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A LINGUAGEM DO ANÚNCIO PUBLICITÁRIO: UMA

ABORDAGEM TEXTUAL NO 9º ANO DA EMEIF SANTA


TEREZINHA.

Autora: Rosivanda Barros de Melo1


Orientador: Jaelson do Carmo Cardoso Castro2
10/12/2018

Resumo

Este artigo pretende expor os pontos significativos do estudo com os Gêneros Textuais nas aulas de
Língua Portuguesa, em substituição aos modelos de aulas tradicionais que não visam o ensino de
língua eficaz. A metodologia faz uso do gênero textual anúncio publicitário, partindo de uma
profunda análise textual, objetivando com isso, sugerir propostas de leitura e atividades dinâmicas
através dos gêneros do discurso a fim de solucionar alguns dos problemas referentes ao ensino-
aprendizagem de língua, tais como dificuldade de leitura e interpretação textual, o que tem resultado
ao fracasso escolar de muitos alunos. Os resultados obtidos revelam que a fuga da rotina
metodológica coligada a um ensino planejado pode gerar uma aprendizagem expressiva, na qual os
alunos realmente interpretam/compreendem através dos elementos que compõem o texto
relacionando as linguagens entre si e assim construindo o sentido do texto.

Palavras-Chave: Gênero Textual. Anúncio publicitário. Interpretação.

Abstract
This article intends to expose the significant points of the study with the Textual Genres in
Portuguese Language classes, replacing traditional classroom models that do not aim at effective
language teaching. The methodology makes use of the textual genre advertising, starting from a
deep textual analysis, aiming at this, to suggest reading proposals and dynamic activities through
the discourse genres in order to solve some of the problems related to language teaching and
learning, such as difficulty in reading and textual interpretation, which has resulted in the school
failure of many students. The results show that the escape from the methodological routine linked to
a planned teaching can generate an expressive learning, in which the students really interpret /
understand through the elements that compose the text relating the languages to each other and thus
building the meaning of the text.

Key-words: Textual Gender. Advertising announcement. Interpretation.

1- INTRODUÇÃO

Há muito tempo, o ensino de Língua Portuguesa nas escolas brasileiras foi trabalhado
descontextualizado da realidade do aluno comtemplando apenas a gramática normativa e assim

1
Licenciada plena em Letras – Língua Portuguesa pela Universidade Federal do Pará (UFPA). E-mail:
rosivandam@yahoo.com.br
2
Tutor do curso de Pós-Graduação do Centro Universitário Leonardo da Vinci (Uniasselvi), mestre em Educação e
Cultura pela Universidade Federal do Pará (UFPA). E-mail: Jaelsonc3@hotmail.com
2

formando um modelo que ainda perdura em muitas escolas, cuja metodologia puramente tradicional
deixa consequências no próprio falante. Nesse contexto surgem os mitos que circundam tal
disciplina de que “Português é difícil”, “Não sei falar e escrever direito”, “O português de Portugal
é mais correto” etc. e outros problemas relacionados às dificuldades em ler e interpretar textos
criando-se uma aversão à própria língua materna, esta, vista por muitos como assustadora porque
exige muito do alunado.

Na tentativa de solucionar ou amenizar a problemática, as intervenções são imprescindíveis


quando se pretende um ensino de língua eficaz e produtivo que promova o desenvolvimento das
habilidades e competências linguísticas dos discentes, com o intuito de torná-los críticos e capazes
de transformar a realidade como um sujeito ativo e participante da sociedade que o rodeia.

Conforme Os PCN’s de Língua Portuguesa “Toda educação comprometida com o exercício


da cidadania precisa criar condições para que o aluno possa desenvolver sua competência
discursiva”. Tal competência está relacionada à capacidade que o sujeito tem de utilizar a língua em
variadas situações de comunicação causando assim diferenças nos efeitos de sentidos, como
também a utilização de todos os níveis e modalidades de linguagem.

Diante do exposto, propõe-se a análise do Gênero Textual Anúncio Publicitário no 9º ano da


EMEIF Santa Terezinha por entendê-lo como um gênero altamente interpretativo que instigam no
aluno a curiosidade de querer descobrir as diversas vozes implícitas e subentendidas no discurso,
bem como, pelas dificuldades observadas no diz respeito ao eixo Leitura. Segundo a BNCC (2017,
p.64):

O eixo Leitura compreende a aprendizagem da decodificação de palavras e textos (o


domínio do sistema alfabético de escrita), o desenvolvimento de habilidades de
compreensão e interpretação de textos verbais e multimodais e, ainda, a identificação de
gêneros textuais, que esclarecem a contextualização dos textos na situação comunicativa, o
que é essencial para compreendê-los. São também constituintes essenciais desse eixo, por
sua relevância para a compreensão e interpretação de textos, o desenvolvimento da fluência
e o enriquecimento do vocabulário.

