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RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO

VISÃO GERAL

A responsabilidade civil do Estado, também conhecida como responsabilidade


extracontratual do Estado, pode decorrer de três circunstâncias: ação, omissão ou
situação de risco que gera prejuízo a terceiros praticadas pelo Estado. O resultado da
ocorrência de dano em razão de quaisquer dessas situações é a obrigação de o Estado
responder patrimonialmente, ou seja, mediante o pagamento de indenização.

Existem três teses sobre a responsabilidade patrimonial do Estado: (i) culpa


administrativa – exige a comprovação da falta do serviço; (ii) risco administrativo – basta
a ocorrência do dano para gerar indenização, aceitando hipóteses excludentes da
responsabilidade; e (iii) risco integral – entende que o Estado deve indenizar por todo e
qualquer dano, mesmo tendo havido culpa ou dolo da vítima; não são admitidas
excludentes.

No ordenamento pátrio, a responsabilidade civil do Estado é orientada pela


teoria do risco administrativo, em razão da divisão do ônus na máquina pública por
todos, e possui caráter objetivo, ou seja, independe de culpa ou ilicitude, bastando a
caracterização do nexo causal entre o fato administrativo e o dano.

Vejamos o dispositivo constitucional que dispõe sobre o tema:


CRFB/88 – Art. 37. A administração pública direta e indireta de
qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade,
moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:
[...]
§ 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado
prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus
agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito
de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.

Desta forma, é possível perceber que respondem objetivamente:

1. Os entes da Federação (União, Estados, Municípios e Distrito Federal);


2. As pessoas jurídicas de direito público da Administração Indireta (Autarquias e
Fundações Públicas);
3. As pessoas jurídicas de direito privado da Administração Indireta que não
concorrem com a iniciativa privada (Empresas Públicas e Sociedades de
Economia Mista prestadoras de serviços públicos);
4. Os delegatários privados de serviços públicos (Concessionárias e
Permissionárias).
Responde, ainda, o Estado, de forma subsidiária, no caso de insolvência das
pessoas jurídicas de direito público e privado integrantes da Administração Indireta e,
também das delegatárias privadas de serviços públicos. Entretanto, no tocante às
empresas públicas que exercem atividade em concorrência com a iniciativa privada, a
maioria da doutrina entende que não pode o Estado responder subsidiariamente pelas
dívidas em razão da impossibilidade de ocorrência da falência, conforme dispõe o art.
2º, II da Lei 11.101/05.

IMPORTANTE:

I. O caráter objetivo da responsabilidade civil não pode ser aplicado quando se


estiver diante de pessoa jurídica de direito privado integrante da Administração
Indireta que desempenha atividade econômica em concorrência com a iniciativa
privada, tendo em vista não haver a sujeição predominante ao regime jurídico
público.

II. A responsabilidade dos delegatários privados de serviço de transporte público,


em caso de acidente de trânsito, é objetiva tanto em relação aos usuários quanto
aos não usuários que sofrerem dano. Nesse sentido:

CONSTITUCIONAL. RESPONSABILIDADE DO ESTADO. ART. 37, § 6º, DA


CONSTITUIÇÃO. PESSOAS JURÍDICAS DE DIREITO PRIVADO
PRESTADORAS DE SERVIÇO PÚBLICO. CONCESSIONÁRIO OU
PERMISSIONÁRIO DO SERVIÇO DE TRANSPORTE COLETIVO.
RESPONSABILIDADE OBJETIVA EM RELAÇÃO A TERCEIROS NÃO
USUÁRIOS DO SERVIÇO. RECURSO DESPROVIDO. I – A
responsabilidade civil das pessoas jurídicas de direito privado
prestadoras de serviço público é objetiva relativamente a terceiros
usuários e não-usuários do serviço, segundo decorre do art. 37, § 6º,
da Constituição Federal. II - A inequívoca presença do nexo de
causalidade entre o ato administrativo e o dano causado ao terceiro
não-usuário do serviço público, é condição suficiente para
estabelecer a responsabilidade objetiva da pessoa jurídica de direito
privado. III - Recurso extraordinário desprovido. (STF, Tribunal Pleno,
RE 591874/MS, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, REPERCUSSÃO GERAL
- MÉRITO DJe 18-12-2009)

III. O STJ tem julgado que entende que, em se tratando de matéria ambiental, a
responsabilidade entre concedente e concessionário é solidária se houver
omissão na fiscalização por parte da Poder concedente. Veja-se:

DIREITO ADMINISTRATIVO E AMBIENTAL. ARTIGOS 23, INCISO VI E 225,


AMBOS DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. CONCESSÃO DE SERVIÇO
PÚBLICO. RESPONSABILIDADE OBJETIVA DO MUNICÍPIO.
SOLIDARIEDADE DO PODER CONCEDENTE. DANO DECORRENTE DA
EXECUÇÃO DO OBJETO DO CONTRATO DE CONCESSÃO FIRMADO
ENTRE A RECORRENTE E A COMPANHIA DE SANEAMENTO BÁSICO DO
ESTADO DE SÃO PAULO - SABESP (DELEGATÁRIA DO SERVIÇO
MUNICIPAL). AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DANO AMBIENTAL.
IMPOSSIBILIDADE DE EXCLUSÃO DE RESPONSABILIDADE DO
MUNICÍPIO POR ATO DE CONCESSIONÁRIO DO QUAL É FIADOR DA
REGULARIDADE DO SERVIÇO CONCEDIDO. OMISSÃO NO DEVER DE
FISCALIZAÇÃO DA BOA EXECUÇÃO DO CONTRATO PERANTE O POVO.
RECURSO ESPECIAL PROVIDO PARA RECONHECER A LEGITIMIDADE
PASSIVA DO MUNICÍPIO. (STJ, Segunda Turma, REsp 28222/SP, Rel.
Min. Eliana Calmon, Rel. p/ Acórdão Min. Nancy Andrighi, DJe
15.10.2001)

