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Rev. Inst. Latic. “Cândido Tostes”, Jul/Ago, nº 375, 65, 43:50.

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LEGISLAÇÃO SOBRE LICENCIAMENTO AMBIENTAL -


UMA REVISÃO
LEGISLATION ON ENVIRONMENTAL LICENSING-A REVIEW

Carlos de Oliveira Teixeira1


Aline Rodrigues Maia2
Marcos Roberto Batista Guimarães3
Marcelo Henrique Otenio4

SUMÁRIO

O presente trabalho abordou a legislação ambiental aplicada ao setor de laticínios para o estado
de Minas Gerais. A partir do crescimento da produção ocorre o aumento do consumo de água nas
plantas instaladas e um consequente volume maior de euentes. A complexidade da legislação ambiental
gera dúvidas quanto ao atendimento e adequação dos empreendimentos, que em grande parte só tem
alguma reação quando são scalizados, buscando a todo custo cumprir os parâmetros exigidos sem
embasamento para tanto. O setor leiteiro deve encarar esta problemática não como um empecilho, mas
como oportunidade para melhoria de suas práticas, quanto à competitividade exigida para a cadeia leiteira
e sua sustentabilidade na produção.
Termos para indexação: produção leiteira; legislação ambiental; euentes de laticínios.

1 INTRODUÇÃO sendo responsável por cerca de 28% da pro-


dução nacional, produzindo aproximadamen-
O Brasil é o sexto maior produtor de te 7,3 bilhões de litros em 2007 (ROCHA,
leite do mundo, sendo responsável por cer- 2009), além de possuir o segundo maior re-
ca de 4,5% da produção mundial, produzin- banho nacional com cerca de 19,6 milhões
do em 2007 aproximadamente 25 bilhões de de cabeças (BRASIL, 2005). A cadeia produ-
litros, gerando um valor bruto da produção tiva leiteira é uma das mais importantes no
de aproximadamente R$ 15,5 bilhões (ZOC- estado, estando presente em todas as regiões,
CAL, 2008), além de possuir um dos maiores empregando mão-de-obra (aproximadamente
rebanhos do mundo com cerca de 213.583 576 mil empregos diretos), gerando exceden-
milhões de cabeças (ROCHA, 2009). tes comerciais, faturando aproximadamente
Para o estado de Minas Gerais, a pe- R$ 2,4 bilhões/ano e garantindo renda para
cuária leiteira é uma das atividades mais im- parte da população (ZOCCAL, 2008).
portantes e tradicionais do agronegócio. O A preocupação com o meio ambiente
estado é o maior produtor de leite do Brasil, tem reetido no amadurecimento da cadeia

1. Engenheiro Agrônomo. Analista Ambiental IGAM. Mestrando em Ciência e Tecnologia do Leite UFJF/
ILCT/Embrapa Gado de Leite. Rua Nossa Senhora do Carmo, 18 1° andar. Tel. (38) 3676 5711. E-
mail: teixeiragronomo@hotmail.com Aluna de pós graduação – FCAV-UNESP – Jaboticabal, SP email:
moni@mednet.com.br
2. Mestre em produção Vegetal. Analista Ambiental IGAM. Rua Nossa Senhora do Carmo, 18 1° andar. Tel.
(38) 3676 5711. E-mail: arodriguesm@hotmail.com
3. Advogado. Analista Ambiental IEF. Mestrando em Gestão e Planejamento Ambiental UCB/DF. Rua
Nossa Senhora do Carmo, 18 1° andar. Tel. (38) 3676 5711. E-mail: marcosguimarães81@gmail.com
4. Doutor em Microbiologia Aplicada. Pesquisador da Embrapa Gado de Leite de Juiz de Fora. Rua Eugê-
nio do Nascimento, 610 TEl. (32) 3311 7514. E-mail: otenio@cnpgl.embrapa.br
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produtiva com vistas para o mercado exter- Em termos qualitativos os euentes de


