Bem vindo, caro leitor...
f
oi-se um curto período, no esquema das coisas
desde minha última missiva, e ainda assim estou
inspirado para escrever-lhe novamente. Posso
dizer que grandes mudanças na terra dos mortos
me compeliram a compensá-lo pelo que fiz, mas isso é apenas
parte do motivo. Houve mudanças, e tenho esperanças
crescentes de que assim continue, ainda agora são pequenas
comparadas às mudanças que queremos. São pontos de luz na
porta do celeiro. Prometendo que nem tudo precisa ser escuridão.
Na verdade, minha inspiração vem dos efeitos que
minha última carta causaram desse lado da Mortalha. Tal foi a
decepção dos Senhores da Morte quanto a minha quebra do seu
velho Dictum Mortuum – suas leis que proíbem o contato com
aqueles que ainda respiram – que estão loucos para botar suas
mão em mim, e juraram torturar e visitar esse seu valoroso
servo; que não pude resistir em abraçar esse caminho
novamente. Não me sinto mais vivo, ou alegre, nem vitalizado,
Os Mortos
A morte sempre foi o grande mistério da vida. Essa
terra desconhecida de onde nenhum viajante jamais voltou
inspira medo e curiosidade em iguais proporções. Alguns tentam
não pensar no assunto; outros entregam suas vidas para tentar
descobrir o que está além da linha que divide esses mundos.
Sendo assim, será a morte realmente misteriosa?
Claro, em todas as culturas desde o início dos tempos conta-se
histórias de mortos que retornam ao mundo dos vivos. Impelidos
por algo inacabado, por um amor muito forte ou por vingança
contra um algoz. Semelhante a isso, há aqueles que têm ou
fingem ter o dom de ver ou falar com os mortos, através de
sussurros ou de mesas ou alguma forma de comunicação psíquica
nos últimos anos.
Até onde a morte pode ser temerosa? Disso, pouco se
sabe. Com certeza há amplas oportunidades para os vivos
perguntarem aos mortos e determinarem sua condição, ou a
natureza do mundo que habitam. E ainda assim, as perguntas
que têm sido feitas são as que menos tem importância – a
localização de uma vassoura perdida ou onde um espírito
perdido acha o outro mundo ao desejá-lo.
A morte assusta as pessoas. O que
vem depois da morte as assusta mais ainda.
Elas não fazem perguntas científicas,
porque têm medo das respostas. Como George
disse, é mais fácil pensar assim. Além
disso, a Hierarquia tem sua lei chamada o
Dictum Mortuum para deter os mortos que
insistem em lidar com os vivos. Não é
surpresa que os vivos saibam tão pouco. De
outra forma, não estaríamos escrevendo
isso agora. Digo nós, pois espero manter o
mundo no limite de vez em quando. Alguém
tem que esconder as ervas do Senhor aqui.
De outra forma ele nos jogará aquela
conversa mole.
De Safo a Catulo, uma metáfora! Eu juro, querido
Ernest, minha companhia o está melhorando! Seu ponto de
vista já fez por demais (se de alguma forma for deselegante como
se você assim acha; que a excelência da Inglaterra arruíne meus
versos antes de corromperem seus filhos.
Assim, através de um amor travesso e da crescente
facilidade em controlar essas máquinas elétricas que você
possui; eu começo a botar outra pedra no sapato da Hierarquia.
Meu amigo, Ernest profetizou que se eu continuar a iludir seus
fervorosos seguidores, o vício em quebrar as leis vai me fazer
escrever semanalmente e ele terá me tornado um entregador de
jornal. Da minha parte, prefiro solenemente me arremessar ao
Esquecimento antes de me tornar algo assim seco e sem direção
como o que ele diz ser o trabalho de repórter. Apesar disso, ele é
uma companhia excelente e concordamos em tudo exceto no
aspecto literário. Continuaremos a torcer os narizes dos
Senhores da Morte pelo tempo que pudermos, cada um de nós à
sua maneira.
Só de pensar que o ensinei a
digitar. Posso ter criado um monstro.
forma de expressão) e já me considero punido por mudar o
assunto da minha dissertação. Minha intenção é me ater à
natureza daquelas sombras que se autoproclamam aparições,
suas várias condições e a operação das forças que se movem e os
mantém nesse lamentável estado. Para isso, devo agora me
despir de qualquer pudor.
George sem pudor algum? Vou
acreditar quando ver.
Saiba, antes de tudo, que espíritos que se tornam o que
chamamos de aparições não são de forma alguma todos os que
partem do mundo dos vivos. Sua condição não constitui tudo que
está do outro lado, mas é apenas uma interrupção para a viagem
da alma para a Eternidade – o que quer que Eternidade
signifique. Irônico, que aquele que procura respostas para os
mistérios da Morte, não as encontre ao cruzar a Mortalha, mas
apenas mais mistérios. Logo falarei mais sobre isso.
