com um quadro em branco, sem aulas e tive alguns professores fantásticos. podem sentar-se atrás de um kit de bateria
respeito, percebes? Ele respondeu “absolu- Sem dúvida, até porque cada disco é uma Sentes que essa jornada se manteve igual nada, apagas tudo o que fizeste no passado, A música sempre foi algo que falou comigo e tocar, e aprender em conjunto, é fantás-
tamente, deves inclui-la no álbum, fizeste um espécie de cápsula temporal de um período para ti ao longo do tempo ou a tua expe- não te podes referir a nada disso, tens mes- desde uma tenra idade e nesses anos for- tico. É uma experiência interactiva, e acho
trabalho óptimo!” Isso teve um significado de tempo e de um grupo de pessoas que tra- riência aliada ao aparecimento de novas mo de começar do zero a cada vez, com um mativos tive o privilégio de ter professores que fizeram algo muito bom em tornar os
enorme para mim, foi mesmo muito fixe. A balham nele. Fazer um álbum é uma jornada ferramentas tecnológicas mudou-a consi- rascunho novo. É um desafio entusiasmante muito importantes, tive por exemplo profes- instrumentos e a música disponíveis para a
coincidência estranha é que a «Goodbye» é muito interessante, tens aqueles exemplos deravelmente? e assustador ao mesmo tempo. sores fantásticos de coro e de teatro, mas miudagem.
a última canção no «Madmen Across The de grandes percursos, seja o cruzar de um Penso que cada álbum tem os seus desafios mesmo o meu professor de matemática era
Mencionaste há pouco que tinhas desen- alguém com quem eu tocava guitarra de- Voltando à tal linguagem que foste de-
volvido uma linguagem própria ao longo pois da escola, eu e uns amigos íamos sem- senvolvendo… Nos teus anos formativos
dos anos e a verdade é que quando ouvi- pre rockar com o Brian. [risos] Ele adorava recebeste uma grande influência dos can-
mos canções tuas, tanto a solo como nos
Alice In Chains, há uma sonoridade à Jerry
Cantrell. Já te aconteceu escreveres algo
que sentias não ser a tua voz e que tinhas “Começas por aprender canções
que outras pessoas escreveram e
de remover?
Não sinto a escrita dessa maneira e para o
explicar tenho de mencionar parte do que
fizemos no início da carreira com os Alice
In Chains. Quando editámos o EP acústico
emulas os teus heróis, até que, de
imediatamente a seguir ao nosso primeiro
disco de rock bem sucedido, isto apanhou as repente, soas a ti próprio. Com o
passar do tempo, tornas-te no herói
pessoas desprevenidas, ficaram estilo “que
merda é esta?” [risos], mas vieram connos-
co na mesma quando arriscámos nesses
EPs acústicos com sensibilidades diferentes
daquelas que apresentámos nos dois pri-
de outra pessoa, e essas influências
meiros discos de rock. Primeiro tínhamos o
«Facelift» e seguimos caminho com o «Sap»,
são passadas. Isso é incrível, e é
depois fizemos o «Dirt» e demos-lhe sequên-
cia com o «Jar Of Flies». Foi um risco que mesmo muito bom fazer parte
corremos em ter esta variedade no tipo de
música que conseguimos fazer e acho que
isso fez toda a diferença; o termos corrido
dessa história.”
estes riscos no início, no fundo, abriu o cam-
po das possibilidades para nos permitir fazer rock e era um guitarrista bastante decente, tautores de country da velha guarda, tipo
o que quer que seja que estejamos a sentir aprendemos imensas coisas com ele. Tive Hank Williams e Merle Haggard, só para
ser necessário na altura. Podemos fazê-lo estes três professores no secundário e ain- mencionar dois. São influências que ainda
precisamente porque as pessoas podem da um no básico, o senhor Hall. Eles foram sentes estarem presentes na tua música, ou
confiar que temos um som, e que vamos tão importantes que quando o «Facelift» se apenas no contar de uma história com a tua
soar dessa forma, qualquer que seja a so- tornou álbum de ouro, enviei-lhes uma có- música?
noridade ou abordagem que tenhamos es- pia, porque reconheço que a orientação que Acho que é material que está sem dúvida
colhido para a ocasião. Tudo isto para dizer me deram foi muito importante. Quem me neste álbum, e que na verdade tem estado
que não sinto que quando escrevo algo, isso dera que mais jovens tivessem essa expo- na minha música desde o início. Em qual-
possa não soar a Jerry Cantrell ou a Alice sição à música neste ambiente escolar, por- quer que seja a música que tenha feito, seja
In Chains, porque tanto eu como os Alice In que acho que é mesmo importante. Claro a solo ou com Alice In Chains, são influên-
Chains podemos fazer o que quer que seja. que a matemática, a biologia, a geologia, a cias que podes ouvir. No entanto, acaba
No fundo, resume-se a uma só questão: “hey ciência, e essas merdas são todas impor- por ser tudo um grande mosaico. Eu não
isto é bom ou é só okay?” [risos] Tens sempre tantes também, mas acho que há qualquer me sento a tentar escrever uma canção à
de tentar ser mesmo bom, tão bom quanto coisa na música e nas artes dramáticas que Hank Williams porque o Hank Williams já
possível. Estás a apontar para um nível que é fundamental. Fazem parte das nossas fez essas canções, mas de vez em quando
é essencialmente inatingível, mas se os teus sociedades desde o início, tanto o drama ouço coisas e penso “oh, já sei de onde é
objectivos forem assim tão altos, conse- como a música, como o contar de histórias, que isto veio,” e tanto pode ser um artista
gues chegar francamente próximo durante a tudo isso são formas de comunicar tanto como uma combinação de vários que me
maioria do tempo. verbal como não verbalmente que temos faz sentido. Mas é uma influência filtrada
que manter. pela minha voz ou pela nossa voz como
Mudando de assunto e olhando um pouco banda, que é sem dúvida algo que desen-
para a forma como te tornaste no composi- Sem dúvida. A ideia de uma escola ter esse volves com o tempo. O que acho realmente
tor que és hoje, numa entrevista que deste acesso a amplificadores, salas de ensaio, fixe nisto tudo é que começas por emular
recentemente à Gibson para a série Icons, baterias, também dá um acesso à arte que pessoas, começas por aprender canções
mencionaste umas condições incríveis para deixa de depender da condição socio-eco- que outras pessoas escreveram, e emulas
a música nas tuas escolas básica e secun- nómica da pessoa, e isso parece-me funda- os teus heróis, até que de repente soas a
dária, ao ponto de teres salas de ensaio mental. ti próprio. Porventura, com o passar do
equipadas com tudo o que é preciso para, Exactamente. A verdade é que muitas des- tempo, tornas-te no herói de outra pessoa,
por exemplo, começares o dia a tocar ma- sas aulas que foram fundamentais para e essas influências são passadas. Isso é
lhas de Judas Priest e Iron Maiden com os mim, poucos anos depois de terminar o incrível, é mesmo muito bom fazer parte
teus amigos. meu ensino secundário, deixaram de ser dessa história.

34 LOUD! LOUD! 35
to à «Goodbye», é uma canção que sempre Water», que senão me engano é um álbum oceano ou um deserto, ou o escalar de uma particulares. Claro que há ferramentas novas Considero que tive imensa sorte nesse as- oferecidas, o que é uma pena. Torna-se
ressoou comigo, já a tinha tocado nos dois de nove canções [NR: é mesmo] e é a última montanha, todos requerem esforço, demo- a aparecer conforme o tempo passa e tens pecto, já que infelizmente ao longo dos anos necessário encontrar outras estratégias e
concertos em L.A. em Dezembro de 2019 e canção do «Brighten», que é outro álbum de ram um bom bocado, e assim que começas de te adaptar a essas mudanças e incorporar as artes têm decaído imenso nas escolas. tens por exemplo o museu MoPop em Sea-
é uma canção de encerramento muito boa, nove canções, também ele encerrado pela não podes parar e estás comprometido até o que te faz sentido nessa altura. Não penso Por artes, quero dizer a disponibilidade de ttle [NR: Museum Of Pop Culture] no qual os
pelo que decidimos mantê-la para o disco. O «Goodbye». ao fim. Estas analogias aplicam-se ao fazer que o desafio se torne mais fácil ou difícil, é aulas de arte, de aulas de música. Hoje em Alice In Chains foram homenageados o ano
Vincent Jones fez um arranjo maravilhoso um álbum, é um processo muito longo, muito o que é, e é um esforço que vale a pena. A dia são muito poucas as escolas que ainda passado com uma série de amigos nossos
de cordas e teclas, eu toquei um pouco de Diz muito sobre o quão intemporal uma can- complicado, e requer uma série de pessoal cada disco que começo, sai um “oh foda-se, têm uma componente artística forte. No a tocar canções da banda, e é um museu
guitarra e cantei. Depois queria confirmar ção é quando consegue encerrar desta for- para garantir que o álbum é segurado até à como caralho é que faço isto outra vez? [ri- geral, cresci num tempo em que este in- interactivo em que as crianças podem
com o Elton que ele estava okay com a mi- ma dois álbuns tão diferentes e separados sua compleição. sos] Consigo fazer isto outra vez?” Tens de vestimento existia, fui o beneficiário destas simplesmente pegar num baixo e tocá-lo,
nha versão da canção, foi uma questão de por tantas décadas. começar com um quadro em branco, sem aulas e tive alguns professores fantásticos. podem sentar-se atrás de um kit de bateria
respeito, percebes? Ele respondeu “absolu- Sem dúvida, até porque cada disco é uma Sentes que essa jornada se manteve igual nada, apagas tudo o que fizeste no passado, A música sempre foi algo que falou comigo e tocar, e aprender em conjunto, é fantás-
tamente, deves inclui-la no álbum, fizeste um espécie de cápsula temporal de um período para ti ao longo do tempo ou a tua expe- não te podes referir a nada disso, tens mes- desde uma tenra idade e nesses anos for- tico. É uma experiência interactiva, e acho
trabalho óptimo!” Isso teve um significado de tempo e de um grupo de pessoas que tra- riência aliada ao aparecimento de novas mo de começar do zero a cada vez, com um mativos tive o privilégio de ter professores que fizeram algo muito bom em tornar os
enorme para mim, foi mesmo muito fixe. A balham nele. Fazer um álbum é uma jornada ferramentas tecnológicas mudou-a consi- rascunho novo. É um desafio entusiasmante muito importantes, tive por exemplo profes- instrumentos e a música disponíveis para a
coincidência estranha é que a «Goodbye» é muito interessante, tens aqueles exemplos deravelmente? e assustador ao mesmo tempo. sores fantásticos de coro e de teatro, mas miudagem.
a última canção no «Madmen Across The de grandes percursos, seja o cruzar de um Penso que cada álbum tem os seus desafios mesmo o meu professor de matemática era
Mencionaste há pouco que tinhas desen- alguém com quem eu tocava guitarra de- Voltando à tal linguagem que foste de-
volvido uma linguagem própria ao longo pois da escola, eu e uns amigos íamos sem- senvolvendo… Nos teus anos formativos
dos anos e a verdade é que quando ouvi- pre rockar com o Brian. [risos] Ele adorava recebeste uma grande influência dos can-
mos canções tuas, tanto a solo como nos
Alice In Chains, há uma sonoridade à Jerry
Cantrell. Já te aconteceu escreveres algo
que sentias não ser a tua voz e que tinhas “Começas por aprender canções
que outras pessoas escreveram e
de remover?
Não sinto a escrita dessa maneira e para o
explicar tenho de mencionar parte do que
fizemos no início da carreira com os Alice
In Chains. Quando editámos o EP acústico
emulas os teus heróis, até que, de
imediatamente a seguir ao nosso primeiro
disco de rock bem sucedido, isto apanhou as repente, soas a ti próprio. Com o
passar do tempo, tornas-te no herói
pessoas desprevenidas, ficaram estilo “que
merda é esta?” [risos], mas vieram connos-
co na mesma quando arriscámos nesses
EPs acústicos com sensibilidades diferentes
daquelas que apresentámos nos dois pri-
de outra pessoa, e essas influências
meiros discos de rock. Primeiro tínhamos o
«Facelift» e seguimos caminho com o «Sap»,
são passadas. Isso é incrível, e é
depois fizemos o «Dirt» e demos-lhe sequên-
cia com o «Jar Of Flies». Foi um risco que mesmo muito bom fazer parte
corremos em ter esta variedade no tipo de
música que conseguimos fazer e acho que
isso fez toda a diferença; o termos corrido
dessa história.”
estes riscos no início, no fundo, abriu o cam-
po das possibilidades para nos permitir fazer rock e era um guitarrista bastante decente, tautores de country da velha guarda, tipo
o que quer que seja que estejamos a sentir aprendemos imensas coisas com ele. Tive Hank Williams e Merle Haggard, só para
ser necessário na altura. Podemos fazê-lo estes três professores no secundário e ain- mencionar dois. São influências que ainda
precisamente porque as pessoas podem da um no básico, o senhor Hall. Eles foram sentes estarem presentes na tua música, ou
confiar que temos um som, e que vamos tão importantes que quando o «Facelift» se apenas no contar de uma história com a tua
soar dessa forma, qualquer que seja a so- tornou álbum de ouro, enviei-lhes uma có- música?
noridade ou abordagem que tenhamos es- pia, porque reconheço que a orientação que Acho que é material que está sem dúvida
colhido para a ocasião. Tudo isto para dizer me deram foi muito importante. Quem me neste álbum, e que na verdade tem estado
que não sinto que quando escrevo algo, isso dera que mais jovens tivessem essa expo- na minha música desde o início. Em qual-
possa não soar a Jerry Cantrell ou a Alice sição à música neste ambiente escolar, por- quer que seja a música que tenha feito, seja
In Chains, porque tanto eu como os Alice In que acho que é mesmo importante. Claro a solo ou com Alice In Chains, são influên-
Chains podemos fazer o que quer que seja. que a matemática, a biologia, a geologia, a cias que podes ouvir. No entanto, acaba
No fundo, resume-se a uma só questão: “hey ciência, e essas merdas são todas impor- por ser tudo um grande mosaico. Eu não
isto é bom ou é só okay?” [risos] Tens sempre tantes também, mas acho que há qualquer me sento a tentar escrever uma canção à
de tentar ser mesmo bom, tão bom quanto coisa na música e nas artes dramáticas que Hank Williams porque o Hank Williams já
possível. Estás a apontar para um nível que é fundamental. Fazem parte das nossas fez essas canções, mas de vez em quando
é essencialmente inatingível, mas se os teus sociedades desde o início, tanto o drama ouço coisas e penso “oh, já sei de onde é
objectivos forem assim tão altos, conse- como a música, como o contar de histórias, que isto veio,” e tanto pode ser um artista
gues chegar francamente próximo durante a tudo isso são formas de comunicar tanto como uma combinação de vários que me
maioria do tempo. verbal como não verbalmente que temos faz sentido. Mas é uma influência filtrada
que manter. pela minha voz ou pela nossa voz como
Mudando de assunto e olhando um pouco banda, que é sem dúvida algo que desen-
para a forma como te tornaste no composi- Sem dúvida. A ideia de uma escola ter esse volves com o tempo. O que acho realmente
tor que és hoje, numa entrevista que deste acesso a amplificadores, salas de ensaio, fixe nisto tudo é que começas por emular
recentemente à Gibson para a série Icons, baterias, também dá um acesso à arte que pessoas, começas por aprender canções
mencionaste umas condições incríveis para deixa de depender da condição socio-eco- que outras pessoas escreveram, e emulas
a música nas tuas escolas básica e secun- nómica da pessoa, e isso parece-me funda- os teus heróis, até que de repente soas a
dária, ao ponto de teres salas de ensaio mental. ti próprio. Porventura, com o passar do
equipadas com tudo o que é preciso para, Exactamente. A verdade é que muitas des- tempo, tornas-te no herói de outra pessoa,
por exemplo, começares o dia a tocar ma- sas aulas que foram fundamentais para e essas influências são passadas. Isso é
lhas de Judas Priest e Iron Maiden com os mim, poucos anos depois de terminar o incrível, é mesmo muito bom fazer parte
teus amigos. meu ensino secundário, deixaram de ser dessa história.

34 LOUD! LOUD! 35
MONOLORD
contraído. Foi fixe podermos gravar assim, Sempre achei que os vossos temas sur- ganchos e mais dinâmica. O «Empress Ri-
sem termos aquele stress do deadline nos giam em jams, com os três enfiados na sala sing» era um rolo compressor.
ombros. de ensaio e os amplificadores no máximo,
mas já disseste que não vivem todos no E como é que esse atenuar no embate tem
Consegues apontar algo de que tenhas mesmo sítio... sido recebido pelos fãs?
sentido mais falta durante este período? É engraçado como a música pode soar às Digamos que talvez conheça alguns fãs que
É complicado, porque não foi fácil de início, pessoas. Na maioria das vezes, escrevo têm dificuldades com a evolução que temos
mas depois a balança equilibrou-se. Colma- cerca de 98% das canções. Normalmente, operado. Às vezes, isso causa comentários
tei a ausência de concertos com criativida- gravo uma demo, com a bateria programa- nas nossas redes sociais. Acho que algu-
de, tentei concentrar-me mais em fazer mú- da. Sei como o Mika [Häkki, baixista] toca. mas pessoas consideram que mudámos
sica nova. Nesse aspecto tive a vida facilita- Sei como Esben toca. Portanto, é fácil. Crio demais e estou sempre a responder-lhes
da, porque tenho um estúdio caseiro lá em a base, mas eles têm liberdade total para al- que agora é que vai ser, “não vamos ter dis-
cima, por isso posso subir e gravar quando terarem o que quiserem nas suas partes. Às torção no próximo álbum”. Digo-o só para os
quiser. Depois faltam, claro, os concertos, vezes fica igual ao que fiz ou muito próximo, irritar. [risos] Agora a sério, isto é algo que
que são uma outra forma de me expressar. outras vezes arranjamos as coisas e fica di- temos de fazer. Se tivéssemos feito três ou
Gosto de conhecer novos lugares, nova co- ferente. Isto não é nenhuma tirania, simples- quatro álbuns a soar todos ao mesmo, pro-
mida, novas pessoas. É estranho estarmos mente aconteceu ser assim. Estou sempre vavelmente já nenhum de nós teria interes-
privados disso. a escrever; estou aqui no meu sofá, à frente se em fazer isto. O novo álbum mistura um
da TV, tenho uma guitarra na mãos e toco; pouco mais do antigo com o novo e há mais
Até que ponto terem tido mais tempo para às vezes, acordo logo de manhã, pego numa camadas, há muito mais coisas a acontece-
escrever e gravar – “sem o stress do dea- caneca de café, subo as escadas e começo rem.
dline”, como disseste – afectou o «Your a tocar. Sempre que surge uma ideia de que
Time To Shine»? gosto, mesmo que seja curta, gravo para me E em termos de letras? As coisas também
Afectou bastante. Tivemos tempo para fa- lembrar. estão mais complexas, não estão?
zer pré-produção a sério, que é algo algo Mais sérias, pelo menos. E talvez mais
que raramente fazíamos antes. Estávamos Não podia ter estado mais ao lado com a complexas, sim, porque o mundo em que
sempre a ensaiar, fosse um alinhamento ou minha interpretação, nesse caso. vivemos também é mais complexo. Os
temas novos... ou então estávamos a com- Não, totalmente. De resto, é fantástico que dois primeiros álbuns eram inspirados em
por, para gravar e sair em digressão. O tem- os discos passem essa ideia, porque algo lendas de folclore. Crenças das pessoas
po estava sempre contado. Nesse aspecto, que não queremos é soar menos que ge- nos tempos antigos. No entanto, no «No
o período de inactividade foi positivo; apren-

ESTES RIFFS MATAM


demos a dar mais valor ao que interessa. O
processo de composição acabou por ser
um pouco mais elaborado, tentámos coisas
diferentes, arranjos, novas soluções. Fize- “Podia sentar-me aqui a escrever
letras sobre magos, feitiços ou orcs
mos as coisas todas que não tínhamos tido
tempo para fazer antes.

a cortarem cabeças de cobras. Mas

NEGACIONISTAS
Gravaram no novo estúdio do Esben, não
foi?
Sim, e isso foi interessante porque, quando
mudas para um novo lugar, uh... Vou voltar
não é o que somos.”
ao início. [pausa] Então, o Esben comprou
um estúdio já existente em Gotemburgo,
mas foi tudo pacífico. Como já estava toda nuínos em termos de som. E, até certo pon- Comfort» e, agora, no «Your Time To Shi-
a estrutura montada, foi simplesmente ele to, até tens razão, porque o primeiro álbum ne», as letras tomaram uma direcção... não
Pensa-se nos MONOLORD e a primeira coisa que vem à mudar-se para lá, e nós fomos atrás. A pri-
meira coisa que fizemos foi configurar as
foi uma espécie de jam, as coisas foram
acontecendo na sala de ensaios. A primeira
diria política, mas de certa forma é mesmo.
Para começar, é um disco anti-religião e é,
cabeça são os riffs, paquidérmicos e carregados de fuzz, nossas coisas, experimentar a sala, e co- canção que fizemos juntos foi a «Empress também, sobre falar daquilo em que acre-
Parece que tiveste um dia e tanto. meçámos a gravar. É uma grande sala, por Rising», que é um primeiro tema do caraças ditamos e apontar as coisas que estão er-
naquilo que, na raiz, seria um estereótipo muito bem Tenho estado no estúdio com o Esben isso começou logo a soar tudo incrível. Por- para qualquer banda. [risos] Depois, havia radas.
[Willemm, baterista e produtor], estamos a
pensado do que é o stoner/doom. É sobre esse peso es- misturar o meu próximo álbum a solo. Pelo
tanto, houve essa mudança de sítio, mas as
peças encaixaram todas sem problemas.
riffs e ideias que eu já tinha há quase uma
década quando a banda começou, no final Que, certamente, são assuntos bastante
sencialmente tradicional que têm construído uma car- meio, hoje fiz uma série de entrevistas, por Talvez por isso, e por nos termos dado de 2013, 2014. Estive à espera para tocar mais relevante que demónios.
isso... sim, digamos que me tenho consegui- tanto a tudo, do processo de escrita ao de este tipo de música durante muito, muito Às vezes, o público não reage bem. Quando
reira, assinando uma sequência de quatro álbuns a que do manter ocupado. Estamos agora a sair gravação, sinto que este pode bem ser o tempo. publicamos nas redes sociais coisas que,
de um período em que quase não fizemos
nenhum apreciador do género pode apontar o dedo. No nada. Obviamente não fizemos nenhuma
disco que mais se parece connosco e tenho
a sensação que as pessoas vão perceber Porquê?
para nós, são importantes, como um post
a defender a igualdade ou o que quer que
entanto, havia algo mais a borbulhar debaixo daquele tour, mas gravámos o novo álbum em Feve- que trabalhámos mais para este álbum que Não encontrei as pessoas certas até ter co- seja, há sempre – quase sempre homens,
reiro, Março. Por aí. Não sei se posso falar para os anteriores. meçado a tocar com eles. é certo – que acham que o fazemos para
peso monolítico e, a acompanhar as subtis mudanças pelos três, mas acho que estávamos quase, ser politicamente correctos. Dizem que não
uh, deprimidos com tudo isto. Estes tempos
que foram operando musicalmente, começou a crescer têm sido estranhos. [risos] Tu sabes, é meio
Queres dar exemplos mais concretos?
Gravámos todos na mesma sala, por isso o
Pode dizer-se que a música foi ganhan-
do outras nuances com a passagem dos
devemos misturar política com música e
tudo o mais, mas para nós é mesmo muito
dentro do guitarrista, vocalista e principal compositor uma piada, mas ao mesmo tempo não é. Foi disco tem uma espécie dessa vibração ao anos, concordas com uma afirmação deste importante falarmos das coisas. Estamos a
muito difícil não podermos andar na estra- vivo, mas depois tivemos espaço e tempo género? destruir o mundo em que vivemos e as gera-
da banda uma consciência político-social, que tinha de da. Isso é tudo o que temos feito extensiva- para irmos adicionando texturas ao que já Sim, o último disco não é, de todo, igual ao ções futuras vão ter de tentar contornar, se
mente durante os últimos quatro ou cinco
sair cá para fora. Thomas V Jäger recebeu-nos no Zoom, anos. Agora, tivemos de voltar aos velhos
estava gravado. A ideia era dar aos temas
toda a vibe que merecem, porque sentimos
primeiro, temos vindo a mudar. No início,
foi como uma descarga de adrenalina, mas
é que vai ser possível, todas as merdas que
temos feito nos últimos 100 anos. Estamos
sentado no sofá da sua sala, com ar visivelmente can- empregos. Por outro lado, houve coisas po- que, às vezes, não tivemos tempo para o esse também é o álbum mais uni dimen- cansados de tudo isso, de toda a pobreza...
sitivas; felizmente, na Suécia, as restrições fazer no passado. Incluímos um monte de sional que fizemos, por isso, quando come- Parece que ninguém se importa, contanto
sado, mas com vontade de conversar sobre a carreira do não eram tão apertadas, por isso tivemos coisas que podem não ser óbvias, mas que çámos a trabalhar no segundo, sentimos que recebam o seu salário ao final do mês.
um bom tempo para ensaiar e trabalhar es-
trio sueco e a novidade «Your Time To Shine». tes temas. Geralmente, temos de entrar em
fazem a diferença. Há guitarras limpas a
realçar algumas partes, mellotrons, diferen-
necessidade de dar um passo. E tem sido
assim desde então. Não estou a sugerir que
E sim, eu podia sentar-me aqui a escrever
letras sobre magos, feitiços ou orcs a cor-
tour três segundos depois de termos acaba- tes camadas de guitarras e outros instru- os nossos temas se tenham tornado com- tarem cabeças de cobras. Mas não é onde
JOSÉ MIGUEL RODRIGUES JOSEFINE LARSSON do de gravar, desta vez foi tudo mais des- mentos. plexos ou algo assim, mas queríamos mais estamos agora, não é o que somos.

36 LOUD! LOUD! 37
MONOLORD
contraído. Foi fixe podermos gravar assim, Sempre achei que os vossos temas sur- ganchos e mais dinâmica. O «Empress Ri-
sem termos aquele stress do deadline nos giam em jams, com os três enfiados na sala sing» era um rolo compressor.
ombros. de ensaio e os amplificadores no máximo,
mas já disseste que não vivem todos no E como é que esse atenuar no embate tem
Consegues apontar algo de que tenhas mesmo sítio... sido recebido pelos fãs?
sentido mais falta durante este período? É engraçado como a música pode soar às Digamos que talvez conheça alguns fãs que
É complicado, porque não foi fácil de início, pessoas. Na maioria das vezes, escrevo têm dificuldades com a evolução que temos
mas depois a balança equilibrou-se. Colma- cerca de 98% das canções. Normalmente, operado. Às vezes, isso causa comentários
tei a ausência de concertos com criativida- gravo uma demo, com a bateria programa- nas nossas redes sociais. Acho que algu-
de, tentei concentrar-me mais em fazer mú- da. Sei como o Mika [Häkki, baixista] toca. mas pessoas consideram que mudámos
sica nova. Nesse aspecto tive a vida facilita- Sei como Esben toca. Portanto, é fácil. Crio demais e estou sempre a responder-lhes
da, porque tenho um estúdio caseiro lá em a base, mas eles têm liberdade total para al- que agora é que vai ser, “não vamos ter dis-
cima, por isso posso subir e gravar quando terarem o que quiserem nas suas partes. Às torção no próximo álbum”. Digo-o só para os
quiser. Depois faltam, claro, os concertos, vezes fica igual ao que fiz ou muito próximo, irritar. [risos] Agora a sério, isto é algo que
que são uma outra forma de me expressar. outras vezes arranjamos as coisas e fica di- temos de fazer. Se tivéssemos feito três ou
Gosto de conhecer novos lugares, nova co- ferente. Isto não é nenhuma tirania, simples- quatro álbuns a soar todos ao mesmo, pro-
mida, novas pessoas. É estranho estarmos mente aconteceu ser assim. Estou sempre vavelmente já nenhum de nós teria interes-
privados disso. a escrever; estou aqui no meu sofá, à frente se em fazer isto. O novo álbum mistura um
da TV, tenho uma guitarra na mãos e toco; pouco mais do antigo com o novo e há mais
Até que ponto terem tido mais tempo para às vezes, acordo logo de manhã, pego numa camadas, há muito mais coisas a acontece-
escrever e gravar – “sem o stress do dea- caneca de café, subo as escadas e começo rem.
dline”, como disseste – afectou o «Your a tocar. Sempre que surge uma ideia de que
Time To Shine»? gosto, mesmo que seja curta, gravo para me E em termos de letras? As coisas também
Afectou bastante. Tivemos tempo para fa- lembrar. estão mais complexas, não estão?
zer pré-produção a sério, que é algo algo Mais sérias, pelo menos. E talvez mais
que raramente fazíamos antes. Estávamos Não podia ter estado mais ao lado com a complexas, sim, porque o mundo em que
sempre a ensaiar, fosse um alinhamento ou minha interpretação, nesse caso. vivemos também é mais complexo. Os
temas novos... ou então estávamos a com- Não, totalmente. De resto, é fantástico que dois primeiros álbuns eram inspirados em
por, para gravar e sair em digressão. O tem- os discos passem essa ideia, porque algo lendas de folclore. Crenças das pessoas
po estava sempre contado. Nesse aspecto, que não queremos é soar menos que ge- nos tempos antigos. No entanto, no «No
o período de inactividade foi positivo; apren-

ESTES RIFFS MATAM


demos a dar mais valor ao que interessa. O
processo de composição acabou por ser
um pouco mais elaborado, tentámos coisas
diferentes, arranjos, novas soluções. Fize- “Podia sentar-me aqui a escrever
letras sobre magos, feitiços ou orcs
mos as coisas todas que não tínhamos tido
tempo para fazer antes.

a cortarem cabeças de cobras. Mas

NEGACIONISTAS
Gravaram no novo estúdio do Esben, não
foi?
Sim, e isso foi interessante porque, quando
mudas para um novo lugar, uh... Vou voltar
não é o que somos.”
ao início. [pausa] Então, o Esben comprou
um estúdio já existente em Gotemburgo,
mas foi tudo pacífico. Como já estava toda nuínos em termos de som. E, até certo pon- Comfort» e, agora, no «Your Time To Shi-
a estrutura montada, foi simplesmente ele to, até tens razão, porque o primeiro álbum ne», as letras tomaram uma direcção... não
Pensa-se nos MONOLORD e a primeira coisa que vem à mudar-se para lá, e nós fomos atrás. A pri-
meira coisa que fizemos foi configurar as
foi uma espécie de jam, as coisas foram
acontecendo na sala de ensaios. A primeira
diria política, mas de certa forma é mesmo.
Para começar, é um disco anti-religião e é,
cabeça são os riffs, paquidérmicos e carregados de fuzz, nossas coisas, experimentar a sala, e co- canção que fizemos juntos foi a «Empress também, sobre falar daquilo em que acre-
Parece que tiveste um dia e tanto. meçámos a gravar. É uma grande sala, por Rising», que é um primeiro tema do caraças ditamos e apontar as coisas que estão er-
naquilo que, na raiz, seria um estereótipo muito bem Tenho estado no estúdio com o Esben isso começou logo a soar tudo incrível. Por- para qualquer banda. [risos] Depois, havia radas.
[Willemm, baterista e produtor], estamos a
pensado do que é o stoner/doom. É sobre esse peso es- misturar o meu próximo álbum a solo. Pelo
tanto, houve essa mudança de sítio, mas as
peças encaixaram todas sem problemas.
riffs e ideias que eu já tinha há quase uma
década quando a banda começou, no final Que, certamente, são assuntos bastante
sencialmente tradicional que têm construído uma car- meio, hoje fiz uma série de entrevistas, por Talvez por isso, e por nos termos dado de 2013, 2014. Estive à espera para tocar mais relevante que demónios.
isso... sim, digamos que me tenho consegui- tanto a tudo, do processo de escrita ao de este tipo de música durante muito, muito Às vezes, o público não reage bem. Quando
reira, assinando uma sequência de quatro álbuns a que do manter ocupado. Estamos agora a sair gravação, sinto que este pode bem ser o tempo. publicamos nas redes sociais coisas que,
de um período em que quase não fizemos
nenhum apreciador do género pode apontar o dedo. No nada. Obviamente não fizemos nenhuma
disco que mais se parece connosco e tenho
a sensação que as pessoas vão perceber Porquê?
para nós, são importantes, como um post
a defender a igualdade ou o que quer que
entanto, havia algo mais a borbulhar debaixo daquele tour, mas gravámos o novo álbum em Feve- que trabalhámos mais para este álbum que Não encontrei as pessoas certas até ter co- seja, há sempre – quase sempre homens,
reiro, Março. Por aí. Não sei se posso falar para os anteriores. meçado a tocar com eles. é certo – que acham que o fazemos para
peso monolítico e, a acompanhar as subtis mudanças pelos três, mas acho que estávamos quase, ser politicamente correctos. Dizem que não
uh, deprimidos com tudo isto. Estes tempos
que foram operando musicalmente, começou a crescer têm sido estranhos. [risos] Tu sabes, é meio
Queres dar exemplos mais concretos?
Gravámos todos na mesma sala, por isso o
Pode dizer-se que a música foi ganhan-
do outras nuances com a passagem dos
devemos misturar política com música e
tudo o mais, mas para nós é mesmo muito
dentro do guitarrista, vocalista e principal compositor uma piada, mas ao mesmo tempo não é. Foi disco tem uma espécie dessa vibração ao anos, concordas com uma afirmação deste importante falarmos das coisas. Estamos a
muito difícil não podermos andar na estra- vivo, mas depois tivemos espaço e tempo género? destruir o mundo em que vivemos e as gera-
da banda uma consciência político-social, que tinha de da. Isso é tudo o que temos feito extensiva- para irmos adicionando texturas ao que já Sim, o último disco não é, de todo, igual ao ções futuras vão ter de tentar contornar, se
mente durante os últimos quatro ou cinco
sair cá para fora. Thomas V Jäger recebeu-nos no Zoom, anos. Agora, tivemos de voltar aos velhos
estava gravado. A ideia era dar aos temas
toda a vibe que merecem, porque sentimos
primeiro, temos vindo a mudar. No início,
foi como uma descarga de adrenalina, mas
é que vai ser possível, todas as merdas que
temos feito nos últimos 100 anos. Estamos
sentado no sofá da sua sala, com ar visivelmente can- empregos. Por outro lado, houve coisas po- que, às vezes, não tivemos tempo para o esse também é o álbum mais uni dimen- cansados de tudo isso, de toda a pobreza...
sitivas; felizmente, na Suécia, as restrições fazer no passado. Incluímos um monte de sional que fizemos, por isso, quando come- Parece que ninguém se importa, contanto
sado, mas com vontade de conversar sobre a carreira do não eram tão apertadas, por isso tivemos coisas que podem não ser óbvias, mas que çámos a trabalhar no segundo, sentimos que recebam o seu salário ao final do mês.
um bom tempo para ensaiar e trabalhar es-
trio sueco e a novidade «Your Time To Shine». tes temas. Geralmente, temos de entrar em
fazem a diferença. Há guitarras limpas a
realçar algumas partes, mellotrons, diferen-
necessidade de dar um passo. E tem sido
assim desde então. Não estou a sugerir que
E sim, eu podia sentar-me aqui a escrever
letras sobre magos, feitiços ou orcs a cor-
tour três segundos depois de termos acaba- tes camadas de guitarras e outros instru- os nossos temas se tenham tornado com- tarem cabeças de cobras. Mas não é onde
JOSÉ MIGUEL RODRIGUES JOSEFINE LARSSON do de gravar, desta vez foi tudo mais des- mentos. plexos ou algo assim, mas queríamos mais estamos agora, não é o que somos.

