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Motrivivência v. 28, n. 48, p.

168-187, setembro/2016

http://dx.doi.org/10.5007/2175-8042.2016v28n48p168

Práticas corporais de aventura na escola:


possibilidades e desafios – reflexões para
além da Base Nacional Comum Curricular

Humberto Luís de Deus Inácio1


Dayse Alisson Camara Cauper2
Luzia Antônia de Paula Silva3
Gleison Gomes de Morais4

RESUMO

Este texto apresenta uma análise documental sobre o conteúdo ‘Práticas Corporais de
Aventura’, indicado na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), como uma novidade
se comparado aos conteúdos tradicionais da Educação Física brasileira. Nosso objetivo
foi analisar se o referido conteúdo atende aos princípios da educação básica presentes
na BNCC, sobretudo em sua exposição na área de Linguagens, nos eixos e objetivos
da formação no ensino fundamental e médio, e nos apontamentos específicos para a
Educação Física; bem como avaliar a inserção e os detalhamentos do conteúdo para
cada um dos ciclos propostos. Também apontamos limites e possibilidades para a in-
serção deste conteúdo na Educação Física Escolar. Concluímos pela importância deste
conteúdo e advogamos que sua inclusão na Educação Física Escolar deva ser balizada
por propostas pedagógicas críticas.

Palavras-chave: Educação Física; Ensino; Práticas corporais de aventura; Atividade Física

1 Doutor em Sociologia Política. Professor da Faculdade de Educação Física e Dança da Universidade Federal
de Goiás (FEFD). Goiania/Goiás, Brasil. E-mail: betoinacio@gmail.com.
2 Mestranda em Ensino na Educação Básica. Faculdade de Educação Física e Dança da Universidade Federal de
Goiás (FEFD). Goiânia/Goiás, Brasil. E-mail: daysecamaracauper@gmail.com.
3 Especialista em Educação Física. Professora da Rede Municipal de Ensino de Goiânia. Goiânia/Goiás, Brasil.
E-mail: luzia.paulasilva@gmail.com.
4 Licenciado em Educação Física. Professor da Rede Municipal de Educação de Goiânia. Goiânia/Goiás, Brasil.
Email: gleisongomesu2@yahoo.com.br.
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INTRODUÇÃO estudos apresentados à comunidade aca-


dêmica brasileira sempre apresentaram o
Neste texto apresentamos uma termo ‘natureza’ em sua denominação,
reflexão a partir da análise documental do como pode ser observado em BETRÁN &
conteúdo ‘Práticas Corporais de Aventura’, BETRÁN (1995), BRUHNS (1997) e INÁCIO
elencado na Base Nacional Comum Cur- (1997), entre outros.
ricular (BNCC)5, como uma novidade se Para tanto, iniciaremos discutindo
comparado aos conteúdos tradicionais da o conceito que dá nome ao conteúdo e
Educação Física brasileira. Cabe ressaltar seguiremos às análises acima indicadas,
que não pretendemos analisar a proposta para finalmente apresentar uma reflexão
geral da BNCC, discutindo sobre os objeti- sobre possibilidades e desafios da/para a
vos da área de Linguagem e do componente implantação e desenvolvimento das PCAS
curricular Educação Física, pois entendemos na Educação Física brasileira.
que esta discussão já foi contemplada de for-
ma exaustiva e satisfatória nos textos críticos
desenvolvidos por especialistas da área.6 O QUE SÃO AS PRÁTICAS CORPORAIS
Nosso objetivo é analisar se o DE AVENTURA NA NATUREZA?
referido conteúdo atende aos princípios
da educação básica presentes na BNCC, Na década de 1990 chegaram ao
Brasil alguns textos publicados por Betrán
sobretudo em sua exposição na área de
& Betrán (1995), nos quais nos deparamos
Linguagens, nos eixos e objetivos da forma-
com um debate sobre o significado e a re-
ção no ensino fundamental e médio, e nos
levância social para a Educação Física das
apontamentos específicos para a Educação
‘Atividades Físicas de Aventura na Nature-
Física. Além de avaliar a inserção e os de-
za’, apresentadas como AFANs.
talhamentos do conteúdo para cada um dos Pouco tempo depois, Bruhns (1997)
ciclos propostos. e Inácio (1997), cada um à sua vez, produ-
Indicamos aqui que temos utilizado ziram o que pode ser considerado como as
a expressão ‘Práticas Corporais de Aventura primeiras publicações sobre este conteúdo
na Natureza’ (PCANs) por entender que, na comunidade acadêmico-científica da
mesmo havendo algumas destas praticadas Educação Física brasileira. Já no ano de
em meio urbano, é tendo a natureza como 1999, a edição temática da Revista Cone-
cenário de desenvolvimento que estas xões, da Unicamp, publicou várias pes-
se disseminam. Além disso, os primeiros quisas e reflexões elaboradas por Bruhns e

5 O documento aqui utilizado foi a 2a versão da BNCC, publicizado em maio de 2016, disponível em http://
basenacionalcomum.mec.gov.br/#/site/inicio. O último acesso à mesma se deu em 29 de junho de 2016.
6 Os especialistas convidados a redigir textos críticos para a Educação Física são: José Angelo Gariglio (Uni-
versidade Federal de Minas Gerais), Lívia Tenório Brasileiro (Universidade Estadual de Pernambuco), Marta
Genú Soares (Universidade do Estado do Pará), Ricardo Rezer (Universidade Comunitária da Região de Cha-
pecó), Vânia de Fátima Matias de Souza (Universidade Estadual de Maringá), Anegleyce Teodoro Rodrigues
(Universidade Federal de Goiás). Os textos estão disponíveis em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/#/
site/inicio.  As análises de outros dois especialistas - Valter Bracht (Universidade Federal do Espírito Santo), e
Rodolfo Rozengardt, das Universidad Nacional de La Pampa e Universidad Nacional de Avaellaneda, ambas
da Argentina, não estavam disponíveis em 20 de maio de 2016.
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colaboradores, ampliando o debate sobre [...] as práticas corporais de aventura,