As coisas que prendem o espírito no mundo sombrio
que é essa Terra Morta são o que as aparições chamam de
Paixões e Grilhões. Apesar de você não conhecer os nomes, caro
leitor, você já viu essas coisas sob muitas formas. Pois poucas
histórias de fantasmas já foram contadas em que não haviam
pelo menos uma delas.
Uma Paixão é o que evita que o espírito desapareça e
assim o prende ao doloroso processo fantasmagórico. O homem
assassinado deseja vingança contra seu algoz, o pai afastado que
se importa com um filho favorito – essas e muitas outras são
Paixões. Não seria exagero dizer que existem tantos tipos de
Paixões como existam aparições.
Grilhões, ao contrário, são coisas materiais que o
espírito não consegue largar e que o prende nas Terras das
Sombras. Se preferir, um Grilhão é o objeto no qual a Paixão é
consumida: o ouro de um sovina, um ente querido ainda vivo,
um local especial. Somente quando o espírito consegue resolvê-
los, a força dessas ligações com o mundo vivo deixa a aparição ir
para o outro estágio da existência.
Os Infantes que acabaram de surgir, como são
chamadas as novas aparições, chegam desse lado da Mortalha
tão indefesos, como as crianças que nascem no mundo vivo.
Enquanto estiverem cobertos com a Coifa de plasma, seus
sentidos estarão nublados e sua mente confusa, e toda a Terra das
Sombras parecerá para ele como um sonho distante. Algumas
poucas almas determinadas conseguem se libertar de suas
próprias Coifas sozinhas, mas a grande maioria acaba
inevitavelmente como Cativos.
Almas são, ocasionalmente, o alimento e a moeda das
aparições, assim como também sua população; e a captura de um
Infante removendo sua Coifa torna o captor mais rico. De
maneira similar o Cativo se torna um miserável como qualquer
escravo da história e alguns ainda são salvos de abusos piores do
que a mente de um vivo possa imaginar levando em conta seu
valor material.
Pode variar. Existem bons
Senhores e maus Senhores. Alguns são
sádicos, e outros só estão nessa por
dinheiro. Existem uns poucos que
querem mesmo ajudar. Um Cativo de uma
aparição poderosa está a salvo de
outras aparições, e pode aprender como
as coisas funcionam. Alguns Senhores
se vêem mais como professores. Um bom
número deixa seus Cativos andarem
soltos. A maioria, no entanto, está no
negócio. Algumas coisas não mudam
desse lado da Mortalha.
Na verdade, em sua maioria é preferível uma vida de
Cativo à árdua existência de ser uma Lêmure. Essas são as
almas que, de alguma forma, arrancaram suas próprias Coifas e
evitaram o aprisionamento por outros. Prenderam-se nas Terras
das Sombras por suas Paixões, ainda são relativamente jovens e
fracos e são presas fáceis para aparições mais velhas e poderosas
caso resolvam caçá-los. Por isso as Terras das Sombras está tão
livre de Lêmures independentes quanto uma cidade está livre de
camundongos; individualmente fracos apesar de serem sempre
em grande número.
Ainda assim, Cativos e Lêmures não são as aparições
mais desafortunadas. Os Drones são a classe mais baixa a apesar
A Sombra
No entanto, esses atores no palco fantasmagórico são
apenas a metade da história de cada aparição; há a luxúria assim
como a nobreza nas Paixões. Eu falo agora da ganância bestial e
egoísmo que faz parte de cada alma, que existe somente para
afastar as aparições de seus objetivos. É normal que em certos –
mortos, claro – círculos se rotule essa voz sinistra com uma
variedade de apelos psicológicos que a identificam. Essa voz é
uma tentação, freqüentemente forte e oferecendo prazeres e
poderes que se provam ser a droga dos mortos; tornando as coisas
piores, é um pequeno demônio pessoal. Seus sussurros só podem
ser ouvidos no silêncio de sua mente; seus argumentos são tão
audíveis que não podem ser negados ou ignorados pela voz calma
de seus associados e todos devem enfrentá-la com pouca ou
nenhuma assistência.
Todos temos nosso lado negro. Quando
de serem eles a sustentar esse título, nem ao menos são aparições,
mas algo como um eco recorrente na Terra dos Mortos. Um eco
ingênuo que têm a aparência de uma aparição mas não sua
substância ou consciência. São criaturas desoladas, sem vontade
que não podem fazer nada além de seguir suas Paixões e repetir
as mesmas ações pela eternidade. Como um leão enjaulado que
anda de um lado pro outro sem parar no zoológico. Tão atrelados
estão aos seus Grilhões, essas patéticas criaturas existem na
membrana da própria Mortalha e são mais vistos pelos vivos que
outras aparições.
