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Teoria Geral do Processo

O Processo e o Direito Processual

O Direito pode ser dividido em Direito Material e Direito Processual. O primeiro,


também chamado de substancial, é formado pelo

corpo de princípios e regras referentes a fenômenos da vida ordinária


de todo dia, como a união de duas pessoas para a vida em comum e
constituição de família, como o crédito, os atos ilícitos causadores de
dano a outrem, as prestações de serviços, os cheques, as sociedades
em geral, a relação do homem com o meio ambiente, as relações
econômicas de consumo etc. (DINAMARCO; LOPES, 2017, p. 15)

Já o segundo, o Direito Processual, é aquele ligado à necessidade de alguém em se valer


do poder do Estado para fazer valer seu direito material afetado por outrem. O processo tem
caráter instrumental, ou seja, de ferramenta, é meio para obtenção de um direito e não um fim
em si mesmo.

Como já estudamos, o processo é um meio de solução de conflitos, baseado na


heterocomposição, em que, no caso do processo judicial, o agente decisor será o Magistrado,
investido pelo Estado, através de concurso de provas e títulos, no poder de decidir (jurisdição)
sobre os casos a ele submetidos (princípio da inércia da jurisdição e inafastabilidade da
jurisdição) por meio de processos que deverão observar diversas diretrizes.

O processo é uma técnica para a solução imperativa de conflitos,


criada a partir da experiência dos que operam nos juízos e tribunais.
Seus institutos são modelados segundo conveniências do exercício de
funções e atividades muito específicas e reservadas a profissionais
especializados - e que são a jurisdição, exercida pelos juízes, a ação e
a defesa, praticadas pelas pessoas em conflito através de seus
advogados bem como pelo Ministério Público nos casos em que a lei
lhe dá legitimidade para atuar. (DINAMARCO; LOPES, 2017, p. 15, grifo
do autor)

Diante disso, podemos expor tais conceitos e diferenças graficamente da seguinte


forma:

Direito Material Direito Processual

• Criam direitos, obrigações • Natureza instrumental


ou situaões jurídicas • Efetivação das soluções
• Estabelcem consequências ditadas pelo direito
quando da ocorrência material
desses fatos
Cândido Rangel Dinamarco e Bruno Vasconcelos Carrilho Lopes (2017, p. 16, grifo do
autor) menciona ainda que:

Há certos institutos processuais que guardam uma proximidade muito


significativa com a situação de direito substancial em relação à qual o
processo atuou ou deve atuar. Esses institutos - ação, competência,
fontes e ônus da prova, coisa julgada e responsabilidade patrimonial -
são responsáveis por situações que se configuram fora do processo e
dizem respeito diretamente à vida das pessoas em sociedade, em suas
relações com as outras ou com os bens que lhes são úteis ou
desejados; e só em um segundo momento eles são objeto das técnicas
do processo, a saber, quando um processo se instaura e então se
pensa nas atividades a serem desenvolvidas para a sua atuação. Essas
verdadeiras pontes de passagem entre o direito e o processo
compõem o que se denomina de direito processual material.

Assim como o próprio Direito Material é dividido em diversas searas para o devido
estudo, apesar do Direito ser considerado uno e indivisível, o Direito Processual pode ser
dividido para fins de estudo em tantos seguimentos quantos visem tutelar. Dessa forma, temos
o processo civil, penal, administrativo, trabalhista, eleitoral, legislativo ou mesmo o não estatal.

Processo pode ser definido, genericamente, como um conjunto de atos


concatenados tendentes a um fim.

Entretanto, é possível identificar pontos em comum entre as espécies de processo,


sendo estes pontos o objeto de estudo da Teoria Geral do Processo (TGP) que, segundo
Dinamarco e Lopes (2017, p. 16, grifo do autor), pode ser definida “como um sistema de
conceitos e princípios elevados ao grau máximo de generalização útil e condensados
indutivamente a partir do confronto dos diversos ramos do direito processual.”