36 LOUD! LOUD! 37
LVCIFYRE
Começando pelo momento… Depois do úl- processo moroso. Um a dois anos depois um canal para chegar ao mundo material,
timo álbum em 2014 e de um EP em 2019, de gravarmos o «Svn Eater», tínhamos portanto sim, todas essas partes são criadas
porquê editar agora este disco? um álbum quase completo em demo, mas em estúdio depois de atingido um determina-
Não há uma cronologia deliberada. É isto que acabámos por não usar a maior parte dos do estado de espírito.
fazemos, lançamos quando estamos satis- temas. Não estávamos satisfeitos com o
feitos com o que temos. Não é algo planea- material, e o que restou foi alterado até ficar Como se relaciona a temática com a capa
do, mas é algo que tem vida própria. irreconhecível, acabando algumas dessas escolhida?
ideias no EP «Sacrament», em 2019. Lvci- A capa foi criada pelo Daniele Valeriani e
Então ainda não será desta vez que os Lvci- fyre é uma entidade que nos devora, há algo estamos muito satisfeitos com o resultado
fyre irão entrar naquele ciclo, disco, digres- nessa entidade que nos deixa obcecados e final. Ele criou este artwork depois de ouvir
são, disco. Continua mais como um projec- não deixa espaço para mais nada. Acho que o álbum enquanto lia as letras durante dias
to que resulta da vontade de ambos? este álbum foi particularmente difícil para a fio, até que tudo se revelou num sonho, e
Com Lvcifyre iremos tentar tocar ao vivo, o T.K.. Quanto a mim, a determinada altura assim nasceu esta peça.
mas não temos sequer planos para um novo tive que parar e estive ausente da banda
álbum. Tanto pode acontecer daqui a um ano durante um ano. É algo que nos transcende Oficialmente Lvcifyre é ainda um trio? Hou-
como daqui a cinco anos, ou não acontecer como indivíduos e que drena todas as nos- ve colaborações neste disco?
de todo. Como disse, não há uma cronologia, sas energias. Lvcifyre neste momento é um duo. O Cultus
as energias que canalizamos em Lvcifyre decidiu sair antes de gravarmos o álbum,
têm vontade própria. Qual é, então, a relação com o EP «Sacra- mas sempre tivemos a colaboração do Mark
ment»? Of The Devil, dos Cultes Des Ghoules. O input
Como é que o novo álbum acaba a ser gra- O EP «Sacrament» foi escrito em simultâ- dele é sempre surpreendente e tem uma voz
vado em Milão? neo, mas a determinada altura parámos o única.
Fomos gravar a Milão aos estúdios SPVN trabalho para o álbum e gravámos o EP. Al-
do Stefano Santi, que é o nosso técnico de guns dos temas em «Sacrament» estavam Esquecendo as condições actuais, podendo
som ao vivo. Para além de ser excelente alinhavados para o «The Broken Seal». Por existir concertos, de forma normal, podere-
na parte técnica, o Stefano percebe o que exemplo, «The Greater Curse» era suposto mos ver Lvcifyre na estrada?
Lvcifyre significa artisticamente, portanto ser a faixa de abertura do álbum. Tomou-se Como tudo nesta banda, isso vai ser um de-
é fácil comunicarmos as nossas ideias. a decisão de gravar o EP porque, a deter- safio, mas vamos tentar, e estamos a traba-
Além disso, o nosso processo de gravação
é como um ritual, através do qual tentamos
chegar a um estado de flow, para canalizar-
mos as energias da forma mais pura pos- “Lvcifyre existe para acender a
sível. Tanto eu como o T. Kaos temos que
estar num ambiente onde nos sintamos
confortáveis para nos libertarmos comple-
chama que te acorda para veres
tamente.
para além do véu de ilusões. Para
saberes de onde vens, o que és e
Quando perceberam que esse estado era o
melhor para vocês?
Acho que atingir este estado de flow é es-
sencial para qualquer artista produzir arte
onde tudo acaba.”

A CHAMA
Passaram-se sete anos que não caia no erro de ser demasiado
intelectualizada, ou que é criada por qual-
desde o último trabalho quer outro tipo de razão em detrimento da minada altura, algo nos Lvcifyre procurava lhar para isso. É difícil encontrar as pessoas
dos LVCIFYRE. Finalmen- pureza da forma artística. A determinada
altura temos que largar as rédeas e a ten-
uma voz que não podia ser expressada
através dos temas para o álbum. Essa voz
certas para trabalharem connosco, e ainda
não temos um line-up completo. Temos o
te, o duo baseado no Reino tação de controlo e deixar que as coisas torturou-nos até que tivemos que a canali- J, que é o nosso guitarrista ao vivo, e ele é
sigam o seu próprio caminho. No final, zar através do «Sacrament». A história de quase um terceiro membro, mas a disponi-
Unido e que conta com apesar dos anos de preparação para esta uma alma deambulante que perde o con- blidade dele é limitada, pois está envolvido
o polaco T. Kaos e o luso

ETERNA
gravação, tínhamos a sensação que o re- tacto com a existência mortal e não con- com outras bandas importantes, como Cor-
sultado final de «The Broken Seal» foi algo segue distinguir o que é real daquilo que pus Christii, Vltimas, por aí fora. Além disso,
Menthor, lançou um su- que veio a ser por vida própria e não por não é. vive em Portugal, o que também acaba por
cessor para «Svn Eater», criação nossa.
Apesar disso, este disco não é conceptual,
ser um problema logístico. Temos vários
convites para concertos e tours, mas ainda
intitulado «The Broken Há aquela corrente de black metal, muito ao contrário do que já fizeram no passado. nada definido.
comum em Portugal, em que marcas um Não, «The Broken Seal» não é um álbum con-
Seal». Argumento mais par de tardes, gravas umas coisas em con- ceptual per se, mas todos os temas estão re- Para lá dos Lvcifyre, é conhecido o teu en-
que válido para a LOUD! junto com alguém e sai um disco. Tu falas lacionados. Há uma temática comum e uma volvimento com outros grupos, com des-
da necessidade de “estado de flow”. Há intenção. Depois de gravar o álbum tive uma taque óbvio para Enthroned. Como está
estabelecer uma conversa meio termo? visão onde, através de Lvcifyre, espalháva- a tua agenda de momento, em termos de
com o baterista português. Não tenho nada contra gravações impro-
visadas. Muitas vezes há um processo de
mos a Chama, cuspíamos fogo e o mundo à
nossa volta ardia.
bandas?
Neste momento o meu foco principal é com
EMANUEL FERREIRA preparação que não tem necessariamente a Lvcifyre e Enthroned. É provável que haja
ver com ensaiar ou escrever os temas pre- Qual a temática? algo de Nightbringer num futuro próximo,
EMILY POWER viamente, mas com uma preparação mental Lvcifyre existe para acender a chama que te mas nada ainda 100% definido. Tenho tam-
para capturar algo mais espontâneo, primi- acorda para veres para além do véu de ilu- bém gravações de sessão agendadas. Algu-
tivo talvez. Temos projectos paralelos aos sões. Para saberes de onde vens, o que és mas com bandas portuguesas. Em relação
Lvcifyre onde usamos este tipo de aborda- e onde tudo acaba. Põe-te em contacto com aos Enthroned, estamos a trabalhar para o
gem, mas com Lvcifyre penso que isso não forças que vão para além do material. Lvci- novo álbum.
funcionaria. fyre faz-te pensar o impensável.
E no caso do T. Kaos? Sabes quais os pla-
Como funciona a composição no disco e Este lado mais “atmosférico”, no sentido de nos dele para lá dos Lvcifyre?
como se articulam? Chegam a encontrar-se? clima criado no álbum, resulta de tudo isso? Estamos a trabalhar no novo álbum dos Dea-
A composição é demorada. Para construir Todo o lado mais atmosférico de Lvcifyre th Like Mass e o T.K. está envolvido também
algo imponente, não há volta a dar, é um vem de forças ocultas que nos usam como nos Sodality.

38 LOUD! LOUD! 39
LVCIFYRE
Começando pelo momento… Depois do úl- processo moroso. Um a dois anos depois um canal para chegar ao mundo material,
timo álbum em 2014 e de um EP em 2019, de gravarmos o «Svn Eater», tínhamos portanto sim, todas essas partes são criadas
porquê editar agora este disco? um álbum quase completo em demo, mas em estúdio depois de atingido um determina-
Não há uma cronologia deliberada. É isto que acabámos por não usar a maior parte dos do estado de espírito.
fazemos, lançamos quando estamos satis- temas. Não estávamos satisfeitos com o
feitos com o que temos. Não é algo planea- material, e o que restou foi alterado até ficar Como se relaciona a temática com a capa
do, mas é algo que tem vida própria. irreconhecível, acabando algumas dessas escolhida?
ideias no EP «Sacrament», em 2019. Lvci- A capa foi criada pelo Daniele Valeriani e
Então ainda não será desta vez que os Lvci- fyre é uma entidade que nos devora, há algo estamos muito satisfeitos com o resultado
fyre irão entrar naquele ciclo, disco, digres- nessa entidade que nos deixa obcecados e final. Ele criou este artwork depois de ouvir
são, disco. Continua mais como um projec- não deixa espaço para mais nada. Acho que o álbum enquanto lia as letras durante dias
to que resulta da vontade de ambos? este álbum foi particularmente difícil para a fio, até que tudo se revelou num sonho, e
Com Lvcifyre iremos tentar tocar ao vivo, o T.K.. Quanto a mim, a determinada altura assim nasceu esta peça.
mas não temos sequer planos para um novo tive que parar e estive ausente da banda
álbum. Tanto pode acontecer daqui a um ano durante um ano. É algo que nos transcende Oficialmente Lvcifyre é ainda um trio? Hou-
como daqui a cinco anos, ou não acontecer como indivíduos e que drena todas as nos- ve colaborações neste disco?
de todo. Como disse, não há uma cronologia, sas energias. Lvcifyre neste momento é um duo. O Cultus
as energias que canalizamos em Lvcifyre decidiu sair antes de gravarmos o álbum,
têm vontade própria. Qual é, então, a relação com o EP «Sacra- mas sempre tivemos a colaboração do Mark
ment»? Of The Devil, dos Cultes Des Ghoules. O input
Como é que o novo álbum acaba a ser gra- O EP «Sacrament» foi escrito em simultâ- dele é sempre surpreendente e tem uma voz
vado em Milão? neo, mas a determinada altura parámos o única.
Fomos gravar a Milão aos estúdios SPVN trabalho para o álbum e gravámos o EP. Al-
do Stefano Santi, que é o nosso técnico de guns dos temas em «Sacrament» estavam Esquecendo as condições actuais, podendo
som ao vivo. Para além de ser excelente alinhavados para o «The Broken Seal». Por existir concertos, de forma normal, podere-
na parte técnica, o Stefano percebe o que exemplo, «The Greater Curse» era suposto mos ver Lvcifyre na estrada?
Lvcifyre significa artisticamente, portanto ser a faixa de abertura do álbum. Tomou-se Como tudo nesta banda, isso vai ser um de-
é fácil comunicarmos as nossas ideias. a decisão de gravar o EP porque, a deter- safio, mas vamos tentar, e estamos a traba-
Além disso, o nosso processo de gravação
é como um ritual, através do qual tentamos
chegar a um estado de flow, para canalizar-
mos as energias da forma mais pura pos- “Lvcifyre existe para acender a
sível. Tanto eu como o T. Kaos temos que
estar num ambiente onde nos sintamos
confortáveis para nos libertarmos comple-
chama que te acorda para veres
tamente.
para além do véu de ilusões. Para
saberes de onde vens, o que és e
Quando perceberam que esse estado era o
melhor para vocês?
Acho que atingir este estado de flow é es-
sencial para qualquer artista produzir arte
onde tudo acaba.”

A CHAMA
Passaram-se sete anos que não caia no erro de ser demasiado
intelectualizada, ou que é criada por qual-
desde o último trabalho quer outro tipo de razão em detrimento da minada altura, algo nos Lvcifyre procurava lhar para isso. É difícil encontrar as pessoas
dos LVCIFYRE. Finalmen- pureza da forma artística. A determinada
altura temos que largar as rédeas e a ten-
uma voz que não podia ser expressada
através dos temas para o álbum. Essa voz
certas para trabalharem connosco, e ainda
não temos um line-up completo. Temos o
te, o duo baseado no Reino tação de controlo e deixar que as coisas torturou-nos até que tivemos que a canali- J, que é o nosso guitarrista ao vivo, e ele é
sigam o seu próprio caminho. No final, zar através do «Sacrament». A história de quase um terceiro membro, mas a disponi-
Unido e que conta com apesar dos anos de preparação para esta uma alma deambulante que perde o con- blidade dele é limitada, pois está envolvido
o polaco T. Kaos e o luso

ETERNA
gravação, tínhamos a sensação que o re- tacto com a existência mortal e não con- com outras bandas importantes, como Cor-
sultado final de «The Broken Seal» foi algo segue distinguir o que é real daquilo que pus Christii, Vltimas, por aí fora. Além disso,
Menthor, lançou um su- que veio a ser por vida própria e não por não é. vive em Portugal, o que também acaba por
cessor para «Svn Eater», criação nossa.
Apesar disso, este disco não é conceptual,
ser um problema logístico. Temos vários
convites para concertos e tours, mas ainda
intitulado «The Broken Há aquela corrente de black metal, muito ao contrário do que já fizeram no passado. nada definido.
comum em Portugal, em que marcas um Não, «The Broken Seal» não é um álbum con-
Seal». Argumento mais par de tardes, gravas umas coisas em con- ceptual per se, mas todos os temas estão re- Para lá dos Lvcifyre, é conhecido o teu en-
que válido para a LOUD! junto com alguém e sai um disco. Tu falas lacionados. Há uma temática comum e uma volvimento com outros grupos, com des-
da necessidade de “estado de flow”. Há intenção. Depois de gravar o álbum tive uma taque óbvio para Enthroned. Como está
estabelecer uma conversa meio termo? visão onde, através de Lvcifyre, espalháva- a tua agenda de momento, em termos de
com o baterista português. Não tenho nada contra gravações impro-
visadas. Muitas vezes há um processo de
mos a Chama, cuspíamos fogo e o mundo à
nossa volta ardia.
bandas?
Neste momento o meu foco principal é com
EMANUEL FERREIRA preparação que não tem necessariamente a Lvcifyre e Enthroned. É provável que haja
ver com ensaiar ou escrever os temas pre- Qual a temática? algo de Nightbringer num futuro próximo,
EMILY POWER viamente, mas com uma preparação mental Lvcifyre existe para acender a chama que te mas nada ainda 100% definido. Tenho tam-
para capturar algo mais espontâneo, primi- acorda para veres para além do véu de ilu- bém gravações de sessão agendadas. Algu-
tivo talvez. Temos projectos paralelos aos sões. Para saberes de onde vens, o que és mas com bandas portuguesas. Em relação
Lvcifyre onde usamos este tipo de aborda- e onde tudo acaba. Põe-te em contacto com aos Enthroned, estamos a trabalhar para o
gem, mas com Lvcifyre penso que isso não forças que vão para além do material. Lvci- novo álbum.
funcionaria. fyre faz-te pensar o impensável.
E no caso do T. Kaos? Sabes quais os pla-
Como funciona a composição no disco e Este lado mais “atmosférico”, no sentido de nos dele para lá dos Lvcifyre?
como se articulam? Chegam a encontrar-se? clima criado no álbum, resulta de tudo isso? Estamos a trabalhar no novo álbum dos Dea-
A composição é demorada. Para construir Todo o lado mais atmosférico de Lvcifyre th Like Mass e o T.K. está envolvido também
algo imponente, não há volta a dar, é um vem de forças ocultas que nos usam como nos Sodality.

38 LOUD! LOUD! 39
CRADLE OF FILTH
esse o objectivo e desta vez simplesmente
optaram por outro caminho?
um regresso à normalidade, torna-se possí-
vel lançar um álbum com todas as possibili- “O título parece niilista, mas acho
Era esse o objectivo, até porque porque o dades que este exige. Temos uma digressão
Depois do lançamento de «Cryptoriana – The Seduc- álbum incidia na era Victoriana, a sua subse-
quente falibilidade, os seus interesses, a sua
americana planeada, ainda que para tocar o
«Cruelty And The Beast», mas já vai dar para
que há esperança nele, porque se a
tiveness Of Decay», os CRADLE OF FILTH embarca- paixão pelo macabro, e penso que isso exi-
ge algo intrincado e complicado. Desta vez
tocar uma ou duas canções do novo disco.
existência é mesmo fútil, então não
ram na mais longa digressão da sua carreira, digres-
são essa que originou um novo álbum, «Existence Is
queríamos mesmo algo mais simples, mais
despojado de ornamentos, com excepção
Tiveram recentemente também o regresso
com o Bloodstock, em que até cantaste a há um plano exterior, não há um
de um dos temas de bónus, que é a terceira «Betrayer» com os Kreator e tudo. Como foi
Futile». Lançado no ano em que celebram 30 anos de parte da trilogia começada na «Her Ghost In a experiência? senhorio a olhar para nós, não há
existência, é uma espécie de regresso ao mais bruto The Fog». No resto do álbum quisemos um Toda a gente tinha um sorriso na cara, havia

passado da banda, em oposição aos temas que abor-


som mais próximo do palco, simplesmente
porque achámos que esta era a forma de
uma enorme felicidade. Conheço algumas
pessoas que apanharam COVID-19 desde en- um objectivo comum, pelo que mais
conseguir concretizar o som correcto para tão, mas como estão todos vacinados não es-
da, como nos contou o bem disposto Dani Filth. esta época na carreira dos Cradle Of Filth. tão prestes a morrer ou algo do género. Pare-
cem estar com a atitude de “bem, foi um mal
vale assumir o efémero.”
LUÍS PIRES JAMES SHARROCK
Há uma sensação de regresso ao passado necessário.” Por causa das restrições, nem
nalgum do peso que o álbum carrega, mas todas as bandas conseguiram tocar, mas as a casa às seis e meia da tarde. Penso que ferentes ideias à volta dele. Tens a «Discourse
Esta foi a tua mais surreal experiência de de teclistas. A escolha da Anabelle Iratni de certa forma conseguem manter a sono- que tocaram foram todas bem recebidas e conseguimos um disco com um som muito Between A Man And His Soul» que referiste
escrita e gravação? para substituir a Lindsay Schoolcraft foi na- ridade contemporânea dos Cradle Of Filth deram grandes concertos, a área VIP estava actual e convém referir que não foi inspirado que é mais introspectiva, um pouco como a
Escrevemos antes do confinamento, portanto tural dado o envolvimento da Anabelle nos sem embarquem em grandes nostalgias. cheia de pessoal que conheço, foi como um pela pandemia, pelo simples facto de termos «Black Smoke Curling From The Lips Of War»,
surreal só mesmo a gravação, mas foi bom, teus Devilment? Julgo que é uma consequência do tempo regresso a casa. Apostámos numa produção literalmente escrito tudo cerca de quatro me- mas esta vai buscar a meretriz da Babilónia,
porque nos deu mais tempo. Não trabalhámos Sim, foi. Ela só tinha tocado uns concertos enorme que passámos na estrada, foram enorme para o nosso concerto e correu mui- ses antes dela começar. o livro do Apocalipse e todo esse simbolismo.
dias inteiros e eu era o único no estúdio. Foi connosco, mas era evidente que tinha muito quase três anos. Tivemos uns problemas to bem, e lá está, cantei uma canção com os A «Us, Dark, Invincible» é um resumo disso
complicado juntar pessoas por causa das res- talento, uma grande voz e muita capacidade após a reforma do nosso manager anterior, Kreator, que foi um sonho tornado realidade. Como porta de entrada nos temas que ex- tudo, se o mundo não tem sentido, se esta-
trições de viagens, demorámos quatro meses com as teclas, que é exactamente o que es- eventualmente encontrámos a The Oracle ploras no álbum, conta-nos sobre o vídeo da mos a caminho do fim e vamos todos morrer
a ter o nosso guitarrista [NR: Ashok, que vive távamos à procura. Para além disso, ela vive Management do Dez [NR: dos DevilDriver e Nos vídeos que circulam dessa participa- «Crawling King Chaos», que parece ter sido no meio do caos em que só a morte é certa
na Republica Checa] em estúdio e felizmente em Londres, enquanto que a Lindsay vive no ex-Coal Chamber] e da Tiger Farfara, que são ção pareces genuinamente feliz por estar muito divertido de fazer para vocês. e sabemos não haver grande propósito para
o Martin já tinha gravado as baterias antes da Canadá, o que complicava as coisas, a não excelentes, e eles queriam-nos na estrada a com eles. No fundo queríamos criar uma atmosfera lo- isto tudo, é aproveitar enquanto podemos.
confusão começar, caso contrário tínhamos ser que fossemos tocar ao Canadá. [risos] sério antes de escreveremos um novo álbum. Sem dúvida. O Fred Leclercq, o novo baixista, vecraftiana. Tínhamos este armazém enorme Ironicamente, temos isto escrito e chega a
ficado na merda. Fora isso foi bom, trabalhar Acho que nunca tínhamos tido um período perguntou-me se queria fazer algo do géne- no sul de Inglaterra e acabámos por gravar pandemia para como que enfeitar isto tudo,
sem os prazos, sem ninguém saber o que es- A nota de imprensa cita-te a dizer que o tão grande entre discos, que até acabou au- ro e eu atirei-me de cabeça. Isto foi umas dois vídeos em dois dias com o mesmo pro- mas já estávamos a caminho do fim de qual-
tava a acontecer. Ainda por cima o tempo es- «Crytporiana» era extremamente ornamen- mentado por causa da pandemia – tínhamos semanas antes, portanto treinei um bocado dutor que veio de Los Angeles, com o segun- quer maneira. Não deixa de ser interessante
tava óptimo, ao contrário deste ano. tado e complicado e percorria caminhos o álbum pronto em Outubro do ano passado em casa e depois no dia o Mille levou-me aos do a ser para a «Necromantic Fantasies». Foi olhar para o antes, com as pessoas à procu-
sinuosos um pouco por toda a parte. Isso mas não fazia sentido lançá-lo antes. Agora bastidores e fizemos um ensaio rápido em uma experiência fantástica, tínhamos imen- ra de uma casa maior, de um carro maior, de
Desde a última vez que falámos, trocaram quer dizer que não envelheceu bem ou era que parece que o mundo se encaminha para conjunto. Foi muito divertido. sos props, mas alguns dos actores que vês no consumir mais e mais, e agora quase que per-
vídeo foram filmados mais tarde em LA. Da- deram tudo e estão a concluir que se calhar o
Voltando ao álbum, de que forma é que im- qui a uns dias vou ver o primeiro draft do «Ne- que tinham antes não era assim tão mau. Era
plementaste este som de palco no estúdio? cromantic Fantasies» e estou entusiasmado, suposto aprendermos com isto, era suposto
Em primeiro lugar, reduzir a produção na optámos por um esquema de cores diferente, tirarmos lições ecológicas disto tudo. Gover-
bateria e não optar por tempos digitais ou mais azuis e púrpuras em vez da coisa infernal nos fizeram promessas de que quando vol-
quantizados. Depois foi tentar um som gran- do «Crawling King Chaos». Foi muito divertido tássemos ao normal íamos cortar emissões,
de mas não saturado, essencialmente captar e escolhemos o «Crawling King Chaos» em íamos cumprir prazos nesta e naquela data,
uma banda a divertir-se ao vivo em estúdio, vez de um tema mais comercial (como nos ti- mas já tens facções que estão estilo “bem,
não abusar dos overdubs. Se reparares, a nham sugerido) porque queríamos voltar com isto está a chegar ao fim, hora de voltar ao
quantidade de overdubs vocais está muito estrondo, com uma coisa cheia de blastbeats, grind diário de foder o mundo outra vez.”
reduzida e o mesmo aplica-se ao resto. Acho fogo, e imaginário de fim do mundo, que é um
que o conseguimos, o som está espaçoso e bocado o reflexo do que as pessoas pensam Acaba por ser um desespero para os indiví-
adoro a produção. Mais do que isto é com- quando olham à volta hoje em dia. duos, porque não são as nossas palhinhas
plicado de analisar ao pormenor, porque de cartão que vão servir de contraponto à ja-
se pegares por exemplo na «Crawling King E de que forma é que as tuas letras reflec- vardice de emissões das grandes empresas.
Chaos» ou no segundo single, «Necromantic tem esse imaginário? Sim, e isso é um tema que abordámos na-
Fantasies», são tão diferentes que é difícil de Neste tema focam-se no fim do mundo, na quela que deve ser a nossa canção mais
explicar a quem não as ouviu. forma como o mundo se encaminha para socio-política de sempre, a «Suffer Our Domi-
um maelstrom, mas demos-lhe uma perso- nion». Não somos banda que normalmente
Compreendo, a própria «Discourse Between nificação, e fomos buscar os cavaleiros do vá por aí, mas dado o tema do álbum, senti-
A Man And His Soul» é completamente di- Apocalipse. A maioria do álbum está repleto mos que era relevante.
ferente dessas duas e ainda tens o spoken de crises existencialistas, filosofia, medo do
word da «Suffer Our Dominon». A própria desconhecido, a incerteza do destino, e o Olhando para a letra dessa canção, tu acre-
fluidez e diversidade parece relaxada. sentido ou falta dele da vida. O título parece ditas mesmo que a sobrepopulação é a
Exactamente. Até temos estado a escrever niilista, mas acho que há esperança nele, por- principal causa disto tudo, mesmo com da-
para o próximo disco, que claro que não va- que se a existência é mesmo fútil, então não dos a mostrar que 50% do que é emitido a

RELAXADA
mos lançar num futuro próximo, mas quan- há um plano exterior, não há um senhorio a vir de uma mão cheia de super-ricos?
do isso acontecer vai ser muito interessante, olhar para nós, não há um objectivo comum, Sem dúvida, sim. Acho que a incerteza da con-
porque vamos passar tanto tempo na com- pelo que mais vale assumir o efémero. Sem dição humana e a abundância de problemas
panhia dessas canções, que se tudo correr sentido na vida e regras para cumprir, é apro- climáticos vem de um denominador comum
bem elas vão ser o melhor possível. Vamos veitar o pouco que ainda temos. que é o excesso de pessoas com carros e a
ter todo o tempo para as melhorar vez após exigir mais e mais. Daqui a uns anos vamos
vez. Com o «Existence Is Futile» o relaxa- É complicado falhar quando não há objecti- chegar aos dez biliões de pessoas no plane-

FUTILIDADE
do foi mesmo a gravação, o estúdio era no vo a cumprir. ta e eu sei que há previsões de que o cresci-
campo e não havia ninguém por lá. Claro que Exacto! Suponho que seja muito filosófico e mento vai acalmar porque as pessoas têm
tivemos sorte em poder trabalhar, que havia é um assunto que podia ficar aqui a discutir carreiras e não querem ter filhos, mas não
um confinamento rígido aqui. A minha cida- durante horas, mas as músicas estão essen- acredito nisso. [NR: crença ou não, os dados
de parecia fantasmagórica quando voltava cialmente à volta deste tema e a explorar di- são sólidos e prevêem um estabilizar da po-

40 LOUD! LOUD! 41
CRADLE OF FILTH
esse o objectivo e desta vez simplesmente
optaram por outro caminho?
um regresso à normalidade, torna-se possí-
vel lançar um álbum com todas as possibili- “O título parece niilista, mas acho
Era esse o objectivo, até porque porque o dades que este exige. Temos uma digressão
Depois do lançamento de «Cryptoriana – The Seduc- álbum incidia na era Victoriana, a sua subse-
quente falibilidade, os seus interesses, a sua
americana planeada, ainda que para tocar o
«Cruelty And The Beast», mas já vai dar para
que há esperança nele, porque se a
tiveness Of Decay», os CRADLE OF FILTH embarca- paixão pelo macabro, e penso que isso exi-
ge algo intrincado e complicado. Desta vez
tocar uma ou duas canções do novo disco.
existência é mesmo fútil, então não
ram na mais longa digressão da sua carreira, digres-
são essa que originou um novo álbum, «Existence Is
queríamos mesmo algo mais simples, mais
despojado de ornamentos, com excepção
Tiveram recentemente também o regresso
com o Bloodstock, em que até cantaste a há um plano exterior, não há um
de um dos temas de bónus, que é a terceira «Betrayer» com os Kreator e tudo. Como foi
Futile». Lançado no ano em que celebram 30 anos de parte da trilogia começada na «Her Ghost In a experiência? senhorio a olhar para nós, não há
existência, é uma espécie de regresso ao mais bruto The Fog». No resto do álbum quisemos um Toda a gente tinha um sorriso na cara, havia

passado da banda, em oposição aos temas que abor-


som mais próximo do palco, simplesmente
porque achámos que esta era a forma de
uma enorme felicidade. Conheço algumas
pessoas que apanharam COVID-19 desde en- um objectivo comum, pelo que mais
conseguir concretizar o som correcto para tão, mas como estão todos vacinados não es-
da, como nos contou o bem disposto Dani Filth. esta época na carreira dos Cradle Of Filth. tão prestes a morrer ou algo do género. Pare-
cem estar com a atitude de “bem, foi um mal
vale assumir o efémero.”
LUÍS PIRES JAMES SHARROCK
Há uma sensação de regresso ao passado necessário.” Por causa das restrições, nem
nalgum do peso que o álbum carrega, mas todas as bandas conseguiram tocar, mas as a casa às seis e meia da tarde. Penso que ferentes ideias à volta dele. Tens a «Discourse
Esta foi a tua mais surreal experiência de de teclistas. A escolha da Anabelle Iratni de certa forma conseguem manter a sono- que tocaram foram todas bem recebidas e conseguimos um disco com um som muito Between A Man And His Soul» que referiste
escrita e gravação? para substituir a Lindsay Schoolcraft foi na- ridade contemporânea dos Cradle Of Filth deram grandes concertos, a área VIP estava actual e convém referir que não foi inspirado que é mais introspectiva, um pouco como a
Escrevemos antes do confinamento, portanto tural dado o envolvimento da Anabelle nos sem embarquem em grandes nostalgias. cheia de pessoal que conheço, foi como um pela pandemia, pelo simples facto de termos «Black Smoke Curling From The Lips Of War»,
surreal só mesmo a gravação, mas foi bom, teus Devilment? Julgo que é uma consequência do tempo regresso a casa. Apostámos numa produção literalmente escrito tudo cerca de quatro me- mas esta vai buscar a meretriz da Babilónia,
porque nos deu mais tempo. Não trabalhámos Sim, foi. Ela só tinha tocado uns concertos enorme que passámos na estrada, foram enorme para o nosso concerto e correu mui- ses antes dela começar. o livro do Apocalipse e todo esse simbolismo.
dias inteiros e eu era o único no estúdio. Foi connosco, mas era evidente que tinha muito quase três anos. Tivemos uns problemas to bem, e lá está, cantei uma canção com os A «Us, Dark, Invincible» é um resumo disso
complicado juntar pessoas por causa das res- talento, uma grande voz e muita capacidade após a reforma do nosso manager anterior, Kreator, que foi um sonho tornado realidade. Como porta de entrada nos temas que ex- tudo, se o mundo não tem sentido, se esta-
trições de viagens, demorámos quatro meses com as teclas, que é exactamente o que es- eventualmente encontrámos a The Oracle ploras no álbum, conta-nos sobre o vídeo da mos a caminho do fim e vamos todos morrer
a ter o nosso guitarrista [NR: Ashok, que vive távamos à procura. Para além disso, ela vive Management do Dez [NR: dos DevilDriver e Nos vídeos que circulam dessa participa- «Crawling King Chaos», que parece ter sido no meio do caos em que só a morte é certa
na Republica Checa] em estúdio e felizmente em Londres, enquanto que a Lindsay vive no ex-Coal Chamber] e da Tiger Farfara, que são ção pareces genuinamente feliz por estar muito divertido de fazer para vocês. e sabemos não haver grande propósito para
o Martin já tinha gravado as baterias antes da Canadá, o que complicava as coisas, a não excelentes, e eles queriam-nos na estrada a com eles. No fundo queríamos criar uma atmosfera lo- isto tudo, é aproveitar enquanto podemos.
confusão começar, caso contrário tínhamos ser que fossemos tocar ao Canadá. [risos] sério antes de escreveremos um novo álbum. Sem dúvida. O Fred Leclercq, o novo baixista, vecraftiana. Tínhamos este armazém enorme Ironicamente, temos isto escrito e chega a
ficado na merda. Fora isso foi bom, trabalhar Acho que nunca tínhamos tido um período perguntou-me se queria fazer algo do géne- no sul de Inglaterra e acabámos por gravar pandemia para como que enfeitar isto tudo,
sem os prazos, sem ninguém saber o que es- A nota de imprensa cita-te a dizer que o tão grande entre discos, que até acabou au- ro e eu atirei-me de cabeça. Isto foi umas dois vídeos em dois dias com o mesmo pro- mas já estávamos a caminho do fim de qual-
tava a acontecer. Ainda por cima o tempo es- «Crytporiana» era extremamente ornamen- mentado por causa da pandemia – tínhamos semanas antes, portanto treinei um bocado dutor que veio de Los Angeles, com o segun- quer maneira. Não deixa de ser interessante
tava óptimo, ao contrário deste ano. tado e complicado e percorria caminhos o álbum pronto em Outubro do ano passado em casa e depois no dia o Mille levou-me aos do a ser para a «Necromantic Fantasies». Foi olhar para o antes, com as pessoas à procu-
sinuosos um pouco por toda a parte. Isso mas não fazia sentido lançá-lo antes. Agora bastidores e fizemos um ensaio rápido em uma experiência fantástica, tínhamos imen- ra de uma casa maior, de um carro maior, de
Desde a última vez que falámos, trocaram quer dizer que não envelheceu bem ou era que parece que o mundo se encaminha para conjunto. Foi muito divertido. sos props, mas alguns dos actores que vês no consumir mais e mais, e agora quase que per-
vídeo foram filmados mais tarde em LA. Da- deram tudo e estão a concluir que se calhar o
Voltando ao álbum, de que forma é que im- qui a uns dias vou ver o primeiro draft do «Ne- que tinham antes não era assim tão mau. Era
plementaste este som de palco no estúdio? cromantic Fantasies» e estou entusiasmado, suposto aprendermos com isto, era suposto
Em primeiro lugar, reduzir a produção na optámos por um esquema de cores diferente, tirarmos lições ecológicas disto tudo. Gover-
bateria e não optar por tempos digitais ou mais azuis e púrpuras em vez da coisa infernal nos fizeram promessas de que quando vol-
quantizados. Depois foi tentar um som gran- do «Crawling King Chaos». Foi muito divertido tássemos ao normal íamos cortar emissões,
de mas não saturado, essencialmente captar e escolhemos o «Crawling King Chaos» em íamos cumprir prazos nesta e naquela data,
uma banda a divertir-se ao vivo em estúdio, vez de um tema mais comercial (como nos ti- mas já tens facções que estão estilo “bem,
não abusar dos overdubs. Se reparares, a nham sugerido) porque queríamos voltar com isto está a chegar ao fim, hora de voltar ao
quantidade de overdubs vocais está muito estrondo, com uma coisa cheia de blastbeats, grind diário de foder o mundo outra vez.”
reduzida e o mesmo aplica-se ao resto. Acho fogo, e imaginário de fim do mundo, que é um
que o conseguimos, o som está espaçoso e bocado o reflexo do que as pessoas pensam Acaba por ser um desespero para os indiví-
adoro a produção. Mais do que isto é com- quando olham à volta hoje em dia. duos, porque não são as nossas palhinhas
plicado de analisar ao pormenor, porque de cartão que vão servir de contraponto à ja-
se pegares por exemplo na «Crawling King E de que forma é que as tuas letras reflec- vardice de emissões das grandes empresas.
Chaos» ou no segundo single, «Necromantic tem esse imaginário? Sim, e isso é um tema que abordámos na-
Fantasies», são tão diferentes que é difícil de Neste tema focam-se no fim do mundo, na quela que deve ser a nossa canção mais
explicar a quem não as ouviu. forma como o mundo se encaminha para socio-política de sempre, a «Suffer Our Domi-
um maelstrom, mas demos-lhe uma perso- nion». Não somos banda que normalmente
Compreendo, a própria «Discourse Between nificação, e fomos buscar os cavaleiros do vá por aí, mas dado o tema do álbum, senti-
A Man And His Soul» é completamente di- Apocalipse. A maioria do álbum está repleto mos que era relevante.
ferente dessas duas e ainda tens o spoken de crises existencialistas, filosofia, medo do
word da «Suffer Our Dominon». A própria desconhecido, a incerteza do destino, e o Olhando para a letra dessa canção, tu acre-
fluidez e diversidade parece relaxada. sentido ou falta dele da vida. O título parece ditas mesmo que a sobrepopulação é a
Exactamente. Até temos estado a escrever niilista, mas acho que há esperança nele, por- principal causa disto tudo, mesmo com da-
para o próximo disco, que claro que não va- que se a existência é mesmo fútil, então não dos a mostrar que 50% do que é emitido a