no, principalmente. A destinação de dejetos laticínios variam de acordo com as condições
de animais e a industrialização devem bus- operacionais das indústrias, mas observa-se
car a garantia do equilíbrio ambiental, a m maior carga orgânica em empreendimentos
de proteger as diversas regiões do país onde menores (pequeno porte), em função da ine-
os euentes líquidos gerados pelos laticínios ciência da segregação do soro proveniente
possam causar impacto ambiental (SILVA, da fabricação de queijos. Em plantas maiores
2009). (médio porte) ocorre uma melhor segregação
No Brasil a preocupação com a desti- de soro resultando em euentes com menor
nação adequada de euentes e resíduos foi carga orgânica (MACHADO et al., 2000).
marcada com o início da suplementação do Os empreendimentos que produzem 300
solo com nutrientes. Várias pesquisas foram mil litros de soro diários podem poluir com
desenvolvidas não somente na utilização da carga orgânica tanto quanto uma população
suplementação do solo, como também na su- de 150 mil pessoas (SILVA, 2006). Aliado
plementação animal, mas com a descoberta a estes problemas existe um grande consu-
da doença da vaca louca o governo brasileiro mo de água pelos laticínios o que gera uma
proibiu o uso da cama de aviário ou qualquer necessidade de uma produção mais limpa
outra fonte de proteína de origem animal na para melhorar o balanço hídrico das plantas
alimentação de ruminantes colocando um m de maneira a recuperar/reutilizar os euentes
ao procedimento (SILVA, 2009). em todo o seu processo industrial. Em relação
O controle da poluição ambiental ao meio ambiente os cuidados com a correta
produzida pela indústria de laticínios com destinação de euentes e resíduos constituem
atendimento a legislação ambiental em vi- uma preocupação cada vez maior, pois têm
gor no estado de Minas Gerais previstos nas em sua constituição grandes quantidades de
instruções normativas da FEAM (Fundação leite diluído a seus subprodutos, detergen-
Estadual de Meio Ambiente), IGAM (Ins- tes, lubricantes, areia, águas de lavagem de
tituto Mineiro de Gestão das Águas), IEF equipamentos e esgotos domésticos (MA-
(Instituto Estadual de Florestas) e CONAMA CHADO et al., 2002).
(Conselho Nacional de Meio Ambiente) se Com a preocupação crescente para
aplicados adequadamente colaborariam para adequar a forma de tratamento dos euentes
o fortalecimento da cadeia produtiva e para do laticínio deve-se considerar o tamanho do
valorização de práticas de gerenciamento de empreendimento, área disponível, disponibi-
resíduos visando à diminuição da carga polui- lidade hídrica, situação da outorga, classi-
dora proveniente da cadeia produtiva de leite cação do corpo de água onde o euente será
(MACHADO et al., 2002). lançado, mão de obra e a legislação ambiental
O objetivo deste estudo é apresentar (SILVA, 2009).
a legislação em vigor no estado de Minas
Gerais levando em consideração os aspectos 3 LEGISLAÇÃO VIGENTE EM MINAS
quanto ao licenciamento ambiental para o se- GERAIS
tor de laticínios.
Os empreendimentos que exercem a
2 OS EFLUENTES DE LATICÍNIO atividade de laticínios devem inicialmen-
te buscar a sua regularização ambiental por
Os grandes volumes de euente líquido meio dos atos autorizativos descritos pela
gerado pelos laticínios aliado a sua natureza legislação mineira, especialmente aqueles
de elevada carga orgânica contribui para im- contidos no Decreto Estadual 44.844/2008
pactar de forma negativa o meio ambiente (MINAS GERAIS, 2008b), em seus artigos
(MACHADO et al., 2000). 4º e 5º, onde:
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Art. 4º - A localização, construção, ins- I - Licença Prévia - LP:


talação, ampliação, modicação e operação
de empreendimentos ou atividades utiliza- Concedida na fase preliminar de pla-
doras de recursos ambientais considerados nejamento do empreendimento ou atividade
efetiva ou potencialmente poluidores, bem aprovando sua localização e concepção, ates-
como dos que possam causar degradação am- tando a viabilidade ambiental e estabelecen-
biental, na forma estabelecida pelo Conselho do os requisitos básicos e condicionantes a
Estadual de Política Ambiental (COPAM), serem atendidos nas próximas fases de sua
nos termos do caput do Art. 3º, dependerão de implementação, observados os planos muni-
prévio licenciamento ambiental ou da Autori- cipais, estaduais ou federais de uso e ocupa-
zação Ambiental de Funcionamento (AAF). ção do solo.
Art. 5º - Os empreendimentos ou ativi-
dades considerados de impacto ambiental não II - Licença de Instalação - LI:
signicativo cam dispensados do processo
de licenciamento ambiental no nível estadual, Autoriza a instalação de empreendi-
mas sujeitos à AAF, pelo órgão ambiental es- mento ou atividade de acordo com as especi-
tadual competente, na forma e de acordo com cações constantes dos planos, programas e
os requisitos dispostos pelo COPAM, em De- projetos aprovados, incluindo as medidas de
liberação Normativa especíca, sem prejuízo controle ambiental e demais condicionantes,
da obtenção de outras licenças ou autoriza- da qual constituem motivo determinante.
ções cabíveis.
Verica-se pelos termos citados acima, III - Licença de Operação - LO:
que o estado exige que todas as atividades que
utilizem recursos naturais busquem autoriza- Autoriza a operação de empreendi-
ções de operação, e após uma avaliação dos mento ou atividade, após a vericação do efe-
impactos ambientais da atividade ocorre à tivo cumprimento do que consta das licenças
classicação da mesma, o que pode acarretar anteriores, com as medidas de controle am-
a exigência da apresentação da licença am- biental e condicionantes determinados para a
biental ou Autorização Ambiental de Funcio- operação.
namento e caso o empreendimento seja enten-
dido como de impacto irrelevante será exigida Conforme apresentado, essa sequência
a certidão de dispensa de licenciamento. de exigências e atos é a forma do licencia-
Tal obrigação do empreendedor é re- mento ambiental alcançar seus objetivos, que
forçada pela legislação, quando a mesma é a preservação dos recursos naturais. Se a
impõe a aplicação de autuação administrativa classicação do empreendimento irregular
pelo exercício irregular de atividade que exi- exigir a AAF, a mesma será concedida em
ja a concessão de licença ambiental ou AAF, caráter corretivo, como dispõe o artigo 14º e
conforme Quadro 1 que determinam assim: parágrafo primeiro do Decreto 44.844/2008
A legislação indica uma sequência lógi- (MINAS GERAIS, 2008b):
ca que deverá ser obedecida, para que o em- Art. 14 - O empreendimento ou ativi-
preendedor cumpra as disposições legais e não dade instalado, em instalação ou em opera-
seja autuado, que é a obtenção da Licença Pré- ção, sem a licença ambiental pertinente deve-
via – LP, em seguida Licença de Instalação – rá regulariza-se obtendo LI ou LO, em caráter
LI, por m, a Licença de Operação - LO, con- corretivo, mediante a comprovação de viabi-
forme determina o artigo 9º do citado Decreto: lidade ambiental do empreendimento.
Art. 9º - O COPAM no exercício de sua
competência de controle, poderá expedir as §1º - O empreendimento ou atividade
seguintes licenças: instalado, em instalação ou em operação, sem
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Quadro 1 – Códigos de aplicação de autuação administrativa para infrações ambientais no estado de


Minas Gerais
Código 106
Instalar, construir, testar, operar ou ampliar atividade efetiva ou potencialmente
poluidora ou degradadora do meio ambiente sem as licenças de instalação ou de
Especicação das
operação, desde que não amparado por termo de ajustamento de conduta com
Infrações
o órgão ou entidade ambiental competente, se não constatada a existência de
poluição ou degradação ambiental
Classicação Grave
- multa simples;
Pena - ou multa simples e suspensão de atividades no caso de empreendimento ou
atividade em operação ou em instalação.
Quando for o caso, demolição de obra, apreensão dos instrumentos, petrechos,
Outras Cominações
equipamentos ou veículos de qualquer natureza utilizados na infração.
Código 108
Funcionar sem autorização, ambiental de funcionamento, desde que não
Especicação das amparado por termo de ajustamento;de conduta com o órgão ou entidade
Infrações ambiental competente, se não constatada a existência de poluição ou
degradação ambiental
Classicação Grave
- multa simples,
Pena - ou multa simples e suspensão da atividade;
- ou multa simples, suspensão da atividade e demolição de obra.
Quando for o caso, apreensão dos instrumentos, petrechos, equipamentos ou
Outras Cominações
veículos de qualquer natureza utilizados na infração

Fonte: (MINAS GERAIS, 2008b).