Grilhões podem ser algo bom ou
algo ruim. Drones estão fortemente
ancorados aos seus Grilhões, e não
podem fazer nada longe deles. Mas sem
Grilhões, uma aparição nem ao menos
pode permanecer nas Terras das
Sombras. Com todos os problemas, as
Terras das Sombras são ainda um bom
lugar para se estar.
É verdade, e os Herdados – aquelas aparições que
tiveram seu acesso negado às Terras das Sombras por perderem
ou negarem seus Grilhões – devem encontrar para si um nicho
seguro, ou se arriscarem com o Esquecimento. Muitos abraçam
a Hierarquia, que – não importa o quanto falem mal – é o melhor
modelo de estabilidade. Outros entram em cultos Hereges que se
integram às suas inclinações e filosofias. É necessário, no
entanto, um espírito forte para sobreviver à perda de um
Grilhão.
Talvez as mais fortes aparições são aquelas chamadas
de Estornados. Mantendo algumas de suas Paixões, e ainda
sendo fortes o suficiente para viajar livremente pelas Terras das
Sombras, eles podem ir e vir sempre que quiserem. Essa
liberdade ganha grande autoridade, pois todos reconhecem a
força que isso demanda. Muitas entidades podem ser mais
temidas que os Estornados, mas somente os Barqueiros são mais
respeitados; falarei mais deles logo, pois eles não são
devidamente numerosos entre os Mortos sendo talvez, algo
diferente.
estamos vivos ele é parte de nós, e podemos
lutar contra ele, mas fazemos isso
silenciosamente. Para nós fantasmas, a
luta se torna mais difícil por conta
daquela voz na cabeça que ganha
consciência própria aqui. É chamada de
Sombra, e tem grande prazer em tentá-lo a
fazer coisas que não faria. Claro, se você
ouvi-la, ela ficará mais forte. Um dia,
pode tomar o controle completamente, e
quando isso acontece, não é nada bonito.
Há meios de manter a Sombra sob controle,
mas ela também tem seus truques na manga.
Toda aparição tem uma guerra Civil
particular dentro da própria cabeça, e não
há prisioneiros de guerra lá.
 As Terras das Sombras
Devo pausar meu discurso sobre os Mortos e sua sociedade e
expor um pouco sobre o mundo que habitam e seu
relacionamento com o mundo dos Breves. As Terras das
Sombras, como é chamada, é a parte do nosso mundo que toca
A Mortalha
Separando as Terras das Sombras do mundo vivo está o
que chamamos de Mortalha. De certo modo, a Mortalha é a
experiência da morte, pela qual somente alguns poucos podem
passar sem ter realmente morrido. De algumas formas, pode ser
visto como uma membrana, opaca em alguns lugares,
transparente em outros; por onde aqueles que conhecem os meios
podem passar, e onde outros devem parar.
Apesar, como eu mencionei, de as Terras das Sombras e
o mundo dos vivos serem em alguns lugares e em certas épocas
quase iguais, a Mortalha serve sempre como um separador entre
eles. O que quer que esteja do outro lado da Mortalha parece
estar apodrecido e decadente, sua majestade cai em pedaços, e
Nihils
George está certo. É algo difícil de
aceitar. Mas há lugares em que o mundo dos
Mortos pode afetar o dos vivos. Nem sempre
isso é bom, no entanto. Nihils são exemplo
disso. Eles são lugares nas Terras das
Sombras onde há uma espécie de buraco que
se conecta à Tempestade. Coisas estranhas
podem acontecer nos arredores de um Nihil
mesmo nas Terras da Carne. O que acontece
nos arredores de um Nihil nas Terras das
Locais Assombrados, Cidadelas e Necropoleis
Às vezes, as Terras das Sombras tomam forma baseada
nos limites do mundo vivo, como um manto negro sobre uma
fina escultura. De alguma forma, nesses lugares onde há
concentrações de aparições, elas são fortes o bastante para levar
seus feitos ao mundo dos Breves.
Esses lugares são geralmente aterradores e as almas
dos vivos mais sensíveis que vão até eles, sabem com uma
certeza infalível que estão entre os Mortos. Estes são os grandes
cemitérios, as cidades abandonadas, labirintos e casas em ruínas
de má fama, reforçada por superstições. Nós os chamamos de
diretamente o seu. As Terras das Sombras e o mundo dos Breves
se cruzam em certos pontos. Eles são, como se fossem imagens
espelhadas e ainda assim ocupam, ou ao menos compartilham, o
mesmo espaço físico.
ainda parece sólido o suficiente para uma aparição tocar. O som
que atravessa a Mortalha parece distante e distorcido; as vozes
são ouvidas como ecos com um estranho vazio. Tentar tocar algo
que está do outro lado é inútil pois suas mãos atravessam como
se fossem névoas; apesar do objeto desejado permanecer sólido
mesmo com as mãos fantasmagóricas atravessando sua
superfície. Quantas lágrimas eu derramei – eu e cada nova
aparição – tentando abraçar meus amados Breves e quão
amarga foi a visão daquelas lágrimas caindo através e não sobre
suas mãos e rostos distantes! Eu choro, me perdoe; a despeito dos
anos e séculos. Ainda é algo que me amargura.
