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ORDEM DOS ENGENHEIROS DA REGIÃO CENTRO

CURSO DE ÉTICA E DEONTOLOGIA


PROFISSIONAL

(DEONTOLOGIA)

COIMBRA MAIO DE 2021


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I
USANDO DE GRANDE GENERALIDADE, PODER-SE-Á DIZER QUE A
DEONTOLOGIA, É A CIÊNCIA DOS DEVERES… DO ESTUDO DOS DEVERES
ESPECIAIS DE UMA SITUAÇÃO… DAS PARTICULARIDADES DOS DEVERES
DAS DIVERSAS PROFISSÕES.

SE ATENTARMOS, NO BREVE CAIPTULO IV DO LIVRO “LÓGICA” DE


IMMANUEL KANT (edições Texto e Grafia (1ª edição de Maio de 2009), QUE SE
REFERE COMO BREVE ESBOÇO DE UMA HISTÓRIA DA FILOSOFIA,
ENCONTRAREMOS COM NITIDEZ A SITUAÇÃO DE UMA FRONTEIRA QUE
DETERMINA O INICIO DA FILOSOFIA .

O AUTOR, DIZ QUE A FILOSOFIA SE INICIOU QUANDO O USO COMUM


DO CONHECIMENTO PASSOU A SER CONHECIMENTO ESPECULATIVO, OU,
TAMBÉM DIZENDO-SE, QUANDO O CONHECIMENTO RACIONAL COMUM
PASSOU A SER FEITO OU TRATADO DE MODO ESPECULATIVO.

II
DIR-SE-IA ENTÃO QUE :

O CONHECIMENTO DO GERAL EM CONCRETO É CONHECIMENTO


COMUM.
E QUE :
O CONHECIMENTO DO GERAL EM ABSTRATO É CONHECIMENTO
ESPECULATIVO.

O CONHECIMENTO FILOSOFICO É CONHECIMENTO ESPECULATIVO


DA “RAZÃO” E COMEÇA PORTANTO ONDE O USO COMUM DO
ENTENDIMENTO INICIA AS SUAS INQUIRIÇÕES NO CONHECIMENTO DO
GERAL EM ABSTRATO.
3

III
ACEITE ESTA DETERMINAÇÃO DA DIFERENÇA ENTRE O USO COMUM
E O ESPECULATIVO DA RAZÃO, É POSSIVEL DATAR E AJUIZAR DO
COMEÇO DA FILOSOFIA.

O POVO QUE PRIMEIRO CULTIVOU OS CONHECIMENTOS RACIONAIS


(NÃO GUIADOS POR IMAGENS) E PORTANTO EM ABSTRATO (AO
CONTRARIO DE OUTROS POVOS QUE SE ESFORÇARAM POR CULTIVAR
TAIS CONHECIMENTOS RACIONAIS ATRAVÉS DE IMAGENS NO
CONCRETO), FORAM OS GREGOS.

CONTINUA A MESMA FONTE AQUI SEGUIDA (referida em I) A REFERIR


QUE NÃO CONSIDERA PARA ESTE EFEITO POVOS COMO OS CHINESES E
PERSAS, PORQUE EMBORA SE OCUPASSEM JÁ DE CONHECIMENTOS COMO
DEUS E A IMORTALIDADE DA ALMA, NÃO ESTABELECERAM NENHUMA
SEPARAÇÃO ENTRE O USO DA RAZÃO EM CONCRETO OU EM ABSTRATO,
O QUE VEIO A ACONTECER COM OS GREGOS.
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IV
ATRIBUI-SE COMO PRIMEIRO (ou um dos primeiros de que disso há
conhecimento), QUE APLICOU O USO DA RAZÃO ESPECULATIVA, E DE QUE
TERÃO DERIVADO OS PRIMEIROS PASSOS DO ENTENDIMENTO HUMANO
PARA O CULTIVO DA CIÊNCIA, A “TALES” (de Mileto, 624 / 545 a.c.).
TERÁ FUNDADO A “SEITA” (Escola Jónica).

REFIRA-SE TAMBÉM QUE FOI NESTA ÉPOCA DA ESCOLA JÓNICA QUE


APARECEU UM HOMEM DE RARA INTELIGÊNCIA E GÉNIO, QUE FOI
“PITÁGORAS” de Samos (570 / 490 a.c.), O QUAL TAMBÉM CRIOU UMA
ESCOLA E NELA DIVIDIA OS FILOSOFOS EM DOIS GRUPOS, CONFORME AS
DOUTRINAS QUE SE ENSINAVAM :
- AS QUE PODIAM SER ENSINADAS A TODA A GENTE (EXOTÉRICAS)
- AS QUE SÓ PODIAM SER ENSINADAS A ALGUMAS PESSOAS (ESOTÉRICAS)
ISTO PORQUE ELE ACHAVA QUE NEM TODA A GENTE TINHA
CAPACIDADE PARA COMPREENDER DETERMINADAS REGRAS E
DOURTINAS E CONSEQUENTEMENTE POR ISSO FARIAM MAU USO DESSES
CONHECIMENTOS (FÍSICA E TEOLOGIA), OU SEJA A DOUTRINA DO
VISIVEL E DO INVISIVEL.