Diante disso, torna-se possível identificar a essência dogmática do direito processual,


baseada em 4 institutos fundamentais:

• Jurisdição;
• Ação;
• Defesa;
• Processo.

Fases metodológicas da ciência processual civil

O processo civil moderno é resultado da evolução do sistema processual civil e do


pensamento acerca do Direito Processual ao longo da história.
Pode-se dividir as fases metodológicas do processo civil em 3, expostas em ordem
cronológica:

1. Sincretista: é a vigente desde as origens do processo até meados do século XIX.


O conhecimento era puramente empírico, sem consciência de princípios e
conceitos próprios do processo, que era visto como parte do Direito Privado,
como mera extensão do direito material.
2. Autonomista ou conceitual: implantada em meados do século XIX. Teve origem
com a obra de Oskar Von Bülow, em 1868, que mencionou haver uma relação
sistêmica entre juiz, autor e réu, diferente da relação jurídico-material por seus
sujeitos (incluindo o juiz), por seu objeto (os provimentos jurisdicionais) e por
seus pressupostos (os pressupostos processuais). Esse pensamento conduziu o
processo para o cainho de ciência autônoma. Foi nesta fase que o direito
processual parou de ser visto como modo de exercício dos direitos materiais
para ser o caminho para se obter uma especial proteção do Estado, a tutela
jurisdicional.
3. Teleológica ou instrumentalista: é a atual. Segundo Dinamarco e Lopes (2017,
p. 19):
Depois, suplantada a fase sincrética pela autonomista, foi preciso
quase um século para que os estudiosos se apercebessem de que o
sistema processual não é algo destituído de conotações éticas e
objetivos a serem cumpridos no plano social, no econômico e no
político. Preponderou por todo esse tempo a crença de que ele fosse
mero instrumento apenas do direito material, sem a consciência de
seus escopos metajurídicos e de suas responsabilidades perante a
sociedade e seus valores. Esse modo de encarar o processo por um
prisma puramente jurídico foi superado a partir de quando alguns
estudiosos, notadamente italianos (destaque a Mauro Cappelletti e
Vittorio Denti), lançaram as bases de um método que privilegia a
importância dos resultados da experiência processual na vida dos
consumidores do serviço jurisdicional - o que abriu caminho para o
realce hoje dado aos escopos sociais e políticos da ordem processual,
ao valor do acesso à justiça e, numa palavra, à instrumentalidade do
processo.
Tal é o momento atual da ciência do processo civil, nesta fase
instrumentalista ou teleológica, em que se tem por essencial definir os
objetivos com os quais o Estado exerce a jurisdição, como premissa
necessária ao estabelecimento de técnicas adequadas e convenientes.

Graficamente podemos sistematizar tais fases metodológicas da seguinte maneira:


• Direito processual é manifestação do direito material (sincretismo)
• O Direito processual não é visto como ciência.
Sincretista

• Direito processual é visto como ciência autônoma.


• São criadas importantes teorias que embasam o direito processual,
Autonomista como das partes, dos pressupostos processuais, dentre outras.

• O processo é instrumento com conotações éticas para cumprir


objetivos nos planos social, econômico e político.
Instrumental • Tem como principal aspecto definir como o Estado exerce a jurisdição.

Para refletir:
“[...] lançaram as bases de um método que privilegia a importância dos
resultados da experiência processual na vida dos consumidores do
serviço jurisdicional - o que abriu caminho para o realce hoje dado aos
escopos sociais e políticos da ordem processual, ao valor do acesso à
justiça e, numa palavra, à instrumentalidade do processo.” (DINAMARCO;
LOPES, 2017, p. 19)
Considere o trecho extraído dos comentários dos autores citados em
relação à atual fase metodológica do processo, a teleológica, e pesquise
por iniciativas do Poder Judiciário no sentido de atender aos mais
diversos objetivos sociais, econômicos e políticos da nossa sociedade, de
modo a relacionar cada iniciativa a um objetivo.

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