Sombras é ainda pior.
A prosa medida de Ernest mal pode supor a aura que
circunda um Nihil. Visão e som se distorcem enquanto a
Tempestade suavemente se aproxima das Terras das Sombras;
para os vivos, o local terá má fama com os desaparecimentos
inexplicáveis e eventos estranhos. É a existência dos Nihils que
lembram às aparições da necessidade da Mortalha, pois ela ao
menos protege os Breves do caos da Tempestade.
Locais Assombrados, pois lá os Mortos permanecem.
Se o Local Assombrado for um prédio – ou até uma rua
– nas Terras das Sombras, então uma Necropolis é uma
verdadeira cidade de Mortos, composta de uma coleção de
Locais Assombrados como uma cidade viva é composta por
prédios. Quanto maior e mais forte for o Local Assombrado em
uma Necropolis às vezes dá o direito de ser chamado de Cidadela
e fica como o castelo de um barão na cidade como um símbolo de
segurança e poder. É raro uma Cidadela que não responda à
Hierarquia em nome dos Senhores da Morte e sob seu comando.
 O Enorme Mundo Inferior
Se as Terras das Sombras fossem tudo no mundo dos Mortos,
então esse trabalho seria mais fácil. Esse que está tão perto do
mundo dos Breves que é quase uma sobreposição do mesmo e no
Esquecimento
Se aceitar que no Mundo Inferior a escuridão é nossa
luz, o espírito nosso corpo e a entropia nossa energia; então o
Esquecimento é nosso sol. Tudo no Mundo Inferior vêm do
Esquecimento, e tudo volta para ele. Mas largar a matéria
então desqualificada seria uma tarefa desesperadora.
A ciência humana, assim acredito, concluiu que força
e matéria são uma única coisa, e que qualquer forma substancial
é um monte de energia que de alguma maneira tornou-se
condensada e ganhou forma material. Pelo contrário, a divisão
de um átomo (que ironia, para aqueles que sabem Grego!) faz
com que a matéria se re-agrupe como energia. Refletindo sobre
esse princípio no espelho negro da Mortalha, alguém chegou à
conclusão que o plasma que faz tudo e está no Mundo Inferior é
uma forma semelhante, porém revolta de entropia, que por um
ínfimo momento toma forma material. Assim, é possível dizer
que o plasma pode a qualquer momento se dissolver e tornar-se
A Tempestade
A Tempestade é, se você desejar, o oceano do Mundo
Inferior. Pois ela circunda tudo e permeia toda e qualquer parte
que de alguma forma esteja nele. Mesmo o Esquecimento,
aquela escuridão titânica, manifesta-se dentro dessa tormenta
sem fim como um poderoso Vácuo como uma pedra cortada por
um joalheiro nas profundezas do Labirinto.
Além disso, devo confessar que essas palavras – e meu
querido Ernest, somente nelas – em particular quase me faltam.
Meu pobre vocabulário não é apropriado para o trabalho de
descrever a Tempestade e de fato é somente com dificuldade que
me mantenho calmo enquanto penso a respeito. Mais que
qualquer outra parte do Mundo Inferior, a Tempestade é quase
literalmente indescritível. É em parte como o pior e mais
tempestuoso mar que um marinheiro mortal jamais viu, talvez
bem pior que isso. Há caminhos chamados Atalhos, rotas livres
através da tormenta doentia, mas essas avenidas tomam muitas
formas. Aparecem como rios, ou estradas, ou longos trilhos de
locomotivas, ou em coisas que nem Ernest se atreveria a
nomear. E ainda assim, enquanto viaja pelo Atalho qualquer um
pode ver o próprio coração da Tempestade, onde, luzes
multicoloridas cintilam como línguas através de nuvens de
gases pulsantes e tempestades de vidro estilhaçado direto do
abismo.
qual ambos formam e são formados é por natureza mais fácil de
se imaginar para o leitor vivo, e mais fácil de explicar. O mesmo
não acontece com o resto.
entropia novamente, dadas as circunstâncias congênitas da
transformação.
Se isso for verdade – e isso é muito debatido – então o
Esquecimento é aquilo do que somos feitos, e para o qual
devemos, com toda certeza, um dia retornar. Assim como o
Mundo Inferior e o plasma do qual ele é feito, há mais a se
perguntar do que se ele surge espontaneamente, ou por alguma
escolha consciente dos Breves ou dos Mortos, ou talvez se
alguma vontade sombria e incompreensível que algumas almas
acreditam residir no Esquecimento o fez sozinha. Essas
perguntas, porém, são para cientistas e filósofos; não para
poetas, jornalistas ou revolucionários. No fim, é suficiente dizer
que o Esquecimento é aquela fome sombria que devora a todos
nós, nos mandando numa espiral descendente, como Ícaro, para
seus braços.
