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PRATICA JURÍDICA EM DIREITO DO TRABALHO.

AULA II

AO JUÍZO DE DIREITO DA _ VARA DO TRABALHO DA COMARCA DE


MATO GRANDE/RS

TIBÚRCIO PEDERNEIRAS, brasileiro, casado, operador de empilhadeira,


RG..., CPF 777.999.000-79, CTPS XX, PIS YY, residente e domiciliado na Rua
do Infinito, n. 100, Município de Gruta Santa/RS, CEP 66.444-888, e-mail...,
vem perante Vossa Excelência, por seu advogado que subscreve (endereço
completo...), com fulcro no artigo 840 da CLT, propor

RECLAMAÇÃO TRABALHISTA, PELO RITO ORDINÁRIO

Em face de DISTRIBUIDORA DE ALIMENTOS FALCATRUA LTDA., sediada


na Rua da Felicidade, nº 2, Mato Grande/RS, CEP 33.444-999, inscrita no
CPNJ nº. 11.345.777/0001-44, expondo e requerendo o que segue:

I – FATOS

Inicialmente, cumpre informar que o reclamante foi admitido pela reclamada em


11/08/2015, tendo sua CTPS devidamente anotada. No entanto, foi despedido,
por justa causa, em 30/06/2021, pelo motivo de estar embriagado.

Destaca-se que sua função constou anotada como sendo operador de


empilhadeira, percebendo como sua última remuneração o valor de R$
2.000,00 (dois mil reais) mensais, onde trabalhava das 08h às 17h15min, de
segunda a sábado, com 45min de intervalo, o qual era realizado das 12h às
12h45min, sendo liberado para lanchar das 15h às 15h15min. Fazia seu lanche
em uma lanchonete ao lado da empresa, uma vez que o empregador tinha
convênio com o local, razão pela qual o lanche custava o valor de R$10,00.

O reclamante foi afastado das atividades pelo INSS entre junho a dezembro de
2020 para tratar do seu vício com bebidas alcoólicas.

Não obstante, ao ser despedido, o empregador lhe ofendeu quando recebeu a


comunicação de sua dispensa, ocasião em que disse, na frente de outras
pessoas, que: “aguentou muito o trabalho dele, um ladrão, f. da p., burro, chato
e sem vergonha”.

II – REVERSÃO DA JUSTA CAUSA – REINTEGRAÇÃO

O reclamante foi dispensado por justa causa pelo argumento de que estava
embriagado no ambiente de trabalho, recebendo, neste ato, somente o saldo
de salário.

Destaca-se que o reclamante já foi afastado pelo INSS por causa de problemas
com bebida alcoólica, entre os meses de junho a agosto de 2019, ocasião em
que realizou um tratamento contra a doença.

No direito pátrio, vigora o princípio da preservação da função social do


trabalho, consagrado pela doutrina:

O art. 7º, I, da CF consagra o direito fundamental social dos trabalhadores à


proteção da relação de emprego contra a dispensa arbitrária ou sem justa
causa e, paralelamente, estabelece uma indenização compensatória, dentre
outros direitos, nos termos da lei complementar. (BEZERRA LEITE, Carlos
Henrique. Curso de Direito do Trabalho. 9a. ed. Saraiva, 2018).

Conforme a doutrina destaca, a Constituição Federal, em seu art. 3º, IV,


elenca, como um dos objetivos fundamentais da República Federativa do
Brasil, a erradicação do preconceito e de quaisquer outras formas de
discriminação.

Já o art. 7º, inciso I, da Constituição Federal dispõe como um dos direitos


fundamentais dos trabalhadores a proteção contra a despedida arbitrária na
relação de emprego:

Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que
visem à melhoria de sua condição social:

I - relação de emprego protegida contra despedida arbitrária ou sem justa


causa, nos termos de lei complementar, que preverá indenização
compensatória, dentre outros direitos.
Assim, considerando que dos fatos narrados não é possível extrair falta grave
que pudesse culminar com pena mais grave na relação trabalhista, qual seja, a
DEMISSÃO POR JUSTA CAUSA, tem-se por necessária a reversão da justa
causa.

De acordo com o art. 482, “f” da CLT, a embriaguez habitual engloba dois tipos
de justa causa por embriaguez: a embriaguez habitual e a embriaguez em
serviço.

Uma importa na violação da obrigação geral de conduta do empregado,


refletindo-se no contrato de trabalho (embriaguez habitual), enquanto a outra
consiste na violação da obrigação específica de execução do contrato
(embriaguez em serviço).
Assim, existe a distinção entre aquele funcionário que bebe esporadicamente e
acaba chegando ao trabalho alcoolizado, e entre a figura do ébrio, que é
considerado alcoólatra.
Nesse sentido, não deve ser considerado motivo de justa causa a embriaguez,
e sim uma patologia, ou seja, uma enfermidade, que deve ser tratada, posto
que já consta no Código Internacional de Doenças (CID – 10).