RELAXADA
mos lançar num futuro próximo, mas quan- há um plano exterior, não há um senhorio a vir de uma mão cheia de super-ricos?
do isso acontecer vai ser muito interessante, olhar para nós, não há um objectivo comum, Sem dúvida, sim. Acho que a incerteza da con-
porque vamos passar tanto tempo na com- pelo que mais vale assumir o efémero. Sem dição humana e a abundância de problemas
panhia dessas canções, que se tudo correr sentido na vida e regras para cumprir, é apro- climáticos vem de um denominador comum
bem elas vão ser o melhor possível. Vamos veitar o pouco que ainda temos. que é o excesso de pessoas com carros e a
ter todo o tempo para as melhorar vez após exigir mais e mais. Daqui a uns anos vamos
vez. Com o «Existence Is Futile» o relaxa- É complicado falhar quando não há objecti- chegar aos dez biliões de pessoas no plane-

FUTILIDADE
do foi mesmo a gravação, o estúdio era no vo a cumprir. ta e eu sei que há previsões de que o cresci-
campo e não havia ninguém por lá. Claro que Exacto! Suponho que seja muito filosófico e mento vai acalmar porque as pessoas têm
tivemos sorte em poder trabalhar, que havia é um assunto que podia ficar aqui a discutir carreiras e não querem ter filhos, mas não
um confinamento rígido aqui. A minha cida- durante horas, mas as músicas estão essen- acredito nisso. [NR: crença ou não, os dados
de parecia fantasmagórica quando voltava cialmente à volta deste tema e a explorar di- são sólidos e prevêem um estabilizar da po-

40 LOUD! LOUD! 41
pulação mundial] Nos três anos que andámos
em digressão, e acho que foi daí que surgiu
“Ironicamente, temos isto escrito e
o «Existence Is Futile» em termos temáticos,
viajámos pelo mundo todo. É um mundo vas- chega a pandemia para como que
to e parece cada vez mais pequeno, com mais
e mais pessoas. É tudo muito bonito passar
para carros eléctricos e ovos orgânicos, mas
enfeitar isto tudo, mas já estávamos a
isso dá zero quando tens uma quantidade
muito maior de pessoas sem o luxo de poder caminho do fim de qualquer maneira.”
fazer estas escolhas.
carreira,” e acho que isso não faz sentido, vai vou dizer qual foi a revista, mas estava à con-
Precisamente o que te estava a dizer, a res- ser algo completamente diferente. Para além versa com um jornalista no Bloodstock e ele
posta individual é inútil perante um proble- disso, gostei imenso da canção, eles deram- estava a pressionar-me sobre esse assunto.
ma sistémico. -me imensa liberdade no que diz respeito à Como é alguém que conheço, disse-lhe off
Certo, também durante a pandemia vimos de produção, fomos alterando uma série de the record e eis que duas horas depois um
facto os oligarcas e milionários e bilionários coisas na canção e foi um processo muito amigo meu me aparece “não sabia que esta-
que, em vez de ajudarem as pessoas com as colaborativo. O resultado final, quando sair vas a trabalhar com o Ed Sheeran!” Pergun-
suas fortunas, resolveram que queriam era o vídeo completo, acho que vai surpreender tei-lhe como raio é que sabia e claro, tinha
ir passear ao espaço e expandir o império. É muita gente, tem uma atmosfera muito ne- lido na revista daquele jornalista.
absolutamente ridículo. gra. Foi um bocado como a colaboração que
fiz com os Bring Me The Horizon. Foda-se, esse jornalista não tem ética pro-
Olhando para as vossas actividades extra- fissional nenhuma.
-álbum, nos últimos tempos tens feito (e Estas colaborações acabam por ser uma Ya, ele e a revista dele, ética zero.
vais fazer) umas colaborações algo ines- forma de testares coisas que não podes fa-
peradas. Em primeiro lugar queria pergun- zer em Cradle, não? Para terminar, podes-nos falar um pouco do
tar-te pelo tema de hip-hop / metal com os Sim e tens o exemplo do que fiz com os The tema de bónus, «Sisters Of The Mist», que
Twiztid, como é que surgiu e como é que 69 Eyes, que foi uma canção de goth’n’roll [ri- volta a ter a participação do grande Doug
têm sido as reacções. sos] que funcionou muito bem. Bradley [NR: o actor do Pinhead na série
Não ligo muito as reacções, para te ser sin- «Hellraiser»], que de resto também narra a
cero, fi-lo porque o queria fazer. Tenho pro- Passando para a colaboração com o Shee- «Suffer Our Dominion».
postas para colaborações a toda a hora e ran, vai ser entre ti e ele ou entre os Cradle A canção de bónus nem era suposto ser uma
para mim não há grande ponto em cantar Of Filth e ele? canção de bónus, só se tornou numa depois
num disco de black metal. Podia fazê-lo pelo Para te ser sincero, ainda não sabemos. É de mudarmos um bocado o álbum. Já é as-
dinheiro, mas a verdade é que não preciso. uma ideia num estado muito primitivo ainda, sim um bocado na «Us, Dark, Invincible», mas
Quero fazer coisas desafiantes. Mais recen- trocámos uns e-mails e pouco mais, portan- a «Sisters Of The Mist» é o final da trilogia que
temente tenho estado em contacto com o to vamos ver. começou com a «Her Ghost In The Fog» e ele
Ed Sheeran e ele que fazer qualquer coisa narrou tanto essa como a «Swansong For A
em conjunto, foda-se, o Ed Sheeran, um dos Aquando do anúncio, no meio da chuva de Raven», que aparece no «Nymphetamine».
maiores nomes que tens no mundo de mo- críticas apanhei um comentário da Myrkur Foi necessário tê-lo para completar a história
mento. As pessoas dizem-me “oh, vai ser a salientar o quão bom isto seria no sentido e tornou-se uma canção de bónus, não por
uma merda,” mas não acho isso, acho que de expor a base de fãs do Sheeran ao “nos- não ser tão boa como o resto do álbum, mas
vai ser um desafio e sobretudo acho que so” estilo de música, por assim dizer. porque sentimos que era um desvio excessi-
vai ser único, vai ser algo que mais ninguém Concordo plenamente com essa posição, e a vo ter o disco de repente a atirar-se de volta
está a fazer. Pessoas que conheço também verdade é que nem sequer queríamos fazer o a esta atmosfera e temática gótica quando
me diziam “não sei se devias fazer a cena anúncio com a ideia num estado tão embrio- o resto é essencialmente existencialismo e
com os Twiztid, não vai ser bom para a tua nário, mas fomos forçados a fazê-lo. Não te filosofia.

42 LOUD!
pulação mundial] Nos três anos que andámos
em digressão, e acho que foi daí que surgiu
“Ironicamente, temos isto escrito e
o «Existence Is Futile» em termos temáticos,
viajámos pelo mundo todo. É um mundo vas- chega a pandemia para como que
to e parece cada vez mais pequeno, com mais
e mais pessoas. É tudo muito bonito passar
para carros eléctricos e ovos orgânicos, mas
enfeitar isto tudo, mas já estávamos a
isso dá zero quando tens uma quantidade
muito maior de pessoas sem o luxo de poder caminho do fim de qualquer maneira.”
fazer estas escolhas.
carreira,” e acho que isso não faz sentido, vai vou dizer qual foi a revista, mas estava à con-
Precisamente o que te estava a dizer, a res- ser algo completamente diferente. Para além versa com um jornalista no Bloodstock e ele
posta individual é inútil perante um proble- disso, gostei imenso da canção, eles deram- estava a pressionar-me sobre esse assunto.
ma sistémico. -me imensa liberdade no que diz respeito à Como é alguém que conheço, disse-lhe off
Certo, também durante a pandemia vimos de produção, fomos alterando uma série de the record e eis que duas horas depois um
facto os oligarcas e milionários e bilionários coisas na canção e foi um processo muito amigo meu me aparece “não sabia que esta-
que, em vez de ajudarem as pessoas com as colaborativo. O resultado final, quando sair vas a trabalhar com o Ed Sheeran!” Pergun-
suas fortunas, resolveram que queriam era o vídeo completo, acho que vai surpreender tei-lhe como raio é que sabia e claro, tinha
ir passear ao espaço e expandir o império. É muita gente, tem uma atmosfera muito ne- lido na revista daquele jornalista.
absolutamente ridículo. gra. Foi um bocado como a colaboração que
fiz com os Bring Me The Horizon. Foda-se, esse jornalista não tem ética pro-
Olhando para as vossas actividades extra- fissional nenhuma.
-álbum, nos últimos tempos tens feito (e Estas colaborações acabam por ser uma Ya, ele e a revista dele, ética zero.
vais fazer) umas colaborações algo ines- forma de testares coisas que não podes fa-
peradas. Em primeiro lugar queria pergun- zer em Cradle, não? Para terminar, podes-nos falar um pouco do
tar-te pelo tema de hip-hop / metal com os Sim e tens o exemplo do que fiz com os The tema de bónus, «Sisters Of The Mist», que
Twiztid, como é que surgiu e como é que 69 Eyes, que foi uma canção de goth’n’roll [ri- volta a ter a participação do grande Doug
têm sido as reacções. sos] que funcionou muito bem. Bradley [NR: o actor do Pinhead na série
Não ligo muito as reacções, para te ser sin- «Hellraiser»], que de resto também narra a
cero, fi-lo porque o queria fazer. Tenho pro- Passando para a colaboração com o Shee- «Suffer Our Dominion».
postas para colaborações a toda a hora e ran, vai ser entre ti e ele ou entre os Cradle A canção de bónus nem era suposto ser uma
para mim não há grande ponto em cantar Of Filth e ele? canção de bónus, só se tornou numa depois
num disco de black metal. Podia fazê-lo pelo Para te ser sincero, ainda não sabemos. É de mudarmos um bocado o álbum. Já é as-
dinheiro, mas a verdade é que não preciso. uma ideia num estado muito primitivo ainda, sim um bocado na «Us, Dark, Invincible», mas
Quero fazer coisas desafiantes. Mais recen- trocámos uns e-mails e pouco mais, portan- a «Sisters Of The Mist» é o final da trilogia que
temente tenho estado em contacto com o to vamos ver. começou com a «Her Ghost In The Fog» e ele
Ed Sheeran e ele que fazer qualquer coisa narrou tanto essa como a «Swansong For A
em conjunto, foda-se, o Ed Sheeran, um dos Aquando do anúncio, no meio da chuva de Raven», que aparece no «Nymphetamine».
maiores nomes que tens no mundo de mo- críticas apanhei um comentário da Myrkur Foi necessário tê-lo para completar a história
mento. As pessoas dizem-me “oh, vai ser a salientar o quão bom isto seria no sentido e tornou-se uma canção de bónus, não por
uma merda,” mas não acho isso, acho que de expor a base de fãs do Sheeran ao “nos- não ser tão boa como o resto do álbum, mas
vai ser um desafio e sobretudo acho que so” estilo de música, por assim dizer. porque sentimos que era um desvio excessi-
vai ser único, vai ser algo que mais ninguém Concordo plenamente com essa posição, e a vo ter o disco de repente a atirar-se de volta
está a fazer. Pessoas que conheço também verdade é que nem sequer queríamos fazer o a esta atmosfera e temática gótica quando
me diziam “não sei se devias fazer a cena anúncio com a ideia num estado tão embrio- o resto é essencialmente existencialismo e
com os Twiztid, não vai ser bom para a tua nário, mas fomos forçados a fazê-lo. Não te filosofia.

42 LOUD!
DISCOS 1914 no final deste mês, com um autêntico petardo de muito (muito rápido, muito bem, muito ________ [in-
«Where Fear And Weapons death metal técnico. Da vaga moderna do género, serir virtude]). Apesar da tonelagem sónica, Dave
Meet» digamos, mas que em nada deve ser confundido Otero soube como tornar todos os elementos bem
[Napalm] com deathcore. Diríamos que, na actualidade, o audíveis, sem que se destaque alguém em particu-
Já com o terceiro álbum grupo canadiano constitui só uma das melhores lar, mas todos os cinco integrantes. A temática é,
na bagagem, o black/death máquinas triturantes de velocidade, técnica, ex- mais uma vez, ficção científica. Às vezes, parece
dos ucranianos 1914 olha tremismo e catchiness (sim!), ao nível de uns Ne- que a música também. E que Spencer Prewett e os
para a memória colectiva da Primeira Guerra crophagist ou The Faceless, por exemplo. «Bleed outros são um bando de aliens. [8.5] N.S.
Mundial partindo das possibilidades expressivas The Future» é o quarto álbum dos Archspire, onde
do metal extremo. Não será bem aquela rawzada encontramos mais de tudo aquilo com que já nos ARMORED SAINT
apocalíptica que tenta aproximar a devastação haviam espantado. Mais habilidade musical, mais «Symbol Of Salvation Live»
sonora aos horrores vividos no campo de batalha, rapidez (sim!), mais low-end nas afinações, mais [Metal Blade]
mas não é por isso que o trabalho do quinteto classe nas guitarras (neoclássicas, a momentos, Nunca é demais recordar
deixa de provocar um efeito emocionalmente mas sempre extremas), mais efectividade nos que os Armored Saint
dilacerante. Mais do que fazer o retrato sonoro interlúdios de baixo onde pára tudo só para reco- tinham tudo para serem
da agressividade do confronto, a carreira do meçar com mais brutalidade, e mais sílabas por maiores do que foram. Com
grupo tem evoluído no sentido de encontrar um segundo de Oliver Aleron, provavelmente, o growler a recuperação de grupos dos anos 80, e a pas-
contexto musical que sirva de suporte a uma mais tagarela do momento! Um tema como «Gol- sagem de John Bush pelos Anthrax, o nome tem
escavação narrativa de episódios do conflito den Mouth Of Ruin» é uma autêntica maldade para ganho uma dimensão mais próxima do merecido.
que teve como catalisador o assassinato do bandas do mesmo ambiente que julgam tocar «Symbol Of Salvation» é o disco final da primeira
arquiduque Francisco Fernando. Neste «Where
Fear And Weapons Meet» encontramos agora
apontamentos sinfónicos que ainda se afastam
mais desse lodo cru e empapado em sangue das
trincheiras, uma intromissão a que corresponde o
abandono de elementos deathcore (pense-se no
BETWEEN THE
TURNSTILE BURIED AND ME
tema «Gasmask» do álbum de estreia e nem vale
a pena ir mais longe) que cedem protagonismo a

«Colors II»
um ambiente épico, mas com uma grandiloquên-
cia a que não se pode deixar de torcer o nariz
(«FN .380 ACP#19074», um tema com nome
«Glow On» esquisito mas que afinal é apenas modelo de…
[SUMERIAN]

O
pistola). [7] J.R. s BTBAM (podem mesmo dizer “be-te-bam”, que todos nos
[ROADRUNNER] entendemos) têm nos últimos álbuns, precisamente no seguimento do primeiro «Colors»
AEON

D
e em tudo o que se seguiu do «The Great Misdirect» em diante, seguido um percurso que,
e tempos a tempos algo acontece no tura estes rapazes decidiram esquecer todas aos Bad Brains («Don’t Play»). Há inclusiva- «God Ends Here» com altos e baixos puramente preferenciais, de um modo algo brusco mas não tão falível quanto
universo musical, chamemos-lhe uma as noções de como o hardcore deve soar e mente espaço para uma colaboração com [Metal Blade] isso, pode ser definido como os Dream Theater do metalcore. A vertente mais técnica, não neces-
conjugação de eventos, alinhamento limitaram-se a explorar terrenos desconheci- Blood Orange («Alien Love Call») que percor- Após uma ausência de qua- sariamente progressiva, quase mathcore mas sem o ser devidamente, que ali por volta do «The
dos astros ou obra do acaso, o que é certo dos à procura de inovação e de injectar algo re terrenos dreamy, naquilo que os Turnstile se uma década – «Aeons Silent Circus» quase rivalizava com os The Red Chord, foi-se diluindo em prol de um crescente
é que surge um disco que por si só muda as fresh e que soe realmente “novo”. Se no disco consideram uma canção de amor. Ao todo Black» data de 2012 –, os progressismo, alcançando no «Colors» um equilíbrio perfeito entre as ideias que a banda tinha
regras do jogo. Olhando para trás, todas as anterior já havia indícios de que este seria o são quinze faixas, que isoladamente podem suecos Aeon regressam aos vindo até então a materializar e o que queriam passar a alcançar: praticamente uma música só,
“cenas” têm isso num certo e determinado caminho, «Glow On» mostra-nos que afinal parecer distantes umas das outras, mas que discos com «God Ends Here», um trabalho que, dividida entre partes por vezes de largos minutos, em que a escola metalcore, dos riffs aos break-
momento, e o hardcore não é excepção. For- existe ainda muito por onde ir. Desde a inclu- em sequência fazem todo o sentido. O «The pese embora a distância temporal que o separa downs, das vozes às melodias, se transformava em explorações em novas direcções misturadas
mados há sensivelmente onze anos, cada são de ritmos inesperados, a refrães melódi- Shape Of Punk To Come» dos Refused mu- dos seus antecessores, soa como a sequência com concepções, até à data, completamente fora da caixa. Assim, não é de admirar que, tanto
lançamento dos Turnstile tem sido um mar- cos e orelhudos, guitarras limpas à new wave dou as regras do jogo quando saiu. «Glow lógica dos mesmos. A matriz de death metal téc- entre fãs mais antigos como mais recentes, tenha surgido um imediato alvoroço quando a banda
co alcançado pela banda. A partir de certa al- («New Heart Design») a piscares de olhos On» vai fazer o mesmo. [9.5] D.R. nico e brutal continua a definir a personalidade apontou o nome do seu novo álbum como «Colors II», apelando a que o sentido não seria fazer
da banda, aqui e ali adornada com subtis apon- uma mera segunda versão do já considerado clássico mas sim voltar a abraçar aquela mesma
tamentos sinfónicos que adensam um lado mais mentalidade, aquela frescura à procura do desconhecido, agora com mais uma década de expe-
grandioso da sua música e a torna mais apetecí- riência em cima. O resultado, mesmo colocando toda a nostalgia inerente de parte, que parece
vel a ouvidos que, não apreciando propriamente que borbulha emoções anteriores em músicas totalmente diferentes, como se de uma revisita se
death metal, ainda vão à bola com nomes como tratasse, é de tal maneira mágico que permite dizer que o colosso que era «White Walls» quase

L! RANKING Dimmu Borgir, Septicflesh ou Fleshgod Apocalyp-


se. «God Ends Here» irrompe com estrondo, apre-
sentando um alinhamento de dezasseis faixas
que tem em «Human Is Hell (Another One With Love)» uma contraparte. É um álbum recheado
de detalhes, muitos que se vão descobrindo escuta após escuta, o que não impede a surpresa
OUTUBRO 2021 de outros tão bem colocados ou tão estranhos que se tornarão emblemáticos: uma passagem
que não vão além dos 50 minutos de duração, em «The Double Helix Of Extinction» evoca o tribalismo dos Sepultura, outra em «Turbulent» até
E.F. J.B. J.C.S. J.M.R. J.R. L.P. R.A.
sendo a monotonia na qual algumas ameaçam parece Tool, e isto são meros segundos em uma hora e vinte, que ainda tem um solo de bateria
cair interrompida por diversos interlúdios instru-
DOLD VORDE ENS NAVN 7,5 5 9 8 8 9,5 7,5 7,79 mentais e orquestrais que permitem recuperar
providenciado por três ilustres e samples de desenhos animados. Um must. [9] P.C.S.
«Mørkere» algum fôlego e a esperança de uma sequência
de canções que realmente nos deixe de cara ao
FULL OF HELL 8 6 8 8 7 8,5 7 7,50 lado. Infelizmente essa nunca aparece, desenvol-
«Garden Of Burning Apparitions» vendo-se o disco à imagem daquilo que tem sido
a carreira da banda até então: de forma discreta,
CRADLE OF FILTH conservadora e sem particular capacidade em
«Existence Is Futile»
7 8 7 7 7 6,5 8 7,21 marcar a diferença. Ainda assim, não deixamos
de estar perante um interessante exercício de
peso e técnica envolto em negritude. [7] R.A.
A PALE HORSE NAMED DEATH 8 7,5 6 7 7,5 6 6,5 6,93
«Infernum In Terra» ARCHSPIRE
«Bleed The Future»
RUNNING WILD 6 8,5 8 6 6,5 4 7,5 6,64 [Season Of Mist]
«Blood On Blood» Confirmando todos os
predicados enunciados nos
excelentes e anteriores «Re-
HATE 8 7,5 6 6 5 5 7 6,36 lentless Mutation» e «The
«Rugia»
Lucid Collective», os Archspire apresentam-se,

44 LOUD! LOUD! 45
DISCOS 1914 no final deste mês, com um autêntico petardo de muito (muito rápido, muito bem, muito ________ [in-
«Where Fear And Weapons death metal técnico. Da vaga moderna do género, serir virtude]). Apesar da tonelagem sónica, Dave
Meet» digamos, mas que em nada deve ser confundido Otero soube como tornar todos os elementos bem
[Napalm] com deathcore. Diríamos que, na actualidade, o audíveis, sem que se destaque alguém em particu-
Já com o terceiro álbum grupo canadiano constitui só uma das melhores lar, mas todos os cinco integrantes. A temática é,
na bagagem, o black/death máquinas triturantes de velocidade, técnica, ex- mais uma vez, ficção científica. Às vezes, parece
dos ucranianos 1914 olha tremismo e catchiness (sim!), ao nível de uns Ne- que a música também. E que Spencer Prewett e os
para a memória colectiva da Primeira Guerra crophagist ou The Faceless, por exemplo. «Bleed outros são um bando de aliens. [8.5] N.S.
Mundial partindo das possibilidades expressivas The Future» é o quarto álbum dos Archspire, onde
do metal extremo. Não será bem aquela rawzada encontramos mais de tudo aquilo com que já nos ARMORED SAINT
apocalíptica que tenta aproximar a devastação haviam espantado. Mais habilidade musical, mais «Symbol Of Salvation Live»
sonora aos horrores vividos no campo de batalha, rapidez (sim!), mais low-end nas afinações, mais [Metal Blade]
mas não é por isso que o trabalho do quinteto classe nas guitarras (neoclássicas, a momentos, Nunca é demais recordar
deixa de provocar um efeito emocionalmente mas sempre extremas), mais efectividade nos que os Armored Saint
dilacerante. Mais do que fazer o retrato sonoro interlúdios de baixo onde pára tudo só para reco- tinham tudo para serem
da agressividade do confronto, a carreira do meçar com mais brutalidade, e mais sílabas por maiores do que foram. Com
grupo tem evoluído no sentido de encontrar um segundo de Oliver Aleron, provavelmente, o growler a recuperação de grupos dos anos 80, e a pas-
contexto musical que sirva de suporte a uma mais tagarela do momento! Um tema como «Gol- sagem de John Bush pelos Anthrax, o nome tem
escavação narrativa de episódios do conflito den Mouth Of Ruin» é uma autêntica maldade para ganho uma dimensão mais próxima do merecido.
que teve como catalisador o assassinato do bandas do mesmo ambiente que julgam tocar «Symbol Of Salvation» é o disco final da primeira
arquiduque Francisco Fernando. Neste «Where
Fear And Weapons Meet» encontramos agora
apontamentos sinfónicos que ainda se afastam
mais desse lodo cru e empapado em sangue das
trincheiras, uma intromissão a que corresponde o
abandono de elementos deathcore (pense-se no
BETWEEN THE
TURNSTILE BURIED AND ME
tema «Gasmask» do álbum de estreia e nem vale
a pena ir mais longe) que cedem protagonismo a

«Colors II»
um ambiente épico, mas com uma grandiloquên-
cia a que não se pode deixar de torcer o nariz
(«FN .380 ACP#19074», um tema com nome
«Glow On» esquisito mas que afinal é apenas modelo de…
[SUMERIAN]

O
pistola). [7] J.R. s BTBAM (podem mesmo dizer “be-te-bam”, que todos nos
[ROADRUNNER] entendemos) têm nos últimos álbuns, precisamente no seguimento do primeiro «Colors»
AEON

D
e em tudo o que se seguiu do «The Great Misdirect» em diante, seguido um percurso que,
e tempos a tempos algo acontece no tura estes rapazes decidiram esquecer todas aos Bad Brains («Don’t Play»). Há inclusiva- «God Ends Here» com altos e baixos puramente preferenciais, de um modo algo brusco mas não tão falível quanto
universo musical, chamemos-lhe uma as noções de como o hardcore deve soar e mente espaço para uma colaboração com [Metal Blade] isso, pode ser definido como os Dream Theater do metalcore. A vertente mais técnica, não neces-
conjugação de eventos, alinhamento limitaram-se a explorar terrenos desconheci- Blood Orange («Alien Love Call») que percor- Após uma ausência de qua- sariamente progressiva, quase mathcore mas sem o ser devidamente, que ali por volta do «The
dos astros ou obra do acaso, o que é certo dos à procura de inovação e de injectar algo re terrenos dreamy, naquilo que os Turnstile se uma década – «Aeons Silent Circus» quase rivalizava com os The Red Chord, foi-se diluindo em prol de um crescente
é que surge um disco que por si só muda as fresh e que soe realmente “novo”. Se no disco consideram uma canção de amor. Ao todo Black» data de 2012 –, os progressismo, alcançando no «Colors» um equilíbrio perfeito entre as ideias que a banda tinha
regras do jogo. Olhando para trás, todas as anterior já havia indícios de que este seria o são quinze faixas, que isoladamente podem suecos Aeon regressam aos vindo até então a materializar e o que queriam passar a alcançar: praticamente uma música só,
“cenas” têm isso num certo e determinado caminho, «Glow On» mostra-nos que afinal parecer distantes umas das outras, mas que discos com «God Ends Here», um trabalho que, dividida entre partes por vezes de largos minutos, em que a escola metalcore, dos riffs aos break-
momento, e o hardcore não é excepção. For- existe ainda muito por onde ir. Desde a inclu- em sequência fazem todo o sentido. O «The pese embora a distância temporal que o separa downs, das vozes às melodias, se transformava em explorações em novas direcções misturadas
mados há sensivelmente onze anos, cada são de ritmos inesperados, a refrães melódi- Shape Of Punk To Come» dos Refused mu- dos seus antecessores, soa como a sequência com concepções, até à data, completamente fora da caixa. Assim, não é de admirar que, tanto
lançamento dos Turnstile tem sido um mar- cos e orelhudos, guitarras limpas à new wave dou as regras do jogo quando saiu. «Glow lógica dos mesmos. A matriz de death metal téc- entre fãs mais antigos como mais recentes, tenha surgido um imediato alvoroço quando a banda
co alcançado pela banda. A partir de certa al- («New Heart Design») a piscares de olhos On» vai fazer o mesmo. [9.5] D.R. nico e brutal continua a definir a personalidade apontou o nome do seu novo álbum como «Colors II», apelando a que o sentido não seria fazer
da banda, aqui e ali adornada com subtis apon- uma mera segunda versão do já considerado clássico mas sim voltar a abraçar aquela mesma
tamentos sinfónicos que adensam um lado mais mentalidade, aquela frescura à procura do desconhecido, agora com mais uma década de expe-
grandioso da sua música e a torna mais apetecí- riência em cima. O resultado, mesmo colocando toda a nostalgia inerente de parte, que parece
vel a ouvidos que, não apreciando propriamente que borbulha emoções anteriores em músicas totalmente diferentes, como se de uma revisita se
death metal, ainda vão à bola com nomes como tratasse, é de tal maneira mágico que permite dizer que o colosso que era «White Walls» quase

L! RANKING Dimmu Borgir, Septicflesh ou Fleshgod Apocalyp-


se. «God Ends Here» irrompe com estrondo, apre-
sentando um alinhamento de dezasseis faixas
que tem em «Human Is Hell (Another One With Love)» uma contraparte. É um álbum recheado
de detalhes, muitos que se vão descobrindo escuta após escuta, o que não impede a surpresa
OUTUBRO 2021 de outros tão bem colocados ou tão estranhos que se tornarão emblemáticos: uma passagem
que não vão além dos 50 minutos de duração, em «The Double Helix Of Extinction» evoca o tribalismo dos Sepultura, outra em «Turbulent» até
E.F. J.B. J.C.S. J.M.R. J.R. L.P. R.A.
sendo a monotonia na qual algumas ameaçam parece Tool, e isto são meros segundos em uma hora e vinte, que ainda tem um solo de bateria
cair interrompida por diversos interlúdios instru-
DOLD VORDE ENS NAVN 7,5 5 9 8 8 9,5 7,5 7,79 mentais e orquestrais que permitem recuperar
providenciado por três ilustres e samples de desenhos animados. Um must. [9] P.C.S.
«Mørkere» algum fôlego e a esperança de uma sequência
de canções que realmente nos deixe de cara ao
FULL OF HELL 8 6 8 8 7 8,5 7 7,50 lado. Infelizmente essa nunca aparece, desenvol-
«Garden Of Burning Apparitions» vendo-se o disco à imagem daquilo que tem sido
a carreira da banda até então: de forma discreta,
CRADLE OF FILTH conservadora e sem particular capacidade em
«Existence Is Futile»
7 8 7 7 7 6,5 8 7,21 marcar a diferença. Ainda assim, não deixamos
de estar perante um interessante exercício de
peso e técnica envolto em negritude. [7] R.A.
A PALE HORSE NAMED DEATH 8 7,5 6 7 7,5 6 6,5 6,93
«Infernum In Terra» ARCHSPIRE
«Bleed The Future»
RUNNING WILD 6 8,5 8 6 6,5 4 7,5 6,64 [Season Of Mist]
«Blood On Blood» Confirmando todos os
predicados enunciados nos
excelentes e anteriores «Re-
HATE 8 7,5 6 6 5 5 7 6,36 lentless Mutation» e «The
«Rugia»
Lucid Collective», os Archspire apresentam-se,

44 LOUD! LOUD! 45
fase do grupo. Registado pouco depois da morte falsos pretensiosismos, ganhando na honestidade entre black metal e shoegaze que faziam então mosh parts e até um
do guitarrista Dave Prichard, aos 26 anos, o tra- e paixão com que nos serve um festim de death com algum interesse deu lugar neste «The ocasional solo de gui-
balho marcou o encerramento dessa era. 30 anos metal de altíssimo nível (a esmagadora «6:7» é um Rain Will Cleanse» a uma mescla de shoegaze, tarra cheio de reverb.
depois, surge esta celebração, em registo ao vivo. exemplo perfeito), capaz de ombrear com grandes dream pop, e rock lo-fi, com pinceladas de É pesado o suficiente,
Como bónus, cinco temas da maqueta que levou nomes do género e de colocar os Blood Red Thro- metal aqui e ali, sobretudo na bateria. As vozes não chegando a ser
à preparação do trabalho, com a participação o ne definitivamente (e merecidamente) na shortlist berradas foram-se com a chuva, fazendo ape- metálico, e tem rapidez
malogrado guitarrista. É uma obra que vale para de bandas a seguir. [7.5] R.A. nas uma breve aparição em «Aspiring Death», e nas doses certas. O.C.
LUÍS RATTUS
lá do simples registo ao vivo, pois retrata bem os cantares que sobraram não deixarão grande Straight Edge a marcar
o US power metal em que o grupo se inseria. BOKASSA memória. Não obstante, o principal aspecto ne- pontos. [8] D.R.
Mesmo baseando-se em temas de um só disco, «Molotov Rocktail» gativo jaz na escrita das canções, com o tema
tudo resulta bem e pode-se esquecer a voz de [Napalm] de abertura «When Night Falls» a ser disso
Bush, ficando só pelos solos de Phil Sandoval, por Quem? Era a pergunta que exemplo com a sua pobre tentativa de inspira-
exemplo em «Last Train Home», ou pelos arranjos se fazia há uns anos a pro- ção catártica, enquanto «Sometimes» é emble-
de «Tribal Dance». Assim se percebe porque ainda pósito da banda de primeira mático da placidez que vai reinando no disco.
agora o grupo continua a ser reverenciado. [8] E.F. parte dos Metallica. Hoje já Pela positiva, «Tired» e «A Future» aproxima-os
alguns sabem “quem”, e este é o primeiro disco do do registo dos Nothing e é justamente nesse
AURI grupo após essa digressão. Lá dentro, um rock a shoegaze melancólico e etéreo que «The Rain
SCATTERBRAINIAC Will Cleanse» funciona melhor e deixa melhores DESCENDENTS
«II – Those We Don’t Speak meio gás, um pouco de hardcore orelhudo e aquele
Of» lado mais arrastado do stoner, com coros fáceis. augúrios para o futuro, ainda que claramente «9th & Walnut»
[Nuclear Blast] Boas malhas? Muitas, ainda que lentas para fãs de não joguem no mesmo campeonato de Dome- [Epitaph]