De todas as aparições, apenas aquelas deformadas e
insanas criaturas chamadas Espectros podem viajar pela
Tempestade sem perder a sanidade, e isso só porque eles já a
perderam. É senso comum entre as aparições que os Espectros
eram antes como eles e tornaram-se Espectros ao se renderem
aos fragmentos de sussurros do Esquecimento em suas mentes.
Há um certo teor de justiça poética nessa história, e ajuda que
aparições criem novas teorias sobre a origem dos Espectros.
Sabe-se que durante os Pesadelos, os horríveis dramas pelos
quais a aparição é forçada a passar por grandes agonias dentro da
Tempestade, o elenco desses dramas assustadores é
inevitavelmente formado por Espectros que procuram
atormentar a aparição azarada que caiu em seus domínios.
Talvez eles estejam recrutando, ou, como a Lanterna caída de
Milton, procurando por companhia em seu tormento.
Os Barqueiros, que eu já mencionei antes, parecem ser
capazes de atravessar a Tempestade sem se ferirem, e até guiar
outros através dela se assim desejarem; eu sei que ainda não falei
sobre esses seres extraordinários, e peço ao leitor um pouco mais
de paciência, até que meu relatório sobre a geographia infernis
esteja finalmente terminado.
 Os Hereges
Não há, claro, nenhum incentivo maior à piedade nos
vivos que o medo do que acontecerá ao seu espírito depois do fim
da vida. Se existe um Inferno, um Tartarus, um Niflheim ou um
Apsu; ou se vai encontrar um padre caridoso, bem alimentado
por sua congregação temerosa. Devo segurar o riso ao considerar
o que os padres vivos fariam nas Terras das Sombras, e como eles
reagiriam ao descobrir que acontecem as mesmas coisas aqui
também. Talvez isso seja pertinente; não tenho certeza.
Seja como for, tem se falado que a fé provê ajuda ao
espírito na adversidade, e não é menos verdade dizer que isso
continua post funera. Outro benefício que uma fé inabalável
provê é o prazer e a segurança de uma sociedade, atraindo para si
almas semelhantes. Sem nos esquecer da promessa de que algo
melhor está por vir. A pobre aparição tem tanta necessidade
Renegados
A melhor maneira de descrever os
Renegados é “nenhum dos acima.”Alguns são
bandidos separatistas, outros são
refugiados ou dissidentes tentando evitar
a Hierarquia, e outros ainda são
verdadeiros anti-sociais. Geralmente eles
se opõem à Hierarquia, e a Hierarquia
nega-lhes o direito de existir. Grupos
A Hierarquia
A Hierarquia, na verdade, merece um espaço maior do
que recebeu até agora nessas páginas; por bem ou por mal, sua
influência é sentida em quase qualquer parte do Mundo Inferior.
Com o grande Caronte à frente no comando do modelo despotista
idealizado por Platão, a Hierarquia era toda e qualquer força
para o bem dos Mortos, oferecendo proteção aos fracos e
resistindo em benefício de todos, aos Espectros e outros horrores
desse conforto quanto as almas vivas, talvez mais.
Vou poupá-lo da visão de George
sobre a natureza da religião. O que ele
jamais dirá é isso: Há grupos nas Terras
das Sombras que estão unidos por uma
crença em comum, como cultos, religiões e
filosofias das Terras da Carne. Nós os
chamamos de Hereges, que é como eles
geralmente se chamam uns aos outros. Em
troca da lealdade, seus seguidores ganham
o suporte da organização. Alguns Hereges
dizem ter a chave para a Transcendência.
Isso é algo que requer uma explicação
detalhada, mas não agora, pense nisso como
o atalho que as religiões dos vivos
oferecem para o paraíso.
surgem e somem, alianças se formam e se
perdem. A única constante entre eles é a
mudança.
Algumas pessoas chamam a mim, George
e os outros de Renegados. A Hierarquia com
certeza. Esse é um nome tão bom quanto
outro qualquer, e eles não são os
primeiros a usarem.
que às vezes fugiam da Tempestade.
Com o tempo, porém, a forte mão de Caronte deixou
que a Corrupção, interesse próprio e guerra pelo poder,
crescessem num rompante dentro das fileiras Hierárquicas,
transformando sua bondade quase paternal em uma tirania
sombria e sangrenta. Os principais atores nessa tragédia foram
dois: os Senhores da Morte e as Guildas.
 Maelstroms
Assim como os oceanos podem, algumas vezes e em
certos lugares, invadir a terra com terrível força, a Tempestade
pode visitar o resto do Mundo Inferior com seu próprio tufão.