Poder-se-á dizer que a Engenharia, começou desde


que começou a aplicação do Engenho. Mas isso não define, ou
não situa o facto de forma temporalmente suficiente. Para o
fazer, torna-se necessário identificar alguém que
reconhecidamente o tenha feito, de forma séria, de forma
pensada, meditada, porventura demonstrada ou pelo menos
conjeturada, em consequências físicas de utilidade humana,
diretamente ou indiretamente.
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A tentação seria desde logo, situar a origem da engenharia nos


primórdios da civilização egípcia, ou da civilização Caldeia,
cerca de 5.000 anos a.c., ou ainda mais recuadamente, cerca de
10.000 anos, no tempo da idade da pedra (Paleolítico) com
realizações de dolmens por exemplo, ou já no Neolítico.
Mas em tudo isto imperava muito mais a descoberta de uma
maneira de fazer, e muito menos a descoberta de que é
possível fazer, antes de fazer.
Por exemplo, todos conhecem o teorema de Pitágoras, que se
estima ter vivido entre os anos 570 e 490 a.c.. Contudo, os
egípcios já conheciam aquela regra. Só não sabiam porque é
que era assim e por isso não sabiam se era sempre assim. Foi
Pitágoras quem o demonstrou.
A Filosofia na antiguidade clássica, nomeadamente na Grécia,
era uma disciplina que envolvia conhecimentos que hoje fazem
parte de outras áreas colocadas marginalmente à Filosofia. Os
Filósofos gregos eram matemáticos, astrónomos, juristas,
estadistas e …. Engenheiros.
Nessa grande época, viveu um filósofo, de que conhecemos o
pensamento através do que escreveu sobre ele, Aristóteles
(384 a 322 a.c.).
Chamava-se TALES de MILETO (624 a 545 a.c.)
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Como diz Lesley Levene no seu livro Filosofia para pessoas com
pressa :
“ Estes Filósofos iniciais, tentaram elaborar relatos sistemáticos
do mundo visível em termos descritivos e analíticos objectivos.
Para Tales de Mileto, a solução era a água, tendo observado a
maneira como ela podia assumir diferentes formas, (vapor,
liquido, gelo), e daí entendia que a água tinha de ser a base do
universo. Também pensava que a terra era plana e flutuava
sobre a água e que os terramotos eram provocados quando a
porção de terra chocava ou era atingida por ondas gigantes” .
Platão (427 a 347 a.c.), professor de Aristóteles, referiu-se a
Tales de Mileto, como um dos Sete Homens Sábios:
TALES de MILETO
SOLON de ATENAS
QUILON de ESPARTA
PITACO de MITILENE
BIAS de PRIENE
CLEÓBULO de LINDO
PERIANDRO de CORINTO
Eu diria que Tales de Mileto terá sido um dos primeiros
engenheiros, dignos desse nome.

ESTATUTO DA ORDEM DOS ENGENHEIROS

DEVERES DECORRENTES DO EXERCÍCIO DA


ATIVIDADE PROFSSIONAL
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Artigo 6º

Inscrição

Sem prejuízo do disposto no artigo 9º, a atribuição do


título, o seu uso e o exercício da profissão de engenheiro
dependem de inscrição como membro efectivo da Ordem,
seja de forma liberal ou por conta de outrem, e
independentemente do sector público, privado, cooperativo
ou social em que a actividade seja exercida.

Quando saio da Escola, sou licenciado em engenharia.


Quando estou inscrito na Ordem, sou engenheiro e posso
exercer essa profissão.

O ensino está abrangido? Está porque o engenheiro deve


colaborar com escolas se for solicitado.

O trabalho de investigação pessoal está abrangido? Não se for


para mim só. Mas se o quiser expor para uso profissional e com esse fim,
então está.

Lembra-se adicionalmente que o exercício da profissão sem


inscrição na Ordem, pode até ser vista como incumprimento à luz do
Código Penal, como diz no Art. 358º daquele Código (na Lei 59/2007 de
4/9), referindo poder ser usurpação de funções, quem “exercer profissão
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ou praticar acto próprio de uma profissão para a qual a lei exige título ou
preenchimento de certas condições, arrogando-se expressa ou
tacitamente, possui-lo ou preenche-las, quando o não possui ou não as
preenche”.
Isto aplica-se mais às pessoas que são detentoras de alguns
conhecimentos de engenharia (por exemplo pessoas que não acabaram o
curso) ou que têm graus de engenharia de não licenciatura e agem ou
procedem em decisões e actuações, como se fossem licenciados. A
maior parte dos casos é com pessoas da área, mas também pode
acontecer com pessoas até licenciadas, mas de outras áreas, como por
exemplo advogados (caso frequente de pensarem que o PDM é só o
regulamento sem verem as legendas dos cartogramas).
Na maior parte dos casos, as pessoas indiferenciadas, emitem
opiniões com profunda ignorância, mas sem qualquer intenção da prática
de um acto de engenharia. Uma opinião sem consequências e que a
ninguém obriga ou influi, incluindo o próprio.
Coisa diferente é isso acontecer em texto publicado
intensionalmente, com objectivo pré determinado, e que se destina
precisamente a formar a opinião pública. É o caso da Estrada Real.
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livro muito interessante, de Tiago Passão Salgueiro, Edição dos


Municípios de Vila Viçosa e Borba.
Como o caso da citação das Infraestruturas de Portugal e do
Tribunal de contas desta imagem extraída das noticias da Internet.
Há aqui um pretenso rigor técnico ou conhecimento técnico de
intervenção especializada, chegando quase a ser conclusivo. Eu diria,
que a posição desta pessoa no caso do livro, está no limite do pecado
técnico, não o atingindo porque não se deu conta disso. Já na imagem da
página seguinte, acima referida, se exemplifica a consequência de uma
decisão, ter sido arrastada para outro fim diverso dela, puramente
técnico, que não é da especialidade do Tribunal de Contas, neste caso.
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Artigo 7º