A
NHEDONIA é o título da banda desenhada, em Serei o único a ficar mais Offspring, por exemplo, e sempre no rock a meio nic Palermo e companhia. Pode-se ter perdido Ao oitavo álbum, sem
formato fanzine/revista, de Matias Caro Abarca, entusiasmado com este gás. Escute-se «Godless», tema retro que muitos uma banda mediana de post-black metal, mas que tivessem qualquer
tatuador e graffiter de Santiago do Chile, que se projecto de Tuomas grupos adorariam levar ao top, metendo apenas a julgar pelo que de melhor encontramos neste necessidade de demar-
dedica também a esta forma de arte. São várias his- Holapainen do que com qualquer coisa que os um pouco de aditivo. «Careless (In The Age Of terceiro disco do quarteto de Chicago, podemos car o impacto que tive-
tórias curtas onde através de um estilo a lembrar os Nightwish tenham lançado nos últimos tempos? Altruism)» é malhão, provavelmente melhor do ter um nome sério para o futuro do shoegaze ram na formulação do
comics da MAD, cruzado com Chiclete Com Banana, O segundo álbum surge alguns anos depois (uma disco e com o ritmo certo. «So Long Idiots!» tem mais pesado. [6] L.P. universo punk rock, os
expõem aventuras baseadas em culturas de rua como década para ser exacto), mas o impacto não deixa aquele feeling NOFX, e resulta, tal como a seguinte Descendents decidem
os mods, skinheads, punks, rockers ou bikers. de ser bem acima da média. A união do teclista e «Pitchforks R Us». Já «Low (And Behold)» soa a CRIMSON BRIDGE antes tomar pela frente
líder dos Nightwish à vocalista Johanna Kurkela Beastie Boys. Sendo noruegueses, pode também «In Pitch Black» um exercício que tem
Se acharam estranho o retorno em força das cassetes e ao multi-instrumentista Troy Donockley é quase falar-se no humor corrosivo dos Turbonegro, de [Blast Beat] tanto de celebração
como suporte musical físico, o que dizer então dos mágica pelos diversos campos onde passam, do quem herdam alguma influência musical. Com esta São novos como banda e como de reconstrução
flexi discs? Longe dos anos 60 em que eram usados folk ao ambient alternativo (a roçar o trip hop) amostra, os Bokassa podem mesmo representar como músicos, e isso jus- do que foi a sua histó-
como telegramas, dos anos 70 e 80 em que despoleta- até à beleza da música de câmara – sem o ser uma nova vaga de rock fresco e orelhudo, que não tifica o melting pot musical ria: os dezoito temas
ram numa vertente promocional, ou mesmo dos anos realmente. Poderá não ser o disco imediato para se leva muito a sério, e que pretende concorrer deste disco. Há aqui uma apresentados em «9th
90 onde foram usados em força pelos anarco-punks, ouvidos metálicos mas quem aprecia todos os para as tabelas de popularidade. [6.5] E.F. mistura de estilos que resulta bem, mas onde & Walnut» – o nome
eis que corre o ano 2021 e os flexi voltam a marcar géneros/subgéneros citados atrás não vai ficar um rumo mais concreto faria ganhar definição. aponta o cruzamento
presença no circuito alternativo. Neste contexto re- desiludido. Recomenda-se especialmente o tema CAVEMAN CULT Neste «In Pitch Black» há thrash, pouco, tech onde se localizava o
ferimos o EP dos SCALPO, «È La Lotta L’Avvenire», «Light And Flood» como algo belíssimo e marcan- «Blood And Extinction» death, algum, e metalcore. Trabalho audacioso, seu primeiro espaço de
editado pela basca Mendeku Diskak. Apenas um lado te, que motivará apreciar o resto do álbum ainda [Nuclear War Now!] que vem servido de excelentes solos de guitarra. ensaio em Long Beach,
gravado com quatro temas a 33rpm, onde a fúria do com mais paixão. [8] F.F. Aviso: se não tens qualquer O ritmo resulta bem, com a bateria a precisar de Califórnia – datam
punk/hardcore se cruza com as influências do oi! ita- interesse pelo war/bestial outra captação. As vozes são bem conseguidas, entre 1977 e 1981,
liano (de onde os Scalpo são originários) dos anos 80. BLOOD RED THRONE metal ou não sentes qual- mas eventualmente mais polidas e harmoniosas foram compostos pelo
Influências de bandas como Dioxina ou Wretched são «Imperial Congregation» quer tipo de apelo por esse que alguns desejariam. «Ruthless Tides», com alinhamento original
notórias no mid-tempo dos Scalpo. O disco é apresen- [Nuclear Blast] tipo de som bárbaro feito de híbridos black/death direito a convidado, João Miguel, acaba a ser um de Bill Stevenson,
tado numa capa forte para dar consistência à edição. Estávamos em 1998 e os – e impulsionado pelo punk –, o melhor mesmo é dos temas mais conseguidos, onde a vertente Frank Navetta e Tony
Blood Red Throne surgiam saltares já para a próxima review. Apesar de se- técnica se alia perfeitamente à melodia, cruzando Lombardo, mas apenas
Vindos da República Checa, os NÁPOIKA lançam o mais conotados enquanto rem oriundos do lado mais ensolarado da Flórida, com blastbeats típicos do metalcore. No entanto, gravados em 2002, aos
seu primeiro trabalho, o álbum «Prvni Snyt», numa projecto dos guitarristas a nível musical os Caveman Cult posicionam-se o álbum tem mais malhas, como «At The Cliffs» quais a “mascote” Milo
co-edição entre a Ragtime Records, Dubuttons, Skala Død e Tchort, dois nomes ligados, entre outros, num quadrante totalmente oposto em termos e «The Disheartened», terminando com um tema Aukerman – embora
Music e Smisené Zbozi. Trata-se de um CD com oito aos Satyricon, do que propriamente enquanto de estado de espírito, mergulhando fundo num bem longo, «Fight For The Chance», muito interes- desconhecesse a maio-
temas de oi! punk fortemente influenciado pelo som banda a ser levada a sério numa perspectiva de universo feio e sombrio. Ainda mais primitivos sante, revelando a faceta melódica do grupo, mas ria das canções, pois
das bandas de Leste como Operace Artaban ou Or- longevidade. Chegados a 2021, os noruegueses do que os Bestial Warlust e mais simples que os talvez dispensável no contexto. Fica uma estreia só mais tarde entraria
lik. Baixo bastante presente a guiar a melodia, tempo ainda por cá andam e, sem qualquer pudor ou Diocletian, os três músicos – o baterista R. Smith auspiciosa, resta esperar pelo refinar e maturar do na banda – aplicou a
pausado num street rock´n´roll talhado para bootboys. misericórdia, trucidam-nos com mais um exercício acumula funções nos bastante mais moderados trabalho. [7.5] E.F. sua icónica voz através
de death metal de alto calibre. «Imperial Congrega- Torche – focam-se em ritmos ferozes, riffs violen- de gravações caseiras
«VISEU DEMO TAPES VOLUME 1» é o resultado do tion», o décimo álbum da banda, assinala mais um tos e vocalizações que parecem vir directamente DARE em plena pandemia.
trabalho de pesquisa, recolha e tratamento das bandas marco importante numa carreira errante, plena de das profundezas do inferno. O resultado são «Against All Odds» Deste modo, o resul-
que fizeram o underground em Viseu e construíram um altos e baixos, ainda que mais a nível de reconhe- descargas curtas e acutilantes, repletas de bati- [Revelation] tado demonstra uma
circuito muito peculiar, principalmente nos anos 80 e 90. cimento e posicionamento na editora certa do que das em sincronia e padrões de ritmo frenéticos, Há discos que emanam competência técnica
Este trabalho, levado a cabo pelo melómano Ricardo Ra- propriamente no que diz respeito à qualidade do totalmente devastadores, num ataque implacável uma certa vibe. É inevi- (como quem diz, uma
mos, resultou num duplo CD com edição da Zip CD, onde trabalho apresentado. Este disco marca a estreia e hermético, que não cede nem por um momento, tável, antes de partirmos enorme falta de pregos)
encontramos um pouco de tudo, desde o post punk mais da banda na gigante Nuclear Blast, que não ficou e não permite que haja qualquer espaço para para a descoberta, sermos que os miúdos naquela
obscuro às riffalhadas mais metal, passando pela pop indiferente à brutidade que «Fit To Kill» represen- respirar enquanto o disco rola no leitor. Fiel aos livres de qualquer preconceito, principalmente garagem certamente
mais alternativa. Obviamente o punk movido a maquina- tou há dois anos. «Imperial Congregation» é death seus propósitos, em pouco mais de vinte minutos quando há acesso a detalhes como o nome do não teriam, ao mesmo
ria dos Major Alvega ou dos Lucretia Divina saltam-nos à metal sem tretas ou artifícios, bruto, directo e este trio consegue elevar ao zénite a selvajaria artista, título do álbum ou a capa. Este primeiro tempo que se torna
vista, ou neste caso aos ouvidos. Vemo-nos no Volume 2? honesto. Sem entrar em exercícios de técnica e primordial, com o seu quê de louco e abrasivo, disco dos DARE foi editado pela Revelation, curioso imaginar estes
rapidez desmesurada, até porque nunca foi esse o capaz de libertar as reservas de adrenalina para a uma das mais influentes editoras de sempre na punks, agora bem mais
Uma última referência para «Scatter The Brains!!», o álbum desígnio da banda, os Blood Red Throne centram- corrente sanguínea do ouvinte. [8] J.M.R. cena hardcore e escolhe fazer poucas edições velhos, a emular os
dos SCATTERBRAINIAC, o projecto do multifacetado -se numa abordagem mais contida, mais arrastada por ano, mas que se nota serem escolhidos seus hinos a uma rebel-
Bruno Esteves. Nove originais e a fechar o disco uma co- e mais sadicamente trucidante pela forma como CHROME WAVES cuidadosamente (claro que há sempre algumas dia juvenil. Ainda assim,
ver de «The Bomb» das L7. Editado pela Miasma Of Barba- riffs demolidores se interligam com a cavernosida- «The Rain Will Cleanse» falhas, mas regra geral são tiros certeiros no para compreender a
rity e pela Half Beast Records, com um apelativo artwork de de uma voz que intimida pelo seu poder, e com [Transcending / Disorder] alvo). «Against All Odds» é um disco de hard- passagem de um punk
de João Martins Moca, o disco é carregado de temas a excelência de sucessivos e assertivos solos de Longe, muito longe, estão core moderno, mas que ao mesmo tempo sabe rock mais ácido para a
punk curtos, rasgados e in-your-face, com um feeling sóni- guitarra que contrabalançam com uma secção rít- os Chrome Waves de «A honrar e prestar tributo aos últimos 40 anos, base do nascimento do
co e rock’n’roll sujo a roçar o lo-fi. Há ainda tempo para mica discreta mas incrivelmente segura. «Imperial Grief Observed» e «Where sem aquele rip off descarado que facilmente pop punk, é em si uma
um piscar de olho ao surf em «Surf Song In D-Beat Minor». Congregation» não reinventa a roda nem apresenta We Live». O cruzamento acontece. Há muito groove aqui, há two step e lição. [7] P.C.S.

46 LOUD! LOUD! 47
fase do grupo. Registado pouco depois da morte falsos pretensiosismos, ganhando na honestidade entre black metal e shoegaze que faziam então mosh parts e até um
do guitarrista Dave Prichard, aos 26 anos, o tra- e paixão com que nos serve um festim de death com algum interesse deu lugar neste «The ocasional solo de gui-
balho marcou o encerramento dessa era. 30 anos metal de altíssimo nível (a esmagadora «6:7» é um Rain Will Cleanse» a uma mescla de shoegaze, tarra cheio de reverb.
depois, surge esta celebração, em registo ao vivo. exemplo perfeito), capaz de ombrear com grandes dream pop, e rock lo-fi, com pinceladas de É pesado o suficiente,
Como bónus, cinco temas da maqueta que levou nomes do género e de colocar os Blood Red Thro- metal aqui e ali, sobretudo na bateria. As vozes não chegando a ser
à preparação do trabalho, com a participação o ne definitivamente (e merecidamente) na shortlist berradas foram-se com a chuva, fazendo ape- metálico, e tem rapidez
malogrado guitarrista. É uma obra que vale para de bandas a seguir. [7.5] R.A. nas uma breve aparição em «Aspiring Death», e nas doses certas. O.C.
LUÍS RATTUS
lá do simples registo ao vivo, pois retrata bem os cantares que sobraram não deixarão grande Straight Edge a marcar
o US power metal em que o grupo se inseria. BOKASSA memória. Não obstante, o principal aspecto ne- pontos. [8] D.R.
Mesmo baseando-se em temas de um só disco, «Molotov Rocktail» gativo jaz na escrita das canções, com o tema
tudo resulta bem e pode-se esquecer a voz de [Napalm] de abertura «When Night Falls» a ser disso
Bush, ficando só pelos solos de Phil Sandoval, por Quem? Era a pergunta que exemplo com a sua pobre tentativa de inspira-
exemplo em «Last Train Home», ou pelos arranjos se fazia há uns anos a pro- ção catártica, enquanto «Sometimes» é emble-
de «Tribal Dance». Assim se percebe porque ainda pósito da banda de primeira mático da placidez que vai reinando no disco.
agora o grupo continua a ser reverenciado. [8] E.F. parte dos Metallica. Hoje já Pela positiva, «Tired» e «A Future» aproxima-os
alguns sabem “quem”, e este é o primeiro disco do do registo dos Nothing e é justamente nesse
AURI grupo após essa digressão. Lá dentro, um rock a shoegaze melancólico e etéreo que «The Rain
SCATTERBRAINIAC Will Cleanse» funciona melhor e deixa melhores DESCENDENTS
«II – Those We Don’t Speak meio gás, um pouco de hardcore orelhudo e aquele
Of» lado mais arrastado do stoner, com coros fáceis. augúrios para o futuro, ainda que claramente «9th & Walnut»
[Nuclear Blast] Boas malhas? Muitas, ainda que lentas para fãs de não joguem no mesmo campeonato de Dome- [Epitaph]

A
NHEDONIA é o título da banda desenhada, em Serei o único a ficar mais Offspring, por exemplo, e sempre no rock a meio nic Palermo e companhia. Pode-se ter perdido Ao oitavo álbum, sem
formato fanzine/revista, de Matias Caro Abarca, entusiasmado com este gás. Escute-se «Godless», tema retro que muitos uma banda mediana de post-black metal, mas que tivessem qualquer
tatuador e graffiter de Santiago do Chile, que se projecto de Tuomas grupos adorariam levar ao top, metendo apenas a julgar pelo que de melhor encontramos neste necessidade de demar-
dedica também a esta forma de arte. São várias his- Holapainen do que com qualquer coisa que os um pouco de aditivo. «Careless (In The Age Of terceiro disco do quarteto de Chicago, podemos car o impacto que tive-
tórias curtas onde através de um estilo a lembrar os Nightwish tenham lançado nos últimos tempos? Altruism)» é malhão, provavelmente melhor do ter um nome sério para o futuro do shoegaze ram na formulação do
comics da MAD, cruzado com Chiclete Com Banana, O segundo álbum surge alguns anos depois (uma disco e com o ritmo certo. «So Long Idiots!» tem mais pesado. [6] L.P. universo punk rock, os
expõem aventuras baseadas em culturas de rua como década para ser exacto), mas o impacto não deixa aquele feeling NOFX, e resulta, tal como a seguinte Descendents decidem
os mods, skinheads, punks, rockers ou bikers. de ser bem acima da média. A união do teclista e «Pitchforks R Us». Já «Low (And Behold)» soa a CRIMSON BRIDGE antes tomar pela frente
líder dos Nightwish à vocalista Johanna Kurkela Beastie Boys. Sendo noruegueses, pode também «In Pitch Black» um exercício que tem
Se acharam estranho o retorno em força das cassetes e ao multi-instrumentista Troy Donockley é quase falar-se no humor corrosivo dos Turbonegro, de [Blast Beat] tanto de celebração
como suporte musical físico, o que dizer então dos mágica pelos diversos campos onde passam, do quem herdam alguma influência musical. Com esta São novos como banda e como de reconstrução
flexi discs? Longe dos anos 60 em que eram usados folk ao ambient alternativo (a roçar o trip hop) amostra, os Bokassa podem mesmo representar como músicos, e isso jus- do que foi a sua histó-
como telegramas, dos anos 70 e 80 em que despoleta- até à beleza da música de câmara – sem o ser uma nova vaga de rock fresco e orelhudo, que não tifica o melting pot musical ria: os dezoito temas
ram numa vertente promocional, ou mesmo dos anos realmente. Poderá não ser o disco imediato para se leva muito a sério, e que pretende concorrer deste disco. Há aqui uma apresentados em «9th
90 onde foram usados em força pelos anarco-punks, ouvidos metálicos mas quem aprecia todos os para as tabelas de popularidade. [6.5] E.F. mistura de estilos que resulta bem, mas onde & Walnut» – o nome
eis que corre o ano 2021 e os flexi voltam a marcar géneros/subgéneros citados atrás não vai ficar um rumo mais concreto faria ganhar definição. aponta o cruzamento
presença no circuito alternativo. Neste contexto re- desiludido. Recomenda-se especialmente o tema CAVEMAN CULT Neste «In Pitch Black» há thrash, pouco, tech onde se localizava o
ferimos o EP dos SCALPO, «È La Lotta L’Avvenire», «Light And Flood» como algo belíssimo e marcan- «Blood And Extinction» death, algum, e metalcore. Trabalho audacioso, seu primeiro espaço de
editado pela basca Mendeku Diskak. Apenas um lado te, que motivará apreciar o resto do álbum ainda [Nuclear War Now!] que vem servido de excelentes solos de guitarra. ensaio em Long Beach,
gravado com quatro temas a 33rpm, onde a fúria do com mais paixão. [8] F.F. Aviso: se não tens qualquer O ritmo resulta bem, com a bateria a precisar de Califórnia – datam
punk/hardcore se cruza com as influências do oi! ita- interesse pelo war/bestial outra captação. As vozes são bem conseguidas, entre 1977 e 1981,
liano (de onde os Scalpo são originários) dos anos 80. BLOOD RED THRONE metal ou não sentes qual- mas eventualmente mais polidas e harmoniosas foram compostos pelo
Influências de bandas como Dioxina ou Wretched são «Imperial Congregation» quer tipo de apelo por esse que alguns desejariam. «Ruthless Tides», com alinhamento original
notórias no mid-tempo dos Scalpo. O disco é apresen- [Nuclear Blast] tipo de som bárbaro feito de híbridos black/death direito a convidado, João Miguel, acaba a ser um de Bill Stevenson,
tado numa capa forte para dar consistência à edição. Estávamos em 1998 e os – e impulsionado pelo punk –, o melhor mesmo é dos temas mais conseguidos, onde a vertente Frank Navetta e Tony
Blood Red Throne surgiam saltares já para a próxima review. Apesar de se- técnica se alia perfeitamente à melodia, cruzando Lombardo, mas apenas
Vindos da República Checa, os NÁPOIKA lançam o mais conotados enquanto rem oriundos do lado mais ensolarado da Flórida, com blastbeats típicos do metalcore. No entanto, gravados em 2002, aos
seu primeiro trabalho, o álbum «Prvni Snyt», numa projecto dos guitarristas a nível musical os Caveman Cult posicionam-se o álbum tem mais malhas, como «At The Cliffs» quais a “mascote” Milo
co-edição entre a Ragtime Records, Dubuttons, Skala Død e Tchort, dois nomes ligados, entre outros, num quadrante totalmente oposto em termos e «The Disheartened», terminando com um tema Aukerman – embora
Music e Smisené Zbozi. Trata-se de um CD com oito aos Satyricon, do que propriamente enquanto de estado de espírito, mergulhando fundo num bem longo, «Fight For The Chance», muito interes- desconhecesse a maio-
temas de oi! punk fortemente influenciado pelo som banda a ser levada a sério numa perspectiva de universo feio e sombrio. Ainda mais primitivos sante, revelando a faceta melódica do grupo, mas ria das canções, pois
das bandas de Leste como Operace Artaban ou Or- longevidade. Chegados a 2021, os noruegueses do que os Bestial Warlust e mais simples que os talvez dispensável no contexto. Fica uma estreia só mais tarde entraria
lik. Baixo bastante presente a guiar a melodia, tempo ainda por cá andam e, sem qualquer pudor ou Diocletian, os três músicos – o baterista R. Smith auspiciosa, resta esperar pelo refinar e maturar do na banda – aplicou a
pausado num street rock´n´roll talhado para bootboys. misericórdia, trucidam-nos com mais um exercício acumula funções nos bastante mais moderados trabalho. [7.5] E.F. sua icónica voz através
de death metal de alto calibre. «Imperial Congrega- Torche – focam-se em ritmos ferozes, riffs violen- de gravações caseiras
«VISEU DEMO TAPES VOLUME 1» é o resultado do tion», o décimo álbum da banda, assinala mais um tos e vocalizações que parecem vir directamente DARE em plena pandemia.
trabalho de pesquisa, recolha e tratamento das bandas marco importante numa carreira errante, plena de das profundezas do inferno. O resultado são «Against All Odds» Deste modo, o resul-
que fizeram o underground em Viseu e construíram um altos e baixos, ainda que mais a nível de reconhe- descargas curtas e acutilantes, repletas de bati- [Revelation] tado demonstra uma
circuito muito peculiar, principalmente nos anos 80 e 90. cimento e posicionamento na editora certa do que das em sincronia e padrões de ritmo frenéticos, Há discos que emanam competência técnica
Este trabalho, levado a cabo pelo melómano Ricardo Ra- propriamente no que diz respeito à qualidade do totalmente devastadores, num ataque implacável uma certa vibe. É inevi- (como quem diz, uma
mos, resultou num duplo CD com edição da Zip CD, onde trabalho apresentado. Este disco marca a estreia e hermético, que não cede nem por um momento, tável, antes de partirmos enorme falta de pregos)
encontramos um pouco de tudo, desde o post punk mais da banda na gigante Nuclear Blast, que não ficou e não permite que haja qualquer espaço para para a descoberta, sermos que os miúdos naquela
obscuro às riffalhadas mais metal, passando pela pop indiferente à brutidade que «Fit To Kill» represen- respirar enquanto o disco rola no leitor. Fiel aos livres de qualquer preconceito, principalmente garagem certamente
mais alternativa. Obviamente o punk movido a maquina- tou há dois anos. «Imperial Congregation» é death seus propósitos, em pouco mais de vinte minutos quando há acesso a detalhes como o nome do não teriam, ao mesmo
ria dos Major Alvega ou dos Lucretia Divina saltam-nos à metal sem tretas ou artifícios, bruto, directo e este trio consegue elevar ao zénite a selvajaria artista, título do álbum ou a capa. Este primeiro tempo que se torna
vista, ou neste caso aos ouvidos. Vemo-nos no Volume 2? honesto. Sem entrar em exercícios de técnica e primordial, com o seu quê de louco e abrasivo, disco dos DARE foi editado pela Revelation, curioso imaginar estes
rapidez desmesurada, até porque nunca foi esse o capaz de libertar as reservas de adrenalina para a uma das mais influentes editoras de sempre na punks, agora bem mais
Uma última referência para «Scatter The Brains!!», o álbum desígnio da banda, os Blood Red Throne centram- corrente sanguínea do ouvinte. [8] J.M.R. cena hardcore e escolhe fazer poucas edições velhos, a emular os
dos SCATTERBRAINIAC, o projecto do multifacetado -se numa abordagem mais contida, mais arrastada por ano, mas que se nota serem escolhidos seus hinos a uma rebel-
Bruno Esteves. Nove originais e a fechar o disco uma co- e mais sadicamente trucidante pela forma como CHROME WAVES cuidadosamente (claro que há sempre algumas dia juvenil. Ainda assim,
ver de «The Bomb» das L7. Editado pela Miasma Of Barba- riffs demolidores se interligam com a cavernosida- «The Rain Will Cleanse» falhas, mas regra geral são tiros certeiros no para compreender a
rity e pela Half Beast Records, com um apelativo artwork de de uma voz que intimida pelo seu poder, e com [Transcending / Disorder] alvo). «Against All Odds» é um disco de hard- passagem de um punk
de João Martins Moca, o disco é carregado de temas a excelência de sucessivos e assertivos solos de Longe, muito longe, estão core moderno, mas que ao mesmo tempo sabe rock mais ácido para a
punk curtos, rasgados e in-your-face, com um feeling sóni- guitarra que contrabalançam com uma secção rít- os Chrome Waves de «A honrar e prestar tributo aos últimos 40 anos, base do nascimento do
co e rock’n’roll sujo a roçar o lo-fi. Há ainda tempo para mica discreta mas incrivelmente segura. «Imperial Grief Observed» e «Where sem aquele rip off descarado que facilmente pop punk, é em si uma
um piscar de olho ao surf em «Surf Song In D-Beat Minor». Congregation» não reinventa a roda nem apresenta We Live». O cruzamento acontece. Há muito groove aqui, há two step e lição. [7] P.C.S.

46 LOUD! LOUD! 47
EMPLOYED TO SERVE elementos nu-metal bem colocados, este novo EX DEO experimentalismo e improvisação a meio do tema, estatuto que já alcançaram, sejam os Behemoth Filth («Horror Injection» do anterior «Into The
«Conquering» «Conquering» eleva ainda mais essa fasquia sem «The Thirteen Years Of Nero» e um arrepiante e grandioso final. [9.5] L.P. – sem prejuízo de também não querer deixar de Red», por exemplo) eis que resolvem abordar de
[Spinefarm] receio de experimentar, por exemplo, com as [Napalm] parte nomes como Vader, Decapitated, Lost Soul forma explicita uma série de filmes de terror que
Pouco mais de dois anos vozes melódicas que o guitarrista Sammy Urwin Este é já o quarto álbum GHOST BATH ou Azarath, por exemplo. No entanto, formados se lhes ficaram queimados nas pálpebras, muito
volvidos desde a fúria emprega nos versos de «Mark Of The Grave» ou do projecto, aliás, banda «Self Loather» sensivelmente pela mesma altura – mantendo provavelmente à custa de muitas sessões da
musculada que é «Eternal em «Stand Alone». Mas não se preocupem, não paralela de músicos dos [Nuclear Blast] apenas o seu guitarrista e vocalista, Adam “The meia noite regadas a cerveja. O resultado desse
Forward Motion» e os fiquem já a pensar que só por isso o caminho já Kataklysm. Sendo um Por duas vezes a biografia First Sinner” Buszko, como membro original – e revisitar é este pequeno EP, uma homenagem ao
jovens britânicos, encabeçados pela endiabrada aponta para uns While She Sleeps, quando na trabalho conceptual sobre determinado momento facultada a propósito do alcançando agora os doze registos de longa- imaginário de realizadores como John Carpenter
vocalista Justine Jones, já estão de regresso para realidade continuam muito mais próximos de uns do Império Romano, o título é auto-explicativo. quarto álbum dos Ghost -duração, temos os veteranos Hate como peça («Halloween» e «The Thing») ou William Lustig
mais uma dose do seu metalcore particularmente Rolo Tomassi, sem tanta matemática, mas com o Desde que Maurizio Iacono – canadiano de raízes Bath, refere “depressive incontornável do blackened death metal. Manten- («Maniac»), mas com uma toada muito mais
hardcorizado. Se nesse antecessor já se notava pé constantemente no acelerador, com cadências italianas – encarnou Rómulo na estreia de 2009, black metal”, mas procura-se e não se encontra do a mesma comparação temporal – talvez algo roqueira que o metal da morte a que nos habitua-
uma direcção menos caótica e mais in your face, que vão entre a visão mais disruptiva dos Code os Ex Deo têm vindo a conquistar o seu espaço o argumento para tal. De facto, temas como injusta até pelos percursos traçados por ambas ram. Slash ‘n’ Roll sem merdas, com uma pitada
em comparação aos seus primeiros trabalhos, Orange e a vontade de distribuir tabefes dos Kno- naquilo que pode ser descrito como “metal his- «Sanguine Mask» possuem uma toada doomíca, –, se «I Loved You At Your Darkest» tem os seus de versões de Misfits e Ramones a rematar, e
inclusive com alguma incorporação de subtis cked Loose. [8] P.C.S. toricista” num combo de death metal sinfónico, mas daí até ao “depressive”, ainda vai muito. Na momentos mais melódicos e atmosféricos, já nada mais. [5] J.R.
algures entre os Fleshgod Apocalypse e os Amon realidade, é redutor usar esse termo acerca de um «Rugia» é um verdadeiro tanque que leva tudo à
Amarth. A vantagem dos Ex Deo é que não são tão disco com imensos elementos por onde pegar, frente, praticamente sem momentos em que se HELHEIM
complexos como os primeiros, nem tão simplistas

CRADLE OF FILTH
como por exemplo o bom trabalho de guitarras ou desacelera, numa constante sucessão de riffs de- «WoduridaR»
ou mitológicos como os segundos. «The Thirteen os arranjos de teclas. Também não é pelo uso do molidores, linhas vocais possantes e uma percus- [Dark Essence]
Years Of Nero» enleia informação histórico-política termo que ficam a ganhar, pois o que está plasma- são all over the place carregada de pedal duplo, ao Em actividade desde 1992

«Existence Is Futile»
do primeiro século d.C. (aludindo à personalidade do neste «Self Loather», certamente afastará os ponto que apelar a um habitat entre Hate Eternal e e contando na sua forma-
paranóica de um dos imperadores mais extrava- verdadeiros fãs do género. As teclas até conferem Zyklon, cortando as respectivas gorduras de géne- ção com três elementos
[NUCLEAR BLAST] gantes de sempre) com instrumentos da altura, um carácter mais goth, como na introdução de «I ro, não parece exagerado. [8] P.C.S. que a integram desde o
como a lira e a harpa. Este disco é particularmente Hope Death Finds Me Well», e um dos problemas primeiro momento, os noruegueses Helheim já

M
esmo que a realidade tenha muito mais nuances que cinemático, fruto das elaboradas orquestrações de reside mesmo na salgalhada de referências que HEADS FOR THE DEAD pouco ou nada têm a provar a quem quer que
estas generalizações que fazemos às vezes, parece rela- Ardek dos Carach Angren que jogam muito bem acaba a retirar consistência. Ao contrário de ou- «Slash ‘n’ Roll» seja, sendo senhores de um espaço muito pró-
tivamente seguro fazer a observação de que os fãs dos com a distorção típica de J-F Dagenais e com a tros nomes do USBM, como Uada ou Cobalt, não [Transcending Obscurity] prio e ao qual permanecem fiéis de forma algo
Cradle Of Filth se dividem, grosso modo, em dois “campos”: de determinação vocal de Iacono. Destaque ainda para há uma linha definida, nem o grupo consegue criar É ponte por onde ainda ortodoxa. O paralelismo com os Enslaved será,
um lado, tipicamente os mais jovens, que adoram a teatralidade da coisa, se estão borrifando para o elemento feminino em «Boudicca (Queen Of The algo transcendental, em particular na visão de há-de passar muito lamaçal, porventura, um dos mais recorrentes, quer pela
kvltismos, e papam (sem qualquer carácter depreciativo, note-se) sem reservas os álbuns regula- Iceni)» com a participação da vocalista dos Unleash quem usufruiu da riqueza musical europeia. [6] E.F. mas a ligação do death contemporaneidade de ambas as bandas, quer
res e vão enchendo concertos. Por outro lado, normalmente os mais velhotes, que já cá andavam The Archers, Brittney Slayes. Os temas são maiori- metal ao imaginário cine- pela inspiração viking que influencia e molda,
quando lhes terá eventualmente chegado à mão, provavelmente numa cassete qualquer vinda de tariamente lentos, mas o som geral não perde poder HATE matográfico do horror é mais traiçoeira que as desde sempre, as respectivas sonoridades e
outras paragens, uma maqueta chamada «Total Fucking Darkness» (especialmente essa), que, (pelo contrário!) por isso. Um trabalho que merece a «Rugia» primeiras impressões fazem parecer. Pegue-se imaginários. Mas ao contrário dos autores de
sejamos sinceros, revolucionou um bocado a nossa visão do black metal – que ainda se desen- atenção dos apreciadores do género. [7.5] N.S. [Metal Blade] no exemplo destes Heads For The Dead, que têm «Mardraum», que evoluíram para terrenos mais
volvia enquanto género dia a dia perante os nossos olhos e ouvidos –, e iniciou uma lua-de-mel Quando se fala de bandas editado uma série de discos onde acompanham progressivos e para abordagens mais cativantes
quase perfeita que durou, na melhor das hipóteses, até ao «Cruelty And The Beast». Este escriba FLUISTERAARS polacas, é normal que a de perto uma série de clichés que associamos ao ao ouvido, os Helheim teimam em manter as
assume sem problemas fazer parte dessa equipa, e mesmo tendo dado oportunidades amplas a «Gegrepen Door De Geest Der primeira referência que género: praticantes de um death metal cavernoso coisas numa forma mais conservadora e fiel às
todos os álbuns que se seguiram, face ao crédito infinito que a existência 1993-1998 dos Cradle Of Zielsontuiking» ocorra hoje em dia, até pelo sensível às texturas do horror gótico à la Dani raízes. Os dialectos locais e ancestrais continuam
Filth providenciou, a coisa nunca mais teve o mesmo encanto. A porta giratória de membros (que [Eisenwald / Haeresis No-
já existia antes, mas que fez o conjunto caminhar cada vez mais ao actual estado de Dani Filth viomagi]
+ uns gajos, que ironicamente até já se mantêm na sua maior parte estáveis há algum tempo), a Parece que fez bem aos
comercialização e diluição daquela antiga grandiloquência temática e sonora que parece cada vez Fluisteraars passar para for-
mais forçada… Apesar de um sinal de esperança ou outro pelo caminho (o «Hammer Of The Wit- mato duo (um bocado como aqueles noruegueses
ches» terá sido o sinal mais intenso), a expectativa para este “campo” já não é muito. Enfim, este que o fizeram em 1993 e não mais olharam para
longo preâmbulo serve para concluir que vale a pena esperar por coisas em que não se acredita trás). Desde então, lançaram o belíssimo «Bloem»
muito, às vezes. Não, «Existence Is Futile» não está, de todo, no campeonato dos três primeiros no ano passado, todo ele beleza evocada através
(+ EP). Mas sim, é de longe o melhor álbum desde então, e que nos deixa um deliciosamente de um minimalismo naturalista, e regressam agora
irritante what if para o que virá a seguir. Mais directos e menos sinfónicos que o habitual, como com «Gegrepen Door De Geest Der Zielsontuiking»,
que fazendo jus à temática apocalíptica e niilista, com «Crawling King Chaos» e a última «Us, Dark, que consegue ser ainda mais idiossincrático.
Invincible» em particular a apresentarem-se como do mais selvagem que a banda fez nos últimos Há um aumento de agressividade, fruto de uma
anos, os britânicos aparecem revitalizados em boa parte do álbum e às vezes é isso que faz a produção mais aberta, a acontecer em simultâneo
diferença. Basta pensar que não, «Existence Is Futile» não é assim tão diferente, esteticamente, com guitarras de uma textura de tal forma etérea
do anterior – e horrível, convenhamos – «Cryptoriana…», mas os “tomates” que algumas destas – a influência do psicadélico dos anos 60 é nesse
malhas têm elevam-nas grandemente a algo muito acima da média. Filler com fartura? Também sentido mais clara que nunca – que forçou a ban-
há, claro que sim. Mas tudo bem. Mesmo que a existência seja fútil e que lá no fundo saibamos da a declarar que nenhum teclado fora usado na
que nunca mais vamos ter uma «Queen Of Winter, Throned», deixem-nos ter esperança. [7] J.C.S. gravação do álbum. No campo vocal, Bob Mollema
assina porventura a sua mais subtil e expressiva
performance até hoje, criando o complemento
perfeito para o torrencial instrumental de M. Koops,
que se assume como um dos grandes bateristas
do género, e conferindo a urgência necessária
para cumprir o objectivo de criar um álbum para
a exaltação da psique. Performances à parte, é na
composição e estruturação do disco que encon-
tramos a chave para o seu génio. Duas canções
ligeiramente abaixo dos dez minutos abrem-no num
registo essencialmente Fluisteraars clássico, ainda
que a primeira termine numa peculiar outro de ex-
perimentação à volta da bateria, feedback, e ecos.
Chega-nos então «Verscheuring In De Schemering»,
que do alto dos seus vinte minutos é a melhor
canção que o colectivo já gravou e a razão para a
qual a referência aos Tangerine Dream a tocar black
metal na nota da imprensa não pareça de todo des-
cabida. Há espaço para tudo, de riffs fenomenais, a
baixos sinuosos, arranjos perfeitos, dinâmicas em
constante mutação, uma entrada a pés juntos no