essa manifestação da cultura corporal ain- cujo aspecto central e diferenciador em
relação às anteriores é que a vertigem
da recente e pouco disseminada entre os e o risco controlado são determinantes
brasileiros, mas que já se apresentava com em sua organização. Suas expressões
forte potencial para tornar-se uma prática e formas de experimentação corporal
turística, de lazer e esportiva de grande estão centradas nas perícias e proezas
provocadas pelas situações de impre-
relevância social, cultural e econômica. visibilidade que se apresentam quando
Desde então, esta prática vem sendo o praticante interage com um ambien-
difundida em vários âmbitos, em especial te desafiador. [...] Neste documento,
optou-se por diferenciá-las com base
no campo do lazer – como um produto
no ambiente de que necessitam para se-
a ser consumido, bem como no âmbito rem realizadas: na natureza e urbanas.
acadêmico, gerando estudos, pesquisas, As práticas de aventura na natureza se
dissertações, teses e demais trabalhos. caracterizam por explorar as incertezas
que o ambiente físico cria para o prati-
Desta dinâmica, surgiu um debate - ou
cante na geração da vertigem e do risco
mesmo disputa, sobre o conceito que me- controlado [...]. As práticas de aventura
lhor definiria esta manifestação da cultura urbanas, diferentemente das anteriores,
corporal, podendo ser encontrado: PCAs, exploram a “paisagem de cimento” para
produzir essas condições (vertigem e
PCANs, AFANs, Esportes de aventura, Es- risco controlado) durante a prática [...].
portes de risco, Esportes urbanos/radicais, Reconhece-se, no entanto, que, apesar
entre outros. das diferenças, algumas modalidades
Como dito anteriormente, apesar podem ser realizadas tanto em um en-
torno como em outro, o que aumenta a
do uso, aqui, do conceito PCAs, há algum possibilidade de sua vivência. (BRASIL,
tempo propomos o uso do conceito de 2016, p.106).
Práticas Corporais de Aventura na Natu-
reza, especialmente quando associadas à Como pode ser observado, há pouca
Natureza como cenário para que ocorram: distinção entre o conceito que defendemos
e aquele apresentado pela BNCC. As dife-
objetivam comumente a aventura e o renças mais significativas presentes no docu-
risco, realizadas em ambientes distan-
mento são: a limitação a alguns dos aspectos
tes dos centros urbanos, notadamente
espaços com pouca interferência hu- específicos/constituintes dessa prática (verti-
mana, sejam estes  - terra, água e/ou ar. gem, risco, proeza, imprevisibilidade), bem
Também se caracterizam por possuírem como a proposta de classificação, fazendo
alto valor educativo e por uma busca
referência explícita às práticas quando
do (re)estabelecimento de uma relação
mais intrínseca entre seres humanos e desenvolvidas no meio urbano. Todavia,
tudo que o cerca, o que pode culminar confluiremos aqui com a BNCC, e vamos
com algum avanço para superar a lógi- utilizar neste texto a expressão ‘Práticas
ca mercadológica do/no lazer e com a
Corporais de Aventura’ (PCAs).
instauração e/ou resgate de valores hu-
manos como a cooperação e a solida- Não são conceitos excludentes,
riedade (INÁCIO, 2014, p.532). nem antagônicos: entendemos que nossa
perspectiva avança quando indica também
A Base, por sua vez, apresenta: possibilidades de (re)encantamento com
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o meio que nos cerca e de superação das documento que também se faz presente nas
propostas mercadológicas que vêm se agi- PCAs: formas alternativas de interagir com
gantando em tais práticas. o mundo, construir sentidos - mas também
Se estes dois últimos elementos, ex- sensações - distintos dos tradicionais, propi-
tremamente relevantes, não estiverem pre- ciando aos sujeitos a constituição de novas
sentes no conceito apresentado pela BNCC, subjetividades (INÁCIO; MARINHO, 2007).
como se tornarão objeto de reflexão dos Inácio et al (2005b) afirmam que tais
professores no momento do planejamento? práticas - quando conteúdo da Educação
Talvez o que a BNCC discorre sobre a área Física e mesmo no âmbito do lazer, podem
de Linguagens e sobre a Educação Física ser escrutinadas em quatro dimensões, entre
ofereça pistas que contribuam para a res- as diversas que as constituem, sejam elas: o
posta a essa indagação. Então, vamos a elas: acesso, a técnica, o distanciamento de um
O texto que apresenta a área de rendimento obrigatório e os espaços para
Linguagens no documento destaca já no sua realização. As reflexões do grupo sobre
primeiro parágrafo que: estes quatro elementos constituintes das
PCAs estão em consonância com a BNCC,
As relações pessoais e institucionais e quando esta indica que é de responsabili-
a participação na vida em sociedade
se dão pelas práticas de linguagem. É dade da Educação Física
por meio dessas práticas que os sujeitos
(inter)agem no mundo e constroem sig- tratar das práticas corporais em suas
nificados coletivos. As práticas de lin- diversas formas de codificação e sig-
guagem permitem a construção de re- nificação social, entendidas como
ferências e entendimentos comuns para manifestações das possibilidades ex-
a vida em sociedade e abrem possibili- pressivas dos sujeitos, por meio da ges-
dades de expandir o mundo em que se tualidade e do patrimônio cultural da
vive, ampliando os modos de atuação e humanidade, produzidas por diversos
de relacionar-se. (BRASIL, 2016, p.87). grupos sociais no decorrer da história.
(BRASIL, 2016, p.99).
A partir desta colocação, podemos
concordar com a inserção da Educação Fí- Ainda de acordo com o documento,
sica nesta área, bem como com o conteúdo para a área de linguagem nos anos finais do
específico PCAs; afinal, quando apontamos ensino fundamental, é recomendado que
que as mesmas oferecem possibilidades os componentes curriculares oportunizem
para outras relações com o ambiente e aos jovens experiências para além de seu
para superação do mercolazer que vem se cotidiano, “não como fim, mas como meio
disseminando nestas práticas, estamos co- para uma compreensão mais aprofundada
mungando com a BNCC, em sua descrição dos modos de se expressar e de participar
inicial da área de Linguagens. no mundo” (BRASIL, 2016, p.331). Sobre
A BNCC indica que a área deve essa questão afirmamos que as PCAs se
oportunizar aos sujeitos formas de ação configuram como um conteúdo que permite
e interação no mundo e também favore- contemplar a recomendação acima, quando
cer processos de construção de sentidos. insere a discussão sobre o meio ambiente e
Observamos que este é outro elemento do a sustentabilidade como eixos transversais.
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São vários os autores que confluem nesta cartas, vídeos, como meios de apreensão
mesma direção (INÁCIO, 2006; ABREU, do conteúdo específico das PCAs. Também
2010; TAHARA; CARNICELLI Fo., 2013; tem sido comum encontrar em relatos de
FRANCO, 2008). Assim, nos é possível professores que as inserem em suas aulas, a
inferir que o conteúdo PCAs, no interior elaboração de gráficos, mapas esquemáticos
da linguagem ‘Educação Física’, é adequa- ou figurativos dos espaços da escola e seu
do e desejável, haja vista a importância e entorno, particularmente quando o con-
o significado que estas práticas corporais teúdo específico é o esporte de orientação
vêm assumindo em tempos atuais (INÁCIO, (INÁCIO et al., 2015a).
2014; RODRIGUES; DARIDO, 2006). O quarto objetivo listado - com-
A fim de reforçar nossa argumentação preender a diversidade de manifestações
em defesa das PCAs, além dos princípios das práticas corporais como construtos so-
que compõem a área, vamos ampliar nossa cioculturais e suas relações com ideologias
análise também aos seus objetivos gerais. e com o poder - está em diversos estudos
De acordo com a BNCC, a área de Lingua- (FRANCO; CAVASINI; DARIDO, 2014.
gens é composta por seis objetivos que ARMBRUST; PEREIRA, 2010. BRUHNS,
1997). Para estes autores, assim como ou-
estão em consonância com as indicações
tros, as práticas corporais - de aventura ou
de diversos autores da Educação Física
não, são manifestações que representam
quando discutem a inserção dessas práticas
determinadas formas de culturas, sendo
na escola.
então, flexíveis, dinâmicas, cambiantes.
1. Interagir com outras linguagens;
Tais características contribuem para
2. Compreender as condições de
a compreensão e aceitação deste conteúdo
(re) produção das práticas de linguagens na na escola; afinal, nas PCAs estão inseridas
cultura corporal do movimento; inúmeras dimensões que marcam a vida mo-
3. Refletir sobre os usos das lin- derna em sociedade, tais como a sociabiliza-
guagens; ção, a cooperação, as técnicas, a democrati-
4. Compreender a diversidade de zação (ou não) do acesso, etc. Ainda neste
manifestações das práticas corporais como objetivo, quando os alunos apreendem as
construtos socioculturais e suas relações PCAs como construtos humanos, percebem
com ideologias e com o poder; que as mesmas podem ser reconfiguradas,
5. Interagir com o outro; moldadas, adequadas às suas necessidades,
6. Reconhecer as dimensões poética aos seus interesses e às suas possibilidades,
e estética das linguagens.7 independentemente da forma pela qual é
Podemos observar os três primeiros realizada hegemonicamente. Tal processo
objetivos acima em Inácio et al. (2005a) também lhes favorece, então, perceber re-
com o uso de estratégias baseadas especial- lações de poder e dominação ali presentes,
mente na escrita e na arte, quando propõe bem como criar estratégias e agir para sua
a elaboração de mapas, jornais escritos e superação.