Conforme exposto no início, o Estado responde diante de três situações:

 Ação: ocorre um dano em virtude da prática direta de um ato pelo Estado. Este
ato pode ter sido praticado sem culpa e de forma lícita; se gerou prejuízo a
alguém, o Estado deve promover a indenização de forma objetiva.

 Omissão: ocorre quando o Estado tem o dever de agir, mas se mantém inerte
por dolo, desídia ou negligência. Essa modalidade exige a presença de culpa para
o dever de indenizar, conforme entendimento de boa parte da doutrina e da
jurisprudência. A culpa pode se dar em razão de (i) não funcionamento, (ii)
demora na prestação ou (iii) ineficiência de um serviço; dessa forma, apenas a
omissão ilícita do Estado enseja sua responsabilidade civil. No tocante à
comprovação da culpa, é plenamente possível a presunção relativa da culpa do
Estado quando se estiver diante de uma dificuldade de produção de prova
negativa ou quando a lei determinar, como, por exemplo, faz o Código de Defesa
do Consumidor.

OMISSÃO GENÉRICA x OMISSÃO ESPECÍFICA:

No caso dos atos omissivos, parcela da doutrina tem diferenciado a omissão


genérica da omissão específica, o que traria consequência para a
responsabilização ou não do Estado no caso concreto.

A omissão genérica seria aquela relacionada com a prestação de serviços


adequados à coletividade, e não a determinado usuário. Seria, por exemplo,
um adequado serviço de segurança pública, que diminuísse o número de
assaltos em um município.

Já a omissão específica decorre do dever do Estado de garantir a proteção


de determinado bem jurídico que se encontra diretamente sob sua tutela.
A omissão específica ocorre sempre que o agente público – com atribuições
para garantir a integridade física, psíquica ou moral da pessoa humana sob
sua guarda – age com negligência, propiciando, por sua inércia, a ocorrência
do dano. É o caso do responsável pelo serviço de atendimento de urgência
que, injustificadamente, demora em determinar a ambulância que
transporte paciente em estado grave; ou do diretor de presídio que coloca
membros de gangs rivais na mesma cela. Nestes exemplos, percebe-se uma
relação direta entre a omissão do agente responsável e o dano causado a
terceiros.

Para essa corrente, a omissão genérica somente poderia ensejar


responsabilidade civil subjetiva do Estado, sendo imprescindível a
demonstração de culpa no caso concreto (relacionando-se à ideia de “faute
du service”). Já a omissão específica acarretaria uma responsabilidade
objetiva do Estado, diante de um dever específico de cuidado que foi
descumprido, bastando demonstrar o nexo de causalidade entre a conduta
(ou falta desta) e o dano que a omissão causou ao particular.

Importante mencionar ainda uma corrente minoritária (Flavio Willeman –


PGE-RJ) que entende que, no caso de omissão genérica, sequer haveria
responsabilidade do Estado.

 Situação de risco: se dá quando o dano decorre de força natural ou humana


alheia e não é necessária a existência de culpa. É necessário que a relação de
causalidade seja direta com o risco provocado pelo Estado. Exemplos:
assassinato de presidiário por outro, fuga de preso que vem a causar dano.

Para que o Estado proceda à indenização pela prática de ato comissivo ou


omissivo ilícito, o dano deve ser sempre (i) jurídico, ou seja, deve ocorrer a violação de
um direito, não basta apenas o prejuízo econômico; (ii) certo e, mesmo que atual ou
futuro, não pode ser apenas eventual. Em se tratando de ato comissivo ou omissivo
lícito, além dos requisitos da juridicidade e certeza, o dano deve ser ainda (iii) especial,
ou seja, não pode atingir toda a sociedade de forma genérica; e (iv) anormal, aquele
inexigível em razão do interesse comum.

Por fim, importa dizer que as excludentes da responsabilidade civil do Estado


versarão, em regra, apenas sobre o nexo de causalidade entre o ato e dano, tendo em
vista o caráter objetivo.

São três as excludentes que eliminam o nexo causal e, consequentemente, a


responsabilidade estatal: culpa da vítima, de terceiros ou de fatos da natureza (força
maior).