Essa manifestação sem igual é conhecida pelas aparições como
Maelstrom; o próprio Esquecimento parece vomitar essas
abominações, através da Tempestade, devastando Necropoleis
inteiras e arrasando várias outras. O aparecimento de um
´
Dentro da loucura da Tempestade existe uma ilha, e
nessa ilha se estabelece uma grande cidade, que se chama
Estígia. Mais de uma vez, como a fabulosa Atlântida, ela foi
atingida por Maelstroms, e cada uma dessas vezes ela foi
reconstruída das ruínas do passado e galgou degraus cada vez
mais altos em sua glória e grandeza. Para muitos que lá residem,
Estígia é o centro do Mundo Inferior, assim como Londres
representa para muitos londrinos, toda a Inglaterra, e Paris,
para os parisienses, toda a França. Centro pode não ser a palavra
certa, mas é muito marcante.
A história de Estígia você poderá encontrar ao seu
alcance nas páginas que se seguem. Não deixaria de fazer ao
menos alusão ao trabalho desse notável vulto que a construiu
com as próprias mãos. Por ora, o leitor precisa ter em mente
apenas que a cidade foi fundada pelo grande Caronte, e sob sua
As Costas Distantes
Existem vários argumentos sobre os lugares aos quais
as aparições se referem como Costas Distantes. Muitos até
mesmo duvidam de sua existência. Mesmo assim nunca me
perguntei se fosse verdade, nem espero fazer isso um dia. Eu
aceito a existência das Costas Distantes como um vivo aceita a
existência de, digamos, a cidade de Essex sem tê-la visto. E
posso dizer que a existência de Essex nunca me causou desejo.
George foi capturado por seu
próprio ego. Pode passar um tempo antes
que ele recupere seu senso comum. Não
faço idéia do que ele quis dizer com
Essex, mas ele parece achar bastante
divertido. As Costas Distantes são ilhas
na Tempestade, como aquele em que se
encontra Estígia. Dependendo da história
que você acredite, eles podem ser o céu
e o inferno que qualquer religião prega,
ou são imitações, fingindo ser esses
mesmos céus e infernos de forma a iludir
os fanáticos a algum destino
Maelstrom é geralmente ligado a uma terrível cadeia de eventos
no mundo dos Breves – a queda do Império Romano, a Peste
Negra, e as duas Grandes Guerras desse século foram todos
seguidos por um desses terríveis desastres – mas um Maelstrom
pode visitar o Mundo Inferior inspirados por uma força maligna
do Esquecimento.
sábia e benevolente lei durou por muitos séculos, a maior e mais
nobre das Cidadelas dos Mortos. Mais tarde, contudo, Caronte
foi engolido pela Tempestade quando lutava com um apóstolo
titânico do Esquecimento; e sem sua mão severa os Senhores dos
Mortos que regiam o Senado de Caronte Augusto tornaram-se
uma sanguinária e tirânica oligarquia tendendo ao escravismo.
É tão imperativo desprezar esses Senhores da Morte e
a Hierarquia que a eles serve, que eu e meus colaboradores
colocamos essas palavras à prova. Faço isso para que o
verdadeiro estado dos assuntos do Mundo Inferior seja
conhecido por Breves e Mortos, e os déspotas Hierarcas possam
ser vistos, de uma vez por todas, pelo que são. A vontade de calar
a todos deve ser suficiente para fazer com que todos falem, e para
que uma Babel e erga para derrubar suas mentiras.
desagradável. O último ponto de vista é
decisão oficial de Estígia, ou algo que
o valha.
Pessoalmente, não sei o que acho
sobre as Costas Distantes. A princípio, eu
não concordo com a visão oficial de
Estígia. Por outro lado, acho muito
conveniente ter a promessa de cada
religião para a vida após a morte apenas
esperando lá na Tempestade. Isso soa como
isca para idiotas. Talvez eles nem
existam. Muitas aparições acreditam
neles. E tantas outras querem acreditar.
Alguns assumem enormes riscos tentando
alcançá-los por conta própria. Outros
procuram sem parar por um Barqueiro
disposto a guiá-los. Algumas aparições se
oferecerão para guiar outras até as Costas
Distantes, mas o que acontece na jornada
ninguém sabe. Já vi vigaristas levando
imigrantes e refugiados antes.
 As Guildas
Apesar dos feitiços que nós aparições chamamos
Arcanoi serem diferentes de qualquer pratica artesanal
praticada pelos artesãos vivos, eles são tão importantes para as
coisas por aqui quanto as habilidade em carpintaria,
arquitetura e metalurgia são para uma nação viva. Para
desenvolver a estrutura e os aparatos da Hierarquia, Caronte
achou válido organizar em Guildas as aparições que tinham
habilidades em um ou outro arcanos, tanto para promover e
desenvolver cada feitiço de maneira a impor um tipo de ordem
entre as aparições livres que não eram escravos nem soldados.