Título de engenheiro e exercício da profissão


1 – O engenheiro ocupa-se da aplicação das ciências e
técnicas respeitantes às diferentes especialidades de
engenharia nas atividades de investigação, conceção, estudo,
projecto, fabrico, construção, produção, avaliação,
fiscalização e controlo de qualidade e segurança, peritagem e
auditoria de engenharia, incluindo a coordenação e gestão
dessas actividades e outras com elas relacionadas.
Clarifique-se desde já a diferença entre ciências e técnicas.
Se estou a estudar ou conceber um modelo de cálculo de um sistema
qualquer, com intenções de aplicação prática, mas ainda no âmbito da
validação teórica, eu estou na área das ciências.
Se eu estou a estudar a aplicação prática de um sistema através da feitura
de uma tabela ou de uma rotina de aplicação, ou de outra forma de
algoritmo, eu estou na área técnica.
Também a diferença, para que se não confunda
coordenação (que é mais, um arranjo, uma composição, um
organigrama), com gestão (que se prende mais com administração).
Na engenharia, se estou a organizar equipas de trabalho por
exemplo, estou a coordenar, mas se estou a administrar serviços no seu
funcionamento, construindo um sistema de fluxos de serviços, um
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sistema de encaminhamento da informação e controlo geral, eu estou a


fazer gestão.
Naturalmente que aqui se encontra uma imensidade de
actividades possíveis, algumas reguladas por legislação complementar,
como é o caso do projecto, mas outras que não, como é o caso da
investigação. Inclusivamente o engenheiro pode estar envolvido
simultaneamente, em várias destas áreas de actividade, o que acontece
com frequência. Por exemplo, na realização de um projecto, o
engenheiro pode precisar de estudar e investigar técnicas de execução,
métodos de cálculo, etc, mantendo-se dentro da sua área de profissão.
Há no entanto, situações que obrigam o engenheiro a envolver-se em
áreas do conhecimento , que já não são exactamente engenharia, como é
o caso por exemplo, de terem de usar os Códigos de Contratos Públicos
em empreitadas ou fornecimentos, o Regime Jurídico da Edificação e
Urbanização em licenciamentos, o Código do Procedimento
Admnistrativo, etc., ou por exemplo modelos de avaliação de saúde
financeira de empresas ou rendibilidade de investimentos dentro das
situações financeiras ou económicas, que se colocam. Nestas situações,
o engenheiro precisa de ter conhecimentos adicionais que provavelmente
a escola não lhe deu ou deu insuficientemente. Deve pois socorrer-se dos
profissionais dassas áreas e ou estudar tais assuntos.
Quando se diz socorre-se de outros profissionais dessas
áreas, ou estudar tais assuntos, gera-se a possibilidade de o próprio
engenheiro estar a pecar pelo defeito de se intrometer em áreas de que
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não tem competência. No entanto agora não por não ser engenheiro, mas
por não o ser dessa área em licenciamento, como por exemplo o direito
ou a economia, o que acontece com alguma frequência. No entanto isto
pode ser justificado de modo a não ser visto como uma arrogância de
conhecimentos. Neste tipo de situação, não foi o engenheiro que a
procurou, mas viu-se obrigado a considera-la no seu trabalho (como por
exemplo a análise financeira de um investimento económico, direitos
objectivos ou difusos de um litígio entre empreiteiro e dono de obra, etc).
Muitas vezes a consulta de lei ou de indicadores económicos e ou
financeiros, resolve o assunto se não é preciso desenvolve-los ou
explora-los.
O engenheiro deve contudo sempre justificar, sempre
ponderar o contra argumento, citando a lei ou os conceitos que usa,
dizendo que dessa análise resulta para ele determinada conclusão. Se for
caso disso remeter para consideração superior. Citar autores e
jurisprudência se for o caso. Finalmente demonstrar que teve de abordar
a questão, porque não podia resolver o seu problema sem isso.
3 – O exercício da actividade profissional por conta de
outrem não afecta a autonomia técnica do profissional nem
dispensa o cumprimento pelo menos dos deveres
deontológicos.
O legislador ao criar este número dedicado a esta situação,
apercebe-se naturalmente da dificuldade deste tipo de situação para o
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engenheiro. O que aqui é dito, não deve ser entendido como uma
obrigação adicional do engenheiro, e lembrança da punição que daí pode
advir, mas um instrumento de suporte e defesa do engenheiro contra
situações de dificuldade que o legislador pensa podem vir a acontecer.
Diria que esta questão da autonomia técnica do engenheiro,
se pode colocar em dois planos.
Um relativamente ao interior da sua actividade, e outro
relativamente ao exterior dela.
No primeiro, trata-se de o engenheiro poder ou não ter de
cumprir regulamentos e normas.
Claro que há casos e casos, mas muitas vezes os
regulamentos não configuram obrigatoriamente serem forçosamente
observados. Na verdade o regulamento existe para garantir eu o
engenheiro se mantem dentro dele, estando por isso dispensado de
muitas verificações de perigos e situações, que ficam acautelados. A
autonomia técnica não fica pois molestada por se cumprir um
regulamento, porque se o não cumprir, fica obrigado a justificar e provar
tudo o que decide e faz.
No segundo, trata-se de ter de obedecer a ordens exteriores
que contrariam o procedimento que teoricamente o engenheiro entende
dever seguir e colide com a ordem ou instrução que lhe é dada. Para se
defender, pode e deve recorrer a posições e atitudes que colocaríamos
em quatro graus de “força” opositiva:
1 – apresentar contra argumentação identificando consequências.
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2 – exigir a ordem ou instrução por escrito e assinada.


Muitas vezes resulta e a exigência desaparece.
3 – socorrer-se de provas testemunhais se for o caso.
4 – em extremo … tem mesmo de recusar, pesem embora as
consequências.

4 – O uso ilegal da título de engenheiro ou o exercício da res-


pectiva profissão sem o cumprimento das requisitos de
acesso à profissão em território nacional são punidos nos
termos da lei penal.
Hoje em dia, este assunto está melhor regulado em termos
de quantidade de legislação saída, ainda que mal, em termos de rigor e
de garantias, precisamente para a sociedade e humanidade.
Mas não é este aspecto que importa aqui, mas sim o da
ingerência de outras pessoas, geralmente dotadas de um conhecimento
prático de anos de experiência, que quando bem aplicado e bem exercido,
é útil para o próprio engenheiro, porventura muito recentemente
integrado na profissão. A intervenção do engenheiro mais velho pode ser
aqui valiosíssima.
5 – Os trabalhadores dos serviços e organismos da
administração direta e indireta do Estado, das regiões
autónomas, das autarquias locais e demais pessoas colectivas
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públicas, ……………….., devem estar validamente inscritos


como membros da Ordem.
Claramente, parte da administração pública não está a
cumprir esta regra, nomeadamente algumas Câmaras Municipais. Poder-
se-á vir a questionar a validade de informações e trabalhos dos técnicos
envolvidos, que têm consequências diretas para os cidadãos.