IMPORTANTE:

I. O caso fortuito, como regra, não é indenizável. No entanto, parte da doutrina


divide o FORTUITO INTERNO, inerente à atividade desenvolvida, do FORTUITO
EXTERNO, que não apresenta qualquer relação com a atividade. Nessa linha, um
dano decorrente de uma falha técnica em um transporte público poderia ser
considerado um fortuito interno, por exemplo. Por outro lado, o Superior
Tribunal de Justiça já firmou entendimento segundo o qual assalto em transporte
coletivo é hipótese de fortuito externo, excluindo a responsabilidade do
transportador:

PROCESSO CIVIL. RECURSO ESPECIAL. INDENIZAÇÃO POR DANOS


MORAIS, ESTÉTICOS E MATERIAL. ASSALTO À MÃO ARMADA NO
INTERIOR DE ÔNIBUS COLETIVO. CASO FORTUITO EXTERNO.
EXCLUSÃO DE RESPONSABILIDADE DA TRANSPORTADORA.
1. A Segunda Seção desta Corte já proclamou o entendimento de que
o fato inteiramente estranho ao transporte em si (assalto à mão
armada no interior de ônibus coletivo) constitui caso fortuito,
excludente de responsabilidade da empresa transportadora.
2. Recurso conhecido e provido. (STJ, REsp 726.371/RJ , Rel. Ministro
Hélio Quaglia Barbosa, DJ 05/02/2007)

II. O Estado responde parcialmente se o seu ato for causa concorrente do dano.
Assim, a culpa concorrente não exclui o nexo de causalidade, mas o atenua.

RESPONSABILIZAÇÃO DO AGENTE

Os agentes públicos são responsáveis somente pelos danos que derem causa
com culpa ou dolo. Ou seja, os agentes respondem de forma subjetiva, perante o
Estado apenas, via de regra, em eventual ação de regresso.

Para a propositura da ação de regresso por parte do Estado em face do agente


público que deu causa ao dano, conforme disposto no art. 37, §6º, in fine, são necessários
dois acontecimentos: (i) o Estado deve ser condenado a indenizar vítima de ato lesivo
do agente que (ii) tenha agido com culpa ou dolo.

Assunto polêmico é a possibilidade de a vítima acionar diretamente o agente


público causador do dano em ação indenizatória. Para Hely Lopes Meirelles, o particular
não pode acionar o agente público diretamente ou mesmo em conjunto com o Estado.

Já para José dos Santos Carvalho Filho e Celso Antonio Bandeira de Melo, pode
sim o agente ser demandado pela vítima de forma isolada ou solidária. Para este último
autor, ao contrário de grande parte da doutrina e jurisprudência, seria incabível, no
entanto, o instituto da denunciação da lide para chamar o agente ao processo
indenizatório ajuizado pelo particular contra o Estado em razão da diferença entre as
responsabilidades (Estado – objetiva/Agente – subjetiva), o que acarretaria um atraso
na solução do litígio.
Existe importante julgado do STF que entende pela impossibilidade da
propositura de ação em face do agente público de forma direta, consagrando a chamada
“TEORIA DA DUPLA GARANTIA”. Veja-se:
RECURSO EXTRAORDINÁRIO. ADMINISTRATIVO. RESPONSABILIDADE
OBJETIVA DO ESTADO: § 6O DO ART. 37 DA MAGNA CARTA.
ILEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM. AGENTE PÚBLICO (EX-
PREFEITO). PRÁTICA DE ATO PRÓPRIO DA FUNÇÃO. DECRETO DE
INTERVENÇÃO. O § 6o do artigo 37 da Magna Carta autoriza a
proposição de que somente as pessoas jurídicas de direito público, ou
as pessoas jurídicas de direito privado que prestem serviços públicos, é
que poderão responder, objetivamente, pela reparação de danos a
terceiros. Isto por ato ou omissão dos respectivos agentes, agindo estes
na qualidade de agentes públicos, e não como pessoas comuns. Esse
mesmo dispositivo constitucional consagra, ainda, dupla garantia:
uma, em favor do particular, possibilitando-lhe ação indenizatória
contra a pessoa jurídica de direito público, ou de direito privado que
preste serviço público, dado que bem maior, praticamente certa, a
possibilidade de pagamento do dano objetivamente sofrido. Outra
garantia, no entanto, em prol do servidor estatal, que somente
responde administrativa e civilmente perante a pessoa jurídica a cujo
quadro funcional se vincular. Recurso extraordinário a que se nega
provimento. (STF, Primeira Turma, RE 327904/SP, Rel. Min. Ayres
Britto, DJe 08.09.2006)

O STJ, no entanto, acompanha a doutrina majoritária que entende pela


possibilidade:
RESPONSABILIDADE CIVIL. SENTENÇA PUBLICADA ERRONEAMENTE.
CONDENAÇÃO DO ESTADO A MULTA POR LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ.
INFORMAÇÃO EQUIVOCADA. AÇÃO INDENIZATÓRIA AJUIZADA EM
FACE DA SERVENTUÁRIA. LEGITIMIDADE PASSIVA. DANO MORAL.
PROCURADOR DO ESTADO. INEXISTÊNCIA. MERO DISSABOR.
APLICAÇÃO, ADEMAIS, DO PRINCÍPIO DO DUTY TO MITIGATE THE
LOSS. BOA-FÉ OBJETIVA. DEVER DE MITIGAR O PRÓPRIO DANO. 1. O
art. 37, § 6º, da CF/1988 prevê uma garantia para o administrado de
buscar a recomposição dos danos sofridos diretamente da pessoa
jurídica que, em princípio, é mais solvente que o servidor,
independentemente de demonstração de culpa do agente público.
Vale dizer, a Constituição, nesse particular, simplesmente impõe ônus
maior ao Estado decorrente do risco administrativo; não prevê, porém,
uma demanda de curso forçado em face da Administração Pública
quando o particular livremente dispõe do bônus contraposto.
Tampouco confere ao agente público imunidade de não ser
demandado diretamente por seus atos, o qual, aliás, se ficar
comprovado dolo ou culpa, responderá de outra forma, em regresso,
perante a Administração. 2. Assim, há de se franquear ao particular a
possibilidade de ajuizar a ação diretamente contra o servidor,
suposto causador do dano, contra o Estado ou contra ambos, se
assim desejar. A avaliação quanto ao ajuizamento da ação contra o
servidor público ou contra o Estado deve ser decisão do suposto lesado.
Se, por um lado, o particular abre mão do sistema de responsabilidade
objetiva do Estado, por outro também não se sujeita ao regime de
precatórios. Doutrina e precedentes do STF e do STJ. 4. [...] 5. Recurso
especial não provido. (STJ, Quarta Turma, REsp 1.325.862/PR, Rel. Min.
Luis Felipe Salomão, DJe 10.12.2013)