Além disso, a propaganda pertence ao tipo textual argumentativo, o que contribui muito com
o ensino da Língua Portuguesa, ou seja, há múltiplas e diferenciadas maneiras de explorá-la e
inseri-la em sala de aula.

Para tanto, esta pesquisa fundamenta-se nas teorias sobre Gêneros do discurso de Mikhail
Bakhtin, que relaciona todas as esferas da atividade humana, por mais variadas que sejam com a
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utilização da língua; a ênfase também é dada aos PCN’s de Língua Portuguesa de 5ª a 8ª série, que
orientam um ensino pautado nos gêneros do discurso, assim como nas normas da BNCC e nas
concepções de Nelly de Carvalho sobre aspectos usados pela publicidade para influenciar o
consumidor. O último foi explorado na sua forma interpretativa, a fim de avaliar o nível de
interpretação dos alunos em relação ao texto.

A pesquisa fora realizada na EMEIF “Santa Terezinha”, uma escola de grande porte, situada
na periferia da cidade, que atende alunos tanto da zona urbana quanto da zona rural, com a
Educação Infantil, Ensino Fundamental e Educação de Jovens e Adultos (EJA).

A turma que serviu de base para a análise foi o 9º ano “U”, turno vespertino, composta de 25
alunos, sendo 08 meninos e 17 meninas todos na faixa etária entre 13 e 17 anos. É uma turma
atípica (geralmente alunos desse nível de ensino apresentam determinação nos estudos e um
comportamento melhor, uma vez que estão a um passo do Ensino Médio) e pouco participativa, isto
dificulta o desenvolvimento e o êxito nos resultados escolares.

A intervenção pedagógica na turma contou com a sondagem dos conhecimentos prévios


sobre o gênero seguidas de aulas expositivas e dialogadas concernentes aos tipos de anúncio,
estrutura, linguagem e outros elementos importantes para a interpretação. Por fim, a apresentação de
um anúncio com questões interpretativas.

Baseando-se em Gil (1999 apud SILVA, 2009, p. 48) a pesquisa aplicada foi do tipo
“Básica” por pretender lançar propostas e inovar as metodologias das aulas de língua portuguesa.
Quanto à abordagem do problema far-se-á uso da pesquisa “Quali-quantitativa”, pois busca traçar
um perfil da turma em números e ainda observar a relação entre o conhecimento de mundo do aluno
e o texto.

Sabe-se que os anúncios publicitários são textos produzidos para expor, com objetivo de
provocar uma mudança no comportamento do interlocutor, ou seja, tentar persuadi-lo. O gênero em
questão também objetiva a divulgação de uma marca ou uma ideia, por isso tentamos explorar a
temática da prevenção dos acidentes de trânsito, visto que é um assunto trágico e que analisa nossas
atitudes e responsabilidades para com vida.

2- GÊNERO TEXTUAL
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Fundamentando-se nos conceitos bakhtinianos, podemos compreender que gêneros textuais


ou gêneros do discurso são textos que se materializam em situações comuns de comunicação
apresentando uma caracterização nos padrões sócio comunicativos definidos por composição
funcional, objetivos enunciativos e estilo. Para esclarecer Bakhtin (2000, p. 279) define as três
características de um gênero como sendo o conteúdo temático, o estilo e a construção
composicional, estes, segundo o autor “fundem-se indissoluvelmente no todo do enunciado, e todos
eles são marcados pela especificidade de uma esfera de comunicação”.

Os atributos descritos acima são bastante perceptíveis em um determinado texto, tanto é


possível defini-lo como oral ou escrito, formal ou informal e/ou aos tipos textuais: narrativo,
descritivo, dissertativo, argumentativo e injuntivo. Diante disso, tanto um, quanto outro deve ser
explorado em sua essência com a turma.

Ainda segundo Bakhtin (2000) “Qualquer enunciado considerado isoladamente é, claro,


individual, mas cada esfera de utilização da língua elabora seus tipos relativamente estáveis de
enunciados, sendo isso que denominamos gêneros do discurso”.