Artigo 137º
Deveres dos membros efectivos para com a ordem
1 – Constituem deveres dos membros efectivos para com a
ordem:
a) Cumprir as obrigações do presente Estatuto, do código
deontológico e dos regulamentos da ordem.
b) Participar na prossecução dos objectivos da Ordem.
c) desempenhar as funções para as quais tenham sido eleitos ou
escolhidos.
d) Prestar a comissões e grupos de trabalho a colaboração
especializada que lhes for solicitada.
e) Contribuir para a boa reputação da Ordem e procurar
alargar o seu âmbito de influência.
f) Satisfazer pontualmente o pagamento das cotas e de outros encargos
estabelecidos pela Ordem.
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g) Responder a inquéritos dos Conselhos disciplinares.


Quando se fala em deveres, é sempre bom falar também de
direitos ou ainda de outra coisa que são as vantagens, que podem não ser
direitos.
- As formações que a Ordem promove não são para desprezar.
- A Ordem promove seguros aos seus engenheiros sobre o trabalho que
desenvolvem.
- A Ordem pode defender o engenheiro em juízo se ele precisar de apoio.
- Os cargos que nela se exerçam contribuem para o prestígio do
engenheiro e seu curriculum.
- São divulgadas novidades técnicas com frequência.
- A Ordem atribui graus.

Artigo 141º
Deveres do Engenheiro para com a comunidade
1 – É dever fundamental do engenheiro possuir uma boa
preparação, do modo a desempenhar com competência as
suas funções e contribuir para o progresso da engenharia e
da sua melhor aplicação ao serviço da humanidade.
Muita coisa está aqui envolvida. Fundamentalmente
implica uma coisa de princípio, e origem, de onde tudo deriva ou evolui.
Ser possuidor de uma boa preparação, não é um direito mas
antes um dever. O engenheiro tem de se preocupar com o seu
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desenvolvimento técnico e científico (atenção que não são sinónimos).


Se eu estudo um modelo de cálculo na sua base teórica, estou na área
científica, mas se estou a estudar a mera aplicação de um aparelho ou de
uma tabela, estou na área técnica, embora naturalmente em certos casos
possa haver dificuldade em estabelecer a fronteira entre uma coisa e
outra.
Se existem falhas ou insuficiências nessa preparação, não
se culpe a Escola que me formou. Eu tenho de possuir tal preparação,
ainda que a escola não ma tenha dado.
Desempenhar com competência, é desempenhar com o
conhecimento adequado do que se está a fazer, produzindo bons
resultados.
Contribuir para o progresso da engenharia, é investigar,
estudar, partilhar. Estes caminhos, podem consubstanciar-se em diversas
actividades, como seja o caso de publicar, fazer palestras, etc. Nada de
esconder o que eu sei, para me fazer indispensável ou melhor do que os
outros (partilhar o conhecimento, não significa colocar os outros ao
nosso nível, porque quando os outros nos entenderem, já nós estaremos
um passo frente).
Devo então fazer isto na minha área de trabalho, no País,
no Mundo? Quando se diz Humanidade, pretende-se que não exista
nenhum tipo de fronteira, seja física de território, seja de aplicação de
conhecimento (Ver figura Final extraída do livro “Introdução ao
Urbanismo”, de H. Mausbach). Então, outros irão usufruir do que eu
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descobri, e eu não tenho vantagem material alguma? Tenho sempre, quer


tenha sido remunerado quer não. Se eu não divulgar o que descobri,
outros o farão mais tarde e eu perdi a oportunidade de mostrar que tinha
descoberto aquilo já antes.
Há perigo de os outros ficarem a saber tanto quanto eu sei?
Não, porque quem está a investigar sou eu. Os outros só sabem receber,
enquanto que eu sei produzir e descobrir. Assim, a diferença entre mim e
os outros mantem-se. Se disser o que sei, estou a fazer propaganda lícita
a mim próprio.
2 – O engenheiro deve defender o ambiente e os recursos
naturais.
Naturalmente que há áreas de engenharia, mais
particularmente vocacionadas para esses objectivos, como é o caso da
Engenharia do Ambiente. Mas não só esta importa para este tema,
porque se aplica a quase todas as escolhas de soluções que o engenheiro
tem à sua disposição, seja pela escolha dos materiais, seja pelos
processos que preconiza.
São os casos conhecidos de utilização de materiais em
reciclagem como por exemplo a escarificação de velhos agregados
betuminosos em estradas com aplicação de novos betões betuminosos
com esses agregados como inertes, hoje já tão frequentemente usados.
São também os casos de escolha de traçados de estradas concordantes
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com a orientação solar em vales, e nas áreas industriais reduzir ruídos,


resíduos, energias gastas, etc.
Este dever ou mesmo objectivo, encontra por via de regra a
dificuldade da confrontação com o custo adicional de uma solução que
seja defensória do ambiente e recursos naturais. Quando estas questões
estão reguladas por decretos ou portarias, o engenheiro tem a sua tarefa
mais facilitada porque se transforma num mero aplicador de uma
qualquer regra. Mas se tem de estabelecer uma solução entre várias
tecnicamente possíveis, enfrenta então um problema que pode
representar um grande dificuldade. O engenheiro socorre-se então
geralmente de análises de custo benefício. A complexidade deste
caminho é também geralmente não pequena.
Muitas vezes o problema inicial, transforma-se em dois sub
problemas. Um é a responsabilidade da escolha e o outro é a boa ou má
escolha. Não é justo que um Estatuto (neste caso) ou outro qualquer
documento regulador, venha colocar sobre o (engenheiro neste caso),
uma responsabilidade sobre o cumprimento de tais objectivos, quando
eles não são de fácil solução. Lembre-se no entanto que o legislador
também pensou nisso e por isso diz que deve defender e não diz que tem
de conseguir uma boa solução melhor ou menos boa relativamente a um
conjunto de interesses.
A prova da procura da boa solução, é muitas vezes
justificação bastante, assim tal prova exista (utilidade da memória
descritiva e justificativa), que deveria ser a principal peça do projecto,
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ou trabalho e hoje está votada a uma mera formalidade.