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EMPLOYED TO SERVE elementos nu-metal bem colocados, este novo EX DEO experimentalismo e improvisação a meio do tema, estatuto que já alcançaram, sejam os Behemoth Filth («Horror Injection» do anterior «Into The
«Conquering» «Conquering» eleva ainda mais essa fasquia sem «The Thirteen Years Of Nero» e um arrepiante e grandioso final. [9.5] L.P. – sem prejuízo de também não querer deixar de Red», por exemplo) eis que resolvem abordar de
[Spinefarm] receio de experimentar, por exemplo, com as [Napalm] parte nomes como Vader, Decapitated, Lost Soul forma explicita uma série de filmes de terror que
Pouco mais de dois anos vozes melódicas que o guitarrista Sammy Urwin Este é já o quarto álbum GHOST BATH ou Azarath, por exemplo. No entanto, formados se lhes ficaram queimados nas pálpebras, muito
volvidos desde a fúria emprega nos versos de «Mark Of The Grave» ou do projecto, aliás, banda «Self Loather» sensivelmente pela mesma altura – mantendo provavelmente à custa de muitas sessões da
musculada que é «Eternal em «Stand Alone». Mas não se preocupem, não paralela de músicos dos [Nuclear Blast] apenas o seu guitarrista e vocalista, Adam “The meia noite regadas a cerveja. O resultado desse
Forward Motion» e os fiquem já a pensar que só por isso o caminho já Kataklysm. Sendo um Por duas vezes a biografia First Sinner” Buszko, como membro original – e revisitar é este pequeno EP, uma homenagem ao
jovens britânicos, encabeçados pela endiabrada aponta para uns While She Sleeps, quando na trabalho conceptual sobre determinado momento facultada a propósito do alcançando agora os doze registos de longa- imaginário de realizadores como John Carpenter
vocalista Justine Jones, já estão de regresso para realidade continuam muito mais próximos de uns do Império Romano, o título é auto-explicativo. quarto álbum dos Ghost -duração, temos os veteranos Hate como peça («Halloween» e «The Thing») ou William Lustig
mais uma dose do seu metalcore particularmente Rolo Tomassi, sem tanta matemática, mas com o Desde que Maurizio Iacono – canadiano de raízes Bath, refere “depressive incontornável do blackened death metal. Manten- («Maniac»), mas com uma toada muito mais
hardcorizado. Se nesse antecessor já se notava pé constantemente no acelerador, com cadências italianas – encarnou Rómulo na estreia de 2009, black metal”, mas procura-se e não se encontra do a mesma comparação temporal – talvez algo roqueira que o metal da morte a que nos habitua-
uma direcção menos caótica e mais in your face, que vão entre a visão mais disruptiva dos Code os Ex Deo têm vindo a conquistar o seu espaço o argumento para tal. De facto, temas como injusta até pelos percursos traçados por ambas ram. Slash ‘n’ Roll sem merdas, com uma pitada
em comparação aos seus primeiros trabalhos, Orange e a vontade de distribuir tabefes dos Kno- naquilo que pode ser descrito como “metal his- «Sanguine Mask» possuem uma toada doomíca, –, se «I Loved You At Your Darkest» tem os seus de versões de Misfits e Ramones a rematar, e
inclusive com alguma incorporação de subtis cked Loose. [8] P.C.S. toricista” num combo de death metal sinfónico, mas daí até ao “depressive”, ainda vai muito. Na momentos mais melódicos e atmosféricos, já nada mais. [5] J.R.
algures entre os Fleshgod Apocalypse e os Amon realidade, é redutor usar esse termo acerca de um «Rugia» é um verdadeiro tanque que leva tudo à
Amarth. A vantagem dos Ex Deo é que não são tão disco com imensos elementos por onde pegar, frente, praticamente sem momentos em que se HELHEIM
complexos como os primeiros, nem tão simplistas

CRADLE OF FILTH
como por exemplo o bom trabalho de guitarras ou desacelera, numa constante sucessão de riffs de- «WoduridaR»
ou mitológicos como os segundos. «The Thirteen os arranjos de teclas. Também não é pelo uso do molidores, linhas vocais possantes e uma percus- [Dark Essence]
Years Of Nero» enleia informação histórico-política termo que ficam a ganhar, pois o que está plasma- são all over the place carregada de pedal duplo, ao Em actividade desde 1992

«Existence Is Futile»
do primeiro século d.C. (aludindo à personalidade do neste «Self Loather», certamente afastará os ponto que apelar a um habitat entre Hate Eternal e e contando na sua forma-
paranóica de um dos imperadores mais extrava- verdadeiros fãs do género. As teclas até conferem Zyklon, cortando as respectivas gorduras de géne- ção com três elementos
[NUCLEAR BLAST] gantes de sempre) com instrumentos da altura, um carácter mais goth, como na introdução de «I ro, não parece exagerado. [8] P.C.S. que a integram desde o
como a lira e a harpa. Este disco é particularmente Hope Death Finds Me Well», e um dos problemas primeiro momento, os noruegueses Helheim já

M
esmo que a realidade tenha muito mais nuances que cinemático, fruto das elaboradas orquestrações de reside mesmo na salgalhada de referências que HEADS FOR THE DEAD pouco ou nada têm a provar a quem quer que
estas generalizações que fazemos às vezes, parece rela- Ardek dos Carach Angren que jogam muito bem acaba a retirar consistência. Ao contrário de ou- «Slash ‘n’ Roll» seja, sendo senhores de um espaço muito pró-
tivamente seguro fazer a observação de que os fãs dos com a distorção típica de J-F Dagenais e com a tros nomes do USBM, como Uada ou Cobalt, não [Transcending Obscurity] prio e ao qual permanecem fiéis de forma algo
Cradle Of Filth se dividem, grosso modo, em dois “campos”: de determinação vocal de Iacono. Destaque ainda para há uma linha definida, nem o grupo consegue criar É ponte por onde ainda ortodoxa. O paralelismo com os Enslaved será,
um lado, tipicamente os mais jovens, que adoram a teatralidade da coisa, se estão borrifando para o elemento feminino em «Boudicca (Queen Of The algo transcendental, em particular na visão de há-de passar muito lamaçal, porventura, um dos mais recorrentes, quer pela
kvltismos, e papam (sem qualquer carácter depreciativo, note-se) sem reservas os álbuns regula- Iceni)» com a participação da vocalista dos Unleash quem usufruiu da riqueza musical europeia. [6] E.F. mas a ligação do death contemporaneidade de ambas as bandas, quer
res e vão enchendo concertos. Por outro lado, normalmente os mais velhotes, que já cá andavam The Archers, Brittney Slayes. Os temas são maiori- metal ao imaginário cine- pela inspiração viking que influencia e molda,
quando lhes terá eventualmente chegado à mão, provavelmente numa cassete qualquer vinda de tariamente lentos, mas o som geral não perde poder HATE matográfico do horror é mais traiçoeira que as desde sempre, as respectivas sonoridades e
outras paragens, uma maqueta chamada «Total Fucking Darkness» (especialmente essa), que, (pelo contrário!) por isso. Um trabalho que merece a «Rugia» primeiras impressões fazem parecer. Pegue-se imaginários. Mas ao contrário dos autores de
sejamos sinceros, revolucionou um bocado a nossa visão do black metal – que ainda se desen- atenção dos apreciadores do género. [7.5] N.S. [Metal Blade] no exemplo destes Heads For The Dead, que têm «Mardraum», que evoluíram para terrenos mais
volvia enquanto género dia a dia perante os nossos olhos e ouvidos –, e iniciou uma lua-de-mel Quando se fala de bandas editado uma série de discos onde acompanham progressivos e para abordagens mais cativantes
quase perfeita que durou, na melhor das hipóteses, até ao «Cruelty And The Beast». Este escriba FLUISTERAARS polacas, é normal que a de perto uma série de clichés que associamos ao ao ouvido, os Helheim teimam em manter as
assume sem problemas fazer parte dessa equipa, e mesmo tendo dado oportunidades amplas a «Gegrepen Door De Geest Der primeira referência que género: praticantes de um death metal cavernoso coisas numa forma mais conservadora e fiel às
todos os álbuns que se seguiram, face ao crédito infinito que a existência 1993-1998 dos Cradle Of Zielsontuiking» ocorra hoje em dia, até pelo sensível às texturas do horror gótico à la Dani raízes. Os dialectos locais e ancestrais continuam
Filth providenciou, a coisa nunca mais teve o mesmo encanto. A porta giratória de membros (que [Eisenwald / Haeresis No-
já existia antes, mas que fez o conjunto caminhar cada vez mais ao actual estado de Dani Filth viomagi]
+ uns gajos, que ironicamente até já se mantêm na sua maior parte estáveis há algum tempo), a Parece que fez bem aos
comercialização e diluição daquela antiga grandiloquência temática e sonora que parece cada vez Fluisteraars passar para for-
mais forçada… Apesar de um sinal de esperança ou outro pelo caminho (o «Hammer Of The Wit- mato duo (um bocado como aqueles noruegueses
ches» terá sido o sinal mais intenso), a expectativa para este “campo” já não é muito. Enfim, este que o fizeram em 1993 e não mais olharam para
longo preâmbulo serve para concluir que vale a pena esperar por coisas em que não se acredita trás). Desde então, lançaram o belíssimo «Bloem»
muito, às vezes. Não, «Existence Is Futile» não está, de todo, no campeonato dos três primeiros no ano passado, todo ele beleza evocada através
(+ EP). Mas sim, é de longe o melhor álbum desde então, e que nos deixa um deliciosamente de um minimalismo naturalista, e regressam agora
irritante what if para o que virá a seguir. Mais directos e menos sinfónicos que o habitual, como com «Gegrepen Door De Geest Der Zielsontuiking»,
que fazendo jus à temática apocalíptica e niilista, com «Crawling King Chaos» e a última «Us, Dark, que consegue ser ainda mais idiossincrático.
Invincible» em particular a apresentarem-se como do mais selvagem que a banda fez nos últimos Há um aumento de agressividade, fruto de uma
anos, os britânicos aparecem revitalizados em boa parte do álbum e às vezes é isso que faz a produção mais aberta, a acontecer em simultâneo
diferença. Basta pensar que não, «Existence Is Futile» não é assim tão diferente, esteticamente, com guitarras de uma textura de tal forma etérea
do anterior – e horrível, convenhamos – «Cryptoriana…», mas os “tomates” que algumas destas – a influência do psicadélico dos anos 60 é nesse
malhas têm elevam-nas grandemente a algo muito acima da média. Filler com fartura? Também sentido mais clara que nunca – que forçou a ban-
há, claro que sim. Mas tudo bem. Mesmo que a existência seja fútil e que lá no fundo saibamos da a declarar que nenhum teclado fora usado na
que nunca mais vamos ter uma «Queen Of Winter, Throned», deixem-nos ter esperança. [7] J.C.S. gravação do álbum. No campo vocal, Bob Mollema
assina porventura a sua mais subtil e expressiva
performance até hoje, criando o complemento
perfeito para o torrencial instrumental de M. Koops,
que se assume como um dos grandes bateristas
do género, e conferindo a urgência necessária
para cumprir o objectivo de criar um álbum para
a exaltação da psique. Performances à parte, é na
composição e estruturação do disco que encon-
tramos a chave para o seu génio. Duas canções
ligeiramente abaixo dos dez minutos abrem-no num
registo essencialmente Fluisteraars clássico, ainda
que a primeira termine numa peculiar outro de ex-
perimentação à volta da bateria, feedback, e ecos.
Chega-nos então «Verscheuring In De Schemering»,
que do alto dos seus vinte minutos é a melhor
canção que o colectivo já gravou e a razão para a
qual a referência aos Tangerine Dream a tocar black
metal na nota da imprensa não pareça de todo des-
cabida. Há espaço para tudo, de riffs fenomenais, a
baixos sinuosos, arranjos perfeitos, dinâmicas em
constante mutação, uma entrada a pés juntos no

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a ser ponto de honra, as melodias e crescendos JOEY CAPE Of The Well. Atendendo ao incremento de peso rar post-hardcore e a parede monolítica de gui- e do math rock e na contundência cadenciada do
épicos continuam a dominar a sonoridade da «A Good Year To Forget»

Negro
neste trabalho dos Kayo Dot, a alusão à anterior tarras lamacentas popularizada pelos Neurosis noise rock para construir uma surpreendente via-
banda, a visita a paisagens sonoras de maior en- [Fat Wreck Chords] banda de Toby Driver não é inocente. O vocalista no «Through Silver In Blood», no velho continente, gem sensorial por diversos estados de espírito,
volvência melódica confere o necessário dinamis- Os Lagwagon, a banda de e multi-instrumentista de Brooklyn – de “apenas” Suécia, França e Suíça afirmavam-se como os que vão da pura catarse raivosa à contemplação
mo às canções e, a soma de tudo isto, são discos sempre de Joey Cape, esta- 42 anos mas já com uma discografia respeitável três países com maior representação dentro melancólica. No fim, sem terem de mexer muito
desafiantes, que se desenvolvem em crescendo e vam a meio de uma tour na às costas – parece ter desejado soltar mais do espectro e nomes como Cult Of Luna, Dirge, na fórmula, os Kehlvin continuam a explorar uma

Mais que revelam detalhes a cada nova audição. «Wo-


duridaR» não constitui excepção e tanto é capaz
Austrália quando a pande-
mia rebentou, e por sorte conseguiram voltar para
um par de demónios em «Moss Grew On The
Swords And Plowshares Alike», um disco que
Overmars, Knut, Rorcal e Impure Wilhelmina
começavam então a dar os primeiros passos, e a
sonoridade que, por esta altura, já é quase só
deles próprios. [7.5] J.M.R.

Profundo
do melhor através do tema-título ou de uma as- casa mesmo antes das fronteiras fecharem por não é fácil, mas a sua arte também nunca foi dar que falar entre os indefectíveis que queriam
sombrosa «Ni S Soli Sot», como gera momentos todo o mundo. Se não bastasse a Joey ter de ficar imediatista. Experimental, ambiental, avant- ouvir mais que só os Isis, Mouth Of The Architect LVCIFYRE
de algum embaraço, sobretudo quando teimam sem poder tocar ao vivo por tempo indeterminado, -garde são termos algo vagos que, ainda assim ou Rosetta, entre outros. De todos esses projec- «The Broken Seal»
em insistir no uso de uma voz limpa de arrepiar, e também se havia divorciado recentemente, o que servem para mitigar a complexidade criativa de tos, poucos foram aqueles que se mantiveram no [NoEvDia]
não pelas melhores razões. «WoduridaR» marca o forçou a voltar a morar em casa da mãe e do Kayo Dot e de trabalhos como este, em particu- activo durante as duas últimas décadas, ainda É uma carreira que não tem
posição, dá continuidade a uma carreira pautada padrasto. «A Good Year To Forget» transforma-se, lar. A certa altura, a meio de «Brethren Of The menos os que se mantiveram agarrados a essa deixado de produzir um
pela obstinação e persistência, sem, no entanto, assim, no culminar de todos estes acontecimen- Cross», a segunda faixa, já estamos lançados sonoridade, que foi perdendo muito daquele corpo de trabalho capaz de
EMANUEL FERREIRA
empolgar mais do que já haviam feito com regis- tos e emoções, num registo acústico, de singer/ em possível hipnose pelas pancadas certeiras brilho que tinha inicialmente. Os Kehlvin, que são procurar novos caminhos,
tos anteriores. [7.5] R.A.

O
songwriter, que contrasta com a energia e veloci- da percussão, guarnecidas por guitarras omni- suíços, lançaram «The Mountain Daylight Time», sem nunca deixar propriamente para trás a dis-
s Morte Incandescente gritam “Nós somos o dade normalmente presente nos Lagwagon. Disco presentes que se enleiam na narrativa de Driver. o seu disco de estreia, em 2005 e, à semelhança sonância forjada a ferros que serve de referência
underground” no seu último trabalho. De facto, ISKANDR sombrio e melancólico, para ser apreciado em Dark rock? Doom? Progressivo/jazzístico? Metal, de muitos dos seus pares, nunca conseguiram ao trio de black/death. «The Broken Seal» é um
o black metal nacional, similarmente a outros «Vergezicht» doses pequenas não vá transportar o ouvinte para propriamente dito?... Esta hora de melancolia flui manter um plano rigoroso de edições, sendo que dos muitos discos que estão finalmente a ver a
países, fervilha de edições. Em certos casos, é qua- [Eisenwald] caminhos mais obscuros. O Sr. Cape apresenta-se a todos esses ventos, sem hastear a bandeira, os lançamentos se tornaram ainda mais espa- luz do dia, agora que começa a ser ultrapassada
se possível assistir ao processo criativo. É o caso de Por entre os dois membros aqui sem filtros e a abrir-nos o coração, de forma exactamente, de algum deles. Esse continua a çados a partir do momento em que o vocalista essa travessia pelo deserto pandémico. Gravado
um projecto já aqui referido, TORMENTO. Através dos Iskandr, O (Omar K.) e o terapêutica a enfrentar os acontecimentos deste ser o maior atributo de Kayo Dot – uma estra- Yonni Chapate se juntou aos Rorcal. No entanto, em 2020, o disco assinala um novo capítulo do
do seu Bandcamp e YouTube, aqui em preview, sur- baterista M. Koops, temos último ano. [7] D.R. nheza própria. [7] N.S. volta e meia lá decidem dar um ar de sua graça conjunto liderado por T. Kaos, numa produção
giu um novo tema, «Que Esta Terra Seja O Meu Local quase todas as bandas e em 2021, seis anos de hiato editorial depois onde o destaque dado às bordoadas blasfémicas
De Repouso». Som atmosférico, rito de expurgação, necessárias para traçar um mapa completo da KATATONIA KEHLVIN do split «To Deny Everything That’s Mundane», do blastbeat do Menthor o confirmam (se dúvidas
a cada faixa o projecto se vai tornando mais elabora- actual cena neerlandesa, que tão essencial se «Mnemosynean» «Holistic Dreams» servem-nos finalmente o terceiro longa-duração. ainda existissem) como um baterista de black
do. Sentimento transportado para a música. tornou ao black metal deste século. Qualquer [Peaceville] [Division] Justo será dizer que, à excepção de uma costela metal de primeira água. Já se percebeu que não
preocupação de “projectos a mais” já se tornou Ena, outra compilação dos Hoje em dia, as coisas progressiva mais vincada (como se nota logo na vamos encontrar tão cedo por aqui grandes evolu-
«O Culto Do Mal E Da Violência» traz quatro temas, fútil face ao output deste pessoal – dois primeiros Katatonia! Ali a parte da acontecem tão rapidamen- abertura com «The Impossibility Of Progress»), é ções ou variações, mas os pontos altos do disco
cujos títulos estão invertidos. Começando com «Et- álbuns de Iskandr incluídos –, portanto a sua estante onde estão os Ks já te, as tendências surgem e como se o tempo não tivesse passado por eles, (os serrotes que trocam as voltas ao tempo de
-Alitum», e terminando em «Et-Atam». Quais sata- presença já funciona mais como marco de qua- parecia meio vazia, só com desaparecem tão depressa, com os músicos a manterem-se fiéis à repetição «Tribes Of Khen», a piscadela de olho aos Portal
nistas de banco de escola, que invertem os nomes lidade do que outra coisa. O que mais uma vez o «Brave Yester Days», as «The Black Sessions» que parece incrível pensar naquela altura, ali na de riffs e linhas melódicas, que têm como ob- em «Wolves In The Dark» ou mesmo a inventi-
para surgir nas redes sociais em formato anónimo. se confirma. Numa clara evolução desde «Heilig e o «Kocytean», isto só para falar das “oficiais”. E viragem do milénio, em que surgiu na Europa jectivo colocar o ouvinte, lentamente, em transe. vidade teatral das vocalizações do tema-título)
Mesmo assim, a quinta maqueta dos bragantinos Land» (2016) e «Euprosopon» (2018), em que o sem pegar nos álbuns ao vivo, que só na última uma vaga de bandas sucedâneas da explosão Precisa como um relógio (o que não será surpre- são manifestações ímpias de uma atmosfera que
INSÓMNIA PÁLIDA, oferece um black tão cru como prog, o psicadelismo e até a monumentalidade década foram quatro. Mas pronto, deixemo-nos post-metal que se fazia sentir do outro lado do sa tendo em conta a sua proveniência), a banda celebra a blasfémia com uma convicção que não
experimentalista. É o terceiro trabalho do grupo para épica (consta que o «A Sun That Never Sets» dos de acidez, porque verdade seja dita, das bandas Atlântico. Impulsionados pela vontade de mistu- apoia-se nos ritmos quebrados do post-hardcore convém propriamente ignorar. [7.5] J.R.
este ano, depois de «Ruídos Residuais», e de «3 Neurosis foi inspiração importante para «Verge- que enveredam por este tipo de exercício, os Ka-
Comprimidos», compilação, também digital, lançada zicht», façam disso o que quiserem) estão lá, são tatonia até são das que o faz (se não mesmo “a”)
através da norte-americana Skull Dungeon. Ambos até mais importantes para o resultado final, mas com mais bom gosto e pertinência. Mesmo com
os títulos foram lançados em Junho. «O Culto…» é o paradoxalmente são influências empregues de um overlap pontual ou outro entre «Mnemosy-
único a ter formato físico, em cassete, editada agora forma mais subtil face ao aumento da agressivi- nean» e as compilações referidas, a verdade é que
em Setembro. Uma lâmina de barbear, inserida na dade e da crueza. Parece estranho, mas basta ou- a temática é diferente, e temos aqui muito mate- CHAOSPHERE RECORDINGS
PROUDLY PRESENTS
cassete, serve de complemento perfeito para quem vir que se percebe. É imaginar que alguém viajava rial inédito ou pelo menos muito pouco divulgado
pretender seguir as letras. no tempo e dava o tal «A Sun That Never Sets» e o anteriormente. A ideia da coisa é reunir raridades,
«Eld» dos Enslaved ao Quorthon, e lhe dizia “vai lá b-sides, temas bónus de edições especiais, remis-
A prepararem o segundo álbum, os WINTER- escrever o «Blood Fire Death» outra vez, vá. E diz turas e alguns temas nunca antes divulgados, a
MOONSHADE libertaram duas faixas em formato ao teu pai que queres guita para gravar isso como abarcar o período 1994-2016. O tema mais antigo
demo para a webzine Terra Relicta. O título digital deve ser desta vez.” Se a ideia agrada, provavel- é «Scarlet Heavens» (originalmente do split com LA CHANSON NOIRE MATA-RATOS DECAYED / DESASTER
lançou uma colectânea, «In Sickness We Reign», no mente vão gostar do «Vergezicht». [8] J.C.S. Primordial, gravado precisamente em 1994 apesar “CRUZ CREDO” “SENTE O ÓDIO” “SPLIT”
Bandcamp, e este grupo é o único lusitano a figurar de só editado dois anos depois pela saudosa

CHAOSCP029

CHAOSCD005

CHAOSV027
nas dezoito faixas. JINJER Misanthropy Records), e os mais recentes são
«Wallflowers» alguns das sessões de «The Fall Of Hearts». O
Outra estreia, são os ZHURDHARB. O projecto sur- [Napalm] que impressiona mais, e que já era notório em
ge com «A Morte Dos Homens», EP em formato digi- Não é difícil perceber o compilações prévias, é a linha condutora que se
tal, datado de Agosto. São cinco temas de um black/ porquê de os Jinjer estarem nota claramente, mesmo em temas “secundários”
death old school, que se revela promissor e que me- numa curva ascendente em como estes, a reflectir uma evolução extraordiná-
recia formato físico. Também cinco temas, apenas termos de popularidade e ria. Pondo em oposição os temas mais distantes,
numerados, é o que aparece na maqueta homónima reconhecimento. O talento é inegável e a expecta- pode fazer confusão como uma banda mudou
de NOITE RITUAL. Algo entre o atmosférico, doom tiva para este álbum também. Pelo que é positivo tanto, mas ouvindo o fluir dos dois discos desta
e raw, o trabalho revela algum experimentalismo, ver que a banda não vai pelo caminho mais fácil compilação, até nos esquecemos disso mesmo,
com recurso a teclados, mas sem ser tão pessoal – que lhes facilitaria muito a vida – e mete cá de que é uma compilação. É uma viagem pelo
como Tormento. para fora um álbum “feio” e “desagradável”, onde mundo dos Katatonia, recheada de surpresas
o peso e os riffs intricados ganham claramente às mesmo para os fãs mais dedicados, e que mais
Mais perto do death/doom que passíveis de se passagens bonitas e orelhudas, que não deixam uma vez, tal como as anteriores, faz por justificar
inscreverem em territórios de black metal, estão de marcar presença, mas não são utilizadas como plenamente o espaço que vai ocupar na estante, 300 COPIES 5300 COPIES LTD. EDT. 7”
os ILL OMENS, que surgem com «Crossing The um simples gimmick para garantir que existam com todo o mérito. Nem costumamos dar notas a LTD. EDT. CD LTD. EDT. CD 150 BLACK VINYL / 150 RED VINYL
Dead». Pouco interessante e certamente adequado novos fãs, estranhos ao estilo a serem agarrados. estas coisas, mas esta merece: [8] J.C.S. The new and fifth full length release for the most heretic Portuguese The 1999's long time sold out album from one of the most Two classic German and Portuguese underground bands,
a outro tipo de seguidores. O mesmo se passa com Como dissemos atrás, não é um álbum “bonito”, avant-garde noir rocker! With an handful of luxurious collaborations important bands from the Portuguese punk scene! two exclusive infernal songs packaged with an amazing
os THRONE OF MISERY, que se aproximam mais mas em compensação mexe com as nossas emo- KAYO DOT and mastered by Jon Astley (The Who, Led Zeppelin, Rolling Stones)! With 12 unreleased 1997's rehearsal songs as bonus! artwork by André Coelho! This is a must have!
do gothic metal, com veia doom. «Empty Halls» é o ções e não mete paninhos quentes em lado ne- «Moss Grew On The Swords
EP de quatro temas agora divulgado. Dois títulos a nhum. Hoje em dia é difícil prever o quer que seja, And Plowshares Alike»
encerrar que podem interessar aos seguidores de principalmente no mundo da música, mas este [Prophecy]
black metal, mas que certamente se encontram de- álbum prova não só que os ucranianos são uma Décimo álbum da entidade
masiado à superfície para esta coluna. Fica apenas banda com os pés no chão, como também com que, há já quase vinte INFO / ORDER:
o registo. capacidade de chegar muito mais longe. [9] F.F. anos, sucedeu aos Maudlin RUA VIRIATO Nº 12, 1050-235 LISBOA, PORTUGAL
GLAMORAMA.ROCKSHOP@GMAIL.COM / + 351 211 320 835
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a ser ponto de honra, as melodias e crescendos JOEY CAPE Of The Well. Atendendo ao incremento de peso rar post-hardcore e a parede monolítica de gui- e do math rock e na contundência cadenciada do
épicos continuam a dominar a sonoridade da «A Good Year To Forget»

Negro
neste trabalho dos Kayo Dot, a alusão à anterior tarras lamacentas popularizada pelos Neurosis noise rock para construir uma surpreendente via-
banda, a visita a paisagens sonoras de maior en- [Fat Wreck Chords] banda de Toby Driver não é inocente. O vocalista no «Through Silver In Blood», no velho continente, gem sensorial por diversos estados de espírito,
volvência melódica confere o necessário dinamis- Os Lagwagon, a banda de e multi-instrumentista de Brooklyn – de “apenas” Suécia, França e Suíça afirmavam-se como os que vão da pura catarse raivosa à contemplação
mo às canções e, a soma de tudo isto, são discos sempre de Joey Cape, esta- 42 anos mas já com uma discografia respeitável três países com maior representação dentro melancólica. No fim, sem terem de mexer muito
desafiantes, que se desenvolvem em crescendo e vam a meio de uma tour na às costas – parece ter desejado soltar mais do espectro e nomes como Cult Of Luna, Dirge, na fórmula, os Kehlvin continuam a explorar uma

Mais que revelam detalhes a cada nova audição. «Wo-


duridaR» não constitui excepção e tanto é capaz
Austrália quando a pande-
mia rebentou, e por sorte conseguiram voltar para
um par de demónios em «Moss Grew On The
Swords And Plowshares Alike», um disco que
Overmars, Knut, Rorcal e Impure Wilhelmina
começavam então a dar os primeiros passos, e a
sonoridade que, por esta altura, já é quase só
deles próprios. [7.5] J.M.R.

Profundo
do melhor através do tema-título ou de uma as- casa mesmo antes das fronteiras fecharem por não é fácil, mas a sua arte também nunca foi dar que falar entre os indefectíveis que queriam
sombrosa «Ni S Soli Sot», como gera momentos todo o mundo. Se não bastasse a Joey ter de ficar imediatista. Experimental, ambiental, avant- ouvir mais que só os Isis, Mouth Of The Architect LVCIFYRE
de algum embaraço, sobretudo quando teimam sem poder tocar ao vivo por tempo indeterminado, -garde são termos algo vagos que, ainda assim ou Rosetta, entre outros. De todos esses projec- «The Broken Seal»
em insistir no uso de uma voz limpa de arrepiar, e também se havia divorciado recentemente, o que servem para mitigar a complexidade criativa de tos, poucos foram aqueles que se mantiveram no [NoEvDia]
não pelas melhores razões. «WoduridaR» marca o forçou a voltar a morar em casa da mãe e do Kayo Dot e de trabalhos como este, em particu- activo durante as duas últimas décadas, ainda É uma carreira que não tem
posição, dá continuidade a uma carreira pautada padrasto. «A Good Year To Forget» transforma-se, lar. A certa altura, a meio de «Brethren Of The menos os que se mantiveram agarrados a essa deixado de produzir um
pela obstinação e persistência, sem, no entanto, assim, no culminar de todos estes acontecimen- Cross», a segunda faixa, já estamos lançados sonoridade, que foi perdendo muito daquele corpo de trabalho capaz de
EMANUEL FERREIRA
empolgar mais do que já haviam feito com regis- tos e emoções, num registo acústico, de singer/ em possível hipnose pelas pancadas certeiras brilho que tinha inicialmente. Os Kehlvin, que são procurar novos caminhos,
tos anteriores. [7.5] R.A.