RESPONSABILIDADE POR ATOS LEGISLATIVOS

Admite-se a responsabilidade do Estado pela edição de atos pelo Poder


Legislativo em três hipóteses: (i) quando o ato não for materialmente legislativo, como
leis de efeitos concretos e atos administrativos praticados pelo Legislativo; (ii) quando
se tratar de lei inconstitucional que atinge um particular especificamente; (iii) em caso
de omissão legislativa ou regulamentar que obsta o exercício de direitos. Sobre este
último caso, o STF já determinou o pagamento de indenização caso o Congresso
Nacional não procedesse à edição da norma.

No que toca à responsabilidade por lei constitucional, muito embora seja


possível, é uma situação bem peculiar, “já que as leis podem contrariar interesses
econômicos, mas são gerais e abstratas, não gerando de per se danos jurídicos ou
especiais. E, mais, para serem constitucionais pressupõe-se que não agrediram
quaisquer direitos adquiridos (art. 5º, XXXV, CRFB/88)”1. No entanto, se o dano preencher
os requisitos de juridicidade, especialidade e anormalidade, perfeitamente possível a
indenização. Têm-se como exemplo os casos de limitações administrativas na
propriedade e desapropriações indiretas, ambas decorrentes de leis e atos normativos
indenizáveis. Outro exemplo também comum é a lei que transforma determinada
atividade econômica que era da iniciativa privada em serviço público, condenando as
empresas que a exploravam.

RESPONSABILIDADE POR ATOS JUDICIAIS

É extremamente difícil proceder à responsabilização do Estado por atos


jurisdicionais, embora possível. Vale ressaltar que se comenta aqui sobre a atividade
jurisdicional exercida pelos órgãos do Poder Judiciário, com exceção do CNJ. Os atos
judiciários, ou seja, atos administrativos praticados pelo Poder Judiciário, não são
objetos de problematização quanto à responsabilidade do Estado.

O ato jurisdicional é endoprocessual e, portanto, passível de revisão ou nulidade.


Por isto, somente é possível a indenização nos casos expressamente previstos em lei ou
após a tentativa judicial de impugnação.

1
ARAGÃO, Alexandre Santos de. Curso de Direito Administrativo, p. 577. Rio de Janeiro: Forense, 2012.
Em regra, existem apenas dois casos em que o Estado responde por ato
judiciário:

i. Art. 5º, LXXV,CRFB/88: o Estado indenizará o condenado por erro


judiciário, assim como o que ficar preso além do tempo fixado na
sentença;

ii. Art. 143, CPC: O juiz responderá, civil e regressivamente, por perdas e
danos quando: I - no exercício de suas funções, proceder com dolo ou
fraude; II - recusar, omitir ou retardar, sem justo motivo, providência que
deva ordenar de ofício ou a requerimento da parte. Parágrafo único. As
hipóteses previstas no inciso II somente serão verificadas depois que a
parte requerer ao juiz que determine a providência e o requerimento não
for apreciado no prazo de 10 (dez) dias.

A responsabilidade do Estado no caso de prisão irregular é objetiva e, portanto,


o nexo causal entre a prática do ato e o dano gerado é suficiente para sua configuração.
Nos demais casos, para que se caracterize a responsabilidade por ato jurisdicional é
necessário, ainda, a comprovação de ato doloso, sua ilicitude e, obviamente, o nexo
causal.

Entende o STF:
Agravo regimental no recurso extraordinário com agravo.
Administrativo. Responsabilidade civil do Estado. Ação civil pública
improcedente. Ato regular de promotor de justiça. Dever de indenizar.
Inexistência. Fatos e provas. Reexame. Impossibilidade. Precedentes.
1. O Tribunal a quo concluiu, com base nos fatos e nas provas dos
autos, que não foram demonstrados, na origem, os pressupostos
necessários à configuração da responsabilidade extracontratual do
Estado, haja vista que a “ação ministerial foi manejada no estrito
cumprimento das obrigações institucionais do Ministério Público”.
Incidência da Súmula nº 279/STF. 2. A jurisprudência da Corte firmou-
se no sentido de que, salvo nas hipóteses de erro judiciário e de prisão
além do tempo fixado na sentença - previstas no art. 5º, inciso LXXV,
da Constituição Federal -, bem como nos casos previstos em lei, a
regra é a de que o art. 37, § 6º, da Constituição não se aplica aos atos
jurisdicionais quando emanados de forma regular e para o fiel
cumprimento do ordenamento jurídico. 3. Agravo regimental não
provido. (STF, Segunda Turma, ARE 934578/SP, Rel. Min. Dias Toffoli,
DJe 21.03.2016)