3 – O engenheiro deve garantir a segurança do pessoal
executante, dos utentes e do público em geral.
Aqui o legislador mostra-se como muito mais exigência,
pois que fala em garantir e não em promover ou incentivar. Para se
garantir alguma coisa, é necessário ter o poder de impor as medidas e de
ser obedecido. Isto não acontece sempre com esta clareza. Vulgarmente
estas coisas são reguladas por PSS (Plano de Segurança e Saúde) nas
obras de engenharia. No entanto este número do artigo deve ser lido com
uma abrangência maior do que a obra de execução. Também no
momento do projecto, esta questão da segurança se coloca na escolha
das soluções que adoptar. Aqui, já o poder do engenheiro é maior.
É sempre muito difícil antecipar situações de descuido,
desobediência, irresponsabilidade de utilizadores, ou apenas pessoas
existentes.
Onde o engenheiro deve concentrar a sua atenção e cuidado,
é na previsão dos possíveis perigos e medidas cautelares, seja em
projecto, seja em planos de segurança, ou ainda em simples instruções
que emite. (simples exemplos).
Seja como for, convém que o engenheiro tenha presente
uma verdade constante e que é, a segurança em todos os casos, começa
pelo próprio e jamais teremos um sistema eficaz e fiável se esta regra
não for seguida.
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Pela sua importância, lembra-se aqui também, que em caso


de se infringirem regras legais, regulamentares ou técnicas que devem
ser observadas no planeamento, direcção ou execução de construção,
demolição ou instalação, ou na sua modificação ou conservação, se está
no âmbito da aplicação do Artigo 277º do Código Penal, que pode levar
mesmo a prisão. (ler)
4 – O engenheiro deve opor-se à utilização fraudulenta, ou
contrária ao bem comum, do seu trabalho.
Aqui, trabalho, não é apenas um projecto ou um relatório.
É também ou são também, orientações técnicas, instruções, etc.
São casos que cabem no âmbito deste número, situações
em que um engenheiro realizou um determinado trabalho, que depois é
utilizado por outro ou outros, sem adequação e ou sem consentimento e
justificação do próprio, também sob o ponto de vista da responsabilidade.
Mesmo casos em que há conhecimento do próprio, não
admissíveis deontologicamente, salvaguardando as situações de
coautoria naturalmente.
É curioso que aqui o legislador parece transferir para o
engenheiro uma responsabilidade menor, ou um menor dever de
intervenção, porque não refere obrigação de denuncia por exemplo.
Não se pense que está vedado ao engenheiro a utilização de
conhecimentos, resultados, aplicações, etc, de trabalho produzido por
outro engenheiro, mas tem de citar a origem de tais trabalhos e porven-
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tura direitos dos seus legítimos autores.


5 – O engenheiro deve procurar as melhores soluções
técnicas, ponderando a economia e a qualidade da produção
ou das obras que projectar, dirigir ou organizar.
Aqui está um dever exposto com tanta generalidade, que
fica demasiado fluida a sua verificação. Parece contudo poder extrair-se
que o que é fundamental é a melhor solução técnica. Como se define a
melhor solução técnica, que deve ser eleita pela ponderação da economia
e qualidade ? Deve ficar também na competência do engenheiro ? Razão
mais para este se defender na memória descritiva e justificativa. Aqui
deve entende-se por “defender-se” o mesmo que “justificar-se”.
Aqui também deve lembrar-se que na escolha da solução
entra por direito próprio, o dono da obra que pode ter interesses, que
desde que compatíveis com as regras de bom trabalho do engenheiro,
devem ser seguidas por ser o dono da obra.
Muitas vezes aparecem conflitos de interesses, entre o
técnico que faz o projecto e dirige a obra, e o seu dono. Quando um
projecto ganha força legal (por estar aprovado ou licenciado), ou na
execução de uma obra com projecto aprovado, o técnico tem
naturalmente direitos de querer ver o seu projecto cumprido, sobre os
direitos do dono da obra (ou dos direitos que ele julga ter).
Raramente esta questão é acautelada no início, porque
normalmente o dono da obra não sabe que dispõe de uma fase do projeto
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onde pode acautelar tais direitos e que se chama Programa Preliminar.


Veja-se a portaria nº 701-H/2008 de 29/7. Esta fase é realizada pelo
dono da obra e vincula tudo daí para a frente.
6 – O engenheiro deve combater e denunciar práticas de
descriminação social e trabalho infantil, assumindo uma
atitude de responsabilidade social.
É curioso que aqui não se diz, nas obras que dirige ou
organiza ou projecta. Entende-se aqui um dever que vai para além do
âmbito do ponto anterior e por isso implica também com a sua própria
vida, pelo menos a profissional. Mas é mais do que isso. O legislador
não o diz nem pode fazê-lo, mas desde sempre o engenheiro foi uma
espécie de pilar social na formação das sociedades civis. É um pouco
por isso que nós engenheiros somos civis, porque a engenharia começou
por ser militar. As sociedades rurais menos desenvolvidas, procuravam o
conselho de um orientador de decisões. Primeiro foram os religiosos que
exerceram por acumulação tal prática, mas vem em seguida o que fazia
as obras que diretamente diziam e faziam sentir caro às populações. A
estrada, a água, a luz. E o Engenheiro é o eleito. Sabe ler. Sabe
interpretar. Sabe explicar. É abrangente. É um privilégio ser engenheiro.
É aqui oportuno fazer uma referência a uma prática
irregular, que embora bem intencionada, conduz a procedimentos ilegais.
É o caso (sobretudo em Municipios em que a proximidade
com as populações é maior), de se privilegiar em decisões, a aplicação
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prometida por entidades adjudicatárias de utilização preferencial de mão