a devida AAF deverá regularizar-se obtendo a malizar pedido de LI ou LO ou AAF, em ca-


respectiva AAF, em caráter corretivo. ráter corretivo, ou outorga pela utilização de
recursos hídricos e demonstrar a viabilidade
Vale salientar que estes empreendi- ambiental do empreendimento ou atividade.
mentos mesmo requerendo a Licenças de §1º - Não se considera espontânea a
Instalação Corretiva ou Licença de Opera- denúncia apresentada após o início de qual-
ção Corretiva ainda encontram-se em débitos quer procedimento administrativo junto a
com o estado, estando passiveis de autuação. SEMAD e às suas entidades vinculadas ou
Atualmente não existe a modalidade de de- medida de scalização relacionados com o
núncia espontânea caso o empreendedor for- empreendimento ou atividade.
malize os pedidos de LI, LO ou AAF, em ca- Como visto, os empreendedores deve-
ráter corretivo, conforme o artigo 15 e pará- rão procurar uma das unidades da SEMAD
grafo primeiro do Decreto 44844/2008 2008 para inicio dos procedimentos de regulari-
(MINAS GERAIS, 2008b): zação ambiental, que será realizado por uma
Art. 15 - Será excluída a aplicação da das formas acima elencadas, após a classi-
penalidade decorrente da instalação ou ope- cação das atividades do empreendimento.
ração de empreendimentos ou atividades am- A referida classicação do empreen-
bientais e hídricas, anteriores a publicação dimento leva em consideração o porte e po-
deste Decreto, sem as licenças ambientais, ou tencial poluidor do empreendimento, para
AAF ou outorga de uso de recursos hídricos, denir se a atividade modicadora do meio
pela denúncia espontânea, se o infrator, for- ambiente é passível de autorização ambien-
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tal ou de licenciamento ambiental no nível grande (G). O potencial poluidor é conside-