Ainda, interessante julgado sobre prisão em flagrante e posterior absolvição por


falta de provas, entendo pela inexistência de responsabilidade civil:
CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO
EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO. CONVERSÃO EM AGRAVO
REGIMENTAL. RESPONSABILIDADE OBJETIVA DO ESTADO. PRISÃO EM
FLAGRANTE. ABSOLVIÇÃO POR FALTA DE PROVAS. ART. 5º, LXXV, 2ª
PARTE. ATOS JURISDICIONAIS. FATOS E PROVAS. SÚMULA STF 279. 1.
Embargos de declaração recebidos como agravo regimental,
consoante iterativa jurisprudência do Supremo Tribunal Federal. 2. O
Supremo Tribunal já assentou que, salvo os casos expressamente
previstos em lei, a responsabilidade objetiva do Estado não se aplica
aos atos de juízes. 3. Prisão em flagrante não se confunde com erro
judiciário a ensejar reparação nos termos da 2ª parte do inciso LXXV
do art. 5º da Constituição Federal. 4. Incidência da Súmula STF 279
para concluir de modo diverso da instância de origem. 5. Inexistência
de argumento capaz de infirmar o entendimento adotado pela decisão
agravada. Precedentes. 6. Agravo regimental improvido. (STF,
Segunda Turma, EDcl no RE 553637/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, DJe
25.09.2009)

QUESTÕES

1) 2017 - INSTITUTO AOCP – EBSERH - Advogado (HUJB – UFCG)

Em relação aos atos administrativos e suas consequências, assinale a alternativa correta.

a) A responsabilidade civil do poder público tem como configuradores, dentre outros, a


ocorrência do dano, nexo causal entre o evento e a ação ou omissão do agente público
ou do prestador de serviço público e oficialidade da conduta lesiva, não se confundindo
com a responsabilidade criminal e administrativa.

b) A ação civil pública, regulada pela legislação de cada Estado, é o instrumento


processual adequado conferido ao Ministério Público para o exercício do controle
popular sobre os atos dos poderes públicos.

c) O ato administrativo vinculado é aquele que a administração pode praticar com certa
liberdade de escolha, nos termos e limites da lei, quanto ao seu conteúdo, modo de
realização, oportunidade e conveniência.

d) O ato administrativo complexo é o que decorre, para ser formado, de uma única
manifestação de vontade de um único órgão, seja unipessoal ou colegiado.

e) Poderá ser lícito o excesso de poder quando o agente público atuar fora de suas
funções estabelecidas em lei, mas houver relevante interesse social, coletivo ou para a
administração pública.

COMENTÁRIOS:

a) Conforme explicado, a responsabilidade civil do Estado decorre de um nexo causal


entre uma conduta “do Estado” e o dano causado. Oficialidade da conduta lesiva quer
dizer que a Administração responde pelas condutas lesivas de seus agentes, nessa
função, ou seja, quando investidos na atividade administrativa.
b) A ação civil pública é regulada por legislação Nacional!

c) Essa descrição refere-se ao ato discricionário. No ato vinculado, não há margem de


escolha, o agente vincula-se ao que está preceituado na Lei.

d) O ato complexo decorre da manifestação de vontade de dois ou mais diferentes


órgãos e, somente assim, alcança a perfeição.

e) Excesso de poder, que é espécie do Abuso de poder (gênero), é ilícito.

GABARITO: A.

2) 2015 – AOCP - TRE-AC - Técnico Judiciário - Área Administrativa

Em relação à responsabilidade Civil do Estado, assinale a alternativa correta.

a) A União é responsabilizada por danos nucleares somente quando for culpada peio
dano.

b) As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços


públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a
terceiros.

c) Para a configuração de responsabilidade civil do Estado, não é necessário que haja


nexo de causalidade.

d) As sociedades de economia mista que exploram atividade econômica não respondem


pelos danos que seus agentes causarem a terceiros.

e) No ordenamento jurídico brasileiro, vige o sistema da irresponsabilidade estatal,


baseada no primado “the king can do no wrong".

COMENTÁRIOS:

a) CF/88, Art. no Art. 21, XXIII, d) a responsabilidade civil por danos nucleares
independe da existência de culpa;

b) CF/88, Art. 37, § 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado


prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa
qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o
responsável nos casos de dolo ou culpa.

c) Conforme explicado, a responsabilidade civil do Estado decorre de um nexo causal


entre uma conduta “do Estado” e o dano causado.

d) Embora elas não respondam de forma objetiva, respondem sim pelos danos que
seus agentes causarem a terceiros, mas de forma diferenciada. Sua responsabilidade
será igual a das demais pessoas privadas, regidas pelo Direito Civil ou pelo Direito
Comercial.
e) A Teoria da Irresponsabilidade do Estado (The King can do no wrong) assumiu uma
maior notoriedade sob os regimes absolutistas. Baseava-se na ideia de que não era
possível ao Estado lesar seus súditos, uma vez que o Rei não cometia erros. Esta ideia
está ultrapassada.

GABARITO: B.

3) 2012 – AOCP – BRDE - Analista de Projetos - Jurídica

A respeito da responsabilidade Civil do Estado, assinale a alternativa correta.

a) O Estado não possui personalidade jurídica e, portanto, a responsabilidade civil deve


recair, exclusivamente, sobre seus agentes.

b) No Brasil, a Responsabilidade Civil do Estado é, como regra, subjetiva.

c) De acordo com a Teoria do Risco Administrativo, a culpa exclusiva da vítima exclui a


responsabilidade do Estado.

d) A Teoria do Risco Integral não tem aplicabilidade no Brasil.

e) As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços


públicos não responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a
terceiros.