de obra local. Aqui há descriminação social.
Artigo 142º
Deveres do engenheiro para com a entidade
empregadora e para com o cliente
1 – O engenheiro deve contribuir para a realização dos
objectivos económico-sociais das organizações em que se
integre, promovendo o aumento da produtividade, a
melhoria da qualidade dos produtos e das condições de
trabalho, com o justo tratamento das pessoas.
As organizações de que aqui se fala, podem ser empresas,
ou outro tipo de entidades, como o Estado, Autarquias, Fundações, etc..
Então e por exemplo, o engenheiro que só faz actividade liberal. Não se
integra em nenhuma organização? A meu ver sim. A simples micro
sociedade constituída pelo seu cliente, mesmo como pessoa singular, ele
próprio, e as pessoas do seu mini sistema produtivo, são aqui uma
organização e nela se exerce também este dever.
Não se pense ser menos importante por ser pequena. Veja-
se o inquérito da grande empresa de informação internacional e a sua
escala de distribuição de dimensões.
A questão da produtividade merece alguma reflexão,
porque sugere um princípio geral desde sempre considerado como regra
segura, de que é bom … é sempre bom o aumento da produtividade. Ora
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isso não é tão directo como pode parecer. Atente-se nestes dois pontos
de vista:
- Um é o aumento da produtividade de um sistema global.
- Outro é o aumento da produtividade de cada parcela do
sistema global.
O aumento da produtividade do sistema global, leva
também no seu aspecto geral a um aumento de gasto e aplicação de
recursos, os quais na maior parte dos casos são limitados e assim
caminhamos cada vez mais depressa para o perigo.
O aumento da produtividade de parcelas do sistema, só é
bom se for integrado, ou seja, em harmonia com capacidades e
características comuns das parcelas do sistema global, imediatamente a
montante e a jusante daquela parcela, na cadeia do sistema.
Ora o engenheiro que tem formação superior, tem de estar
atento a isso, mesmo que o mercado do momento lhe peça essa
aceleração.
Não vale dizer, eu só trato desta parte, e o resto não é
comigo. É consigo é … e é uma das razões pela qual se pode dizer que o
Engenheiro tem a profissão mais importante do mundo. Nem a medicina
o é mais, porque a medicina só se aplica quando há actividade humana e
quando há actividade humana, já existiu engenharia.
Sobre a qualidade, aparentemente todos aplaudiríamos este
dever, mas o que é a qualidade. Não deve confundir-se qualidade com
evolução e novidade. Muitas vezes se encontram novos produtos que são
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novidade, representam evolução, mas não acréscimo de qualidade.


Exemplos disso são conhecidos.
Sobre as condições de trabalho, o engenheiro pode de facto
ter um papel importante porque nessa área ele tem geralmente algum
poder.
Nas condições de trabalho, têm geralmente uma grande importância os
PSS, e as instalações de estaleiros em obra, embora a outros níveis tal
seja também importante, e tem relação direta com o justo tratamento das
pessoas.
A nosso ver a palavra justo, no tratamento das pessoas,
deveria ser substituída por adequado.
2 – O engenheiro deve prestar os seus serviços com
diligência e pontualidade, de modo a não prejudicar o cliente
nem terceiros, nunca abandonando, sem justificação, os
trabalhos que lhe foram confiados ou os cargos que
desempenhar.
Trata-se de um dever nem sempre fácil de cumprir,
principalmente por razões concorrenciais, de prazos geralmente
conflituantes com a pontualidade, que se prende com prazos que o
engenheiro se obrigou a cumprir. Se ele usa prazos confortáveis nas suas
propostas em procedimentos concursais, pode ficar pior colocado
concorrencialmente e perde o trabalho. Nos casos em que o prazo é
factor de classificação, esta reflete o risco que o concorrente pode ou não
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gerir. O Estatuto da Ordem dos Engenheiros não aborda esse aspecto.


Aborda apenas a responsabilidade do técnico. Deve o técnico ao menos,
resguardar-se com cuidados de condições.
Sobre o abandono das funções, lembra-se aqui o disposto
na Lei 31/2009 de 3/7 (versão actual Lei nº 25/2018 de 14/6) no seu
artigo 12º:
Artigo 12.º
Deveres dos autores de projectos1 — Os autores de projecto abrangidos pela
presente lei devem cumprir, em toda a sua actuação, no exercício da sua profissão e
com autonomia técnica, as normas legais e regulamentares em vigor que lhes sejam
aplicáveis, bem como os deveres, principais ou acessórios, espectativas criadas, que
decorram das obrigações assumidas por contrato, de natureza pública ou privada, e das
normas de natureza deontológica, que estejam obrigados a observar em virtude do
disposto nos respectivos estatutos pro-fissionais.2 — Sem prejuízo do disposto no
número anterior e de outros deveres consagrados na presente lei, os autores de
projecto estão, na sua actuação, especialmente obrigados a:a) Subscrever os projectos
que tenham elaborado, in-dicando o número da inscrição válida em organismo ou
associação profissional, quando aplicável;