O
songwriter, que contrasta com a energia e veloci- da percussão, guarnecidas por guitarras omni- suíços, lançaram «The Mountain Daylight Time», sem nunca deixar propriamente para trás a dis-
s Morte Incandescente gritam “Nós somos o dade normalmente presente nos Lagwagon. Disco presentes que se enleiam na narrativa de Driver. o seu disco de estreia, em 2005 e, à semelhança sonância forjada a ferros que serve de referência
underground” no seu último trabalho. De facto, ISKANDR sombrio e melancólico, para ser apreciado em Dark rock? Doom? Progressivo/jazzístico? Metal, de muitos dos seus pares, nunca conseguiram ao trio de black/death. «The Broken Seal» é um
o black metal nacional, similarmente a outros «Vergezicht» doses pequenas não vá transportar o ouvinte para propriamente dito?... Esta hora de melancolia flui manter um plano rigoroso de edições, sendo que dos muitos discos que estão finalmente a ver a
países, fervilha de edições. Em certos casos, é qua- [Eisenwald] caminhos mais obscuros. O Sr. Cape apresenta-se a todos esses ventos, sem hastear a bandeira, os lançamentos se tornaram ainda mais espa- luz do dia, agora que começa a ser ultrapassada
se possível assistir ao processo criativo. É o caso de Por entre os dois membros aqui sem filtros e a abrir-nos o coração, de forma exactamente, de algum deles. Esse continua a çados a partir do momento em que o vocalista essa travessia pelo deserto pandémico. Gravado
um projecto já aqui referido, TORMENTO. Através dos Iskandr, O (Omar K.) e o terapêutica a enfrentar os acontecimentos deste ser o maior atributo de Kayo Dot – uma estra- Yonni Chapate se juntou aos Rorcal. No entanto, em 2020, o disco assinala um novo capítulo do
do seu Bandcamp e YouTube, aqui em preview, sur- baterista M. Koops, temos último ano. [7] D.R. nheza própria. [7] N.S. volta e meia lá decidem dar um ar de sua graça conjunto liderado por T. Kaos, numa produção
giu um novo tema, «Que Esta Terra Seja O Meu Local quase todas as bandas e em 2021, seis anos de hiato editorial depois onde o destaque dado às bordoadas blasfémicas
De Repouso». Som atmosférico, rito de expurgação, necessárias para traçar um mapa completo da KATATONIA KEHLVIN do split «To Deny Everything That’s Mundane», do blastbeat do Menthor o confirmam (se dúvidas
a cada faixa o projecto se vai tornando mais elabora- actual cena neerlandesa, que tão essencial se «Mnemosynean» «Holistic Dreams» servem-nos finalmente o terceiro longa-duração. ainda existissem) como um baterista de black
do. Sentimento transportado para a música. tornou ao black metal deste século. Qualquer [Peaceville] [Division] Justo será dizer que, à excepção de uma costela metal de primeira água. Já se percebeu que não
preocupação de “projectos a mais” já se tornou Ena, outra compilação dos Hoje em dia, as coisas progressiva mais vincada (como se nota logo na vamos encontrar tão cedo por aqui grandes evolu-
«O Culto Do Mal E Da Violência» traz quatro temas, fútil face ao output deste pessoal – dois primeiros Katatonia! Ali a parte da acontecem tão rapidamen- abertura com «The Impossibility Of Progress»), é ções ou variações, mas os pontos altos do disco
cujos títulos estão invertidos. Começando com «Et- álbuns de Iskandr incluídos –, portanto a sua estante onde estão os Ks já te, as tendências surgem e como se o tempo não tivesse passado por eles, (os serrotes que trocam as voltas ao tempo de
-Alitum», e terminando em «Et-Atam». Quais sata- presença já funciona mais como marco de qua- parecia meio vazia, só com desaparecem tão depressa, com os músicos a manterem-se fiéis à repetição «Tribes Of Khen», a piscadela de olho aos Portal
nistas de banco de escola, que invertem os nomes lidade do que outra coisa. O que mais uma vez o «Brave Yester Days», as «The Black Sessions» que parece incrível pensar naquela altura, ali na de riffs e linhas melódicas, que têm como ob- em «Wolves In The Dark» ou mesmo a inventi-
para surgir nas redes sociais em formato anónimo. se confirma. Numa clara evolução desde «Heilig e o «Kocytean», isto só para falar das “oficiais”. E viragem do milénio, em que surgiu na Europa jectivo colocar o ouvinte, lentamente, em transe. vidade teatral das vocalizações do tema-título)
Mesmo assim, a quinta maqueta dos bragantinos Land» (2016) e «Euprosopon» (2018), em que o sem pegar nos álbuns ao vivo, que só na última uma vaga de bandas sucedâneas da explosão Precisa como um relógio (o que não será surpre- são manifestações ímpias de uma atmosfera que
INSÓMNIA PÁLIDA, oferece um black tão cru como prog, o psicadelismo e até a monumentalidade década foram quatro. Mas pronto, deixemo-nos post-metal que se fazia sentir do outro lado do sa tendo em conta a sua proveniência), a banda celebra a blasfémia com uma convicção que não
experimentalista. É o terceiro trabalho do grupo para épica (consta que o «A Sun That Never Sets» dos de acidez, porque verdade seja dita, das bandas Atlântico. Impulsionados pela vontade de mistu- apoia-se nos ritmos quebrados do post-hardcore convém propriamente ignorar. [7.5] J.R.
este ano, depois de «Ruídos Residuais», e de «3 Neurosis foi inspiração importante para «Verge- que enveredam por este tipo de exercício, os Ka-
Comprimidos», compilação, também digital, lançada zicht», façam disso o que quiserem) estão lá, são tatonia até são das que o faz (se não mesmo “a”)
através da norte-americana Skull Dungeon. Ambos até mais importantes para o resultado final, mas com mais bom gosto e pertinência. Mesmo com
os títulos foram lançados em Junho. «O Culto…» é o paradoxalmente são influências empregues de um overlap pontual ou outro entre «Mnemosy-
único a ter formato físico, em cassete, editada agora forma mais subtil face ao aumento da agressivi- nean» e as compilações referidas, a verdade é que
em Setembro. Uma lâmina de barbear, inserida na dade e da crueza. Parece estranho, mas basta ou- a temática é diferente, e temos aqui muito mate- CHAOSPHERE RECORDINGS
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cassete, serve de complemento perfeito para quem vir que se percebe. É imaginar que alguém viajava rial inédito ou pelo menos muito pouco divulgado
pretender seguir as letras. no tempo e dava o tal «A Sun That Never Sets» e o anteriormente. A ideia da coisa é reunir raridades,
«Eld» dos Enslaved ao Quorthon, e lhe dizia “vai lá b-sides, temas bónus de edições especiais, remis-
A prepararem o segundo álbum, os WINTER- escrever o «Blood Fire Death» outra vez, vá. E diz turas e alguns temas nunca antes divulgados, a
MOONSHADE libertaram duas faixas em formato ao teu pai que queres guita para gravar isso como abarcar o período 1994-2016. O tema mais antigo
demo para a webzine Terra Relicta. O título digital deve ser desta vez.” Se a ideia agrada, provavel- é «Scarlet Heavens» (originalmente do split com LA CHANSON NOIRE MATA-RATOS DECAYED / DESASTER
lançou uma colectânea, «In Sickness We Reign», no mente vão gostar do «Vergezicht». [8] J.C.S. Primordial, gravado precisamente em 1994 apesar “CRUZ CREDO” “SENTE O ÓDIO” “SPLIT”
Bandcamp, e este grupo é o único lusitano a figurar de só editado dois anos depois pela saudosa

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nas dezoito faixas. JINJER Misanthropy Records), e os mais recentes são
«Wallflowers» alguns das sessões de «The Fall Of Hearts». O
Outra estreia, são os ZHURDHARB. O projecto sur- [Napalm] que impressiona mais, e que já era notório em
ge com «A Morte Dos Homens», EP em formato digi- Não é difícil perceber o compilações prévias, é a linha condutora que se
tal, datado de Agosto. São cinco temas de um black/ porquê de os Jinjer estarem nota claramente, mesmo em temas “secundários”
death old school, que se revela promissor e que me- numa curva ascendente em como estes, a reflectir uma evolução extraordiná-
recia formato físico. Também cinco temas, apenas termos de popularidade e ria. Pondo em oposição os temas mais distantes,
numerados, é o que aparece na maqueta homónima reconhecimento. O talento é inegável e a expecta- pode fazer confusão como uma banda mudou
de NOITE RITUAL. Algo entre o atmosférico, doom tiva para este álbum também. Pelo que é positivo tanto, mas ouvindo o fluir dos dois discos desta
e raw, o trabalho revela algum experimentalismo, ver que a banda não vai pelo caminho mais fácil compilação, até nos esquecemos disso mesmo,
com recurso a teclados, mas sem ser tão pessoal – que lhes facilitaria muito a vida – e mete cá de que é uma compilação. É uma viagem pelo
como Tormento. para fora um álbum “feio” e “desagradável”, onde mundo dos Katatonia, recheada de surpresas
o peso e os riffs intricados ganham claramente às mesmo para os fãs mais dedicados, e que mais
Mais perto do death/doom que passíveis de se passagens bonitas e orelhudas, que não deixam uma vez, tal como as anteriores, faz por justificar
inscreverem em territórios de black metal, estão de marcar presença, mas não são utilizadas como plenamente o espaço que vai ocupar na estante, 300 COPIES 5300 COPIES LTD. EDT. 7”
os ILL OMENS, que surgem com «Crossing The um simples gimmick para garantir que existam com todo o mérito. Nem costumamos dar notas a LTD. EDT. CD LTD. EDT. CD 150 BLACK VINYL / 150 RED VINYL
Dead». Pouco interessante e certamente adequado novos fãs, estranhos ao estilo a serem agarrados. estas coisas, mas esta merece: [8] J.C.S. The new and fifth full length release for the most heretic Portuguese The 1999's long time sold out album from one of the most Two classic German and Portuguese underground bands,
a outro tipo de seguidores. O mesmo se passa com Como dissemos atrás, não é um álbum “bonito”, avant-garde noir rocker! With an handful of luxurious collaborations important bands from the Portuguese punk scene! two exclusive infernal songs packaged with an amazing
os THRONE OF MISERY, que se aproximam mais mas em compensação mexe com as nossas emo- KAYO DOT and mastered by Jon Astley (The Who, Led Zeppelin, Rolling Stones)! With 12 unreleased 1997's rehearsal songs as bonus! artwork by André Coelho! This is a must have!
do gothic metal, com veia doom. «Empty Halls» é o ções e não mete paninhos quentes em lado ne- «Moss Grew On The Swords
EP de quatro temas agora divulgado. Dois títulos a nhum. Hoje em dia é difícil prever o quer que seja, And Plowshares Alike»
encerrar que podem interessar aos seguidores de principalmente no mundo da música, mas este [Prophecy]
black metal, mas que certamente se encontram de- álbum prova não só que os ucranianos são uma Décimo álbum da entidade
masiado à superfície para esta coluna. Fica apenas banda com os pés no chão, como também com que, há já quase vinte INFO / ORDER:
o registo. capacidade de chegar muito mais longe. [9] F.F. anos, sucedeu aos Maudlin RUA VIRIATO Nº 12, 1050-235 LISBOA, PORTUGAL
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M1KE MASSACRE novo, registando-se o regresso de Kam Lee à voz, letras – digamos que o mentor do projecto, Tho- THE NIGHT FLIGHT OR- Sharlee são dois músicos que começaram por
«The Siege» «Resurgence» coadjuvado por uma nova formação onde já não mas Jäger, pinta um retrato muito fiel dos tempos CHESTRA se evidenciar no metal extremo, mas que nunca
[Edição de autor] [Nuclear Blast] constam o guitarrista Rick Rozz nem o baixista conturbados que vivemos –, os Monolord 2021 «Aeromantic II» tiveram visão de túnel e sempre sonharam alto.
Miguel F. Silva vive a “cavalo Não há como negá-lo: os Terry Butler que, ao invés de Lee, tinham gravado apresentam-se também mais negros, atentos ao [Nuclear Blast] Nesta crew, também voam alto. [7.5] N.S.
entre Lisboa e Valência”, Massacre foram uma das o último álbum. Contra todas as expectativas, detalhes e arranjos, chegando mesmo a atingir Aquilo que pode ter sido
segundo a sua biografia. primeiras bandas a tocar depois da intro que dá início ao tema de abertura uma aura épica, como acontece logo ao terceiro entendido como uma brin- NIGRUM PLUVIAM
Em «The Siege», este aço- death metal e deram o «Eldritch Prophecy» torna-se rapidamente claro tema, «I’ll Be Damned», que provavelmente só cadeira de escape musical «Eternal Fall Into The Abyss»
riano, da ilha Terceira, revela-se um excelente e pontapé de saída para a infame cena da Flórida que os Massacre estão de volta para nos esmur- estava mesmo ali à espera para sair de dentro por parte de Björn “Speed” Strid e Sharlee D’An- [Signal Rex]
versátil guitarrista, autor de bons solos, como na transição dos anos 80 para os 90. No entanto, rar com death metal norte-americano vintage, deles. Aconteceu agora, e ainda bem, porque gelo, afinal, já vai em seis álbuns. «Aeromantic No press release deste que é
em «Born Human». São quase três décadas nas olhando para tudo o que fizeram desde que lança- cheio de groove, solos (aqui e ali mais melódicos «Your Time To Shine» acaba mesmo por se revelar II» é uma espécie de continuação do disco com o primeiro álbum do projecto
cordas, com passagem por Nightshift, Crosshatch ram uma sequência de demos influentes e aban- do que era habitual) e aquele urro inconfundível a experiência sonora mais rica que os músicos já o mesmo nome lançado no início de 2020 sendo francês, descreve-se os
e Growing Titans. Agora grava três discos, dos donaram subitamente os planos de gravação do do Kam Lee. Até aqui nada a apontar; estamos em assinaram. [8] J.M.R. que, no som desta “orquestra voadora” pela nos- Nigrum Pluviam como uma
quais este é o primeiro a ser lançado, um trabalho primeiro disco quando Terry Butler, Rick Rozz e Bill território familiar e somos invadidos pelo senti- talgia dos anos 80, não há, exactamente, quebras “banda nascida demasiado tarde”. É uma descrição
interessante, assente totalmente, para o bom e Andrews decidiram saltar do barco para se junta- mento nostálgico que se quer deste tipo de coisa. MORTE INCANDESCENTE de estilo ou fases mais assim ou assado. Temos que assenta como uma luva, para o bem ou para o
para o mau, na guitarra. Os temas podiam ganhar rem aos Death, não se pode dizer que alguma vez O problema é que, ao terceiro ou quatro tema, «Vala Comum» hard rock, AOR, arena pop, disco sound e até uma mal. À semelhança de outros nomes franceses, os
com o input que resulta de uma banda e do tra- tenham sido uma banda consistente. A estreia, percebemos que, embora muito disto soe como [Signal Rex] costela prog como era frequente nas produções Nigrum Pluviam tentam fazer uma reinterpretação
balho em conjunto. Por exemplo, «The Contract» «From Beyond», que seria finalmente editada em soava nos (escassos) dias de glória do grupo, Há, no início deste quinto dos eighties. Com a experiência acumulada pelos do black metal norueguês, num movimento para-
desenvolve-se com um bom solo e umas interes- 1991, continua a ser um petardo de brutalidade há por aqui demasiados riffs genéricos e uma álbum dos Morte Incandes- The Night Flight Orchestra ao longo de mais de lelo ao NWOFBM de uns Throane, por exemplo. A
santes malhas de guitarra, mas bateria e voz não Neandertal cheio de balanço mas, numa dança de escassez atroz de ideias e ganchos capazes de cente, um cruzamento entre uma década compete-lhes, sobretudo, criar as questão é se haverá interesse em reproduzir um
acompanham o virtuosismo, com os coros até muitos avanços, recuos e incontáveis mudanças deixarem uma impressão duradoura no ouvinte. grupos de referência, não canções mais chamativas possível, algo que, num som que muitos daqueles que o criaram, quando
a diminuírem o resultado final. Certamente que de formação, nunca conseguiram voltar a captar Costuma dizer-se que “o que nasce torto jamais no sentido de cópia, mas de precursores naturais. presente ficcional dominado por teclados saudo- aprenderam a tocar e a dominar os estúdios,
no software tudo soará muito bem, mas haverá aquele rasgo de génio contido em canções como se endireita” e esta gente parece ser um exemplo Escutar «Cerra Os Dentes» não deixa, a um dado sistas e cores brilhantes, seriam autênticos hits. rapidamente abandonaram. No lado positivo,
sempre uma grande diferença entra ver um do- «Dawn Of Eternity» ou a intemporal «Corpsegrin- perfeito disso. [5] J.M.R. momento, de fazer pensar em Bizarra Locomo- «White Jeans» e «You Belong To The Night» são Kraëh Määtruum consegue, através deste projecto,
cumentário e fazer a viagem do mesmo. É esse der». O que esperar, então, deste regresso aos tiva. Logo a seguir, o andamento rítmico de «O apenas dois certinhos, já para não falar em «Burn oferecer temas bem interessantes, como «Passa-
lado “real” que falta acompanhar os bons solos de lançamentos, sete anos depois de «Back From MINNESJORD/TEUFELS- Véu», transporta para Mão Morta. É nesse mesmo For Me» e o seu video-clip ao género de «Dancing ge» e «In the Suffocating Mist», enquanto outros
M1ke, nesta viagem ao prog e hard. [6.5] E.F. The Beyond»? Para começar, a banda mudou de BERG tempo que a guitarra rasga referências e o som In The Streets» ou «Fame» de Irene Cara. Björn e facilmente seriam melhorados com outra mistura,
«Minnesjord/Teufelsberg» dos Morte Incandescente se autonomiza. Com
[Signal Rex] o «Uivo Da Noite», o puro heavy metal suja-se no
Split entre os nacionais

DOLD VORDE ENS NAVN FULL OF HELL


raw black, numa mescla tão interessante como
Minnesjord e os polacos já conhecida. Em «Nós Somos O Underground»,
Teufelsberg, ambos com ergue-se a bandeira do black metal, sobre o regis-

«Mørkere» apenas dois músicos. Estreía em vinil para am-


bos, com os nacionais a antecederem esta edição
to mais clássico. O experimentalismo e alguma
esquizofrenia vocal regressam em «As Luzes Da «Garden Of Burning Apparitions»
[LUPUS LOUNGE / PROPHECY] com a cassete «Agrura» de 2019, e os polacos Cidade», como animais do underground, desorien- [RELAPSE]
a optarem pelo lançamento digital de «Ancient tados face à exposição da sociedade. Talvez por

«M D
ørkere», a estreia longa-duração dos Dold Vorde Ens Darkness Triumphant», em 2020. No que toca isso, o punk de «A Ceia Dos Vermes» traga algum úvidas restassem – como se pela tareia abrasiva que nos
Navn (já tinham editado um belo EP em 2019) é um aos portugueses, cujo nome deriva da maqueta conforto no seu caos. Um disco que, não sendo é aplicada somente nos dois últimos álbuns, «Weeping
daqueles trabalhos de black metal que, feito Billy Pil- dos noruegueses Ildjarn, trata-se de black metal uma obra maior, sabe sair do nicho onde outros Choir» e «Trumpeting Ecstasy», não chegasse a expecta-
grim, salta entre a nostalgia e um vanguardismo futurista como cru, rápido e sujo. Com títulos invulgares, é em grupos se acoitam. [7.5] E.F. tiva de voos crescentes –, cada vez mais estes rapazes cheios
se não fosse nada, simultaneamente uma obra contemporânea, clássica, e para lá de qualquer «Mavórcio» que se encontra o tema que justifica o de inferno demonstram como é possível, sob a égide do grindcore, experimentar muito além
categorização temporal. Assente numa belíssima secção rítmica, é acima de tudo um tratado vinil. Oito minutos que viajam entre o black mais MORTIFERUM das fronteiras de um estilo já de si nascido pela inclusão. Se de início, ainda garotos, tinham
a duas vozes: a guitarra de Haavard e a voz de Vicotnik, dois génios cujo legado já há muito rápido e a toada mais doom, num tema que não «Preserved In Torment» uma postura predominantemente punk, quiçá também caracterizada pelas explosões pára-
que superou o de qualquer membro dos Mayhem ou Immortal (para não falar da totalidade da só é o mais longo, como o mais ousado de todos. [Profound Lore] -arranca à powerviolence, a que se foram adicionando camadas de exploração mais noise e
cena sueca). Afinal de contas, o Vicotnik tem no currículo o «Written In Waters» e a discografia Para o lado dos Teufelsberg, embora na mesma Como já havíamos deixado uma ampla vontade de tornar o extremo ainda mais extremo – o arrastado do sludge ainda
dos seus Dødheimsgard, cujo «A Umbra Omega» é dos melhores discos do género editados no linha dos lusos, a oferta é menos interessante, claro o mês passado a mais cavernoso, o desconforto da frieza industrial ainda mais palpável, o peso bruto do dea-
século XXI – a performance vocal que assina em «Mørkere» retira quaisquer dúvidas sobre a com quatro faixas, uma das quais a intro. Muralha propósito do «Feel» dos th metal ainda mais visceral –, é pela sucessão de experiências, ora por colaborações ora
capacidade do homem quando não tem o Aldrahn por perto, de tão evocativa, criativa, e des- sonora, mas não tão densa quanto desejado, Apparition (também ele por vontade de ir mais além, que os norte-americanos mais nos apanham desprevenidos.
concertante que é. Já o Haavard havia desaparecido da cena em 1998 após as obras primas alguma versatilidade, como a bateria a meio de lançado pela Profound Lore), nesta casa venera- «Burst Synapse», da parceria com Merzbow, começava a rasgar pano? Pois a abertura de
que são o «Bergtatt» e o «Nattens Madrigal», voltando agora como que para mostrar que ainda «Moloch Worshipers», mas sempre alinhando pelo mos o «Into Darkness» e o «Transcendence Into «Guided Blight», só para o começo, tem o mesmo frenesim em ácidos. Uma espiral barulhen-
é dos melhores escritores de riffs que o género já viu, oferecendo-nos desta feita épicos berg- black mais clássico e raw. [6.5] E.F. The Peripheral». Suspeitamos que os Mortiferum ta e maquinal? Temos «Derelict Satellite». Riffs à Discordance Axis? Segue «All Bells Ringing».
tattianos a rodos, sublimes composições acústicas, boas orquestrações, e dissonâncias mid alinham por este diapasão, já que ali a meio Estruturas angulares, vortexs vocais e partes slam trituradoras com linhas orelhudas? Há
tempo clássicas. Tudo somado, um álbum genial que faz sem o anunciar aquilo que muitos MONOLORD da «Eternal Procession», tema de abertura de «Industrial Messiah Complex». Gostam daquele noise rock à anos 90 tipo The Jesus Lizard?
anunciam e falham, que é demonstrar que o black metal dos 90s está vivo, de boa saúde, e «Your Time To Shine» «Preserved In Torment», desaceleraram o death «Reeking Tunnels». São 21 minutos que passam a voar, e ao arrastar de «Celestial Hierarch»
capaz de assinar um dos mais relevantes trabalhos do género em 2021. [9.5] L.P. [Relapse] metal cavernoso para um delicioso death/doom à dá vontade de ouvir de novo. [8.5] P.C.S.
Em termos de popularidade antiga, tendência de resto já exibida em «Disgor-
e exposição, os suecos ged From Psychotic Depths», LP de estreia dos
Monolord têm vindo a cres- californianos, editado em 2019. Este novo traba-
cer a cada novo disco de lho mantém muito do que de bom fizeram então,
uma forma constante desde a explosiva estreia mudando essencialmente dois pontos. Em primei-
com «Empress Rising». E, claro, como resultado, ro lugar, a belíssima gravação do Andrew Oswald
as recompensas têm ficado maiores a cada ano, (responsável por uma boa parte dos lançamentos
com o trio doom a captar atenção da Relapse da Vrasubatlat e que só tinha misturado a estreia)
Records com o mais dinâmico «Rust», de 2017. é menos turva e bafienta, aumentando o impacto
Esse disco já mostrava um lado mais polido, tons de cada riff, de cada gutural, e sobretudo, dando
mais claros e vozes menos cheias de reverb, num aquela aspereza seca à bateria quando o anda-
lento processo de mutação que se intensificou mento arrasta completamente para o death/doom
com «No Confort». Agora, «No Time To Shine» que os clássicos tão bem faziam. Em segundo
chega para fazer o ponto de equilíbrio, ao fundir o lugar, há dinâmicas muito maiores entre anda-
peso mais cru e sufocante dos primeiros registos mentos, com a bitola de qualidade a manter-se
com a atitude mais melódica e aventureira destes ora por tortuosos poços de doom, ora por violen-
mais recentes. Por esta altura, certamente que tas descargas de death metal a alta velocidade,
já ninguém espera um retorno à produção mais ora por virulentas caminhadas mid tempo. Bruto,
cavernosa de «Empress Rising» ou «Vaenir», mas profundamente cavernoso, e com tanto as gui-
estão aqui os riffs contundentes que se esperam, tarras como a secção rítmica a serem do melhor
em paralelo com alguns desvios interessantes. que temos ouvido neste simpático revivalismo do
Instigados pelo teor de mau estar que premeia as death metal old school. [8] L.P.

52 LOUD! LOUD! 53
M1KE MASSACRE novo, registando-se o regresso de Kam Lee à voz, letras – digamos que o mentor do projecto, Tho- THE NIGHT FLIGHT OR- Sharlee são dois músicos que começaram por
«The Siege» «Resurgence» coadjuvado por uma nova formação onde já não mas Jäger, pinta um retrato muito fiel dos tempos CHESTRA se evidenciar no metal extremo, mas que nunca
[Edição de autor] [Nuclear Blast] constam o guitarrista Rick Rozz nem o baixista conturbados que vivemos –, os Monolord 2021 «Aeromantic II» tiveram visão de túnel e sempre sonharam alto.
Miguel F. Silva vive a “cavalo Não há como negá-lo: os Terry Butler que, ao invés de Lee, tinham gravado apresentam-se também mais negros, atentos ao [Nuclear Blast] Nesta crew, também voam alto. [7.5] N.S.
entre Lisboa e Valência”, Massacre foram uma das o último álbum. Contra todas as expectativas, detalhes e arranjos, chegando mesmo a atingir Aquilo que pode ter sido
segundo a sua biografia. primeiras bandas a tocar depois da intro que dá início ao tema de abertura uma aura épica, como acontece logo ao terceiro entendido como uma brin- NIGRUM PLUVIAM
Em «The Siege», este aço- death metal e deram o «Eldritch Prophecy» torna-se rapidamente claro tema, «I’ll Be Damned», que provavelmente só cadeira de escape musical «Eternal Fall Into The Abyss»
riano, da ilha Terceira, revela-se um excelente e pontapé de saída para a infame cena da Flórida que os Massacre estão de volta para nos esmur- estava mesmo ali à espera para sair de dentro por parte de Björn “Speed” Strid e Sharlee D’An- [Signal Rex]
versátil guitarrista, autor de bons solos, como na transição dos anos 80 para os 90. No entanto, rar com death metal norte-americano vintage, deles. Aconteceu agora, e ainda bem, porque gelo, afinal, já vai em seis álbuns. «Aeromantic No press release deste que é
em «Born Human». São quase três décadas nas olhando para tudo o que fizeram desde que lança- cheio de groove, solos (aqui e ali mais melódicos «Your Time To Shine» acaba mesmo por se revelar II» é uma espécie de continuação do disco com o primeiro álbum do projecto
cordas, com passagem por Nightshift, Crosshatch ram uma sequência de demos influentes e aban- do que era habitual) e aquele urro inconfundível a experiência sonora mais rica que os músicos já o mesmo nome lançado no início de 2020 sendo francês, descreve-se os
e Growing Titans. Agora grava três discos, dos donaram subitamente os planos de gravação do do Kam Lee. Até aqui nada a apontar; estamos em assinaram. [8] J.M.R. que, no som desta “orquestra voadora” pela nos- Nigrum Pluviam como uma
quais este é o primeiro a ser lançado, um trabalho primeiro disco quando Terry Butler, Rick Rozz e Bill território familiar e somos invadidos pelo senti- talgia dos anos 80, não há, exactamente, quebras “banda nascida demasiado tarde”. É uma descrição
interessante, assente totalmente, para o bom e Andrews decidiram saltar do barco para se junta- mento nostálgico que se quer deste tipo de coisa. MORTE INCANDESCENTE de estilo ou fases mais assim ou assado. Temos que assenta como uma luva, para o bem ou para o
para o mau, na guitarra. Os temas podiam ganhar rem aos Death, não se pode dizer que alguma vez O problema é que, ao terceiro ou quatro tema, «Vala Comum» hard rock, AOR, arena pop, disco sound e até uma mal. À semelhança de outros nomes franceses, os
com o input que resulta de uma banda e do tra- tenham sido uma banda consistente. A estreia, percebemos que, embora muito disto soe como [Signal Rex] costela prog como era frequente nas produções Nigrum Pluviam tentam fazer uma reinterpretação
balho em conjunto. Por exemplo, «The Contract» «From Beyond», que seria finalmente editada em soava nos (escassos) dias de glória do grupo, Há, no início deste quinto dos eighties. Com a experiência acumulada pelos do black metal norueguês, num movimento para-
desenvolve-se com um bom solo e umas interes- 1991, continua a ser um petardo de brutalidade há por aqui demasiados riffs genéricos e uma álbum dos Morte Incandes- The Night Flight Orchestra ao longo de mais de lelo ao NWOFBM de uns Throane, por exemplo. A
santes malhas de guitarra, mas bateria e voz não Neandertal cheio de balanço mas, numa dança de escassez atroz de ideias e ganchos capazes de cente, um cruzamento entre uma década compete-lhes, sobretudo, criar as questão é se haverá interesse em reproduzir um
acompanham o virtuosismo, com os coros até muitos avanços, recuos e incontáveis mudanças deixarem uma impressão duradoura no ouvinte. grupos de referência, não canções mais chamativas possível, algo que, num som que muitos daqueles que o criaram, quando
a diminuírem o resultado final. Certamente que de formação, nunca conseguiram voltar a captar Costuma dizer-se que “o que nasce torto jamais no sentido de cópia, mas de precursores naturais. presente ficcional dominado por teclados saudo- aprenderam a tocar e a dominar os estúdios,
no software tudo soará muito bem, mas haverá aquele rasgo de génio contido em canções como se endireita” e esta gente parece ser um exemplo Escutar «Cerra Os Dentes» não deixa, a um dado sistas e cores brilhantes, seriam autênticos hits. rapidamente abandonaram. No lado positivo,
sempre uma grande diferença entra ver um do- «Dawn Of Eternity» ou a intemporal «Corpsegrin- perfeito disso. [5] J.M.R. momento, de fazer pensar em Bizarra Locomo- «White Jeans» e «You Belong To The Night» são Kraëh Määtruum consegue, através deste projecto,
cumentário e fazer a viagem do mesmo. É esse der». O que esperar, então, deste regresso aos tiva. Logo a seguir, o andamento rítmico de «O apenas dois certinhos, já para não falar em «Burn oferecer temas bem interessantes, como «Passa-
lado “real” que falta acompanhar os bons solos de lançamentos, sete anos depois de «Back From MINNESJORD/TEUFELS- Véu», transporta para Mão Morta. É nesse mesmo For Me» e o seu video-clip ao género de «Dancing ge» e «In the Suffocating Mist», enquanto outros
M1ke, nesta viagem ao prog e hard. [6.5] E.F. The Beyond»? Para começar, a banda mudou de BERG tempo que a guitarra rasga referências e o som In The Streets» ou «Fame» de Irene Cara. Björn e facilmente seriam melhorados com outra mistura,
«Minnesjord/Teufelsberg» dos Morte Incandescente se autonomiza. Com
[Signal Rex] o «Uivo Da Noite», o puro heavy metal suja-se no
Split entre os nacionais

DOLD VORDE ENS NAVN FULL OF HELL


raw black, numa mescla tão interessante como
Minnesjord e os polacos já conhecida. Em «Nós Somos O Underground»,
Teufelsberg, ambos com ergue-se a bandeira do black metal, sobre o regis-

«Mørkere» apenas dois músicos. Estreía em vinil para am-


bos, com os nacionais a antecederem esta edição
to mais clássico. O experimentalismo e alguma
esquizofrenia vocal regressam em «As Luzes Da «Garden Of Burning Apparitions»
[LUPUS LOUNGE / PROPHECY] com a cassete «Agrura» de 2019, e os polacos Cidade», como animais do underground, desorien- [RELAPSE]
a optarem pelo lançamento digital de «Ancient tados face à exposição da sociedade. Talvez por

«M D
ørkere», a estreia longa-duração dos Dold Vorde Ens Darkness Triumphant», em 2020. No que toca isso, o punk de «A Ceia Dos Vermes» traga algum úvidas restassem – como se pela tareia abrasiva que nos
Navn (já tinham editado um belo EP em 2019) é um aos portugueses, cujo nome deriva da maqueta conforto no seu caos. Um disco que, não sendo é aplicada somente nos dois últimos álbuns, «Weeping
daqueles trabalhos de black metal que, feito Billy Pil- dos noruegueses Ildjarn, trata-se de black metal uma obra maior, sabe sair do nicho onde outros Choir» e «Trumpeting Ecstasy», não chegasse a expecta-
grim, salta entre a nostalgia e um vanguardismo futurista como cru, rápido e sujo. Com títulos invulgares, é em grupos se acoitam. [7.5] E.F. tiva de voos crescentes –, cada vez mais estes rapazes cheios
se não fosse nada, simultaneamente uma obra contemporânea, clássica, e para lá de qualquer «Mavórcio» que se encontra o tema que justifica o de inferno demonstram como é possível, sob a égide do grindcore, experimentar muito além
categorização temporal. Assente numa belíssima secção rítmica, é acima de tudo um tratado vinil. Oito minutos que viajam entre o black mais MORTIFERUM das fronteiras de um estilo já de si nascido pela inclusão. Se de início, ainda garotos, tinham
a duas vozes: a guitarra de Haavard e a voz de Vicotnik, dois génios cujo legado já há muito rápido e a toada mais doom, num tema que não «Preserved In Torment» uma postura predominantemente punk, quiçá também caracterizada pelas explosões pára-
que superou o de qualquer membro dos Mayhem ou Immortal (para não falar da totalidade da só é o mais longo, como o mais ousado de todos. [Profound Lore] -arranca à powerviolence, a que se foram adicionando camadas de exploração mais noise e
cena sueca). Afinal de contas, o Vicotnik tem no currículo o «Written In Waters» e a discografia Para o lado dos Teufelsberg, embora na mesma Como já havíamos deixado uma ampla vontade de tornar o extremo ainda mais extremo – o arrastado do sludge ainda
dos seus Dødheimsgard, cujo «A Umbra Omega» é dos melhores discos do género editados no linha dos lusos, a oferta é menos interessante, claro o mês passado a mais cavernoso, o desconforto da frieza industrial ainda mais palpável, o peso bruto do dea-
século XXI – a performance vocal que assina em «Mørkere» retira quaisquer dúvidas sobre a com quatro faixas, uma das quais a intro. Muralha propósito do «Feel» dos th metal ainda mais visceral –, é pela sucessão de experiências, ora por colaborações ora
capacidade do homem quando não tem o Aldrahn por perto, de tão evocativa, criativa, e des- sonora, mas não tão densa quanto desejado, Apparition (também ele por vontade de ir mais além, que os norte-americanos mais nos apanham desprevenidos.
concertante que é. Já o Haavard havia desaparecido da cena em 1998 após as obras primas alguma versatilidade, como a bateria a meio de lançado pela Profound Lore), nesta casa venera- «Burst Synapse», da parceria com Merzbow, começava a rasgar pano? Pois a abertura de
que são o «Bergtatt» e o «Nattens Madrigal», voltando agora como que para mostrar que ainda «Moloch Worshipers», mas sempre alinhando pelo mos o «Into Darkness» e o «Transcendence Into «Guided Blight», só para o começo, tem o mesmo frenesim em ácidos. Uma espiral barulhen-
é dos melhores escritores de riffs que o género já viu, oferecendo-nos desta feita épicos berg- black mais clássico e raw. [6.5] E.F. The Peripheral». Suspeitamos que os Mortiferum ta e maquinal? Temos «Derelict Satellite». Riffs à Discordance Axis? Segue «All Bells Ringing».
tattianos a rodos, sublimes composições acústicas, boas orquestrações, e dissonâncias mid alinham por este diapasão, já que ali a meio Estruturas angulares, vortexs vocais e partes slam trituradoras com linhas orelhudas? Há
tempo clássicas. Tudo somado, um álbum genial que faz sem o anunciar aquilo que muitos MONOLORD da «Eternal Procession», tema de abertura de «Industrial Messiah Complex». Gostam daquele noise rock à anos 90 tipo The Jesus Lizard?
anunciam e falham, que é demonstrar que o black metal dos 90s está vivo, de boa saúde, e «Your Time To Shine» «Preserved In Torment», desaceleraram o death «Reeking Tunnels». São 21 minutos que passam a voar, e ao arrastar de «Celestial Hierarch»
capaz de assinar um dos mais relevantes trabalhos do género em 2021. [9.5] L.P. [Relapse] metal cavernoso para um delicioso death/doom à dá vontade de ouvir de novo. [8.5] P.C.S.
Em termos de popularidade antiga, tendência de resto já exibida em «Disgor-
e exposição, os suecos ged From Psychotic Depths», LP de estreia dos
Monolord têm vindo a cres- californianos, editado em 2019. Este novo traba-
cer a cada novo disco de lho mantém muito do que de bom fizeram então,
uma forma constante desde a explosiva estreia mudando essencialmente dois pontos. Em primei-
com «Empress Rising». E, claro, como resultado, ro lugar, a belíssima gravação do Andrew Oswald
as recompensas têm ficado maiores a cada ano, (responsável por uma boa parte dos lançamentos
com o trio doom a captar atenção da Relapse da Vrasubatlat e que só tinha misturado a estreia)
Records com o mais dinâmico «Rust», de 2017. é menos turva e bafienta, aumentando o impacto
Esse disco já mostrava um lado mais polido, tons de cada riff, de cada gutural, e sobretudo, dando
mais claros e vozes menos cheias de reverb, num aquela aspereza seca à bateria quando o anda-
lento processo de mutação que se intensificou mento arrasta completamente para o death/doom
com «No Confort». Agora, «No Time To Shine» que os clássicos tão bem faziam. Em segundo
chega para fazer o ponto de equilíbrio, ao fundir o lugar, há dinâmicas muito maiores entre anda-
peso mais cru e sufocante dos primeiros registos mentos, com a bitola de qualidade a manter-se
com a atitude mais melódica e aventureira destes ora por tortuosos poços de doom, ora por violen-
mais recentes. Por esta altura, certamente que tas descargas de death metal a alta velocidade,
já ninguém espera um retorno à produção mais ora por virulentas caminhadas mid tempo. Bruto,
cavernosa de «Empress Rising» ou «Vaenir», mas profundamente cavernoso, e com tanto as gui-
estão aqui os riffs contundentes que se esperam, tarras como a secção rítmica a serem do melhor
em paralelo com alguns desvios interessantes. que temos ouvido neste simpático revivalismo do
Instigados pelo teor de mau estar que premeia as death metal old school. [8] L.P.

