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TRAÇÃO

5.1 – Introdução

Denominam-se elementos tracionados os elementos estruturais


solicitados preponderantemente por esforços de tração, com direção
coincidente com o eixo longitudinal (lugar geométrico dos centros de gravidade
das seções transversais).
Nas estruturas os elementos tracionados apresentam-se na forma de
barras de treliças, pendurais e elementos componentes de sistemas de
contraventamento, por exemplo.

5.2 – Situações de Ruína

As barras prismáticas submetidas a esforços de tração devido a ações


estáticas poderão estar sujeitas a dois tipos de estados limites últimos:
• Ruptura da seção líquida efetiva da peça;
• Escoamento da seção bruta da peça.
Desse modo, o dimensionamento de um elemento tracionado
corresponde á escolha uma seção transversal cuja resistência seja no mínimo
igual à menor das solicitações correspondentes aos citados estados limites
últimos.
Adicionalmente, a NBR 8800/86 exige a verificação de um estado limite
de utilização traduzido pela imposição de um índice de esbeltez limite, de modo
a impedir que barras tracionadas muito esbeltas possam apresentar grande
susceptibilidade a vibrações normais á direção de seu eixo longitudinal.
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Capítulo 5 –Tração
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5.3 – Conceitos Fundamentais

Para o estabelecimento da capacidade resistente de um elemento


tracionado, são adotados os seguintes conceitos:
- Área bruta da seção transversal (Ag) é a área da seção transversal,
sem levar-se em consideração nenhum tipo de redução como, por
exemplo, a existência de furos.

Figura 5.1 – Área bruta

- A área calculada na seção transversal onde existam um ou mais furos


é denominada área líquida (An), definida como o produto da
espessura pela largura líquida, obtida desconsiderando-se o(s)
diâmetro(s) do(s) furo(s).

Figura 5.2 – Área líquida

Em determinadas situações, porém, existem várias configurações de


ruptura possíveis, devendo-se adotar a menor largura líquida obtida para as
diferentes seções transversais passando por um ou mais furos.

Figura 5.3 – Diferentes configurações de linhas de ruptura


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Capítulo 5 –Tração
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Para as linhas de ruptura que apresentam trechos não perpendiculares à


direção da solicitação de tração, de acordo com a NBR 8800/86, o cálculo da
largura líquida é feito utilizando-se a expressão:

∑ s2
ln = l − ∑ d +
4g
onde ln é a largura líquida para a “n-ésima” linha de ruptura;
d é o diâmetro do furo, acrescido de 2mm;
s é a distância entre centro de furos, medida na direção da solicitação;
g é a distância entre centro de furos, medida na direção perpendicular à
da solicitação.

Figura 5.4 – Determinação da largura efetiva


Considerando-se a disposição dos furos apresentada na figura 5.4, as
larguras líquidas seriam calculadas como:
- linha L1: l1 = l − 3d

s2
- linha L2: l n = l − 3d +
4 g1
Nesse caso, portanto, a largura líquida a ser considerada será a
correspondente à linha 1.
No caso de seções compostas por dois ou mais elementos, a largura
líquida será obtida através da soma das larguras líquidas de todos os
elementos interceptados pela linha de ruptura analisada. Assim, para uma
cantoneira (figura 5.5), o cálculo da largura líquida será feito a partir da
superfície média da espessura das abas, fazendo-se o rebatimento de uma das
abas e considerando-se a largura bruta como a soma das larguras das abas
descontada do valor da espessura.
Desse modo, para o cálculo da largura líquida da linha de ruptura
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indicada na figura 5.5 deve-se utilizar g = c1 + c 2 − e .

Figura 5.5 – Largura líquida em uma cantoneira


Entretanto, é necessário analisar-se o nível de solicitação de cada linha
de ruptura para a determinação da largura líquida crítica, uma vez que se
considera uniforme a distribuição da força de tração entre os parafusos. Desse
modo, como indicado na figura 5.6, a solicitação na linha de ruptura L1 será
considerada igual à solicitação “N” do elemento, enquanto para a seção L2 a
solicitação será igual a “N – N/4”.