3 – O engenheiro não deve divulgar nem utilizar segredos


profissionais ou informações, em especial as científicas e
técnicas obtidas confidencialmente no exercício das suas
funções, salvo se, em consciência, considerar poderem estar
em sério risco exigências de bem comum.
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Convém lembrar a diferença entre informação


científica e técnica.
O conhecimento de uma tabela ou de um algorítmo é técnico,
mas o conhecimento de um modelo de cálculo já é científico.
4 – O engenheiro só deve pagar-se pelos serviços que tenha
efectivamente prestado e tendo em atenção o seu justo valor.
O serviço efectivamente prestado, não é sempre
perfeitamente determinável. Pode não ter chegado a ser um projecto ou
um parecer, etc, porque não passou de umas reuniões de aconselhamento
e análise. Qual é o justo valor? Um preço de hora de conversação? Nessa
análise foi dada uma ideia que depois veio a dar grandes proveitos ?
Também o seu justo valor aqui se define mal, porque não se sabe se é
em valor absoluto ou em proporção dos ganhos que gera. Na medida do
possível, o engenheiro deve tentar acertar tal entendimento prévio com o
seu cliente.
5 – O engenheiro deve recusar a sua colaboração em
trabalhos cujo pagamento esteja subordinado à confirmação
de uma conclusão predeterminada, embora esta
circunstância possa influir na fixação da remuneração.
Esta questão coloca-se muitas vezes por exemplo em
avaliações, sejam de que natureza forem, em que muitas vezes se geram
interesses de valorizar ou desvalorizar um bem, por razões fiscais ou de
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partihas ou outro. E no entanto esse trabalho tem de ser feito. É


deontologicamente contrario à consciência do engenheiro fazê-lo? Não.
O conhecimento desse interesse, existe quase sempre e é bom que exista
para se conhecerem as dificuldades e cuidados a ter. Então o engenheiro
vai aceitar defender uma coisa na qual não acredita? Também não! O
que o engenheiro vai fazer é defender uma coisa (objetivo), que ele
conhece até ao limite do que é justificável. Faz isso para obter o melhor
interesse para ao seu cliente? Sim, mas fá-lo não tanto para satisfazer a
possível ganancia do seu cliente, mas para ter a certeza de que ele não
ficou prejudicado (se for o caso) mais do que devia, ou o contrário, não
irá ficar mais beneficiado do que devia, em prejuízo de alguém que foi
mal defendido. Ora este esforço adicional, pode e deve ser pago, porque
aqui isso se prevê.
Lembra-se a relação com o nº6 do Art. 143º.(objectividade
e isenção)
6 – O engenheiro deve recusar compensações de mais de um
interessado no seu trabalho, quando possa haver conflitos de
interesses ou não haja o consentimento de qualquer das
partes.
De facto, os conflitos de interesses, são geralmente
identificáveis no início, mas pode acontecer só virem a ser conhecidos
mais tarde. É tudo irregular? Talvez não. Este artigo prevê o acordo das
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partes se ambas reconhecem ao engenheiro a isenção necessária. Isto


pode ser impedido ou promovido por qualquer das três partes.

Artigo 143º
Deveres do engenheiro no exercício da profissão
1 – O engenheiro na sua atividade associativa profissional,
deve pugnar pelo prestígio da profissão e impor-se pelo valor
da sua colaboração e por uma conduta irrepreensível,
usando sempre de boa fé, lealdade e isenção, quer atuando
individualmente, quer coletivamente.
Quando se diz que o engenheiro se deve impor pelo valor
da sua colaboração, impõe-se como? Poderá ser pela sua capacidade
dialética, pela sua autoridade legal, pelo seu prestígio profissional? Na
verdade, o valor da sua colaboração, pode ser devido a vários destes
aspectos. Em última análise diríamos pela qualidade demonstrada no seu
trabalho. Aqui se pode encontrar uma peça corrente, constante, no seu
trabalho, hoje menos aproveitada pelo engenheiro. Refiro-me à memória
descritiva do projecto, sem prejuízo de qualquer outra parte escrita
explicativa. É o documento que por excelência permite ao engenheiro
justificar-se, defender-se, atacar se for o caso, e que não poucas vezes,
quando inteligentemente usado se converte em verdadeira fonte de
ensinamentos de engenharia. Deve pois combater-se a banalização desse
documento.
33

O artigo fala ainda da situação de atuando colectivamente.


Nestes casos, o engenheiro pode não ter o poder todo e portanto estar
envolvido em soluções ou decisões que não apoia. É aqui que também
deve colocar as suas reservas de consciência, e também de caracter
técnico.
2 – O engenheiro deve opor-se a qualquer concorrência
desleal.
A questão é pacifica quando se trata só dele em relação aos
outros, mas se se trata dos outros em relação a ele, é mais difícil
combatê-la e deve revestir-se de mais cuidados, não vá o feitiço virar-se
contra o feiticeiro, ou assim se tente demonstrar.
Importa que se não confunda concorrência desleal, com
proposta de solução de melhoria sobre a solução anterior, desde que
reconhecida a origem pelo engenheiro original da solução inicial.
Outra forma de concorrência desleal, pode consistir em
uma empresa propagandear possuir técnicos mais de nome do que
efectivos e usar isso em disputa com outros que efectivamente os têm.
3 – O engenheiro deve usar da maior sobriedade nos
anúncios profissionais que fizer ou autorizar.
Aqui o perigo, é mais porque se coloque em anuncio
alguma coisa que indicie competências que se não domina e que às
vezes nem são de engenharia, como por exemplo casos de avaliação de
heranças e partilhas em que isso é referido explicitamente.
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4 – O engenheiro não deve aceitar trabalhos ou exercer


funções que ultrapassem a sua competência ou exijam mais
tempo do que aquele de que disponha.
Deve lembrar-se aqui que competência não é igual a
quantidade de conhecimentos. O engenheiro pode precisar de ir buscar
conhecimentos, ou seja ir estudar o assunto, e está dentro das suas
competências, ou pode por exemplo achar que mesmo estudando, não
consegue dominar a questão e então está fora da competência. Mas
mesmo assim, existe uma situação de fronteira na qual é ainda lícito ao
engenheiro proceder dentro da competência, porque não se progride sem
desafios que se aceitam, naturalmente de forma responsável.