52 LOUD! LOUD! 53
tornando-se épicos, como o caso de «From The Bug e Ivan Drip, dois músicos com raízes nas se o museu de que nos fala o título fosse um do tema-título que abre o álbum só não vão rasgar a longa e emotiva
Earth To The Abyss Through Suffering». Esta faixa, fronteiras do noise rock aos quais mais tarde se recorte de um arquivo de uma Nova Iorque vivida um sorriso na cara do cínico mais empedernido. «Cidade 2», do EP
que encerra o disco, tem pormenores bem interes- juntou Matthew Hord, uma entrada que arrastou a partir do aço do club, e o disco que temos em É heavy metal fácil, cheio de malhões orelhudos, «Cidade», constituem
santes, mas perde-se na sonoridade final. [7] E.F. a sonoridade do agora trio para territórios mais mãos uma banda-sonora do que resta dessa esteja o homem a cantar sobre piratas ou sobre o alinhamento deste
próximos e permeáveis à música electrónica. memória. [8] J.R. advogados, who cares. Com aquele som horrível disco, apresentando-
POP. 1280 «Museum On The Horizon» dá continuidade a típico que os Running Wild sempre ownaram de -se como um exce-
«Museum On The Horizon» «Way Station», o EP que cristalizou essa primeira QUICKSAND tal maneira que até parece bom, é de longe o lente cartão de visita
[Profound Lore] exploração das possibilidades do arsenal de «Distant Populations» melhor que fizeram desde o tal Tesourinho que é o para quem toma
O grupo nova-iorquino Pop. sequenciadores e drum machines com que desde [Epitaph] «Masquerade». Gozem à vontade, mas ouçam na contacto com a ban-
1280 tem ao longo dos então se fizeram acompanhar, numa viagem pelo Walter Schreifels, o génio mesma. Faz bem à alma. [8] J.C.S. da pela primeira vez
anos assumido o papel de lado mais industrial da pop ambientada num por trás dos Quicksand, é e enquanto registo
laboratório criativo de Chris universo que apetece dizer hipnagógico. É como um excelente compositor. THE SILVER histórico de um mo-
Em toda a sua carreira é «Ward Of Roses» mento especial que,
difícil encontrar algo seu que não seja acima da [Gilead Media] ainda assim, não faz
média, e esta banda é um exemplo perfeito. For- Curiosa esta apropriação jus ao real potencial

IRON MAIDEN mados nos anos 90 e atingindo um certo grau de


popularidade, dois discos bastaram para deixar
do imaginário do roman-
tismo que 2021 nos tem
catártico e hipno-
tizante da banda,

«Senjutsu»
uma marca que acabou por influenciar nomes trazido: primeiro com esse quer em palco, quer
como Deftones ou Handsome. Pode-se mesmo objecto de culto que é o novo longa duração de em disco. A mistura
[PARLOPHONE] afirmar que o termo post-hardcore surgiu por Këkht Aräkh, o inclassificável «Pale Swordsman», surge por vezes algo
culpa destes rapazes. Após um hiato de 22 anos, um fascínio que também se fez sentir na parti- embrulhada e toda

M
esmo longe de ser inesperado, com a forma como tudo voltaram às edições, sendo este já o segundo cipação de Jonathan Hultén, antigo guitarrista e a expressividade de
se precipitou, a meio do Verão, «Senjutsu» criou um LP desde o regresso. Uma característica que compositor dos Tribulation, nesta última edição Patrícia Andrade que
buzz que ainda acentuou mais a curiosidade habitual. define este disco é a qualidade das tonalidades Redux do Roadburn, uma quase tendência que elevava as presta-
No primeiro balanço, após escuta de uma dezena de faixas, das guitarras. Cada som tem um propósito e foi agora vem desaguar na estreia de The Silver pela ções da banda a algo
distribuídas por dois CDs ou três rodelas de vinil, o disco passa a prova e facilmente poderá, esculpido para atingir o fim desejado, quer seja mão da Gilead Media. Menos dado a releituras realmente especial
num par de anos, situar-se como o melhor deste século, logo a seguir ao fabuloso «Brave New uma parede compacta de som ou algo mais subtil do legado nos anos 1980 que os exemplos an- fica aqui amputada,
World». Mas não é uma obra imediata, nem estará perto de agradar à maioria dos fãs da banda. e ambiental. O groove do baixo de Sergio Vega teriores, este novo projecto que reúne membros deixando a voz assu-
Desde logo, é o disco mais lento do grupo, por vezes com temas que poderiam ser encurtados, (agora nos Deftones) também deixa a sua marca dos Crypt Sermon e Horrendous procura ainda mir a preponderân-
e nunca justificando plenamente o duplo, ou triplo, álbum. Aqueles que glosam com o estilo bastante vincada. Disco delicioso, está cheio de assim fixar uma certa vulnerabilidade incomum cia, com o resultado
das guitarras Maiden, ficarão aqui sem argumentos, com o som muitas vezes a ficar mais pró- pormenores que se deixam descobrir a cada audi- no género, e aqui se cristaliza num imaginário aquém do que lhe
ximo do hard rock que do metal – basta escutar o solo aos quatro minutos de «Darkest Hour», ção. Obrigado, Walter e companhia. [8] D.R. lírico centrado no tema da perda e do amor. É conhecemos. Talvez
em que Adrian Smith como que regressa aos A.S.a.P.. Um excelente arranque para o segundo uma sublimação alquímica ancorada na prata de pelo maior tempo
CD, tal como «Senjutsu», também com marca de Smith, é um grande arranque para a obra a RUNNING WILD um black metal estridente, e que tem na voz de de maturação que já
que dá nome. Bateria tensa, tema com ritmo, sempre à beira da explosão, que nunca chega a «Blood On Blood» V uma das qualidades mais interessantes. São existia, é em «Cidade
acontecer. Já «Stratego», falha como single e podia bem ter ficado de fora. «The Writing On The [Steamhammer/SPV] dele alguns dos momentos fulgurantes que se vão 2» que sentimos um
Wall» dispensa comentários, pois todos já escutaram e tiveram algo a dizer sobre o tema. Cer- Há bandas que ganham assomando ao longo do disco, como aquele mo- pulsar mais intenso e
tamente poderá ocupar um lugar no setlist dos próximos cinco anos. Dificilmente sobreviverá a o estatuto de “gozo” em mento na «Vapor» em que o gutural black metal uma emoção mais à
vinte anos, mas nessa altura também dificilmente o Eddie andará por aí. «Lost In A Lost World» alguns círculos, e façam o se transforma num desarranjo vocal à Keiji Haino, flor da pele, embora
é também um tema digno deste trabalho. Há aqui um pouco de «Wasting Love», e de um cami- que fizerem, nunca mais ou o diálogo melódico que vai desenvolvendo com seja indiscutivel-
nho que tentou ser seguido por altura do «Fear Of The Dark». E se «Days Of Future Past» tinha conseguem sair daí aos olhos de alguns. Basta as guitarras no tema-título. Belíssimo. [8] J.R. mente especial ouvir a língua portuguesa tão TEENAGE BOTTLERO-
tudo para ser uma malha rápida, percebe-se que, em 2021, os Iron Maiden pretendem desace- dizerem o nome Running Wild em voz alta num bem interpretada num palco internacional…e que CKET
lerar. Afinal, a idade pesa. As três últimas faixas ultrapassam a dezena de minutos, «The Parch- concerto ou num festival, e vai haver alguém que SINISTRO palco! Vale pelo pedaço de história e pela vénia «Sick Sesh!»
ment» é a mais longa, mas ilustrativa de como é este disco, muita música, rica em pormenores, se vai rir e dizer “a sério?”. E sendo sinceros, todos «Live At Roadburn» que é devida a um trabalho inigualável. [7] R.A. [Fat Wreck Chords]
e que a um dado instante faz perder a noção de tempo. Definitivamente, o disco mais versátil nós havemos de ter uma banda ou um género ou [Ragingplanet] Já o nono disco de estúdio
em termos de guitarras da carreira da banda, e nesse campo poderá até surpreender. Em ter- qualquer coisa que na maior parte das vezes nem Ao longo da última déca- SUCCUMB destes punks do Wyoming,
mos vocais, Bruce Dickinson tem um dos seus trabalhos mais ousados, e nem sempre ganha conhecemos bem, mas com o qual gozamos, ou da, os Sinistro conquista- «XXI» e não se sabe ao certo o
com isso. Harris está lá, mas percebe-se que passou mais tempo a procurar a musicalidade simplesmente não gostamos. Faz parte. Mas tam- ram, por direito próprio, [The Flenser] que é mais surpreendente, se os Teenage Bottle-
que a fazer maratonas de baixo, enquanto Nicko, brilha em dois ou três pontos e no resto fica bém faz parte do crescimento e da maturidade um lugar no panteão da Se bem se recordam, já rocket terem já quase duas mãos cheias de dis-
a marcar ritmo à sua maneira muito própria. O balanço final é obrigatório. O disco estará longe aprender a perder esses “automatismos”, já que a música portuguesa. E não, não nos referimos quando saiu o auto-intitula- cos ou o facto de haverem punks no Wyoming há
de ser consensual. Audacioso, mas nunca arriscando demasiado. Será muito interessante para única coisa para que servem é manter-nos afasta- apenas ao metal, rock pesado e seus derivados. do de estreia deste pessoal pelo menos mais de vinte anos. Uma banda que
o veterano que, com os anos, aprendeu a apreciar uma guitarra acústica ou um bom solo. Sen- dos de boa música. Tudo bem, acham que “pirate Referimo-nos mesmo à música no seu sentido de São Francisco, em 2017, faz questão de a capa dos seus discos ser sem-
tado no sofá, a olhar para a colecção de discos e com uma cerveja na mão, terá aqui motivo metal” é um conceito estúpido (e infelizmente, os mais lato, pese embora a importância e singula- ficámos parvos com a negritude que emanava do pre a mesma, alterando apenas o esquema de co-
de longas conversas no próximo concerto. Dificilmente agradará a quem insiste no shuffle de racistas dos Alestorm ainda dão mais argumen- ridade desta banda passar ao lado da maioria. death metal lamacento que os Succumb praticam. res e outro pormenor aqui e ali a cada lançamen-
uma aplicação de streaming, e quer apenas ouvir algo para postar numa story. Um disco com tos, como se a “qualidade” dos seus álbuns só Reconhecimento mediático à parte, aos Sinistro Atirando sludge, mau ambiente, violência emocio- to, não surpreende ninguém que toque o mesmo
gorduras, sim, mas também a pisar num campo em que estas são apreciadas. [8] E.F. não bastasse). Se calhar depois têm 50 álbuns de reconhece-se o incrível feito de levarem literal- nal e uma inteligência lírica fora do comum para tipo de som que sempre tocou. Aqui o culto aos
viking metal nas estantes, mas pronto, não vamos mente a todo o mundo uma sonoridade que, cima do take já de si brilhante que têm do death Ramones e aos Screeching Weasel mantém-se
discutir (isto para já nem ir ao pormenor de os por si só, já não é de fácil assimilação – algo old school, são daquelas bandas que obrigam a bastante vivo. Uma coisa é certa, este é um lan-
dois primeiros LPs dos Running Wild não meterem entre o doom, o sludge ou o post qualquer coisa tomar atenção a partir do primeiro segundo que çamento que cumpre todos os propósitos a que
piratas – sim, o «Gates To Purgatory» em parti- –, quanto mais quando usa um tão honesto e se ouve. O destaque absoluto, apesar da excelên- se propõe. Doze malhas em pouco mais de meia
cular é uma pérola quase escondida de speed/ belo português enquanto idioma de expressão cia de tudo o resto à volta dela, vai outra vez intei- hora com «Ghost Story» e «Never Sing Along» a
proto-black metal). E sim, claro que mesmo para nos três trabalhos que a banda gravou com ramente para a vocalista Cheri Musrasrik. É ela o ficarem imediatamente retidas e alojadas naquela
fãs, o output do grande Rock ‘n’ Rolf, especialmen- Patrícia Andrade. Um dos momentos mais altos ponto focal, o factor principal de diferenciação e o zona do nosso cérebro que é activada horas mais
te desde o reformar da banda depois do “fim” de de uma rápida ascensão terá sido pisar o palco olho da tempestade desta selvajaria toda. Expres- tarde e que nos faz cantarolar aquela melodia que
2009, não tem sido propriamente grande coisa. do mítico Roadburn, na sua edição de 2016, siva, confrontacional e tremendamente intensa não sabemos bem de onde surgiu. [8] D.R.
Mas ignorar clássicos intemporais como «Under com um excelente «Semente» debaixo do braço. do princípio ao fim do álbum (como ela aguenta
Jolly Roger», «Death Or Glory» ou «Port Royal» Num momento no qual a banda se readapta mais de meia hora neste registo, é surreal, mas THECODONTION
(e pessoalizo um bocado a questão ao incluir o a profundas alterações de formação – com a a verdade é que os concertos que já deram + VESSEL OF INIQUITY
fantástico, e tão pouco elogiado, «Masquerade») saída da vocalista Patrícia e do baixista Fernan- provam-no), é o tipo de frontwoman que eleva o «The Permian​-​Triassic Extinc-
é só parvo. O que nos traz finalmente ao «Blood do Matias – e prepara o sucessor de «Sangue estatuto de qualquer banda a que pertencesse, tion Event»
On Blood» (já era altura), que não estando exac- Cássia», «Live At Roadburn» soa ao fechar de um na categoria de uma Karyn Crisis do seu auge ou [I, Voidhanger]
tamente ao mesmo nível dos referidos, é, acima ciclo, ao imortalizar de um momento especial, de uma Dawn Crosby. Quando já de si o resto dos Há coisa de 250 milhões
de tudo um álbum respeitável, de qualidade, e, protagonizado por uma formação especial, num Succumb são uma das bandas mais interessantes de anos, ocorreu a grande
aguentem aí, divertidíssimo. Sim, no metal somos palco especial, sendo o próprio disco limitado a do underground norte-americano da actualidade, extinção do Permiano-Triássico, o maior evento
todos bueda maus e não nos queremos divertir, apenas 200 cópias em vinil. «Relíquia», «Corpo enfim, é caso para dizer que calha bem. Muito de extinção em massa registado na história do
mas a ginga do riff principal e o pegajoso refrão Presente» e «Estrada», sacadas a «Semente» e bem mesmo. [9] J.C.S. planeta. Eis que o duo italiano de death metal

54 LOUD! LOUD! 55
tornando-se épicos, como o caso de «From The Bug e Ivan Drip, dois músicos com raízes nas se o museu de que nos fala o título fosse um do tema-título que abre o álbum só não vão rasgar a longa e emotiva
Earth To The Abyss Through Suffering». Esta faixa, fronteiras do noise rock aos quais mais tarde se recorte de um arquivo de uma Nova Iorque vivida um sorriso na cara do cínico mais empedernido. «Cidade 2», do EP
que encerra o disco, tem pormenores bem interes- juntou Matthew Hord, uma entrada que arrastou a partir do aço do club, e o disco que temos em É heavy metal fácil, cheio de malhões orelhudos, «Cidade», constituem
santes, mas perde-se na sonoridade final. [7] E.F. a sonoridade do agora trio para territórios mais mãos uma banda-sonora do que resta dessa esteja o homem a cantar sobre piratas ou sobre o alinhamento deste
próximos e permeáveis à música electrónica. memória. [8] J.R. advogados, who cares. Com aquele som horrível disco, apresentando-
POP. 1280 «Museum On The Horizon» dá continuidade a típico que os Running Wild sempre ownaram de -se como um exce-
«Museum On The Horizon» «Way Station», o EP que cristalizou essa primeira QUICKSAND tal maneira que até parece bom, é de longe o lente cartão de visita
[Profound Lore] exploração das possibilidades do arsenal de «Distant Populations» melhor que fizeram desde o tal Tesourinho que é o para quem toma
O grupo nova-iorquino Pop. sequenciadores e drum machines com que desde [Epitaph] «Masquerade». Gozem à vontade, mas ouçam na contacto com a ban-
1280 tem ao longo dos então se fizeram acompanhar, numa viagem pelo Walter Schreifels, o génio mesma. Faz bem à alma. [8] J.C.S. da pela primeira vez
anos assumido o papel de lado mais industrial da pop ambientada num por trás dos Quicksand, é e enquanto registo
laboratório criativo de Chris universo que apetece dizer hipnagógico. É como um excelente compositor. THE SILVER histórico de um mo-
Em toda a sua carreira é «Ward Of Roses» mento especial que,
difícil encontrar algo seu que não seja acima da [Gilead Media] ainda assim, não faz
média, e esta banda é um exemplo perfeito. For- Curiosa esta apropriação jus ao real potencial

IRON MAIDEN mados nos anos 90 e atingindo um certo grau de


popularidade, dois discos bastaram para deixar
do imaginário do roman-
tismo que 2021 nos tem
catártico e hipno-
tizante da banda,

«Senjutsu»
uma marca que acabou por influenciar nomes trazido: primeiro com esse quer em palco, quer
como Deftones ou Handsome. Pode-se mesmo objecto de culto que é o novo longa duração de em disco. A mistura
[PARLOPHONE] afirmar que o termo post-hardcore surgiu por Këkht Aräkh, o inclassificável «Pale Swordsman», surge por vezes algo
culpa destes rapazes. Após um hiato de 22 anos, um fascínio que também se fez sentir na parti- embrulhada e toda

M
esmo longe de ser inesperado, com a forma como tudo voltaram às edições, sendo este já o segundo cipação de Jonathan Hultén, antigo guitarrista e a expressividade de
se precipitou, a meio do Verão, «Senjutsu» criou um LP desde o regresso. Uma característica que compositor dos Tribulation, nesta última edição Patrícia Andrade que
buzz que ainda acentuou mais a curiosidade habitual. define este disco é a qualidade das tonalidades Redux do Roadburn, uma quase tendência que elevava as presta-
No primeiro balanço, após escuta de uma dezena de faixas, das guitarras. Cada som tem um propósito e foi agora vem desaguar na estreia de The Silver pela ções da banda a algo
distribuídas por dois CDs ou três rodelas de vinil, o disco passa a prova e facilmente poderá, esculpido para atingir o fim desejado, quer seja mão da Gilead Media. Menos dado a releituras realmente especial
num par de anos, situar-se como o melhor deste século, logo a seguir ao fabuloso «Brave New uma parede compacta de som ou algo mais subtil do legado nos anos 1980 que os exemplos an- fica aqui amputada,
World». Mas não é uma obra imediata, nem estará perto de agradar à maioria dos fãs da banda. e ambiental. O groove do baixo de Sergio Vega teriores, este novo projecto que reúne membros deixando a voz assu-
Desde logo, é o disco mais lento do grupo, por vezes com temas que poderiam ser encurtados, (agora nos Deftones) também deixa a sua marca dos Crypt Sermon e Horrendous procura ainda mir a preponderân-
e nunca justificando plenamente o duplo, ou triplo, álbum. Aqueles que glosam com o estilo bastante vincada. Disco delicioso, está cheio de assim fixar uma certa vulnerabilidade incomum cia, com o resultado
das guitarras Maiden, ficarão aqui sem argumentos, com o som muitas vezes a ficar mais pró- pormenores que se deixam descobrir a cada audi- no género, e aqui se cristaliza num imaginário aquém do que lhe
ximo do hard rock que do metal – basta escutar o solo aos quatro minutos de «Darkest Hour», ção. Obrigado, Walter e companhia. [8] D.R. lírico centrado no tema da perda e do amor. É conhecemos. Talvez
em que Adrian Smith como que regressa aos A.S.a.P.. Um excelente arranque para o segundo uma sublimação alquímica ancorada na prata de pelo maior tempo
CD, tal como «Senjutsu», também com marca de Smith, é um grande arranque para a obra a RUNNING WILD um black metal estridente, e que tem na voz de de maturação que já
que dá nome. Bateria tensa, tema com ritmo, sempre à beira da explosão, que nunca chega a «Blood On Blood» V uma das qualidades mais interessantes. São existia, é em «Cidade
acontecer. Já «Stratego», falha como single e podia bem ter ficado de fora. «The Writing On The [Steamhammer/SPV] dele alguns dos momentos fulgurantes que se vão 2» que sentimos um
Wall» dispensa comentários, pois todos já escutaram e tiveram algo a dizer sobre o tema. Cer- Há bandas que ganham assomando ao longo do disco, como aquele mo- pulsar mais intenso e
tamente poderá ocupar um lugar no setlist dos próximos cinco anos. Dificilmente sobreviverá a o estatuto de “gozo” em mento na «Vapor» em que o gutural black metal uma emoção mais à
vinte anos, mas nessa altura também dificilmente o Eddie andará por aí. «Lost In A Lost World» alguns círculos, e façam o se transforma num desarranjo vocal à Keiji Haino, flor da pele, embora
é também um tema digno deste trabalho. Há aqui um pouco de «Wasting Love», e de um cami- que fizerem, nunca mais ou o diálogo melódico que vai desenvolvendo com seja indiscutivel-
nho que tentou ser seguido por altura do «Fear Of The Dark». E se «Days Of Future Past» tinha conseguem sair daí aos olhos de alguns. Basta as guitarras no tema-título. Belíssimo. [8] J.R. mente especial ouvir a língua portuguesa tão TEENAGE BOTTLERO-
tudo para ser uma malha rápida, percebe-se que, em 2021, os Iron Maiden pretendem desace- dizerem o nome Running Wild em voz alta num bem interpretada num palco internacional…e que CKET
lerar. Afinal, a idade pesa. As três últimas faixas ultrapassam a dezena de minutos, «The Parch- concerto ou num festival, e vai haver alguém que SINISTRO palco! Vale pelo pedaço de história e pela vénia «Sick Sesh!»
ment» é a mais longa, mas ilustrativa de como é este disco, muita música, rica em pormenores, se vai rir e dizer “a sério?”. E sendo sinceros, todos «Live At Roadburn» que é devida a um trabalho inigualável. [7] R.A. [Fat Wreck Chords]
e que a um dado instante faz perder a noção de tempo. Definitivamente, o disco mais versátil nós havemos de ter uma banda ou um género ou [Ragingplanet] Já o nono disco de estúdio
em termos de guitarras da carreira da banda, e nesse campo poderá até surpreender. Em ter- qualquer coisa que na maior parte das vezes nem Ao longo da última déca- SUCCUMB destes punks do Wyoming,
mos vocais, Bruce Dickinson tem um dos seus trabalhos mais ousados, e nem sempre ganha conhecemos bem, mas com o qual gozamos, ou da, os Sinistro conquista- «XXI» e não se sabe ao certo o
com isso. Harris está lá, mas percebe-se que passou mais tempo a procurar a musicalidade simplesmente não gostamos. Faz parte. Mas tam- ram, por direito próprio, [The Flenser] que é mais surpreendente, se os Teenage Bottle-
que a fazer maratonas de baixo, enquanto Nicko, brilha em dois ou três pontos e no resto fica bém faz parte do crescimento e da maturidade um lugar no panteão da Se bem se recordam, já rocket terem já quase duas mãos cheias de dis-
a marcar ritmo à sua maneira muito própria. O balanço final é obrigatório. O disco estará longe aprender a perder esses “automatismos”, já que a música portuguesa. E não, não nos referimos quando saiu o auto-intitula- cos ou o facto de haverem punks no Wyoming há
de ser consensual. Audacioso, mas nunca arriscando demasiado. Será muito interessante para única coisa para que servem é manter-nos afasta- apenas ao metal, rock pesado e seus derivados. do de estreia deste pessoal pelo menos mais de vinte anos. Uma banda que
o veterano que, com os anos, aprendeu a apreciar uma guitarra acústica ou um bom solo. Sen- dos de boa música. Tudo bem, acham que “pirate Referimo-nos mesmo à música no seu sentido de São Francisco, em 2017, faz questão de a capa dos seus discos ser sem-
tado no sofá, a olhar para a colecção de discos e com uma cerveja na mão, terá aqui motivo metal” é um conceito estúpido (e infelizmente, os mais lato, pese embora a importância e singula- ficámos parvos com a negritude que emanava do pre a mesma, alterando apenas o esquema de co-
de longas conversas no próximo concerto. Dificilmente agradará a quem insiste no shuffle de racistas dos Alestorm ainda dão mais argumen- ridade desta banda passar ao lado da maioria. death metal lamacento que os Succumb praticam. res e outro pormenor aqui e ali a cada lançamen-
uma aplicação de streaming, e quer apenas ouvir algo para postar numa story. Um disco com tos, como se a “qualidade” dos seus álbuns só Reconhecimento mediático à parte, aos Sinistro Atirando sludge, mau ambiente, violência emocio- to, não surpreende ninguém que toque o mesmo
gorduras, sim, mas também a pisar num campo em que estas são apreciadas. [8] E.F. não bastasse). Se calhar depois têm 50 álbuns de reconhece-se o incrível feito de levarem literal- nal e uma inteligência lírica fora do comum para tipo de som que sempre tocou. Aqui o culto aos
viking metal nas estantes, mas pronto, não vamos mente a todo o mundo uma sonoridade que, cima do take já de si brilhante que têm do death Ramones e aos Screeching Weasel mantém-se
discutir (isto para já nem ir ao pormenor de os por si só, já não é de fácil assimilação – algo old school, são daquelas bandas que obrigam a bastante vivo. Uma coisa é certa, este é um lan-
dois primeiros LPs dos Running Wild não meterem entre o doom, o sludge ou o post qualquer coisa tomar atenção a partir do primeiro segundo que çamento que cumpre todos os propósitos a que
piratas – sim, o «Gates To Purgatory» em parti- –, quanto mais quando usa um tão honesto e se ouve. O destaque absoluto, apesar da excelên- se propõe. Doze malhas em pouco mais de meia
cular é uma pérola quase escondida de speed/ belo português enquanto idioma de expressão cia de tudo o resto à volta dela, vai outra vez intei- hora com «Ghost Story» e «Never Sing Along» a
proto-black metal). E sim, claro que mesmo para nos três trabalhos que a banda gravou com ramente para a vocalista Cheri Musrasrik. É ela o ficarem imediatamente retidas e alojadas naquela
fãs, o output do grande Rock ‘n’ Rolf, especialmen- Patrícia Andrade. Um dos momentos mais altos ponto focal, o factor principal de diferenciação e o zona do nosso cérebro que é activada horas mais
te desde o reformar da banda depois do “fim” de de uma rápida ascensão terá sido pisar o palco olho da tempestade desta selvajaria toda. Expres- tarde e que nos faz cantarolar aquela melodia que
2009, não tem sido propriamente grande coisa. do mítico Roadburn, na sua edição de 2016, siva, confrontacional e tremendamente intensa não sabemos bem de onde surgiu. [8] D.R.
Mas ignorar clássicos intemporais como «Under com um excelente «Semente» debaixo do braço. do princípio ao fim do álbum (como ela aguenta
Jolly Roger», «Death Or Glory» ou «Port Royal» Num momento no qual a banda se readapta mais de meia hora neste registo, é surreal, mas THECODONTION
(e pessoalizo um bocado a questão ao incluir o a profundas alterações de formação – com a a verdade é que os concertos que já deram + VESSEL OF INIQUITY
fantástico, e tão pouco elogiado, «Masquerade») saída da vocalista Patrícia e do baixista Fernan- provam-no), é o tipo de frontwoman que eleva o «The Permian​-​Triassic Extinc-
é só parvo. O que nos traz finalmente ao «Blood do Matias – e prepara o sucessor de «Sangue estatuto de qualquer banda a que pertencesse, tion Event»
On Blood» (já era altura), que não estando exac- Cássia», «Live At Roadburn» soa ao fechar de um na categoria de uma Karyn Crisis do seu auge ou [I, Voidhanger]
tamente ao mesmo nível dos referidos, é, acima ciclo, ao imortalizar de um momento especial, de uma Dawn Crosby. Quando já de si o resto dos Há coisa de 250 milhões
de tudo um álbum respeitável, de qualidade, e, protagonizado por uma formação especial, num Succumb são uma das bandas mais interessantes de anos, ocorreu a grande
aguentem aí, divertidíssimo. Sim, no metal somos palco especial, sendo o próprio disco limitado a do underground norte-americano da actualidade, extinção do Permiano-Triássico, o maior evento
todos bueda maus e não nos queremos divertir, apenas 200 cópias em vinil. «Relíquia», «Corpo enfim, é caso para dizer que calha bem. Muito de extinção em massa registado na história do
mas a ginga do riff principal e o pegajoso refrão Presente» e «Estrada», sacadas a «Semente» e bem mesmo. [9] J.C.S. planeta. Eis que o duo italiano de death metal

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atmosférico Thecodontion, cuja discografia é toda deixado escapar o primeiro álbum deste seu projec- “sim, muitas” ou “não conheço, vou ouvir”, porque
ela focada em paleontologia e fósseis, se aliou aos to paralelo – «The Hymn Of A Broken Man», que em a tristemente separada banda de Olympia foi
Vessel Of Iniquity, onde o britânico S.P. White tem 2011 juntava em duo criativo o então ex-vocalista das melhores coisas a acontecer ao heavy metal
erigido montanhas profundamente desconfortáveis dessa banda, Jesse Leach, ao seu guitarrista, Adam deste século. Felizmente deixaram para trás três
de black/death e noise, para dedicar um split à Dutkiewicz –, não só ainda vão a tempo de desco- álbuns fantásticos que vamos revisitar muitas
coisa. Os dois temas dos Thecodontion são autên- brir um disco por si só marcante no contexto da vezes à espera que os envolvidos tenham outros
ticos tratados de death metal podre e primitivo, e familiaridade do metalcore de Massachusetts, como projectos relevantes, ou que alguma outra banda
focam-se em criaturas que viveram após a catás- observam agora o amadurecimento que uma dé- apareça para tentar ocupar o espaço que deixaram
trofe, uma delas o thecodontosaurus, sobre o qual cada pode acrescentar a ideias que provavelmente na cena. Boas notícias, então, porque pelo menos
era inevitável que um dia escrevessem por razões não fariam assim tanto sentido na banda principal esse segundo desejo parece estar a ser cumprido,
óbvias. Já o bom do White escreve uma coisa que inicialmente juntou estes músicos. Por um lado, aqui com a ajuda dos Tower. Não é só pelo facto
chamada «The Great Dying» ao lado da qual não só não deixam de existir riffs musculados e passagens de também terem uma vocalista incrível, cheia
o longa-duração deste ano dos Vessel Of Iniquity berradas partilhadas pelas vozes de ambos («Res- de personalidade e com uma voz meio rouca que JOSÉ CARLOS SANTOS STEBBA ÓSK
(«The Doorway») parece bonito e melódico, como cue» ou «Far From Heavenless»), embora a influên- nasceu para cantar heavy metal a plenos pulmões
se diria que os Revenge tocam umas coisas acessí- cia de Gotemburgo esteja mais diluída, por outro, e (se bem que ajuda, claro), uma Sarabeth Linden
veis e cheias de estrutura aparente. Não podíamos o mais importante de mencionar, é o alcance meló- que está plenamente à altura do standard elevado
pensar em forma mais apropriada para criar uma dico, dos arranjos às vozes, que alastra as influên- deixado pela Christine Davis, mas tudo o que fazia
banda-sonora para o maior cataclismo da história cias para um público mais amplo: por exemplo, «The dos Christian Mistress geniais está aqui bem
do planeta nem em melhor exemplo para o porquê Burden Of Relief» podia ser um esboço de Jerry patente também. A vibe muito 70s, vintage no
dos Vessel Of Iniquity serem hoje autores de algum Cantrell, «Bleed Me» dá uns ares de «Something In melhor sentido do termo, com as noções certas
do melhor black/death que por aí se faz, com a The Way» dos Nirvana, e até «Medusa» tem ali um de hard rock e de melodia e com laivos de doom
séria incorporação de noise nos ingredientes a ser jeito à Zakk Wylde. No fim, mesmo que a emoção antigo e até algum thrash a enriquecerem os
para isso um muito importante factor. [7] L.P. pareça demasiado na manga, é fácil deixarmo-nos ir temas, a vontade de não se encaixotarem numa
atrás. [7.5] P.C.S. só fórmula (os sete minutos de «In Dreams»
TIMES OF GRACE mostram uma banda sem medo nenhum de nadar
«Songs Of Loss And Sepa- TOWER para fora de pé, e com grande sucesso), as letras

REDBONE
ration» «Shock To The System» inteligentes, as cavalgadas irresistíveis… E não se
[Wicked Good] [Cruz Del Sur] preocupem, que apesar de esta apreciação estar
Se ainda existirem fãs dos Têm saudades dos Christian baseada numa comparação directa com outra
Killswitch Engage suficiente- Mistress? Vá, aqui só há banda, é mesmo só para se perceber o brilho
mente distraídos para terem duas respostas certas, ou semelhante emanado pelos Tower, já que têm a «Wovoka»
sua personalidade própria perfeitamente formada [Epic, 1973]
e têm valor para aguentar qualquer escrutínio só
pela qualidade da sua música. Vejam lá se não se

WHITECHAPEL separam, agora! [8.5] J.C.S. É comum afirmar-se que estamos num período dourado da tele- dos personagens, que até calha ser polícia, chamado Big, passa o dia
visão, e realmente é difícil negá-lo. O advento das plataformas de com um adolescente num drive around, ambos nativos americanos,
WORM streaming fez explodir o formato da série televisiva, principalmen- e quando o rádio do carro finalmente decide funcionar, apresenta-lhe
«Kin» «Foreverglade»
[20 Buck Spin]
te em quantidade, mas mesmo com muita pessegada à mistura,
também em qualidade. Como sempre aconteceu na música, hoje
os Redbone através desse tema, o mais conhecido da carreira da
banda. Aquilo parecia bom demais para ser fictício, e dez minutos de
[METAL BLADE] O nome poderá soar parece haver uma reserva inesgotável de séries para descobrir – Google depois do episódio terminar, estava encontrada a nova ob-

N
familiar, e não é pela dezena parece sempre possível “desenterrar” aquela preciosidade, aquele sessão musical.
ão adoram quando as bandas de deathcore começam de bandas que já houve Tesourinho, lá está, de que nunca tínhamos ouvido falar por alguma
a afastar-se progressivamente do estilo – que diga-se com o mesmo, é porque razão. Como é natural, isto deu mais espaço para programas “fora Quem são os Redbone então? Não são, de todo, a única banda de rock
em abono da verdade, se esgotou criativamente logo à estes mesmos Worm já andam aí há alguns da caixa”, para apostas que outrora seriam um pouco mais impro- formada por nativos americanos (basta pensar nos Blackfoot, even-
nascença? Poderá ser aborrecido para os fãs, que esperam anos, com uma carreira feita na Iron Bonehead váveis. Este clima de criatividade reflecte-se, também, na própria tualmente os mais conhecidos), mas são unanimemente considera-
ouvir aquele breakdown duzentas mil vezes em três minutos, mas não é de estranhar que até agora. E diga-se de passagem que eram música que é usada nas produções televisivas. Se antigamente era dos como sendo a melhor. Tendo no seu núcleo os irmãos Pat e Lolly
os músicos queiram fazer algo diferente disso, independentemente do resultado ser algo uma banda típica dessa editora, com tudo o uma festa rara apanhar qualquer coisa interessante – e acontecia Vegas, tiveram o seu apogeu nos anos 70, década na qual editaram
melhor ou pior. Os Whitechapel são uma das bandas que mais tem impressionado nesse que de bom e eventualmente menos bom isso principalmente em filmes, não tanto em séries –, hoje em dia os sete dos seus oito álbuns («Peace Pipe» surgiu em 2005, uma espécie
aspecto e «Kin» segue as boas indicações de «The Valley», o anterior álbum da banda. Aliás, acarreta. Começaram praticando um black metal pontos de ligação já são mais que muitos. Desde ouvirmos Chelsea de regresso só com Pat e Lolly, poucos anos antes deste último fale-
é literalmente a sua sequela. As letras têm a intensidade que se espera – para quem não apa- consistente, obscuro e animalesco, com muito Wolfe, Marissa Nadler, Swans, Yes ou Perfume Genius em «Good cer, em 2010 – um ano antes, já o guitarrista Tony Bellamy tinha tam-
nhou o trabalho anterior, o conceito fala de traumas de infância do vocalista Phil Bozeman, pouca personalidade própria, mas com imensa Girls» (um dos exemplos mais notórios de bom gosto), até aos Ca- bém morrido). Apesar de haver preciosidades em todos eles, o estilo
devidamente ficcionados. Musicalmente podemos dizer que entre death metal melódico, convicção. Felizmente, com o tempo, foram liban em «Dead To Me», passando pela revelação dos S U R V I muito particular de funk rock exuberante e de surpreendente riqueza
metalcore e, obviamente, deathcore, temos a variedade que tanto faltava ao género e que é refinando essa lacunas, através da introdução de V E através da super-popular «Stranger Things», ou pela sublime instrumental e melódica que praticam terá tido o seu ponto alto neste
fundamental para se ter um álbum memorável. [8.5] F.F. doom e death metal na sua fórmula – o segundo «Patriot» que referencia Townes Van Zandt, Leonard Cohen, Beastie «Wovoka», o quinto LP em apenas três anos de existência da banda.
álbum, «Gloomlord», já era um esboço do que este Boys ou The Clash entre muitos outros, cada vez mais a televisão Não só tem o seu hino maior, a tal «Come And Get Your Love», mas
pessoal da Florida poderia vir a fazer, e parece “alternativa” é fonte de boas confirmações ou até mesmo desco- também a incrível «We Were All Wounded At Wounded Knee» (ausente
ter sido agora com este «Foreverglade», já numa bertas musicais. no entanto da versão original norte-americana, porque a censura é tra-
editora muito mais apropriada ao(s) estilo(s) mada e também existe nos países ditos “civili-
onde agora se movem, que chegaram finalmente E foi precisamente por aí que este que vos zados”), e mais um par de canções soberbas,
àquele que é o seu som. Não são, de repente, uma escreve chegou aos Redbone recentemente. totalmente à altura dos hits. A pertinência das
entidade absolutamente única, longe disso, mas Podia fingir que já os conhecia há décadas, letras, subtis mas fortes, sem medo de tocar
a mescla podre de doom arrastado, death metal dava muito mais street cred, até porque não em assuntos “sensíveis” sem que no entanto
old school cadenciado a meio tempo e os restos são assim tão super-desconhecidos como isso atropele a música, a excelência das har-
de black metal que ainda poluem esta espessa isso – para além do sucesso que tiveram nos monias vocais, o talento discreto mas sempre
neblina fantasmagórica criam um resultado final seus anos áureos (este álbum de que vos fala- presente dos guitarristas Lolly e Tony, a quase
bem mais interessante. Chamar à música dos mos hoje chegou ao #66 do Billboard 200 em ausência de filler nesses sete álbuns lançados
Worm “pantanosa” é um cliché, dada a sua origem 1974), até já tiveram outras aparições prévias. de 1970 a 1977, até mesmo a máquina que
geográfica, mas não só faz total sentido, como Pois é, o mega hit «Come And Get Your Love» pareciam ser em palco, a avaliar pelos muitos
parece que com os títulos, as fotos de banda e o já tinha feito parte do filme «Guardians Of The e bons vídeos que existem no YouTube, tudo
artwork, eles próprios não fazem questão de fugir Galaxy», e também da série de animação «F isto faz dos Redbone uma pérola intemporal.
a isso. E se assim é, os onze minutos de «Cloaked Is For Family». Foi precisamente esse tema O próprio Pat Vegas continua a combater a
In Nightwings», a peça central de «Foreverglade», que foi a base (e o título, até) de um episódio passagem do tempo – aos 80 anos, ainda
são a banda-sonora perfeita para nos afundarmos recente de «Reservation Dogs» (sim, o pun é toca com uma banda que interpreta temas
num pântano cheio de criaturas maléficas intended), série fenomenal actualmente em tanto da sua carreira a solo como dos anos de
indescritíveis prontas a sugarem-nos a carne exibição na FX, da autoria do grande Taika glória dos Redbone. Que o faça ainda durante
lamacenta dos ossos. [7.5] J.C.S. Waititi (em parceria com Sterlin Harjo). Um muito tempo.

