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Diante das vítimas e óbitos ocasionados por conta das substâncias monoetilenoglicol e o

dietilenoglicol, que seriam utilizados em sistemas de refrigeração, durante a produção das cervejas
Backer, mas que por alguma razão foram encontradas dentro de algumas garrafas, destinadas ao
consumo, medidas, no âmbito civil e administrativo já foram tomadas.

No que se refere à responsabilidade civl, o Tribunal de Justiça de Minas Gerais, acatou um


recurso da cervejaria, expedindo um acórdao para bloquear até R$ 5 milhões de bens da empresa.
Ainda, de acordo com advogados da área, a respnsabilidade civil, da empresa, é objetiva, ou seja,
independente da existência de culpa. A cervejaria deverá prestar auxílio e reparar danos sofridos por
todos os que foram contaminados com a bebida. O entendimento do STJ é que quando o consumidor
tem uma simples exposição do risco à saúde, já o é suficiente para configurar abalo moral, ou seja, o
mesmo nao precisa ter sido, necessariamente, intoxicado pelas substâncias encontradas nas garrafas.

A responsabilidade penal, trata de um estudo acadêmico e não fático, pela ausência de


informações conclusivas no inquérito policial que investiga o caso, até o momento. Portanto, nosso
grupo selecionou alguns artigos que se enquadrariam na conduta do suposto agente deste crime não
solucionado, com base em jurispruências de Tribunais e na doutrina:

De acordo com o acórdão do TJ do Estado do Paraná da apelação nº 1.212.679-1, por decisão


unânime dos Desembargadores, entendeu ser caso de absolvição da ré Vanessa Barbosa Zaika em razão
de fundada dúvida quanto sua autoria delitiva por falta de provas, com base no artigo 386, inciso VII, do
Código Penal. A conduta da ré , de acordo com testemunhos controvérios em juízo e extrajudicialmemte,
onde a mesma colocou veneno na merenda de uma escola Estadual, destinada aos funcionários e
alunos, estaria tipificada no artigo 270, do Código Penal (Envenenamento de água potável ou de
substância alímentícia ou medicinal):

"Art. 270 - Envenenar água potável, de uso comum ou particular, ou substância alimentícia ou medicinal destinada
a consumo:

Pena - reclusão, de dez a quinze anos.

§ 1º - Está sujeito à mesma pena quem entrega a consumo ou tem em depósito, para o fim de ser distribuída, a
água ou a substância envenenada.

Modalidade culposa

§ 2º - Se o crime é culposo:

Pena - detenção, de seis meses a dois anos."

O caso presente, também deve seguir a fundamentação dos Desembargadores do exposto


acima, pelo fato das investigações, até o momento, não encontrarem o agente responsável pela conduta
que deixou chegar até os consumidores as substâncias tóxicas. Imaginemos que o autor foi encontrado e
o mesmo agiu com dolo, ou seja, intenção (dolo direto) ou assumiu o risco (dolo eventual) de matar ou
deixar sequelas na coletividade que ingeriu a cerveja. Deve portanto, ser responsabilizado pelo artigo
270, do Código Penal. Tal crime pode ser praticado por ação quanto por omissão, como no caso do
agente, sabendo da presença das substâncias da cerveja, (não no processo produtivo, pois era permitido
durante a ocorrência dos fatos, mas sim, durante a entrega dos lotes para serem vendidos e consumidos,
posteriormente) nada faz para impedir o resultado do crime.

O agente, caso seja comprovado, pode responder pela forma culposa, de acordo com o § 2º, do
artigo 270, quando o mesmo agir com imprudência, imperícia ou negligência.

Caso seja confirmada alguma suposta sabotagem de ex-funcionário, ou seja, com dolo (seja
direto ou eventual), o mesmo poderá responder pelo artigo 272, §1º do Código Penal (Falsificação,
corrupção, adulteração ou alteração de substância ou produtos alímentícios):

"Art. 272 - Corromper, adulterar, falsificar ou alterar substância ou produto alimentício destinado a consumo,
tornando-o nociva à saúde ou reduzindo-lhe o valor nutritivo: (Redação dada pela Lei nº 9.677, de 2.7.1998)

Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa. (Redação dada pela Lei nº 9.677, de 2.7.1998)

§ 1º-A - Incorre nas penas deste artigo quem fabrica, vende, expõe à venda, importa, tem em depósito para vender
ou, de qualquer forma, distribui ou entrega a consumo a substância alimentícia ou o produto falsificado,
corrompido ou adulterado. (Incluído pela Lei nº 9.677, de 2.7.1998)

§ 1º - Está sujeito às mesmas penas quem pratica as ações previstas neste artigo em relação a bebidas, com ou
sem teor alcoólico.