7 Estes objetivos estavam presentes na primeira versão, listados com marcadores numéricos, como aqui. Contudo,
na 2ª versão, os mesmos foram diluídos num texto corrido. Preferimos manter a primeira formatação.
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O quinto objetivo - interagir com o PCAs e naquilo que as cerca, reaproximan-


outro, nos remete ao conceito de ‘alterida- do-nos de nossa própria natureza humana.
de’, pelo qual além de percebermos e inte- Nossa análise segue agora para os
ragirmos com o outro, podemos estabelecer quatro eixos de formação, apresentados
as mesmas relações com os elementos da pela BNCC que articulam os currículos
natureza não humanos, sejam eles naturais tanto do ensino fundamental quanto do
ou construídos. Podemos incentivar nos alu- ensino médio.
nos o respeito e agradecimento às árvores
nas quais se amarram slack lines, a sensi- Eixo 1 Letramentos e capacidade de aprender;
bilidade ao vento, à chuva, ao escuro das Eixo 2 Leitura do mundo natural e social;
cavernas, às ondas do mar; e mesmo às pa- Eixo 3 Ética e pensamento crítico;
redes de concreto por onde descemos com Eixo 4 Solidariedade e sociabilidade.
rapel, ao asfalto das práticas urbanas como
o skate e o Parkour. O que defendemos Asseveramos aqui não ser necessá-
aqui é que ter a alteridade também como rio um grande esforço para observar que
um elemento constituinte das PCAs - desde estes quatro eixos se apresentam diluídos/
que ampliada às dimensões não humanas, constituintes nos/dos objetivos gerais da
pode contribuir significativamente para a educação básica presentes no documento
ampliação das ações e estratégias voltadas - mais acima listados e logo analisados. Po-
à sustentabilidade, o que pode nos levar a demos então afirmar que as PCAs dialogam
um mundo mais justo e solidário. com estes eixos e que estão alinhadas aos
Finalmente, chegamos ao sexto objetivos gerais, justificando mais uma vez
objetivo - reconhecer as dimensões poética sua inserção na BNCC e, por consequência,
e estética das linguagens. Sobre este, nos na escola.
apoiamos em Sant’Anna (2001) para dis- Compreendemos, assim como está
correr em relação à sua pertinência como expresso na BNCC, que os educandos
conteúdo da Educação Física A autora nos devem reconhecer seu papel e responsa-
diz que há, atualmente, uma predominância bilidades na vida social, mas também em
de relações de dominação do ser humano tudo que os cerca. As PCAs - como vêm
sobre sua ‘natureza externa’, e que tal sendo amplamente dito, podem contribuir
dinâmica deve e pode ser superada pelo para a construção de outra sociedade - mais
que chama de “Relações de Composição” justa, com outros sentidos e significados,
(SANT´ANNA, 2001, p.94). Para tanto, impulsionando a “elaboração de soluções
sugere que precisamos nos pautar por uma criativas para os problemas que afetam a
conduta ética, onde dialogamos entre nós todos e todas” (BRASIL, 2016, p.182).
e com nossa natureza externa, sem a pre-
sença de uma autoridade antrópica; isto
pode levar-nos de volta a um sentimento Quando as PCAs entram em cena: a Edu-
ora marginalizado de pertencimento à na- cação Física na BNCC
tureza. Esta ‘relação de composição’ pode,
então, contribuir para o reconhecimento das A referência principal para estruturar
dimensões poéticas e estéticas presentes nas os conhecimentos da Educação Física na
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BNCC são as práticas corporais, organizadas das práticas corporais de aventura. Sobre
da seguinte forma: brincadeiras e jogos; esta última, a base distingue que seu
esportes; exercícios físicos; ginásticas; lu-
tas; práticas corporais alternativas; práticas [...] aspecto central e diferenciador [...]
corporais de aventura, e danças. é que a vertigem e o risco controlado
são determinantes em sua organização.
Suas expressões e formas de experi-
A Educação Física contém uma série de mentação corporal estão centradas nas
possibilidades para enriquecer a experi- perícias e proezas provocadas pelas
ência das crianças, jovens e adultos na situações de imprevisibilidade que se
Educação Básica, permitindo o acesso a apresentam quando o praticante intera-
um vasto universo cultural. Esse univer- ge com um ambiente desafiador. (BRA-
so compreende saberes corporais, ex- SIL, 2016, p.106).
periências estéticas, emotivas, lúdicas,
agonísticas que se inscrevem, mas não
se restringem, à racionalidade típica As expressões vertigem, risco, perí-
dos saberes científicos que comumente cias, proezas, imprevisibilidade, ambiente
orienta as práticas pedagógicas na esco- desafiador, apresentadas acima, são elemen-
la. Experimentar e analisar as diferentes
formas de expressão que não se alicer-
tos constituintes das PCAs que merecem um
çam apenas nessa racionalidade é uma olhar mais atento ao serem analisados no
das potencialidades desse componente. contexto escolar. Tais expressões caracteri-
(BRASIL, 2016, p.102). zam, e bem, as PCAs quando desenvolvidas
como esporte ou mesmo no âmbito do lazer
Ressaltamos que os conteúdos tradi- mais ‘aventureiro’. Como já vimos no início
cionais da Educação Física brasileira, como deste texto, são diversas as nomenclaturas
os esportes e as brincadeiras e jogos, hege- que vêm sendo utilizadas para designar
mônicos na maioria das escolas, permane- estas práticas, tais como esportes de risco,
ceram na proposta. Enquanto os primeiros esportes alternativos, esportes extremos, por
continuarão sendo tematizados em todos onde se confirma o risco, a imprevisibili-
os cinco ciclos, os segundo ficarão restritos dade, a vertigem, como constituintes desta
aos anos iniciais do ensino fundamental, ou manifestação da cultura corporal.
seja, 1º e 2º ciclo.   Contudo, será que estes mesmos
Além disso, foi reafirmada a necessi- elementos valem também para a escola?
dade de contemplar também as outras ma- Ou mais, será que estes elementos não
nifestações da cultura corporal a exemplo estão, também, presentes em práticas mais
dos conhecimentos sobre as ginásticas, as tradicionais - nas ginásticas, nas lutas, nos
danças e as lutas, que ora se faziam presen- esportes de maior contato?
tes nas aulas, ora ausentes, a depender do O que a base chama de ‘ambiente
interesse dos docentes e/ou de suas ligações desafiador’? Uma mesa de saltos, uma barra
com tais práticas. Assim como os esportes, assimétrica, uma rede de voleibol colocada
também as danças e as ginásticas serão a 2,44m, uma quadra de cimento, não são
conteúdos presentes em todos os ciclos, já todos estes ambientes desafiadores também?
as lutas ficarão restritas ao período que vai Em nossa análise, a base apresenta uma
do 2º ao 4º ciclo. Contudo, a novidade ficou lacuna aqui, ao dissertar sobre as PCAs
mesmo a cargo da inserção no documento desde sua forma tradicional, pouco focada
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em desvendar o que seriam as ‘aventuras’ realizadas na ‘natureza’ e aquelas que