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atmosférico Thecodontion, cuja discografia é toda deixado escapar o primeiro álbum deste seu projec- “sim, muitas” ou “não conheço, vou ouvir”, porque
ela focada em paleontologia e fósseis, se aliou aos to paralelo – «The Hymn Of A Broken Man», que em a tristemente separada banda de Olympia foi
Vessel Of Iniquity, onde o britânico S.P. White tem 2011 juntava em duo criativo o então ex-vocalista das melhores coisas a acontecer ao heavy metal
erigido montanhas profundamente desconfortáveis dessa banda, Jesse Leach, ao seu guitarrista, Adam deste século. Felizmente deixaram para trás três
de black/death e noise, para dedicar um split à Dutkiewicz –, não só ainda vão a tempo de desco- álbuns fantásticos que vamos revisitar muitas
coisa. Os dois temas dos Thecodontion são autên- brir um disco por si só marcante no contexto da vezes à espera que os envolvidos tenham outros
ticos tratados de death metal podre e primitivo, e familiaridade do metalcore de Massachusetts, como projectos relevantes, ou que alguma outra banda
focam-se em criaturas que viveram após a catás- observam agora o amadurecimento que uma dé- apareça para tentar ocupar o espaço que deixaram
trofe, uma delas o thecodontosaurus, sobre o qual cada pode acrescentar a ideias que provavelmente na cena. Boas notícias, então, porque pelo menos
era inevitável que um dia escrevessem por razões não fariam assim tanto sentido na banda principal esse segundo desejo parece estar a ser cumprido,
óbvias. Já o bom do White escreve uma coisa que inicialmente juntou estes músicos. Por um lado, aqui com a ajuda dos Tower. Não é só pelo facto
chamada «The Great Dying» ao lado da qual não só não deixam de existir riffs musculados e passagens de também terem uma vocalista incrível, cheia
o longa-duração deste ano dos Vessel Of Iniquity berradas partilhadas pelas vozes de ambos («Res- de personalidade e com uma voz meio rouca que JOSÉ CARLOS SANTOS STEBBA ÓSK
(«The Doorway») parece bonito e melódico, como cue» ou «Far From Heavenless»), embora a influên- nasceu para cantar heavy metal a plenos pulmões
se diria que os Revenge tocam umas coisas acessí- cia de Gotemburgo esteja mais diluída, por outro, e (se bem que ajuda, claro), uma Sarabeth Linden
veis e cheias de estrutura aparente. Não podíamos o mais importante de mencionar, é o alcance meló- que está plenamente à altura do standard elevado
pensar em forma mais apropriada para criar uma dico, dos arranjos às vozes, que alastra as influên- deixado pela Christine Davis, mas tudo o que fazia
banda-sonora para o maior cataclismo da história cias para um público mais amplo: por exemplo, «The dos Christian Mistress geniais está aqui bem
do planeta nem em melhor exemplo para o porquê Burden Of Relief» podia ser um esboço de Jerry patente também. A vibe muito 70s, vintage no
dos Vessel Of Iniquity serem hoje autores de algum Cantrell, «Bleed Me» dá uns ares de «Something In melhor sentido do termo, com as noções certas
do melhor black/death que por aí se faz, com a The Way» dos Nirvana, e até «Medusa» tem ali um de hard rock e de melodia e com laivos de doom
séria incorporação de noise nos ingredientes a ser jeito à Zakk Wylde. No fim, mesmo que a emoção antigo e até algum thrash a enriquecerem os
para isso um muito importante factor. [7] L.P. pareça demasiado na manga, é fácil deixarmo-nos ir temas, a vontade de não se encaixotarem numa
atrás. [7.5] P.C.S. só fórmula (os sete minutos de «In Dreams»
TIMES OF GRACE mostram uma banda sem medo nenhum de nadar
«Songs Of Loss And Sepa- TOWER para fora de pé, e com grande sucesso), as letras

REDBONE
ration» «Shock To The System» inteligentes, as cavalgadas irresistíveis… E não se
[Wicked Good] [Cruz Del Sur] preocupem, que apesar de esta apreciação estar
Se ainda existirem fãs dos Têm saudades dos Christian baseada numa comparação directa com outra
Killswitch Engage suficiente- Mistress? Vá, aqui só há banda, é mesmo só para se perceber o brilho
mente distraídos para terem duas respostas certas, ou semelhante emanado pelos Tower, já que têm a «Wovoka»
sua personalidade própria perfeitamente formada [Epic, 1973]
e têm valor para aguentar qualquer escrutínio só
pela qualidade da sua música. Vejam lá se não se

WHITECHAPEL separam, agora! [8.5] J.C.S. É comum afirmar-se que estamos num período dourado da tele- dos personagens, que até calha ser polícia, chamado Big, passa o dia
visão, e realmente é difícil negá-lo. O advento das plataformas de com um adolescente num drive around, ambos nativos americanos,
WORM streaming fez explodir o formato da série televisiva, principalmen- e quando o rádio do carro finalmente decide funcionar, apresenta-lhe
«Kin» «Foreverglade»
[20 Buck Spin]
te em quantidade, mas mesmo com muita pessegada à mistura,
também em qualidade. Como sempre aconteceu na música, hoje
os Redbone através desse tema, o mais conhecido da carreira da
banda. Aquilo parecia bom demais para ser fictício, e dez minutos de
[METAL BLADE] O nome poderá soar parece haver uma reserva inesgotável de séries para descobrir – Google depois do episódio terminar, estava encontrada a nova ob-

N
familiar, e não é pela dezena parece sempre possível “desenterrar” aquela preciosidade, aquele sessão musical.
ão adoram quando as bandas de deathcore começam de bandas que já houve Tesourinho, lá está, de que nunca tínhamos ouvido falar por alguma
a afastar-se progressivamente do estilo – que diga-se com o mesmo, é porque razão. Como é natural, isto deu mais espaço para programas “fora Quem são os Redbone então? Não são, de todo, a única banda de rock
em abono da verdade, se esgotou criativamente logo à estes mesmos Worm já andam aí há alguns da caixa”, para apostas que outrora seriam um pouco mais impro- formada por nativos americanos (basta pensar nos Blackfoot, even-
nascença? Poderá ser aborrecido para os fãs, que esperam anos, com uma carreira feita na Iron Bonehead váveis. Este clima de criatividade reflecte-se, também, na própria tualmente os mais conhecidos), mas são unanimemente considera-
ouvir aquele breakdown duzentas mil vezes em três minutos, mas não é de estranhar que até agora. E diga-se de passagem que eram música que é usada nas produções televisivas. Se antigamente era dos como sendo a melhor. Tendo no seu núcleo os irmãos Pat e Lolly
os músicos queiram fazer algo diferente disso, independentemente do resultado ser algo uma banda típica dessa editora, com tudo o uma festa rara apanhar qualquer coisa interessante – e acontecia Vegas, tiveram o seu apogeu nos anos 70, década na qual editaram
melhor ou pior. Os Whitechapel são uma das bandas que mais tem impressionado nesse que de bom e eventualmente menos bom isso principalmente em filmes, não tanto em séries –, hoje em dia os sete dos seus oito álbuns («Peace Pipe» surgiu em 2005, uma espécie
aspecto e «Kin» segue as boas indicações de «The Valley», o anterior álbum da banda. Aliás, acarreta. Começaram praticando um black metal pontos de ligação já são mais que muitos. Desde ouvirmos Chelsea de regresso só com Pat e Lolly, poucos anos antes deste último fale-
é literalmente a sua sequela. As letras têm a intensidade que se espera – para quem não apa- consistente, obscuro e animalesco, com muito Wolfe, Marissa Nadler, Swans, Yes ou Perfume Genius em «Good cer, em 2010 – um ano antes, já o guitarrista Tony Bellamy tinha tam-
nhou o trabalho anterior, o conceito fala de traumas de infância do vocalista Phil Bozeman, pouca personalidade própria, mas com imensa Girls» (um dos exemplos mais notórios de bom gosto), até aos Ca- bém morrido). Apesar de haver preciosidades em todos eles, o estilo
devidamente ficcionados. Musicalmente podemos dizer que entre death metal melódico, convicção. Felizmente, com o tempo, foram liban em «Dead To Me», passando pela revelação dos S U R V I muito particular de funk rock exuberante e de surpreendente riqueza
metalcore e, obviamente, deathcore, temos a variedade que tanto faltava ao género e que é refinando essa lacunas, através da introdução de V E através da super-popular «Stranger Things», ou pela sublime instrumental e melódica que praticam terá tido o seu ponto alto neste
fundamental para se ter um álbum memorável. [8.5] F.F. doom e death metal na sua fórmula – o segundo «Patriot» que referencia Townes Van Zandt, Leonard Cohen, Beastie «Wovoka», o quinto LP em apenas três anos de existência da banda.
álbum, «Gloomlord», já era um esboço do que este Boys ou The Clash entre muitos outros, cada vez mais a televisão Não só tem o seu hino maior, a tal «Come And Get Your Love», mas
pessoal da Florida poderia vir a fazer, e parece “alternativa” é fonte de boas confirmações ou até mesmo desco- também a incrível «We Were All Wounded At Wounded Knee» (ausente
ter sido agora com este «Foreverglade», já numa bertas musicais. no entanto da versão original norte-americana, porque a censura é tra-
editora muito mais apropriada ao(s) estilo(s) mada e também existe nos países ditos “civili-
onde agora se movem, que chegaram finalmente E foi precisamente por aí que este que vos zados”), e mais um par de canções soberbas,
àquele que é o seu som. Não são, de repente, uma escreve chegou aos Redbone recentemente. totalmente à altura dos hits. A pertinência das
entidade absolutamente única, longe disso, mas Podia fingir que já os conhecia há décadas, letras, subtis mas fortes, sem medo de tocar
a mescla podre de doom arrastado, death metal dava muito mais street cred, até porque não em assuntos “sensíveis” sem que no entanto
old school cadenciado a meio tempo e os restos são assim tão super-desconhecidos como isso atropele a música, a excelência das har-
de black metal que ainda poluem esta espessa isso – para além do sucesso que tiveram nos monias vocais, o talento discreto mas sempre
neblina fantasmagórica criam um resultado final seus anos áureos (este álbum de que vos fala- presente dos guitarristas Lolly e Tony, a quase
bem mais interessante. Chamar à música dos mos hoje chegou ao #66 do Billboard 200 em ausência de filler nesses sete álbuns lançados
Worm “pantanosa” é um cliché, dada a sua origem 1974), até já tiveram outras aparições prévias. de 1970 a 1977, até mesmo a máquina que
geográfica, mas não só faz total sentido, como Pois é, o mega hit «Come And Get Your Love» pareciam ser em palco, a avaliar pelos muitos
parece que com os títulos, as fotos de banda e o já tinha feito parte do filme «Guardians Of The e bons vídeos que existem no YouTube, tudo
artwork, eles próprios não fazem questão de fugir Galaxy», e também da série de animação «F isto faz dos Redbone uma pérola intemporal.
a isso. E se assim é, os onze minutos de «Cloaked Is For Family». Foi precisamente esse tema O próprio Pat Vegas continua a combater a
In Nightwings», a peça central de «Foreverglade», que foi a base (e o título, até) de um episódio passagem do tempo – aos 80 anos, ainda
são a banda-sonora perfeita para nos afundarmos recente de «Reservation Dogs» (sim, o pun é toca com uma banda que interpreta temas
num pântano cheio de criaturas maléficas intended), série fenomenal actualmente em tanto da sua carreira a solo como dos anos de
indescritíveis prontas a sugarem-nos a carne exibição na FX, da autoria do grande Taika glória dos Redbone. Que o faça ainda durante
lamacenta dos ossos. [7.5] J.C.S. Waititi (em parceria com Sterlin Harjo). Um muito tempo.

56 LOUD! LOUD! 57
AGENDA

NOTA: Todos os concertos já oficialmente


cancelados/adiados à data de fecho da 07 – Mystic Prophecy [Ale] / Kilmara [Esp] / (…) – RCA
edição estão rasurados. Todos os outros, Club, Lisboa
face às circunstâncias actuais, podem 12 – Gaerea / Obsidian Kingdom [Esp] – Hard Club, Porto
sofrer o mesmo destino a qualquer altura. 12 – The Black Crowes [E.U.A.] – Campo Pequeno, Lisboa
13 – Obsidian Kingdom [Esp] / Gaerea – RCA Club, Lisboa
13 – The Insane Slave / Sollar / Three Of Me / Sugiru /
Treewax – Metalpoint, Porto The Skull Room Studio Fest
18 – Sepultura [Bra] / Sacred Reich [E.U.A.] / Crowbar 22.01.20
[E.U.A.] – Hard Club, Porto THE DARKNESS
27 – Trivium [Bra] / Heaven Shall Burn [Ale] / TesseracT
[Ing] / Fit For An Autopsy [E.U.A.] – Sala Tejo, Lisboa

DEZEMBRO 19 – Avatar [Sue] / (…) – LAV – Lisboa Ao Vivo, Lisboa


02 – Soen [Sue] – LAV – Lisboa Ao Vivo, Lisboa 21 – Mono [Jap] / A.A.Williams [Ing] – Hard Club, Porto
04/05 – Tiamat [Sué] / Labirinto [Bra] / Inhuman / (…) 22 – Mono [Jap] / A.A.Williams [Ing] – LAV – Lisboa Ao
– LAV – Lisboa Ao Vivo, Lisboa Under The Doom Vivo, Lisboa
21.11.18 11 – Artillery [Din] – Hard Club, Porto 22 – Bullet For My Valentine [Gal] / … – Sala Tejo, Lisboa
SEPULTURA
JANEIRO MARÇO
08 – Pestilence [Hol] / Satan [Ing] / Iron Angel [Ale] / 02 – Aborted [Bel] / The Acacia Strain [E.U.A.] / Benighted
Mortuary Drape [Ita] / Hate Squad [Bra] / Deathless [Fra] / Fleddy Melculy [Bel] – Hard Club, Porto
OUTUBRO Legacy [Ita] / Attick Demons / Gwydion / Toxikull 03 – Aborted [Bel] / The Acacia Strain [E.U.A.] / Benighted
02 – The Toy Dolls [E.U.A.] / Mata-Ratos – Hard Club, Porto / Biolence / Sadistic Overkill – C.C. Santo André, [Fra] / Fleddy Melculy [Bel] – LAV – Lisboa Ao Vivo,
Adiado para 02/10/2022 Mangualde Hardmetalfest Lisboa
06 – Aborted [Bel] / The Acacia Strain [E.U.A.] / 13 – Imperial Age [Rus] – RCA Club, Lisboa 10 – The Mission [Ing] / Gene Loves Jezebel [Ing]
Benighted [Fra] / Fleddy Melculy [Bel] – Hard Club, 14 – Imperial Age [Rus] – Metalpoint, Porto – LAV – Lisboa Ao Vivo, Lisboa
Porto Adiado para 02/03/2022 16 – The Ocean [Ale] / pg.lost [Sue] / Hypno5e [Fra] / 11 – The Mission [Ing] / Gene Loves Jezebel [Ing]
07 – Aborted [Bel] / The Acacia Strain [E.U.A.] / Psychonaut [Bel] – LAV – Lisboa Ao Vivo, Lisboa – Hard Club, Porto
Benighted [Fra] / Fleddy Melculy [Bel] – LAV – 20 – Hexis [Din] – RCA Club, Lisboa 11 – Idles [Ing] / Bambara [E.U.A.] / Witch Fever [Ing]
Lisboa Ao Vivo, Lisboa Adiado para 03/03/2022 20 – The Darkness [Ing] / (…) – Cineteatro Capitólio, – Coliseu dos Recreios, Lisboa
07 – Fleshgod Apocalypse [Ita] / Ex Deo [Can] / Lisboa 11 – Nervosa [Var] / Warbringer [E.U.A.] / Warfect [Sue]
Ethereal Sin [Jap] – Hard Club, Porto Adiado para 21/22 – Benighted [Fra] / Rot [Bra] / Vulvodynia [A. Sul] / – Hard Club, Porto
06/10/2022 Inhumate [Fra] / Jig-Ai [R. Che] / Grog / Analepsy / 12 – The Mission [Ing] / Gene Loves Jezebel [Ing]
08 – Fleshgod Apocalypse [Ita] / Ex Deo [Can] / Xavlegbmaofffassssitimiwoamndutroabcwapwae – Hard Club, Porto
Ethereal Sin [Jap] – RCA Club, Lisboa Adiado para iippohfffX [A. Sul] / Stillbirth [Ale] / Serrabulho / 12 – Nervosa [Var] / Warbringer [E.U.A.] / Warfect [Sue]
07/10/2022 Abysmal Torment [Mal] / Cerebral Effusion [Esp] / – RCA Club, Lisboa
08 – Arch Enemy [Sué] / Behemoth [Pol] / Carcass [Ing] / Grindead / Dead Meat / Excoriation [Rus] / Rabid 18 – Orphaned Land [Isr] – LAV - Lisboa Ao Vivo, Lisboa
Unto Others [E.U.A.] – Sala Tejo, Lisboa Adiado para Dogs [Ita] / Convulsions [Esp] / Colpocleisis [Ing] 18 – Skunk Anansie [Ing] – Coliseu do Porto, Porto
07/10/2022 / Basement Torture Killings / Verme / Downfall Of 19 – Skunk Anansie [Ing] – Coliseu dos Recreios, Lisboa
08-10– Amenra [Bel] / Cult Of Luna [Sué] / Caspian Mankind – RCA Club, Lisboa XXXapada Na Tromba 20 – Apocalyptica [Fin] / Epica [Hol] – Coliseu dos Recreios,
[E.U.A.] / Elder [E.U.A.] / Envy [Jap] / Holy Fawn 29 – Cirith Ungol [E.U.A.] / Night Demon [E.U.A.] / Toxikull Lisboa
[E.U.A.] / Irist [E.U.A.] / Jo Quail [Ing] / Oranssi – RCA Club, Lisboa 25 – As I Lay Dying [E.U.A.] / Dying Fetus [E.U.A.] / Emmure
Pazuzu [Fin] / Pallbearer [E.U.A.] / Telepathy [Ing] [E.U.A.] – Sala Tejo, Lisboa
/ Wolves In The Throne Room [E.U.A.] – Hard Club, FEVEREIRO 25 – 1914 [Ucr] / (0) [Din] – Metalpoint, Porto
Porto Amplifest Adiado para 07-09 10 – Frank Carter & The Rattlesnakes [Ing]/ (…) – LAV 26 – 1914 [Ucr] / (0) [Din] – Side B Rocks, Alenquer
e 13-15/08/2022 – Lisboa Ao Vivo, Lisboa
09 – Evanescence [E.U.A.] – Altice Arena, Lisboa Adiado 18 – Semblant [Bra] / Secret Rule [Ita] / As I May [Fin] / ABRIL
para 18/04/2022 Crusade Of Bards [Esp] – Hard Club, Porto 04 – Ross The Boss [E.U.A.] / Asomvel [Ing] / Dark Embrace
16 – Heavenwood / Mata-Ratos / Simbiose 19 – Semblant [Bra] / Secret Rule [Ita] / As I May [Fin] / [Esp] – Hard Club, Porto
/ Theriomorphic / Biolence / Sollust / Crusade Of Bards [Esp] – RCA Club, Lisboa 05 – Ross The Boss [E.U.A.] / Asomvel [Ing] / Dark Embrace
Nematomorphos – Sebadelhe, V.N. Foz Côa [Esp] – LAV – Lisboa Ao Vivo, Lisboa
Sebadelhe Metal Fest 09 – Conception [Nor] – LAV – Lisboa Ao Vivo, Lisboa
16 – Persuader [Sué] – Side B Rocks, Alenquer 17 – Metz [Can] / Psychic Graveyard [E.U.A.] – Hard Club,
17 – Frogleap [Nor] – Cineteatro Capitólio, Lisboa Porto
22 – Xentrix [Ing] – Side B Rocks, Alenquer 18 – Metz [Can] / Psychic Graveyard [E.U.A.] – LAV – Lisboa
25 – Opeth [Sué] – Coliseu dos Recreios, Lisboa Adiado Ao Vivo, Lisboa
para 26/11/2022, na Sala Tejo 18 – Evanescence [E.U.A.] – Altice Arena, Lisboa
30 – All Against / Infraktor – Metalpoint, Porto 23 – Manticora [Din] – Hard Club, Porto
31 – Gwydion / Enchantya – RCA Club, Lisboa 29 – Devin Townsend [Can] / … - Cineteatro Capitólio, Lisboa
29 – Dream Theater [E.U.A.] – Campo Pequeno, Lisboa
NOVEMBRO 29 – Russian Circles [E.U.A.] – Hard Club, Porto
03 – Brainstorm [Ale] / Sinheresy [Ita] / Glasya – RCA 30 – Russian Circles [E.U.A.] – LAV – Lisboa Ao Vivo, Lisboa
Club, Lisboa 21.11.27
04 – Igorrr [Fra] / Otto Von Schirach [E.U.A.] / Drumcorps TRIVIUM
[E.U.A.] – LAV – Lisboa Ao Vivo, Lisboa
05 – Igorrr [Fra] / Otto Von Schirach [E.U.A.] / Drumcorps

PRÓXIMA LOUD! #248


[E.U.A.] – Hard Club, Porto

ABORTED EMMA RUTH RUNDLE


ENSLAVED EPICA
CYNIC HYPOCRISY
58 LOUD!
AGENDA

NOTA: Todos os concertos já oficialmente


cancelados/adiados à data de fecho da 07 – Mystic Prophecy [Ale] / Kilmara [Esp] / (…) – RCA
edição estão rasurados. Todos os outros, Club, Lisboa
face às circunstâncias actuais, podem 12 – Gaerea / Obsidian Kingdom [Esp] – Hard Club, Porto
sofrer o mesmo destino a qualquer altura. 12 – The Black Crowes [E.U.A.] – Campo Pequeno, Lisboa
13 – Obsidian Kingdom [Esp] / Gaerea – RCA Club, Lisboa
13 – The Insane Slave / Sollar / Three Of Me / Sugiru /
Treewax – Metalpoint, Porto The Skull Room Studio Fest
18 – Sepultura [Bra] / Sacred Reich [E.U.A.] / Crowbar 22.01.20
[E.U.A.] – Hard Club, Porto THE DARKNESS
27 – Trivium [Bra] / Heaven Shall Burn [Ale] / TesseracT
[Ing] / Fit For An Autopsy [E.U.A.] – Sala Tejo, Lisboa

DEZEMBRO 19 – Avatar [Sue] / (…) – LAV – Lisboa Ao Vivo, Lisboa


02 – Soen [Sue] – LAV – Lisboa Ao Vivo, Lisboa 21 – Mono [Jap] / A.A.Williams [Ing] – Hard Club, Porto
04/05 – Tiamat [Sué] / Labirinto [Bra] / Inhuman / (…) 22 – Mono [Jap] / A.A.Williams [Ing] – LAV – Lisboa Ao
– LAV – Lisboa Ao Vivo, Lisboa Under The Doom Vivo, Lisboa
21.11.18 11 – Artillery [Din] – Hard Club, Porto 22 – Bullet For My Valentine [Gal] / … – Sala Tejo, Lisboa
SEPULTURA
JANEIRO MARÇO
08 – Pestilence [Hol] / Satan [Ing] / Iron Angel [Ale] / 02 – Aborted [Bel] / The Acacia Strain [E.U.A.] / Benighted
Mortuary Drape [Ita] / Hate Squad [Bra] / Deathless [Fra] / Fleddy Melculy [Bel] – Hard Club, Porto
OUTUBRO Legacy [Ita] / Attick Demons / Gwydion / Toxikull 03 – Aborted [Bel] / The Acacia Strain [E.U.A.] / Benighted
02 – The Toy Dolls [E.U.A.] / Mata-Ratos – Hard Club, Porto / Biolence / Sadistic Overkill – C.C. Santo André, [Fra] / Fleddy Melculy [Bel] – LAV – Lisboa Ao Vivo,
Adiado para 02/10/2022 Mangualde Hardmetalfest Lisboa
06 – Aborted [Bel] / The Acacia Strain [E.U.A.] / 13 – Imperial Age [Rus] – RCA Club, Lisboa 10 – The Mission [Ing] / Gene Loves Jezebel [Ing]
Benighted [Fra] / Fleddy Melculy [Bel] – Hard Club, 14 – Imperial Age [Rus] – Metalpoint, Porto – LAV – Lisboa Ao Vivo, Lisboa
Porto Adiado para 02/03/2022 16 – The Ocean [Ale] / pg.lost [Sue] / Hypno5e [Fra] / 11 – The Mission [Ing] / Gene Loves Jezebel [Ing]
07 – Aborted [Bel] / The Acacia Strain [E.U.A.] / Psychonaut [Bel] – LAV – Lisboa Ao Vivo, Lisboa – Hard Club, Porto
Benighted [Fra] / Fleddy Melculy [Bel] – LAV – 20 – Hexis [Din] – RCA Club, Lisboa 11 – Idles [Ing] / Bambara [E.U.A.] / Witch Fever [Ing]
Lisboa Ao Vivo, Lisboa Adiado para 03/03/2022 20 – The Darkness [Ing] / (…) – Cineteatro Capitólio, – Coliseu dos Recreios, Lisboa
07 – Fleshgod Apocalypse [Ita] / Ex Deo [Can] / Lisboa 11 – Nervosa [Var] / Warbringer [E.U.A.] / Warfect [Sue]
Ethereal Sin [Jap] – Hard Club, Porto Adiado para 21/22 – Benighted [Fra] / Rot [Bra] / Vulvodynia [A. Sul] / – Hard Club, Porto
06/10/2022 Inhumate [Fra] / Jig-Ai [R. Che] / Grog / Analepsy / 12 – The Mission [Ing] / Gene Loves Jezebel [Ing]
08 – Fleshgod Apocalypse [Ita] / Ex Deo [Can] / Xavlegbmaofffassssitimiwoamndutroabcwapwae – Hard Club, Porto
Ethereal Sin [Jap] – RCA Club, Lisboa Adiado para iippohfffX [A. Sul] / Stillbirth [Ale] / Serrabulho / 12 – Nervosa [Var] / Warbringer [E.U.A.] / Warfect [Sue]
07/10/2022 Abysmal Torment [Mal] / Cerebral Effusion [Esp] / – RCA Club, Lisboa
08 – Arch Enemy [Sué] / Behemoth [Pol] / Carcass [Ing] / Grindead / Dead Meat / Excoriation [Rus] / Rabid 18 – Orphaned Land [Isr] – LAV - Lisboa Ao Vivo, Lisboa
Unto Others [E.U.A.] – Sala Tejo, Lisboa Adiado para Dogs [Ita] / Convulsions [Esp] / Colpocleisis [Ing] 18 – Skunk Anansie [Ing] – Coliseu do Porto, Porto
07/10/2022 / Basement Torture Killings / Verme / Downfall Of 19 – Skunk Anansie [Ing] – Coliseu dos Recreios, Lisboa
08-10– Amenra [Bel] / Cult Of Luna [Sué] / Caspian Mankind – RCA Club, Lisboa XXXapada Na Tromba 20 – Apocalyptica [Fin] / Epica [Hol] – Coliseu dos Recreios,
[E.U.A.] / Elder [E.U.A.] / Envy [Jap] / Holy Fawn 29 – Cirith Ungol [E.U.A.] / Night Demon [E.U.A.] / Toxikull Lisboa
[E.U.A.] / Irist [E.U.A.] / Jo Quail [Ing] / Oranssi – RCA Club, Lisboa 25 – As I Lay Dying [E.U.A.] / Dying Fetus [E.U.A.] / Emmure
Pazuzu [Fin] / Pallbearer [E.U.A.] / Telepathy [Ing] [E.U.A.] – Sala Tejo, Lisboa
/ Wolves In The Throne Room [E.U.A.] – Hard Club, FEVEREIRO 25 – 1914 [Ucr] / (0) [Din] – Metalpoint, Porto
Porto Amplifest Adiado para 07-09 10 – Frank Carter & The Rattlesnakes [Ing]/ (…) – LAV 26 – 1914 [Ucr] / (0) [Din] – Side B Rocks, Alenquer
e 13-15/08/2022 – Lisboa Ao Vivo, Lisboa
09 – Evanescence [E.U.A.] – Altice Arena, Lisboa Adiado 18 – Semblant [Bra] / Secret Rule [Ita] / As I May [Fin] / ABRIL
para 18/04/2022 Crusade Of Bards [Esp] – Hard Club, Porto 04 – Ross The Boss [E.U.A.] / Asomvel [Ing] / Dark Embrace
16 – Heavenwood / Mata-Ratos / Simbiose 19 – Semblant [Bra] / Secret Rule [Ita] / As I May [Fin] / [Esp] – Hard Club, Porto
/ Theriomorphic / Biolence / Sollust / Crusade Of Bards [Esp] – RCA Club, Lisboa 05 – Ross The Boss [E.U.A.] / Asomvel [Ing] / Dark Embrace
Nematomorphos – Sebadelhe, V.N. Foz Côa [Esp] – LAV – Lisboa Ao Vivo, Lisboa
Sebadelhe Metal Fest 09 – Conception [Nor] – LAV – Lisboa Ao Vivo, Lisboa
16 – Persuader [Sué] – Side B Rocks, Alenquer 17 – Metz [Can] / Psychic Graveyard [E.U.A.] – Hard Club,
17 – Frogleap [Nor] – Cineteatro Capitólio, Lisboa Porto
22 – Xentrix [Ing] – Side B Rocks, Alenquer 18 – Metz [Can] / Psychic Graveyard [E.U.A.] – LAV – Lisboa
25 – Opeth [Sué] – Coliseu dos Recreios, Lisboa Adiado Ao Vivo, Lisboa
para 26/11/2022, na Sala Tejo 18 – Evanescence [E.U.A.] – Altice Arena, Lisboa
30 – All Against / Infraktor – Metalpoint, Porto 23 – Manticora [Din] – Hard Club, Porto
31 – Gwydion / Enchantya – RCA Club, Lisboa 29 – Devin Townsend [Can] / … - Cineteatro Capitólio, Lisboa
29 – Dream Theater [E.U.A.] – Campo Pequeno, Lisboa
NOVEMBRO 29 – Russian Circles [E.U.A.] – Hard Club, Porto
03 – Brainstorm [Ale] / Sinheresy [Ita] / Glasya – RCA 30 – Russian Circles [E.U.A.] – LAV – Lisboa Ao Vivo, Lisboa
Club, Lisboa 21.11.27
04 – Igorrr [Fra] / Otto Von Schirach [E.U.A.] / Drumcorps TRIVIUM
[E.U.A.] – LAV – Lisboa Ao Vivo, Lisboa
05 – Igorrr [Fra] / Otto Von Schirach [E.U.A.] / Drumcorps

PRÓXIMA LOUD! #248


[E.U.A.] – Hard Club, Porto

ABORTED EMMA RUTH RUNDLE


ENSLAVED EPICA
CYNIC HYPOCRISY
58 LOUD!
IN THE COURT OF THE DRAGON

NOVO ÁLBUM DISPONÍVEL A 8 DE OUTUBRO

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