ALCOOLISMO. NÃO CARACTERIZAÇÃO DA JUSTA CAUSA.


REINTEGRAÇÃO. Revela-se em consonância com a jurisprudência desta casa
a tese regional no sentido de que o alcoolismo crônico, catalogado no Código
Internacional de Doenças (CID) da Organização Mundial da Saúde – OMS, sob
o título de Síndrome de dependência do álcool, é doença, e não desvio de
conduta justificador da rescisão do contrato de trabalho. Registrado no acórdão
regional que – restou comprovado nos autos o estado patológico do autor-, que
o levou, inclusive, - a suportar tratamento em clínica especializada não há de
se falar em configuração da hipótese de embriaguez habitual, prevista no art.
482, “f”, da CLT, porquanto essa exige a conduta dolosa do reclamante, o que
não se verifica na hipótese. Recurso Revista não conhecido, integralmente (RR
– 153000- 73.2004.5.0022, Relatora Ministra: Rosa Maria Weber, 3ª Turma.
Data de Publicação: 06/11/2009).

Diante disso, deveria o empregador afastar o empregado para que realizasse


seu tratamento e não o dispensar como forma da punição mais severa. Com
isso, requer-se a reintegração do empregado ao seu cargo de origem. Ainda,
não sendo possível a reintegração do reclamante, seja revertida a justa causa
em demissão normal, perfazendo ao pagamento de todas as verbas
rescisórias, no montante de R$...
III – INTERVALO INTRAJORNADA

O reclamante trabalhava de segunda a sábado, das 08h às 17h15min,


realizando o seu intervalo das 12h às 12h45min, apenas alimentando-se
rapidamente durante o tempo máximo de 45 minutos.

Percebe-se, nesse tempo, que não foi observado o disposto no artigo 71 da


CLT, portanto, havendo incidência do estabelecido no §4º. A reclamada,
contudo, jamais efetuou o pagamento da indenização devida.

Assim, requer seja a reclamada condenada ao pagamento do intrajornada


correspondente a 15 (quinze) minutos diários, com acréscimo de 50%
(cinquenta por cento) sobre o valor da remuneração da hora normal de
trabalho, de segunda a sexta-feira, ao longo de todo o contrato de trabalho,
conforme §4º do artigo 71 da CLT, no valor de R$....

IV – HORAS EXTRAS

O Reclamante cumpria a jornada de trabalho das 08h às 17h15min, de


segunda a sábado, com 45min de intervalo. A jornada diária do reclamante
ultrapassava o limite legal de 8 horas diárias e 44 horas semanais,
estabelecido pelo art. 7º, XIII da CF e art. 58 da CLT.

Assim, requer-se a condenação da reclamada ao pagamento das horas


extraordinárias, assim consideradas as excedentes da 8ª diária e 44ª semanal,
acrescidas do adicional de 50%, nos termos do art. 7º, XVI da CF. Ainda,
requerem-se os reflexos em repouso semanal remunerado, aviso prévio,
décimo terceiro salário, férias acrescidas do terço constitucional e FGTS com
multa de 40%, totalizando R$...

V – MULTA DO ARTIGO 477 DA CLT

O Reclamado não respeitou o prazo de 10 dias para pagamento das parcelas


rescisórias. Assim, descumprido o previsto no artigo 477, §6º, “b”, da CLT. Em
razão disto, requer-se a condenação do reclamado ao pagamento de multa no
valor equivalente ao seu salário, nos termos do §8º do artigo 477 da CLT.
VI – MULTA DO ARTIGO 467 DA CLT

Nos termos do art. 467, CLT, requer-se o pagamento das verbas rescisórias
incontroversas na data do comparecimento à Justiça do Trabalho, sob pena de
pagá-las acrescidas de 50% sobre o valor correspondente.

VII – DO DANO MORAL

Relata o reclamante que, no dia em que foi demitido, o representante legal da


empresa lhe ofendeu em público, na frente dos seus colegas de trabalho,
proferindo as seguintes ofensas: “aguentou muito o trabalho dele, um ladrão, f.
da p., burro, chato e sem vergonha”. Tal conduta o deixou extremamente
constrangido, pois nunca havia passado por uma situação de tamanha
vergonha e humilhação.

Nesse sentir, esclareceu Gelson de Azevedo ao determinar a reforma de


acórdão do Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região.

“A responsabilidade civil do empregador pela indenização decorrente de dano


moral pressupõe a existência de três requisitos: a prática de ato ilícito ou com
abuso de direito (culpa ou dolo), o dano propriamente dito (prejuízo material ou
o sofrimento moral) e o nexo causal entre o ato praticado pelo empregador ou
por seus prepostos e o dano sofrido pelo trabalhador”.

Indubitável se mostra no caso em tela o abuso de direito exercido pela


empresa como forma de represália pela conduta do obreiro em querer ver seus
direitos reconhecidos. O dano mostra-se mais que evidente visto a situação
vexatória ao qual foi exposto, bem como o nexo causal da conduta inexplicável
que ocorreu no estabelecimento comercial em que o reclamante laborava.