As variedades existentes dos gêneros do discurso são infinitas, chegando a ser incontáveis, e
ainda sendo impossível a comunicação senão por meio deles. Cada esfera dessa atividade permite
um repertório de gêneros do discurso que vai caracterizando e evoluindo-se à medida que a própria
esfera se desenvolve e fica mais complexa, é o que Bakhtin distingue como gêneros primários e
secundários. Estes estão presentes em situações de uma comunicação cultural, mais complexa e
evoluída, principalmente na modalidade escrita, enquanto que, os primários, surgem nas situações
momentâneas do cotidiano, como, por exemplo, o bilhete.

A classificação acima se destina a uma melhor organização do ensino da expressão oral e


escrita. Dessa forma, tal organização torna o estudo sobre os gêneros do discurso mais orientado,
sendo tarefa do professor a escolha do gênero a ser trabalhado em sala de aula, de acordo com a
adequação à turma e ao objetivo a ser alcançado dentro do ensino de língua.

Devido à grande diversidade de gêneros existentes, é impossível trabalhar todos eles na


escola. Os PCNs (1998, p. 53) afirmam que “é preciso priorizar os gêneros que merecerão
abordagem mais aprofundada”, por isso, optamos pelo anúncio publicitário pelos critérios já
expostos e também em virtude de a publicidade ter a função de influenciar diretamente o ânimo das
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pessoas no sentido de levá-las a adquirir o produto que anuncia, retratando ideias, valores, modos de
pensar etc. A análise de textos publicitários permite observar também que eles apresentam inúmeras
regularidades linguísticas e semânticas.

Para tornar as aulas de Língua Portuguesa mais prazerosa em que o aluno possa desenvolver
a capacidade de ler e interpretar os mais variados textos, assim como, produzi-los, é necessário
levar para a sala de aula, os gêneros mais próximos da realidade dos discentes e estes encontrarão
maior facilidade tanto na leitura quanto na produção, uma vez que, são gêneros do seu convívio
social. A esse respeito, os PCN’s sugerem que:

Nessa perspectiva, necessário contemplar, nas atividades de ensino, a diversidade de textos


e gêneros, e não apenas em função de sua relevância social, mas também pelo fato de que
textos pertencentes a diferentes gêneros são organizados de diferentes formas. A
compreensão oral e escrita, bem como a produção oral e escrita de textos pertencentes a
diversos gêneros, supõem o desenvolvimento de diversas capacidades que devem ser
enfocadas nas situações de ensino. É preciso abandonar a crença na existência de um
gênero prototípico que permitiria ensinar todos os gêneros em circulação social.

Nesse sentido, os gêneros textuais em sala de aula nos direcionam para a elaboração e
execução de aulas criativas, a partir das quais os alunos sintam-se livres para opinar, debater etc.
deixando para trás o ensino tradicional de Língua Portuguesa que não instigam a capacidade de
raciocínio nem um ensino significativo de línguas.

O contato com gêneros diversificados nas modalidades oral/escrito e níveis formal/informal


é totalmente eficaz quando se pretende o alcance das competências linguísticas e habilidades
envolvidas no uso da palavra formando assim, indivíduos capazes de utilizar o discurso adequado à
situação comunicativa.

É importante salientar, que não devemos usar o estudo dos gêneros na sala de aula como
pretexto para o ensino de regras gramaticais e sim como objeto de estudo para um ensino
contextualizado explorando os eixos da leitura, escrita, oralidade, conhecimentos linguísticos e
gramaticais.

3- ANÚNCIO PUBLICITÁRIO

A origem da palavra “Publicidade” remonta à Antiguidade Clássica que tinham sua atividade
voltada aos anúncios de combates dos gladiadores e se referiam às variadas casas de banho que
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existia na cidade. Essas atividades eram realizadas por pregoeiros que divulgavam vendas de
animais, escravos, etc., através da oralidade.

Em tempos atuais, o Anúncio Publicitário relaciona-se com o tornar público, propagar algum
produto ou ideia. Não é raro sairmos à rua e logo nos depararmos com uma grande quantidade de
anúncios, seja através de outdoor, banner, panfletos, carros-som... Todos objetivando algo em
comum que é de convencer o interlocutor e fazê-lo comprar um produto ou mudar de opinião e,
consequentemente de atitude referente a uma causa.