Figura 5.6 – Solicitações nas diferentes linhas de ruptura


Um outro conceito fundamental muito importante é a definição da área
líquida efetiva (Ae), decorrente da transmissão dos esforços de tração de uma
para outra, no caso de cantoneiras, perfis “I”, “H” ou “U”, quando nem todos os
elementos da seção transversal são responsáveis pela transmissão da
solicitação.
A título de exemplo, considere-se a ligação longitudinal de dois perfis “I”
por intermédio de talas de alma (figura 5.7). Uma vez que a transmissão dos
esforços é feita unicamente pela alma dos perfis, não é razoável supor-se a
distribuição uniforme das tensões em toda a área líquida da seção transversal.
Desse modo, a NBR 8800/86 adota o procedimento de corrigir a área líquida
por intermédio de um coeficiente “Ct” (tabela 5.1).
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Figura 5.7 – Transmissão das tensões


Tabela 5.1
Situação Ct
- Todos os elementos da seção transversal participam da
1,00
transmissão da solicitação.
- Perfis “I” e “H” cujas mesas tenham largura não inferior a 2/3 da
altura do perfil e perfis “T” cortados desses perfis, com ligações nas
0,90
mesas, tendo, no caso de ligações parafusadas, um mínimo de três
parafusos por linha de furação na direção da solicitação.
- Perfis “I” e “H” que não atendam aos requisitos anteriores, perfis “T”
cortados desses perfis e todos os demais perfis, incluindo barras
0,85
compostas, tendo, no caso de ligações parafusadas, um mínimo de
três parafusos por linha de furação na direção da solicitação.
- Em todas as barras com ligações parafusadas, tendo somente dois
0,75
parafusos por linha de furação na direção de solicitação.
Observação:
Quando a carga for transmitida a uma chapa por soldas longitudinais ao longo
de ambas as bordas, na extremidade da chapa, o comprimento das soldas
não pode ser inferior à largura da chapa, adotando-se os seguintes valores de
Ct :
- para l ≥ 2b ⇒ Ct = 1,00
- para 2b > l ≥ 1,5b ⇒ Ct = 0,87
- para 1,5b > l ≥ b ⇒ Ct = 0,75
onde l = comprimento da solda
b = largura da chapa (distância entre soldas)

5.4 – Resistências nominais

Em função das formas de colapso previstas para os elementos


tracionados, são estabelecidos dois estados limites últimos: escoamento da
seção bruta e ruptura da seção líquida efetiva.
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Para o escoamento da seção bruta, considera-se como crítica a situação


em que toda a seção transversal está submetida a tensões uniformes de tração
iguais à tensão de escoamento do material. Desse modo, a resistência nominal
é dada por Rn = Ag f y , prevenindo-se, desse modo, contra o alongamento

excessivo dos elementos tracionados.


Já para a ruptura da seção líquida efetiva admite-se como colapso a
situação em que toda a área líquida efetiva é solicitada por tensões iguais à
tensão última de ruptura do material, sendo a resistência de nominal dada por
Rn = Ae fu .

5.5 – Verificação da resistência


O Método dos Estados Limites admite, como situação de segurança
para os estados limites últimos, a condição em que as resistências de cálculo
são superiores às solicitações de cálculo, ou seja, Rd ≥ Sd . Desse modo, para

elementos tracionados, as resistências nominais relativas aos estados limites


de escoamento da seção bruta e ruptura da seção líquida efetiva devem ser
afetados de convenientes coeficientes de segurança, sendo as resistências de
cálculo determinadas, genericamente, por Rd = φt Rn .