§ 2º - Se o crime é culposo:

Pena- detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos, e multa."

Caso seja comprovado nas investigações da Polícia Cívil que, de fato, o agente que fez a
sabotagem (crime doloso direto) ou assumiu algum risco do, possível, resultado (crime doloso
eventual), responde de forma qualificada dos artigos 270 ou 272, CP de acordo com o artigo 258
do Código Penal, caso resulte em lesão corporal de natureza grave (artigo 129, § 1º, CP) ou morte (artigo
129, § 3º, CP). De acordo com últimas notícias, já são 11 vítimas, confirmadas, contaminadas, sendo
sete as que evoluíram para óbito. Portanto, a forma qualificada, se enquadraria perfeitamente:

"Art. 258 - Se do crime doloso de perigo comum resulta lesão corporal de natureza grave, a pena privativa de
liberdade é aumentada de metade; se resulta morte, é aplicada em dobro. No caso de culpa, se do fato resulta
lesão corporal, a pena aumenta-se de metade; se resulta morte, aplica-se a pena cominada ao homicídio culposo,
aumentada de um terço."
Verificando que existe erro por negligência, imprudência ou imperícia, a Cervejaria
Backer poderá ser responsabilizada pelo crime previsto no artigo 272, apenas na modalidade
culposa. Segundo Rogério Sanches Cunha, pode o crime ocorrer também de forma omissiva, na
hipótese em que o agente não se atenta as cautelas necessárias a impedir que o produto seja
corrompido, por exemplo. Neste caso o agente atuaria com negligência, respondendo pelo
artigo 272, parágrafo 2º (modalidade culposa).

A responsabilidade penal é um pouco mais difícil de ser provada, pois deve haver prova
de que alguém, por dolo ou culpa, inseriu substância tóxica na cerveja e que essa conduta tem
relação de causalidade com os problemas de saúde. O problema é saber a quem responsabilizar.
O inquérito, até o presente momento, constatou que o monoetilenoglicol e o dietilenoglicol, eram
utilizados em sistemas de refrigeração, e, por meio das provas periciais e testemunhais, devem provar
por qual razão foram encontradas, dentro de algumas garrafas, tais substâncias.

Com base no artigo 173, § 5, da Constituição Federal, tem-se a responsabilidade penal objetiva
da empresa, por meio dos seus sócios gerentes nos atos praticados contra a ordem econômica e
financeira e contra a economia popular, ou seja, podem ser responsabilizados por fatos ilícitos de outrem
na empresa, pelo simples fato do objetivo essencial da atividade, que é a obtenção de lucro. Uma tese,
que é defendida em muitas lides forenses.

Entretanto, esta tese que é embasada em muitas peças acusatórias é, de fato, um retrocesso
jurídico que se confronta com garantias da própria Constituição Federal e, diretamente, com o artigo 41
do Código de Processo Penal que assim estipula:

"Art. 41- A denúncia ou queixa conterá a exposição do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias, a
qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identifica-lo, a classificação do crime e, quando
necessário, o rol das testemunhas".

Afirmar que o sócio gerente de uma empresa pode se responsabilizar por ilícitos
cometidos por algum funcionário, não condiz com o entendimento doutrinário e majoritária
jurisprudência dominante em nossos Tribunais Superiores. Portanto, a denúncia ou queixa deve
ser individualizada, apenas, pelo agente que cometeu o crime.

Ademais, o grupo entendeu que é inaplicável a tese da responsabilidade penal objetiva


no caso da cervejaria. Entendemos que a solução mais plausível para a responsabilidade penal é
aguardar as investigações para que possam encontrar o agente e responsabilizá-lo,
devidamente.

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