As Guildas eram sempre fracionadas, discutindo entre
si e tramando uma contra as outras, mas nisso talvez esteja sua
força. Pois apesar de sempre discutirem uma com as outras, seu
maior desagrado era com os que não possuíam Guilda alguma –
incluindo os Senhores da Morte e suas Legiões. Logo que
Caronte estabeleceu as Guildas, eles mesmos podem confirmar,
eles começaram a ignorar seus comandos, e os comandos de
qualquer um que não fosse seus Senhores e Senhoras de Guilda.
Na verdade, muitas aparições de Guilda dizem que seus cabais
criaram suas próprias Guildas, e que Caronte simplesmente
Os Senhores da Morte
O grande Caronte fundou Estígia nos modelos da
república. De acordo com o conhecimento convencional dos
Mortos, sobre o modelo nada menos que a República Romana.
Com ele mesmo como Cônsul, Caronte escolheu sete outros de
sua confiança para Senadores, cada um teria o controle para
governar uma parte do Mundo Inferior.
Com o passar dos tempos e o crescimento de Estígia,
além das mudanças no mundo dos que respiram que ecoaram
entre os Mortos, também mudou Caronte, mais ou menos na
época das Cruzadas, e mudou sua administração num modelo
feudal. Esse foi o verdadeiro nascimento da Hierarquia, pois
abaixo de Caronte e dos Senhores da Morte surgiram ordens e
classes de mortos; Cavaleiros e Legiões, Guildas e Cativos.
Enquanto o tempo do desaparecimento de Caronte
passava, os Senhores da Morte se tornaram mais ferrenhos e
Os Barqueiros
Ao menos posso me redimir da promessa e dar conta dos
Barqueiros. Agradeço por isso, querido leitor, por sua paciência
em ter esperado tanto, acredito que entenderá que com o resto do
Mundo Inferior já em mente, meu trabalho com os Barqueiros
será mais completo e compreensível.
Os Barqueiros são uma ordem antiga e poderosa, se é
que podem ser chamados de ordem. Para ser exato, é difícil saber
do que devem ser chamados, além de Barqueiros; pois não têm
raça ou Guilda, nem aparecem particularmente organizados
entre eles; ainda assim são todos Barqueiros, todos ou todas em
seus direitos.
Caronte era um Barqueiro – talvez o maior
Barqueiro, no entanto é difícil uma comparação entre eles –
antes de fundar Estígia. Há uma tradição entre os Mortos
ganhou o crédito por sua iniciativa. Essa arrogância ou se torna
divertida ou odiada, dependendo da perspectiva, mas ao menos é
reconfortante.
A Hierarquia lhe dirá que as Guildas se dirpersaram, e
não podem mais usar seu monopólio de conhecimento como arma
política. Isso é uma meia verdade. Com certeza os Arcanoi não
são mais de controle exclusivo das Guildas, mas as Guildas
permanecem em segredo, assim como o Ernest e eu. Talvez uma
em dez aparições tenha deva fidelidade a uma Guilda, apesar de
um alto preço ser cobrado de quem é descoberto.
Nos tempos difíceis que enfrentamos, as Guildas são
uma ponta de esperança, mesmo em sua condição reduzida
atual. A natureza dos Arcanoi que as Guildas ensinam e lidam
pode ser encontrada em qualquer dessas páginas, por uma mão
mais hábil que a minha. Enquanto devo minha contínua
existência a nada menos que a proteção das Guildas em tempos e
necessidade. Não passo, no entanto, de um pobre viajante sem
ajudante, e sem a capacidade de escrever sobre os grandes
mistérios.
mais abertos às suas intrigas. No meio de tantas alianças
forjadas, esquemas e traições, eles brigavam pelo lugar de
Caronte no trono. Eles são extremamente poderosos, têm muitos
seguidores e praticamente recursos inacabáveis; e apesar de não
ter se iniciado um confronto aberto, os efeitos de seus esquemas
são dificilmente menos destrutivos à paz e à liberdade dos
Inquietos. Cada Senhor da Morte não mede esfoços – em nome
do melhor para a Hierarquia, claro – para arrastar os vivos para
suas Legiões de Mortos, e escravizar qualquer aparição que
permanecer em liberdade antes que um rival ganhe controle
sobre elas. Ser livre é considerado ser um inimigo desses
déspotas, e os Senhores da Morte tratam seus inimigos de uma
forma que os Terroristas, a Santa Inquisição ou os guerrilheiros
do Khmer Rouge invejariam e admirariam.
que ele tenha sido de fato o primeiro Barqueiro, e os outros
um dia haviam servido a ele; mas seja isso verdade ou
invenção nenhuma aparição pode dizer, afinal nenhuma ouviu
essa história da boca de um Barqueiro. Apenas os mais
destemidos fariam perguntas a um Barqueiro, e apenas os
mais tolos esperariam uma resposta.