estadual, estas orientações estão descritas na rado sobre as variáveis ambientais: ar, água
Deliberação Normativa COPAM nº 74/2004 e solo. Caberá ao empreendedor vericar a
(MINAS GERAIS, 2004). classe de seu empreendimento.
Esta norma orienta inicialmente quanto O porte do empreendimento é aferido
às possibilidades de regularização possíveis conforme a amplitude do empreendimento,
na esfera estadual, classicando os empreen- observados os limites descritos nas listagens
dimentos entre classe 01 à classe 06, sendo das atividades segundo anexo único da Deli-
certo que as classes 01 e 02 são passíveis de beração Normativa COPAM nº 74/2004 (MI-
AAF e as demais são analisadas no processo NAS GERAIS, 2004):
de licenciamento ambiental. É importante destacar o termo capaci-
Ainda vale ressaltar que convencio- dade instalada, porque este termo gera duvi-
nou-se dentro do sistema a chamada classe das quanto ao preenchimento dos formulários
00, ou seja, aqueles empreendimentos não de caracterização dos empreendimentos. Os
passiveis de licenciamento ou de AAF, que consultores e empreendedores tendem a clas-
deverão receber a Declaração de Não Passí- sicar seu laticínio com a quantidade de leite
vel, estes casos ocorrerão quando a legislação que se esta recebendo em determinado mo-
não prever procedimento de regularização mento e esta pode variar com a época do ano
para determinada atividade, ou o porte da ati- e gerar penalidades aos mesmos.
vidade seja inferior ao mínimo exigido pela Desta forma, inicia-se o processo de
Deliberação Normativa 74/2004 (MINAS adequação ambiental, sendo certo que todos
GERAIS, 2004), como exemplo a atividade os empreendimentos, independente da classe
de “Lava Jato”. que se encontrem, deverão respeitar o padrão
Em que pese a não vericação destes de qualidade de lançamento de euentes des-
procedimentos em nível estadual, nada obsta critos na legislação, evitando a degradação
que o município realize esta vericação, con- ambiental, especialmente, a poluição dos re-
forme o artigo 4º da referida norma: cursos hídricos.
No estado de Minas Gerais a Delibe-
Art. 4º - Os empreendimentos e ativi- ração Normativa Conjunta COPAM/CERH-
dades modicadoras do meio ambiente não MG nº 1, de 05/05/08 (MINAS GERAIS,
passíveis de licenciamento no nível estadual 2008a), dispõe sobre a classicação dos cor-
poderão ser licenciados pelo município na pos de água e diretrizes ambientais para o
forma em que dispuser sua legislação, ressal- seu enquadramento, bem como estabelece as
vados os de competência do nível federal. condições e padrões de lançamento de euen-
tes, assim, os empreendimentos de laticínios
Os empreendimentos após serem clas- devem estar atentos às exigências desta nor-
sicados e enquadrados pela Deliberação ma, em especial ao que determina seu artigo
Normativa 74/2004 (MINAS GERAIS, 2004) 29 e parágrafo primeiro, segundo e terceiro:
iniciam seus processos de regularização am- Art. 29 - Os euentes de qualquer fon-
biental. Destes empreendimentos e atividades te poluidora somente poderão ser lançados,
modicadoras do meio ambiente são consi- direta ou indiretamente, nos corpos de água
deradas as classes onde foram conjugados, o desde que obedeçam as condições e padrões
porte e o potencial poluidor ou degradador. previstos neste artigo, resguardadas outras
Estes fatores potencial poluidor/de- exigências cabíveis:
gradador e porte do empreendimento são §1º - O euente não deverá causar ou
considerados em função das características possuir potencial para causar efeitos tóxicos
intrínsecas das atividades, determinadas nas aos organismos aquáticos no corpo receptor,
listagens de classicação da legislação aci- de acordo com os critérios de toxicidade esta-
ma citada, como pequeno (P), médio (M) ou belecidos pelo órgão ambiental competente.
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§2º - Os critérios de toxicidade previs- cados futuramente deverão atender além das
tos no §1º devem se basear em resultados de normas enumeradas acima, a Deliberação
ensaios ecotoxicológicos padronizados, utili- Normativa CERH-MG nº 26, de 18/12/08
zando organismos aquáticos, e realizados no (MINAS GERAIS, 2008c), que dispôs sobre
euente. procedimentos gerais de natureza técnica e
§3º - Nos corpos de água em que as administrativa a serem observados no exame
condições e padrões de qualidade prevista de pedidos de outorga para o lançamento de
nesta Deliberação Normativa não incluam euentes em corpos de água superciais no
restrições de toxicidade a organismos aquáti- domínio do estado de Minas Gerais.
cos, não se aplicam os parágrafos anteriores. O empreendedor deverá estar atento
Ainda ressalta-se que a legislações na- a todas as determinações contidas na Deli-
cional e estadual prevêem a outorga de lan- beração Normativa CERH-MG nº 26/2008
çamento de euentes em corpos de água su- (MINAS GERAIS, 2008c), porém, o ponto
perciais desde o ano de 1997, com a Lei Nº de maior importância no procedimento é a
9.433, de janeiro de 1997 (BRASIL, 1997), vericação das referências contidas no Artigo
seguida pela Resolução CNRH Nº 16, de 08 2º, incisos de um a sete da mesma:
de maio de 2001 (BRASIL, 2005), e em Mi- Art. 2º - A análise do requerimento de
nas Gerais pela Lei Estadual Nº 13.199, de 29 outorga para o lançamento de euentes será
de janeiro de 1999 (MINAS GERAIS, 1999), efetuada tendo como referência:
e o Decreto Estadual Nº 41.578, de março de I - o parâmetro Demanda Bioquímica
2001 (MINAS GERAIS, 2001). de Oxigênio (DBO);
Porém, apenas em 2009 deu-se inicio II - a disponibilidade hídrica para dilui-
ao cumprimento destas normas no estado de ção, função da vazão de referência;
Minas Gerais, mesmo que de forma incipiente III - a vazão de diluição, assim consi-
onde, a Portaria IGAM nº 29/2009 (MINAS derada como a quantidade de água necessária
GERAIS, 2009), convocou até o momento os para a diluição da concentração de DBO;
usuários de recursos hídricos da sub-bacia do IV - a concentração de DBO no euen-
Ribeirão da Mata inserida na Bacia Hidrográ- te;
ca do Rio das Velhas, denindo esta como V - a concentração permitida de DBO
área piloto. Determinaram que a aplicação no corpo de água onde é realizado o lança-
dessa Deliberação Normativa será realizada mento;
de forma gradativa no estado. VI - a concentração de DBO no corpo
Deverão requerer outorga para o lan- de água imediatamente a montante do lança-
çamento de euentes de laticínios os empre- mento; e
endimentos localizados nos municípios des- VII - as metas progressivas de melho-
critos no parágrafo único do artigo 1º dessa ria de qualidade, de acordo com o programa
portaria, assim: para efetivação do enquadramento.
Parágrafo único - Os empreendimentos
citados no caput deste artigo devem estar lo- Por m, esta é a legislação básica refe-
calizados no interior da área de drenagem da rente à regularização ambiental da atividade
sub-bacia do Ribeirão da Mata, da qual fazem de laticínios, especialmente no que tange a
parte os 10 (dez) Municípios a seguir citados: emissão de seus euentes, consistindo em um
Capim Branco, Conns, Esmeraldas, Lagoa roteiro de adequação aos empreendedores.
Santa, Matozinhos, Pedro Leopoldo, Ribei- Seguindo tais orientações estarão cumprindo
rão das Neves, Santa Luzia, São José da Lapa o m essencial das normas, que é a preserva-
e Vespasiano. ção dos recursos naturais, bem como evitará
Os empreendimentos até então con- as punições pelas possíveis degradações cau-
vocados e os que por ventura sejam convo- sadas.
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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS raises doubts about the care and adequacy