COMENTÁRIOS:

a) O Estado possui personalidade jurídica de direito público interno.

b) Em regra, a Responsabilidade Civil do Estado é objetiva (Teoria do Risco


Administrativo).

c) A responsabilidade extracontratual objetiva fundada no § 6° do art. 37 da


Constituição Federal (Teoria do Risco Administrativo) admite excludentes, quais
sejam: a culpa exclusiva da vítima, do terceiro e a força maior.

d) A Teoria do Risco Integral possui aplicabilidade no Brasil. Ela se aplica nos casos de
danos nucleares e danos ambientais. Seguem alguns dispositivos e citações que
confirmam isso:

CF, Art. 21. Compete à União:

XXIII - explorar os serviços e instalações nucleares de qualquer natureza e exercer


monopólio estatal sobre a pesquisa, a lavra, o enriquecimento e reprocessamento, a
industrialização e o comércio de minérios nucleares e seus derivados, atendidos os
seguintes princípios e condições:

d) a responsabilidade civil por danos nucleares independe da existência de culpa.


"A responsabilidade civil por danos ambientais, seja por lesão ao meio ambiente
propriamente dito (dano ambiental público), seja por ofensa a direitos individuais
(dano ambiental privado), é objetiva, fundada na teoria do risco integral, em face do
disposto no art. 14, § 1º, da Lei 6.938/1981, que consagra o princípio do poluidor-
pagador."

"Desse modo, tem-se que em relação aos danos ambientais, incide a teoria do risco
integral, advindo daí o caráter objetivo da responsabilidade, com expressa previsão
constitucional (art. 225, § 3º, da CF) e legal (art.14, § 1º, da Lei 6.938/1981), sendo, por
conseguinte, descabida a alegação de excludentes de responsabilidade, bastando,
para tanto, a ocorrência de resultado prejudicial ao homem e ao ambiente advinda de
uma ação ou omissão do responsável (EDcl no REsp 1.346.430-PR, Quarta Turma, DJe
14/2/2013)"

e) CF/88, Art. 37, § 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado


prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa
qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o
responsável nos casos de dolo ou culpa.

GABARITO: C.

4) 2017 – FGV - TRT - 12ª Região (SC) - Analista Judiciário - Área Administrativa

João, servidor público federal, estava conduzindo, no exercício de suas funções, o


veículo da repartição em que trabalha, quando realizou uma inversão de direção
proibida e colidiu com o veículo de Antônio, que se lesionou com o impacto. Ato
contínuo, Antônio procurou um advogado e solicitou informações a respeito da natureza
da responsabilidade civil no evento que o lesionou.

À luz da sistemática constitucional, a única resposta correta é:

a) responsabilidade objetiva e subsidiária da União;

b) responsabilidade subjetiva da União;

c) responsabilidade objetiva de João;

d) responsabilidade subjetiva e exclusiva de João;

e) responsabilidade objetiva da União e subjetiva de João.

COMENTÁRIOS: CF/88, Art. 37, § 6º “As pessoas jurídicas de direito público e as de


direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus
agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso
contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.”

Sendo assim, a União responde de forma objetiva, independente de dolo ou culpa;


enquanto João de forma subjetiva, se houver dolo ou culpa.
GABARITO: E.

5) 2017 – CESPE - TRT - 7ª Região (CE) - Conhecimentos Básicos - Cargos 3 a 6

Após colisão entre dois automóveis — um, da administração pública, dirigido por
servidor público efetivo; e outro, particular —, ficou comprovada a culpa exclusiva do
particular.

Nessa situação hipotética, arcará com o dano causado

a) cada um dos envolvidos com seu respectivo prejuízo.

b) o servidor público subsidiariamente à administração pública.

c) o particular, por ser essa situação uma hipótese de causa excludente da


responsabilidade do ente público.

d) a administração pública, em decorrência da responsabilidade objetiva.

COMENTÁRIOS: O direito brasileiro adota a teoria da responsabilidade objetiva na


variação teoria do risco administrativo, a qual reconhece excludentes da
responsabilidade estatal. Excludentes são circunstâncias que, ocorrendo, afastam o
dever de indenizar. São três:

a) Culpa Exclusiva da Vítima

b) Força Maior

c) Culpa de Terceiro

GABARITO: C.

6) 2017 – CESPE - TRT - 7ª Região (CE) - Conhecimentos Básicos - Cargo 10

A responsabilização do Estado é, em regra, objetiva. Existem, no entanto, situações em


que é possível o afastamento de tal responsabilização em razão das causas excludentes
de responsabilização, entre as quais se cita o seguinte exemplo:

a) o ferimento de um indivíduo, baleado por um policial durante uma perseguição na


rua.

b) a situação de calamidade pública que fosse decretada pelo governador de


determinado estado brasileiro se este eventualmente fosse atingido por tremor sísmico
devastador.

c) o falecimento de paciente em dia posterior ao da entrada em hospital público, fato


decorrente da não realização de exames prescritos pelo médico atendente.
d) a inundação de casas em decorrência da ausência de limpeza nos bueiros da cidade.