no ambiente escolar. acontecem nos ambientes urbanos, os
De certa maneira, isto se repete quais chamou de “paisagens de cimento”
em algumas publicações sobre o tema (BRASIL, 2016, p.106). E amplia seu acerto
(FRANCO, 2008. FRANCO; CAVASINI; quando afirma que “apesar das diferenças,
DARIDO, 2014. ARMBRUST; PEREIRA, algumas modalidades podem ser realizadas
2010),  as quais propõem reproduzir as tanto em um entorno como em outro, o que
PCAs tal e quais acontecem fora da escola aumenta a possibilidade de sua vivência”
na Educação Física ou, ainda, apresentam (BRASIL, 2016, p.106).
propostas que indicam saídas da escola E para finalizar esta etapa de análise
como uma alternativa à falta dos ‘espaços da relação EF - PCAs, nos direcionamos a
desafiadores’ na mesma. uma parte em que a base discorre sobre as
Sobre tais saídas recai uma crítica práticas no elemento água:
mais contumaz quando nos referimos às
escolas públicas, uma vez que seus alunos,
Ainda que não tenham sido apresentadas
via de regra, não dispõem de recursos para como uma das práticas corporais organi-
arcar com os custos que aí se apresentam zadoras da Educação Física na BNCC,
(transporte, alimentação, taxas de entrada, é importante sublinhar a necessidade e
taxas de empresas de aventura etc.). a pertinência dos/as estudantes do país
terem a oportunidade de experimentar
Na direção de recusar a reprodução práticas corporais no meio líquido [...].
simples destas práticas na escola, propomos Essa afirmação não se vincula apenas à
a [re]criação das PCAs, com os estudantes, ideia de vivenciar e/ou aprender [...] a
a partir de seus ‘Princípios Constituintes’, a natação em seus quatro estilos competi-
saber: meio no qual se realizam (terra, água, tivos, e, sim, à de experimentar “ativida-
des aquáticas.” (BRASIL, 2016, p.107).
ar), direção do deslocamento (horizontal
ou vertical), tipo de deslocamento (deslize,
rodagem, escorregar etc.), com ou sem Sabe-se bem das dificuldades ine-
equipamento, em grupo ou individual, com rentes às práticas aquáticas na EF brasileira,
ou sem a colaboração de colegas, (INÁCIO em especial da absoluta falta de infraes-
et al, 2015. BETRÁN & BETRÁN, 1995). trutura para isto. E quando transferimos
Ao mesmo tempo, indicamos que esta condição das práticas aquáticas para
a busca por estes elementos constituintes as PCAs, além das dificuldades, emergem
não deve ser marginalizada: não há porque dúvidas sobre como podemos atuar.
restringir o acesso dos alunos a diferentes Algumas das PCAs mais conhecidas,
emoções, distintas sensações e à ampliação desenvolvidas na água, são o surf, o rafting,
de seu acervo de movimentos; justificar o caiaquismo/canoagem, a descida de rios
uma possível restrição pela impossibilidade com bóias, e as de acesso mais difícil, como
de reprodução tácita das PCAs no ambiente o mergulho autônomo, o windsurf, entre
escolar é esquivar-se da responsabilidade pe- outras. A grande maioria dos docentes de
dagógica que assumimos na tarefa docente. EF, provavelmente, diria ser muito difícil -
Contudo, entendemos que a BNCC se não impossível, trabalhar tais conteúdos
acerta ao indicar que as PCAs podem ser na escola. Nesse caso, buscar alternativas
agrupadas naquelas que são comumente como o uso de piscinas emprestadas de
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clubes e órgãos públicos, aceder a rios, em propostas de redes municipais e


lagos e mar, fazem parte desta dinâmica. estaduais, bem como na produção acadêmi-
Queremos aqui indicar outra pos- ca da Educação Física, com destaque para a
sibilidade de atuação pedagógica que são abordagem crítico-superadora (COLETIVO
as práticas COM água e não NA água: ao DE AUTORES, 1992), como marco signifi-
longo dos últimos anos temos pesquisado cativo para esta proposição de organização.
possibilidades de trato pedagógico das Na BNCC a EF foi organizada em
PCAs e algumas destas, constituídas desde ciclos; contudo, difere-se do modelo apre-
os princípios mais acima elencados, utiliza- sentado pelo Coletivo de Autores [Ciclo
ram a água como componente da prática, de Escolarização] e também do modelo
adotado pela Rede Municipal de Goiânia
ao menos em duas propostas: a água como
[Ciclo de Formação e Desenvolvimento
elemento auxiliador para o deslizamento
Humano] e não apresenta referências nem
sobre superfícies lisas, tais como lonas dis-
justificativas para o modelo adotado. O do-
postas no chão ou em terrenos aclivados; cumento em análise defende que a proposta
e como agregador do elemento lúdico, de ensino por ciclos carrega consigo uma
quando alunos em balanço com cordas importante flexibilidade pedagógica, muito
eram submetidos a jatos de água. Pode não significativa para um território tão vasto
ser o ideal, mas é uma alternativa. quanto o brasileiro, recheado de culturas
distintas; sendo assim, um território que
requer práticas, etapas, experimentações,
As PCAs nos últimos ciclos processos - distintos, em função do lugar,
do tempo e do espaço da EF. Apresentamos
Ao longo das últimas décadas tem abaixo a distribuição das manifestações da
se observado a proposta do ensino por cultura corporal nos cinco ciclos, conforme
ciclos - em detrimento do ensino seriado, consta na BNCC:

Ensino fundamental Ensino Médio


Etapas
ANOS INICIAIS ANOS FINAIS
Segmentos
Ciclos 1º 2º e 4º e 6º e 8º. e 1º. 2º.
3º anos 5º anos 7º anos 9º. anos e 3º. anos

BRINCADEIRAS E JOGOS

DANÇAS

ESPORTES

GINÁSTICAS

LUTAS

PRÁTICAS CORPORAIS
DE AVENTURA

Representação da distribuição dos objetivos de aprendizagem conforme a prática corporal nos cinco ciclos da
Educação Básica. Fonte: BRASIL, 2016.
V. 28, n° 48, setembro/2016 177