A linguagem do Anúncio é fundamental para que o aluno ou interlocutor faça uma


interpretação precisa e para que o objetivo da mensagem seja repassado plenamente. Há múltiplas
estratégias de o publicitário apresentar o discurso podendo visual, televisivo, impresso, auditivo
e/ou audiovisual.

Como já dizia MEIRELES (1985) em seu poema “Ai, palavras, ai, palavras
que estranha potência a vossa!” e a publicidade vale-se dessa força e poder que as palavras têm
para usá-las como recurso linguístico afim de criar, prometer, influenciar o locutário através da
linguagem. Para que um anúncio alcance seus objetos precisa-se de um composto de elementos, tais
como: caráter comercial e social; linguagem verbal e não verbal; textos curtos e argumentativos;
verbos no imperativo; uso de cores, imagens e fotografias; intertextualidade e criatividade.

Conforme argumenta Carvalho (2006, p. 18) que, na publicidade:

A palavra deixa de ser meramente informativa, e é escolhida em função de sua força


persuasiva, clara ou dissimulada. Seu poder não é simplesmente o de vender tal ou qual
marca, mas integrar o receptor à sociedade de consumo. Pode-se, eventualmente, resistir ao
imperativo (“compre”), mas quase sempre se atende ao indicativo.

Nessa perspectiva, para Bolinger (1980, p. 17 apud CARVALHO, 2006, p. 18) destaca que
“com o uso de simples palavras, a publicidade pode transformar um relógio em joia, um carro em
símbolo de prestígio e um pântano em paraíso tropical”, ressaltando nesse ponto, o vigor assumido
pela linguagem publicitária frente à sociedade consumista.

Diante da relevância da publicidade na vida das pessoas é oportuna a inserção desse domínio
discursivo em sala de aula apresentando-se com certa particularidade, pois nessas situações, o
gênero deixa de ser exclusivamente ferramenta de comunicação para tornar-se objeto de ensino e
aprendizagem.
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A intervenção pedagógica que envolve esta pesquisa se justifica pelas dificuldades dos
discentes em ler, compreender e interpretar a linguagem publicitária, bem como de fazer uso de sua
“bagagem” cultural relacionando com assuntos presentes no gênero em questão. Nesse sentido, o
Anúncio Publicitário exercita e desenvolve as habilidades relacionadas à interpretação textual, pois
faz uso de linguagem rica em múltiplos sentidos, além de preparar o aluno para futuros exames e
processos seletivos.

4- INTERPRETAÇÃO

Interpretar textos não é tarefa simples e fácil, pois nem sempre eles apresentam uma
linguagem literal exigindo aí que se faça a análise de vários elementos textuais. Além de decodificar
é preciso “debruçar-se” sobre a leitura criando intertextualidades, lendo as entrelinhas e conversar
sobre o que se leu seja concordando, discordando ou até criando novos sentidos.

Conforme afirma Koch (2006, p. 17) “O sentido de um texto é, portanto, construído na


interação texto-sujeitos (ou texto co-enunciadores) e não algo que preexista a essa interação”.
Portanto, para que o sentido de um texto seja construído em sua plenitude e, consequentemente
interpretado, é imprescindível essa interação onde os sentidos articulados podem estar até ausentes
do texto, mas são construídos a partir dele, em situações de interação social.

Ao desenvolver este artigo buscou-se aprofundar os conhecimentos referentes ao Anúncio


Publicitário, ampliar a capacidade interpretativa, no sentido da atenção e detalhes dos elementos
textuais atentando para a relação entre linguagem verbal e não verbal, bem como a inferência da
intertextualidade presente no texto e ainda discutir os problemas encontrados na interpretação do
texto propondo soluções e melhorias para as aulas de Língua Portuguesa.

Nesse contexto foi proposto a apresentação de um anúncio publicitário do Colégio Brasileiro


de Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial, retirado da internet como mostra a figura abaixo.

Figura 1: Anúncio Publicitário


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Fonte: Jornal da Parnaíba.

Foram formuladas algumas questões com o objetivo de avaliar o nível de interpretação e


principalmente, auxiliar na compreensão do texto. Os questionamentos, nessas situações, servem
para que o aluno analise o texto buscando as respostas para as incógnitas lançadas.

4.1 ANÁLISE E RESULTADOS

Com base no anúncio publicitário da figura 01, os alunos puderam responder a 03 (três)
questões objetivas explicitadas abaixo e 07 (sete) subjetivas, totalizando 10 (dez).

1- Qual o objetivo do texto?