COMENTÁRIOS: O direito brasileiro adota a teoria da responsabilidade objetiva na


variação teoria do risco administrativo, a qual reconhece excludentes da
responsabilidade estatal. Excludentes são circunstâncias que, ocorrendo, afastam o
dever de indenizar. São três: Culpa Exclusiva da Vítima, Força Maior e Culpa de
Terceiro.

a) Para a configuração da responsabilidade estatal é irrelevante a (i)licitude. O Estado


responderá em razão da conduta do agente.

b) Tem-se aqui, uma excludente de responsabilidade, qual seja: força maior, já que é
um acontecimento involuntário, imprevisível e incontrolável que rompe o nexo de
causalidade entre a ação estatal e o prejuízo sofrido pelo particular.

c) O Estado responderá pelos danos advindos de sua omissão.

d) O Estado responderá pelos danos advindos de sua omissão.

GABARITO: B.

7) 2017 – CESPE - TRT - 7ª Região (CE) - Analista Judiciário - Contabilidade

A respeito da responsabilidade do Estado, assinale a opção correta.

a) O Estado pode ser responsabilizado pela morte do detento que cometeu suicídio.

b) Ação por dano causado por agente público deve ser proposta, em litisconsórcio,
contra a pessoa jurídica de direito público e o agente público.

c) Na época dos Estados absolutos, reinava a doutrina denominada teoria da


irresponsabilidade: quem, irresponsavelmente, fosse ensejador de dano a terceiro, por
ação ou omissão, seria obrigado a reparar o dano, inclusive o Estado.

d) Caso fortuito consiste em acontecimento imprevisível, inevitável e estranho à


vontade das partes, excludente da responsabilidade do Estado.

COMENTÁRIOS:

a) “A Administração Pública está obrigada ao pagamento de pensão e indenização por


danos morais no caso de morte por suicídio de detento ocorrido dentro de
estabelecimento prisional mantido pelo Estado. Nessas hipóteses, não é necessário
perquirir eventual culpa da Administração Pública. Na verdade, a responsabilidade
civil estatal pela integridade dos presidiários é objetiva em face dos riscos inerentes
ao meio no qual foram inseridos pelo próprio Estado. Assim, devem ser reconhecidos
os referidos direitos em consideração ao disposto nos arts. 927, parágrafo único, e
948, II, do CC.” AgRg no REsp 1.305.259-SC, Rel. Min. Mauro Campbell Marques,
julgado em 2/4/2013 (Informativo 520/STJ).
b) O STF entende que o art. 37, § 6º, da CF instituiu uma dupla garantia, consistente
no fato de a vítima ter o direito de ser ressarcida pelos cofres públicos e o de o servidor
público somente ser responsabilizado perante o próprio Estado, em ação regressiva.

c) A teoria da irresponsabilidade na verdade sustentava a origem divina dos


governantes, o que conduzia à ideia de que o rei não errava (“the king can do no
wrong”), ou seja, o Estado jamais era responsabilizado.

d) A caracterização do caso fortuito como causa excludente do nexo causal tem sido
relativizada pela doutrina e jurisprudência. A partir da distinção entre "fortuito
externo" (risco estranho à atividade desenvolvida) e "fortuito interno" (risco inerente
ao exercício da própria atividade), afirma-se que apenas o primeiro rompe o nexo
causal. Nos casos de fortuito interno, o Estado será responsabilizado.

GABARITO: A.

8) 2017 – CESPE - TRT - 7ª Região (CE) - Analista Judiciário - Oficial de Justiça Avaliador
Federal

Prestes a ser morto por dois indivíduos que tentavam subtrair a sua arma, um policial
militar em serviço efetuou contra eles disparo de arma de fogo. Embora o policial tenha
conseguido repelir a injusta agressão, o disparo atingiu um pedestre que passava pelo
local levando-o à morte.

Com referência a essa situação hipotética, assinale a opção correta.

a) O Estado não responde civilmente, pois houve o rompimento do nexo causal por fato
exclusivo de terceiro.

b) O Estado responde objetivamente pelos danos causados à família do pedestre, ainda


que o policial militar tenha agido em legítima defesa.

c) A ocorrência de legítima defesa por parte do policial militar afasta a responsabilidade


civil do Estado.

d) O Estado responde subjetivamente pelos danos, já que deve haver prova de falha no
treinamento do policial.

COMENTÁRIOS: A legítima defesa afasta a ilicitude do ato, mas não a responsabilidade


objetiva do Estado. Ademais, o Estado responde independentemente da licitude ou
ilicitude do ato. Dessa forma, subsiste a responsabilidade objetiva do Estado, ainda
que o policial tenha agido em legítima defesa

GABARITO: B.
9) 2017 – FCC - TRT - 11ª Região (AM e RR) - Analista Judiciário - Área Administrativa

Em movimentada rua da cidade de Manaus, em que existem diversas casas comerciais,


formou-se um agrupamento de pessoas com mostras de hostilidade. Em razão disso, um
dos comerciantes da rua, entrou em contato com os órgãos públicos de segurança
responsáveis, comunicando o fato. Embora os órgãos de segurança tenham sido
avisados a tempo, seus agentes não compareceram ao local, ocorrendo atos predatórios
causados pelos delinquentes, o que gerou inúmeros danos aos particulares. A propósito
do tema, é correto afirmar que

a) os danos causados por multidões insere-se na categoria de fatos imprevisíveis, não


havendo responsabilidade estatal.

b) se trata de danos causados por terceiros, causa excludente da responsabilidade


estatal.

c) o Estado arcará integralmente com os danos causados, haja vista tratar-se de hipótese
de responsabilidade subjetiva.

d) o Estado responderá pelos danos, haja vista sua conduta omissiva culposa, no
entanto, a indenização será proporcional à participação omissiva do Estado no resultado
danoso.

e) o Estado responderá integralmente pelos danos causados, em razão de sua


responsabilidade objetiva e a aplicação da teoria do risco integral.