Se não este primeiro, avaliamos modalidade das danças, dos esportes, das
como possível outro argumento, justamente lutas, das ginásticas, das PCAs deve ou pode
um sobre o qual já tecemos crítica mais ser desenvolvida neste ou naquele ciclo.
acima, quando afirmamos que a BNCC Compreendemos e concordamos com esta
se move pelas PCAs mais conhecidas do ‘falta’ de orientação, novamente balizados
público em geral - aquelas que mais são pelo argumento das diversas culturas, inte-
disseminadas pela mídia e que permeiam o resses, etapas etc., tão próximas e ao mesmo
imaginário social. Tais práticas indicam um tempo tão distantes nos diversos territórios
padrão de risco significativo - ainda que con- que compõem este país.
trolado pelas técnicas e pelos equipamentos Apesar de não haver uma determina-
de segurança. Nesta direção podemos até ção, no caso das PCAs, a BNCC acaba por
comungar com a proposição do documento sugerir certa divisão entre as modalidades,
que recomenda as PCAs apenas a partir do quando optou por
6º. ano ou 3º ciclo.
Não desconhecemos – deveras, que [...] diferenciar, nos ciclos, as práticas
a avaliação do risco, a possibilidade de realizadas em diferentes espaços: meio
urbano no 3º ciclo e na natureza no
maior concentração e atenção e a capaci-
4º ciclo. Essa mudança leva em consi-
dade do trabalho em grupo, são caracterís- deração a possibilidade de realização
ticas mais presentes em fases pós-infância. dessas práticas, primeiramente, no am-
Entretanto, se reconhecermos as PCAs não biente escolar, ou no seu entorno e,
posteriormente, na natureza (BRASIL,
por suas modalidades mais conhecidas,
2016, p.404).
mas por seus Princípios Constituintes
(meio, tipo e direção do deslocamento,
Neste sentido, a Base propõe a ex-
com/sem aparato, individual ou coletivo,
perimentação de PCAs urbanas, e exempli-
com /sem colaboração), torna-se possível
fica: “parkour, skate, patins, bike” (BRASIL,
vislumbrar essas práticas mesmo para as
2016, p.404), para o 3º ciclo e PCAs na
séries iniciais, como pode ser observado em
Natureza, como por exemplo: “corrida de
Inácio et al. (2015). Inclusive, o conteúdo
orientação, trilhas interpretativas, arboris-
proposto apenas para os ciclos iniciais -
mo, mountain bike, rapel, tirolesa“ (BRASIL,
jogos e brincadeiras, pelas PCAs, podem
2016, p.405) para o 4º ciclo.
se constituir em mais que aventuras – em
Detalhando objetivos específicos
“Travessuras” (INÁCIO et al., 2005a).
para este conteúdo, a BNCC indica, indistin-
tamente para as práticas urbanas e práticas
As modalidades de PCAs e sua distribuição na natureza:
nos ciclos 1. Experimentar diferentes práticas
corporais de aventura.
A BNCC, como já foi dito ante- 2. Fruir/desfrutar de práticas corpo-
riormente, indica os conteúdos da cultura rais de aventura.
corporal a serem desenvolvidos na escola 3. Formular estratégias para identi-
e os distribui ao longo dos 12 anos de es- ficar os desafios e os riscos em realizar as
colarização. Destarte, não especifica qual práticas corporais de aventura.
178

4. Identificar as situações de risco haver aqui uma redundância em busca de


presentes nas práticas corporais de aventura diversificar os objetivos, ao passo que os
e observar normas de segurança. dois poderiam ser um único. O mesmo
5. Reconhecer e refletir sobre as parece acontecer também nos dois últimos
características (riscos, instrumentos, equi- objetivos, os quais iniciam com o verbo
pamentos de segurança, indumentária, “realizar”. Ora, experimentar, fruir, desfru-
organização) e tipos de práticas corporais. tar, realizar - onde estão as diferenças tão
6. Compreender criticamente as significativas que justifiquem a apresentação
marcas sociais, emergência e as transforma- de quatro verbos de ação para as PCAs?
ções históricas dos sentidos, significados e Em relação aos terceiro e quarto
interesses constitutivos das práticas corpo- objetivos, sobre estratégias de identificação
rais de aventura, bem como as possibilida- dos riscos e observâncias das “normas de
des de recriá-las. (BRASIL, 2016, p.404-05). segurança”, da mesma forma, poderiam ser
E apresenta uma distinção entre as um único objetivo, posto que discorrem
práticas urbanas e na natureza nos seguintes
sobre o mesmo aspecto. Aqui também
objetivos:
questionamos o uso da  expressão “normas
7. Identificar, explorar e avaliar os
de segurança”: parece-nos que seria mais
locais disponíveis na comunidade para a
adequado ao âmbito escolar que os pró-
realização de diferentes práticas corporais
prios alunos estabelecessem ‘estratégias de
de aventura urbanas.
segurança’, mediados pelo conhecimento
8. Identificar, explorar e avaliar
os locais disponíveis no entorno para a docente sobre as PCAs. O uso da expressão
realização de diferentes práticas corporais ‘normas’ remete novamente à ideia de uso
de aventura. das práticas mais tradicionais, as quais es-
9. Realizar práticas corporais de tão (nem todas), reguladas pela Associação
aventura urbanas respeitando o patrimônio Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e por
público e minimizando os impactos da outras regras estabelecidas pela Associação
degradação ambiental.   Brasileira de Esportes de Aventura (ABETA).
10. Realizar práticas corporais de Outro apontamento sobre essa questão de
aventura na natureza respeitando o patri- normas ou estratégias de segurança refere-se
mônio natural e minimizando os impactos à possibilidade de docentes e estudantes, no
da degradação ambiental. caso da segunda, virem a ser coparticipes
do processo, dividindo inclusive as respon-
Em relação aos objetivos comuns e sabilidades, que no caso das normas fica
aos objetivos específicos de cada ambiente, restrito ao professor.  
acima apresentados, avaliamos como ade- Ainda sobre este aspecto, pergunta-
quada tal distinção, haja vista as caracterís- mos se acaso há também normas de segu-
ticas também distintas entre o meio urbano rança para os esportes, para as ginásticas,
e o não-urbano. para as lutas, que estejam devidamente
Mais detidamente, questionamos os sistematizadas e sejam seguidas nas aulas
dois primeiros objetivos, um que propõe de EF? Inclusive não temos conhecimento
“experimentar” as práticas, e outro indi- de relatórios sobre os ‘acidentes’ nas au-
cando sua “fruição/desfrute”. Parece-nos las de EF com esses conteúdos, embora
V. 28, n° 48, setembro/2016 179

saibamos que os mesmos acontecem. O As PCAs no ensino médio


que há, seguramente, é uma ideia de que as
PCAs são perigosas, enquanto que as outras Ao apresentar sua proposta para a
modalidades não. etapa do Ensino Médio, a Base se isenta da
Finalmente, resta um último aspecto indicação de novos conteúdos “em favor
a ser discutido, trata-se do significado de da continuidade do trabalho proposto nas
“entorno”. Quando a BNCC propõe práticas etapas anteriores”, destacando que
‘na Natureza’, e suas consequências em
relação ao acesso a tais práticas: o entorno [...] para o componente Educação Físi-
é um espaço ao qual os alunos teriam acesso ca, caberá aos sistemas de ensino e às
caminhando, no tempo estabelecido para escolas, considerando seus interesses
e especificidades, a organização dos
as aulas de EF e em tempo de retornar para
objetivos de aprendizagem e desenvol-
aulas de outras disciplinas? Ou o entorno vimento em Unidades Curriculares. [...]
pode ser algum espaço/Natureza mais dis- Essa proposição viabiliza que o traba-
tante da escola, que exigiria mais tempo lho pedagógico seja planejado de ma-
para o deslocamento, inclusive com o uso neira flexível e em conformidade com o
projeto escolar [...], podendo [...] as de-
de transporte, custos, troca de horários mais serem abordadas em qualquer mo-
com outras disciplinas e/ou realização no mento do ciclo. (BRASIL, 2016, p.545).
contraturno ou sábados?
A partir de uma resposta afirmativa
Para tanto, propõe que sejam asse-
para esta última questão, outras se origina-
guradas aos estudantes em formação as pos-
riam: quem arcaria com estes custos? Os
sibilidades de experimentar, fruir, apreciar,
alunos poderiam dispor de tempo no contra-
de forma proficiente e autônoma, ampliar as
turno ou sábados? Nestes outros períodos a
redes de sociabilidade, Identificar, interpre-
aula de EF teria o mesmo caráter obrigatório
de quando acontece no turno? Tem sido tar e recriar valores, sentidos, significados
recorrente, apesar de não serem muitos e interesses, desconstruir e combater pre-
ainda os estudos e pesquisas sobre as PCAs conceitos, reconhecer as práticas corporais
na escola, relatos de aulas que concentram como elementos culturais constitutivos
aspectos mais teóricos e de aproximação de grupos e povos. A consecução destes
com as técnicas e equipamentos em aula objetivos deve permitir aos educandos:
no turno e, depois, as saídas da escola para Interferir na dinâmica de produção da cul-
experimentar essas praticas, sobre o que já tura corporal e reivindicar condições para a
nos pronunciamos mais acima. prática do lazer, compreender o universo de
Importante ressaltar que não somos produção de padrões (rendimento, saúde,
contrários às saídas da escola: é inquestio- beleza), valorizar o trabalho coletivo e o
nável a superioridade das experiências ad- protagonismo na pluralidade das práticas
vindas de vivências com as PCAs realizadas corporais. (BRASIL, 2016 p.545).
fora do espaço escolar - contudo, alertamos Nesta direção, não há novas indica-
que as possibilidades devem ser ofertadas ções de conteúdos para as PCAs no ensino
igualmente a todos os estudantes, sem que médio, e sim a continuidade do processo
isso gere sacríficos econômicos e/ou cons- iniciado nos anos anteriores, o que já é
trangimentos de outras ordens. uma característica da EF, sobretudo na
180