(A) falar sobre a importância de ingerir bebidas.
(B) motivar os clientes de bares a visitarem o colégio de cirurgia e traumatologia.
(C) vender um produto.
(D) alertar motoristas e motociclistas para o risco de dirigir sob efeito de álcool, bem como a
prevenção ao traumatismo facial.

2- Que tipo de linguagem é predominante no texto?


(A) verbal.
(B) não verbal.
(C) verbal e não verbal.
(D) literária.

3- O texto em estudo é um exemplo de gênero...


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(A) Anúncio publicitário.


(B) notícia.
(C) reportagem.
(D) charge.

As alternativas assinaladas pelos alunos são apresentadas no gráfico a seguir:

Gráfico1: Questões objetivas


25

20
Número de alunos

15
A
B
10 C
D

0
1ª Questão 2ª Questão 3ª Questão
Questões marcadas

Fonte: Autoria própria

De uma turma de 25 alunos, 22 estavam presentes e realizaram a atividade. A 1ª questão


obteve acerto por unanimidade; já a 2ª, o número de acertos diminuiu consideravelmente, uma vez
que apresentava como alternativa correta a letra “C” havendo apenas 8 acertos e na 3ª, 18 alunos
acertaram assinalando a letra “A”.

Ficou evidente a capacidade de análise e observação de informações explícitas no texto, uma


vez que todos conseguiram entender o seu objetivo. Com relação à identificação da linguagem
verbal e não verbal, percebe-se o desconhecimento por 14 alunos da turma, mas quando se trata do
reconhecimento do gênero, o resultado é favorável, visto que apenas 4 alunos não conseguiram
êxito.

As questões discursivas compreendem ao momento mais difícil da interpretação, pois além


do esforço de os alunos tentarem responder os questionamentos de forma coerente e coesa, é
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necessário que os mesmos observem a função e o objetivo de cada elemento presente no texto. No
momento, os mesmos responderam os questionamentos seguintes:

4- Quem é o anunciante do gênero em questão?

5- O texto é direcionado a qual público alvo?

6- Explique a intertextualidade presente na frase “Se beber vá de táxi”.

7- A disposição da expressão “lei seca” produz um efeito no texto. Explique.

8- É comum na publicidade, o uso dos verbos no imperativo. Que importância tem para o
texto as formas verbais “vá” e “proteja”?

9- O que em comum entre a imagem e o texto do anúncio?

10- Que argumento foi utilizado no anúncio para convencer o leitor?

Analisar respostas discursivas é tarefa difícil para um professor, visto que não existe uma
resposta única e correta, mas sim discursos aproximados daquilo que se espera encontrar como
respostas. Nesse sentido foram observadas as seguintes proposições para um total de 22 alunos:

4.1.1 Anunciante do gênero

Neste item se obteve 12 respostas consideradas corretas, 10 não apresentavam relação com o
objetivo da questão e 1 não respondeu. A maioria da turma correspondeu ao esperado, uma vez que
a informação que se buscava encontrar estava explícita no texto.

4.1.2 Público alvo

Quando se tratou do direcionamento da mensagem, 15 alunos responderam positivamente.


Se o texto objetiva a prevenção de acidentes e trauma, logo fica evidente que o anúncio pretende
alcançar os condutores de veículos que frequentam festas e bares.
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4.1.3 Intertextualidade

A descoberta do intertexto é de suma importância para a construção do sentido do texto. Na


referida questão, apenas 1 aluno mencionou a fonte intertextual presente no anúncio esclarecendo
que a intertextualidade era um tanto irônica e referia-se a música da cantora Angélica, cujo trecho
diz: “Vou de táxi, cê sabe...”.

Conforme enfatiza Koch (2007, p. 63) que ‘A intertextualidade implícita ocorre sem citação
expressa da fonte, cabendo ao interlocutor recuperá-la na memória para construir o sentido do texto,
como nas alusões, na paródia, em certos tipos de paráfrase e ironia”. Nesse sentido, a
intertextualidade no anúncio dependia do conhecimento de um outro texto, digo da canção para que
o interlocutor pudesse relacionar entre si e assim interpretá-lo.

4.1.4 Efeito de sentido

Pretendia-se nesta questão que o aluno fosse capaz de reconhecer o efeito de sentido
decorrente da expressão “lei seca” reportando-se à maneira como ela estava disposta no texto.
Apenas 3 alunos apresentaram resposta aproximada fazendo relação com a batida de carro ou o
resultado de um acidente, pois a expressão referida apresentava-se em formato “trincada” alertando
para a possibilidade do condutor e também do carro sofrerem consequências desse tipo.

