DOZE HOMENS E UMA SENTENÇA

1. O ambiente das decisões jurídicas embora seja pautado numa construção democrática das
condições de avaliação e sentença, eventualmente também constituí um espaço onde ocorrem tensões
decorrentes das diferenças humanas nele presentes, que colocam em cheque um ideal de justiça
neutra. Isso denuncia que o comportamento humano nessas condições pode aparecer de maneiras
diversificadas, inclusive para atender a objetivos não restritos a uma noção de justiça de dada época.
Essas tensões podem ser mais notadas na esfera do próprio debate jurídico entre as pessoas que
constituem essa instância a medida que se fazem presentes perspectivas pouco confiáveis e aquelas
confiáveis. Enquanto a primeira se configura a partir de discursos contaminados por vieses
inferenciais, preconceitos e interesses particulares que regulam posicionamentos inflexíveis e
resolutos - minando assim a noção de justiça - a segunda aparece a partir da presença de discursos
céticos, lógico-dedutivos e testáveis, daí a sua contribuição a medida que reduz a primeira
perspectiva. E nisso os elementos que mais justificarem a realidade ganham poder de persuasão e,
portanto, decisão sobre a vida de alguém e estar atento(a) a essas especificidades é decisivo, seja
como cidadão ou profissional dentro desse contexto.

2. As perguntas e considerações do jurado 8 possuem três propriedades muito fortes: (1) ética das
decisões sustentadas por evidências demonstrativas; (2) empiricamente testável e, (3) coesão lógica a
partir da referência a fatos naturais da experiência humana. E por isso o filme não oferece
informações suficientes do caso para formular uma visão alternativa equivalente a do referido jurado.

3. Como jurada eu consideraria o acusado inocente porque as supostas provas dadas apresentam
inconsistências importantes que foram identificadas nas conclusões localizadas dentro da perspectiva
confiável dita anteriormente e que o jurado 8, principalmente, levou a conduzir durante a reunião.
Outro fator que influenciaria a minha decisão é que não foram apresentadas provas circunstanciais do
ocorrido, sendo que apenas relatos de pessoas que não tiveram contato direto com o evento parecem
ser insuficientes para uma decisão comprometida com uma noção de justiça.