COMENTÁRIOS: A presente questão foi retirada da obra de José dos Santos Carvalho
Filho, cujo trecho abaixo reproduzo:

"Ocorre, porém, que, em certas situações, se torna notória a omissão do Poder


Público, porque teria ele a possibilidade de garantir o patrimônio das pessoas e evitar
os danos provocados pela multidão. Nesse caso, é claro que existe uma conduta
omissiva do Estado, assim como é indiscutível o reconhecimento do nexo de
causalidade entre a conduta e o dano, configurando-se, então, a responsabilidade civil
do Estado. Trata-se, pois, de situação em que fica cumpridamente provada a omissão
culposa do Poder Público. Essa é a orientação que tem norteado a jurisprudência a
respeito do assunto.

Suponha-se, para exemplificar, que se esteja formando um agrupamento com mostras


de hostilidade em certo local onde há várias casas comerciais. Se os órgãos de
segurança tiverem sido avisados a tempo e ainda assim não tiverem comparecido os
seus agentes, a conduta estatal estará qualificada como omissiva culposa, ensejando,
por conseguinte, a responsabilidade civil do Estado, em ordem a reparar os danos
causados pelos atos multitudinários. Tal como na hipótese dos fatos imprevisíveis,
contudo, a indenização será proporcional à participação omissiva do Estado no
resultado danoso."

GABARITO: D.
10) 2017 – FCC – TST - Juiz do Trabalho Substituto

Em matéria de responsabilidade civil extracontratual do Estado, é correto afirmar:

a) O caso fortuito, a força maior e a culpa concorrente da vítima rompem o nexo causal
e, por conseguinte, afastam a responsabilidade civil objetiva do Estado.

b) No âmbito do Superior Tribunal de Justiça, prevalece o entendimento de que o prazo


prescricional para a propositura da ação indenizatória é de três anos contados da
ocorrência do evento danoso.

c) A responsabilidade dos concessionários de serviços públicos, de acordo com a


jurisprudência mais recente do Supremo Tribunal Federal, não se sujeita à aplicação da
teoria objetiva quanto a danos causados a terceiros não usuários.

d) A expressão “nessa qualidade”, prevista no art. 37, § 6° , da CF/88, significa que


somente podem ser atribuídos à pessoa jurídica os comportamentos do agente público
levados a efeito durante o exercício da função pública, em razão do que os danos
causados por servidor público em seu período de férias, em princípio, não implicam
responsabilização objetiva do Estado.

e) A imunidade relativa a opiniões, palavras e votos, em sede de atos legislativos,


prevista no texto constitucional de 1988, não afasta o direito de regresso do Estado
contra o parlamentar.

COMENTÁRIOS:

a) Causas excludentes da responsabilidade estatal: força maior, culpa exclusiva da


vítima e culpa de terceiro. A culpa concorrente é causa atenuante.

b) O STJ fixou entendimento, em sede de recurso repetitivo, que o prazo prescricional


de ações contra a Fazenda permanece sendo de 5 anos (art. 1º do Decreto 20.910/32),
não se aplicando o prazo de 3 anos (art. 206, § 3º, V) do Código Civil (REsp 1251993/PR,
19/12/2012).

Ainda, em razão do princípio da isonomia entende que o mesmo prazo se aplica para
as ações da Fazenda contra o particular (REsp 1541129/SC).

c) "A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal firmou-se no sentido de que pessoa


jurídica de direito privado prestadora de serviço público possui responsabilidade
objetiva em relação a terceiros usuários e não usuários do serviço público". (ARE
886570 ED, 21-06-2017)

d) A expressão “nessa qualidade” (...) significa que somente podem ser atribuídos à
pessoa jurídica os comportamentos do agente público levados a efeito durante o
exercício da função pública, em razão do que os danos causados por servidor público
em seu período de férias, em princípio, não implicam responsabilização objetiva do
Estado. X
A responsabilidade estatal depende de conduta oficial, isto é, o Estado apenas
responde pelos atos de seus servidores quando pertinentes ao cargo (art. 37, § 6º, CF).

No entanto tal entendimento não se confunde com o "horário de serviço". Ou seja


ainda que esteja de férias, se estiver atuando como agente público, o Estado
responderá pelos danos:

"Agressão praticada por soldado, com a utilização de arma da corporação militar:


incidência da responsabilidade objetiva do Estado (...) não obstante fora do serviço,
foi na condição de policial-militar que o soldado foi corrigir as pessoas. (...) o preceito
inscrito no art. 37, § 6º, da C.F., não exige que o agente público tenha agido no
exercício de suas funções, mas na qualidade de agente público". (RE 160401, DJ 04-06-
1999)

e) O examinador provavelmente se baseou numa decisão monocrática de quando o


Fux ainda era Ministro do STJ (Ag 1176560, 15/09/2009), a qual previa que a
imunidade relativa a opiniões, palavras e votos, em sede de atos legislativos, prevista
no texto constitucional de 1988, afastaria o direito de regresso do Estado contra o
parlamentar. No entanto, a própria responsabilidade estatal nesses casos é
controversa, estando pendente recurso com repercussão geral reconhecida que trata
do tema (Resp 632115).

GABARITO: D.

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