A Teoria do Desenvolvimento Geográfico Desigual de David Harvey visa
compreender o funcionamento do capitalismo num âmbito geográfico, apontando como a dinâmica da acumulação do capital pode alterar o espaço e as formas de espacialidade, gerando desigualdades entre os territórios. Os desenvolvimentos geográficos são considerados por Harvey, como fortemente influenciados pela acumulação do capital, pela ação do homem na natureza (inserção material na ‘teia da vida’ sócio-ecológica), pela busca de redução do tempo de giro do capital (compressão espaço-tempo) e pelos conflitos territoriais em diferentes escalas geográficas (municipal, estatal, regional, nacional, internacional); isto é, por suas quatro condicionalidades (HARVEY, 2006). Para isso, propõe o “utopismo dialético”, uma forma de utopismo espaço- temporal, em que o processo de produção destas duas dimensões - espaço e tempo - terão de ser incorporados ao pensamento utópico, para pensarmos o utopismo hoje. Seu propósito é, no entanto, instigar-nos a esta tarefa, convocando-nos a sermos “arquitetos de nosso próprio destino e de nossa própria sorte”, convertendo a esfera do trabalho, em uma sementeira de capacidades e potencialidades humanas a fim de mudar o mundo e a nós mesmos. Pensa isto em contraponto ao status degradado e detestável de uma “abelha operária” sob o capitalismo, a redução do ser social à “marionetes dos mundos institucionais e imaginativos que habitamos”, baseando-se nas reflexões de Unger. Baseado na ideia de que o “homem”, ou o “corpo” é a medida de todas as coisas, ele irá fazer uma série de analogias deste com o ambiente e com a mercadoria. E irá reforçar a ideia de que neste ser uno, como membro de um conjunto, pode estar a solução para as questões de conflitos existentes no mundo. É neste momento, que o autor, que Harvey retoma a questão do tempo e do espaço, já tratada por ele em seu outro livro a Condição Pós-Moderna. Aqui, ele afirma que as necessidades do corpo são fixadas e sabidas em um dado espaço e num dado tempo e que este serão determinante. Ele afirma: “há [...] a necessidade de persuadir as pessoas a ver para além das fronteiras do míope mundo da vida cotidiana que todos habitamos necessariamente” (HARVEY, 2004, p. 310) e que os interessem, as práticas políticas e arquitetônicas, inseridas em um dado tempo e em um dado espaço, têm condições de “moldar os outros a se adaptar a suas concepções e desejos pessoais e particulares” (HARVEY, 2004, p. 308) e que, portanto, todos os fatores aí envolvidos se expressam e são determinantes nesta concepção de “pessoa”. É nesta direção que Harvey convoca a todos para sermos “arquitetos rebeldes”. Para reservar e produzir um espaço não apenas para a reflexão crítica, mas, sobretudo, para o florescimento desta autotransformação. Onde a negociação, “que está sempre na base de todas as práticas políticas e arquitetônicas” e que “envolve as pessoas que buscam transformar umas às outras e ao mundo, assim como a si próprias” (HARVEY, 2004, p. 309) possa ser utilizada como ferramenta neste processo de renovação. Na minha concepção a intenção do autor é nos provocar a pensar alternativas, a pensarmos e agirmos de outra maneira, a partir da construção de uma política de coletividades, momento crucial da tradução do pessoal e do político num terreno mais amplo de ação humana, numa perspectiva longa e permanente de revolução. O nos parece sugerir é mudar de nível, transcender as particularidades e chegar a alguma concepção de alternativa universal sobre compromissos pessoais e projetos políticos, baseado no conceito de “interesse da espécie”. Trata-se de um esforço espinhoso, pois envolve uma tradução do concreto ao abstrato, a busca de um ponto de encontro ou terreno comum, nos colocando diante de questões como pensar o direito universal à auto expansão, à expansão da vida baseando-se nas colocações de Naess, Rothenberg, e mais que isso concebendo o desenvolvimento geográfico desigual como um direito e não como uma necessidade capitalista imposta. Como aponta, o autor, Harvey, traz nesse sentido, contribuições para pensar e ler na produção do espaço humano a produção de uma “geografia da esperança”.