5 – O engenheiro só deve assinar pareceres, projectos ou


outros trabalhos profissionais de que seja autor ou
colaborador.
Claro que aqui fica mal definido onde acaba a função de
colaborador. Só porque pedi uma opinião a alguém, esse alguém já é
colaborador?
6 – O engenheiro deve emitir os seus pareceres profissionais
com objectividade e isenção.
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Os pareceres são por excelência trabalhos onde as


justificações têm um papel fundamental. A objetividade e a isenção, em
nada impedem a opinião que o engenheiro possa ter, e possa não estar
demonstrada. Num caso como esse, também o engenheiro não pode
pretender que a sua opinião seja apresentada como um dogma, mas pode
e deve suportar-se na bibliografia da especialidade, e da exploração em
modelo próprio se for capaz de o fazer.
Lembra-se a relação com o nº 5 do Art. 142º.
7 – O engenheiro deve, no exercício de funções públicas, na
empresa e nos trabalhos ou serviços em que desempenhar a
sua atividade, atuar com a maior correção e de forma a
obstar a discriminações ou desconsiderações.
Portanto nada de injustiças relativas ou ofensas.

8 – O engenheiro deve recusar a sua colaboração em


trabalhos sobre os quais tenha de se pronunciar no exercício
de diferentes funções ou que impliquem situações ambíguas.
Por exemplo pronunciar-se sobre um trabalho que ele
próprio fez.

Artigo 144º
Deveres recíprocos dos engenheiros
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1 – O engenheiro deve avaliar com objetividade o trabalho


dos seus colaboradores, contribuindo para a sua valorização
e promoção profissionais.
Naturalmente que assim é, valendo sem dúvida como
princípio geral. Contudo, o engenheiro na sua atividade profissional
corrente, não é uma escola de engenharia, nem é necessariamente um
professor. Contribui no entanto para a valorização de colaboração com
o acompanhamento e transmissão de conhecimentos e experiência
quando são colaboradores de idêntico nível.
Esta questão da valorização e promoção profissionais, pode vir a colocar-se de
outra forma, que pode conduzir a um outro entendimento menos agradável.
De facto, se eu ensino e transmito conhecimentos e experiência que a mim
levou anos a adquirir, outros a obtêm sem custo, valorizando-se à custa do meu esforço que não
foi retribuído. Surge então um pensamento condenável, mas que parece verdadeiro. Quanto mais
os outros souberem, mais rapidamente me podem fazer concorrência com uma competitividade
que ficará mais forte e eu que fui generoso, passo a enfrentar dificuldades de situações mais
difíceis. Se eu for um mero aplicador de tabelas e de algoritmos que não desenvolvi e nem sei
muito bem de onde vêm, posso de facto correr perigo em termos de concorrência, por outros a
quem dei conhecimentos e experiência. Claro que se todos nós fazemos troca de conhecimentos,
todos nós progredimos, mas se isso pode ser verdade em termos gerais, muitas vezes não é em
casos particulares, onde o meu (nosso) caso, se poderá inscrever. Então não vou cumprir este
dever, porque pode representar um perigo para mim. Está certo este raciocínio ?
Bem, está e não está. Muitos não irão cumprir este dever, mas alguns sim!
Quais ? Serão aqueles que não tiverem medo de transmitir toda essa informação sem reservas. O
que têm essas pessoas que lhes permite não terem medo … ou receio. Não há que ter medo de
partilhar o que eu sei e os outros não sabem. Se os outros que não sabem, passam a saber, então
eu fico automaticamente mais motivado para explorar mais esse assunto e desenvolvê-lo e à
custa disso, vir a saber de novo mais qualquer coisa e graças a isso progredi em mais e estou de
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novo em vantagem sobre os outros. Se eu não dei a novidade mostrando o meu conhecimento,
outro o fará dentro em pouco e então fui eu que perdi a oportunidade de brilhar.

2 – O engenheiro apenas deve reivindicar o direito de autor


quando a originalidade e a importância relativas da sua
contribuição o justifiquem, exercendo esse direito com
respeito pela propriedade intelectual de outrem e com as
limitações impostas pelo bem comum.
Alerta-se assim para a necessidade de citar toda a origem
de informação e conhecimento.
Deve notar-se que aqui, o legislador não refere outro
técnico, mas diz de outrem. Lembra-se assim que pode não se tratar de
um outro engenheiro, mas outro técnico não engenheiro.

3 – O engenheiro deve prestar aos colegas, quando solicitada,


toda a colaboração possível.
Sim, mas com que regras? Isto é também um princípio
geral. Poderia pois dizer-se que o exercício da profissão encerra uma
componente de colaboração sempre que solicitada. Um engenheiro pode
dar colaboração a outro, sem prejuízo de regras de trabalho,
remuneração ou não, e de regulação fiscal e legal sob outros aspectos e
pontos de vista. Porquê?
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Porque o engenheiro existe para servir a comunidade (a


sociedade humana). Nesta área e não necessariamente para servir esta ou
aquela comunidade. Ninguém diz que a colaboração é gratuita.

4 – O engenheiro não deve prejudicar a reputação


profissional ou as atividades profissionais de colegas, nem
deixar que sejam menosprezados os seus trabalhos, devendo,
quando necessário, apreciá-los com elevação e sempre com
salvaguarda da dignidade da classe.
Digamos que aqui deve existir alguma bondade, na
apreciação e constatação de erros profissionais de aspectos dos trabalhos
que tiverem sido executados executado.
Pretende-se proteger a classe e o bom nome de um
engenheiro que por inexperiência não fez bem, mas é provido de
qualidades.

5 – O engenheiro deve recusar substituir outro engenheiro,


só o fazendo quando as razões dessa substituição forem
corretas e dando ao colega a necessária satisfação.
Estão aqui envolvidas razões legais e de deontologia,
também de boas maneiras de elegância pessoal e social.
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