De acordo com a NBR 8800/86, devem ser utilizados os seguintes


coeficientes de segurança φt para elementos tracionados:

- escoamento as seção bruta: φt = 0,90

- ruptura da seção líquida efetiva: φt = 0,75

Observa-se que os valores dos coeficientes de segurança são diferentes


para os estados limites últimos considerados, uma vez que devem refletir o
grau de comprometimento da estrutura em caso de ocorrência de uma situação
crítica. Assim, considerando-se que a ruptura da seção líquida efetiva é mais
crítica, justifica-se a maior margem de segurança (25%) para esta situação,
comparada à situação de escoamento da seção bruta (margem de segurança
de 10%).
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5.6 – Índice de Esbeltez Limite


Embora as barras tracionadas não sejam suscetíveis a fenômenos de
estabilidade como a flambagem, a NBR 8800/86 estabelece como índice de
esbeltez limite λ = l/r os valores de 240 e 300 para barras principais e barras
secundárias, respectivamente, exceto para tirantes de barras redondas pré-
tensionadas.

5.7 – Barras compostas tracionadas


Em determinadas ocasiões pode ser interessante utilizar-se uma
composição de perfis estruturais para melhor desempenho sob solicitações de
tração. Cantoneiras, perfis “I”, “H” e “U” podem ser associados por meio de
soldas, ligações parafusadas ou elementos de ligação, de modo a proporcionar
capacidade resistente compatível com as solicitações.
Para barras compostas tracionadas, a NBR 8800/86 estabelece, em
termos de limitações do espaçamento entre parafusos, soldas intermitentes ou
chapas (espaçadoras ou intermitentes):
a) nas ligações entre uma chapa e um perfil laminado, ou entre duas
chapas em contato (figura 5.8), ≤ 24 t (“t” = espessura da chapa mais
delgada) e ≤, nem maior que 300 mm;

Figura 5.8 – Ligação entre chapa e perfil

b) entre parafusos ou soldas intermitentes, ligando dois ou mais perfis


em contato, ≤ 600mm (figura 5.9);
c) perfis ou chapas, separados uns dos outros por uma distância igual à
espessura de chapas espaçadoras, λmax = L / rmin ≤ 240 (figura
5.10);
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Capítulo 5 –Tração
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Figura 5.9 – Ligação por contato entre perfis

Figura 5.10 – Ligação entre perfis com chapas espaçadoras


d) chapas intermitentes (figura 5.11) com largura ≥ 2b/3 (“b” = distância
entre linhas de parafusos ou soldas), espessura > b/50 e dispostas de
modo que λmax = L / rmin ≤ 240 , sendo as distâncias entre
parafusos ou soldas intermitentes (no sentido longitudinal dos perfis)
não superior a 150mm.

Figura 5.11 – Ligação com chapas intermitentes

5.8 – Disposições Construtivas


De acordo com a NBR 8800/86, devem ser respeitadas as seguintes
recomendações:
i) o diâmetro do furo padrão deverá ser igual ao diâmetro nominal do
parafuso, acrescido de 1,5mm de folga;
ii) a distância entre centos de furos deve ser ≥ 2,7dp (preferencialmente
3dp), sendo “dp” o diâmetro nominal do parafuso;
iii) a distância máxima entre o centro de um furo à borda deve ser igual
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a 12t ou 150mm (sendo “t” a espessura da chapa), adotando-se como


distância mínima os valores apresentados na Tabela 5.2;
Tabela 5.2 – Distâncias mínimas entre centro de furos e bordas (mm)
Borda cortada com Borda laminada ou
dp
serra ou tesoura cortada a maçarico
1/2" 22 19
5/8” 29 22
3/4" 32 26
7/8” 38 29
1” 44 32
1 1/8” 50 38
1 1/4" 57 41
> 1 1/4" 1,75 dp 1,25 dp

iv) a localização dos parafusos deve ser estabelecida considerando-se:


- uma distribuição mais uniforme das tensões, evitando-se
concentração de tensões, escoamento e/ou rupturas prematuras;
- a facilidade no manejo de chaves fixas e torquímetros;
- que as porcas, cabeças dos parafusos e arruelas não devem
apoiar-se em regiões curvas de perfis laminados ou dobrados.

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