perspectiva de conhecimento espiralado professor, numa amostra por regiões da


que trata o Coletivo de Autores, diferente- cidade de Goiânia, havia desenvolvido o
mente de outras disciplinas. conteúdo PCAs em suas aulas. Por sua vez,
Mas, observa-se que há uma preo- Silveira, Moraes e Inácio (2013), buscaram
cupação com a constituição da autonomia, nos 36 cursos de formação inicial em EF de
com a capacidade de síntese sobre as PCAs, universidades federais brasileiras indicações
com o reconhecimento de suas possibili- da presença das PCAs, fosse como discipli-
dades tanto no âmbito do lazer quanto do nas próprias ou como conteúdo de outras,
trabalho, compreendendo que neste nível e encontraram apenas duas disciplinas do
de ensino os alunos já são capazes de tipo ‘optativas’, e como conteúdo, inserida
construir - por si próprios (mas sem excluir na ementa, em três disciplinas ligadas à te-
a atuação docente), sua história de vida mática ‘Lazer’. As constatações dos estudos
relacionada às práticas corporais. acima nos permitem deduzir que há uma
Tendo finalizado a parte inicial de relação de causa e efeito do segundo sobre
nossas análises daremos sequencia agora o primeiro. E que é preciso sanar primeiro
debruçando sobre os limites e as possi- a lacuna da graduação para que o conteúdo
bilidades das PCAs enquanto um novo passe a ser efetivamente ensinado na edu-
conteúdo proposto para a EF para além do cação básica.
que a BNCC vem apresentando. Quando iniciamos a elaboração des-
ta análise documental, realizamos também
uma busca no sítio da BNCC pelas contri-
A BASE AINDA EM GESTAÇÃO... CON-
CLUSÕES PROVISÓRIAS buições populares, já que houve uma etapa
de consulta pública, e foi possível identificar
É praticamente unânime nos textos a preocupação com este distanciamento - ou
já à disposição da comunidade acadêmica, desconhecimento, por parte dos professores
a indicação de que as PCAs requerem uma de EF em relação às PCAs. Os números in-
mudança nos cursos de formação inicial em dicam o alcance da consulta: foram 1.601
EF (SILVEIRA, MORAES; INÁCIO, 2013. contribuições propondo inclusão de novos
CAETANO, 2012. FRANCO, 2008). Tal objetivos de aprendizagem na EF (ensino
mudança diz respeito ao fato - tácito, de que fundamental: - 1336. e ensino médio - 265).
este conteúdo apresenta um distanciamento Com relação à clareza, à pertinência e
muito significativo das práticas tradicionais relevância dos objetivos da aprendizagem,
desenvolvidas na escola, bem como das foram 6.697 contribuições no Ensino funda-
brincadeiras e de jogos típicos da infância, mental e 4.342 no Ensino médio.
o que conflui para uma impossibilidade de Em face deste alto número de con-
sua inserção na EF sem que haja todo um tribuições, realizamos uma busca por 3
processo de [re]conhecimento da comuni- palavras-chaves: aventura, natureza e meio
dade docente. ambiente, e encontramos poucas observa-
O estudo de Caetano (2012), com ções sobre o conteúdo PCAs, entretanto
professores das redes públicas de ensino de muito significativas e que coadunam com
Goiânia e de Goiás, observou que nenhum nosso posicionamento registrado acima:
V. 28, n° 48, setembro/2016 181

O tema luta ainda deve ser bastante onde moro, não existe locais apropria-
discutido como conteúdo da Educação dos para realização desta prática.
Física. O mesmo diz respeito às práticas
corporais de aventura com prática den-
O primeiro comentário de nossos pro-
tro da escola.
fessores diz respeito à não adequação
para a escola das Práticas Corporais de
Em relação ao conteúdo exercício físico Aventura, a não ser para conhecimento
e práticas corporais de aventura pensa- teórico, uma vez que aulas práticas fi-
mos ser temas complexos e fora da rea- cam com difícil viabilidade dentro do
lidade escolar, podendo ser transferido ambiente escolar.
para o ensino médio.

Nas práticas corporais de aventura, não


De acordo com o proposto na Base temos segurança para que o aluno de-
Nacional Comum para [...] práticas cor- senvolva essa prática dentro da escola,
porais de aventura [...] a realidade en-
não sendo pertinente para série.
contrada na escola é a falta de materiais
específicos e espaço físico adequado
para essas práticas, fazendo com que as Trabalhar com esportes de aventuras na
vivências não sejam satisfatórias para o natureza requer materiais adequados,
desenvolvimento do aluno. experiência com os esportes escolhidos
e local apropriado. Sugere-se que haja
Nas práticas corporais de aventura, não muito conhecimento sobre o esporte e
temos segurança para que o aluno de- sua prática.
senvolva essa prática dentro da escola,
não sendo pertinente para série. Revisar os conceitos referentes ao eixo
das práticas corporais de aventura, con-
[...] seria interessante incluir para os siderando a realidade da educação pú-
alunos do ensino médio os conceitos blica brasileira.
ligados ao corpo, conteúdo que ficou
de fora da proposta inicial. E excluir das
A respeito do conteúdo praticas cor-
séries do ensino fundamental II o con-
porais de aventura/natureza não vejo
teúdo relacionado as práticas corporais
a colaboração dentro do componente
de aventuras.
curricular da Educação física que tem
em seus blocos estabelecidos (jogo-
Dando continuidade aos estudos re- -esporte-ginastica-dança- luta) trazem
ferentes a Base Nacional Comum nós os diversos temas sociais em respeito
professores da área de Educação Física de atividades corporais que tendem a
concluímos que alguns conteúdos dei- surgir no cenário social, sem ter sido
xaram de ser explorado enquanto que pensado pra o sentido de realizá-la.
a inclusão de outros não consideramos
necessários [...] acredita-se que o con-
teúdo Práticas corporais de Aventura As contribuições demonstram o
deixa muito a desejar, pois na nossa
nível de preocupação dos professores de
escola, município, não temos estruturas
físicas e nem profissionais capacitados EF ao se deparar com as PCAs como um
para uma prática e orientação segura conteúdo a ser desenvolvido em suas au-
destas modalidades. las. As expressões ‘experiência’, ‘formação
adequada’, ‘conhecimento sobre’, ‘profis-
De acordo com a prática corporal de sionais capacitados’, no contexto que são
aventura, depende da realidade da es-
cola e da cidade, no caso da cidade apresentadas, indicam que tal qualificação
182