Entre eles, o leitor encontrará outros nomes que lhe são
familiares, além de Caronte. Como Hermes, Brunhilde e suas
irmãs, Namtaru e outros. Os Barqueiros já existiam antes da
Hierarquia, antes de Estígia e alguns deles existem desde a
aurora dos tempos. Nenhum poder pode retirá-los de seus
objetivo, e nenhum poder pode tirá-los do curso; pois as mais
solitárias criaturas do Mundo Inferior podem atravessar a
Tempestade a vontade, sem temer os Espectros ou qualquer
outra coisa que encontrem.
George está ficando um pouco
entusiasmado aqui. Os Barqueiros existem
há muito tempo mesmo. Contudo, não acho
que sejam tão indestrutíveis assim.
Existem várias histórias de Barqueiros
resgatando de Espectros aparições
perdidas na Tempestade. Ainda assim, os
Espectros não morrem simplesmente nessas
histórias. Eles lutam, e minha opinião é
que às vezes até ganham. É que não podemos
ouvir histórias de quem não voltou. E os
Barqueiros vão falar de algo assim, afinal
de contas.
Transcendencia
^
Estou tomando esse tópico, porque
mal posso imaginar que vôos poéticos o
Milorde prepararia com um assunto desses.
Passando por cima dos mistérios,
Transcendência é para as aparições o que a
redenção é para os vivos que nela
acreditam. Com a vida no Mundo Inferior
sendo como é, existem poucas aparições que
querem acreditar nesse fio de esperança. É
um pouco difícil encontrar qualquer um que
tenha visto isso acontecer.
Muito é falado sobre
Transcendência, incluindo uma boa leva de
contradições. O que parece se repetir é
que Transcendendo, uma aparição Pode sair
do Mundo Inferior como se nuca tivesse
passado por lá no ponto de onde morreu.
Como a Transcendência é alcançada também é
motivo de discussão. Alguns dizem que
Transcendência é um estado de espírito, ou
iluminação. Outros dizem que se livrar das
Paixões e Grilhões pode levar à pessoas dá a força para resistir aos
Transcendência se vocÊ estiver preparado
pra ela. Devo dizer que eu teria que estar
em estado de graça antes de
Notas Finais
Por enquanto, fizemos o que podíamos, assim como nos
foi permitido. É hora de permitir que outros escrevam, quem
tenha conhecimento em suas próprias esferas. Preparamos o
palco, como deveríamos e mobiliamos o contexto que o habita.
Esperamos que o leitor esteja agora mais preparado para digerir
o que se segue. Se parecer incrível, não nos desculparemos por
isso, também achamos quando vimos pela primeira vez. Nosso
Você não tem fé, Ernest? Os Barqueiros são figuras do
misterioso imaginário, e ainda assim você insiste em reduzi-los
a motoristas de ônibus da Tempestade. Não vou deixar isso
assim; fico com a responsabilidade de restaurar-lhes a
majestade! Agora, com isso à mão... acho que a única coisa
maior que seu poder seja seu mistério, pois vão aonde quer que
desejem, falam com poucos e seus motivos e interesses só podem
ser imaginados por nós, criaturas inferiores. Suas barcaças
parecem frágeis e suas lanternas lançam longas sombras, não há
lugar a salvo nem curso claro na Tempestade que não possa ser
visto na companhia de um enigmático Barqueiro.
Se você está dizendo, George.
voluntariamente deixar uma das coisas que
me mantém aqui nas Terras das Sombras, e
impede que eu seja dragado para a
Tempestade se desfazer. Outros ainda dizem
que boas ações permitem a uma aparição
pagar quaisquer débitos cósmicos que o
prendem ao Mundo Inferior, mas isso me soa
como desejoso demais. Existem outras
versões, sem contar as descrições do
evento, com pilares de fogo até coros de
anjos – ou algo assim. George diz que minha
alma é pequena demais, sem visão e opaca
para apreciar a idéia.
Transcendência existindo ou não,
não faz diferença. Ela representa
esperança, e dá a muitos a força que
necessitam para continuar, pois de outra
forma não o fariam. Também leva algumas
aparições a resistirem à Hierarquia,
quando outros motivos não são suficientes.
Tenho certeza que as religiões de algumas
poderes fascistas da Europa, com o simples
pensamento de que não resistir a eles
seria pecar.
desejo, como antes, é que você não entre nessa existência
despreparado como nós entramos, mas que esteja avisado de
certos pormenores e assim mais apto a evitar certas dificuldades
e abusos que nós não desejamos nem ao nosso mais frio inimigo.
Adeus, caro leitor, e bons sonhos. O dia pode não raiar
tão cedo pois a passagem pela Mortalha tornam o sonho uma
dura realidade.