of the enterprises, which largely, only have
Em função da complexidade e exigên- a reaction only when they are monitored,
cia da legislação ambiental é necessário que seeking at all costs to meet the parameters
se conheçam os padrões de lançamento de required, without foundation to do so. The
euentes, uma vez que os estados possuem dairy industry must face this problem not
parâmetros diferentes (GIORDANO, 2009). as an obstacle, but as an opportunity to
A exemplo, a legislação do estado de Minas improve their practices, concerning the
Gerais apresenta alguns parâmetros mais res- competitiveness required for dairy chain and
tritivos do que a legislação federal. sustainability in production.
Grande parte dos empreendimentos Index terms: dairy production,
apenas reage aos problemas ambientais quan- environmental legislation, dairy efuent.
do são scalizados, não se sentindo pressio-
nados pelo mercado interno ou consumidores,
desconsiderando que as questões ambientais 5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
são barreiras não tarifarias que podem impe-
dir a realização de negócios (PEREIRA et al., BRASIL. Ministério da Agricultura Pecuária
2009). e Abastecimento (MAPA) Agricultura bra-
O fato de um empreendimento obter sileira em números. Poder executivo, Brasí-
sua licença ambiental não signica que esteja lia, DF, 03 de fev, 2005.
isento do cumprimento das diversas exigên-
cias legais, tendo seus gestores responsabili- BRASIL. Lei nº 9.433, de 8 de jan. 1997.
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e normativas (SEMAD, 2010). Brasília, DF, Diário Ocial da União de 09
Os empreendimentos que adotam mé- de jan. 1997.
todos de produção de acordo com a legisla-
ção ambiental tendem a otimizar melhor os BRASIL. Resolução CNRH 16, de 08 de mai.
recursos e insumos e tornando-se inovadores 2001. Diário Ocial da União, Poder execu-
e, conseqüentemente mais competitivos, evi- tivo, Brasília, DF, Diário Ocial da União de
tando ainda a penalização pela legislação vi- 14 de mai. 2001.
gente (PEREIRA et al., 2009).
A cadeia produtiva do leite e seus de- GIORDANO, G. Tratamento e controle de
rivados passam por um processo de pros- euentes industriais. (Desenvolvimento de
sionalização e deve evitar que a legislação material didático ou instrucional - Bibliográ-
ambiental, uma variável indispensável na ca). Universidade Federal do Mato Grosso,
estruturação dos projetos, seja tratada como Apostila Euentes Industriais. 2009.
empecilhos ao sucesso, buscando meios para
alcançar os objetivos e metas de crescimento MACHADO, R.M.G.; FREIRE, V.H.; SIL-
VA, P.C. Alternativas tecnológicas para o
e sustentabilidade.
controle ambiental em pequenas e médias
indústrias de laticínios. In: XVII Congres-
SUMMARY
so Interamericano de Engenharia Sanitária e
Ambiental, Porto Alegre, 2000.
The present study aims to
environmental legislation applied to the
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dairy industry for the State of Minas Gerais. VA, P.C.; FIGUERÊDO, D.V.; FERREIRA,
From the production growth is the increase P.E. Controle ambiental nas pequenas e
of water consumption in plants installed médias indústrias de laticínios. PROJETO
and a consequent higher volume of efuent. MINAS AMBIENTE. Belo Horizonte: Ce-
The complexity of environmental laws tec, 224p., 2002.
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