Com o advento da Constituição Federal de 1988, o direito à indenização por


dano moral encontra-se consagrado ao art. 5º, incisos V e X, estando o direito
à reparação por dano moral instituído em nosso ordenamento jurídico,
conforme demonstra João de Lima Teixeira Filho. Inclusive, tem-se aceitado o
dano moral interno, presumido, e no presente caso, é indubitável a ocorrência
de dano moral ao trabalhador, por todos os elementos probatórios dos autos.
Pretende, assim, o Reclamante ver-se INDENIZADO MORALMENTE, sendo a
Reclamada condenada a indenizar, fato que atenderá a tríplice função –
punitiva, didática e reparadora - para que não volte a agir desta forma com
seus trabalhadores, conforme preceito constitucional (art. 5º, V), o que se
requer seja a reclamada condenada, em valor a ser arbitrado pelo juízo, em
patamar que possa contemplar efetivamente a tríplice função da verba
determinada pelo Juízo.

VIII – SALÁRIO UTILIDADE

O Reclamante recebia alimentação equivalente a R$10,00 (dez reais) ao dia,


de segunda a sábado. Como é sabido, tal situação se enquadra como salário
utilidade, devendo o autor ter esse valor integrado ao salário de R$ 2.000,00
(dois mil reais), além da devida incorporação das horas extras que perfaze o
valor do real salário do reclamante, impondo-se o cálculo de todas as verbas
rescisórias sobre o valor total destes, nos termos do art. 142, § 4º, CLT, ao total
de R$...

IX – JUSTIÇA GRATUITA

O reclamante não possui condições financeiras de arcar com as custas


processuais sem prejuízo do próprio sustento, como se infere dos documentos
em anexo que comprovam a situação de desemprego, atendendo ao §4º do
artigo 790 da CLT.

Ademais, percebe-se, como dito anteriormente, o autor recebia remuneração


mensal inferior a 40% do teto da previdência social, preenchendo, portanto, os
requisitos para concessão do referido benefício.

Ante o exposto, requer a concessão dos benefícios da gratuidade judiciária,


prevista no artigo 790, §3º da CLT.

X – HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS DE SUCUMBÊNCIA

Requer, ainda, a condenação da ré ao pagamento de honorários advocatícios


de sucumbência, nos termos do art. 791-A da CLT.
ANTE O EXPOSTO, reclama:

a) A reintegração do reclamante ao seu cargo de origem, ou, subsidiariamente,


a reversão da justa causa em dispensa normal, devendo ser pagas as verbas
rescisórias, quais sejam:

- Férias vencidas e proporcionais + 1/3 em R$. XXXXXXXXXX

- Aviso prévio indenizado, em R$. XXXXXXXXXX

- Décimo terceiro salário proporcional, em R$. XXXXXXXXXX

- Indenização proporcional por tempo de serviço, nos termos do art. 478 da


CLT, em R$. XXXXXXXXXX

- FGTS sobre as verbas rescisórias, em R$.XXXXXXXXXX

- Multa sobre 40% do saldo do FGTS, em R$.XXXXXXXXXX

- Liberação das guias do seguro desemprego, sob pena de incidência da


indenização substitutiva prevista na Sumula 389 do TST; XXXXXXXXXXX

b) Pagamento das HORAS EXTRAS no valor de R$, com reflexo em férias com
1/3 no valor de R$, repousos no valor de R$, feriados no valor de R$, 13º
salários no valor de R$, horas extras no valor de R$ e no FGTS no valor de
R$;XXXXXXXXXX

c) Pagamento do intervalo intrajornada, visto que esse foi suprimido, no valor


de R$; XXXXXXXXX

d) Pagamento da verba reparadora de DANO MORAL, em parâmetros


estipulados pelo juízo, afim de que atenda a tríplice função da verba reparadora
no valor de R$; XXXXXXXXX
e) A liberação do FGTS do período, com incidência de juros e correção
monetária, na forma legal, no valor de R$; XXXXXXXXXX

f) A integração do salário utilidade em R$...;XXXXXXXXXX

g) Aplicação do art. 467 da CLT;

h) Aplicação da multa do art. 477, § 8º, da CLT;

i) A concessão da Gratuidade da Justiça, na forma do § 3º do art. 789 da CLT;

j) A condenação da Reclamada em honorários advocatícios de sucumbência;

k) A notificação da reclamada, para contestar, querendo, a presente ação, sob


pena de revelia e confissão, julgando-a, ao final, PROCEDENTE em todos os
seus termos;

l) A produção de todo o gênero de provas, tais como: documentos, perícias,


testemunhas, bem como o depoimento pessoal do representante legal da
reclamada;

m) Por fim, sejam os cálculos apurados em liquidação de sentença.

Dá-se à causa o valor de R$.XXXXXXXXXX

Nestes termos, pede e espera deferimento.

Local..., Data....

Advogada

OAB nº .../UF

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