4.1.5 Análise gramatical/ Importância do modo imperativo

Dentre os elementos presentes na linguagem publicitária, um dos que chamam atenção é a


presença de formas verbais no modo imperativo e são importantes para o alcance do anúncio, uma
vez que expressam pedido, ordem, desejo etc, além de pretender influenciar o interlocutor a mudar
de comportamento ou atitude. Uma minoria (8 alunos) reconheceu a importância das formas “vá” e
“proteja” como elementos valorosos e que direciona a mensagem do texto.

4.1.6 Relação imagem X texto


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Nesta questão se obteve um número significativo de acertos, pois 15 alunos compreenderam


o texto utilizando a linguagem verbal como informação adicional e puderam relacionar a imagem
do crânio com o objetivo da campanha de proteger a face e evitar traumas buco-maxilo-facial.

4.1.7 Linguagem persuasiva

É fato que a linguagem publicitária é extremamente convincente no que diz respeito aos
recursos linguísticos e outros aspectos visuais. Na tentativa de convencer o interlocutor, o
argumento baseia-se em uma condição “Se beber vá de táxi. Proteja sua face.” reforçado pela
linguagem não verbal do texto e, ao ignorar esta condição, o condutor poderá a vir sofrer um
acidente. A questão apresentou resultado satisfatório com 13 respostas consideradas corretas.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta pesquisa mostrou as dificuldades enfrentadas por alunos ao interpretar textos com uma
linguagem mais complexa embasando-se na proposta de trabalhar o Gênero textual “Anúncio
Publicitário” no 9º ano partindo de uma análise textual.

Os resultados foram satisfatórios em parte, uma vez que as questões mais evidentes
obtiveram um número significativo de respostas consideradas corretas, em contrapartida, quando se
pretendeu identificar o efeito que uma palavra ou expressão produz no texto e reconhecer o
intertexto através de conhecimentos prévios, os alunos alcançaram números negativos evidenciando
o baixo desempenho referente a elementos considerados relevantes para uma interpretação
propriamente dita.

Os dados analisados revelam que a dificuldade em interpretar textos é um problema


frequente nas aulas de Língua Portuguesa, por isso a proposta de explorar a linguagem publicitária
pautada na leitura e na interpretação é bastante produtiva e inovadora, pois além de desenvolver o
raciocínio, exercita questionamentos considerados difíceis exigindo mais ainda do aluno.

Além dos autores referenciados neste artigo, os PCN's também sugerem que o ensino de
Língua Portuguesa deve ser feito à base dos gêneros discursivos e ainda a BNCC complementa
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ressaltando que o texto “é o centro das práticas de linguagem [...] mas não apenas o texto em sua
modalidade verbal”. Existe uma grande e variedade de gêneros que circulam no meio social e que
se articulam com o verbal, o visual, o gestual etc.

Enfim, cabem aos professores, dispostos em mudar a realidade, a criar metodologias capazes
de desenvolver a criticidade e a capacidade interpretativa através do estudo dos gêneros discursivos
nas aulas e Língua Portuguesa.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BAKHTIN, Mikhail. Gêneros do discurso. In:________________. Estética da criação verbal. São


Paulo: Martins Fontes, 2003.

BRASIL, SEF. Parâmetros Curriculares Nacionais. Língua Portuguesa: 5ª a 8ª série. Brasília:


SEF, 1998.

BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular–BNCC 2ª versão. Brasília,


DF, 2016.

CARVALHO, N. Publicidade: a linguagem da sedução. 3. ed. São Paulo: Ática, 2006.

JORNAL DA PARNAÍBA. Cirurgiões Buco-Maxilo-Facial promovem Campanha de


Prevenção do Trauma de Face no PIAUÍ. Disponível em: <
http://www.jornaldaparnaiba.com/2014/11/cirurgioes-buco-maxilo-facial-promovem.html> Acesso
em: 17 de outubro de 2018.

KOCH, Ingedore Grunfeld Villaça. O texto e a construção de sentidos. 9. Ed. São Paulo:
Contexto, 2007.

______________________________. Desvendando os segredos do texto. 5. Ed. São Paulo:


Cortez, 2006.

MEIRELES, C. Obra poética. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1985 (fragmento).


SILVA, Renata; URBANESKI, Vilmar. Metodologia do trabalho científico. Indaial: ASSELVI,
2009.

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