(conforme demonstram SILVEIRA; MO- Proporcionar ao aluno a prática es-


RAES; INÁCIO, 2011) e experiência estão portiva em diferentes modalidades, os
exercícios físicos, bem como as práti-
ausentes da realidade escolar, sendo assim, cas corporais de aventura, com profis-
uma importante limitação - e um desafio sionais habilitados para cada uma das
a ser enfrentado pelas instituições de en- atividades e em horário de contra-turno
para maior e melhor aproveitamento.
sino superior, para a inserção efetiva das
PCAs na EF.
Os Esportes deveriam englobar espor-
Ao mesmo tempo, quando afirmam tes na natureza e de inverno e Ginástica
que não há ‘espaços’, ‘locais’, ‘equipamen- englobar práticas corporais de aventura
tos’, ‘materiais específicos’, as observações
sugerem que os professores têm uma visão Acrescentar atividades de aventuras ru-
rais com as urbanas. sendo que exista a
das PCAs semelhante à apresentada na
possibilidade de realizar aulas em am-
BNCC, ou seja, de que estas se constituem biente rural.
das práticas mais conhecidas, especialmen-
te via mídia, com suas características e seus As contribuições acima citadas su-
valores intrínsecos, o que lhes imputa um gerem que os professores concordam com
distanciamento ainda maior. Estas mesmas a inserção das PCAs na escola, desde que
lacunas são vistas também em Caetano para isso sejam desenvolvidas ações estra-
(2012). tégicas como: conhecimentos de primeiros
Encontramos também contribuições socorros, uso das TICs, aulas no contraturno,
não contrárias à inclusão das PCAs, mas saídas para áreas rurais. Presumimos que
que destacam aspectos pertinentes à sua essas respostas favoráveis sejam uma dis-
inserção na escola: posição para conhecer/ampliar mais sobre
as PCAs e inseri-las na EF, como alternativa
Práticas Corporais de Aventura: será ao conteúdo tradicional, já desgastado e
uma novidade na rotina da escola. desmotivante para os estudantes.
Há ainda uma contribuição mais
Realizar um trabalho mais aprofundado abrangente, que vai além da EF, contextua-
sobre o tema primeiros socorros, uma lizando este conteúdo com as possibilidades
vez que nesse será trabalhado praticas
de aventura, esportes e lutas mais a
de prática cotidiana - no lazer, e nas polí-
fundo, assim serão desenvolvidas au- ticas públicas:
tonomia, protagonismo do sujeito e o
estreitamento das relações sociais. Sou professor da rede pública munici-
pal e incentivar estas atividades sem se
Conhecer e compreender os impactos ter o prévio apoio, discussão na comu-
positivos e negativos das práticas corpo- nidade, e investimento em estrutura no
rais de aventura urbana e na natureza.                                             espaço público praças onde possam ser
materializadas. Afinal andar de skate,
patins, skyline é preciso adequação as
Conhecer as práticas corporais de aven- vias públicas ruas, praças, áreas abertas
tura por meio de vídeos, textos e pes- natureza, pois calçadas é pra pedes-
quisas. (Como levar ao aluno a VIVEN- tre, pista é pra carros, motos, e a bici-
CIAR práticas). cleta precisa de via própria, setorizar
V. 28, n° 48, setembro/2016 183

uma praça atendendo as inúmeras in- corporais (brincadeiras e jogos; espor-


tencionalidades dos sujeitos em seus tes; exercícios físicos; ginásticas; lutas;
momentos de lazer em quanto adulto práticas corporais alternativas; práticas
e consciente de direitos e deveres na corporais de aventura; ritmos e danças.
sociedade em que está inserido, o con- (SOARES, 2016, p.3).
teúdo praticas corporais de aventura ur-
banas/natureza não é relevante aos edu-
candos da educação básica. Pra toda e Ou seja, esta especialista questiona
qualquer atividade é preciso fiscali- uma lacuna matricial, teórica, e sugere
zação social e governamental pra que que os conteúdos devam ser uma “opção
se assegure a integridade do cidadão e
educativa” da escola e de seus professores.
que regulamente em quais quer locais
atividades sem as devidas informações Podemos inferir com isto, que a autora in-
e utilidade pública dica que a inclusão ou não dos conteúdos
listados na Base devam ser de livre adesão
Os apontamentos deste professor por escola, uma vez que é o “domínio de
chamam à atenção para todo um contexto conhecimento do professor na estruturação
que deve ser considerado em relação às dos conhecimentos” (SOARES, 2016, p.04)
PCAs. Preocupação relevante e bem coloca- que deve definir sua inclusão ou não.
da, mas que, de certa maneira, não é distinta Comungamos com o princípio do
para outras práticas corporais, tradicionais ‘domínio do conhecimento’ apresentado
ou não, marginalizadas por visões estreitas pela especialista; no entanto, importa res-
que vão pouco além de políticas públicas e salvar que este argumento pode legitimar
setoriais voltadas ao futebol de campo, ao um comportamento de acomodação e
futsal e quase nada mais que isso. autodesobrigação de busca por alternativas
Às contribuições enviadas na pedagógicas por parte dos professores.
consulta pública, somam-se os textos críticos Por sua vez, a Professora Lívia Tenó-
elaborados por especialistas convidados - já rio Brasileiro, da UPE, destaca o fato de que:
citados no início deste trabalho. A consulta
aos referidos aponta que apenas três A primeira vista tal apresentação per-
mite compreender que foi realizado
especialistas fizeram alguma referência
um movimento de incorporação de al-
explícita às PCAs. gumas práticas corporais que vinham
A professora Marta Genú Soares, da sendo tratadas dentro de outros fenô-
UEPA, não aborda especificamente as PCAs menos, a exemplo das práticas cor-
porais de aventura que eram tratadas
em sua análise, mas as cita quando indica
pelo fenômeno esporte. (BRASILEIRO,
que a BNCC deveria   2016, p.06)

explicar esse arranjo didático, o critério


Neste caso, parece ser um destaque
de indicação das dimensões do conhe-
cimento e a teoria pedagógica que es- positivo, acenando para o entendimento
trutura a organização do conhecimento de que nem todas as práticas corporais são
[...]   esclarecer que a teoria deve estar esporte, o que pode então – assim inferimos,
referendada pelo PPP da escola, pela
ampliar a compreensão também de profes-
opção educativa, pelo domínio de co-
nhecimento do professor, na estrutu- sores e alunos sobre esta distinção; e assim
ração dos conhecimentos em práticas sendo, tal compreensão ampliada pode
184

gerar novas atitudes e formas de apropriação em esportes de aventura; o despreparo


das práticas corporais em outras dimensões dos professores; o pouco referencial
teórico e poucos livros de apoio didá-
da vida, além da EF. A especialista segue tico em relação ao ensino dos esportes
sua análise: de aventura na escola. (RODRIGUES,
2016, p.10)
As Práticas Corporais de Aventura apa-
recem no 3º ciclo a partir da classifica-
Nas análises das três especialistas
ção das práticas de aventuras urbanas,
na sequencia virá as práticas de aven- veem-se preocupações semelhantes a
turas na natureza. A preocupação que algumas que apresentamos, bem como
recaí aqui é comum aos cursos de for- comungam com os apontamentos presentes
mação de como tratar estas práticas que
nas contribuições públicas.
acontecem fora dos espaços escolares,
especialmente as de natureza. Finaliza Caminhando para o final deste texto,
o 5º ciclo apresentando a possibilida- comungamos com Tahara e Carnicelli Filho
de de realização de forma autônoma e (2013, p.61), os quais nos dizem que as
crítica das mesmas. Que limites estão práticas de aventura no âmbito de atuação
apontados para a ideia de experimen- educativa-pedagógica constituem-se como
tação e fruição? Parte destas expressões
são tratadas como esporte (BRASILEI- um bloco de conteúdos “capaz de propor-
RO, 2016, p.11) cionar às crianças e adolescentes variadas
situações de relevada importância pedagó-
gica por conta da transmissão de eficientes
Neste parágrafo, a autora reforça as
valores, atitudes e normas.”
preocupações que já listamos mais acima
Nesta direção, asseveramos o mérito
sobre as práticas a serem realizadas fora dos
e a positividade na proposta da Base em
espaços escolares. E questiona algumas ex- incluir as PCAs como um conteúdo perene
pressões como ‘experimentação’ e ‘fruição’, na EF brasileira e confluímos com a mesma,
tal qual também fizemos anteriormente. mas relembramos a crítica à ausência deste
Finalmente, a professora da UFG, conteúdo para a Educação Infantil e nos
Anegleyce Teodoro Rodrigues, também se primeiros ciclos. Mas importa reafirmar a
manifestou sobre o conteúdo em tela: importância de pesquisas, estudos e experi-
mentações das PCAs como conteúdo da EFE
Sobre os esportes de aventura podemos como fizeram Inácio et al. (2015), Franco
afirmar que este é um tema de grande (2008), Tahara e Darido (2016), Armbrust
interesse por parte da juventude, mas e Pereira (2010), entre outros que apontem
também são evidentes algumas dificul-
caminhos satisfatórios para a inserção deste
dades peculiares para sua operaciona-
lização em termos de currículo nacio- conteúdo não apenas na EFE mas também
nal. Destaco algumas limitações em se nos cursos de formação inicial e continuada,
adaptar materiais e condições de ensino sem o que, a proposta das PCAs na BNCC
em escolas de regiões urbanas e rurais: perde sentido, relevância e significado.
limitações de recursos financeiros para
Finalizando, ressaltamos a impor-
aquisição dos materiais que tais práticas
exigem, por exemplo, o slack line, a tância de que a inclusão deste conteúdo
corrida de orientação, o rapel, a tirole- na EFE deva ser balizada por propostas me-
sa, o skate, dentre outros; a dificuldade todológicas críticas, como experimentado
em se incluir os alunos com deficiência por Inácio et al. (2015), que se basearam
V. 28, n° 48, setembro/2016 185

na proposta crítico-superadora; de acor- basenacionalcomum.mec.gov.br/#/


do com os feedbacks dos alunos e com site/relatorios-analiticos. Acesso em
as avaliações realizadas naquele estudo, 15/05/2016.
observou-se como adequada a proposta BRUHNS, H. T. Lazer e Meio Ambiente:
pedagógica, pois possibilitou “[...] ao aluno corpos buscando o verde e a aventura.
produzir pensamentos e conhecimentos Revista Brasileira de Educação Física.
fora do senso comum.” (COLETIVO DE AU- Ijuí, v. 18, n.2, 1997, p.86-92.
TORES, 2009, p.27); isto foi possível pela CAETANO, A. C. A. Práticas Corporais
realização de práticas corporais de aventura de Aventura na Natureza: uma
no meio escolar, mas, especialmente, pela possibilidade de conexão com a
apropriação de um conteúdo da cultura Educação Ambiental na Educação Física
corporal só conhecido, pela maioria, por Escolar. Monografia de Especialização
meio das mídias. em Educação Física Escolar. Goiânia:
ESEFFEGO. 2012
COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do
REFERÊNCIAS Ensino da Educação Física. São Paulo:
Editora Cortez, 1992.
ABREU, M. J. Relações entre Educação GOIÂNIA. Diretrizes Curriculares para a
Ambiental e Educação Física - um Educação Fundamental da Infância e
estudo na rede municipal de ensino de da Adolescência, Goiânia: Secretaria
Curitiba. Dissertação de Mestrado em Municipal de Educação, 2008.
Educação. UFPR, 2010. INACIO, H. L. D.; CASTRO, C.; MACHADO,
ARMBRUST, I.; SILVA, S. A. P. S. Pluralidade L.; CAUPER, D. C. Práticas corporais de
Cultural: os esportes radicais na aventura [na natureza] na educação
Educação Física escolar. Movimento. física escolar: uma experiência em
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p.281-300 In: Congresso Brasileiro de Ciências
BETRÁN, J. O. BETRÁN, A.O. La crisis do Esporte, 2015, Vitória. Anais do
de la modernidad y el advenimiento Conbrace - Congresso Brasileiro de
de la posmodernidad: el deporte y Ciências do Esporte, 2015.
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Adventure bodily practices in school: opportunities and challenges


- reflections beyond Curricular Common National Base

ABSTRACT

This text presents a documental analysis about the Adventure Bodily Practices content,
pointed at the National Curricular Common Base (BNCC), as a novelty comparing itself
to the traditional contents of Brazilian Physic Education. Our goal was to analyses if the
referred content meets the principles of basic education inside the BNCC, especially it’s
exposition in the Languages area, in the axis and goals of the formation in elementary
and high school, and in the specific orientations for Physic Education; also evaluate the
insertions and details of the content for each of the proposed cycles. We also pointed
out limits and possibilities for the insertion of this content in School Physic Education.
We concluded for the importance of this content, and we advocate that its inclusion of
School P.E. must be buoyed by critical pedagogical propositions.

Keywords: Physic Education; Teaching; Adventure Bodily Practices; Physical Activities

Prácticas de aventura en el cuerpo de la escuela: oportunidades y


desafíos - reflexiones más allá de la Base Nacional Común Curricular

RESUMEN

Este artículo presenta un análisis documental del contenido Prácticas corporales de


Aventura que ha sido apuntado en la Base Nacional Común Curricular (BNCC), como una
novedad en comparación con el contenido tradicional de la Educación Física Brasileña.
Nuestro objetivo ha sido analizar si ese contenido cumple con los principios de la
educación básica presente en la BNCC, especialmente en su exposición en el área de
Lenguaje, en los ejes y los objetivos de la formación en la escuela primaria y secundaria,
y en sus apuntes específicos para la Educación Física; además de evaluar la inserción del
contenido en cada uno de los ciclos de enseñanza de la BNCC. Se buscó aún límites y
posibilidades para la inclusión de estos contenidos en la educación física. Llegamos a
la conclusión de la importancia de los contenidos y defendemos que su inclusión en la
educación física debe ser sostenida por las propuestas pedagógicas críticas.

Palabras-clave: Educación Física; Enseñanza; Prácticas Corporales de Aventura;


Actividades Físicas

Recebido em: junho/2016


Aprovado em: agosto/2016

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